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ASPECTOS DESTACADOS DOS DESAFIOS ATUAIS DA EXTRADIÇÃO

No documento O instituto da extradição (páginas 49-60)

Neste item serão destacados os desafios para o instituto da extradição nos tempos atuais, dentre eles riscos gerados pelos governos, agressões aos direitos humanos, novas formas de crimes, e outros.

O primeiro desafio destacado trata-se dos governos desvirtuados. Os governos, o Estado e seus princípios vem sofrendo diversas transformações que, segundo Santos (2002, p. 51), tem conduzido a uma redução do protagonismo do Estado-nação como ator no sistema mundial.

Ademais, Ferreira Filho (2002, p. 85) enfatiza o papel de vilão do administrador público, personalizado tanto nos ocupantes de cargos como chefe de Poder ou Ministro, quanto em patamares menos elevados, como policiais e agentes. O autor preleciona que esse servidor, em nome do Poder, por vezes, “prende, censura, confisca, nega matrícula na escola ou ingresso no hospital, não raro conspurca o meio ambiente [...] ou seja, viola as liberdades públicas, não satisfaz os direitos sociais, não respeita os direitos da solidariedade”.

A redução do protagonismo do Estado e sua relativa perda de importância gera um papel determinante nas políticas sociais:

desregulação, privatização, mercado interno do Estado, comparticipação nos custos, mercadorização, cidadania ativa, ressurgimento das comunidades são algumas das denominações do variado conjunto de políticas estatais com o objetivo comum de reduzir a responsabilidade do Estado na produção do bem-estar social. (SANTOS, 2002, p. 51).

Amaral (1999, p. 3) aduz que a globalização constitui-se na homogeneização do pensamento e dos exércitos, sendo portanto o fim das nações e dos projetos regionais e, se desaparecem as nações, a cultura e os exércitos nacionais também devem desaparecer, reduzindo o mundo “a um mercado a um só tempo universal e único, com ideologia única, com projeto único, com vontade única, presidido por uma unipotência, senhora do bem e do mal, portadora do bem e inimiga do mal”. Por conseguinte, questiona-se a soberania e sua concepção “na sociedade contemporânea, e, mais do que isso, a uma necessária compreensão

do controverso papel exercido pelos governos neste alvorecer do século XXI”. (DEL’OLMO, 2007, p. 127). Espera-se que os Estados consigam “alcançar uma forma de governo que possa oferecer ao povo uma saudável convivência, na consecução de seus objetivos, de suas aspirações e do desejável bem estar comum”. (DEL’OLMO, 2007, p. 127).

Outro desafio à extradição é a agressão aos direitos humanos, que ocorre tanto de maneira individual (assaltos, homicídios, estupros, atentados), coletiva (holocaustos, genocídios, extermínios), quanto pela passividade (miséria, fome, epidemias). Barros (2003, p. 445) diz que “os direitos da pessoa humana são violentados, tanto os fundamentais quanto os operacionais, em todos os países, tanto os desenvolvidos quanto os subdesenvolvidos”. O autor cita ainda a tecnologia, e lamenta que esta não tenha prevenido nem diminuído a violação aos direitos humanos, mas sim ampliado:

os mais comezinhos direitos do homem têm sido negados e renegados elas ações inéditas que a tecnologia engendrou e que o Estado possibilitou, ora sofisticadas e sutis, ora bestiais e colossais, embora nem sempre tenham no Estado a sua fonte principal de poder. (BARROS, 2003, p. 464).

Os avanços de meio século na proteção internacional dos direitos humanos não impediram as violações graves que persistem no mundo todo. Violações essas que já viraram tradicionais, como por exemplo às liberdade de pensamento, expressão e informação, discriminações, etc. (TRINDADE, 2000, p. 157).

