• Nenhum resultado encontrado

O impacto de novas tecnologias no desenvolvimento regional: o caso da agricultura de precisão na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O impacto de novas tecnologias no desenvolvimento regional: o caso da agricultura de precisão na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul"

Copied!
102
0
0

Texto

(1)

UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação Departamento de Estudos Agrários

Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

EMERSON JULIANO LUCCA

O IMPACTO DE NOVAS TECNOLOGIAS NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: O CASO DA AGRICULTURA DE PRECISÃO NA REGIÃO NOROESTE DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Ijuí

(2)

EMERSON JULIANO LUCCA

O IMPACTO DE NOVAS TECNOLOGIAS NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: O CASO DA AGRICULTURA DE PRECISÃO NA REGIÃO NOROESTE DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento - Linha de Pesquisa: Desenvolvimento Local Sustentável, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, – UNIJUÍ, como requisito parcial a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientador: Prof. Dr. ARGEMIRO LUÍS BRUM

Ijuí

(3)

L934i Lucca, Emerson Juliano.

O impacto de novas tecnologias no desenvolvimento regional : o caso da agricultura de precisão na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul / Emerson Juliano Lucca. – Ijuí, 2012. – 90 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí).

Desenvolvimento.

“Orientador: Argemiro Luís Brum”.

1. Agricultura de precisão. 2. Produtor rural. 3. Gestão agrícola. 4. Desenvolvimento. I. Brum, Argemiro Luís. II. Título. III. Título: O caso da agricultura de precisão na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

CDU: 631 631.3

Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879

(4)

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

O OIIMMPPAACCTTOODDEENNOOVVAASSTTEECCNNOOLLOOGGIIAASSNNOODDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO R REEGGIIOONNAALL::OOCCAASSOODDAAAAGGRRIICCUULLTTUURRAADDEEPPRREECCIISSÃÃOONNAARREEGGIIÃÃOO N NOORROOEESSTTEEDDOOEESSTTAADDOODDOORRIIOOGGRRAANNDDEEDDOOSSUULL elaborada por

EMERSON JULIANO LUCCA

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Argemiro Luis Brum (UNIJUÍ): _________________________________________

Prof. Dr. Antônio Luis Santi (UFSM): ____________________________________________

Profa. Dra. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes (UNIJUÍ): _____________________________

(5)

Dedico esta conquista como gratidão aos meus pais, irmãos e a minha noiva Joice, que com seu carinho, compreensão, companheirismo e estímulo, sempre me fortaleceu durante esta importante etapa da minha vida.

(6)

AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço a DEUS, pela graça da coragem, do ânimo, da proteção e lucidez para superar os obstáculos na realização deste trabalho, iluminando toda a trajetória percorrida até chegar aqui.

Agradeço também à minha família, pelo amor, confiança, apoio, incentivo e credibilidade.

A minha noiva Joice, que foi peça chave para que eu não desistisse, sempre me incentivando, demonstrando todo seu carinho e amor.

Aos amigos de todas as horas, pelo apoio moral.

Aos meus colegas do Mestrado, que se tornaram amigos nesses anos de estudos. À Unijuí, pelo espaço disponibilizado a realização dos estudos desta pesquisa e também pelo comprometimento desta instituição com o desenvolvimento regional.

Ao orientador, Prof. Dr. Argemiro Luís Brum, que acompanhou a trajetória de elaboração deste trabalho, pela amizade e compreensão e pelas considerações relevantes à construção do conhecimento.

A todos os professores do Mestrado em Desenvolvimento, que sempre estiveram à disposição para esclarecer dúvidas e preocupações que apareceram no decorrer das aulas e na elaboração da dissertação.

Aos professores: Drª. Sandra e Dr. Antônio Santi que se disponibilizaram a avaliar este trabalho, cujo tema “agricultura de precisão” surgiu durante especialização Lato Sensu, na qual o Dr. Santi pode me instruir e incentivar à pesquisa.

As empresas, Cotrijuí e Agroplan, que contribuíram com a pesquisa de campo deste trabalho, bem como aos produtores rurais que disponibilizaram seu tempo à entrevista, enriquecendo os dados aqui apresentados.

(7)

RESUMO

As atuais inserções tecnológicas estão proporcionando uma nova forma de enxergar a propriedade agrícola, fazendo com que os produtores busquem informações mais precisas na hora de fazer o plantio. A agricultura de precisão (AP) surgiu, no cenário do setor primário gaúcho, como um sistema de gerenciamento da produção agrícola baseado na variação espacial de propriedades do solo e da planta, visando à otimização do lucro, sustentabilidade e, em especial, à proteção do meio ambiente. No entanto, esse conjunto de técnicas que permite o gerenciamento localizado de culturas ainda encontra grande limitação devido ao elevado custo da aquisição dos equipamentos e implantação do sistema. Na tentativa de elucidar e dar ênfase aos reflexos da utilização desta tecnologia verificou-se o nível de aplicabilidade da AP na Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (RS) e os impactos para o desenvolvimento regional. Metodologicamente, após uma vasta revisão bibliográfica, partiu-se a campo para entrevistar agricultores locais envolvidos diretamente com as técnicas na lavoura e, ainda, analisar dados da prestação de serviços de empresas especializadas no setor, como a Cotrijuí e a Agroplan, atuantes na região estudada. Determinou-se, mesmo que de forma não exaustiva, os efeitos do uso desta tecnologia na agricultura local, mais em específico nos municípios de Augusto Pestana, Catuípe, Coronel Barros, Ijuí, Jóia e Santo Augusto. Como resultado, verificou-se que houve uma expansão das áreas avaliadas com a tecnologia da AP, pelas empresas, nos anos de 2009 a 2011. Em concordância, a análise das entrevistas demonstrou um percentual crescente de agricultores que estão fazendo uso das técnicas de AP na região estudada, influenciados positivamente pelos benefícios que esta tecnologia pode gerar, tanto para a economia pessoal quanto local, demostrando que a AP pode ser um instrumento viável de desenvolvimento a nível econômico e ambiental. No entanto, considera-se que a adoção plena da AP ainda é um paradigma a ser rompido, muito parecido com a história inicial do sistema “plantio direto” que levou anos para se estabelecer como o principal sistema de manejo do solo no Brasil. O motivo preponderante é a forte ligação do modelo da AP à necessidade de conhecimento aplicado e adaptação de técnicas especializadas às situações de campo. Este fator confere um nível elevado de complexidade, a partir da necessidade da implantação de modernas tecnologias, o que faz dela, não apenas um conjunto de ferramentas, mas sim, uma nova forma de gerenciamento da propriedade, havendo a necessidade de grandes investimentos, aumentando os custos do processo de aplicabilidade. Mas, pode-se considerar que a AP tem influenciado positivamente no desenvolvimento regional, pois à medida que esta tecnologia de gestão evolui, as técnicas se adaptam a realidade e a marcha de inserção dos agricultores vai aumentando naturalmente. Assim, concluiu-se que a modernização do agronegócio traz inovações importantes para a agricultura da região, impulsionando o uso de novas tecnologias. Todavia, para uma ideia mais concreta da viabilidade da AP torna-se, no contexto do presente trabalho, necessário desenvolver estudos sobre os ganhos econômicos obtidos com a nova tecnologia, em comparação ao método tradicional, quantificando os resultados em termos de produção, produtividade e geração de renda nas propriedades rurais.

