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O PROCEDIMENTO

No documento O instituto da extradição (páginas 41-44)

2.5 O INSTITUTO DA EXTRADIÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO

2.5.3 O PROCEDIMENTO

O processo extradicional no Brasil “compreende duas fases administrativas e uma jurisdicional, portanto, trata-se de um processo misto” (CASTRO, 2006, p. 48). A primeira fase é a governamental ou administrativa, e se inicia com o recebimento do pedido e perdura até o seu encaminhamento para o Supremo Tribunal Federal (STF); a segunda é a judiciária jurisdicional, e nela o STF examina se o pedido é legal, bem como a sua procedência. Na

terceira, o Estado procede à entrega do extraditando ou, se for indeferida pelo STF, anuncia o indeferimento ao Estado que fez o requerimento. (CASTRO, 2006, p. 48).

De acordo com o artigo 80 do Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980):

A extradição será requerida por via diplomática ou, na falta de agente diplomático do Estado que a requerer, diretamente de Governo a Governo, devendo o pedido ser instruído com a cópia autêntica ou a certidão da sentença condenatória, da de pronúncia ou da que decretar a prisão preventiva, proferida por Juiz ou autoridade competente. Esse documento ou qualquer outro que se juntar ao pedido conterá indicações precisas sobre o local, data, natureza e circunstâncias do fato criminoso, identidade do extraditando, e, ainda, cópia dos textos legais sobre o crime, a pena e sua prescrição.

Caso os requisitos acima não sejam cumpridos, o STF, a requerimento do Procurador-Geral da República, “poderá converter o julgamento em diligência para suprir a falta desses documentos, no prazo improrrogável de sessenta dias. Decorrido esse prazo, o pedido será julgado independentemente da diligência” (CASTRO, 2006, p. 49). O artigo 83 do Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980) diz ainda, que “nenhuma extradição será concedida sem prévio pronunciamento do Plenário do Supremo Tribunal Federal sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão”.

Castro (2006, p. 49) evidencia que o STF “não concede a extradição: ele apenas a autoriza, após a análise de legalidade, procedência e regularidade do pedido, à luz da lei interna e do tratado, quando existente”. Se o STF autoriza a extradição, o Executivo pode ou não concedê-la, “alegando relevantes motivos de ordem política. Contudo, se o Poder Judiciário denegar o pedido, aí sim, o Executivo está vinculado a essa decisão” (CASTRO, 2006, p. 49). O “não é competente para apreciar o mérito quanto à condenação do acusado ou a eventuais vícios processuais apurados no Estado requerente” (CASTRO, 2006, p. 49). O Ministro Relator do STF é a autoridade competente para ordenar a prisão do extraditando, e deve se manifestar “através de ordem escrita e fundamentada, como garantia constitucional do devido processo legal”. (CASTRO, 2006, p. 50).

O inciso II do artigo 78 do Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980) determina que é condição para a concessão da extradição “existir sentença final de privação de liberdade, ou estar a prisão do extraditando autorizada por Juiz, Tribunal ou autoridade competente do Estado requerente”. O artigo 82, por sua vez, discorre que em caso de urgência, poderá ser ordenada “a prisão preventiva do extraditando desde que pedida, em termos hábeis, qualquer que seja o meio de comunicação, por autoridade competente, agente diplomático ou consular do Estado requerente”. De acordo com Castro (2006, p. 50), infere-se

“que a prisão do extraditando é ato necessário e prévio da autoridade judiciária, que funciona como condição de procedibilidade”. Segundo a autora:

A prisão do extraditando, bem como a prisão de um brasileiro que praticou crime comum, embora decretada antes de uma sentença condenatória transitada em julgado, reveste-se de natureza acautelatória, justificada pela extrema necessidade fundada em fatos concretos. Efetivada a prisão, o relator designará dia e hora para o interrogatório do extraditando, podendo dar-lhe advogado ou curador, se não o tiver. Efetuado o interrogatório, é aberto o prazo de dez dias para apresentação de defesa técnica, que poderá se constituir sobre a identidade da pessoa reclamada, defeito de forma dos documentos apresentados ou ilegalidade da extradição. Juntada a defesa escrita do extraditando, abre-se o prazo para vistas, por dez dias, ao Procurador- Geral. Este poderá converter o julgamento em diligência se o processo não estiver devidamente instruído. Neste caso, o Estado requerente terá o prazo de 60 dias improrrogáveis para cumprir tal diligência. Após este trâmite, o Relator pedirá a fixação de uma data para o julgamento, e o Estado requerente poderá ser representado por advogado para acompanhar o processo perante o Tribunal. Deferida ou não a extradição, está encerrada a fase judiciária. (CASTRO, 2006, p. 50).

A fase administrativa tem início “com a análise da entrega do extraditando pelo Chefe do Poder Executivo, o que, evidentemente, pressupõe que o STF deferiu o pedido de extradição” (CASTRO, 2006, p. 52). A entrega só é efetivada se o Estado requerente assumir os compromissos de não prender e não processar o extraditando por fatos anteriores ao pedido; de computar o tempo de prisão; de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvando, nessa última, os casos em que a lei brasileira a permite; de não entregar o extraditando a outro Estado sem o consentimento do Brasil; e de não considerar motivos políticos para agravar a pena. (CASTRO, 2006, p. 52).

Se porventura, o Estado requerente não retirar “o extraditando do território brasileiro no prazo de sessenta dias, este será posto em liberdade, sem prejuízo de responder a processo de expulsão se o motivo da extradição o recomendar”. (CASTRO, 2006, p. 52),

O artigo 89 do Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980) dispõe que, quando o extraditando “estiver sendo processado, ou tiver sido condenado, no Brasil, por crime punível com pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da conclusão do processo ou do cumprimento da pena”, e que a “entrega do extraditando ficará igualmente adiada se a efetivação da medida puser em risco a sua vida por causa de enfermidade grave comprovada por laudo médico oficial”.

Caso a extradição seja negada, “será comunicado ao Ministério da Justiça, que tomará providências para cientificar o Estado requerente, e o extraditando será posto em liberdade. Não se admitirá novo pedido baseado no mesmo fato”. (CASTRO, 2006, p. 52).

A competência e o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) no processo extradicional nesse processo serão acentuados no item subsequente.

No documento O instituto da extradição (páginas 41-44)