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A importância da conservação do meio ambiente cultural para a construção de uma sociedade sustentável : o caso de Laranjeiras/SE

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE. NÍVEL MESTRADO ÁUREA JACIANE ARAUJO SANTOS. A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE CULTURAL PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: O CASO DE LARANJEIRAS/SE. SÃO CRISTÓVÃO 2015.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL. NÍVEL MESTRADO ÁUREA JACIANE ARAUJO SANTOS. A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE CULTURAL PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: O CASO DE LARANJEIRAS/SE. Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, pelo programa de Pósgraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe.. Orientador: Professor Doutor Evaldo Becker. SÃO CRISTÓVÃO-SERGIPE 2015.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. S237i. Santos, Áurea Jaciane Araújo A importância da conservação do meio ambiente cultural para a construção de uma sociedade sustentável: o caso de Laranjeiras/SE / Áurea Jaciane Araujo Santos; orientador Evaldo Becker. – São Cristóvão, 2015. 136 f.: il.. Dissertação (mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal de Sergipe, 2015.. 1. Desenvolvimento sustentável. 2. Meio ambiente. 3. Desenvolvimento econômico – Aspectos ambientais. 4. Direito ambiental. 5. Patrimônio cultural - Proteção. 6. Laranjeiras (SE). I. Becker, Evaldo, orient. II. Título. CDU 502.131.1(813.7).

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(5) Aos grandes amores da minha vida: Deus, minha mãe(por tudo que representa), minha irmã e Anselmo..

(6) AGRADECIMENTOS Chega ao final mais uma etapa e ao final de cada etapa é preciso parar, respirar, olhar para trás e lembrar daqueles que no caminho trilhado até aqui contribuíram direta ou indiretamente. Obrigado Senhor Deus e à espiritualidade amiga! A fé é a força que me move e sem o Teu amparo eu não iria a lugar algum. Agradeço também a minha mãe, pelo amor incondicional, pela luta diária. Cada conquista é mais sua do que minha. Obrigado pela vida, pela educação, pelo caráter! Obrigado Neiva Cristine, minha amada irmã, pelo incentivo e por sempre acreditar em mim! Obrigado Anselmo Galvão, pela companhia diária, pelo apoio! Obrigado a minha família, vocês são a base de tudo! Ao meu orientador, Professor Doutor Evaldo Becker, obrigado pela confiança em mim depositada. A sua competência fora imprescindível para a concretização desse trabalho. Ao senhor todo meu respeito e minha profunda admiração. Aos amigos da Defensoria Pública da União, obrigado por tudo, pelo apoio, pela confiança, pelo aprendizado e pelo incentivo contínuo, em especial a Andréa Peretti, Pedro, Davi, Ricardo, Maricélia, Erivan, Dr. Raimundo, Dra. Patrícia e Dr. Oséas. Aos professores, funcionários e colegas do PRODEMA, em especial aos Professores Antônio Carlos, Antônio Vital, Cristiano Ramalho e Professora Maria José e a minha querida Najó. Agradeço imensamente a contribuição significativa de cada um na construção desse trabalho. Enfim, meu muito obrigado a todos, nessas páginas têm um pedaço do meu coração..

(7) “Erguem-se por ali soberbos casarões apalaçados, de dois e três andares, sólidos como fortalezas, tudo pedra, cal e cabiúna; casarões que lembram ossaturas de megatérios donde as carnes, o sangue, a vida para sempre refugiram. Vivem dentro, mesquinhamente, vergônteas mortiças de famílias fidalgas, de boa prosápia entroncada na nobiliarquia lusitana. Pelos salões vazios, cujos frisos dourados se recobrem da pátina dos anos e cujo estuque, lagarteado de fendas, esboroa à força de goteiras, paira o bafio da morte. Há nas paredes quadros antigos, crayons, figurando efígies de capitães-mores de barba em colar. Há sobre os aparadores Luís XV brônzeos candelabros de dezoito velas, esverdecidos de azinhavre. Mas nem se acendem as velas, nem se guardam os nomes dos enquadrados – e por tudo se agruma o bolor râncido da velhice. São os palácios mortos da cidade morta”.. Monteiro Lobato.

(8) RESUMO Esta pesquisa versa basicamente sobre dois pontos, a conservação do ambiente cultural e o desenvolvimento do município de Laranjeiras/SE. O objetivo principal é analisar de que forma a legislação urbanística e ambiental municipal contempla seu patrimônio material e imaterial no que concerne às questões socioambientais. Pretende-se verificar, se o Direito à cidade (LEFEBVRE, 2001) é respeitado, de modo a auxiliar na compreensão das questões relativas à valorização do patrimônio material e imaterial para uma melhor sociabilidade. Busca-se enfim ampliar o pensamento acerca da dimensão da proteção ambiental através de uma discussão que demonstra que o ambiente artificial e cultural são tão importantes quanto o ambiente natural na construção de sociedades sustentáveis. A hipótese é que o fortalecimento dos laços de identidade constitui a base para a ampliação da visão da importância do patrimônio cultural e é fator determinante para a perpetuação da cultura local como um bem a ser conservado de modo que as futuras gerações possam conhecê-la. E, ao que tudo indica, o legislador municipal no processo de elaboração das leis urbanas de Laranjeiras, não levou em conta as questões e a complexidade dos problemas socioambientais da cidade, de modo que estas não respondem de forma eficaz às demandas concernentes à preservação, conservação e uso deste patrimônio. Justifica-se esse trabalho como uma forma para comprovar que em se tratando de cidades históricas, a cultura deve ser sempre o centro das atenções, logo, toda a legislação de uma cidade com riqueza cultural material e imaterial como Laranjeiras sofre influência direta do seu arcabouço cultural, visando o desenvolvimento socioambiental. Esta pesquisa se utiliza do método dialético, considerando a necessidade de abordar os fatos dentro do contexto político, social e econômico, de modo a favorecer uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade (PEREIRA, 2010). Para alcançar o objetivo, foi feito um levantamento bibliográfico e documental, além da realização de entrevistas com diversos segmentos no âmbito municipal, estadual e federal, além de diversas visitas in loco visando conhecer a realidade social do lugar. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva tendo em vista a problemática apresentada. O texto final foi estruturado em três partes: a Fundamentação teórica, dividida em 03 (três) capítulos. Em seguida é apresenta a metodologia utilizada. E por fim, o capítulo final com a compilação de dados coletados e tratados sobre Laranjeiras/SE e a formação do patrimônio cultural material e imaterial da cidade ao longo da sua história. Após o que foi possível concluir que os laços de identidade sem dúvida são a base para a ampliação da visão da importância do patrimônio cultural e é fator determinante para a perpetuação da cultura local como um bem a ser conservado de modo que as futuras gerações possam conhecê-la. O que se espera é que os resultados desta pesquisa contribuam para uma forma abrangente de se pensar a comunidade de Laranjeiras, de modo que possa se diminuir os contrastes sociais bem como estreitar os laços entre o povo e seu lugar.. PALAVRAS – CHAVE: Patrimônio cultural; conservação; legislação urbanística e ambiental..

