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No Brasil, o estágio atual dessa nova filosofia de se fazer agricultura ainda é de muita pesquisa e desenvolvimento, principalmente para a tropicalização da tecnologia, que tem sido trazida, em sua maior parte, dos EUA. A utilização da AP está em plena fase de crescimento nas empresas rurais brasileiras e seus conceitos diferem daqueles utilizados pela agricultura tradicional, sendo a principal diferença o uso de equipamentos tecnologicamente modernos (PETILIO et al., 2007). Assim, por meio do manejo diferenciado, a AP traz novas técnicas para o setor agrícola, bem como maior detalhamento dos métodos utilizados e aumento da eficiência global do sistema (SUSZEK et al., 2011).

No entanto, a adoção de novos fundamentos de manejo é sempre difícil, principalmente quando estes representam quebras de paradigmas estabelecidos. Como exemplo, tem-se a adoção e a disseminação do sistema plantio direto no Brasil, marcadas por dificuldades e incertezas, sendo que agora, a AP passa pelas mesmas situações. Nesse sentido, são necessárias adaptações para a implantação de seus conceitos, as quais serão possíveis somente se houver o aproveitamento do vasto conhecimento gerado por instituições de pesquisa, acelerando o processo de entendimento e marcha de adoção pelos agricultores, à medida que a tecnologia evolui e as técnicas de adaptam a realidade (MOLIN, 2002a; PIRES et al., 2004).

2.5.1 Fatores restritivos a adoção da Agricultura de Precisão

A renovação da forma tradicional de cultivo através das técnicas de AP é um objetivo estratégico e está trazendo a agricultura à era digital. Baseado nas práticas da AP é possível integrar um conjunto de tecnologias para melhorar a forma de cultivo tradicional em acordo com as condições locais. Essa é a grande proposta atual para resolver o equacionamento da máxima produtividade com mínimos danos ambientais, devido à alocação adequada de insumos. Visto como um sistema de gerenciamento, a AP é uma sequência de atividades que, na sua maioria, exige ferramentas sofisticadas e domínio de novos conhecimentos.

O primeiro impasse encontrado então, para a obtenção de informações de interesse agronômico é o processo complexo em que se torna a AP ao incorporar numerosas etapas e limitar as alternativas disponíveis a métodos de extração e análise caros e demorados, que necessitam de pessoas experientes para dar continuidade ao processo. Isso porque, a AP é bastante dependente de instrumentos que auxiliam na aquisição, tratamento e transmissão dos

dados nos campos agrícolas, transformando-os em informações úteis para o manejo de sítio específico (NAIME; NETO; VAZ, 2011).

Neste sentido, dentre as limitações da AP, Pires et al. (2004) destaca que em muitas situações o agricultor não dispõe de recursos para adquirir um sistema completo, sendo que tais sistemas podem ser lucrativos em determinadas situações, mas poderão não o ser em outras, visto que a maioria das instituições ainda não está preparada para a AP. Isso porque, para atingir o máximo potencial, será necessário saber manejar e integrar todos os dados obtidos, porém isso ainda está indefinido, uma vez que existem dificuldades operacionais e a maioria das ferramentas está dimensionada para grandes áreas, faltando instruções para o produtor.

Outros aspectos listados pelos mesmos autores é que a adoção das técnicas, sujeita aos altos e baixos da atividade agrícola, possui elevado custo fixo, além de implicar em mudanças profundas nos processos de manejo de determinadas operações e requerer nova formação e reciclagem por parte dos envolvidos no processo. Assim, a carência de treinamento formal e a dificuldade no entendimento dos fatores relacionados com a variabilidade, somados aos elevados custos operacionais são alguns dos principais embates da AP.

A questão custo/benefício também é discutida por Roza (2000). A redução de insumos e o aumento da produtividade e lucratividade precisam compensar os investimentos tecnológicos e os demais custos que acompanham sua implantação. Além disso, existem ainda limitações tecnológicas que devem ser enfrentadas, como a falta de compatibilidade dos aplicativos computacionais e a imprecisão de sensores.

