• Nenhum resultado encontrado

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR JOSÉ PAULO CALMON NOGUEIRA DA GAMA TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO"

Copied!
28
0
0

Texto

(1)

Página 1 de 28

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR JOSÉ PAULO

CALMON NOGUEIRA DA GAMA – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO

ESPÍRITO SANTO

Autos da notificação para explicações nº 0023847-71.2019.8.08.0000

SERGIO MAJESKI, brasileiro, solteiro, deputado estadual, inscrito no CPF sob o nº

881.387.127-91 e com domicílio profissional na Avenida Américo Buaiz, nº 205, gabinete 602,

Enseada do Suá, Vitória-ES, endereço eletrônico: serjeski@hotmail.com, neste ato

representado por seu advogado abaixo assinado, constituído nos termos do instrumento de

mandato anexo, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, em atenção ao Ofício nº

1380/2019 expedido nos autos em referência, apresentar RESPOSTA ao pedido de explicações

apresentado pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo, na pessoa de seu Procurador

Geral da Justiça, Exmo Sr. Dr. Eder Pontes da Silva, nos termos a seguir delineados.

I.

DOS FATOS.

1.

Trata-se de interpelação, fundada no artigo 144 do Código Penal

1

, proposta em

face do Senhor Deputado Estadual, Sergio Majeski, no exercício de seu segundo mandato

parlamentar, em razão de declarações por este exaradas em entrevista concedida no dia 17 de

julho de 2019 ao programa Bom Dia ES da TV Gazeta.

1Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir

(2)

Página 2 de 28

2.

Em apertada síntese, sustenta o interpelante que as afirmações prestadas nesta

entrevista pelo interpelado, sobre a aprovação de Projetos de Leis enviados à Assembleia

Legislativa pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo, teriam acusado a ocorrência

de tráfico de influência, conluio e corrupção entre membros do Ministério Público e membros

da Assembleia Legislativa.

3.

Afirmando que tais declarações poderiam a vir configurar crimes contra a honra

das Instituições Ministério Público do Estado do Espírito Santo e Assembleia Legislativa do

Estado do Espírito Santo, o interpelante promoveu a medida judicial, com todas as vênias,

desarrazoada e sem fundamento legal, que é objeto desta resposta.

4.

Entretanto, conforme passaremos a demonstrar, entende-se pela ausência dos

requisitos necessários ao regular prosseguimento da presente demanda, não podendo, dessa

forma, prosperar.

II. DO DIREITO.

II.1. DO DESINTERESSE PROCESSUAL E DA ILEGITIMIDADE DO

MINISTÉRIO PÚBLICO

5.

Pelas transcrições da peça do Ministério Público Estadual, pode-se ver que, para

o órgão em questão, estaria claro que o Deputado Estadual fez “acusações, que se revestem em

ilícitos penais, bem como atentam a reputação e credibilidade de duas instituições, dos seus

representantes legais e ainda de todos os seus membros” (conclusão, diga-se desde já,

equivocada).

6.

Porém, se o MPES já possui suas certezas e já tirou conclusões acerca do

conteúdo do fato (embora equivocadas), não caberia a presente interpelação, conforme decidiu

o Eg. STF em precedente colacionado pelo próprio parquet na interpelação:

(3)

Página 3 de 28 “Onde não houver dúvida objetiva em torno do conteúdo moralmente ofensivo das afirmações questionadas ou, então, onde inexistir qualquer incerteza a propósito dos destinatários de tais declarações, aí não terá pertinência nem cabimento a interpelação judicial, pois ausentes, em tais hipóteses, os pressupostos necessários à sua utilização. Doutrina. Precedentes. (STF; Pet-AgR 4.444-4; DF; Tribunal Pleno; Rel. Min. Celso de Mello; Julg. 26/11/2008; DJe 19/12/2008; Pág. 35).

7.

Porém, para viabilizar a interpelação, o MPES afirma que o Deputado Estadual

“não revela quem seriam os partícipes do conluio formado com intuito de se aprovar os

Projetos de Lei, ou mesmo, àqueles que teriam influído para tanto”.

8.

Apenas para retirar a trava que o interpelante busca colocar sobre os olhos do

Poder Judiciário, afirma-se peremptoriamente que o Deputado Estadual jamais falou em

conluio, na entrevista ou em qualquer outra manifestação, termo que reside apenas no texto

apresentado pelo Sindicato dos Advogados, protocolizado perante o órgão ministerial.

9.

Feito o parêntese, é de se ver que, em seu texto, o MPES faz residir seu

interesse-adequação, consubstanciado na dúvida exigida na interpelação, na busca de nomes de pessoas

às quais o Deputado Estadual teria se referido.

10.

Porém, ao mirar o interesse-adequação, o MPES acaba por negar outra

condicionante, qual seja, sua legitimidade para propor a presente interpelação.

11.

Isso é dito, pois, de saída, o MPES não é legítimo para invocar direito alheio em

órbita personalíssima, ainda mais quando a ação é, em regra, penal privada, ou ao menos

pública condicionada nas hipóteses do artigo 142 e 145, do Código Penal.

12.

O que se quer dizer é que o MPES não pode assumir posição processual de

substituir desconhecidos supostamente ofendidos e, pela via da interpelação, fazer investigação

às avessas em nome de terceiros que nunca se disseram lesados com as declarações. Afinal, por

reiteradas vezes, o propósito acusatório penal da interpelação proposta, na forma de cautelar

preparatória, foi indicado em inúmeros parágrafos da inicial.

(4)

Página 4 de 28

13.

E ainda, em razão do exercício da boa-fé processual, caso de fato queira

investigar o Parlamentar, que promova instauração de inquérito policial (se houver algum

indício de crime) e submeta ao Eg. Tribunal Pleno para tanto, em razão da prerrogativa de foro

pelo exercício da função.

14.

Com todas as vênias, não se pode admitir que uma interpelação de caráter

privado seja utilizada como via obscura de investigação, sob pena de se subverter os comandos

do Código Penal e da boa-fé processual. Em melhores palavras, não pode o Ministério Público

querer interpelar para apurar fatos relacionados à ALES ou a membros da ALES – caso queira

investigar, que o faça pelos meios próprios, com transparência, impessoalidade e

imparcialidade.

15.

Referida constatação inclusive foi indicada pela Procuradora Geral em exercício

Elda Márcia Moraes Spedo, em decisão administrativa lavrada em 25 de julho de 2019, cerca de

13 dias antes do aforamento da inicial, e anexada pelo próprio Interpelante, in verbis:

“Com relação ao primeiro, este imputou de forma genérica conluio e ‘corrupção entre membros do Ministério Público e deputados’, e ainda tem potencializado o fato pela imprensa local, o que ofende, de forma genérica e aleatória a coletividade de membros desta instituição, assim considerados em sua honra subjetiva, que é defendida em juízo e fora dele por pessoa jurídica de direito privado constituída sob a forma de Associação na forma da lei civil, a qual é titular, em tese, da pretensão em face da lesão perpetrada (Súmula 227, do STJ – A pessoa jurídica pode sofrer dano moral)”. (Grifos no original).

16.

Com todas as vênias, o conteúdo da referida decisão administrativa feita poucos

dias antes do aforamento dessa Interpelação revela algumas características.

17.

A primeira é a manifesta contradição comportamental e violação tácita à ordem

da Procuradora-Geral de Justiça em exercício e o do Procurador-Geral titular. Isso porque há

decisão expressa da liderança do Parquet afirmando que quaisquer demandas de caráter coletivo

da classe relacionadas ao evento descrito na inicial seriam de interesse da Associação de

membros do Parquet, ao passo que a mesma liderança, em seguida, quando ocupada por outra

pessoa, se valeu do Órgão Público para os mesmos fins.

(5)

Página 5 de 28

18.

A contradição é manifesta e revela a existência de venire contra factum proprium, na

medida em que se violou decisão administrativa emanada pela Procuradora-Geral de Justiça em

exercício diante do comportamento do Procurador-Geral de Justiça titular, quando assinou e

protocolou essa interpelação.

19.

