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A EXTRADIÇÃO

No documento O instituto da extradição (páginas 33-37)

2.4 AS MEDIDAS COMPULSÓRIAS

2.4.4 A EXTRADIÇÃO

O termo “extradição” vem do grego e do latim, sendo “ex” grego e significando “fora de”, e “traditio” latim que significa “levar, entregar, transportar”. (CASTRO, 2006, p. 21).

Um dos primeiros documentos históricos a assinalar a possibilidade da extradição foi um acordo de paz no Egito, em 1921 a.C., e é considerado o mais antigo documento da humanidade, contendo “cláusulas expressas sobre a extradição de criminosos políticos” (CASTRO, 2006, p. 21). Na realidade, esse tratado não trazia as características atuais apresentadas no instituto da extradição, mas sim a sua essência. (CASTRO, 2006, p. 21).

A extradição pode ser definida como “o ato pelo qual um Estado entrega um indivíduo acusado de fato delituoso ou já condenado como criminoso, à justiça de outro Estado competente para julgá-lo e puni-lo” (ACCIOLY, 1986 apud CASTRO, 2006, p. 19) e, seu objetivo, como ensina Marques (1964 apud CASTRO, 2006, p. 19), é “tanto o de possibilitar o processo e julgamento do autor do crime, através das formas prescritas em lei, como o de executar a pena já imposta em sentença condenatória”.

Para o instituto da extradição ser caracterizado, é fundamental o Estado interessado solicitar a extradição de um indivíduo, agindo pela chamada “provocação”, diferenciando-se da deportação e da expulsão, que obrigam o estrangeiro a abandonar seu território. (CASTRO, 2006, p. 20).

O Estado tem a obrigação de entregar os criminosos refugiados em seu território quando solicitado, salienta Castro (2006, p. 21):

É obrigação de um Estado entregar os criminosos que em seu território se refugiem. Tal obrigação advém de um dever moral na repressão à criminalidade, mas, acima de tudo, está calcada na cooperação internacional, cujo objetivo primordial é a recondução do delinqüente ao Estado onde a lei penal foi infringida, para ali ser processado e julgado. O dever moral transforma-se no dever jurídico de extraditar, quando há entre os Estados um tratado de extradição.

A extradição pode ser classificada de várias formas: ativa ou passiva, de fato ou de direito, instrutória, executória e reextradição.

É “dita ativa com relação ao Estado que está reclamando a presença do indivíduo em seu território. Aquele que requer a extradição deve ter competência para processar e julgar o extraditado”. (CASTRO, 2006, p. 22).

Considera-se passiva a extradição para o Estado que a concede: a competência é, “predominantemente, de cunho jurisdicional, e é por isso que a maioria dos problemas extradicionais se encontra na extradição passiva”. (CASTRO, 2006, p. 23).

A extradição de fato consiste “na entrega da pessoa reclamada, sem que haja qualquer procedimento jurídico. Portanto, é a entrega informal da pessoa foragida, fato muito comum entre as polícias das zonas de fronteira e realizado sem custas processuais” (CASTRO, 2006, p. 23); não pode ser considerada uma medida legal.

A extradição de direito, por sua vez, se processa “de acordo com as normas internas e internacionais”. (CASTRO, 2006, p. 23).

A instrutória se diferencia da executória porque, na primeira, o pedido “é formulado para que o extraditando seja processado no Estado requerente, enquanto que na segunda, o pedido de extradição é feito para que ele cumpra uma pena proferida através de sentença transitada em julgado”. (CASTRO, 2006, p. 24).

Na reextradição, ainda segundo Castro (2006, p. 24), um indivíduo que é extraditado para um Estado pode ser reextraditado para um terceiro, desde que o Estado que primeiro atendeu ao pedido autorize.

As fontes da extradição, de acordo com Mercier (1930 apud DEL’OLMO, 2007, p. 49), são: os tratados internacionais de extradição, as declarações de reciprocidade, as leis de extradição, a jurisprudência, e os usos internacionais. Entende-se que “as fontes principais são os tratados internacionais, as leis internas dos países e as promessas de reciprocidade. A jurisprudência e os costumes são eventualmente empregados”. (DEL’OLMO, 2007, p. 49).

O tratado tem o privilégio de demarcar as condições sob as quais os Estados vão realizar o processo de extradição quando solicitado. É uma maneira de fazer da extradição uma medida obrigatória, embora seja necessário que exista uma lei interna que regule os

requisitos de admissibilidade e o rito em seara nacional, podendo a lei “obstar a entrega por fato não incluído em suas nomenclaturas”. (FARIA, 1930 apud CASTRO, 2006, p. 21).

