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A CONCESSÃO DA EXTRADIÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO

No documento O instituto da extradição (páginas 38-41)

2.5 O INSTITUTO DA EXTRADIÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO

2.5.2 A CONCESSÃO DA EXTRADIÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO

Antes de mais nada, verifica-se que o instituto da extradição “não tem seu estudo limitado a determinada área do Direito” (DEL’OLMO, 2007, p. 10); é disciplinado e importante para os Direitos Constitucional, Penal, Processual Penal, Internacional Público, Internacional Privado, Administrativo, Internacional Penal e Penal Internacional; mostrando como é ampla a sua interdisciplinaridade.

O instituto “visa a prevenir e repelir o crime, sendo aceito atualmente pela maioria dos países como manifestação da solidariedade e da paz social entre os povos”. (DEL’OLMO, 2007, p. 13).

Carvalho (1976 apud DEL’OLMO, 2007, p. 13) afirma que, na condição de membro da comunhão internacional, “o Estado tem o dever de conceder a extradição que lhe seja requerida, sem embargo do direito que lhe assiste de examiná-la e até de recusá-la, se a considerar irregular”.

Diversos estudiosos enfatizam que a extradição, uma vez reclamada, deve ser obrigatória, “sem depender de tratado ou lei”. (DEL’OLMO, 2007, p. 13).

Mendes (1913 apud DEL’OLMO, 2007, p. 13) observa ainda que o interesse “recíproco dos Estados exige que suas fronteiras não sejam pretexto para a impunidade, e que os delinqüentes sejam entregues a seus juízes naturais, que são os do país onde foi o crime cometido”.

Faz parte do senso comum o entendimento de que não é interessante aos Estados “pedir e conceder extradição por todo e qualquer fato tido como crime. Há que haver uma seleção, pois o custo de um processo extradicional, em muitos casos, será superior aos benefícios que trará aos Estados envolvidos”. (MIRANDA, 2010, p. 51).

A seleção tem sido feita com base nos seguintes critérios: natureza e gravidade do delito. (MIRANDA, 2010, p. 51).

A natureza dos delitos pode ser: comum, política, de opinião, militar ou religiosa. (CASTRO, 2006, p. 44).

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5 (LII), proíbe a extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião. (CASTRO, 2006, p. 44).

No que tange aos crimes de natureza militar e religiosa, nada é disposto na Lei Maior brasileira, porém a comunidade internacional, a doutrina e jurisprudência de vários Estados entendem que não se concede a extradição quando o delito possuir uma dessas duas naturezas. (CASTRO, 2006, p. 44).

Nos crimes comuns a criminalidade é considerada absoluta “e é repudiada por todos os povos, considerando tais atos repugnantes e ofensivos à segurança universal”. (CASTRO, 2006, p. 44).

O criminoso político é, muitas vezes, considerado sob esta ética apenas por ter sido vencido politicamente em seu país. Há dois critérios para tentar conceituar o que é, exatamente, um crime político: um objetivo e um subjetivo.

O objetivo considera crime político aquele cometido contra a ordem política estatal, e o subjetivo “o que foi cometido com a finalidade política” (CASTRO, 2006, p. 43). Há quem divida, também, os crimes políticos em puros ou relativos:

Os crimes políticos puros são aqueles que possuem motivação e expressão política predominantes e não envolvem o uso da violência. (...) Os crimes políticos relativos caracterizam-se pela motivação e pelo objetivo político do autor, porém são praticados através da violência, no contexto de uma guerra civil, de uma revolução ou de um movimento de libertação nacional. Caso a violência não atinja a pessoas inocentes, nem os fatos constituam, principalmente, uma infração penal comum, o entendimento dominante é no sentido de que em relação a eles, também, não deva ser deferida a extradição. (ARAUJO JR., 1994, p. 69).

Nos delitos políticos, “a natureza da infração pode ofender exclusivamente o Estado requerente, enquanto que para o Estado requerido a ação pode ser honrosa, elogiosa e tornar-se até um ato heróico”. (CASTRO, 2006, p. 44).

No Brasil, a Lei nº 6.815/80 determina em seu artigo 77 que o Supremo Tribunal Federal (STF) poderá deixar de considerar crime político os atentados contra chefes de Estado ou quaisquer outras autoridades, os atos de anarquismo, terrorismo, sabotagem e sequestro de pessoa, e os atos que importem propaganda de guerra ou de processos violentos para subverter a ordem política ou social. A lei também expressa que a extradição será concedida quando o fato constituir, principalmente, infração da lei penal comum, ou quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal. Os delitos conexos supõem dois fatos distintos:

um político e o outro de direito comum, unidos por um vinculo de causalidade, ou seja, quando este constitui o meio essencial para realização daquele. Os crimes complexos configuram uma única ocorrência delituosa sob o ponto de vista material, lesando simultaneamente a ordem política e o interesse privado. [...] o delito político, para a tutela constitucional, é sempre o delito principal; aquele predomina sob qualquer circunstância, pouco importando se há ou não delito comum envolvido, que se existir, ficará absorvido pelo crime político. (CASTRO, 2006, p. 45).

Devido à dificuldade em se conceituar o crime político, segundo a doutrina e os tratados internacionais, cabe ao país requerido fazer a avaliação de cada caso. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal é quem fica a cargo de julgar o caráter da infração. (CASTRO, 2006, p. 45).

Os delitos de opinião e imprensa estão vinculados, sendo o segundo considerado uma variante do primeiro por alguns autores. O crime de opinião pode ser conceituado como “o abuso da liberdade de manifestação do pensamento, por meio da comunicação, através da

opinião contrária aos interesses políticos do Estado e da ordem dominante” (LOPES, 1999, p. 72). Como não foram observados na lei ordinária brasileira, “há entendimento de que devam ser considerados como infração de natureza política, pois, muitas vezes, possuem finalidade ou motivo político, vedando-se a extradição ao seus autores” (CASTRO, 2006, p. 46). Esses crimes levantam a questão da liberdade de expressão.

Os crimes militares se dividem em próprios e impróprios, sendo os próprios cuja prática não seria possível se não fosse a militar (qualidade essencial para que se verifique o fato delituoso). Deste modo, são considerados propriamente delitos militares: motim e revolta, violência contra superior ou militar de serviço, insubordinação, abandono de posto e outros crimes em serviço. Os crimes militares impróprios são os que estão definidos tanto no Código Penal Militar quanto no Código Penal Comum; “os crimes comuns assumem feição militar por serem cometidos por militares em cumprimento de sua função”. (CASTRO, 2006, p. 46).

A não-extradição “dos delitos puramente militares se justifica porque as leis militares de um Estado, pouco interessam aos outros Estados” (CASTRO, 2006, p.46), e a infração dessas leis não motivam uma extradição.

Para o caso dos crimes religiosos, a extradição só é vedada quando esses são considerados “puros”, pois “não atingem a ordem pública nem a vida social ou a sua integridade” (CASTRO, 2006, p. 47). A extradição só é proibida se os delitos religiosos dirigirem-se contra a liberdade de culto e de crença.

A extradição não é concedida por qualquer crime; é necessário que se imponham “restrições ao pedido, ora relativos à nacionalidade, ora à natureza do delito. A não-concessão nesses casos está alicerçada na legislação interna e em tratados internacionais, e sua análise caberá ao STF através do procedimento extradicional” (CASTRO, 2006, p. 48). O referido procedimento será salientado no item que segue.

No documento O instituto da extradição (páginas 38-41)