Com todas as vênias, a incidência de comportamento contraditório

necessariamente acarreta ausência de interesse no processamento da demanda, como desde já

se requer seja reconhecido e, caso esse seja o entendimento do Eg. Tribunal Pleno, requer a

extinção da interpelação, por ausência de interesse processual.

20.

A segunda, diante da contradição acima indicada (decisão administrativa versus

comportamento), o que se revela é uma dúvida em relação à unicidade do Órgão Ministerial.

Isso porque o que de fato deve produzir efeitos: uma decisão administrativa ou um

comportamento?

21.

Com as vênias de estilo, todos atos administrativos e processuais devem ser

formalizados e materializados no mundo dos fatos, pelo que a contradição em tela deve colocar

em relevo o seguinte ponto: considerando que foi o próprio Ministério Público quem lançou

aos autos cópia da decisão administrativa da Procuradora-Geral em exercício, e levando-se em

conta que não há outra decisão administrativa indicando a revogação da referida decisão

administrativa, o ato de aforamento da exordial, com todas as vênias, viola a unicidade

característica ao Parquet e, portanto, mais uma vez, indica a ausência de interesse processual,

cujo reconhecimento ora se requer.

22.

Reitere-se, clarifica-se a intenção de o MPES, por meio de sua interpelação, se

colocar no lugar de terceiros indeterminados quando afirma que os relatos do Deputado

Estadual tratariam de um conjecturado “conluio e corrupção entre Membros do Ministério

Público e Deputados Estaduais”.

(6)

Página 6 de 28

23.

O mesmo ocorre quando a peça afirma que as declarações teriam sido “ofensivas

a [sic] imagem do Ministério Público do Estado do Espírito Santo como instituição, bem como

a pessoa de [sic] representante legal, e de seus membros [...]”. (Grifos nossos).

24.

O Deputado Estadual jamais utilizou desses termos ou mesmo os insinuou, basta

uma leitura atenta do anexo da gravação da entrevista ou ainda a mera observação da fala do

Parlamentar no curso da entrevista. Mas, se ao compreender o fato, o MPES, como instituição,

entendeu que os relatos tiveram como destinatários seus membros, e não o órgão, a instituição

ministerial é manifestamente ilegítima para aforar interpelação como a presente.

25.

Não obstante, há outros relevantíssimos óbices ao prosseguimento da presente

interpelação.

26.

Deveras, toda medida preparatória, de natureza cautelar, deve, por força de sua

acessoriedade e instrumentalidade, ter em conta a perspectiva de propositura de uma demanda

principal, que, in casu, aponta-se que seria uma eventual ação penal para apurar a prática de

eventuais delitos contra a honra de calúnia, injuria e difamação.

27.

Ocorre que tais delitos, como é cediço, só podem ter como sujeitos passivos, ou

vitimas, pessoas humanas ou naturais.

28.

Nesse sentido, dentre outros, o seguinte julgado do Colendo STJ:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. DIFAMAÇÃO. PESSOA JURÍDICA. C. PENAL. SÚMULA 83-STJ.

Pela lei em vigor, pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo dos crimes contra a honra previstos no C. Penal. A própria difamação, ex vi legis (art. 139 do C. Penal), só permite como sujeito passivo a criatura humana. Inexistindo qualquer norma que permita a extensão da incriminação, nos crimes contra a pessoa (Título I do C. Penal) não se inclui a pessoa jurídica no pólo passivo e, assim, especificamente, (Cap. IV do Título I) só se protege a honra das pessoas físicas. (Precedentes).

Agravo desprovido. (AgRg no Ag 672.522/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04/10/2005, DJ 17/10/2005, p. 335)

(7)

Página 7 de 28

29.

Não se desconhece que há entendimento do Colendo STF no sentido de que

seria possível, em tese, que a pessoa jurídica seja vítima, apenas e tão somente, de difamação,

em caso de ofensa a sua honra objetiva. (Inquérito 800, Pleno, rel. Carlos Velloso, 10.10.1994,

v.u.).

30.

Todavia, ainda que esse entendimento fosse acertado, e, com todas as vênias, não

é, o precedente em questão só se aplica a difamação de “pessoas jurídicas”, e o Ministério

Público é órgão, ou ente despersonalizado, não se aplicando a ele tais conclusões, e tampouco à

própria Assembleia Legislativa, que também não possui personalidade jurídica própria.

31.

Nesse sentido, o seguinte julgado:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA MOVIDA CONTRA O MINISTÉRIO PÚBLICO. FALTA DE PERSONALIDADE JURÍDICA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. O Ministério Público não é dotado de personalidade jurídica, motivo pelo qual é parte ilegítima para compor o pólo passivo em ações ordinárias. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME.

(TJ-RS - AC: 70036528867 RS, Relator: Alexandre Mussoi Moreira, Data de Julgamento: 15/08/2012, Quarta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 21/08/2012

)

32.

A doutrina de HUGO NIGRO MAZZILLI corrobora o que foi até aqui

delineado:

Como órgão do Estado, embora tenha o Ministério Público capacidade postulatória, não tem personalidade jurídica; assim, a instituição não tem legitimação para suportar no pólo passivo eventuais ações de responsabilidade por danos que seus agentes porventura causem a terceiros. Nesse caso, sendo o Ministério Público um dos órgãos originários do Estado, este é que responderá por eventuais danos que os agentes ministeriais, nessa qualidade, possam eventualmente causar a terceiros. (...)

Somente em situações excepcionais o Ministério público e os demais legitimados ativos à ação civil pública poderão ser réus em ação civil pública ou coletiva. Isso poderá ocorrer quando do ajuizamento de embargos de terceiros, ou ainda quando o executado oponha embargos à execução em ação civil pública. Não fosse assim, neste último caso, p. ex., seria impossível ao executado desconstituir o título executivo inidôneo. Ainda mais uma hipótese: o Ministério Público e os demais co-legitimados poderão ser réus em ação rescisória destinada a atacar a coisa julgada obtida em ação civil pública ou coletiva. (MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 18.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 100/102.)

(8)

Página 8 de 28

33.

O Colendo STJ, inclusive, em recente orientação jurisprudencial, deixou claro que não

há que se falar na ofensa a honra objetiva de ente despersonalizado, para efeito de

condenação em danos morais, como demonstra a seguinte ementa:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL E

RESPONSABILIDADE CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (SFH). VICIO DE CONSTRUÇÃO. AÇÃO DE REPARAÇÃO AJUIZADA PELO CONDOMÍNIO. ALEGADOS DANOS MORAIS EXPERIMENTADOS PELO ENTE DESPERSONALIZADO. IMPOSSIBILIDADE. AFASTAMENTO DOS DANOS MORAIS. 1

1. Os danos morais estão intrinsecamente ligados aos direitos da personalidade, mas neles não se esgotam, dizendo, pois, especialmente, com a esfera existencial do ser humano, com a sua dignidade.

2. A doutrina dominante reconhece que os condomínios edilícios não possuem personalidade jurídica, sendo, pois, entes despersonalizados; também chamados de entes formais, com a massa falida e o espólio.

3. Não havendo falar em personalidade jurídica, menos ainda se poderá dizer do maltrato a direitos voltados à personalidade e, especialmente, àqueles ligados à honra objetiva.

4. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

(STJ - AgInt no REsp: 1521404 PE 2015/0061485-8, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 24/10/2017, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/11/2017)

34.

Dessarte, e na esteira do que vem sendo sustentado, entes despersonificados

não podem ostentar direitos ligados à personalidade jurídica, como a honra objetiva, e,

portanto, não podem, sequer em tese, ser vítimas de crimes contra a honra, inclusive o de

difamação.

35.

Não obstante, por não possuírem personalidade jurídica também não podem

pleitear em juízo a reparação de supostos danos que, em ultima instância, seriam devidos não

ao próprio órgão, mas sim a entidade que integram, in casu, o Estado do Espírito Santo.

36.