Não obstante já terem se passado mais de sessenta anos desde a aprovação pela Organização das Nações Unidas (ONU) da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), Corrêa (2000, p. 184) registra que a pretensa positivação de cunho universalista da mesma “é muito relativa em termos de concretude e efetividade, pois continua extremamente abstrata por não estabelecer meios capazes de colocá-los em prática”, ou seja, os direitos humanos continuam sendo desprezados quase que no mundo todo, lamentavelmente.

Del’Olmo (2007, p. 133) salienta que o desrespeito aos direitos humanos é, em parte, “proporcional à prioridade que a sociedade vai oferecendo à conquista dos bens materiais. O mercado, valor mais apreciado na globalização, passa a ocupar o lugar antes reservado aos valores inerentes à personalidade”. Bicudo (1998, p. 97) acrescenta que a dimensão econômica da globalização, com a sua nova forma de organização da economia capitalista, leva à transnacionalização dos mercados, e a uma mobilidade para a circulação de capitais quase que ilimitada em uma compressão de tempo e espaço, frente aos avanços da informática, telecomunicações e transportes.

Santos (2000, p. 67) nota que os atores hoje são as empresas globais, não o ser humano, e que essas são despojadas de qualquer preocupação ética. O ser humano, por sua vez, torna-se cada vez mais individualista ante os desafios da competitividade, ou então desaparece. Segundo o autor, a própria lógica de sobrevivência da empresa global incute a ausência total de qualquer forma de altruísmo. Neste sentido, se o Estado não é solidário, e se a empresa não é altruísta, a sociedade não tem onde se amparar. De acordo com Mello (1996, p. 34), “a própria elite política adotou o lado cretino da cultura de massa. É o irracionalismo e com ele toda a violência que acarreta”.

Outro desafio à extradição é o crescente processo de criminalização. Del’Olmo (2007, p. 137) suscita:

Quando, no início de mais um século na inexorável caminhada dos povos, ao lado do incomparável desenvolvimento da ciência e da tecnologia, em pungente e trágico paradoxo, nascem e se agigantam novas e sofisticadas categorias de ilícitos penais, o papel da extradição se amplia, tornando-a mais necessária.

Se, como afirma Rodríguez (2001 apud DEL’OLMO, 2007, p. 138) a extradição representa um ato de:

solidariedade repressiva internacional, situado no marco das relações de cooperação e assistência mútua que objetiva evitar a impunidade do crime e assegurar o efetivo castigo dos delinqüentes, é por demais pertinente inquirir sobre o lugar reservado nessa óptica ao instituto da extradição.

Mattos (2003, p. 22) consigna que a globalização (ou mundialização), baseada na tirania e tecnologia dos Estados ricos, coloca as corporações financeiras transnacionais ao lado ou até mesmo acima do Estado-nação, “destruindo soberanias, gerando apartheid social, dificultando a transferência de tecnologias, gerando desemprego estrutural, desnecessárias privatizações e, às vezes, corrupção e dispersão social”. Ferrajoli (2003 apud DEL’OLMO, 2007, p. 79) acrescenta ainda que o desenvolvimento da criminalidade internacional, em dimensões sem precedentes, é um dos mais perversos efeitos da globalização, uma vez que essa atividade criminosa “pelos atos realizados e pelos sujeitos envolvidos, não se desenvolve apenas em um único país ou território estatal, mas a par da atividade econômica das grandes

corporations multinacionais, em nível transnacional ou mesmo planetário”. O autor italiano

giza ainda que esses delitos próprios da globalização, que se caracterizam pela incerteza e dificuldade do local em que ocorreram e que tem agentes com nacionalidade indeterminada, dão causa a um vazio de Direito e asseguram a máxima impunidade aos seus autores.

Del’Olmo (2007, p. 149) ressalta:

A globalização, que tem entre seus consectários a redução dos entraves ao deslocamento de pessoas, bens e transações financeiras, que ultrapassam as fronteiras entre os Estados, paradoxalmente tem permitido aos grupos internacionais de crime organizado ampliar a penetração e diversificação de seus negócios.