Palavras-chave: Agricultura de Precisão; Produtor Rural; Gestão Agrícola; Desenvolvimento;

(8)

ABSTRAT

The current technology insertions are providing a new way to see the farm, causing producers to seek more accurate information when making planting. Precision agriculture (AP) came in the backdrop of the primary sector gaucho as a management system of agricultural production based on the spatial variation of soil properties and plant, aiming to optimize profit, and sustainability, in particular, protection environment. However, this set of techniques that allows the management of localized cultures still find great limitation due to the high cost of acquisition of equipment and system deployment. In an attempt to clarify and emphasize the consequences of using this technology it was found the level of applicability of AP in the northwestern region of Rio Grande do Sul (RS) and the impacts on regional development. Methodologically, after an extensive literature review, broke into the field to interview local farmers directly involved in farming techniques, and also analyze data from the services of specialized companies in the industry, and as COTRIJUI Agroplan, operating in the region studied . It was determined, even though is not limited to, the effects of using this technology in local agriculture, more specifically in the municipalities of Augusto Pestana, Catuípe, Colonel Barros, Ijuí, Jewelry and Saint Augustus. As a result, it was found that there was an expansion of the areas evaluated with AP technology by companies in the years 2009 to 2011. Accordingly, the analysis of the interviews demonstrated an increasing percentage of farmers who are making use of the techniques of AP in the region studied, positively influenced by the benefits that this technology can generate, for both the economy and local people, demonstrating that the AP can be a viable tool for development in the economic and environmental level. However, it is considered that the full adoption of the AP is still a paradigm to be broken, much like the early history of "tillage" that took years to establish itself as the main system of soil management in Brazil. The predominant reason is the strong binding of AP model to the need for applied knowledge and adaptation of specialized techniques to field situations. This factor gives a high level of complexity, from the need to implement modern technologies, making it not only a set of tools, but rather a new way of managing the property, thus requiring large investments, increasing process costs of applicability. But, we can consider that the AP has positively impacted on regional development, because as the technology management evolves, the techniques are adapted to reality and motion insertion of farmers will increase naturally. Thus, it was concluded that the modernization of agribusiness brings important innovations for agriculture in the region, boosting the use of new technologies. However, for a more concrete idea of the feasibility of AP becomes, in the context of this work, necessary to develop studies on the economic gains obtained with the new technology, compared to the traditional method, quantifying the results in terms of production, productivity and income generation in rural properties.

Keywords: Precision Agriculture, Rural Production, Agricultural Management, Development;

(9)

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Ciclo completo da Agricultura de Precisão. ... 45

Figura 02: Etapas da Agricultura de Precisão. ... 46

Figura 03: Representação clássica do ciclo de Agricultura de Precisão. ... 47

Figura 04: Vista dos mapas de produtividade sobrepostos e dos locais das avaliações nas áreas de Não-Me-Toque (A e C) e de Palmeira das Missões (B e D). ... 51

Figura 05: Mapa de Fertilidade de Fósforo. ... 52

Figura 06: Exemplo de Mapa de Aplicação de Fósforo. ... 53

Figura 07: Conjuntura atual da Agricultura de Precisão. ... 55

Figura 08: Evolução da prestação de serviços em AP, por ano, em relação à média de hectares por propriedade atendida pelas empresas prestadoras de serviço. ... 66

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Evolução da prestação de serviços das empresas Cotrijuí e Agroplan, em relação

ao número de municípios, propriedades e áreas analisadas através da AP, no RS, de 2009 a 2011. ... 65

Tabela 02: Prestação de Serviços de AP pelas empresas Cotrijuí e Agroplan, em municípios

da região Noroeste do RS ... 65

Tabela 03: Resultado da Primeira Fase da Entrevista – Caracterização da amostra de pesquisa

... 978

Tabela 04: Resultado da Segunda Fase da Entrevista – Aplicação da AP na propriedade ... 99

Tabela 05: Resultado da Terceira Fase da Entrevista – Identificação do impacto da AP na

(11)

LISTA DE ANEXOS

ANEXO 01 - Roteiro para entrevista com agricultores que utilizam a Agricultura de Precisão

... 97

ANEXO 02 - Tabela 03: Resultado da Primeira Fase da Entrevista – Caracterização da

amostra de pesquisa ... 978

ANEXO 03 - Tabela 04: Resultado da Segunda Fase da Entrevista – Aplicação da AP na

propriedade ... 99

ANEXO 04 - Tabela 05: Resultado da Terceira Fase da Entrevista – Identificação do impacto

(12)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AF – Agricultura Familiar; AP – Agricultura de Precisão;

CAPTA – Coordenação de Acompanhamento e Promoção da Tecnologia Agropecuária; DF – Distrito Federal;

DGPS – Sistema de Posicionamento Global com correção diferencial;

DPTA - Departamento de Propriedade Intelectual e Tecnologia da Agropecuária; EA – Educação Ambiental;

EUA – Estados Unidos da América;

FAO – Organização das nações Unidas para Agricultura e Alimentação;

GIS – Geografical Information System ou Sistema de Informações Geográficas; GPS – Global Position System ou Sistema de Posicionamento Global;

Ha – Hectares;

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; MT – Mato Grosso;

OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico; ONGS – Organizações Não Governamentais;

PARC – Programa de Agricultura de Resultados Cotrijuí; PR – Paraná;

RS – Rio Grande do Sul; RTK – Real Time Kinematic; SC – Santa Catarina;

UFSM – Universidade Federal de Santa Maria;

(13)

SUMÁRIO

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AGRICULTURA ... 18

1.1 Formação da sociedade agrária brasileira ... 18

1.1.1 A agricultura familiar e a modernização da agricultura ... 21

1.1.2 A agricultura brasileira no início do século XXI ... 24

1.2 O desenvolvimento social e a questão ambiental ... 27

1.2.1 Inovações tecnológicas e impactos ambientais ... 28

1.2.2 Educação Ambiental ... 31

1.2.2.1 A educação ambiental nas propriedades rurais ... 32

1.2.3 Perspectivas ambientais ... 34

2 A AGRICULTURA DE PRECISÃO ... 36

2.1 Histórico ... 36

2.2 Conceitos e características ... 38

2.3 Objetivos e vantagens ... 41

2.4 Ciclo da Agricultura de Precisão ... 44

2.4.1 Sistema de Posicionamento Global (GPS) ... 48

2.4.2 Sensores da Agricultura de Precisão ... 48

2.4.3 Mapeamento em Agricultura de Precisão ... 49

2.4.3.1 Mapas de produtividade ... 50

2.4.3.2 Mapas de fertilidade ... 52

2.4.3.3 Mapas de aplicação localizada de insumos ... 53

2.4.4 Aplicação à taxa variável ... 54

2.5 Perspectivas e desafios ... 56

2.5.1 Fatores restritivos a adoção da Agricultura de Precisão ... 56

2.5.2 Perspectivas para a Agricultura de Precisão ... 58

3 AGRICULTURA DE PRECISÃO NO RS E NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO: PESQUISA DE CAMPO ... 61

(14)

3.1.1 Visita a empresas prestadoras de serviços: COTRIJUÍ e AGROPLAN ... 62

3.1.2 Entrevista com produtores rurais dos municípios de Augusto Pestana, Catuípe, Coronel Barros, Ijuí, Jóia e Santo Augusto. ... 63

3.2 Descrição dos resultados obtidos ... 64

3.2.1 Agricultura de Precisão no RS e na região Noroeste de 2009 a 2011 ... 64

3.2.2 Resultados das entrevistas com produtores rurais dos municípios de Augusto Pestana, Catuípe, Coronel Barros, Ijuí, Jóia e Santo Augusto. ... 66

3.3 Análise e interpretação dos resultados obtidos ... 67

3.3.1 Evolução da aplicabilidade da Agricultura de Precisão no RS e na região Noroeste ... 67

3.3.2 Análise dos resultados das entrevistas com produtores rurais dos municípios de Augusto Pestana, Catuípe, Coronel Barros, Ijuí, Jóia e Santo Augusto. ... 68

3.3.2.1 Fase 01: Caracterização da amostra de pesquisa ... 69

3.3.2.2 Fase 02: Aplicabilidade da Agricultura de Precisão na agricultura ... 69

3.3.2.3 Fase 03: Identificação do impacto da Agricultura de Precisão na propriedade... 71

4 ANÁLISE DO IMPACTO DAS TECNOLOGIAS E FERRAMENTAS DE AGRICULTURA DE PRECISÃO NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ... 73