Nesse diapasão, confira-se o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. QUERELA NULLITATIS. MANDADO DE SEGURANÇA. EXISTÊNCIA OU NÃO DO DIREITO À EXTENSÃO DA GRATIFICAÇÃO DE PRODUTIVIDADE. VIOLAÇÃO DO DIREITO AO CONTRADITÓRIO. NULIDADE DO PROCESSO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE REQUISITOS. INEXISTÊNCIA DE PERSONALIDADE JURÍDICA DA Assembleia LEGISLATIVA. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO À

(9)

Página 9 de 28 DEFESA. ADN IMPROCEDENTE. (...) II - A Assembleia Legislativa, como órgão integrante do ente político Estado , não possui personalidade jurídica , mas apenas personalidade judiciária, o que significa que pode estar em juízo apenas para a defesa de suas prerrogativas institucionais, concernentes a sua organização e funcionamento; nos demais casos, deve ser representada em juízo pelo Estado, em cuja estrutura se insere. (...) (TJAM. Relator (a): Wellington José de Araújo; Comarca: N/A; Órgão julgador: N/A; Data do julgamento: 14/03/2016; Data de registro: 16/03/2016)

37.

Todavia, apenas por amor ao debate, poderia o i. Parquet vir a juízo defender a

honra objetiva do Estado do Espírito Santo, ou em nome dele pleitear supostos danos

morais, ainda que se admitisse, para argumentar, que o interpelado tivesse praticado ato ilícito

e não abarcado pela imunidade parlamentar?

38.

É evidente que a resposta é negativa!

39.

O artigo 129, inciso IX da Constituição Federal é claro ao prescrever que ao

Ministério Público “é vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de

entidades públicas.”.

40.

Ademais, como é cediço, em se tratando de difamação, “a caracterização do

crime requer, ainda, a individualização da pessoa cuja honra o agente pretende ofender, já que

'palavras ou expressões ofensivas que não atinjam pessoa certa e determinada, não

podem configurar os delitos de injúria e difamação, porque a expressão alguém é

elementar dos tipos penais' (STJ, 6ª Turma, HC/PR nº 30095/GO, Rel. Min. Paulo Medina,

DJ 25.10.2004).

41.

Logo, se o próprio Parquet assevera, in statu assertionis, que teria ocorrido ofensa

“de forma genérica e aleatória a coletividade de membros desta instituição”, resta evidente que não há,

também, qualquer possibilidade de se pretender imputar ao interpelado a prática de tal delito,

ainda que o mesmo tivesse, de fato, realizado as condutas que lhe foram imputadas.

42.

Por fim, o próprio E. TJES já decidiu que: “tanto o Superior Tribunal de Justiça

quanto este Egrégio Tribunal têm o entendimento no sentido de que não se traduz em

(10)

Página 10 de 28

exercício abusivo do direito de livre expressão a atuação que esteja restrita ao campo

narrativo (animus narrandi) ou a crítica prudente (animus criticandi). (TJ-ES - EI:

00035314320118080024, Relator: FABIO CLEM DE OLIVEIRA, Data de Julgamento:

13/04/2016, SEGUNDO GRUPO CÂMARAS CÍVEIS REUNIDAS, Data de Publicação:

17/05/2016), o que torna ainda mais incompreensível a presente interpelação, tudo isso sem

considerar a imunidade constitucional que socorre ao interpelado, da qual adiante trataremos.

II.2 – A GARANTIA CONSTITUCIONAL DA IMUNIDADE

PARLAMENTAR MATERIAL

43.

A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê em seu artigo 51 a imunidade

parlamentar de deputado estadual:

Art. 51 O Deputado é inviolável, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

44.

Da mesma forma, por simetria, também é essa a redação do art. 53 da

Constituição Federal.

45.

Relembrando o histórico, a nova redação dada pela EC nº 35/2001 ao art. 53,

“caput”, da Constituição da República e pela EC nº 34/2001 ao art. 51, “caput”, da

Constituição Estadual, excluíram, na hipótese nela referida, a própria natureza delituosa do

fato que, de outro modo, tratando-se do cidadão comum, qualificar-se-ia como crime contra a

honra, impedindo a responsabilização penal e/ou civil do membro do Parlamento.

46.

Vale registrar que a inviolabilidade da regra constitucional não traz nenhuma

condicionante, da forma que não importa em qual lugar do território nacional o parlamentar

que estiver exercendo sua função parlamentar, estará resguardado, não praticando qualquer

crime por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos, permitindo-lhe o amplo exercício da

liberdade de expressão.

(11)

Página 11 de 28

47.

Se se tratar de opiniões, palavras e votos emitidos no exercício da função

parlamentar, haverá irresponsabilidade, sob pena de transmudá-la em não garantia.

2

48.

Se cada caso fosse levado aos tribunais para que o Poder Judiciário avaliasse se é

ou não fato cabível no âmbito da inviolabilidade parlamentar, se há crime ou não, se é caso de

processamento ou não, os parlamentares estariam em posição de extrema vulnerabilidade –

seria uma espécie de inviolabilidade tão-somente em função das manifestações que não

constituem crimes –, em outras palavras, não haveria inviolabilidade parlamentar.

3

49.

O Supremo Tribunal Federal, no mesmo sentido, tem se manifestado pela

proteção da garantia fundada em norma constitucional:

“MEMBRO DO CONGRESSO NACIONAL. ENTREVISTA

JORNALÍSTICA CONCEDIDA A EMISSORA DE RÁDIO. AFIRMAÇÕES

REPUTADAS MORALMENTE OFENSIVAS. PRETENDIDA

RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA CONGRESSISTA POR SUPOSTA PRÁTICA DE CRIME CONTRA A HONRA. IMPOSSIBILIDADE. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DISPENSADA AO INTEGRANTE DO PODER LEGISLATIVO. IMUNIDADE PARLAMENTAR MATERIAL (CF, ART. 53, ‘CAPUT’). ALCANCE DESSA GARANTIA CONSTITUCIONAL. TUTELA QUE SE ESTENDE ÀS OPINIÕES, PALAVRAS E PRONUNCIAMENTOS, INDEPENDENTEMENTE DO ‘LOCUS’ (ÂMBITO ESPACIAL) EM QUE PROFERIDOS, ABRANGENDO AS ENTREVISTAS JORNALÍSTICAS, AINDA QUE CONCEDIDAS FORA DAS DEPENDÊNCIAS DO PARLAMENTO, DESDE QUE TAIS MANIFESTAÇÕES GUARDEM PERTINÊNCIA COM O EXERCÍCIO DO MANDATO REPRESENTATIVO. O ‘TELOS’ DA GARANTIA CONSTITUCIONAL DA IMUNIDADE PARLAMENTAR. DOUTRINA. PRECEDENTES. INADMISSIBILIDADE, NO CASO, DA PRETENDIDA PERSECUÇÃO PENAL POR DELITOS CONTRA A HONRA EM FACE DA INVIOLABILIDADE CONSTITUCIONAL QUE AMPARA OS MEMBROS DO CONGRESSO NACIONAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO PENAL.”

2VERONESE, Osmar. Inviolabilidade parlamentar: do senador ao vereador. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p.83. 3VERONESE, Osmar. Op. Cit., p.83.

(12)

Página 12 de 28 (Inq 2.330/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

“O Supremo Tribunal Federal tem acentuado que a prerrogativa constitucional da imunidade parlamentar em sentido material protege o congressista em todas as suas manifestações que guardem relação com o exercício do mandato, ainda que produzidas fora do recinto da própria Casa Legislativa (RTJ 131/1039 – RTJ 135/509 – RT 648/318) ou, com maior razão, quando exteriorizadas no âmbito do Congresso Nacional (RTJ 133/90). (…).”

(RTJ 155/396-397, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

50.

Da mesma forma, o Eminente Des. Pedro Valls Feu Rosa de nossa Egrégia Corte

Estadual decidiu recentemente caso análogo de Deputado Estadual:

Notificação para Explicações Nº 0025890-49.2017.8.08.0000 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESPÍRITO SANTO NOFTE OCTACIANO GOMES DE SOUZA NETO Advogado(a) FELIPE CAETANO FERREIRA 11142 - ES

Advogado(a) FRANCISCO DE ASSIS ARAUJO HERKENHOFF 6590 - ES Advogado(a) LEONARDO BARROS SOUZA 9180 - ES

NOFDO EUCLERIO SAMPAIO DES. PEDRO VALLS FEU ROSA

Cuidam os autos de interpelação judicial formulada por OCTACIANO GOMES DE SOUZA NETO, com fundamento no art. 144 do Código Penal, em face de EUCLERIO SAMPAIO, Deputado Estadual. O interpelante noticia que o interpelado, em pronunciamentos feitos nas sessões da Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, promove referências e alusões que podem inferir em calúnia e difamação acerca de sua atuação à frente da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca do Governo do Estado do Espírito Santo.