Arnaud (1999, p. 39) verifica que até as atividades como o terrorismo, o tráfico de drogas e o de materiais nucleares também já se globalizaram. Segundo o autor, a liberalização financeira ajuda os criminosos internacionais, criando problemas principalmente para os países mais pobres, formando uma cultura inegavelmente global da violência. Ratificando o assunto, Andrade. (2004 apud DEL’OLMO, 2007, p. 149) observa que os delinqüentes agora são capazes de agir fora dos parâmetros tradicionais, podendo tirar proveito dessas novas oportunidades e da capacidade de “movimentação rápida para novas áreas geográficas: os grupos maiores têm-se tornado mais globais nas suas operações, enquanto muitos dos menores conseguem expandir-se para fora das fronteiras nacionais, transformando-se em potências criminosas regionais”.

Em assonância com os autores anteriormente citados, Rosa (2003, p. 5) argumenta que o papel da globalização na ampliação da violência se acentua com as grandes concentrações urbanas pois estas, segundo ele, conduzem ao aumento da criminalidade, evidenciada em invasões de terra, seqüestros, organizações de exploração do tráfico de drogas, corrupção tanto nos serviços públicos quanto na vida privada.

O crime contra a ordem econômica, o organizado, o de lavagem de dinheiro e o terrorismo são delitos “de notória presença na atualidade, altamente nocivos à sociedade e de difícil identificação e coibição, gozando o mais das vezes seus autores de indesejável impunidade. Daí constituírem-se, também, em desafios ao instituto da extradição” (DEL’OLMO, 2007, p. 153). Franco (2000, p. 123) salienta a dificuldade de identificação e julgamento desses autores ilícitos, diante do fato que tais formas de criminalidade raramente ocorrem através de uma ação visível praticada por uma pessoa ou grupo.

O crime contra a ordem econômica, conforme acentua Delgado (1995 apud DEL’OLMO, 2007, p. 154), é de enorme importância criminológica, pela crescente iminência com que é realizado. Em decorrência disso, necessita-se, então, de “uma resposta preventiva a este tipo de criminalidade, cuja imperfeita incriminação positiva tantas vezes deixa sem virtualidade prática alguma a eficácia da ordem penal”. Tendo isso em consideração, a autora

sublinha ainda a significação desses comportamentos típicos no desenvolvimento da Economia política dos Estados afetados como transcendental.

A falta de normas internacionais sobre os crimes econômicos amplia as lacunas e diferenças entre os sistemas jurídico-penais dos Estados, dando oportunidade aos hábeis delinquentes a se deslocar do país em que atuam e se evadir da justiça criminal. (DEL’OLMO, 2007, p. 155). Destarte, Delgado (1995 apud DEL’OLMO, 2007, p. 155) sublinha ser lógico entender que “na esfera dos delitos socioeconômicos se advirta uma progressiva ampliação das margens originárias de reconhecimento da extradição, na ordem de aplicação da mesma a este campo de delitos”.

Quanto aos crimes econômicos, Del’Olmo (2007, p. 157) verifica ainda que:

Pelo montante dos valores envolvidos e pelos danos que ocasionam às administrações públicas e a consideráveis parcelas da população vitimada, a par do nível social e financeiro de seus autores, os crimes econômicos desafiam cada vez mais a ação das autoridades que encontram redobradas dificuldades para identificar essas condutas e levar seus agentes a julgamento.

Outro desafio à extradição é o crime organizado, já citado anteriormente. Alguns autores, como por exemplo Martin e Schumann (1999, p. 329), afirmam que esse tipo de crime já se constitui no ramo da economia que se expande mais rapidamente pelo mundo, gerando lucro anual de mais de meio trilhão de dólares. Junto a este volume de capital, agiganta-se o poder dos cartéis criminosos de corromper ou assumir, em países com fraca estrutura jurídica e administrativa, empreendimentos legais e concorrências públicas.

