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Vivência em centro de referência de assistencia social: relato de experiência

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Academic year: 2021

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DEPARTAMENTO DE CIENCIAS DA VIDA – DCVida

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM SAÚDE MENTAL

CARLA ELOISA LORO

VIVÊNCIA EM CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTENCIA

SOCIAL: RELATO DE EXPERINÊNCIA

ORIENTADORA: MSc SOLANGE MARIA SCHMIDT PIOVESAN

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CARLA ELOISA LORO

VIVÊNCIA EM CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTENCIA

SOCIAL: RELATO DE EXPERINÊNCIA

Trabal ho de Concl usão de Curso apresentado ao Curso de Pós -Graduação do Departa mento de Ci ênci as da Vi da da Uni versi dade Regi onal do Noroeste do Estado do Ri o Grande do Sul - UNIJUI, co mo requi si to parci al para obtenção do títul o de Psi cól oga Especi ali sta em Sa úde Mental .

Orientador: MSc Solange Maria Schimdt Piovesan

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VIVÊNCIA EM CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTENCIA

SOCIAL: RELATO DE EXPERINÊNCIA

Carl a El oi sa Loro1 Sol ange Mari a Schi mdt Pi ovesan 2

RESUMO

A esquizofrenia é uma doença crônica, e aos familiares cabe cuidar ou administrar, (de alguma maneira), o membro da família que sofre. De alguma forma elaboram a experiência, lidam com seu sofrimento e expectativas e podem viabilizar a convivência com a doença, buscando apoio em sua rede de conhecidos, em algum sistema de crenças e em tratamentos alternativos. Busca-se, a partir de vivências na disciplina Vivências Teóricas - Práticas em Saúde Mental, em um Centro de Referência de Assistência Social - CRAS, refletir e discutir, acerca da dinâmica da Esquizofrenia e da atuação da equipe de saúde no cuidado ao paciente que freqüenta o CRAS. A mesma foi realizada durante oito horas diárias, por um período de uma semana. Foi possível compreender os sentimentos e dificuldades vivenciadas por uma adolescente e familiar no enfrentamento da esquizofrenia. As mudanças impostas pelos mesmos, colocam os indivíduos em situação de fragilidade, interfere nas relações interpessoais e provoca alterações na dinâmica familiar. Diante disso, a equipe interdisciplinar qualificada busca garantir uma assistência integral ao usuário e sua família, na busca da reabilitação da saúde. Palavras - chave: Esquizofrenia. Vivências. Centro de Referência de Assistência Social.

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Acadêmica do Curso de pós-graduação do Departamento de Ciências da vida – Dcvida da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí – como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga Especialista em Saúde Mental.

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INTRODUÇÃO

Trabalhar com o tema família e doença mental nasceu no âmago de uma inquietação acadêmica, quando nos deparamos com cidadãos portadores de psicopatologias crônicas, considerados pela sociedade em geral com o estereótipo de “loucos”. Ao conviver com esse contingente populacional, percebemos que estes sujeitos, para além de serem portadores de um transtorno mental grave, eram movidos por sentimentos, por afeto, carentes de inter-relação pessoal, de cuidado, de aproximação, de vínculo e, principalmente, de vida. Esta situação mobilizou-nos, aguçando um forte desejo de saber mais sobre eles e principalmente compreender e identificar as representações construídas por seus familiares a respeito do fenômeno “doença mental”, principalmente diante das transformações paradigmáticas que estão a orientar o campo da saúde mental na atualidade.

Segundo Roudinesco (1998), o termo foi introduzido no ano de 1845, para substituir o termo loucura, foi psicose, que se ocupa de neuroses. O termo psicose designou inicialmente o conjunto das chamadas doenças mentais fossem elas orgânicas (como paralisia geral) ou mais especificamente mentais, restringindo-se depois de três grandes formas modernas da loucura: esquizofrenia, paranóia e psicose maníaco-depressiva.