Diante de tais elementos, necessita esclarecer diversos pontos acerca das alegações ventiladas pelo interpelado.

Em despacho proferido às fls. 31, determinei a notificação do interpelado para apresentar as explicações requeridas. Notificado, o interpelado apresentou seus esclarecimento, bem como protocolizou diversos documentos para sustentar suas alegações.

Importante salientar que a interpelação criminal é instrumento de natureza cautelar, visando, a preparação de eventual ação pena principal a ser proposta.

Tem, portanto, caráter facultativo, cujo objetivo vincula-se a esclarecer dubiedade, equivocidade ou ambiguidade de alegações formuladas para servir de base para a instauração de ação penal.

(13)

Página 13 de 28 Nesse sentido é a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: “O pedido de explicações constitui típica providência de ordem cautelar destinada a aparelhar ação penal principal tendente a sentença penal condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo, tutela cautelar penal, visando a que se esclareçam situações revestidas de equivocidade, ambigüidade ou dubiedade, a fim de que se viabilize o exercício futuro de ação penal condenatória. A notificação prevista no Código Penal (art. 144) (…) traduz mera faculdade processual, sujeita à discrição do ofendido. E só se justifica na hipótese de ofensas equívocas.” (RTJ 142/816, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

Quadra registrar que o procedimento da interpelação não permite neste momento, qualquer avaliação do conteúdo das explicações prestadas, sendo inclusive permitido ao interpelado não prestar esclarecimentos.

Nesse sentido o professor JULIO FABBRINI MIRABETE expõe em sua obra “Código Penal Interpretado”, p. 1.138, 5ª ed.,2005, Atlas), os pressupostos legitimadores da utilização do pedido de explicações em juízo: “O pedido de explicações previsto no art. 144 é uma medida preparatória e facultativa para o oferecimento da queixa, quando, em virtude dos termos empregados ou do sentido das frases, não se mostra evidente a intenção de caluniar, difamar ou injuriar, causando dúvida quanto ao significado da manifestação do autor, ou mesmo para verificar a que pessoa foram dirigidas as ofensas.

Cabe, assim, nas ofensas equívocas, e não nas hipóteses em que, à simples leitura, nada há de ofensivo à honra alheia ou, ao contrário, quando são evidentes as imputações caluniosas, difamatórias ou injuriosas.” (grifei)

Ultrapassados esses esclarecimentos, verifica-se que a interpelação judicial foi oferecida em desfavor de membro do Legislativo Estadual, o qual é detentor de imunidade parlamentar em sentido material.

O artigo 51 da Constituição do Estado do Espírito Santo prevê a imunidade material do deputado estadual: Art. 51. O Deputado é inviolável, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. Vale ressaltar que a inviolabilidade inerente a tal dispositivo não possui condicionantes, em especial quando o detentor de especial prerrogativa encontra-se na bancada da Casa Legislativa.

Nesse sentido já se pronunciou o Pretório Excelso: MEMBRO DO CONGRESSO NACIONAL. ENTREVISTA JORNALÍSTICA CONCEDIDA A EMISSORA DE RÁDIO. AFIRMAÇÕES REPUTADAS MORALMENTE OFENSIVAS. PRETENDIDA RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA CONGRESSISTA POR SUPOSTA PRÁTICA DE CRIME CONTRA A HONRA. IMPOSSIBILIDADE. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DISPENSADA AO INTEGRANTE DO PODER LEGISLATIVO. IMUNIDADE PARLAMENTAR MATERIAL (CF, ART. 53, ‘CAPUT’). ALCANCE DESSA GARANTIA CONSTITUCIONAL. TUTELA QUE SE

(14)

Página 14 de 28 INDEPENDENTEMENTE DO ‘LOCUS’ (ÂMBITO ESPACIAL) EM QUE PROFERIDOS, ABRANGENDO AS ENTREVISTAS JORNALÍSTICAS, AINDA QUE CONCEDIDAS FORA DAS DEPENDÊNCIAS DO PARLAMENTO, DESDE QUE TAIS MANIFESTAÇÕES GUARDEM PERTINÊNCIA COM O EXERCÍCIO DO MANDATO REPRESENTATIVO. O ‘TELOS’ DA GARANTIA CONSTITUCIONAL DA IMUNIDADE PARLAMENTAR. DOUTRINA. PRECEDENTES. INADMISSIBILIDADE, NO CASO, DA PRETENDIDA PERSECUÇÃO PENAL POR DELITOS CONTRA A HONRA EM FACE DA INVIOLABILIDADE CONSTITUCIONAL QUE AMPARA OS MEMBROS DO CONGRESSO NACIONAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO PENAL.” (Inq 2.330/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

“O Supremo Tribunal Federal tem acentuado que a prerrogativa constitucional da imunidade parlamentar em sentido material protege o congressista em todas as suas manifestações que guardem relação com o exercício do mandato, ainda que produzidas fora do recinto da própria Casa Legislativa (RTJ 131/1039 – RTJ 135/509 – RT 648/318) ou, com maior razão, quando exteriorizadas no âmbito do Congresso Nacional (RTJ 133/90). (...).” (RTJ 155/396-397, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

A cláusula de inviolabilidade visa conferir efetiva proteção ao parlamentar no exercício pleno do seu mandato.

Diante de todos esses argumentos observa-se que a imunidade material ora tratada exclui a responsabilidade penal do parlamentar, não podendo ser intentada ação penal em face das palavras ditas no exercício do mandato que lhe foi conferido pelo povo.

Assim, se incabível o instrumento processual principal, incabível também o instrumento preparatório, já que amparado o interpelado pela cláusula constitucional da imunidade parlamentar em sentido material.

Em recente julgado proferido pelo Supremo Tribunal Federal, da lavra do Ministro Celso de Mello nos autos da ação cautelar nº 3883: “Cabe registrar, finalmente, que, por não se revelar cabível a instauração de processo de natureza penal ou de caráter civil (indenização) contra os congressistas (como a interpelanda) “por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos” – porque amparados pela garantia constitucional da imunidade parlamentar em sentido material –, tornase juridicamente inviável a própria formulação, contra eles, do pedido de explicações.

É que – não custa rememorar – o pedido de explicações qualifica-se como verdadeira ação de natureza cautelar destinada a viabilizar o exercício ulterior de ação principal (tanto a ação penal quanto a ação de indenização civil), cumprindo, desse modo, a interpelação judicial uma típica função instrumental inerente às providências processuais revestidas de cautelaridade.

(15)

Página 15 de 28 Não se desconhece que entre o pedido de explicações em juízo, de um lado, e a causa principal, de outro, há uma evidente relação de acessoriedade, pois a medida a que alude o art. 144 do Código Penal reveste-se, como precedentemente salientado, de um nítido caráter de instrumentalidade. Tal observação impõe-se, porque a incidência da imunidade parlamentar material – por tornar inviável o ajuizamento da ação penal de conhecimento e da ação de indenização civil, ambas de índole principal – afeta a possibilidade jurídica de formulação e, até mesmo, de processamento do próprio pedido de explicações, em face da natureza meramente acessória de que se reveste tal providência de ordem cautelar.

Em uma palavra: onde não couber a responsabilização penal e/ou civil do congressista por delitos contra a honra, porque amparado pela garantia constitucional da imunidade parlamentar material, aí também não se viabilizará a utilização, contra ele, da medida cautelar da interpelação judicial, porque juridicamente destituída de consequências tanto no âmbito criminal quanto na esfera civil.” Assim, não vejo como dar prosseguimento à presente ação cautelar.

Contudo, verifico que o interpelado apresentou diversos documentos com informações acerca de possíveis irregularidades supostamente praticadas pelo interpelante.