(9) ABSTRACT. This research versa basically on two points, the conservation of the cultural environment and the development of the municipality of Laranjeiras/SE. The main objective is to examine how the municipal urban and environmental legislation contemplates its tangible and intangible assets with respect to environmental issues. The aim is to verify if the right to the city (LEFEBVRE, 2008) is respected, in order to assist in the understanding of issues relating to the valuation of tangible and intangible heritage for a better sociability. The aim is to finally expand the thinking about the size of environmental protection through a discussion that demonstrates that the artificial and cultural environment are as important as the natural environment in the construction of sustainable societies. The hypothesis is that the strengthening of ties of identity is the basis for the expansion of the vision of the importance of cultural heritage and is a determining factor for the perpetuation of local culture as an asset to be preserved so that future generations can meet you. And, it seems, the municipal legislature in the process of urban laws of Laranjeiras/SE, did not take into account the issues and the complexity of social and environmental problems of the city, so that they do not respond effectively to the demands concerning the preservation, conservation and use of this heritage. Justified this work as a way to prove that when it comes to historic cities, culture should always be the center of attention, so all laws of a city with rich cultural material and immaterial as Laranjeiras is under direct influence of its framework cultural, aimed at environmental development. This research uses the dialectical method, considering the need to address the facts in the political, social and economic context, in order to promote a dynamic and totalizing interpretation of reality (PEREIRA, 2010). To achieve the goal, a bibliographic and documentary survey was conducted, in addition to interviews with several segments at the municipal, state and federal, and several site visits (of the place) aiming at the social reality. This is a qualitative, exploratory and descriptive research with a view to appear problematic. The final text was structured in three parts: Theoretical framework, divided into three (03) chapters. Next is presents the methodology used. Finally, the final chapter with the compilation of collected and processed data on Laranjeiras/SE and the formation of the material and immaterial cultural heritage of the city throughout its history. After which it was concluded that the undoubtedly identity ties are the basis for the expansion of the vision of the importance of cultural heritage and is a determining factor for the perpetuation of local culture as an asset to be preserved so that future generations can meet. The hope is that the results of this research contribute to a comprehensive way of thinking the community of Laranjeiras, so that it can reduce social contrasts as well as strengthen ties between the people and place.. WORDS – KEY: Cultural environment; conservation; urban and environmental legislation..

(10) LISTA DE FIGURAS. Figura 1 – Mapa de localização da cidade de Laranjeiras/SE (Map data @2014 Google)..................................................................................................................................... 90 Figura 2 – Matéria veiculada na Gazeta de Vitória/ES (IPHAN, 1989, folha 31) .................................................................................................................................................. 91 Figura 3 – Igreja da Comandaroba – Laranjeiras/SE (Fotografia -Acervo pessoal) .................................................................................................................................................. 93 Figura 4 – Gruta da Pedra Furada – Laranjeiras/SE (Fotografia - acervo pessoal) .................................................................................................................................................. 98 Figura 5 – Fachada do Campus da Universidade Federal de Sergipe – Laranjeiras/SE (Fotografia - acervo pessoal) ................................................................................................. 101 Figura 6 – Mapa do Conjunto Arquitetônico, paisagístico e urbanístico – Laranjeiras/SE (IPHAN, 1989, fl.03) ............................................................................................................ 106 Figura 7 – Igreja Presbiteriana de Sergipe (1884) – Laranjeiras/SE (Fotografia - acervo pessoal) ................................................................................................................................. 106 Figura 8 – Antiga Estação de Trem (2015) – Laranjeiras/SE (Fotografia- acervo pessoal) ............................................................................................................................................... 107 Figura 9 – Altar da Igreja da Comandaroba durante a Semana Santa, com as imagens cobertas com um pano roxo (2013) – Laranjeiras/SE (Fotografia- acervo pessoal) ............................................................................................................................................... 110 Figura 10 – Festa dos Lambe-sujos e caboclinhos (2014) – Laranjeiras/SE (Fotografia Prefeitura Municipal de Laranjeiras) .................................................................................... 112 Figura 11 – Mapa de Macrozoneamento – Laranjeiras/SE (Anexo I- Plano Diretor do Município) ............................................................................................................................ 118 Figura 12 – Perímetro Urbano – Laranjeiras/SE (Anexo I- Lei complementar nº 18/2008) .............................................................................................................................................. 120.

(11) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. CF/88- Constituição Federal de 1988 CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente ECO 92- Conferência das Nações Unidas para o Meio ambiente e desenvolvimento GRAU - Grupo de restauração e renovação arquitetônica e urbana IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional JFSE- Justiça Federal de Sergipe MPE- Ministério Público Estadual MPF- Ministério Público Federal ONU- Organização das Nações Unidades PDDP- Plano Diretor de Desenvolvimento Participativo SE- Sergipe SUBPAC - Subsecretaria do Patrimônio Cultural do estado de Sergipe SNUC- Sistema Nacional de Unidades de Conservação SPU- Superintendência do Patrimônio da União UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura..

(12) SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 14 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................... 18 2. MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO: DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS ........................................................................................................ 18 2.1 Homem x natureza: mudança de paradigma .............................................................. 18 2.2 A ética ambiental: a relação delicada entre o homem e a natureza ............................ 24 2.3 Socioambientalismo: eis que surge um novo conceito .............................................. 29 2.4 Políticas públicas ........................................................................................................ 33 3. BASE LEGAL .................................................................................................................... 37 3.1 A CONSTRUÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO ................................. 37 3.2 A CARTA MAGNA DE 1988: A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ E O MEIO AMBIENTE ................................................................................................................................................. 38 3.3 A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO URBANO COMO PREVISÃO CONSTITUCIONAL .............................................................................................................. 41 3.4 AS LEIS MUNICIPAIS ANALISADAS NA PESQUISA ............................................ 44 3.4.1 Plano diretor: instrumento básico da política urbana .................................................... 44 3.4.2 Código de edificações .................................................................................................... 47. 3.4.3 Uso, ocupação e parcelamento do solo .......................................................................... 47. 3.4.4 Código Ambiental municipal ......................................................................................... 48. 3.5. A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E A PROTEÇÃO A CULTURA ............................ 48 3.6 O TOMBAMENTO ......................................................................................................... 52.

(13) 3.7 DANO AO PATRIMÔNIO CULTURAL: CRIME LESIVO AO MEIO AMBIENTE .................................................................................................................................................. 55. 4 PATRIMÔNIO CULTURAL ........................................................................................... 61. 4.1 CULTURA: UMA PALAVRA DE AMPLA ABRANGÊNCIA ..................................... 61 4.2 PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL ..................................................................... 64 4.3 CONSERVAR OU PRESERVAR .................................................................................... 68 4.4 CULTURA E LUGAR ..................................................................................................... 71 4.5 DESENVOLVIMENTO VERSUS CULTURA: O DIREITO À CIDADE .................... 75. 5 METODOLOGIA .............................................................................................................. 84 5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................................... 84 5.2 LEVANTAMENTO DE DADOS ................................................................................... 85 5.3 TRATAMENTO DOS DADOS COLETADOS ............................................................... 89 6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 90 6.1 COMEÇANDO DO COMEÇO: A HISTÓRIA DE LARANJEIRAS ............................. 90 6.2 AS RIQUEZAS NATURAIS DE LARANJEIRAS ........................................................ 96 6.3 O DESENVOLVIMENTO URBANO DO MUNICÍPIO ............................................... 99 6.4 O PATRIMÔNIO CULTURAL DE LARANJEIRAS ................................................... 105 6.4.1 O Conjunto arquitetônico da cidade ..................................................................... 105 6.4.2 O patrimônio imaterial ......................................................................................... 109 6.4.3 O arcabouço legislativo da cidade de Laranjeiras: uma análise crítica das leis do município ...................................................................................................................... 114. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 123 REFERÊNCIAS .................................................................................................................127.