4.1 Inovações tecnológicas e o desenvolvimento econômico ... 76

4.2 Agricultura de Precisão e os impactos no desenvolvimento regional ... 77

4.3 Agricultura de Precisão como ferramenta de gestão agrícola ... 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 88

(15)

INTRODUÇÃO

O atual cenário mundial caracteriza-se pela globalização dos mercados, pela crescente aceleração tecnológica e pela democratização da informação e do conhecimento, obrigando o setor agrícola nacional a utilizar novos conceitos, métodos e técnicas, a fim de atender as necessidades dos produtores e possibilitar maior competitividade no mercado mundial. Com o aumento da adoção da tecnologia ocorre a necessidade do aumento da eficiência de todos os setores da economia globalizada. As inserções de tecnologias estão proporcionando uma nova forma de enxergar a propriedade agrícola, assim demonstrando que os produtores devem buscar informações mais precisas na hora de fazer o plantio. Atualmente, disponibiliza-se de uma ferramenta para o desempenho e o melhoramento da produção agrícola: a agricultura de precisão (AP).

A AP é uma nova tecnologia, porém com uma longa história. Os agricultores, desde há muito tempo, têm procurado maximizar a produção física e o retorno econômico, variando a aplicação de insumos de acordo com os tipos de solo e o desempenho das culturas. Os fundamentos da AP, segundo a literatura, surgiram em 1929, nos Estados Unidos (EUA), mas o ressurgimento e disseminação da técnica, na forma em que é conhecida hoje, ocorreram somente a partir da década de 80, quando microcomputadores, sensores e sistemas de rastreamento terrestres ou via satélite foram disponibilizados e possibilitaram a difusão dos conceitos. A técnica destaca-se principalmente nos EUA, mas muitos relatos têm sido divulgados sobre o seu desenvolvimento, tanto em pesquisa como na aplicação prática, em países como Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil e Inglaterra (AMADO; SANTI, 2007).

O termo AP engloba o uso de tecnologias atuais para o manejo de solo, insumos e culturas, de modo adequado às variações espaciais e temporais em fatores que afetam a produtividade das mesmas. Além de útil, esta definição engloba a ideia de compromisso no uso da terra, relativamente às gerações futuras. As formas de manejo em uma AP fazem com que ocorram mudanças, preservando as reservas naturais e ao mesmo tempo diminuindo os danos causados ao meio ambiente.

(16)

Em nível de comparação, percebe-se que atualmente, a agricultura moderna está relacionada ao plantio de extensas áreas, num sistema de monocultura, e um dos principais problemas que reflete diretamente na produtividade agrícola é a distribuição inadequada de calcário, sementes, adubo, herbicidas, inseticidas, entre outros produtos aplicados na área a ser cultivada, fato este que acarreta zonas de baixa produção de grãos e cereais. Além disso, observam-se danos ao meio ambiente, mais especificadamente no solo, uma vez que a distribuição demasiada de fertilizantes acaba gerando danos à natureza, no longo prazo.

Portanto, com o surgimento da AP possibilita-se que uma propriedade consiga tratar e, ao mesmo tempo, controlar detalhadamente sua lavoura, conforme a necessidade. Essa mudança na forma de fazer agricultura está tornando o produtor um empresário rural, capaz de gerenciar, cada vez mais, a linha de produção de sua propriedade agrícola. Com a implantação das técnicas de AP em uma lavoura, pode-se obter a reversão do quadro atual, uma vez que, a partir desta tecnologia a aplicação de insumos agrícolas é efetuada conforme a necessidade de cada área, ocorrendo assim a devida correção e melhoramento do local.

Segundo Amado; Santi (2007), o objetivo central da AP é realizar as intervenções de manejo de acordo com as necessidades específicas de cada subárea da lavoura e, assim, racionalizar o uso de insumos, minimizando excessos que, além de antieconômicos, aumentam o risco de contaminações ambientais. Por outro lado, as áreas com deficiência de nutrientes são corrigidas, evitando limitações de rendimentos. Dessa forma, pode-se dizer que a AP é um conjunto de tecnologias que objetiva o aumento da eficiência dos recursos, com base no manejo localizado das áreas agrícolas, proporcionando incrementos de rendimento, racionalização do uso de insumos, proteção ambiental, além de proporcionar o incentivo da atividade agrícola.

No entanto, sabe-se que a adoção das técnicas de AP ainda encontra uma grande limitação devido ao elevado custo da aquisição dos equipamentos e implantação do sistema, nem sempre garantindo o retorno esperado. Dentre as consequências deste elevado custo está a restrição do uso desta tecnologia em pequenas propriedades, por exemplo, as de agricultura familiar (AF), uma vez que esta tarefa compreende um conjunto de fatores que envolvem máquinas e equipamentos específicos, programas computacionais e pessoal especializado para possibilitar um gerenciamento agrícola compatível com o nível empresarial requerido pela AP (KNOB, 2006; AMADO; SANTI, 2007).

Neste sentido, avalia-se que a AP surgiu no cenário do setor primário gaúcho como um instrumento de inovação tecnológica capaz de melhorar a produtividade e a rentabilidade dos produtores rurais que a utilizam. Todavia, com o passar do tempo, percebe-se que a

(17)

mesma ainda não é a panaceia para o desenvolvimento do meio rural. Há muitas lacunas, especialmente no que tange a sua eficácia econômica, dependendo do tamanho da propriedade que a utiliza, que ainda não foram preenchidas. Assim, o presente trabalho buscou verificar em que dimensão a nova tecnologia agrícola, conhecida como AP, pode ser um instrumento viável de desenvolvimento regional.

Inicialmente identificou-se que no cenário atual da AP há o envolvimento de diferentes segmentos de ação com o mesmo grau de importância: de um lado os pesquisadores e empresas que desenvolvem soluções para a aplicabilidade da técnica e, de outro lado, os usuários e implementadores dessas soluções, ou seja, os agricultores, diretamente ligados à produção. A partir disso, diferentes opiniões são formadas sobre a AP e a sua viabilidade prática. Assim, o problema que nos levou a realizar este trabalho foi o nível de aplicabilidade da AP em determinados municípios da Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (RS), na tentativa de elucidar e dar ênfase aos reflexos, para o desenvolvimento regional, da utilização desta tecnologia.

Para isso, duas hipóteses foram construídas em torno do tema. A primeira estabelece que o percentual de agricultores que utilizavam as técnicas de AP é baixo, visto que a nova tecnologia não está sendo assimilada pelos agricultores locais e não tem sido adotada como se esperava, pois o seu nível de complexidade para a sua implementação é muito elevado, exigindo mão-de-obra especializada, fato que eleva o seu custo e obriga os produtores a grandes investimentos, que nem sempre se rentabilizam.

Na segunda hipótese, o percentual de agricultores que fazem uso das técnicas de AP está crescendo na Região Noroeste do Estado do RS, em função dos reais benefícios econômicos que esta tecnologia gera para a economia local, resolvendo os problemas de uniformidade na produção em grande escala, permitindo maior renda com menos custos e, portanto, maior desenvolvimento.

Para testar e comprovar as hipóteses estabelecidas, além da análise de diversos estudos semelhantes já publicados, foi-se a campo fazer um levantamento entre os agricultores locais e determinar qual é o nível da utilização desta tecnologia entre propriedades agrícolas da Região Noroeste do RS. Para isto, foram realizadas entrevistas e uma busca de dados reais entre os agricultores da Região Noroeste, os quais permitiram determinar, mesmo que de forma não exaustiva, os efeitos do uso desta tecnologia na agricultura local, mais em específico nos municípios de Augusto Pestana, Catuípe, Coronel Barros, Ijuí, Jóia e Santo Augusto, os quais foram analisados na pesquisa de campo.