Além da resposta formal à presente interpelação, o notificado, Deputado Estadual Euclério Sampaio, fez constar diversas representações criminais, pedidos de providências, dentre outros, noticiando crimes tais quais: fraude em certame, prevaricação, tráfico de influência e corrupção (fls. 34/43), organização criminosa, fraude à licitação, lavagem de dinheiro, abuso de poder econômico em âmbito eleitoral (fls. 79/89); fraude processual, peculato (fls. 108/133), que se repetem às fls. 309/333, 374/398, 419/439, 454/455, 471/490 e 498/536, por parte do Secretário de Estado Octaciano Gomes de Souza Neto e outros agentes políticos.

Desta feita, diante do conteúdo dos documentos, determino a extração integral de cópias ao Ministério Público Estadual, à Procuradoria-Geral de Justiça do Estado do Espírito Santo e ao Ministério Público Federal para análise e adoção das providências que entender cabíveis. Intimem-se. Após o cumprimento das determinações acima, restituam-se os autos ao notificante.

51.

Ainda, segundo o STF: “

Cabe destacar

, ainda,

notadamente

em face do contexto

ora em exame,

que a garantia constitucional

da imunidade parlamentar material

também estende

o seu manto protetor

(1)

às entrevistas jornalísticas

,

(2)

à transmissão

, para a imprensa, do

conteúdo de pronunciamentos ou de relatórios produzidos nas Casas Legislativas (RTJ 172/400-401, Rel.

Min. ILMAR GALVÃO) e

(3)

às declarações

veiculadas

por intermédio

dos “mass media” ou dos

“social media ” (RTJ 187/985, Rel. Min. NELSON JOBIM), eis que – tal como bem realçado por

ALBERTO ZACHARIAS TORON (“Inviolabilidade Penal dos Vereadores”, p. 247, 2004, Saraiva) –

esta Suprema Corte

tem reafirmado

“(...) a importância do debate,

pela mídia

, das questões políticas

(16)

Página 16 de 28

protagonizadas pelos mandatários”,

além de haver enfatizado

“a ideia de que

as declarações à

imprensa

constituem o prolongamento natural

do exercício das funções parlamentares,

desde

que

se relacionem com estas”

(grifei)

.”

52.

Cumpre aqui verificar que o precedente acima exclui, até mesmo, a emissão de

opinião nas mídias modernas, fazendo falir o trecho da interpelação respondida, que diz:

“Por fim, ainda deve ser destacado que a entrevista concedida ao telejornal Bom Dia ES, da Rede de Televisão TV Gazeta, está sendo amplamente divulgada pelo interpelado, inclusive, através [sic] das suas mídias sociais pessoais, com o claro intuito de ofender a imagem dos agentes, e macular a honra objetiva alheia dos mesmos, em evidente extrapolação da sua atividade política, e, consequentemente, da sua imunidade parlamentar”.

53.

Assim, a veiculação virtual das opiniões também não exclui a imunidade

parlamentar.

54.

Fica reforçado, então, que a imunidade parlamentar, “visa proteger o parlamentar

de processos tendenciosos e prisões arbitrárias, buscando impedir o

processamento-perseguição político, a trama armada contra o parlamentar, destinada “...a expô-lo à execração

pública, a atemorizá-lo e até afastá-lo do Parlamento”.”

4

II.3 – DA INTERPELAÇÃO JUDICIAL. PRESSUPOSTOS E

FUNÇÃO. ACESSORIEDADE E INVIABILIDADE DA AÇÃO

PENAL

55.

O pedido de explicações tem natureza cautelar destinado a aparelhar ação

penal principal, sendo cabível nas modalidades de crimes contra a honra, é de caráter facultativo

e só se justifica nas situações de equivocidade, ambiguidade ou dubiedade.

56.

Considerando a imunidade parlamentar material tratada anteriormente que exclui

a responsabilização do parlamentar, seja civil, penal ou administrativamente, tornando inviável

o ajuizamento de ação judicial contra suas manifestações no exercício de suas funções

(17)

Página 17 de 28

parlamentares no decorrer de seu mandato, inviável também será esta medida que ora pretende

o requerente.

57.

Em julgamento recente na Suprema Corte, o Ministro Relator Celso de Mello,

nos autos da Petição nº 8.199/DF de 21/05/2019, conclui:

“Onde não couber a responsabilização penal e/ou civil do congressista por delitos contra a honra, porque amparado pela garantia constitucional da imunidade parlamentar material, aí também não se viabilizará a utilização, contra ele, da medida cautelar da interpelação judicial, porque juridicamente destituída de consequências tanto no âmbito criminal quanto na esfera civil.

Esse entendimento – que acentua o caráter de instrumentalidade, de acessoriedade e de consequente dependência da interpelação judicial – encontra apoio em autorizado magistério doutrinário (DAMÁSIO E. DE JESUS, “Direito Penal: Parte Especial”, vol. 2/235, item n. 4, 26ª ed., 2004, Saraiva; JULIO FABBRINI MIRABETE, “Código Penal Interpretado”, p. 1.139, item n. 144.1, 5ª ed., atualizada por Renato N. Fabbrini, 2005, Atlas; FERNANDO CAPEZ, “Curso de Direito Penal: Parte Especial”, vol. 2/268, item n. 4, “d”, 2ª ed., 2003, Saraiva; FREDERICO ABRAHÃO DE OLIVEIRA, “Crimes contra a Honra”, p. 100, item n. 2.4.2, 2ª ed., 1996, Sagra-Luzzatto), valendo referir, no ponto, ante a extrema pertinência de suas observações, a lição de CELSO DELMANTO, ROBERTO DELMANTO, ROBERTO DELMANTO JÚNIOR e FÁBIO M. DE ALMEIDA DELMANTO (“Código Penal Comentado”, p. 287, 5ª ed., 2000, Renovar): “ Entendemos que o pedido de explicações pressupõe a viabilidade de uma futura ação penal. Por isso, não se pode admitir a interpelação se, por exemplo, a eventual ofensa está acobertada pela exclusão do crime (CP, art. 142) ou a punibilidade já se acha extinta (CP, art. 107).” (grifei)”

58.

Dessa forma, resta claro, em face das razões expostas, que revela-se inadmissível

a presente interpelação judicial, entendendo-se pela não possibilidade ao seu regular

prosseguimento.

(18)

Página 18 de 28

II.4 DOS PRECEDENTES ERGUIDOS COMO PARADIGMA, QUE

BUSCAM RELATIVIZAR A IMUNIDADE PARLAMENTAR.

59.

O parquet utiliza alguns precedentes para i) buscar viabilizar a interpelação judicial,

apontando um suposto interesse, na modalidade adequação da própria interpelação e ii) buscar

viabilizar a interpelação, apontando um suposto interesse, na modalidade necessidade, ou

mesmo a possibilidade do pedido, da suposta ação penal que diz pretender.

60.

Sobre os precedentes referentes ao i) interesse-adequação da interpelação, invoca

os julgados TRF 1ª Região Pet 0001433-44.2018.4.01.0000 e TJGO IntJud

80371-95.2018.8.09.0000, matéria acerca da qual os argumentos tecidos nos itens precedentes já são

suficientes.

61.

Já sobre os precedentes referentes ao ii) interesse-necessidade, ou possibilidade

do pedido, da ação futura, foram invocados os julgados STF Pet-AgR 4.444-4, STF Pet 6156 e

TJMG APCR 1.0301.15.013841-2.

62.

Para esses paradigmas são necessárias algumas digressões, porque buscam

relativizar a prerrogativa do Deputado Estadual, o que deve ser tratado cum grano salis.

63.

O primeiro julgado tem a seguinte ementa:

26/11/2008

TRIBUNAL PLENO

AG.REG.NA PETIÇÃO 4.444-4 DISTRITO FEDERAL RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO

AGRAVANTE(S): MÁRCIO ARAÚJO DE LACERDA

ADVOGADO(A/S):ANDRÉ RODRIGUES COSTA OLIVEIRA E OUTRO(A/S) AGRAVADO(A/S):LEONARDO QUINTÃO

E M E N T A: INTERPELAÇÃO JUDICIAL - PEDIDO DE EXPLICAÇÕES AJUIZADO CONTRA DEPUTADO FEDERAL (CP, ART. 144) – POSSIBILIDADE DESSA MEDIDA CAUTELAR, NÃO OBSTANTE A GARANTIA DA IMUNIDADE PARLAMENTAR, POR SE TRATAR DE CONGRESSISTA-CANDIDATO – IMPUTAÇÕES ALEGADAMENTE OFENSIVAS - AUSÊNCIA, NO ENTANTO, DE DUBIEDADE, EQUIVOCIDADE OU AMBIGÜIDADE – INEXISTÊNCIA DE DÚVIDA OBJETIVA EM TORNO DO CONTEÚDO MORALMENTE OFENSIVO DAS

(19)

Página 19 de 28 AFIRMAÇÕES - INVIABILIDADE JURÍDICA DO AJUIZAMENTO DA INTERPELAÇÃO JUDICIAL, POR FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.