A esquizofrenia é uma doença crônica, e aos seus familiares cabe cuidar ou administrar a vida desse que sofre. De alguma forma elaboram a experiência, lidam com seu sofrimento e expectativas e podem viabilizar a convivência com a doença, buscando apoio em sua rede de conhecidos, em algum sistema de crenças e em tratamentos alternativos. Para Roudinesco (1998), o termo esquizofrenia foi cunhado em 1911 por Eugen Bleuler, a partir do grego schizein (fender, clivar) e phrenós (pensamento), para designar uma forma de loucura a que Emil Kraepelin dera o nome de “demência precoce”, e cujos sintomas fundamentais são a incoerência do pensamento, da afetividade e da ação, o ensimesmamento e uma atividade delirante. Segundo Kaplan; Sadock; Grebb (2003), após o termo esquizofrenia ter sido cunhado como uma condição que envolve uma “divisão” entre as funções do pensamento, da afetividade e do comportamento, ainda hoje a delimitação da doença como entidade única continua sendo difícil, dada a heterogeneidade de suas formas de apresentação. Não há na esquizofrenia uma característica nuclear

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essencial, como uma mudança de humor no tratamento afetivo, ou um substrato neuropatológico, como as redes neurofibrilares na doença de Alzheimer.

Considerando a trajetória histórica percorrida pela Saúde Mental, notamos que, em vários momentos, os indivíduos de conduta desviantes ou considerados indesejáveis pela comunidade, representam medo, perigo, ameaça e desonra para a família e à sociedade, sendo, por isso, excluídos de seu convívio familiar e isolados em locais próprios para eles, os manicômios. O medo, a raiva, a tristeza, desonra, a ameaça são sentimentos embora não tão aparentes como outrora, devido a novas percepções da doença mental, continuam presentes até os dias atuais. Assim, mesmo diante de um novo paradigma de intervenção sobre patologias mentais, esta ainda continua sendo vista com preconceito e estigma, não só pela comunidade em geral, mas também pela própria família do docente.

Moraski (2005) entende por família como um grupo, capaz de interagir entre si e de compartilhar significados de suas experiências existenciais, constituindo-se no alicerce da sociedade. Cada família traz em si uma história de vida, de valores, de crenças, de conceitos e culturas, perpetuados ao longo de sua trajetória social.

Neste sentido, toda instituição familiar se perpetua a idéia de que sua linhagem genética deve ser saudável, preparada para assumir papéis sociais e o mercado de trabalho. Ao ver que esse papel não condiz com a sua realidade e tendo que assumir a responsabilidade de cuidar de um filho “anormal”, diferente do ideal para que foi criado, no caso, portador de uma doença mental de caráter psicótico, os familiares criam uma série de respostas para negar essa nova fase em suas vidas. Em contrapartida, os sentimentos manifestados e as concepções que permeiam o âmbito familiar em relação à doença mental são revestidos de uma tendência hegemônica, face às múltiplas representações da doença mental, apresentados ao longo do tempo. (Moraski, 2005).

Muitas famílias ainda não conseguiram assimilar a doença mental em seu real sentido que, alicerçado em Townsend (2002, p. 15), significa:

Respostas desajustadas a fatores de estresse do ambiente interno ou externo, evidenciadas por pensamentos, sentimentos e comportamentos que não são congruentes com as normas locais e culturais e interferem no funcionamento social, ocupacional e/ou físico do indivíduo.

A saúde mental é sinônimo de equilíbrio, representada pela capacidade da pessoa adaptar-se ao meio social ao qual está inserido (Bertolo, 2003).

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Perpassando o aspecto social, esse equilíbrio deve abranger os aspectos biológicos, psicológico, político, econômico, cultural, ocupacional e espiritual, enfim, deve haver uma estabilidade entre os fatores internos e externos que poderiam estar contribuindo para a saúde mental da pessoa. Na medida em que houver desequilíbrio em uma ou nas mais diversas áreas que compõe o cotidiano do indivíduo, poderá ocorrer o desencadeamento de transtorno mental, visto e interpretado de formas distintas pelo contexto antropológico bio-cultural (Moraski, 2005)

Segundo a História da Loucura pode ser caracterizada por um conjunto de acontecimentos em constantes transformações, que contextualizam os desafios que a constituem e as superações que já se efetivaram no seu decurso. Entre essas superações merece destaque a Reforma Psiquiátrica, movimento que visa a transformação do paradigma tradicional da psiquiatria e a elaboração de propostas apontando para a desinstitucionalização do doente mental e a inserção da família como coadjuvante no processo terapêutico do sujeito doente mental.