(18)

Cabe ressaltar que o objetivo geral do trabalho foi verificar, junto aos agentes econômicos da Região Noroeste do RS, quais seriam os principais reflexos que o uso da AP pode gerar, para o desenvolvimento das propriedades rurais e, consequentemente, da região estudada. Adiciona-se a esse objetivo a busca por conceituar o termo AP de maneira precisa, ou seja, além das definições teóricas, buscou-se analisar a técnica na prática das propriedades agrícolas, construindo dados quantitativos e verificando os impactos gerados na economia local.

Para tanto, além das entrevistas com os profissionais envolvidos diretamente com as técnicas na lavoura, buscou-se dados da aplicabilidade da AP no RS, através da análise da prestação de serviços de duas empresas especializadas no setor, que atuam na Região Noroeste do Estado. Assim, avaliou-se a evolução dos serviços prestados, entre os anos de 2009 a 2011, em relação ao número de propriedades atendidas e a área em hectares analisadas com AP, nos municípios de Augusto Pestana, Catuípe, Coronel Barros, Ijuí, Jóia e Santo Augusto, que fizeram parte do estudo de campo.

Enfim, para analisar mais de perto a AP como uma ferramenta de gestão do empresário rural que pode, então, influir no seu desenvolvimento econômico e, por consequência, no desenvolvimento regional, organizou-se o presente trabalho em quatro capítulos. O primeiro capítulo faz uma retomada histórica na evolução da agricultura, descrita desde a formação da sociedade agrária brasileira até a modernização do agronegócio, que além de envolver modernas tecnologias, necessariamente contempla a preocupação ambiental social e no meio rural.

O segundo capítulo mergulha na realidade da AP, explorando a opinião dos mais diversos autores na formação de um conceito atualizado para as novas tecnologias do campo. Transparentemente são apresentadas suas vantagens e desvantagens, a fim de descrever os desafios e perspectivas que perfazem os rumos da AP na atual realidade brasileira.

Para analisar o cenário estadual, e mais precisamente da Região Noroeste, o terceiro capítulo contempla a análise prática do trabalho que buscou, em diferentes esferas econômicas do setor, dados atualizados da realidade agrícola e da evolução da AP, possibilitando assim, um estudo de campo com o intuito de comtemplar o âmbito principal do trabalho: investigar o impacto de novas tecnologias, como a AP, no desenvolvimento regional. Por fim, para salientar as contribuições e a relevância do tema em estudo, o capítulo quatro encerra com a análise das implicações tecnológicas e da AP no desenvolvimento econômico, ao se posicionar como uma ferramenta de gestão agrícola para inovação permanente no campo.

(19)

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AGRICULTURA

O termo “agricultura” é definido, segundo o Dicionário Aurélio, como a arte de cultivar os campos, a terra e lavouras, ou ainda como um conjunto de operações que transformam o solo natural para produção de vegetais úteis ao homem. No próprio nome agricultura já vem incluído o termo “cultura”, que significa modo de cultivar, referindo-se a ação, efeito, arte ou maneira de cultivar a terra ou certas plantas, podendo ser considerado um termo mais abrangente, que se refere a padrões e valores materiais e espirituais que são transmitidos coletivamente, de maneira contínua e ininterrupta (FERREIRA, 1986).

Através destas simples definições inicia-se a discussão sobre a evolução da agricultura, o processo de formação, desenvolvimento e perspectivas de uma das atividades humanas mais antigas da história. Neste primeiro capítulo, relembrar-se-á, de forma sintética, a formação da sociedade agrária brasileira, pois para compreender o atual cenário da agricultura moderna é necessário conhecer como se deu sua evolução, com destaque para sua importância no desenvolvimento econômico e tecnológico.

1.1 Formação da sociedade agrária brasileira

É difícil precisar o início das atividades agrícolas como fonte de subsistência. Segundo registros históricos, a partir do momento que as populações deixaram de ser nômades e começaram a se estabelecer em aldeias, surge também à necessidade de cultivar alimentos, a partir de uma agricultura extremamente rudimentar. No Brasil, a colonização por Portugal ocorre num período de degradação do regime feudal e da ascensão do capitalismo na Europa. Cria-se, então, na colônia, uma condição de transição, ou seja, um pré-capitalismo, pois ao mesmo tempo em que se mantinham estruturas de produção próximas ao sistema feudal, estava-se sujeito às leis do mercado para a comercialização de excedentes (BRUM; HECK, 2008).

Assim, a formação da sociedade agrária brasileira e a estrutura fundiária do país estão intimamente ligadas ao processo de ocupação do território brasileiro, a prática da agricultura e à função que o Brasil desempenhou no cenário mundial. A conquista e a ocupação territorial, dirigidas oficialmente pelo governo português, processaram-se sob a influência dos interesses do capitalismo mercantil. Assim, a situação de dependência configurou uma economia voltada à produção de gêneros alimentícios e matérias-primas para o exterior e importadora de produtos industrializados (BRUM; TRENNEPOHL, 2004).

(20)

A primeira forma de distribuição da terra no território que viria a ser Brasil, iniciada em 1534, foi o sistema de Capitanias Hereditárias1. Em seguida, a política de colonização determinou a aplicação do sistema de sesmarias2 nas distribuições de terras aos colonos do Brasil, cujos principais interesses da Coroa eram a ocupação efetiva do território, a demarcação de fronteiras e as produções passíveis de serem taxadas para aumentar a arrecadação real (BRUM; TRENNEPOHL, 2004).

Estas foram às circunstâncias que determinaram o tipo de exploração agrária adotado no Brasil. Baseado na grande propriedade quer no ciclo do açúcar, quer nos demais ciclos econômicos, deram origem ao latifúndio. Brum e Trennepohl (2004) completam explicando que a atividade agropecuária, embora uma atividade acessória voltada para consumo interno, como, por exemplo, na zona pastoril do RS, também se instituiu a grande propriedade rural, com base na distribuição das sesmarias. Dessa forma, pode-se dizer que a grande propriedade foi à base quase exclusiva da ocupação do território e da economia brasileira ao longo dos primeiros quatro séculos, acompanhada da monocultura e pelo trabalho escravo.

A formação da sociedade agrária, então, foi basicamente condicionada pelo açúcar e corroborada pelos outros ciclos econômicos rurais. O que caracterizava o complexo rural era a sua insipiente divisão do trabalho. As fazendas, para produzir determinado produto, tinham que produzir todos os bens intermediários e os meios de produção necessários e, ainda, assegurar a reprodução da própria força de trabalho. Ou seja, a dinâmica do complexo rural era muito simples, baseada no mercado externo (SILVA, 1998).

No século XIX a sociedade começou a transformar-se a partir da substituição do engenho tradicional pelas modernas usinas de açúcar, mais complexas, onde se introduziam relações sociais de caráter capitalista entre proprietários e trabalhadores. Tais características reproduziam-se, na essência, nos demais ciclos econômicos vinculados a produção agrícola, com destaque para o café, tendo em vista sua importância na economia do país (BRUM; TRENNEPOHL, 2004), já que nesta época, o café era o principal produto de exportação.

O passo fundamental que desencadeou a crise do complexo rural foi à transição para o trabalho livre, a partir da suspensão efetiva do tráfico negreiro, depois de 1850, ano em que

1

O sistema de Capitanias Hereditárias consistia na concessão real de largos domínios, proventos e privilégios particulares, incluindo atributos de soberania, com o direito de fundar povoações, nomear funcionários, cobrar impostos e administrar justiça. No Brasil, a abrangência era a faixa litorânea desde Pernambuco até o Rio da Prata (BRUM; TRENNEPOHL, 2004).

2

A palavra sesmaria, usada para designar uma área de terras cultiváveis, provém da Lei de sesmaria, de Portugal, datada em 1935, do reinado de D. Fernando, tendo sido reproduzida em legislações posteriores. No Brasil, sesmaria designa sempre uma área de terra de avantajada extensão (BRUM; TRENNEPOHL, 2004).