COMPETÊNCIA PENAL ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA O PEDIDO DE EXPLICAÇÕES.

- A competência penal originária do Supremo Tribunal Federal, para processar pedido de explicações em juízo, deduzido com fundamento no Código Penal (art. 144), somente se concretizará quando o interpelado dispuser, “ratione muneris”, da prerrogativa de foro, perante a Suprema Corte, nas infrações penais comuns (CF, art. 102, I, “b” e “c”).

PEDIDO DE EXPLICAÇÕES CONTRA PARLAMENTAR QUE É CANDIDATO: POSSIBILIDADE DE SEU AJUIZAMENTO.

- A garantia constitucional da imunidade parlamentar em sentido material (CF, art. 53, “caput”) – destinada a viabilizar a prática independente, pelo membro do Congresso Nacional, do mandato legislativo de que é titular – não se estende ao congressista, quando, na condição de candidato a qualquer cargo eletivo, vem a ofender, moralmente, a honra de terceira pessoa, inclusive a de outros candidatos, em pronunciamento motivado por finalidade exclusivamente eleitoral, que não guarda qualquer conexão com o exercício das funções congressuais. Precedentes. - O postulado republicano – que repele privilégios e não tolera discriminações – impede que o parlamentar –candidato tenha, sobre seus concorrentes, qualquer vantagem de ordem jurídico-penal resultante da garantia da imunidade parlamentar, sob pena de dispensar-se, ao congressista, nos pronunciamentos estranhos à atividade legislativa, tratamento diferenciado e seletivo, capaz de gerar, no contexto do processo eleitoral, inaceitável quebra da essencial igualdade que deve existir entre todos aqueles que, parlamentares ou não, disputam mandatos eletivos. Precedentes: Inq 1.400-QO/PR, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno), v.g..

- Conseqüente possibilidade jurídica de o congressista- -candidato sofrer, em tese, interpelação judicial para os fins e efeitos a que se refere o art. 144 do Código Penal, desde que atendidos os requisitos que condicionam a formulação do pedido de explicações em juízo.

NATUREZA E FINALIDADE DO PEDIDO DE EXPLICAÇÕES EM JUÍZO. - O pedido de explicações constitui típica providência de ordem cautelar, destinada a aparelhar ação penal principal tendente a sentença penal condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo, tutela cautelar penal, visando a que se esclareçam situações revestidas de equivocidade, ambigüidade ou dubiedade, a fim de que se viabilize o exercício futuro de ação penal condenatória.

A notificação prevista no Código Penal (art. 144) traduz mera faculdade processual sujeita à discrição do ofendido. E só se justifica na hipótese de ofensas equívocas.

- O pedido de explicações em juízo acha-se instrumentalmente vinculado à necessidade de esclarecer situações, frases ou expressões, escritas ou verbais, caracterizadas por sua dubiedade, equivocidade ou ambigüidade. Ausentes esses requisitos condicionadores de sua formulação, a interpelação judicial, porque desnecessária, revela-se processualmente inadmissível.

- Onde não houver dúvida objetiva em torno do conteúdo moralmente ofensivo das afirmações questionadas ou, então, onde inexistir qualquer incerteza a propósito dos destinatários de tais declarações, aí não terá pertinência nem cabimento a interpelação judicial, pois ausentes, em tais hipóteses, os pressupostos necessários à sua utilização. Doutrina. Precedentes.

(20)

Página 20 de 28 Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos e nos termos do voto do Relator, em negar provimento ao recurso de agravo. Ausentes, licenciado, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa e, neste julgamento, o Senhor Ministro Marco Aurélio e a Senhora Ministra Ellen Gracie.

Brasília, 26 de novembro de 2008.

64.

Nesse julgado utilizado como paradigma é de se ver que o substrato fático não se

coaduna com aquele exposto pelo Ministério Público Estadual no presente caso.

65.

De acordo com o precedente, a guarda da imunidade parlamentar só foi baixada

porque o congressista era, concomitantemente, candidato [do inteiro teor do julgado: “

Essa é a

razão

pela qual

não incide

, na espécie,

a garantia

da imunidade parlamentar em sentido material (o

requerido,

embora

congressista,

é candidato

),

o que torna possível

, analisada a questão

sob essa

específica

perspectiva,

o conhecimento

da presente ‘interpelação criminal’”].

66.

Em razão disso, a imunidade relativizada, por assim dizer, não foi do deputado

em si, mas do candidato que, abusando da prerrogativa, fez pender o equilíbrio que deve haver

entre os direitos dos candidatos de uma eleição (“O postulado republicano – que repele

privilégios e não tolera discriminações – impede que o parlamentar-candidato tenha,

sobre seus concorrentes”).

67.

A ementa, por si, já é clara, por só admitir a “POSSIBILIDADE DESSA

MEDIDA CAUTELAR, NÃO OBSTANTE A GARANTIA DA IMUNIDADE

PARLAMENTAR, POR SE TRATAR DE CONGRESSISTA-CANDIDATO”.

68.

Além disso, para retirar o véu da imunidade, a palavra deve ser usada pelo

congressista-candidato para fim eleitoral e sem guardar relação com o mandato:

“A garantia constitucional da imunidade parlamentar em sentido material (CF, art. 53, “caput”) – destinada a viabilizar a prática independente, pelo membro do Congresso Nacional, do mandato legislativo de que é titular – não se estende ao congressista, quando, na condição de candidato a qualquer cargo eletivo, vem a ofender, moralmente, a honra de terceira pessoa, inclusive a de outros candidatos, em pronunciamento motivado por finalidade exclusivamente eleitoral, que não guarda qualquer conexão com o exercício das funções congressuais”.

(21)

Página 21 de 28

69.

O afastamento dos casos é óbvio porque, como diz o relatório do julgado,

naquele momento “tanto o interpelante quanto o interpelado são, atualmente, candidatos ao cargo de Prefeito do

Município de Belo Horizonte, no pleito de 2008, em sua disputa de 2º Turno”.

70.

No caso do aqui interpelado, não há contexto ou disputa eleitoral aptos a afastar a

imunidade parlamentar do Deputado Estadual, nem poderia haver, seja pela natureza do MPES,

seja pelo ano corrente, no qual foram proferidas as opiniões (hiato entre as eleições presidenciais de

2018 e municipais de 2019).

71.

Por outro lado, o inteiro teor do voto condutor afirma que a condição de

deputado inviabiliza “por si só” a interpelação, não fosse a variável do contexto eleitoral

(existente apenas no paradigma, e não aqui):

O fato de o ora requerido ostentar a condição de Deputado Federal poderia inviabilizar, por si, a formulação da presente ‘interpelação criminal’, eis que inadmissível, contra os congressistas, a instauração de processo de natureza penal ou de caráter civil, ‘por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos’ (CF, art. 53, ‘caput’).

72.

O entendimento antecipa, até mesmo, a inviabilidade da suposta e futura ação

penal quando o Deputado não está em contexto eleitoral, ligando a impossibilidade da

interpelação em razão da impossibilidade de procedência da ação penal contra deputado

agraciado pela imunidade:

Tal observação se impõe, porque a incidência da imunidade parlamentar material - por tornar inviável o ajuizamento da ação penal de conhecimento e da ação de indenização civil, ambas de índole principal - afeta a possibilidade jurídica de formulação e, até mesmo, de processamento do próprio pedido de explicações, em face da natureza meramente acessória de que se reveste tal providência de ordem cautelar, tal como esta Suprema Corte tem reiteradamente proclamado e advertido (Pet 3.205/DF, Rel. Min. EROS GRAU – Pet 3.585/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI – Pet 3.588/DF, Rel. Min. NELSON JOBIM - Pet 3.686/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Pet 4.199/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

73.