Convém notar, outrossim, que “para a maior parte dos autores e para algumas legislações nacionais o tratado internacional é a única fonte do direito da extradição”. (VIEIRA, 1984 apud DEL’OLMO, 2007, p. 49).

Vale ressaltar, ainda, que a extradição também é orientada por princípios “que objetivam dar maior proteção ao extraditando, bem como ao estado requerido” (CASTRO, 2006, p. 25). São eles: da especialidade, da identidade (ou da incriminação recíproca), do non

bis in idem (não duas vezes pelo mesmo fato) e o da reciprocidade. O princípio da

especialidade é apresentado nos seguintes termos no artigo 14 do Tratado Modelo de Extradição, aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a seguir transcrito:

1 – um indivíduo extraditado em razão do presente Tratado não poderá, no território do Estado requerente, ser processado, condenado, detido ou reextraditado para um terceiro Estado, nem ser submetido a outras restrições em sua liberdade pessoal, por uma infração cometida antes da entrega, salvo:

a. se se tratar de uma infração pela qual a extradição tenha sido concedida; ou b. se o Estado requerido manifestar a sua concordância.

2 – a demanda tendente a obter o consentimento do Estado requerido para fins do presente artigo será acompanhada dos documentos referidos no § 2º do art. 5º e de um termo judicial das declarações feitas pelo extraditado relativamente à infração. 3 – o § 1º deste artigo não será aplicável se o indivíduo extraditado, tendo a possibilidade de deixar o território do Estado requerente, não o fizer dentro do prazo de (30/45) dias da data de sua libertação definitiva em razão da infração pelo qual foi extraditado, ou, se houver deixado o território, a ele retornar por espontânea vontade. (ONU, 1991).

Em virtude dessas considerações, o princípio da especialidade pode ser caracterizado “pelo compromisso assumido pelo Estado requerente de não processar o extraditando por crime diverso daquele que fundamentou o seu pedido” (CASTRO, 2006, p. 26), e está presente na maioria dos tratados internacionais, bem como em leis internas (no Brasil, está previsto no art. 91 da Lei nº 6.815/80).

O princípio da especialidade possui cunho misto porque, além de propiciar uma “maior confiança nas relações entre os Estados no combate à criminalidade, garante ao extraditando o direito de ser informado sobre o motivo e a causa da acusação, funcionando como efeito limitativo da extradição”. (CASTRO, 2006, p. 27).

Quanto ao princípio da identidade (ou da incriminação recíproca), cumpre examinar que “não se dará a extradição quando no Estado requerido não se considerarem crimes os fatos que fundamentam o pedido de extradição” (CASTRO, 2006, p. 27), ou seja, só pode ser extraditado aquele indivíduo que tenha seu crime reconhecido como tal em ambos os

países, tanto no requerente, quanto no requerido. A autora Goraieb (1999 apud CASTRO, 2006, p. 27), observa que o princípio da dupla incriminação é uma garantia fundamental ao direito de liberdade, pois impede a violação do princípio nulla poena sine lege (não há crime nem pena sem lei), mas o que não significa que os crimes devam estar previstos em ambas legislações com as mesmas palavras. É um princípio criticado, sob o argumento de que um Estado deve respeitar a legislação do outro.

O princípio do non bis in idem determina que a extradição será negada sempre que já existir uma sentença definitiva no país requerido contra a pessoa reclamada pelo mesmo delito que estabelece o pedido de entrega.

No Brasil, essa norma encontra-se no artigo 77 do Estatuto do Estrangeiro do Brasil.

Trata-se de princípio universal que reflete um sentimento de justiça, pois evita que alguém possa ser condenado duas vezes pelo mesmo fato. Atende dois propósitos: a soberania do pais requerido, e a garantia dos direitos fundamentais do indivíduo. (CASTRO, 2006, p. 28).

Na falta de um tratado ou uma convenção com o Estado requerente, pode ser feita uma declaração de reciprocidade: se o governo requerente prometer, de acordo com a sua lei e em condições iguais, entregar delinqüente que venha a ser solicitado no futuro pelo governo requerido, a extradição pode ser concedida. Tal declaração tem a mesma natureza jurídica dos tratados, porém difere quanto ao seu campo de aplicação, que é muito mais restrito, e pode ser, a qualquer momento, denunciada por um dos governos interessados. (CASTRO, 2006, p. 29).

O Estatuto do Estrangeiro do Brasil (BRASIL, 1980) assinala em seu artigo 76 que “a extradição poderá ser concedida quando o governo requerente se fundamentar em tratado, ou quando prometer ao Brasil a reciprocidade”.

Sendo assim, para facilitar a melhor compreensão da extradição apresentada no Estatuto, o seu instituto no ordenamento jurídico brasileiro será observado no item que segue.

No documento O instituto da extradição (páginas 33-37)