(21)

foi promulgada a primeira Lei de Terras3 do Império do Brasil (SILVA, 1998). Diante da perspectiva de liberar o trabalhador, aprisionou-se a terra. Assim, esta lei impediu o acesso à propriedade de terra aos pobres, como índios, negros, mestiços e brancos, e fortaleceu o latifúndio no Brasil, pois os que haviam recebido sesmarias regularizavam suas posses e transformaram-nas em propriedade privada (BRUM; HECK, 2008).

A partir daí, historicamente relata-se a importância da economia de subsistência, ou seja, atividades acessórias destinadas ao consumo interno e a garantir o funcionamento da economia de exportação que, até então, caracterizavam os ciclos econômicos brasileiros. Os principais produtos desta pequena agricultura de subsistência eram a mandioca, o milho, o arroz e o feijão, além da variedade de frutas comestíveis existentes na terra e as variedades introduzidas pelos colonizadores, como a banana e a laranja. Como reforço alimentar, o produto da caça e da pesca complementava a criação de aves e animais domésticos, em pequena escala (BRUM; TRENNEPOHL, 2004).

Após a independência, os imigrantes receberam um tratamento específico em relação ao acesso a terra. Pelo regime do colonato, cada família recebia parte da lavoura para cuidar em arrendamento e era-lhe permitido o cultivo de alguns hectares. O colono, que era um trabalhador temporário (na época da colheita), produzia parte de sua própria subsistência na roça familiar e, ao mesmo tempo, gerava excedentes de produtos alimentícios comercializáveis na própria região. Segundo Silva (1998), nesta fase a economia brasileira passou por um profundo processo de reajustamento, onde se aprofundava a divisão social do trabalho, com a separação do campo-cidade e agricultura-indústria.

A agricultura familiar (AF) caracterizava-se, basicamente, pela utilização intensiva de recursos naturais, fertilidade natural do solo e mão-de-obra direta, em que a produção se destinava para a alimentação da família e o excedente era comercializado. Foi então que se estruturou uma ampla classe média rural, pois emergiu, através do trabalho árduo de todos os membros da família, uma diversidade de atividades, como o comércio, o artesanato e a pequena e média indústria, para o atendimento das necessidades da população, cada vez mais numerosa, com os núcleos urbanos em formação (BRUM; TRENNEPOHL, 2004).

Quando nasce a agricultura moderna, durante os séculos XVIII e XIX, um intenso processo de mudanças tecnológicas, sociais e econômicas, que hoje chamamos de Revolução Agrícola, tem um papel preponderante no advento do capitalismo mundial. O processo de

3

A Lei de Terras, nº 601 de 18 de setembro de 1850, foi promulgada no Império do Brasil como uma tentativa de Consolidação do Estado Nacional, uma vez que estabelecia normas de posse da terra entre os proprietários e o governo (BRUM; HECK, 2008, p. 65).

(22)

modernização da agricultura brasileira ocorreu em sintonia, já em meados do século XX, através da Revolução Verde4, que tinha como objetivo contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola no mundo (BRUM; TRENNEPOHL, 2004; BRUM; HECK, 2008), à medida que impôs um novo ritmo à agricultura, principalmente pela evolução tecnológica à qual as técnicas agrícolas foram expostas (MOURA; TYBUSCH; TAVARES, 2002).

O agricultor tradicional viu-se forçado pelas circunstâncias a acompanhar a modernização, pois, de acordo com Brum; Trennepohl (2004) com as terras esgotadas, descapitalização, produção em declínio, explorado nos preços e sem apoio fiscal, não lhe permitiam outra possibilidade se não o crédito fácil e juros favorecidos, como novas alternativas de produção, que se apresentaram como um aspecto decisivo para abrir perspectivas, principalmente para a AF.

1.1.1 A agricultura familiar e a modernização da agricultura

Desde então, a AF é o maior segmento em número de estabelecimentos agrícolas, cuja significativa importância econômica, reflete no mundo todo. Muitas vezes tem sido designada e caracterizada como “pequena propriedade”, desempenhando um papel importante ao garantir a subsistência da família, distribuir renda e gerar postos de trabalho, garantindo assim, o sustento de milhões de brasileiros. Isso porque, basicamente, a produção familiar se caracteriza pela pequena propriedade, pelo trabalho familiar e pelo uso de baixa tecnologia que, apesar da diversificação agrícola, é massiva na ocupação da mão-de-obra (BRUM; TRENNEPOHL, 2004).

Mas, pode-se afirmar que desde a sua existência até os dias atuais a AF passou por profundas transformações, as quais modificaram completamente a sua realidade. Trata-se do fenômeno da modernização, que compreende mudanças nos métodos técnicos de produção, utilização de máquinas sofisticadas, insumos modernos e o processo de rotações de culturas, ou seja, diversos padrões introduzidos na agricultura, nos últimos anos, que provocaram alterações profundas na atividade produtiva (SILVA, 1998).

4

Ocorrida no período entre 1945 a 1970, é considerada o processo catalisador da modernização da agricultura, que consistia em uma série de técnicas utilizadas para incrementar a escassa produção mundial de alimentos, que preocupava os governos e especialistas logo após o término da Segunda Guerra Mundial. A Revolução Verde visava uma explosão na produção de alimentos que, segundo seus precursores, solucionaria o problema da desnutrição presente na maioria dos países (MOURA; TYBUSCH; TAVARES, 2002).

(23)

A mecanização agrícola no Brasil ocorreu logo após a Primeira Guerra Mundial, quando houve um desajuste temporário da disponibilidade de mão-de-obra rural e o conseqüente aumento dos salários (BRUM, 1988). No período de 1939-40, com o início da Segunda Guerra Mundial e as dificuldades de importação de tratores e outras máquinas, o desenvolvimento da mecanização foi seriamente prejudicado. Com o fim da guerra, verificou-se a necessidade de impulsionar a produção do campo, verificou-seja com aumento de produtividade, seja com a expansão das áreas através do uso de insumos modernos: sementes selecionadas, fertilizantes, defensivos e, principalmente, maquinários (MOURA; TYBUSCH; TAVARES, 2002).

Dessa forma, a partir de 1949, houve um grande desenvolvimento da mecanização no Brasil, devido ao aumento nas importações de tratores. Entretanto, segundo Moura; Tybusch; Tavares (2002) faltava pessoal devidamente treinado para a utilização dessas máquinas. Devido à variedade de marcas, modelos e procedências que nem sempre eram as mais adequadas para as condições apresentadas pela topografia das diferentes regiões do país, surge então à necessidade de desenvolver novos equipamentos. Devido a isso, a indústria nacional de máquinas agrícolas passou a oferecer uma ampla linha de produtos, atendendo desde as operações realizadas com tração animal até aquelas que exigem tratores equipados com o que há de mais avançado.

Então, com o processo de modernização da agricultura ocorreu a mercantilização da produção modificando completamente a realidade. As novas tecnologias foram pouco a pouco tomando o lugar da mão-de-obra humana e das técnicas rudimentares utilizadas, como por exemplo, os instrumentos de trabalho simples e de fabricação caseira ou local que foram substituídos por máquinas complexas, sofisticadas e de alto valor (BRUM, 2002).

A modernização fez com que a mecanização crescesse muito rápido, fazendo, por exemplo, com que a fase áurea da cultura da soja se consagrasse, surgindo grandes oportunidades de crédito e generosos subsídios para o cultivo e a compra de maquinários. Esses subsídios levaram a um excesso de mecanização, ou seja, de capacidade ociosa, gerando um excesso de investimento em bens e capital, como tratores e colheitadeiras, influenciando, portanto, na elevação dos custos de produção (BRUM, 1988).