Partindo para outro julgado utilizado pelo MPES, trata-se do precedente STF Pet

6156 ementado da seguinte maneira:

(22)

Página 22 de 28 Queixa-crime. Ação penal privada. Competência originária. Crimes contra a honra. Calúnia. Injúria. Difamação. 2. Art. 53 da Constituição Federal. Imunidade parlamentar material. A imunidade é absoluta quanto às manifestações proferidas no interior da respectiva casa legislativa. O parlamentar também é imune em relação a manifestações proferidas fora do recinto parlamentar, desde que ligadas ao exercício do mandato. Precedentes. Possível reinterpretação da imunidade material absoluta, tendo em vista a admissão de acusação contra parlamentar em razão de palavras proferidas no recinto da respectiva casa legislativa, mas supostamente dissociadas da atividade parlamentar – PET 5.243 e INQ 3.932, rel. min. Luiz Fux, julgados em 21.6.2016. Caso concreto em que, por qualquer ângulo que se interprete, as declarações estão abrangidas pela imunidade. Declarações proferidas pelo Deputado Federal querelado no Plenário da Câmara dos Deputados. Palavras proferidas por ocasião da prática de ato tipicamente parlamentar – voto acerca da autorização para processo contra a Presidente da República. Conteúdo ligado à atividade parlamentar. 3. Absolvição por atipicidade da conduta. (Pet 6156, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 30/08/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-207 DIVULG 27-09-2016 PUBLIC 28-09-2016)

74.

O julgado acima foi utilizado pelo MPES no intuito de afirmar que declarações

dadas fora do contexto do mandato não estão albergadas pela imunidade. Porém, no

paradigma, o Eg. STF concluiu que as afirmações dadas pelo deputado federal réu naquele

processo se deram no exercício da atividade parlamentar. E como se isso não fosse o suficiente,

a entrevista objeto dos autos foi concedida dentro da Casa Legislativa, sobre um projeto de lei

votado, em que o Parlamentar demonstrava sua irresignação em relação à atividade legislativa

desenvolvida sobre referido projeto. Com todas as vênias, impossível se cogitar que os atos

praticados exacerbam as funções parlamentares do Expoente.

75.

E qual foi o ato do deputado federal naquele processo, considerado legal pelo Eg.

STF? Justamente a fundamentação de seu voto, as razões pelas quais proferiu voto contrário

quando chamado a se manifestar.

76.

Ao se ler o voto condutor do STF Pet. 6156, observa-se

“[...] As palavras do querelado criticaram o processo de acusação da Mandatária, assim como as pessoas nele envolvidas.

O querelante foi alvo dos impropérios precisamente por ser, na qualidade de Presidente da Câmara dos Deputados, a autoridade responsável por receber a denúncia popular e encaminhá-la à deliberação legislativa. O nexo de conteúdo entre a atividade parlamentar e a manifestação resta muito claro”.

(23)

Página 23 de 28

77.

O caso da presente interpelação é mais brando que o julgado pelo STF: o

Deputado Federal réu no STF Pet. 6156 acusou seu par de agir em “conjunto com

‘torturadores, covardes, analfabetos políticos e vendidos’”, ter o “apoio de ‘torturadores,

covardes, analfabetos políticos e vendidos’” e ser “’ladrão’ e ‘canalha’”.

78.

Embora tenha atuado estritamente em sua atividade parlamentar tanto quanto o

deputado federal acima, o interpelado jamais proferiu ditos impropérios, nem mesmo

semelhantes, mantendo também o necessário decoro.

79.

Afinal, o que pode ser mais relacionado à atividade legislativa que votar uma lei,

debater com os pares sobre seus votos, argumentar e dar justificativas e opiniões ao eleitorado

sobre os textos normativos votados? E mais, dar entrevista na condição de Deputado Estadual,

dentro da Assembléia Legislativa?

80.

A única diferença entre os dois casos é o local onde foram proferidas as palavras:

lá (STF Pet. 6156), plenário; aqui, entrevista (meio legítimo de conexão entre o parlamentar e o

povo, a quem deve prestar contas).

81.

Porém, essa diferença é desimportante quando a natureza das declarações é

relacionada ao voto, ponto resolvido pelo mesmo precedente STF Pet. 6156 invocado pelo

MPES, sendo afirmada a imunidade “em relação a manifestações proferidas fora do recinto

parlamentar, desde que ligadas ao exercício do mandato“.

82.

Então, tanto lá (STF Pet. 6156), como aqui, “por qualquer ângulo que se

interprete, as declarações estão abrangidas pela imunidade”.

83.

O mesmo ocorre para o caso do TJMG:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - QUEIXA-CRIME - CRIMES CONTRA A HONRA - CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA - MANIFESTAÇÃO NO ÂMBITO DA ATUAÇÃO FISCALIZATÓRIA DO QUERELADO - IMUNIDADE PARLAMENTAR MATERIAL - DOLO ESPECÍFICO NÃO

(24)

Página 24 de 28 - A responsabilização criminal do querelado quando acobertado pela imunidade parlamentar material só deverá subsistir se constatado que suas declarações ultrapassaram o âmbito de sua atuação política revelando o intuito precípuo de desonrar o querelante, imputando-lhe falsamente a prática de crime, ofendendo-lhe ou maculando sua reputação.

- Para a configuração do delitos contra a honra, imperioso estar a ação direcionada a um determinado fim de agir, consistente na intenção de ofender, de magoar, de macular a honra objetiva alheia, ou seja, o agente deve atuar imbuído de animus caluniandi; ser plenamente perceptível sua vontade específica de macular a imagem do ofendido (animus diffamandi); estar clara sua intenção de feri-lo e magoá-lo (animus injuriandi). (TJMG - Apelação Criminal 1.0301.15.013841-2/001, Relator(a): Des.(a) Jaubert Carneiro Jaques , 6ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 20/02/2018, publicação da súmula em 07/03/2018)

84.

Esse precedente do Eg. TJMG deixa ainda mais clara a posição da jurisprudência

brasileira acerca do entendimento amplo que deve ser dado à imunidade parlamentar.

85.

Segundo o relatório do acórdão que manteve a absolvição proferida no processo,

o parlamentar, no exercício do mandato de vereador, praticou ato que não tem a ver com a

fundamentação de seu voto em si, opinião ou palavra.

86.

Nesse caso, o vereador “querelado elaborou uma carta dirigida às autoridades e

ao povo de São Joaquim de Bicas/MG, afirmando que o querelante [também agente público]

teria alterado sua própria remuneração, recebendo exorbitantes gratificações sem nenhuma

justificativa”.

87.

O fato atribuído ao querelante não era verdadeiro, verificando-se que “os

acréscimos na remuneração [do querelante] eram regulares, tendo o querelado deturpado

intencionalmente os fatos e induzido o povo de São Joaquim de Bicas a acreditar que o

querelante, ora Prefeito do Município, teria adulterado sua remuneração”.

88.

Mesmo num cenário não relacionado à atividade precipuamente legislativa

(elaboração e votação de leis) e com veiculação de dados alterados, foi garantida a prerrogativa

da imunidade ao vereador:

Na verdade, qualquer cidadão pode e deve exigir prestação de contas do Poder Público, garantido o acesso à informação, sendo a transparência uma decorrência dos

(25)

Página 25 de 28 princípios da administração pública - Art. 37 da CF. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

89.

Assim, aqui deve ser verificada a finalidade do parlamentar em emitir sua opinião,

presumindo sua boa-fé, salvaguardando seu direcionamento ao eleitorado, como foi feito no

próprio precedente do MPES, acima articulado:

A opinião do Vereador também pode ser interpretada como a preocupação em resguardar a boa administração das verbas públicas e a regularidade da concessão de benefícios remuneratórios. Assim, a manifestação do querelado, enquanto Vereador do município de São Joaquim de Bicas/MG, encontra-se abarcada pela imunidade material parlamentar.

90.

Então, a conclusão para os todos os casos invocados pelo MPES deve ser aqui

aplicada: a reafirmação da imunidade.

91.