(14) 14. 1 INTRODUÇÃO. A presente pesquisa versa basicamente sobre dois pontos, a conservação do ambiente cultural e o desenvolvimento do município de Laranjeiras/SE. O objetivo principal é analisar de que forma a legislação urbanística e ambiental municipal contempla seu patrimônio material e imaterial no que concerne às questões socioambientais. Pretende-se verificar, se o Direito à cidade (LEFEBVRE, 2001) é respeitado, de modo a auxiliar na compreensão das questões relativas à valorização do patrimônio material e imaterial para uma melhor sociabilidade. Busca-se enfim ampliar o pensamento acerca da dimensão da proteção ambiental através de uma discussão que demonstra que o ambiente artificial e cultural são tão importantes quanto o ambiente natural na construção de sociedades sustentáveis. A área de estudo envolverá a zona urbana e os respectivos distritos da cidade de Laranjeiras/SE, entre os anos de 2013 e 2014. A escolha do município se deu por tratar-se de um dos mais antigos do país. Sua importância histórica está relacionada com as riquezas por lá produzidas no Século XIX, que vão desde o conjunto arquitetônico, como pela grande produção cultural e artística do povo laranjeirense. No tocante à legislação urbana, analisaremos o Plano diretor participativo e o código ambiental, sem muitas minúcias serão feitas algumas ponderações acerca da lei de uso, ocupação e parcelamento do solo e o código de edificações, só por tratarem de leis que regulamentam algumas diretrizes do Plano Diretor. Preliminarmente, a análise seria feita apenas com o Plano Diretor da cidade, no entanto, percebeu-se ao longo da pesquisa que o Plano Diretor da cidade destacava outras leis como o Código ambiental, o qual por se tratar de norma ambiental deve ser analisado para a obtenção dos objetivos desse trabalho. Dessa forma, de todo arcabouço legal do município de Laranjeiras, segue um breve introito do que seja cada um dos instrumentos analisados (Lei orgânica, Plano Diretor, Código Ambiental, Lei de uso, ocupação e parcelamento do solo, código de edificações), todos estes, instrumentos da política urbana, definidos pela Lei nº 10.251/01, o Estatuto da Cidade, apesar da análise detalhada ser em torno do Plano Diretor e do Código Ambiental..

(15) 15. Segundo Martins, (2009, p. 22), “um problema de pesquisa origina-se da inquietação, da dúvida, da hesitação, da curiosidade sobre uma questão não resolvida. A pesquisa se inicia pelo problema e é a busca de solução que orienta toda lógica da investigação”. Dessa maneira, a presente pesquisa caracterizou-se por buscar dados que respondessem às seguintes questões: 1- Qual a influência do patrimônio cultural da cidade de Laranjeiras/SE enquanto espaço socioambiental na formação da legislação do município? 2- Qual a relação das pessoas com a cidade/cultura? 3- Qual a importância do patrimônio cultural no processo de desenvolvimento de um lugar? 4- Como promover o desenvolvimento sem destruir as riquezas culturais da cidade? A hipótese é que o fortalecimento dos laços de identidade constitui a base para a ampliação da visão da importância do patrimônio cultural e é fator determinante para a perpetuação da cultura local como um bem a ser conservado de modo que as futuras gerações possam conhecê-la . E, ao que tudo indica, o legislador municipal no processo de elaboração das leis urbanas de Laranjeiras, não levou em conta as questões e a complexidade dos problemas socioambientais da cidade, de modo que estas não respondem de forma eficaz às demandas concernentes à preservação, conservação e uso deste patrimônio. Justifica-se esse trabalho como uma forma para comprovar que em se tratando de cidades históricas, a cultura deve ser sempre o centro das atenções, logo, toda a legislação de uma cidade com riqueza cultural material e imaterial como Laranjeiras sofre influência direta do seu arcabouço cultural, visando o desenvolvimento socioambiental. Pretende-se comprovar que em se tratando de cidades históricas, a cultura deve ser sempre o centro das atenções, logo, toda a legislação de uma cidade com riqueza cultural material e imaterial como Laranjeiras sofre influência direta do seu arcabouço cultural, visando o desenvolvimento socioambiental. De caráter interdisciplinar, a pesquisa abrangerá diversos aspectos, buscando correlacionar os que envolvem a relação do homem com o seu ambiente sob vários enfoques, desde a filosofia, passando pela sociologia, antropologia, direito, dentre outros. Vale destacar que foi através das disciplinas cursadas que se pode ampliar o olhar acerca das mais diversas questões ambientais atinentes à pesquisa1. 1. 1- Lógica e crítica da investigação científica constitui a base filosófica da presente pesquisa. É importante analisar que foi através dessa disciplina que se pode conhecer o desenvolvimento ao longo da história do pensamento científico. Foi uma releitura pessoal da filosofia, até então maculada pelos preconceitos e pela ignorância face ao total desconhecimento..

(16) 16. E por fim, outra grande fonte de aprendizado foram os encontros realizados pelo grupo de pesquisa Filosofia e Natureza. Fora do curriculum obrigatório e sem o caráter da cobrança das disciplinas da matriz curricular do curso, participar do grupo proporcionou um avanço pessoal no campo do conhecimento e da pesquisa. As orientações, as discussões e principalmente as críticas foram alicerces necessários para assumir uma postura. adequada. para. quem. tem. interesses. dentro. do. meio. científico.. A. multidisciplinaridade própria do curso e todo o caminho percorrido foram ingredientes necessários para a construção do presente trabalho. A dissertação será estruturada da seguinte maneira: Fundamentação teórica que está dividida em 03 (três) capítulos, o capítulo 02 (dois) versa sobre a relação intrínseca entre meio ambiente e desenvolvimento, no qual são abordados diversos pontos como a relação homem e natureza ao longo dos séculos e as questões em torno da ética ambiental, bem como o surgimento do socioambientalismo e as políticas públicas voltadas para a área ambiental, tendo como embasamento teórico as ideias de (SANTOS, B., 2007), (DIEGUES, 2001), (SACHS, 2002), (LARRÈRE, 2012), (FOLADORI, 2001), (ROUSSEAU, 1997), (BECKER, 2012), (SANTOS, A.C., 2012), (SANTILLI, 2005), dentre outros. O terceiro capítulo discorre acerca da base legal que subsidiou a discussão aqui pesquisada, com o ponto de vista da doutrina, das normas e da jurisprudência. Iniciando com a evolução ao longo do tempo do direito ambiental no Brasil, a importância da. 2Instrumental e técnicas de pesquisa e os seminários integradores foram de suma importância para a formação de pesquisadora. Foi através das críticas, das leituras e da prática que se aprendeu a desenvolver uma pesquisa, desde a concepção do projeto até sua execução. Foi uma disciplina primordial. 3Sociedade, desenvolvimento e natureza e Cultura Urbana e modos de vida foram disciplinas que trouxeram uma ampliação do olhar para além do mundo jurídico. O profissional de direito vive atrelado a leis e esquece-se de olhar ao seu redor, na tentativa de enxergar o que existe para além dos Códigos. A disciplina foi uma releitura do pensamento já fixado para os mais diversos aspectos que envolvem a vida em sociedade, a relação entre os homens e a relação entre o homem e a natureza. 4Desenvolvimento e sustentabilidade é uma reflexão para os fatores que contribuem diuturnamente para a degradação ambiental. Proporcionou a oportunidade de convívio direto com a natureza e os maiores problemas enfrentados nesse campo, discutiu-se a economia na visão ecológica e ajudar a repensar no que consiste de fato o direito à vida. 5Direito administrativo, constitucionalismo e cidadania foi a abordagem diferenciada do que se aprende na graduação em Direito. Através de discussões sobre os mais diversos temas político-sociais, constrói-se um novo modo de ver e pensar acerca das questões que envolvem o homem enquanto cidadão. Fortemente ligado a questão do Direito a cidade, a disciplina buscou mostrar o poder do Estado e dos cidadãos que o compõe..