Del’Olmo (2007, p. 158) afirma que o crime organizado transnacional “desenvolveu-se inicialmente em torno do tráfico de entorpecentes e do contrabando de armas de fogo, práticas delituosas que, por sua abrangência, envolvem enormes somas de dinheiro. Aliou-se na atualidade ao tráfico de pessoas”. Jesus (2003, p. 13), por seu turno, afirma que trata-se de delitos que se caracterizam pela estreita relação com os chamados crimes de alta tecnologia: o de lavagem de dinheiro, fraude de cartões eletrônicos, falsificação de produtos, delitos na área da informática. Quaglia (2004 apud DEL’OLMO, 2007, p. 158) consubstancia que o referido tipo de crime, na verdade, já deixou de ser um problema interno de diversos países há muito tempo.

Del’Olmo (2007, p. 159) observa:

O crime organizado, que muitos têm identificado como crime globalizado, por entenderem presentes nas atividades delitivas a tendência da economia e das finanças, pode apresentar-se na forma de criminalidade violenta, como as execuções

e seqüestros, ou sem qualquer agressão física, de que são exemplos os reiterados casos de corrupção. Estes últimos, porque mais sutis, atingem maior possibilidade de permanecerem impunes.

Nesta ótica, Franco (2000, p. 121) afirma que o modelo globalizador produziu novas formas de criminalidade, a supranacional, e que não se conhece fronteiras limitadoras, pois trata-se de criminalidade organizada devido a uma estrutura hierarquizada, “quer em forma de empresas licitas, quer em forma de organização criminosa, e por ser uma criminalidade que permite a separação tempo-espaço entre a ação das pessoas que atuam no plano criminoso e a danosidade social provocada”.

Na esteira desse raciocínio, Del’Olmo (2007, p. 160) analisa que o crime organizado internacional “viceja alicerçado na fragilidade de cooperação entre os países no seu combate, cujos órgãos de repressão centralizados muitas vezes não apresentam qualquer condenação”. Disso:

Resulta a falta de mecanismos comuns para extraditar os autores desses delitos e buscar a recuperação dos ativos financeiros e dos bens criminosamente por eles transferidos para países nos quais se sentem protegidos para deles desfrutar. Por sua natureza, o crime organizado está também livre de qualquer pagamento de impostos. (DEL’OLMO, 2007, p. 160).

Os grupos de crime organizado mais conhecidos são os de tráfico de drogas; os traficantes encontram-se em todos os países do globo. É consabido que a motivação para esse tipo de crime é sempre econômica; os traficantes se organizam pela busca de riqueza e seu consequente poder, sempre difundindo e ampliando seus negócios. (DEL’OLMO, 2007, p. 160).

Quaglia (2004 apud DEL’OLMO, 2007, p. 161) aponta que o crime organizado conecta-se, também, ao terrorismo internacional, “provendo-lhe apoio logístico e financeiro por intermédio da estrutura empresarial desenvolvida por organizações criminosas, e constituindo-se em uma ameaça à estabilidade política e econômica de diversos países”.

Sob este enfoque, Andrade (2004 apud DEL’OLMO, 2007, p. 161) assevera que “as redes criminosas internacionais têm demonstrado grande agilidade em tirar proveito das oportunidades que, à escala mundial, emergem das extraordinárias mudanças na política, nos negócios, nas tecnologias e nas comunicações”. O autor (2004 apud DEL’OLMO, 2007, p. 161) observa que, por essa razão, os grupos organizados de criminosos podem tirar partido da diminuição de barreiras comerciais entre os países, traficando armas e drogas, especializando- se em explorar a complexidade “das redes internacionais de transportes para esconder

qualquer tipo de comércio ilegal, chegando mesmo a conseguir ocultar ou camuflar a verdadeira origem e propriedade da carga”.