Para os defensores da teoria da modernização, as técnicas agrícolas que não estavam baseadas no uso de equipamentos e insumos de origem industrial pertenciam a uma agricultura designada genericamente tradicional. Por outro lado, as técnicas que incorporam o uso de insumos e equipamentos de origem industrial formavam uma agricultura moderna,

(24)

tomada de inovações e técnicas inovadoras (LIMA et al., 1995), acentuando a “industrialização do campo”.

Então, a AF compreende grande diversidade cultural, social e econômica, podendo variar desde o campesinato tradicional até a pequena produção modernizada. Os agricultores, colonos, camponeses, entre tantas outras definições, fazem com que grande parte da AF esteja vinculada ao número de empregados ou também pelo tamanho da propriedade (BASSO, 1993).

Para ter uma noção, o Ministério da Agricultura Brasileiro, para encaminhar o Programa Nacional de Fortalecimento da AF (PRONAF)5, considerou como agricultores familiares aqueles que têm até dois empregados e área inferior a quatro módulos, sendo que o tamanho do módulo varia de região para região. Na região de Ijuí (RS), por exemplo, a área de um módulo rural é de 20 hectares (BRUM; TRENNEPOHL, 2004).

Neste contexto, o importante é compreender que a produção na AF se destina, basicamente, para a alimentação da família, sendo que apenas o excedente se destina à comercialização. Ou seja, as principais características dos agricultores familiares são a independência de insumos externos à propriedade e a produção agrícola estar condicionada as necessidades do grupo familiar. Na condição familiar, o nível de autossuficiência da unidade produtiva é considerado alto, pois para que a viabilização econômica do agricultor familiar se concretize é necessário que sua agricultura de subsistência em condições desfavoráveis de ambiente alcance níveis comercializáveis e condições favoráveis para a venda (EHLERS, 1996).

Então, para a produção familiar se considerar viável economicamente ela deve conseguir produzir com ganhos obtidos em sua produtividade. Dessa forma, a diversificação da produção é uma alternativa onde o agricultor tem a possibilidade de aumentar a renda da propriedade, atingindo assim, a otimização das áreas cultivadas. Muitas vezes o número reduzido de membros na família facilita a participação de todos na condução do processo, logo na operacionalização e no gerenciamento das atividades (PARANHOS, 2004).

A família agrícola trabalha de forma aberta diferenciando-se do funcionamento de uma empresa capitalista. Por mais mercantilizada que seja a produção familiar não tem como pressupostos a taxa média de lucro e o pagamento da renda fundiária. Isso faz com que o

5

Programa do Governo Federal criado em 1995, com o intuito de atender de forma diferenciada pequenos produtores rurais que desenvolvem suas atividades mediante emprego direto de sua força de trabalho e de sua família. Tem como objetivo o fortalecimento das atividades desenvolvidas pelo produtor familiar, de forma a integrá-lo à cadeia de agronegócios, proporcionando-lhe aumento de renda e agregando valor ao produto e à propriedade, mediante a modernização do sistema produtivo, valorização e a profissionalização dos produtores familiares. Disponível em: <http://portal.mda.gov.br/portal/saf/programas/pronaf>.

(25)

núcleo de produção, o consumo e o seu vinculo à terra não possua uma característica eminentemente mercantil (LACERDA, 1985). Para o produtor a lógica não é obter o lucro, mas sim conseguir manter a produção não gerando somente despesas. O que move o produtor familiar é a reprodução da sua unidade de produção como forma de garantia de sua sobrevivência enquanto unidade familiar (BASSO, 1993).

Segundo Brose (1999), para a AF se fortalecer seria necessário que políticas públicas correspondentes possibilitem aos agricultores familiares inserirem-se ativamente nos espaços econômicos dos quais estiveram historicamente excluídos. Hoje a agricultura é um dos mais importantes instrumentos de geração de emprego e renda. Além disso, políticas já inseridas no mercado minimizam a exclusão dos que se encontram em situações mais problemáticas.

Neste sentido, pode-se dizer que a produção familiar é muito significativa, seja em termos de unidades produtivas ou em temos de participação na produção agrícola da grande maioria das nações capitalistas desenvolvidas ou subdesenvolvidas. Verifica-se que não só a produção familiar é viável economicamente, como é uma forma superior de organização da produção na agricultura em relação às unidades tipicamente capitalistas (BASSO, 1993), principalmente, à medida que a produção familiar tornou-se um elo fundamental da modernização, na qual a agricultura contribuiu para a alavancagem da economia gaúcha e brasileira.

1.1.2 A agricultura brasileira no início do século XXI

Neste contexto globalizado, tanto a economia brasileira como a AF passaram por dificuldades, caracterizadas por um aperto financeiro e de crédito e necessidade de reestruturação para a competitividade internacional. Isso porque, nas duas últimas décadas do século XX ocorreram amplas e profundas mudanças no mundo, como a crise do petróleo na década de 1970 e a crise da dívida externa dos países emergentes e subdesenvolvidos na década de 1980. No contexto brasileiro, a crise do setor rural teve início no começo da década de 1980 e aprofundou-se na década de 1990 (BRUM; TRENNEPOHL, 2004).

A crise econômica, financeira, cambial global do país pesou fortemente sobre a agricultura e foi marcada pelo endividamento dos produtores rurais. Segundo Paranhos (2004), os agricultores que se encontrassem totalmente individualizados, sem nenhum nível de cooperação, tinham a tendência de se tornarem inviáveis com o passar do tempo, dados os limites e desafios que se colocam no presente e no futuro da AF. Mas, com a força da cooperação, os agricultores familiares poderiam ter acesso a uma assistência técnica

(26)

qualificada, permitindo que agricultores e técnicos passassem a desenvolver novos formatos tecnológicos para a agricultura, de forma participativa, garantindo produtividade, sustentabilidade e equidade (PARANHOS, 2004).

Assim, a busca por estratégias de cooperação em nível de produção poderia permitir o melhor uso da mão-de-obra dentro da sazonalidade agrícola e com isso aumentar a produtividade e eficiência do trabalho. Portanto, para a AF se tornar viável deveria aperfeiçoar o sistema de produção, valorizando a mão-de-obra, observando os custos dos insumos e a dependência em relação a estes, bem como o grau de autonomia, sem esquecer a preservação dos recursos naturais (PARANHOS, 2004).

Mas, não foi o bastante. A maioria das cooperativas agropecuárias também entrou em profunda crise financeira, agravando ainda mais a crise dos produtores rurais associados a da agricultura em geral. A partir daí, para enfrentar o problema o governo criou vários programas de revitalização e políticas agrícolas, a fim de recuperar a agricultura, os produtores e suas cooperativas, além de possibilitar modernização para que os produtores rurais fossem mais eficientes e produtivos (BRUM; TRENNEPOHL, 2004), impulsionando o processo de modernização da agricultura introduzido no século XX.

Isso porque, desde o princípio tem-se a clareza de que a agricultura é uma atividade muito importante, pois é na terra que se tem o início do processo de produção de riquezas. No entanto, este processo exige uma atenção especial já que está sujeito às condições do clima, bem como pode sofrer o impacto de doenças e pragas e da flutuação de preços. Para Xavier (2001) a produção agrícola tem o mérito de ser o principal agente do desenvolvimento comercial, pois o incentivo a agricultura leva consideravelmente o desenvolvimento de outros setores econômicos, como o trabalho nas pequenas e médias cidades do interior do Brasil. Dessa forma, para que ocorra o desenvolvimento rural é necessário construir novas práticas e comportamentos (XAVIER, 2001).