A uma porque o parquet não descreve em quais medidas os fatos não teriam

relação com o exercício do mandato do deputado. A duas porque, embora não estivesse

votando, o parlamentar deu declarações acerca da votação de leis que tramitaram na ALES,

bem como deu esclarecimentos sobre os fundamentos de seus votos acerca de tais projetos

postos em pauta.

92.

Dito isso, mesmo os precedentes trazidos pelo MPES exigem respeito amplo à

imunidade parlamentar, o que deve ser aqui observado por bem à democracia que vigora no

país.

II.5 – DA IMPOSSIBILIDADE DE SE INFERIR CRIME NAS

DECLARAÇÕES DO DEPUTADO:

(26)

Página 26 de 28

93.

Não é cabível a interpelação, como preparatória de eventual ação penal, quando

não há, em tese, crime.

5

94.

Além disso, se faz necessário a existência de elemento subjetivo específico, qual

seja, a vontade deliberada de imputar crime que se sabe falso a alguém, de malferir a reputação

de alguém, de modo injusto.

95.

Corroborando com esse entendimento, temos diversos julgados jurisprudenciais

que trazemos a baila:

RECURSO EM HABEAS CORPUS. CALÚNIA. PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA E INÉPCIA DA DENÚNCIA. ADVOGADO. IMUNIDADE MATERIAL. AUSÊNCIA DA INEQUÍVOCA INTENÇÃO DOLOSA. CONDUTAS ATÍPICAS. INICIAL ACUSATÓRIA QUE NÃO LOGROU DEMONSTRAR O DOLO ESPECÍFICO DE OFENDER A HONRA DE OUTREM. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.(...) 1. No caso, o Ministério Público não demonstrou, na exordial acusatória, o especial fim de agir, qual seja, o dolo específico de caluniar; vale dizer, não se pode inferir, de quaisquer das expressões proferidas pelo recorrente, a ocorrência do animus caluniandi. 2. Justamente porque a inexistência do elemento subjetivo aos delitos contra a honra afasta a própria caracterização formal do crime de calúnia – o qual exige, sempre, a presença do dolo específico -, não se tem como aperfeiçoado o delito em questão. 3. Expressões eventualmente contumeliosas, quando proferidas em momento de exaltação, bem assim no exercício do direito de crítica ou de censura profissional, ainda que veementes, atuam como fatores de descaracterização do elemento subjetivo peculiar aos tipos penais definidores dos crimes contra a honra. Precedentes. (RHC 201400207201. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, STJ – SEXTA TURMA, DJE DATA: 07/10/2014..DTPB:.)

96.

Como se nota, em suas declarações na entrevista, o ora interpelado não

imputou crime a ninguém, apenas expos sua opinião acerca do que já tinha explanado em

Plenário sobre a aprovação de projetos que criaram mais de 300 cargos comissionado no

(27)

Página 27 de 28

Ministério Público Estadual e que revogaram dispositivos que determinavam prestação de

contas e controle dos cargos comissionados de gabinetes parlamentares da Assembleia

Legislativa, conforme suas próprias convicções, formuladas a partir da fiscalização

inerente a suas prerrogativas e que no exercício de seu mandato a faz rotineiramente.

97.

Desse modo, não houve, nas declarações do interpelado, imputação de fato

previsto como crime a quem quer que seja, quanto menos houve elemento subjetivo específico,

pois, se não há imputação de crime não há como se falar em imputação de crime sabidamente

falso, razão pela qual não se pode ventilar a ocorrência de calúnia no caso em concreto. Eis o

teor do artigo 138 do Código Penal:

Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§1° - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. §2° - É punível a calúnia contra os mortos.

98.

Destarte, não se pode extrair das declarações do interpelado o animus de ofender

quem quer que seja.

99.

Logo, tampouco se pode cogitar o cometimento de crime de injúria, previsto no

artigo 140 do Código Penal: “Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro”. Dessa

forma, verifica-se a completa ausência de fundamento jurídico apto a amparar o

prosseguimento da presente interpelação, o que justifica o seu não conhecimento.

100.

Mais uma vez lança-se mão do precedente trazido pelo MPES - TJMG -

Apelação Criminal 1.0301.15.013841-2/001, citando o escólio do professor Guilherme de

Souza Nucci:

Saliente-se que, quanto aos crimes previstos pelos arts. 138, 139 e 140 do CP, respectivamente calúnia, difamação e injúria, ensina o respeitado doutrinador Guilherme de Souza Nucci, em sua obra Manual de Direito Penal, 7ª edição:

"Caluniar é fazer uma acusação falsa, tirando a credibilidade de uma pessoa no seio social. (...) Melhor seria ter nomeado o delito como sendo 'calúnia', descrevendo o

(28)

Página 28 de 28 modelo legal de conduta da seguinte forma: 'Atribuir a alguém, fato definido como crime'. Isso é caluniar" (fl. 689)

"Difamar significa desacreditar publicamente uma pessoa, maculando-lhe a reputação (...) Assim, difamar uma pessoa implica divulgar fatos infamantes à sua honra objetiva, sejam eles verdadeiros ou falsos. (fl. 692)

"Injuriar significa ofender ou insultar (vulgarmente, xingar). No caso presente, isso não basta. É preciso que a ofensa atinja a dignidade (respeitabilidade ou amor próprio) ou o decoro (correção moral ou compostura) de alguém. Portanto, é um insulto que macula a honra subjetiva, arranhando o conceito que a vítima faz de si mesma." (fl. 694)

Para configuração do elemento subjetivo nos delitos em comento há a necessidade de: estar a ação direcionada a um determinado fim de agir, consistente na intenção de ofender, de magoar, de macular a honra objetiva alheia, ou seja, o agente deve atuar imbuído de animus caluniandi; ser plenamente perceptível sua vontade específica de macular a imagem do ofendido (animus diffamandi); estar clara sua intenção de feri-lo e magoá-lo (animus injuriandi).

101.

A interpelação carece do apontamento de todo esse profundo contexto da

subjetividade que envolve os crimes contra a honra, demonstrando ser natimorta qualquer ação

que possa seguir a presente cautelar.

III. DOS PEDIDOS.

Diante de todo o exposto, pugna que seja negado seguimento à presente interpelação, pelos

seguintes fundamentos: (a) pela ilegitimidade manifesta do Interpelante; (b) pela incidência do

nemo potesti venire contra factum proprium, o que acarreta a ausência de interesse processual; (c) pela

imunidade parlamentar; (d) pela inépcia, diante da atipicidade dos fatos narrados na exordial.

Pede deferimento,

Vitória-ES, 03 de setembro de 2018.

LEONARDO MIRANDA MAIOLI

OAB/ES 15.739

Referências

Documentos relacionados

(“XP Investimentos ou XP”) de acordo com todas as exigências previstas na Instrução CVM nº 483, de 6 de julho de 2010, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar

IBX: Índice composto pelas ações mais negociadas na Bolsa e ponderadas pelo valor de mercado das ações disponíveis para negociação nos últimos 12 meses.

Ervas para banho de descarrego: Malva Rosa, Mil Folhas, Sete Sangrias, Folhas de Aroeira, Folhas de fava de Quebrante, Folhas de Samambaia, Folhas de Palmeira, Folhas de

Holografia e música eletrônica" de Ivone Mendes Richter i Federico Richter, celebrada a Espaço N.O., Galeria Chaves; sala 31, Porto Alegre, del [→]... Autor

REFERENCIA Descrição Configuração Fibra Optica Conector Vitronics FPID4-ST 4 canais duplex transmissor encerramento contacto Parede 1 fibra SM 18dB ST/FC/SC 1839,6. FPID4-ST-B

Uma Guarda Civil voltada à proteção de direitos fundamentais do cidadão e da cidadã, atuando num território marcado por altíssimos índices de vulnerabilidade

1. Podem apresentar candidatura para participar na Exposição pessoas individuais ou coletivas, que exerçam a sua atividade de acordo com os objetivos da Exposição e se comprometam

Note: the 4601, 4602, 4602SW, 4610SW, 4620, 4620SW, 4621SW, 4622SW, 4625SW, 4630SW, and 4690 IP Telephones are Class B products and the preceding Warning does not apply to