(17) 17. Constituição Federal com a proteção conferida ao meio ambiente e constitucionalização da política de desenvolvimento urbano e por fim uma breve descrição acerca dos instrumentos legais que serão analisados na pesquisa, dentre os quais merece destaque o Plano Diretor. Como principais referências, (BRASIL, 1988 e 2001), (AMADO, 2011), (BELTRÃO, 2009), (LEITÃO, 2006), (LEITE, E., 2011), (MEIRELLES, 2011) e (MILARÉ, 2009). E finalizando a base teórica, o quarto capítulo trata acerca do Patrimônio Cultural, abordando a abrangência do termo, numa discussão que começa em torno do conceito de cultura e em seguida sobre patrimônio histórico cultural, fazendo em seguida uma análise dos termos conservar e preservar, discutindo a correlação entre cultura e lugar e finalizando com o contraponto entre cultura e desenvolvimento, trazendo à tona o direito à cidade. Embasam este capítulo a ideia de grandes autores, dentre os quais merecem destaque (BOLLE, 2000), (LEFEVBRE, 2001), (SANTOS, B., 1982), (EUFRASIO, 1999), (DIDEROT, 2011), (FORTUNA, 2006), (ORTIZ, 1998), dentre outros. O quinto capítulo apresenta a metodologia utilizada na pesquisa, descrevendo os caminhos trilhados para que se chegasse aos resultados e discussões que são apresentados no sexto capítulo. Esse consiste no diagnóstico da situação observada e analisada, através de uma reflexão crítica. Foi feito o estudo sobre Laranjeiras/SE e a formação do patrimônio cultural material e imaterial da cidade ao longo da sua história. Buscando analisar através de todos os dados e informações coletadas de que forma as metodologias participativas podem ser o caminho para a conservação, revitalização e uso do patrimônio cultural de Laranjeiras, avaliando as questões urbanas, socioambientais e éticas acerca da discussão..

(18) 18. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2. MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO: DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS. 2.1. Homem x natureza: mudança de paradigma da mera exploração para o uso racional O período compreendido entre o século XIX e meados do século XX, foi marcado pelas maiores tragédias contra a humanidade. O novo personagem da história é o cidadão. Ou seja, o exercício pleno da cidadania se confunde com o exercício dos mais diversos direitos, quais sejam políticos, civis e sociais. Os direitos políticos são aqueles que dizem respeito à participação do cidadão no governo. O modelo brasileiro reconhece o direito à participação popular, mas com um acesso ainda limitado, o poder conferido pela sociedade civil ainda é feito através do voto. Os direitos sociais são um dos pilares de sustentação da dignidade da pessoa humana, uma vez que assegura aos cidadãos em geral o acesso ao trabalho, à educação, ao salário digno. E por fim, os direitos civis, ou melhor, os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à igualdade e à fraternidade. Os chamados direitos fundamentais têm sua origem histórica marcada pelos ideais advindos da Revolução Francesa e surgiram com a ideia de ser uma frente de defesa do homem em face do poder estatal. Estabelece e ganha reforço nas ideias de Locke e Rousseau acerca dos direitos naturais do homem. A doutrina dividiu os direitos fundamentais em três dimensões ou gerações, baseados nos ideais da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. A primeira dimensão advém principalmente das ideias iluministas na qual a liberdade é vista como um Direito Natural do homem, como o direito à vida. Segundo (BECKER, 2008), a liberdade enquanto qualidade inseparável configuraria um dever do.

(19) 19. homem para consigo mesmo. Ou seja, os direitos de primeira dimensão precedem o homem e o acompanham por toda sua vida. O pós-guerra vem como o ápice da degradação do homem, era preciso resgatar o mínimo possível de dignidade que restava após tanta barbárie, com a garantia mínima de direitos. A segunda dimensão constitui o direito a igualdade mediante a garantia dos direitos sociais. E por fim, os direitos de terceira geração embasados na ideia de fraternidade. É chegado o momento em que não se pensa apenas mais nos direitos individuais do homem, aqui os direitos tomam outra dimensão e dizem respeito à coletividade. Os direitos da terceira dimensão são abrangentes, englobam em verdade a liberdade e a igualdade. Aqui o homem chega à sua plenitude quando redescobre a solidariedade. Ele não pensa apenas mais em si mesmo, mas, existe um comprometimento do homem consigo mesmo e com o próximo, mesmo que este próximo seja as futuras gerações. No pensamento de Robert Alexy, quando o estado assegura os direitos coletivos está impondo a garantia aos direitos individuais, conforme se depreende no trecho que segue:. Puede considerarse como un bien colectivo el que una sociedad está organizada de forma tal que en ella pueda vivirse agradable y variadamente y puede, además, sosternese que el Estado, cuando están asseguradas cosas más fundamentales, está obligado a crear y conservar este bien colectivo. Pero hay que poner em duda el que existan derechos individuales para los cuales este bien sea exclusivamente un médio... Pueden haber casos en los cuales existan buenas razones para dotar al individuo con derechos, de forma tal que pueda para si o como abogado de la comunidad imponer bienes colectivos, (ALEXY, 2004, p. 203). Acerca da ideia anteriormente passada, ao mesmo tempo em que se assegura um direito coletivo, consequentemente está se assegurando um direito individual, vez que o objetivo comum de ambos os institutos é assegurar a formação de uma sociedade justa e igualitária. Dentro dessa linha de pensamento podemos considerar o direito ao ambiente sadio como um bem de suma importância para a qualidade de vida do homem, mas que se confunde com o próprio direito à vida. É um direito, o qual não se pode identificar a titularidade, mas que a garantia de sua eficácia atinge da mesma forma a todos indistintamente. Nesse passo, compilando os mais diversos conceitos, entende-se que os direitos humanos compreendem não apenas normas, mas também valores e princípios com vistas a assegurar a dignidade da pessoa humana, independente de raça, cor, credo e religião. São.