À vista disso, Del’Olmo (2007, p. 165) afirma que esses grupos podem se beneficiar dos avanços da tecnologia e ciência, “além da dinâmica inerente ao mercado [...] com o que se fortalecem e podem atingir uma visibilidade superior a suas reais dimensões”.

Outro desafio à extradição é o crime de lavagem de dinheiro, que é um processo através do qual os autores participam normalmente de atividades econômicas, utilizando-se de recursos adquiridos ilegalmente, mas transformando-os em ativos com origem aparentemente legal. Para tanto, dissimulam e fraudam, fazem múltiplas transações (envolvendo mais de um país em diversos casos). Esconde-se a origem ilegal dos recursos com outros crimes, como por exemplo com a corrupção, com o narcotráfico, ou com o seqüestro. Observa-se que é uma sequência de delitos que reduz a possibilidade de o autor ser alcançado pela ordem jurídica. (DEL’OLMO, 2007, p. 165-166).

Constata-se que a proliferação do crime de lavagem de dinheiro conduz a uma sofisticação do mecanismo utilizado por seus autores e, também, induz os legisladores dos países a incluir a criminalização desses atos em seus ordenamentos jurídicos a fim de coibir ou diminuir essa prática e levar a julgamento seus autores. (DEL’OLMO, 2007, p. 166 e 168).

Dreifuss (1999, p. 217) conclui que os criminosos criam empresas destinadas especialmente a instrumentalizar os sistemas financeiros em todos os continentes; dentre as operações por eles realizadas, estão a evasão fiscal e as transferências ilícitas.

Ademais, Del’Olmo (2007, p. 170) observa que os autores de crimes de lavagem de dinheiro são, na maioria das vezes, pessoas com bom nível intelectual e cultural e, repete- se, utilizam-se de mecanismos sofisticados na ação delituosa, “a par da dificuldade de identificação e julgamento desses procedimentos, torna-se difícil até mesmo uma avaliação da importância assim auferida”.

Nesta linha, Del’Olmo (2007, p. 172) acentua as inerentes dificuldades à proscrição do crime de lavagem de dinheiro

Nesse contexto, cabe enfatizar as dificuldades inerentes a uma proscrição do crime de lavagem de dinheiro, até porque ele pode ocorrer tanto nos pequenos centros urbanos – aí mesmo se efetuando a ocultação e dissimulação dos valores adquiridos, e posterior uso com aparência legal pelos delinqüentes – quanto em grandes cidades de diferentes países – caso em que os recursos desviados se encaminham para outros continentes.

É importante destacar, sobre a matéria, que os países cooperem uns com os outros, estabelecendo, no maior número de casos, “acordos que levem à descoberta, identificação, julgamento e punição dos autores desses atos ilícitos e o retorno dos valores criminosamente obtidos aos seus verdadeiros donos, muitas vezes o povo humilde”. Sob este enfoque, torna-se inegável a importância do papel do instituto da extradição, capaz de inibir esses atos delitivos. (DEL’OLMO, 2007, p. 172).

Em casos de lavagem em que o dinheiro é oriundo da corrupção, conquanto ante indícios consistentes e fortes, “persistem dificuldades em comprovar os delitos e levar o numerário de volta ao seu legítimo proprietário”. (DEL’OLMO, 2007, p.172).

Para aumentar a eficiência do combate ao crime de lavagem de dinheiro, recomenda-se a utilização de mecanismos entre os países, como o intercâmbio de informação e a coordenação de ações no processo de prevenção e repressão dos referidos delitos, a integração dessas pessoas funcionários, e o intercâmbio entre os países. Uma vez dada a natureza do delito, “agiganta-se o papel reservado ao instituto da extradição, pois medidas devem ser acordadas entre os países visando a criar condições para que o processo, sem descurar, por óbvio, os preceitos legalmente estabelecidos”. (DEL’OLMO, 2007, p. 175).