No entanto, muitas famílias não estão preparadas para enfrentar os desafios sociais e a complexidade de demandas impostas pela doença mental. Esses familiares estão inseridos em um contexto social que, ainda, se mostra resistente em aceitar o transtorno psiquiátrico como uma situação que pode fazer parte do processo existencial da humanidade. A sociedade, e aí se inclui a família, por vezes impregnada pelos conceitos clássicos de loucura, ou seja, dos conceitos de incapacidade, de incurabilidade, periculosidade e irreversibilidade da doença, potencializa as limitações da pessoa acometida por um distúrbio desta ordem. (Moraski, 2005)

Em virtude da necessidade de (re) conhecer o doente mental como um cidadão, com direitos e deveres, sem desconhecer as particularidades inerentes à esquizofrenia, nasceu esta inquietação, que se constitui no nosso objeto de estudo: como os familiares de doentes mentais esquizofrênicos concebem a doença mental? Como pressuposto do relato usamos o atributo de que o doente mental esquizofrênico pode ainda hoje ser visto como um “louco” pelos seus familiares, e encarado como objeto de perturbações ditas como incuráveis, responsáveis por perturbações anti-sociais, principalmente quando estes enfrentam a manifestação dos sintomas agudos da doença, com comportamentos seriamente conturbados e condutas estranhas que, por vezes, impressionam e causam temor aos sujeitos

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envolvidos no processo, dependendo da forma de se conceber e enfrentar a situação.

Diante disso, podemos entender melhor o que é esquizofrenia, e como a família e seus familiares conseguem lidar com essa pessoa, que na visão deles, não é o filho desejado e sim o filho “louco”. O relato a seguir apresenta m jovem de dezesseis anos, diagnosticado como esquizofrênico atendido pelo centro de referenciado, trazido pela mãe para ser incluído nos programas do centro de Referencia de Assistência Social no ano de dois mil e onze. O relato tem por objetivo entender melhor a visão da família e da pessoa esquizofrênica, como ela se comporta diante novos desafios, diante a família, amigos e parentes.

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A EXPERIÊNCIA VIVENCIADA

As atividades desenvolvidas na disciplina Vivências Teórico-Práticas em Saúde Mental ocorreram em um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município de Três de Maio, da região noroeste do Rio Grande do Sul.

O CRAS é uma unidade pública estatal descentralizada da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Atua como a principal porta de entrada do Sistema Único de Assistência Social (Suas), dada sua capilaridade nos territórios e é responsável pela organização e oferta de serviços da Proteção Social Básica nas áreas de vulnerabilidade e risco social.

Além de ofertar serviços e ações de proteção básica, o CRAS possui a função de gestão territorial da rede de assistência social básica, promovendo a organização e a articulação das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos processos nele envolvidos. Freud (1921), afirma que é impossível tomar o indivíduo isolado de um contexto social. Por isso, quando averiguarmos profundamente, a psicologia individual é também a psicologia social ou de grupo. Desta forma, para fazer um bom trabalho com os indivíduos temos que começar pela instituição em qual destes fazem parte.

O principal serviço ofertado pelo CRAS é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif), este consiste em um trabalho de caráter continuado que visa fortalecer a função protetiva das famílias, prevenindo a ruptura de vínculos, promovendo o acesso e usufruto de direitos e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

O CRAS, costa com uma equipe de dezesseis pessoas, sendo dividida em: 1 coordenadora), 2 psicólogas, 2 assistentes sociais, 4 monitores, 4 facilitadores, 1 merendeira, 1 recepcionista e 1 auxiliar de serviços gerais. O CRAS possui duas estagiárias, sendo uma da área de psicologia e uma de área de serviço social ambas com 8 horas semanais.

Minha inserção no referido local se deu em um período de quarenta horas semanais, no mês de novembro de dois mil e onze. Inicialmente, me apresentei como pós-graduanda em saúde mental à coordenadora, a qual me acolheu e, em seguida, buscou me familiarizar com os demais integrantes da equipe. Posteriormente, ela convidou-me para acompanhá-la em suas atividades. Minha

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proposta inicial era de realizar observação, mas a partir dessa prática ocorreu interação com os usuários. Ao dialogar com um deles, sobre seus problemas de saúde e seu diagnostico da esquizofrenia, comecei a buscar informações para esclarecer duvidas do usuário e de sua família, o que favoreceu troca de saberes.