(20) 20. direitos elencados em declarações universais, pactos internacionais e convenções, dos quais merece destaque a Declaração Universal dos Direitos Humanos. No Brasil, com a promulgação da Constituição de 1988, os direitos fundamentais tornaram-se garantias constitucionais, elencados nos mais diversos artigos e incisos da Carta Magna. É assim que, segundo Sachs (2002, p. 47), “desenvolvimento e direitos humanos alcançaram proeminência na metade do século, como duas ideias-força destinadas a exorcizar os horrores da Segunda Guerra mundial”. Dentro dessa nova perspectiva e após todo processo de redemocratização, o Brasil, signatário de tratados de direitos humanos, em 1988, com a ruptura com o regime militar e o começo de uma nova perspectiva na sociedade brasileira é que foi promulgada a chamada “Constituição Cidadã”, que traz já no bojo dos seus primeiros artigos uma série de direitos aos cidadãos brasileiros (sociais, políticos e civis), os chamados direitos fundamentais.. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. (BRASIL, 1988). De acordo com Silva (2005, p. 122), “a tarefa fundamental do Estado Democrático de Direito consiste em superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrático que realize a justiça social”. Os direitos fundamentais visam proteger e garantir à dignidade humana, princípio basilar, que deve ser assegurado a todos, indistintamente. Constituem um equilíbrio de forças entre o poder estatal e a sociedade civil. Na verdade, seguindo o pensamento de (SARLET, 2012), pode-se dizer que estes direitos se constituem como a defesa do cidadão quanto a possíveis arbitrariedades do Estado. Esse enfrentamento é fruto do pensamento iluminista e das mudanças sociais e políticas pelas quais passaram a sociedade após a ruptura com o poder real. Atualmente, no cenário brasileiro, mesmo não vivendo numa monarquia, é preciso que o cidadão tenha prerrogativas ante o poder estatal, como se pode comprovar no trecho abaixo:. [...] Assumem particular relevo no rol desses direitos, especialmente pela sua notória inspiração jusnaturalista, os direitos à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade.

(21) 21. perante a lei. São, posteriormente, complementados por um leque de liberdades, incluindo as assim denominadas liberdades de expressão coletiva (liberdades de expressão, imprensa, manifestação, reunião, associação etc.) e pelos direitos de participação política tais como o direito de voto e a capacidade eleitoral passiva, revelando de tal sorte, a íntima correlação entre os direitos fundamentais e a democracia. Também o direito de igualdade, entendido como igualdade formal (perante a lei) e algumas garantias processuais (devido processo legal, habeas corpus, direito de petição) se enquadram nesta categoria [...] (SARLET, 2012, p. 47). Assim, é lícito afirmar que o Brasil sendo considerado um estado democrático de direito consagra na sua Constituição, princípios fundamentais como a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, bem como valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. É nesse sentido que Marshal afirma que:. A cidadania exige um elo de natureza diferente, um sentimento direto de participação numa comunidade baseado numa lealdade a uma civilização que é um patrimônio comum. Compreende a lealdade de homens livres, imbuídos de direitos e protegidos por uma lei comum. Seu desenvolvimento é estimulado tanto pelo gôzo(sic) dos mesmos, uma vez adquiridos. (MARSHALL, 1967, p. 84). Observe-se que a associação de homens livres seria o primeiro passo para uma lei comum e quiçá uma lei eficaz. Em outras palavras, os homens são livres, eles se juntam, passam a ter que conviver e por isso precisam estabelecer regras de convivência. Na mesma linha de pensamento, (BECKER, 2008), acredita que a passagem para o estado de sociedade, implicaria numa mudança de análise, do homem livre para o homem que a partir de agora precisa viver sob o julgo de leis. Dentro desse contexto, passa a vigorar dentre as preocupações do homem, as questões relativas ao meio ambiente. A ideia equivocada de que os recursos naturais são infindáveis, fomentou um modelo de exploração sem preocupação com consequências futuras, onde predominava uma cultura de colonização altamente exploradora (FERNANDES, 2009). Uma mudança de paradigmas urgia. Era preciso romper com modelos exclusivos de exploração capitalista e passar a perceber que em se tratando de questões ambientais, o homem não podia ser mero espectador, este precisava ser inserido como um sujeito não só de deveres, mas antes de tudo, portador de direitos. É no final dos anos 60 e na década de 70, que surge o que Diegues (2001, p. 39) chama de “proposta do desenvolvimento sustentado”, reconhecendo como base do crescimento o meio ambiente e.

(22) 22. passando a se pensar nas principais estratégias que viessem a proporcionar para os países subdesenvolvidos crescimento, mas ao mesmo tempo resistência às crises econômicas.. A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, de 1972, ocorrida em Estocolmo, colocou o meio ambiente na agenda internacional. Ela foi precedida pelo encontro Founex, de 1971, implementado pelos organizadores da Conferência de Estocolmo para discutir, pela primeira vez, as dependências entre o desenvolvimento e o meio ambiente, e foi seguida de uma série de encontros e relatórios internacionais que culminaram, vinte anos depois, com o Encontro da Terra no Rio de Janeiro. (SACHS, 2002, p. 48). A proposta de (DIEGUES, 2001), era de uma estruturação das sociedades em termos de sustentabilidade própria, segundo suas tradições culturais, seus parâmetros e sua composição étnica específica. Na verdade um chamado à mudança de paradigmas. A natureza, em todos esses modelos, era considerada como um elemento imutável, fonte inesgotável de matéria-prima, e não como um sistema vivo com processos e funções próprias [...] (DIEGUES, 2001, p. 42) e era essa concepção que precisava ser mudada urgentemente. Ponto bem visível quando Diegues (2001, p. 52), faz um contraponto entre “Desenvolvimento” e “Sociedade sustentável” e afirma que o conceito de “sociedades sustentáveis” é mais adequado do que “desenvolvimento sustentado”, na medida em que “possibilita a cada uma delas definir seus padrões de produção e consumo, bem como o de bem-estar a partir de sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu ambiente natural”. Em que pese a preocupação central trazida por (DIEGUES, 2001), está no conjunto de preocupações sobre as relações entre homem e natureza e dos homens entre si. A questão é válida e atual, o que leva a necessidade de se criar novas utopias para o século XXI, pensando na “diversidade de sociedades sustentáveis, com opções econômicas e tecnológicas diferenciadas, voltadas principalmente para o “desenvolvimento harmonioso das pessoas” e de suas relações com o mundo natural” (DIEGUES, 2001, p. 55). A proposta é semelhante ao modelo de quebra do pensamento hegemônico de Boaventura Sousa Santos (2007), no livro Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social. Ou seja, o que os dois autores trazem é a necessidade de se romper com o pensamento dominante, mas já ultrapassado, é mudar a forma de pensar e consequentemente a de agir frente às novas necessidades que surgem..

