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4 ANÁLISE DO IMPACTO DAS TECNOLOGIAS E FERRAMENTAS DE

4.2 Agricultura de Precisão e os impactos no desenvolvimento regional

O processo de modernização da agricultura, impulsionado a partir de meados do século XX, com a introdução de máquinas (tratores, colheitadeiras automotrizes, etc.), de insumos químicos (fertilizantes, herbicidas, inseticidas, fungicidas, etc.) e calcário, caracteriza-se por uma tendência de contínuos avanços, também na Região Noroeste do Estado do RS. Além de todo o aparato teórico revisado, que possibilitou destacar a importância que as inovações tecnológicas desempenham na economia agrícola, a parte prática deste trabalho permitiu identificar que a intensificação das pesquisas e dos

experimentos, o desenvolvimento científico e tecnológico abrem novos e inusitados caminhos, com três objetivos principais: redução de custos, aumento de produtividade e facilitação do trabalho, representado aqui por empresas especializadas e prestadoras de serviços, que permitem o acesso aos padrões tecnológicos mais sofisticados a diferentes níveis de produtores rurais.

Sabe-se que a tecnologia, considerada como um instrumento de competição, pode ser aplicada em produto ou processo, cujo desenvolvimento proporciona ao produtor integrado um aumento de produção, envolvendo-o numa forma produtiva capitalista, impulsionando a um mercado mais competitivo. Para Strieder (2000), o mercado competitivo faz com que o produtor busque inovações tecnológicas constantemente, embora muitas vezes de forma difusa, integrando o produtor a um empreendimento econômico competitivo, associado uma constante revolução tecnológica.

Neste ambiente, as inovações realizadas pelo produtor caracterizam a contínua mutação do sistema econômico, na qual muitas propriedades são bem sucedidas e crescem, enquanto outras declinam. Segundo Schumpeter (1998), a inovação tecnológica é posta no centro do processo de mudança do sistema econômico, alterando e criando novas posições no mercado. Assim, algumas propriedades teriam capacidade de inovarem e acompanhar o dinamismo tecnológico, enquanto outras, à margem do processo de geração e difusão tecnológica, declinariam e perderiam competitividade.

Assim sendo, a perspectiva de inovações e a adoção de técnicas modernas implica mudança no comportamento de vida e no comportamento do agricultor. Para a decisão do agricultor não basta apenas que seja maior vantagem, mas é preciso que essa diferença seja suficientemente alta para dar estímulo necessário ao rompimento das barreiras do tradicionalismo (PAIVA, 1975). Esta atitude varia de um agricultor para outro, pois depende da qualificação de cada um, além de outros elementos tais como o ambiente em que vivem, as amizades, e principalmente o nível cultural de cada um. O fato é que alguns agricultores compreendem com mais facilidade as novas tecnologias e apostam em suas adaptações, considerando que o retorno será superior aos já alcançados.

Exatamente este é o quadro que se observou durante a pesquisa de campo deste trabalho, nos municípios pré-definidos na Região Noroeste do RS. Entre os produtores entrevistados, a proposta das tecnologias de AP era de permitir que se fizesse aquilo que o pequeno agricultor sempre fez, porém em larga escala e associando todo o conhecimento acumulado pelas ciências agrárias, facilitando o gerenciamento das propriedades. No entanto, para alguns essas mudanças geraram angústias e incertezas, pois, conforme explica Strieder

(2000), sempre há dúvidas no abandono de sua produção tradicional, limitada a novas relações com o mundo, hoje intermediadas pela ciência e pela tecnologia, impondo novas e efetivas condições de melhoria de vida.

Pode-se afirmar que, na Região Noroeste do RS, bem como no restante do estado, a AP encontra-se num estágio onde existem muitas barreiras socioeconômicas, tecnológicas e agronômicas para eliminar antes de expandir sua adoção e aumentar significativamente sua lucratividade. Porém, sua expansão está começando a acontecer devido aos produtores estarem buscando inovações, maiores rendimentos e estarem mais tecnificados, com mais capital e mais tecnologia, já que o produtor, uma vez integrado, começa atribuir maior disciplina organizativa em suas atividades.