Inamasu et al. (2011) descrevem que atualmente já existem algumas máquinas para aplicação à taxa variada no País e o mercado está iniciando o seu uso, porém a intensidade de adoção da AP ainda está muito aquém de países como EUA e Argentina. Além disso, um dos problemas que surge com a aquisição dessas máquinas é a dificuldade em interpretar os mapas e realizar uma recomendação agrícola, ou seja, uma gestão da variabilidade espacial e temporal da propriedade.

Molin (2002a) completa afirmando que o que mais falta ao usuário é a informação, sendo que a obtenção desta informação é lenta e cara, sem contar o ônus do pioneirismo. E, destaca que a implementação de projetos neste sentido deve ser gradual e com a consciência que ainda temos pouco domínio dos conceitos de variabilidade espacial da produção e de suas causas.

As metodologias de levantamento inicial das variabilidades de atributos agronômico do campo ainda não estão bem estabelecidas no Brasil. Dessa forma, entender as dificuldades

apenas após a aquisição de equipamentos não é a forma muito adequada de implementação da AP. É compreensível que sem um diagnóstico da variabilidade com suas causas determinadas, não é possível realizar uma análise e gerar uma recomendação de um tratamento à taxa variada. No entanto, o levantamento inicial das variações de atributos agronômicos no campo, o reconhecimento, a identificação do potencial do tratamento da variabilidade e a sua gestão, quer seja por aquisições de máquinas, quer seja por tratamentos diferenciados, fundamenta a projeção de retorno do investimento, e deveriam ser estes os passos da adoção da AP (INAMASU et al., 2011).

Portanto, a aquisição de ferramentas da AP, meramente com sentido de adotar uma nova tecnologia não se justifica. O que se torna importante é a associação das tecnologias, nas suas mais amplas possibilidades, a um acompanhamento técnico especializado, baseado no conhecimento básico gerado pelas pesquisas, que devem ser realizadas com enfoque no manejo da variabilidade dos fatores de produção. Assim, acredita-se que iniciativas recentes associadas à criação de grupos, envolvendo universidades, instituições de pesquisa, empresas privadas e produtores, podem brevemente trazer soluções práticas para os problemas verificados atualmente (PIRES et al., 2004).

2.5.2 Perspectivas para a Agricultura de Precisão

Atualmente, pode-se dizer que a AP é o agente da geração de base de dados de uma preciosidade ainda pouco compreendida pela maioria de nós. Os conhecimentos atuais são proveniente de resultados práticos e de pesquisa mostrando que a aplicação de insumos a taxa variável, comparada com a aplicação pela maneira tradicional, proporciona otimização dos volumes necessários através das técnicas de AP, portanto, significativa redução de custos e de desperdícios, com ganhos econômicos e ambientais (FIORIN et al., 2011). Neste sentido, as técnicas propostas pela AP devem ser consideradas como importantes ferramentas para auxiliar o agricultor no manejo da lavoura, sendo que a observação da variabilidade espacial mostra-se de grande valia aos produtores (FERRAZ et al., 2011; FERRAZ et al., 2012).

Para driblar o fator econômico restritivo a essa tecnologia, algumas experiências têm demostrado que a AP não se limita a procedimentos que exigem aparelhos de alta sofisticação e investimentos caros. Inamasu et al. (2011) descrevem que qualquer propriedade, inclusive a familiar, pode adotar alguns desses procedimentos e equipamentos, a custos mais baixos. Entende-se que, a partir da implementação da AP por partes, podem ser iniciadas operações

que sejam consideradas mais importantes para uma determinada cultura como, por exemplo, correção do solo, detecção de pragas e doenças, fertilidade, etc.