(23) 23. Agora, o foco da atenção concentra-se tanto na relação das forças produtivas com as forças sociais, como com a natureza. A preocupação com a degradação do fator humano é estendida ao meio ambiente que agora é percebido como uma base de recursos finitos que estabelece severos limites a um crescimento econômico contínuo e à própria reprodução da espécie humana. (LEIS, 1999, p. 121). Destaque-se que o Brasil, colonizado por Portugal, mantém em suas raízes a cultura altamente predadora e exploratória, mas em contrapartida, a sensibilização para a finitude dos recursos naturais urge no chamamento a mudança de atitude imediata, de modo a evitar catástrofes irremediáveis. No pensamento de Becker e Becker (2014), a ação antrópica é que potencializa o efeito das catástrofes, “tudo que fazemos repercute de alguma maneira sobre o mundo em que vivemos (2014, p. 120). E é este pensamento crítico que precisa ser desenvolvido pela sociedade. O ambiente saudável e equilibrado é um direito, mas antes de tudo dever de todos manter a sua incolumidade e isso passa basicamente pela mudança de hábitos, dentre os quais o uso racional daquilo que a natureza nos oferece. Importante destacar que o objetivo dessa pesquisa não é defender um retrocesso, um retorno à vida pré-histórica. Muito pelo contrário, defende-se o desenvolvimento que assegure a garantia de meio ambiente ecologicamente equilibrado e isso depende única e exclusivamente do homem e de suas atitudes. E quando se fala em homem, não está aqui a se tratar apenas daqueles que nos representam politicamente. Não, ao se tratar de conservação ambiental a igualdade de ação atinge todos os homens. Nesse sentido, forçoso comentar acerca do que diz Rousseau na Carta ao Senhor Voltaire, da responsabilidade dos próprios homens em produzir suas desgraças. Destaca ainda a ambição que nos torna egoístas, materialistas e cegos, onde a única luz enxerga-se nos bens materiais. Trazendo a discussão do autor em questão aos dias atuais, podemos entender que a medida que a sede de consumo do homem aumenta, mais ele compromete o seu futuro e das futuras gerações, produzindo como anteriormente dito, as suas próprias tragédias. Utilizando o pensamento de (SACHS, 2002), podemos dizer que não se pode equacionar conservação com a opção de “não-uso” dos recursos naturais e sim com o uso racional para atender as necessidades. Tal ideia fica clara em passagens como esta na qual o autor propõe que:.

(24) 24. [...] De modo geral, o objetivo deveria ser o do estabelecimento de um aproveitamento racional e ecologicamente sustentável da natureza em benefício das populações locais, levando-as a incorporar a preocupação com a conservação da biodiversidade aos seus próprios interesses, como um componente de estratégia de desenvolvimento. Daí a necessidade de se adotar padrões negociados e contratuais de gestão da biodiversidade. (SACHS, 2002, p. 53). O caminho mais apropriado para consolidar a conservação do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e o respeito à diversidade cultural dos povos é justamente tornar esses atores sociais como os mais importantes personagens do contexto, responsáveis diretos pela preservação do meio em que vivem. O Princípio 1 da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento traz em seu enunciado a seguinte definição: [...] Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza. [...] (UNITED NATIONS, 1992). Ao se falar em uso racional, subentende-se que é preciso haver um acordo implícito entre o homem e a natureza. Ou seja, é preciso redefinir essa relação, estabelecendo um contrato ético ou o contrato natural, conforme definido na obra de mesmo nome de Michel Serres. A seguir, a discussão acerca dessa relação entre o homem e seu ambiente.. 2.2 A ética ambiental: a relação delicada entre o homem e a natureza. Durante muito tempo, grosso modo, a preocupação ambiental de um modo geral, tanto por parte do povo, como do poder público se resumia a criação e mantença de parques e reservas ecológicas. A maior parte da população, alheia ao processo de degradação ambiental que crescia ao seu redor enxergava que a preservação ambiental referia-se apenas a plantas e animais silvestres ou selvagens. O homem criava em seu imaginário os espaços que legalmente deveriam ser protegidos e meio que assinava um atestado que funcionava como uma “auto-liberação” inconsciente de que já tinha feito a sua parte. Não existia o compromisso e nem a sensibilização de ser o homem parte integrante da natureza e a medida que a voracidade humana contribui para sua destruição, automaticamente está promovendo a sua própria destruição..

(25) 25. A natureza por muito tempo se apresentou assim: como o que está fora, o exterior, de onde se poderia extrair, que se poderia transformar, onde se poderia depositar o que se tinha em excesso. A humanidade, as “placas físicas” de homens, ocupam a terra inteira, não resta nenhuma reserva, nenhuma exterioridade. Globalidade rima com fragilidade. “Nossa potência coletiva atinge os limites de nosso hábitat global” (SERRES, 1990, p. 54).(LARRÈRE, 2012, p. 18). Com o passar dos anos, as questões ambientais tiveram seus contextos ampliados para o que realmente importava. Dentre os equívocos estava não inserir o homem no contexto ambiente, como se este não fosse um ser integrante da natureza e sim um ser superior pela sua capacidade de raciocínio e que a degradação ambiental era consequência dos avanços tecnológicos, como se nada tivesse com todo esse processo. Essas ideias foram molas propulsoras para uma degradação ambiental crescente. Objetivando o estabelecimento de uma relação harmoniosa entre homem e natureza, Michel Serres traz à tona a necessidade de se estabelecer um contrato natural, o qual seria uma espécie de acordo entre o homem e a natureza. Vale falar do conceito de contrato no mundo jurídico que é um acordo de vontade das partes. Talvez fosse difícil pensar em como a natureza poderia manifestar sua vontade expressamente a fim de se estabelecer um contrato com o homem. Mas, conforme (CARSON, 2010) a natureza tem também seu modo de se manifestar, não através de palavras ou de escritos, mas através de mudanças que vão ocorrendo, muitas vezes passando despercebidas aos olhos dos homens, que ocupados em demasiado com seus interesses materiais não percebem que existe um clamor implícito de pare, olhe e pense. Em seu texto “A atualidade do Contrato Natural”, Larrère examina o conceito proposto pelo autor francês e escreve:. As afirmações sobre o contrato natural, sobre a natureza tornada sujeito são melhor compreendidas quando nos damos conta que a natureza para Serres, é o melhor que a ciências diz dela em um determinado momento. O que caracteriza a natureza, atualmente, é sua globalidade, o conjunto de suas relações científicas e técnicas, que a liga com o mundo e desenha a configuração. Porque elas fazem testemunhas os objetos, as ciências não são somente um discurso sobre o mundo, elas estabelecem uma relação com a natureza, elas fazem dela uma parceria. (LARRÈRE, 2012, p. 24). Discutir o papel do homem nesse processo é fundamental, mas não é tarefa das mais fáceis. A definição biológica do homem é estabelecedora da sua forma de se relacionar com a natureza. De acordo com (FOLADORI, 2001) é necessário comparar o homem com os demais.