O referido CRAS, por se tratar de um centro de referência, proporciona atendimentos individuais com psicólogos e/ou assistentes sociais e estes profissionais podem realizar grupos operativos, em que são tratados assuntos pertinentes à eles, dando um auxilio psicológico para eles. Acontecem, também, atividades recreativas como gincanas, passeios, teatro, dança, capoeira, taekwondo, aulas de informática, oficinas com matérias recicláveis, oficinas profissionalizantes. Os usuários são selecionados para participar das atividades a partir de critérios de inclusão e exclusão, bem delimitados, para freqüentar o projeto a família, devem estar cadastradas no programa Bolsa Família, a criança/adolescente deve estar estudando, ser maior de seis anos e menor de dezoito anos. Caso não atenda ou deixe de atender um desses requisitos a família é excluída do projeto.

As famílias, ao chegarem ao CRAS, são recepcionadas por um integrante da equipe e precisam apresentar o cartão do Programa Bolsa Família, juntamente com o cartão da Assistência Social para o Psicólogo ou Assistente Social. Realizam uma breve entrevista e preenchem um formulário do filho(a) que será inserido no projeto.

Em uma entrevista de inserção de um adolescente no projeto da instituição, conheci um adolescente diagnosticado com transtorno de esquizofrenia. O mesmo foi inserido junto com outros adolescentes que já freqüentavam a instituição. Em conversas realizadas com a mãe do adolescente, acabei me aprofundando mais em sua vida. A mãe apresentava um caso profundo de depressão, o pai não era presente na vida do filho.

Para melhor entendimento do caso, vou chamar o adolescente de Marcos, e sua mãe vou chamar de Maria, nomes fictícios para preservar seus nomes. Marcos segundo relato de sua mãe sempre foi uma criança difícil de lidar, desde pequeno apresentava sinais de que era diferente das outras crianças, não brincava com outras crianças, não falava muito, se isolava. Aos três anos sofreu uma convulsão o que levou seus pais a irem procurar um medico e, após uma investigação mais detalhada mais detalhada, foi diagnosticado com esquizofrenia. A mãe, porém não soube especificar com qual idade Marcos recebeu este diagnostico.

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Marcos mora com seus pais (que vou chamar de) Maria e Pedro e sua irmã de nove anos Sandra. Marcos está com dezesseis anos, freqüenta a APAE desde pequeno e atualmente o CRAS, nunca freqüentou uma escola de ensino regular.

Maria conta que Marcos já foi internado várias vezes no Hospital Psiquiátrico São Pedro, para uma série de baterias, para verificar a medicação, pois de tempos em tempos é necessária a troca dos mesmos. A mesma relata que durante a viajem de deslocamento até o hospital Marcos não vai ao banheiro e só consome alimentos feitos por ela, e bebe somente água de sua casa, dizendo que a água dos outros lugares é “suja”.

Marcos está inserido no CRAS, no Projeto PROJOVEM, por causa de sua idade (dezesseis anos), freqüenta a instituição no período da manhã, no período da tarde, freqüenta a APAE da cidade.

Marcos se apresenta como um menino de certa forma agressivo, sempre me dizendo para “não absorve-lo”, sempre que questiono do porque nãos ser absorvido ele responde com a mesma afirmação “não me absorva”. Marcos me conta que adora assistir o canal do boi, me faz varias perguntas sobre rações, remédios e animais, respondo que não sei, mas que gostaria de conhecer mais sobre o assunto e ele confirma que irá me contar tudo sobre esses animais que ele tanto gosta.

Segundo ASSIS et al (2007), a pessoa com esquizofrenia experimenta a realidade de forma diferente e tal vivência invariavelmente causa muitos conflitos nos relacionamentos. Antes do surgimento dos sintomas da esquizofrenia acontece um período que chamamos de pródromos. Nele, gradativamente a pessoa vai mudando sua maneira de perceber o mundo a sua volta e o relacionamento com os outros. As pessoas, as cores das coisas e os lugares, assim como os sons que escuta são sentidos com uma intensidade maior.