Na mesma linha de raciocínio, Paiva (1975) explica que à medida que a adoção das técnicas modernas se expande para um maior número de agricultores, é de se esperar que disso resulte um aumento na produtividade e na produção, gerando, por conseguinte, um crescimento no volume da oferta de produtos agrícolas. Logo, expressam-se resultados práticos dos benefícios de técnicas modernas, como é o caso da AP, que emergiram do trabalho de Da Costa; Guilhoto (2011):

se o benefício das técnicas de AP ocorrer sobre a produtividade agrícola, isto acarreta em benefícios sociais e econômicos para a economia brasileira. Entretanto, no caso do benefício ser apenas de redução do insumo (fertilizantes no caso analisado), apesar de poder acarretar em aumento de lucro para o produtor rural, o benefício para a economia como um todo não ocorre e a vantagem da técnica deve ser analisada no sentido da redução de poluição (DA COSTA, GUILHOTO, 2011, p. 312).

Apesar dos fatores restritivos do trabalho de Da Costa; Guilhoto (2011), no qual foram criaram cenários hipotéticos, deve-se levar em consideração a real atribuição do estudo, buscando estimar o impacto potencial da adoção das principais técnicas de AP na agricultura brasileira sobre fatores socioeconômicos no país, levando em consideração os principais benefícios gerados por esta tecnologia: i) redução nos custos pela diminuição no uso de insumos agrícolas; ii) redução na poluição da água e do ambiente e; iii) aumento da produtividade agrícola pela aplicação mais eficiente dos insumos.

Então, pode-se dizer que com o aprimoramento tecnológico da AP, o produtor tem condições de gerar ganhos em produtividade pela melhor alocação de insumos, dentro de uma mesma lavoura, fator desconsiderado até então. Isso permite ao agricultor maximizar o rendimento em áreas com potencial produtivo maior e economizar insumos em áreas com limitação técnica. Dessa forma, conforme relembra Werner (2007), esse sistema pode levar a uma redução dos custos de produção, bem como a um grande benefício ambiental pela

diminuição das perdas de insumo por lixiviação para as camadas mais profundas do solo ou carreamento superficial.

Entretanto, pretende-se frisar que estes são resultados e vantagens das técnicas de AP que se referem ao agricultor somente, pois consegue tirar benefício da redução do uso de insumos e maximizar lucros particulares, uma vez que benefícios econômicos para a economia estadual e/ou nacional, como um todo, só serão verificados quando houver, através das técnicas de AP, melhoramento na produtividade agrícola. Além disso, a vantagem maior à sociedade como um todo, é proporcionada em longo prazo, quando, em consequência a redução de insumos haverá, gradualmente, redução da poluição e melhoramento ambiental.

Portanto, é na primeira dimensão dos resultados que se encontram as preposições que emergem do estudo prático deste trabalho, focado em analisar somente a realidade agrícola local. Assim, percebe-se que a AP, quando utilizada, é uma ferramenta de estratégia para atuar nas reduções de insumos onde o setor agrícola tem-se deparado com o aumento nos custos, pois o aumento dos insumos e a queda dos preços das commodity de soja no mercado internacional, dificulta o avanço em novos mercados e retira a competitividade da produção, ciente que o desenvolvimento econômico depende acentuadamente de uma agricultura dinâmica, que possa contribuir para tornar ainda mais competitivo o setor agrícola (SILVA; VALE, 2007).

A AP, na Região Noroeste é vista, pela maioria dos agricultores como um sistema de gestão agrícola, baseado na variabilidade espacial e temporal, com a qual se pretende aumentar a produtividade, diminuir os custos e minimizar o impacto ambiental, já que menores quantidades de insumos serão aplicadas localizadamente. Acredita-se que exista, sim, um potencial no uso desta tecnologia, mas ainda poucos produtores fazem uso das técnicas. Isso porque a implantação dessas tecnologias nestas propriedades exige um elevado custo, que, provavelmente, esteja bloqueando sua expansão.

Silva, Moretto; Rodrigues (2004) consideram que, diante destes obstáculos, sua utilização parece ser mais adequada aos prestadores de serviços. Mas salienta-se, independente disto, que a tendência do mercado é de uma rápida revolução tecnológica e provável redução dos custos, o que irá garantir a viabilidade técnica e econômica. Por fim, acredita-se que as perspectivas para AP sejam positivas, pois cada vez mais estão surgindo estudos que integram as várias áreas de conhecimento envolvidas.