(26) 26. seres vivos para explicar como as necessidades humanas são as responsáveis pela definição cultural. Ou seja, à medida que os seres se desenvolvem, são necessárias funções novas, gerando necessidades diferentes, seja de mobilidade, alimentação, etc., criando sempre um novo desafio para aquela espécie. Ainda dentro da linha de raciocínio do autor, a principal especificidade humana é a capacidade de pensar, que faz com que os homens imponham condições artificiais com o intuito de modificar a natureza. A ambição do homem é sem dúvida a maior responsável pelos processos de degradação ambiental. Para (BECKER, 2012, p. 55), “O problema da ação humana é seu desregramento, o amor pelo poder e pelo domínio acaba gerando monstros”. Não satisfeito em produzir o necessário, produz-se o supérfluo e é esse excesso que contribuirá para a modificação do espaço em que se vive em total dissonância ao processo de desenvolvimento da natureza, que é mais sábia e gradativa em suas mudanças. Para (ROUSSEAU, 1997), o homem é um ser insaciável, quanto mais ele tem, mais ele quer e acaba por perder sua liberdade, tornando-se escravo de si mesmo. Afirma ainda que “é preciso que a consciência de nossa responsabilidade seja equivalente ao potencial possuído pelo homem contemporâneo, de causar danos, seja aos contemporâneos, à natureza extrínseca ao homem, ou mesmo às futuras gerações” (BECKER, 2012, p. 57).. Nenhuma ética anterior vira-se obrigada a considerar a condição global da vida humana e o futuro distante, inclusive a existência da espécie. O fato de que hoje eles estejam em jogo exige, numa palavra, uma nova concepção de direitos e deveres, para a qual nenhuma ética e metafísica antiga pode sequer oferecer os princípios, quanto mais uma doutrina acabada. (JONAS, 2006, p. 41). A proposta de (ROUSSEAU, 1997) e (JONAS, 2006) é de que os avanços devem ser feitos, mas não podem ser realizados de forma impensada, irresponsável, é preciso que haja ética na conduta humana. Essa ética consistiria no uso racional da natureza, de maneira que outrora às futuras gerações tenham o mesmo direito dos seus predecessores. É o homem, único responsável pelo mal ou pelo bem que lhes acontece. Destaque ainda que na Carta ao Senhor Voltaire sobre a Providência, Rousseau chama-nos a uma análise mais meticulosa dos fatos que acontecem. Ele não descarta que nos sensibilizemos diante das tragédias, mas que tenhamos diante delas um olhar crítico e que seja capaz de visualizar quem de fato deu causa ao acontecimento. O homem sempre se considerou um Deus e assim capaz de promover mudanças a seu bel-prazer, como se pudesse prever todas as consequências. O domínio da.

(27) 27. natureza está incluído nesse rol de controle humano, mas vez ou outra, e porque não dizer quase sempre, a resposta sempre vem em proporção ao estrago feito pelo homem.. A ética diz respeito, justamente, à razão de agir e ao modo de agir. Ela está ligada aos valores que cada um estabelece para si mesmo e para o outro, numa relação entre meios e fins. Nesse sentido, há certas perguntas que o cientista não pode deixar de fazer-se em caso de dúvida: “O resultado daquilo que faço trará benefícios para todos ou para uma pequena minoria?” Será que o resultado só a mim beneficiará? “Estou pondo meu conhecimento a serviço do desenvolvimento da humanidade ou de uma ideologia, um partido ou, simplesmente, de uma instituição que só visa a certos fins, como o lucro, por exemplo?” (SANTOS, A.C., 2012, p. 38). Merece destaque ainda a ideia proposta por Serres e comentada por (LARRÈRE, 2012), de que a natureza e o homem são um só, um é parte integrante do outro, atribuindo responsabilidades aos homens no que concerne ao ambiente, justamente pela sua capacidade de raciocínio. Considerando ainda que a natureza que outrora fora vista como algoz, hoje é vítima, o que custa ao homem entender que a partir do momento em que se vitimiza a natureza, a vítima em potencial será ele próprio que terá que arcar com as consequências da sua intempérie. Haveria o estabelecimento do que ele chama de contrato natural. A ideia básica seria de que fosse estabelecida uma regra, na qual os homens retiram da natureza, de forma sensata o que precisam. Se outrora fora necessário estabelecer um Contrato Social (ROUSSEAU, 2002), para organizar a vida entre os homens, nada mais justo que se estabeleça um Contrato Natural, este entre o homem e a natureza. Ou seja, o homem deixa o papel de mero predador/consumidor, e passa a ser antes de tudo aquele que conserva pensando no futuro, desde quando usa a natureza de forma racional. Faz-se necessária uma mudança de atitude frente a estes seres (natureza e gerações futuras) que até o momento não podem requerer direitos mas em relação aos quais não podemos negar certos deveres. A relação deixa de ser exploratória/predatória e passa a ser equilibrada/consciente. Isso faria com que ao invés de esgotar os recursos naturais e provocar mudanças desastrosas no meio natural, o homem passe a assegurar o mesmo direito de usufruir que teve às futuras gerações. É a redescoberta da solidariedade, a formação de uma cadeia conservacionista ininterrupta. Face à este frágil equilíbrio que se estabelece entre o homem e o ambiente em que vive, requer-se uma mudança em relação às éticas tradicionais, que devem agora incluir aspectos que foram por muito tempo negligenciados. É preciso atentar para a ética ambiental. Segundo (SANTOS, A.C., 2012, p. 38), “a ética ambiental, que é um ramo da ética aplicada, vai.

(28) 28. perguntar-se sobre a relação entre os homens e o meio ambiente, ou seja, o conjunto de seres vivos e inanimados que existem no planeta”. Ainda de acordo com (SANTOS, A.C., 2012), a discussão da ética ambiental gira em torno do papel do homem na natureza, destacando o antropocentrismo, biocentrismo e zoocentrismo. Entre as quais a diferença está em o que ou quem se torna o centro, qual seja, o homem, a vida ou os animais, respectivamente. Particularmente, com base nas leituras e nos estudos realizados durante esta pesquisa, o termo mais adequado para se tratar de meio ambiente, seria o biocentrismo. Há correntes ainda que prefiram o termo “ecocentrismo”, do qual se depreende do prefixo “eco” o sinônimo de casa/habitat, logo grosso modo, o centro das preocupações seria o habitat. Dentro desse contexto, importante trazer a baila algumas correntes antropológicas que contribuem para o estudo da relação homem/natureza, quais sejam: Ecologia cultural, antropologia ecológica, etnociência e a antropologia neomarxista ou econômica. Para (DIEGUES, 2002, p. 77), a ecologia cultural seria a corrente “que estuda os processos adaptativos por meio dos quais as sociedades são afetadas por ajustes básicos, e através deles o homem utiliza o meio ambiente”. Já a antropologia ecológica seria a corrente que “ao contrário da ecologia cultural toma como unidade de análise as populações humanas em seus parâmetros demográficos, não os grupos sociais em suas características culturais” (DIEGUES, 2002, p. 78). Ainda segundo o mesmo autor, a etnociência seria a “que parte da linguística para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os processos naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao conhecimento humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totais” (DIEGUES, 2002, p. 79). Finalmente, a antropologia neomarxista (ou econômica) através dos seus representantes, teria a função de contribuir “para a análise das relações entre as sociedades chamadas “primitivas” e seu ambiente” (DIEGUES, 2002, p. 80). Ante todo o exposto, a conclusão mais lógica é que o homem enquanto ser integrante da natureza, ao conservá-la assegura tanto seus direitos como cumpre com deveres para consigo mesmo e para com as outras espécies de seres vivos sejam estes animais ou vegetais, em face da sua primazia ante sua capacidade de pensar, o homem chama para si uma responsabilidade pelo bom uso dos recursos naturais e do ambiente em que vive. Logo, independente da teoria a ser adotada, haverá sempre imputada ao homem à responsabilidade por seus atos lesivos..