Maria conta que desde a última internação Marcos possui uma tabela com horários pré-determinados, de suas atividades, e que ao não cumpri-las o mesmo acaba sofrendo uma penalidade, como por exemplo ficar sem assistir o canal do boi. Ele possui hora, para acordar, tomar banho, tomar o café da manhã, ir para o CRAS, almoçar, escovar os dentes, ir para a escola, brincar, tomar banho, assistir televisão, jantar e ir para cama.

Marcos me conta que possui vários animais de estimação, mas que sua mãe não o deixa levar para dentro de casa, para dormir com ele. Conta que adora suas galinhas, que se pudesse passaria horas com as mesmas dentro do galinheiro.

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Conta que adora dar beijo na “boca”, no caso no bico, das mesmas. Conta-me que quase as engole para poder beijá-las, adora abraçar e tratá-las como suas namoradas. Não gosta que sua mãe arrume ou limpe seu quarto, gosta de deixar tudo como ele arrumou, pois ele monta seus animais de brinquedo no chão de seu quarto e sua mãe não os coloca no mesmo lugar. Ele tem uma fazendinha de brinquedo, onde adora brincar com os bois, vacas e galinhas. Conta que adora o café que sua avó materna faz, porém não gosta de seu avô materno.

Segundo Kaplan; Sadock; Grebb (2003), as alucinações estão presentes cerca de oitenta por cento dos casos. As experiências alucinatórias refletem o período de desenvolvimento da criança, e seu conteúdo está ligado a brinquedos, animais e monstros.

Toda manhã sai de sua casa e vai até a casa de sua avó, as gritos, segundo ele, pedindo café para sua avó. Ao chegar lá se seu avô não está lá retorna para sua casa sem tomar café, mas se seu avô está, faz questão de tomar café, pois assim poderá brigar com o mesmo. Maria conta que já tentou por várias vezes fazer o café como sua mãe faz, porém Marcos afirma que não é o mesmo café, mesmo que sua avó venha até sua casa, para ele não é o mesmo café.

Segundo ASSIS et al (2007) as pessoas com esquizofrenia, em geral, são mais isoladas, em parte por fatores da própria doença, mas também pelas dificuldades que a doença traz para as vivencias cotidianas.

Marcos não gosta de brincar muito com outras crianças, apenas com uma menina, fica muito bravo quando vê que a mesma, está brincando com outras crianças, acaba brigando com todos os que estão ao seu redor, acaba atirando pedras em todos, o que faz com que entre em surto, sendo contido pelo seu pai, porém muitas vezes é necessário a Brigada Militar, para realizar a contenção do Marcos.

Segundo Assis et al (2007) as pessoas que têm predisposição para a doença (esquizofrenia) têm maior vulnerabilidade ao estresse e às decepções ante a vida, e quando elas acontecem são os elementos que disparam o processo que desencadeia os sintomas da esquizofrenia. Gradativamente a pessoa vai mudando sua maneira de perceber o mundo a as volta e o relacionamento com os outros. O outro caminho que a esquizofrenia impõe à pessoa tem seu inicio marcado por grandes dificuldades, tanto em seu mundo interior como no relacionamento com as pessoas.

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Segundo Moreno (2000), a família é receptáculo da vida e também a célula básica da sociedade. Portanto, sofre os danos causados pela doença mental, principalmente por esta ser uma patologia com manifestações na esfera social.

Segundo Assis et al (2007) as vivências dos delírios e das alucinações normalmente são solitárias, difíceis de ser compartilhadas, além de serem assustadoras. As pessoas só conseguem perceber que a pessoa com esquizofrenia não está bem pela forma como ela se comunica e reage ao que lhe é dito. A desorganização do pensamento gera muitas incompreensões e conflitos nos relacionamentos, pois o comportamento da pessoa com esquizofrenia não corresponde ao que as pessoas estão habituadas.