Atualmente o agronegócio, também chamado de complexo industrial ou agribusiness6, é visto, em um contexto moderno de produção e geração de renda, como o novo conceito da agricultura. De acordo com Brum; Heck (2008) o termo começou a ser anunciado pelos pesquisadores John Davis e Ray Golberg, em 1957 e atualmente está cada vez mais presente nos estudos de economia agrícola. Basicamente, o agronegócio compreende um conjunto diversificado de atividades econômicas interligadas, que formam uma rede de

(27)

inter-relações entre si e criam uma interdependência entre os produtores rurais, empresários industriais e comerciantes, ou seja:

Considerando todo o chamado complexo agroindustrial, o agribusiness ou agronegócio, é a agricultura propriamente dita, mais as atividades e ela relacionadas: a montante, ou antes da porteira de unidade de produção - a indústria de máquinas, implementos, equipamentos, fertilizantes, inseticidas, herbicidas, fungicidas e outros insumos, e, a jusante, ou depois da porteira - a armazenagem, a indústria de transformação e beneficiamento, comercialização, etc. [...] (BRUM; TRENNEPOHL, 2004, p. 50).

A constituição dos complexos agroindustriais, segundo Silva (1998), é um processo histórico de passagem da economia brasileira, em substituição ao “complexo rural” para uma dinâmica de integração técnica intersetorial, entre as indústrias que produzem para a agricultura, a agricultura propriamente dita e as agroindústrias processadoras, integração esta que só se torna possível a partir da internalização da produção de máquinas e insumos para a agricultura. Assim, o ponto fundamental que qualifica a existência de um complexo é o elevado grau das relações interindustriais dos ramos ou setores que o compõem (SILVA, 1998).

Hoje, o complexo industrial ou agronegócio é o setor mais dinâmico da economia brasileira, uma vez que os segmentos a montante e a jusante foram adquirindo crescente importância à medida que a agricultura se modernizava. Inclusive, Brum; Trennepohl (2004) afirmam que este setor pode crescer ainda mais, uma vez que seu desempenho tem forte dependência das condições climáticas, da política de crédito e dos preços dos produtos agrícolas. Além disso, apontam as principais dificuldades e obstáculos à expansão do agronegócio: falta de definição e clareza sobre aspectos de produção, entre eles transgenia e preservação ambiental; precariedade de logística, particularmente aos transportes e comunicação; falta de qualificação e profissionalização dos produtores rurais e fortalecimento de suas organizações, tais como cooperativas e sindicatos, além do atraso histórico e inadequação da reforma agrária que a tempos vem se implantando no país.

Por fim, pode-se dizer que a constituição dos complexos agroindustriais e a industrialização da agricultura passam a ser os novos determinantes da dinâmica da agricultura (SILVA, 1998). Atualmente há uma nova dinâmica porque há um novo “padrão” agrícola, cuja estrutura produtiva e cujas articulações e integração com a economia global se transformam rapidamente, exigindo, inclusive, modernas técnicas de gestão na agricultura brasileira moderna, assunto a ser discutido mais adiante.

(28)

Apesar disso, a modernização gerou também aspectos negativos no campo, por exemplo: êxodo rural, degradação do meio ambiente, dependência do setor agrícola ao setor industrial, desgaste do solo, inadequação tecnológica de pequenos agricultores e concentração da propriedade. A agropecuária brasileira, apesar das enormes potencialidades do país e avanços conquistados, ainda apresenta grandes problemas e desafios históricos, dentre eles o problema ambiental.

1.2 O desenvolvimento social e a questão ambiental

O processo de colonização e desenvolvimento das regiões está fundamentalmente associado às relações do homem colonizador com os recursos naturais. A compreensão destas relações parte da necessidade de sobrevivência humana, sendo posteriormente intensificadas e intermediadas pelas dimensões histórico-culturais, perpassadas por um processo mediado pelos interesses de acumulação capitalista, conforme discutido até então.

No Brasil, a vinda dos imigrantes europeus a partir da Revolução Industrial, é um fenômeno cuja expansão possuía claros objetivos político, econômicos e até mesmo estratégicos, expressos pelos interesses das companhias colonizadoras em buscar a valorização das terras adquiridas que estavam desocupadas, e, portanto passíveis de serem colonizadas. Neste período, de acordo com Marchesan (2003), o acesso a terra para os imigrantes era considerado importantíssimo, pois ali poderiam trabalhar e a partir dela extrair o seu sustento, além de garantia de torná-la um patrimônio de constituição e reprodução da unidade familiar.

Diante da nova realidade, a produção, que antes era predominante e voltada para sua subsistência, começa a ser incorporada para atender as exigências do mercado. Este, por sua vez, lança-se com toda sua voracidade sobre os agricultores, exigindo que produzam em escala cada vez maior e de forma mais sistemática. A partir daí, os produtores começam a serem obrigados a implementar técnicas de exploração intensiva dos recursos naturais, aumentando a capacidade produtiva de suas unidades de produção. Esse aumento ocorreu devido ao crescimento progressivo do número de estabelecimentos agrícolas que foram ganhando espaço, proporcionando ganhos e qualidade de vida (MARCHESAN, 2003).

Desde então, quando o interesse do homem deixou de ser a simples sobrevivência e passou a ter interesses comerciais e de lucratividade, através da produção de excedentes, o meio ambiente passou por profundas modificações. Marchesan (2003) descreve que já naquela época havia a percepção e a preocupação em relação ao uso e exploração da terra. Ou

(29)

seja, tinha-se conhecimento de que não bastava apenas explorar intensivamente os solos, mas a eles devolver a fertilidade pela prática de uma modalidade agrícola racional, pois havia a consciência de que as reservas de fertilidade agrícola não eram ilimitadas. Na forma original, a terra tinha que ser renovada para que pudesse ser explorada novamente, ou seja, a tecnologia de exploração da natureza e, por consequência da terra, era uma relação prática e não científica. Assim, os produtores exploravam um determinado pedaço de terra e, ao deixar a terra “descansar”, para depois repetir o mesmo ciclo, exploravam novas áreas, aumentando a degradação da natureza, até o esgotamento das terras, que justificava a necessidade de migrar para novas fronteiras agrícolas.

Agregado a este processo encontra-se a evolução tecnológica, que não só permite devastar uma maior área em um menor período de tempo, através da modernização das máquinas e ferramentas agrícolas, mas possibilita um avanço nos produtos químicos e fertilizantes, que permitem até hoje, uma maior rentabilidade na mesma área a ser cultivada, ano após ano. Assim, sem mais terras a serem exploradas, a modernização passou a ser notada através da implantação de novas tecnologias na hora do plantio e aumento do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, cada vez mais agressivos ao meio ambiente.

1.2.1 Inovações tecnológicas e impactos ambientais

Os ambientes naturais encontravam-se em estado de equilíbrio dinâmico até o momento em que as sociedades humanas passaram, progressivamente, a interferir cada vez mais intensamente na exploração dos recursos naturais. Essa exploração ambiental está diretamente ligada ao avanço do complexo desenvolvimento tecnológico, científico econômico que, muitas vezes, tem alterado de modo irreversível o cenário do planeta, levando a processos degenerativos profundos da natureza (RAMPAZZO, 2001).

Segundo Souza (2000) a relação entre o crescimento econômico e o meio ambiente apresenta conflito desde tempos remotos, no entanto, basicamente durante o século XX, estes conflitos atingiram dimensões que podem por em risco a sustentabilidade da vida na terra. Isso porque as razões para o processo endêmico da degradação ambiental ao sistema econômico são muitas, dentre elas a intensificação da industrialização, exploração demográfica, produção e consumo em massa, urbanização e a modernização agrícola.

A evolução das ciências e da tecnologia, por exemplo, que desencadeou o desenvolvimento industrial, gerou também o crescimento das cidades e com isso, o aumento da utilização dos recursos naturais e a produção de resíduos. A tecnologia, considerada como

(30)

uma forma de descobrimento, “obrigou” o homem a explorar a natureza de forma que quanto mais ele explorava mais ela lhe oferecia. Isso fez com que o desenvolvimento da industrialização crescesse rápido tirando o homem do campo e mudando seus meios de sobrevivência. A partir daí, as cidades começaram a se desenvolver tornando a exploração de recursos naturais mais aceleradas, mudando o relacionamento do homem como o meio ambiente. Em consequência disso, as florestas começaram a dar lugar aos campos de pastagens e ao cultivo de grãos, oferecendo com fartura os alimentos, porém, em contrapartida, houve a degradação do meio, causando prejuízos aos recursos naturais como um todo (VICTORINO, 2000).