Este raciocínio assemelha-se muito ao que Molin (2002a) descreve como tendência recente e muito provável de se tornar o caminho do futuro: o gerenciamento por unidades de manejo. O autor explica que na medida em que o agricultor passa a trabalhar a propriedade não mais como única, ou seja, isola cada talhão e os considera como unidades gerenciais, o nível de desuniformidade começa a aparecer. Isso leva ao tratamento individualizado de cada talhão e ao início do processo de gerenciamento por unidades de manejo. Definidas estas unidades, as táticas de gerenciamento e os princípios da AP podem ser aplicados, porém sem tanta sofisticação de equipamentos, uma vez que a própria delimitação e demarcação das unidades de manejo podem ser feitas com tecnologias apropriadas.

Pires et al. (2004) também descrevem como perspectivas e como método promissor, que já vem sendo adotado por alguns produtores no Brasil, o “manejo em zonas”. Uma zona de manejo pode ser definida como uma porção da lavoura que possui uma combinação homogênea de fatores limitantes do rendimento de grãos, em que uma única taxa de um insumo específico é apropriada, ou seja, que pode ser manejada de maneira uniforme e que, portanto, podem receber um mesmo tratamento.

Além disso, os mesmos autores preconizam que o desenvolvimento e aprimoramento de novos sensores também é necessidade que vem sendo trabalhada em muitos laboratórios no mundo. Parcerias e formação de consórcios de empresas públicas e privadas, com envolvimento de universidades e produtores, sem dúvida, devem se tornar, num futuro próximo, a melhor forma de gerar avanços rápidos na AP no Brasil. Neste sentido, os autores acreditam que as perspectivas para a AP no Brasil são positivas, à medida que se realizam estudos que integram as várias áreas de conhecimento envolvidas. De acordo com Pires et al. (2004) o ganho de precisão na predição de resultados da aplicação de insumos devem ser aumentados, conforme forem tornando-se mais bem entendidos e mapeados os fatores que contribuem para a variabilidade.

De acordo com Molin (2002a) para que a adoção desta tecnologia venha acontecer numa marcha que gere mais volume, tanto de negócios como de experiência para todos, deve haver um esforço concentrado em duas grandes frentes. De um lado a pesquisa, com recursos públicos e privados, deve acelerar o processo de entendimento dos fenômenos associados a variabilidade existente nos campos e as formas de intervir ou conviver com essa variabilidade. Também de grande importância, a outra frente, deve atacar a redução do custo de adoção. Hoje, há uma demanda reprimida que se frustra com os valores dos equipamentos disponíveis,

uma vez que os preços praticados são decorrentes de falta de escala de produção e de nacionalização. Na medida em que a tecnologia evolui as técnicas se adaptam a realidade, a marcha de inserção dos agricultores vai aumentando naturalmente. No futuro, isso tudo será uma realidade tão próxima como já é hoje o plantio direto, que nos anos 80 parecia ser algo para poucos e totalmente desfocado da nossa realidade.

Portanto, no Brasil, fica evidente que para que a AP atinja seus objetivos, ao reforçar a sustentabilidade do processo produtivo, ainda há grandes desafios. Considerar a variabilidade como um fator importante de gestão para a sustentabilidade do negócio agrícola e do meio ambiente é ainda uma postura a ser desenvolvida para o campo. A pesquisa em AP também deve avançar na dimensão mais agronômica em diferentes culturas e regiões, considerando a distribuição espacial e temporal das doenças e pragas, fertilidade do solo, qualidade dos produtos, água, entre outros elementos para considerar uma gestão precisa em direção à sustentabilidade do processo produtivo agrícola.

Por fim, considera-se a AP como uma ferramenta de gestão do agronegócio e, mediada pela rastreabilidade, possibilita a otimização do uso de maquinários, implementos e insumos agrícolas e permite, com rapidez, a identificação de procedimentos técnicos deficientes no sistema de produção por meio da disponibilização de informações atuais e complexas de toda a empresa rural. De acordo com Furnaleto; Manazno (2010), no processo de rastreabilidade a AP é um mecanismo suporte para direcionamento dos processos produtivos visando melhorar o desempenho técnico e econômico do empreendimento, bem como a qualidade da produção, o que traduz as perspectivas desta nova tecnologia.

3 AGRICULTURA DE PRECISÃO NO RS E NA REGIÃO NOROESTE DO