Outro ponto de crucial importância é a ausência de uma normatividade internacional efetiva, comentada por Del’Olmo (2007, p. 175), o que exarceba a necessidade e “a urgência de tratados de extradição entre os países, ao lado de medidas outras, como o congelamento cautelar e bloqueio de valores, com subseqüente perda de bens ilicitamente adquiridos e pertinente imputação de pena aos seus autores”.

Outro desafio à extradição é o terrorismo, já citado anteriormente. Ao fim da década de 1970, Fragoso (1979, p. 75) já se referia ao terrorismo como “um dos fenômenos mais inquietantes de nosso tempo, desafiando os governantes e conduzindo os juristas à perplexidade”, o que é pertinente até os dias atuais.

Carvalho (2000, p. 181) enfatiza que mesmo que o terrorista tenha a mente enraizada nos interesses de seu país, ele não hesita em perturbar a ordem e a paz de:

comunidades que nada absolutamente têm a ver com os problemas que o empolgam. É ele por conseguinte um delinqüente fronteiriço que, pela tipicidade brutal e covarde de conduta, não merece a consideração benévola do Direito Internacional, que reputa o asilo diplomático e territorial como demonstração de piedade, de humanitarismo. [...] na cegueira do seu radicalismo e da sua irracionalidade, não porta consigo justificativas que satisfaçam o bom senso que deve estar presente no raciocínio de qualquer pessoa normal. [...] A malignidade deixa de encontrar justificativa na sua própria ação. Assim, o terror, como resultante, deixa de ser justificável para se tornar incompreensível e abominável, pois é a quebra definitiva da reconciabilidade de interesses.

Mattos (2003, p. 42) acrescenta que o “terrorismo moderno é ameaça à paz, enquanto combate silencioso e efeito-surpresa, contra a segurança internacional – cujas vítimas são inocentes populações civis – através de uma ação difusa não-estatal”.

Cada autor conceitua o terrorismo sob óticas diferentes. Fragoso (1979, p. 27) entende se tratar de uma conduta coercitiva individual e coletiva, com o emprego de “estratégias de terror violência, que contenham um elemento internacional ou sejam dirigidas contra alvos internacionalmente protegidos, com a finalidade de produzir um resultado que se oriente no sentido do poder”. Para Courtois (1999, p. 29), o terror tem como objetivo “exterminar um grupo designado como inimigo, que, na verdade, constitui-se somente como uma fração da sociedade, mas que é atingido enquanto tal por uma lógica do genocídio”.

Del’Olmo (2007, p. 180) acentua que os efeitos danosos do terrorismo atingem a todas as pessoas de todos os países, sob variados aspectos. Isso sem comentar a intranqüilidade, a insegurança, os gastos econômicos, e as dificuldades de as pessoas se deslocarem sem saberem onde o inimigo se encontra, quando ou como vai agir. Deste modo:

Vistos de entrada em alguns países, mormente nos Estados Unidos, são dificultados, as passagens aéreas aumentam de preço, pela necessidade de investimento pelas empresas de aviação na busca de segurança, [...] a própria auto-estima das pessoas diminui, pois ninguém mais se sente imune a atos insanos que podem ocorrer a qualquer hora e em qualquer local. (DEL’OLMO, 2007, p. 181).

Medidas como a dificultação do visto ou ações bélicas (como o ataque dos EUA e Inglaterra contra Afeganistão e Iraque) na verdade não diminuíram a tensão mundial contra o terrorismo e nem devem diminuir. (DEL’OLMO, 2007, p. 181).

Fragoso (1979, p. 128) acrescenta que vivemos em uma sociedade desigual, violenta, opressiva e injusta, onde a desigualdade social se reflete no funcionamento dos mecanismos repressivos, acentuando que “o sistema econômico em crise marginaliza áreas

No documento O instituto da extradição (páginas 49-60)