(29) 29. 2.3 Socioambientalismo: eis que surge um novo conceito. Nesse novo contexto histórico, o homem é agora sujeito portador de direitos e deveres, pode-se dizer que pelo simples fato de existir o ser humano já é titular de direitos naturais e inalienáveis, os chamados direitos fundamentais. Direitos intimamente ligados à formação do cidadão.. [...] a liberdade e a participação não levam automaticamente, ou rapidamente, à resolução de problemas sociais. Isto quer dizer que a cidadania inclui várias dimensões e que algumas podem estar presentes sem as outras. Uma cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos é um ideal desenvolvido no Ocidente e talvez inatingível. Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento da qualidade da cidadania em cada país e em cada momento histórico [...] (CARVALHO, 2001, p. 8-9). Doutrinariamente os direitos fundamentais foram divididos em gerações ou dimensões (liberdade (1ª dimensão), igualdade (2ª dimensão) e fraternidade (3ª dimensão)), levando-se em conta que seu surgimento se deu de forma gradativa, conforme a demanda de cada época e como já explicado no capítulo anterior. Sendo de caráter elucidativo, os esclarecimentos do Ministro Celso de Melo, em julgamento de um Mandado de Segurança que pleiteava a anulação de ato expropriatório, pela falta de provas no tocante a notificação pessoal do expropriado, como garantia do devido processo legal, demonstrando a força dos direitos fundamentais como um ponto de equilíbrio entre o cidadão e o por Estatal:. [...] enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade. [...] (LAFER apud MELLO, 1995, p. 23). No meio de todo esse processo de politização e organização é que acontece em 1972, a Conferência de Estocolmo, que é o primeiro grande debate mundial sobre o meio ambiente, é um marco para o novo pensamento, no qual se associa a necessidade de desenvolvimento econômico e social, o socioambientalismo, ou seja, as políticas ambientais só surtirão efeitos mediante um trabalho conjunto e integrado da sociedade, no.

(30) 30. qual a sensibilização das comunidades locais é que será o meio mais eficiente de se conservar o ambiente. Não era mais suficiente pensar em um novo modelo de desenvolvimento. Era possível aqui visualizar que o modo de produção exclusivamente exploratório findaria em esgotamento total dos recursos naturais. Em pauta, o homem versus natureza e uma preocupação o futuro das próximas gerações. Os documentos oficiais que instauram as relações entre as diversas nações e destas com o meio ambiente começam a integrar na sua redação a necessária preocupação com o meio circundante.. O homem é ao mesmo tempo criatura e criador do meio ambiente, que lhe dá sustento físico e lhe oferece a oportunidade de desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. A longa e difícil evolução da raça humana no planeta levou-a a um estágio em que, com o rápido progresso da Ciência e da Tecnologia, conquistou o poder de transformar de inúmeras maneiras e em escala sem precedentes o meio ambiente. Natural ou criado pelo homem, é o meio ambiente essencial para o bem-estar e para gozo dos direitos humanos fundamentais, até mesmo o direito à própria vida. (ONU, 1972). Da Convenção de 1972, foram extraídos 23 (vinte e três) princípios com o objetivo de orientar a humanidade no tocante às reais necessidades “para a preservação e melhoria do ambiente humano” (ONU, 1972), pensando nas presentes e futuras gerações, destacando já em seu Princípio 1(um), os direitos fundamentais e as suas três dimensões. O Brasil teve pouca ou quase nenhuma participação, mas os reflexos trouxeram algumas mudanças para o país, como a criação de uma Secretaria de Meio Ambiente. Mas é com a ruptura com o regime militar e processo de instauração da democracia que o socioambientalismo no país começa a ganhar força já na década de 80, principalmente com a edição da Lei nº 6980/81, que implementa a Política Nacional do Meio Ambiente. A lei em questão define em seu artigo 2º o chamado desenvolvimento sustentável: A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. (BRASIL, 1981). Em outras palavras, o homem é parte integrante do ambiente e a sua correta relação com ele é que poderá assegurar que as futuras gerações possam também usufruir de um meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado. No pensamento de Diegues (2001), é a.

(31) 31. partir da estruturação das próprias sociedades segundo suas tradições culturais, seus parâmetros e sua composição étnica específica que se chegará a uma sustentabilidade própria. Fazendo um contraponto entre “Desenvolvimento” e “Sociedade sustentável”, Diegues (2001, p. 52-53), traz um novo conceito: “sociedades sustentáveis” representando a possibilidade das próprias comunidades, localmente, definirem seus padrões de produção e consumo, bem como as questões que envolvam bem-estar a partir de sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu ambiente natural. A ideia mestra de Diegues (2002) é que o isolamento como forma de preservação da cultura não funciona. Ou seja, a proposta preservacionista, emergida de teóricos norteamericanos é o total isolamento da natureza em relação ao homem. São criadas áreas, dessas áreas são retirados inclusive os moradores nativos, ou as chamadas comunidades tradicionais, sob a alegação de que supostamente a natureza funciona sozinha. No entanto, a natureza muda e o modo do homem lidar com ela também. Então entendemos que ela não pode ficar isolada, alheia ao processo de desenvolvimento da sociedade. É preciso que exista harmonização entre a diversidade ecológica e a diversidade cultural. Essa outra vertente seria o conservacionismo, através do qual se descarta a opção do não-uso, substituindo-o pelo uso racional. Em termos mais objetivos, preservar aqui seria sinônimo de estagnar, parar e conservar, seria permitir o uso, mas de forma estratégica, sensibilizados da finitude dos recursos naturais e ainda mais, devemos está ciente que a medida que afetamos o meio ambiente, as próprias vítimas somos nós. Em suma, a prática conservacionista na visão de (DIEGUES, 2002) requer uma mudança de concepção do homem com relação a natureza. O maior problema a ser enfrentado são os paradigmas enraizados na mentalidade do próprio homem e difíceis de quebrar. Adotar a prática preservacionista é como uma autoisenção de responsabilidade com a degradação ambiental. Isola-se uma área que deve ser protegida e inconscientemente se produz a sensação de que do lado de fora não precisa se preocupar tanto assim. Entendemos os parques e reservas como uma versão atual da “Arca de Noé”, no entanto, diferentemente da Arca, o homem fica fora do contexto. O que não queremos dizer aqui, que sejamos contra a criação de espaços protegidos. Corroborando com nosso pensamento, a seguinte afirmação de Diegues (2002, p. 99) “se pode pensar na criação de áreas protegidas como espaços territoriais onde a necessidade de uma relação.

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