Os familiares não conseguem entender que a pessoa está vivendo uma experiência muito intensa e sofrida, esperam que ela aja de uma maneira que corresponda aos hábitos cotidianos, porém isso acaba gerando grande angústia na pessoa com esquizofrenia. Apesar de parecer para as pessoas que ele não está sentindo nada, na realidade, sua percepção está muito aguçada e pode perceber os detalhes das atitudes dos outros. Ele percebe quando as pessoas são irônicas, o evitam, ou esperam dele atitudes que ele não consegue corresponder. O embotamento afetivo faz parte das vivências muito sofridas para as pessoas que têm esquizofrenia, e não conseguir expressar esse sofrimento leva a um isolamento ainda maior.

Para Assis et al (2007) é difícil para quem convive com a pessoa que tem esquizofrenia entender o que se passa no mundo interior de seu familiar e, também, é difícil se dar conta de que as mudanças que acontecem são resultados de uma doença. A esquizofrenia não é uma doença que se resolve naturalmente apenas tomando os remédios, como acontece, por exemplo, com uma infecção. Na esquizofrenia a recuperação se dá em um caminho de construção interior tanto da pessoa como dos familiares. Essa construção é um aprendizado que se adquire no convívio e nos relacionamentos.

Para um psicólogo, o acompanhamento e a orientação dos familiares é de fundamental importância, pois assim o psicólogo poderá auxiliar nas dificuldades enfrentadas dia-a-dia pelo paciente e seus familiares.

Segundo Vygotsky (2008), o esclarecimento aos familiares permite uma melhor compreensão das informações e experiências vividas pelo paciente, o que faz com que o convívio entre eles seja o melhorado a cada dia. Sem que seja

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exigido dele metas inatingíveis, de modo a diminuir possíveis situações de estresse desencadeadoras de recidivas.

A família do esquizofrênico é parte importante nessa caminhada, pois a grande parte dos pacientes vive com seus familiares, dependendo, pelo menos em parte, do suporte emocional e financeiro desses.

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CONSIDERAÇOES FINAIS

A inserção no local possibilitou-me a compreensão de um caso de esquizofrenia, aliada a reflexão com base em autores consultados. Assim, posso afirmar que esse campo de prática proporcionou-me ampliar conhecimentos indispensáveis à minha atuação profissional, adequada às exigências atuais.

As pessoas da comunidade que apenas olham para as ações da pessoa com esquizofrenia quando em crise, rotulam a pessoa de louca. Ao mesmo tempo em que essa pessoa causa estranheza, também gera medo. Assim na comunidade as pessoas se afastam da pessoa com esquizofrenia, o que contribui para seu isolamento.

Nessa perspectiva, considera-se que os serviços em saúde mental são complexos e com demanda crescente, o que requer dos profissionais de saúde qualificação nessa área para estarem aptos a uma assistência personalizada e integral aos pacientes com esquizofrenia.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS et al; Coversando sobre a esquizofrenia. São Paulo: Segmento Farma; 2007.

BERTOLLO, E. Convivência de Familiares com Doentes Mentais Psicóticos, gressos de Hospitais Psiquiátricos. Ijuí: UNIJUI, 2003, 98p. Monografia (Graduação em Enfermagem), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu (1921). Rio de Janeiro, 1996.

KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 7 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003. MORASKI, Tarciana Raquel. As percepções de doença mental na ótica de familiares de pessoas psicóticas. Ijuí: UNIJUI, 2005. Artigo (Pós – graduação em Enfermagem), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 1998.

ROLIN, M. A.; IDE, C. A; COLVERO, L. de A.; C. Família e Doença Mental: a difícil convivência com a diferença. Revista da Escola de Enfermagem da USP. v.38, p. 197- 205, fev.2002.

SARACENO, B. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio. In: PITTA, A. Reabilitação Psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996.

SONENREICH C. A família e o espaço psicológico. In: D’Inàcio MA, organizador.

Doença mental e sociedade uma discussão interdisciplinar. 8ª ed. Rio de Janeiro: Graal; 1992. p.265-277.

TOWNSEND, M. C. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

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VILLARES CC, Redko CP, Mari JJ. Concepção de doença por familiares de pacientes com diagnóstico de esquizofrenia. Revista Brasileira de Psiquiatria, Rio de Janeiro 1999 21(1): 36-46.

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