Os surgimentos de máquinas poderosas e sofisticadas trouxeram a modernização e a industrialização para os homens. Essa evolução fez com que as máquinas utilizadas para o trabalho no campo viessem a se tornar cada vez mais perigosas, no sentido se serem altamente destrutivas, provocando grandes estragos na natureza. A exploração da riqueza pelos homens na terra afeta diretamente o meio ambiente, provocando muitas vezes impactos negativos irreversíveis ou de difícil recuperação. Cunha; Guerra (2003) explicam que os riscos se expandem em várias dimensões da vida, obrigando-nos a rever a forma como agimos sobre a natureza e sobre as relações sociais, a fim de proporcionar mudanças de atitudes, hábitos e principalmente das formas de produção.

As relações conflitivas entre o processo de crescimento econômico e o meio ambiente manifestam-se, basicamente, por meio da degradação de recursos naturais, sejam eles renováveis, tais como: o desmatamento, a destruição da terra, caracterizada pela perda de fertilidade do solo, e a degradação dos recursos hídricos e pesqueiros; ou não renováveis, como por exemplo, os minérios, cuja importância está na utilização como insumo nos processos produtivos, uma vez que compõe a maioria dos materiais duráveis e da energia que movimenta indústrias e meios de transporte (SOUZA, 2000).

Além disso, verifica-se a geração de poluição na água, no solo, no ar e nos produtos a serem consumidos, a produção de situações de risco de desastres ambientais, uma vez que há a contaminação dos lençóis freáticos, a diminuição das áreas florestais e a multiplicação dos desertos, além de profundas alterações no clima em função da degradação da camada de ozônio (RAMPAZZO, 2001).

O desenvolvimento econômico e o poder adquirido pelo crescimento fazem com que a destruição dos recursos naturais e do patrimônio cheguem a níveis preocupantes. A industrialização maciça e tardia, no Brasil, incorporou padrões tecnológicos avançados para a

(31)

base nacional, mas ultrapassados no que se refere ao meio ambiente, com escassos elementos tecnológicos de tratamento, reciclagem e reprocessamento (VICTORINO, 2000).

Segundo Rampazzo (2001) vive-se uma crise ecológica, com esgotamento progressivo da base de recursos naturais; ambiental, em função da redução da capacidade de recuperação dos ecossistemas e também, político-institucional, uma vez que a crise é ligada aos sistemas de poder para a posse, distribuição e uso dos recursos da sociedade. Portanto, em função de todos os problemas ambientais decorrentes das práticas econômicas predatórias, que certamente trazem implicações para a sociedade a médio e longo prazo, torna-se urgente o planejamento para repensar a organização econômica da sociedade, bem como o uso qualitativo e quantitativo que ela faz dos recursos naturais e a consequência da ação dos agentes econômicos.

O primeiro passo foi dado, quando, após a Segunda Guerra Mundial, a humanidade percebeu que os recursos naturais são finitos e que seu uso incorreto poderia representar o fim da própria existência. Iniciava-se, um dos mais importantes movimentos sociais, a chamada “Revolução Ambiental”, promovendo importantes transformações no comportamento da sociedade e na organização política e econômica (CUNHA; GUERRA, 2003).

Com o surgimento da consciência ambiental, a ciência e a tecnologia passaram a ser questionadas. Desde então, muitas campanhas e projetos de recuperação ambiental são lançadas frequentemente, promovidas, por exemplo, por empresas ou Organizações Não Governamentais (ONGs), atreladas a movimentos ambientalistas e a ideias de autogestão, tendo como principal função pressionar o Estado e a iniciativa privada. Na mesma linha de raciocínio, Cunha; Guerra (2003) destacam o Greenpeace, que é a maior organização ambiental do mundo e, provavelmente, a principal responsável pela popularização de questões ambientais.

Mesmo assim, percebe-se que a degradação ambiental aumenta significativamente e o problema é amenizado lentamente. Ressalta-se que apesar de existirem essas ONGs, que questionem a continuidade de atividades altamente predatórias, tais como a mineração, o desmatamento e a exploração da madeira, a poluição e a devastação nas plantações e agropecuária extensiva, bem como a geração demasiada de resíduos e o seu não tratamento, nada impede que tais situações façam parte de uma realidade preocupante em todo território nacional. Talvez isso ocorra porque a preservação do ambiente é uma questão de consciência, que depende de todas as pessoas e, que por sua vez, depende também da ação de toda sociedade.

(32)

Apesar de acreditar que as transformações que ocorrem na sociedade são consequência da transformação de cada indivíduo, desde então, há uma tendência em culpar as práticas dos produtores rurais pelas degradações, e, por isso, o discurso volta-se contra eles, quem sabe visando um maior potencial de danos ao meio ambiente por trabalharem diretamente com os recursos naturais. Enfatiza-se, neste momento, a importância de um processo de gestão, determinando controle e limites que devem ser respeitados, tanto para a correta utilização dos recursos como para o descarte dos resíduos, a fim de se ter uma boa relação homem/natureza.

1.2.2 Educação Ambiental

De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental (EA), conforme a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, em seu artigo primeiro, entende-se por EA os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sustentabilidade. Completa-se conceituando a EA como um processo que visa formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente bem como, com os problemas que lhe dizem respeito; uma população que tenha conhecimento, competência, motivação e engajamento, que possa trabalhar de maneira individual e coletiva a fim de resolver os problemas atuais e, ao mesmo tempo, impedir que se repitam. Ou seja, a EA não é somente a aquisição de conhecimento, mas também a mudança de comportamento, a determinação para a ação e a busca de soluções para os problemas ambientais (VICTORINO, 2000).

Entende-se por questão ambiental os principais problemas relacionados com o meio ambiente, o qual se caracteriza por um conjunto de fatores físicos, químicos e biológicos necessários a sobrevivência de cada espécie, inclusive o homem. Tais problemas são elencados em suas tendências atuais e futuras, destacando-se os principais agentes causadores. Dessa forma, a EA está ligada diretamente as regras de cidadania, pois trata das questões que envolvem o homem com seu ambiente de trabalho, familiar e social (SOUZA, 2000).

Por isso, a EA é um componente essencial e permanente da educação nacional e deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. E, como parte de um processo educativo mais amplo, todos tem direito à EA, mas também incumbências, a fim de promover a conservação, a recuperação e a melhoria do meio ambiente, a começar pelo poder público, às instituições educativas, os meios de comunicação de massa, às empresas e instituições privadas e a sociedade como um

Referências

Documentos relacionados

O 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) é um estágio profissionalizante (EP) que inclui os estágios parcelares de Medicina Interna, Cirurgia Geral,

Bento Pereira apresenta uma lista de autores e obras em língua portuguesa, de vários pendores: religioso, enciclopédico, dicionarístico, e literário.A escolha destas obras

É importante esclarecer que, com a divulgação dos resultados do desempenho educacional do estado do Rio de Janeiro em 2010, referente ao ano de 2009, no IDEB, no qual

O Processo Seletivo Interno (PSI) mostra-se como uma das várias ações e medidas que vêm sendo implementadas pela atual gestão da Secretaria de Estado.. Importante

O fortalecimento da escola pública requer a criação de uma cultura de participação para todos os seus segmentos, e a melhoria das condições efetivas para

Ressalta-se que mesmo que haja uma padronização (determinada por lei) e unidades com estrutura física ideal (física, material e humana), com base nos resultados da

Neste capítulo foram descritas: a composição e a abrangência da Rede Estadual de Ensino do Estado do Rio de Janeiro; o Programa Estadual de Educação e em especial as

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento