O fim da guerra
do fim do mundo
O
GENERAL
A
RTUR
O
SCAR
,
COMANDANTE DA
4ª. E
XPEDIÇÃO
,
RELATA EM OFÍCIO AO MARECHAL
B
ITTENCOURT
,
MINISTRO
Estado da Bahia, em 9 de outubro de 1897
Ao Cidadão Marechal Carlos Machado de Bittencourt D. Ministro da Guerra
Remeto-vos, com o presente ofício, a parte relativa ao assalto à cidadela de Canudos e combate ferido em 1º. do corrente mês.
Saúde e Fraternidade
Artur Oscar Andrade Guimarães
Gal– de Brigada
Estado da Bahia, em 5 de outubro de 1897
Ao Cidadão Marechal Carlos Machado Bittencourt, D. Ministro da Guerra
Parte
A necessidade de evitar que o inimigo continuasse, ainda que com dificuldade, a utilizar-se do Rio Vasa-Barris, único recurso d’água de que dispunha, a conveniência de cortar a ação mortífera de sua fuzilaria partida das igrejas velha e nova, onde entrincheirava-se e causava-nos consideráveis baixas e, ainda mais, para reduzir o perímetro do sítio a que estava sujeito, levou-me a determinar um novo ata-que à cidadela de Canudos.
Às seis horas da manhã, conforme estava ordenado, a artilharia rompeu vivíssimo fogo ao re-duto inimigo, cessando meia hora depois, ao toque de comando em chefe, infantaria avançar.
A 6ª. Brigada da 2ª. Coluna, composta dos 4º. batalhão de infantaria, disposto na margem direi-ta do rio, 29º. e 39º., na trincheira ao sul da cidadela, deveria assaldirei-tar, simuldirei-taneamente com a 3ª. Briga-da Briga-da 1ª. Coluna, composta dos 5º., 7º., 25º. e 35º. Batalhões, a retaguarBriga-da e flancos Briga-da igreja
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nova, carregando a baioneta, afim de desalojar o inimigo, fortemente entrincheirado.
Dado o assalto, o inimigo internou-se nas casas do centro, as únicas que ocupava, sendo difícil aos soldados carregar a baioneta, pela latada a dentro, diante dos embaraços que ofereciam as casas agru-padas e as cercas existentes, ficando apenas livre três entradas onde os nossos camaradas, nas investidas, eram recebidos a descargas e a nutrido fogo.
Assim protegido, o inimigo ficara de posse de algumas trincheiras que não foi possível tomar no momento, embora as forças assaltantes recebessem o auxílio da 1ª. e 5ª. Brigadas.
O inimigo construiu dentro das casas uns fossos que ficavam abaixo do solo, junto das pare-des que seteiravam e dali faziam um fogo mortalmente certeiro, entretanto que ficavam a salvo de nos-sos fogos. Demais, unidas as casas umas às outras e comunicando-se por subterrâneos, tomada uma
de-las, escoava-se para outra, donde algumas vezes já havia sido desalojada.
Conquanto caíssem, vítimas do dever militar e patriótico, muito dos nossos bons companhei-ros, realizou-se o que eu almejava e que era tomar ao inimigo a aguada de que dispunha para reduzi-lo à sede, as igrejas e inúmeras casas e fojos onde abrigava-se e fugia a fuzilaria de nossas linhas.
Às sete e meia horas da manhã, sendo mandar tocar 5º. Corpo de Policia da Bahia, avançar, es-te tomou a posição que lhe foi indicada a retaguarda da igreja nova e, reforçado depois com o 1º. do Es-tado do Pará, firmaram esta posição, tendo sido, às onze horas, colocada a bandeira da República nas ruínas da mencionada igreja, tocando as bandas de música o Hino Nacional, seguidas pela marcha de continência das cornetas, tambores e clarins e saudada pelo estampido dos canhões e gritos de entusias-mo que acompanhavam às cargas a baione-
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ta e de calorosas vivas à República.
Eis, resumidamente, o que foi o assalto efetuado, em 1º. do corrente, a cidadela de Canudos e que trouxe ao inimigo o seu completo aniquilamento.
Desde então a fome e a sede haviam de reduzi-lo a render-se ou morrer.
É impossível descrever a intensidade dos fogos inimigos e o cruzamento de balas que sofriam as nossas forças, que os iam desalojando, ora a bala, ora em brilhantes cargas a baioneta.
Como sempre, nesta campanha, os nossos bravos soldados foram sublimes de valor e entusias-mo. Avançava uma força numerosa e, em pequeno espaço de tempo, diminuía de metade, mas não recuava.
Também, como era natural, a raiva tocava a seu auge, e tanto o inimigo como os nossos, es-queciam-se da misericórdia. Fuzilavam-se a dois passos de distância ou matavam-se a baioneta, a ma-chado, a faca, por todas as
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formas, enquanto que as casas conquistadas, verdadeiros redutos, eram devastadas pelo incêndio. Ao meio dia, definidas as nossas conquistas, aí colocaram-se as nossas forças, entrincheirando-se. Estava terminado o combate, restando ao inimigo poucas casas e fojos.
Os Generais João da Silva Barbosa, Comandante da 1ª. Coluna e Carlos Eugenio D’Andrade Guimarães, Comandante da 2ª., colocados, este na bateria 7 de setembro e aquele na 4ª. bateria, aten-diam às peripécias da luta, providenciando acertadamente. E, apesar dos laços de parentescos que ligam-me ao General Carlos Eugenio, devo declarar que, tanto como o bravo General João da Silva Barbosa, portou-se com valor e tino.
Os Coronéis, Antonio Olympio da Silveira, Comandante da Brigada de Artilharia, Joaquim Manoel de Medeiros, João Cesar Sampaio e Tenentes-Coroneis Firmino Lopes Rego e Emygdio Dan-tas Barreto, Comandantes da 1ª., 6ª., 4ª. e 3ª. Brigadas de Infantaria, portaram-se com bravura, salientan-do-se, dentre eles, o destemido Coronel João Cesar Sampaio, que revelou altas qualidades de excelente tático, operando na posição mais arriscada em que o inimigo estava mais pertinaz.
Os batalhões 4º., 5º., 7º., 25º., 29º., 35º. e 39º. portaram-se com bravura e recomendo os nomes dos oficiais a eles pertencentes que mais se destinguiram, mencionados nas partes de combates das Co-lunas e respectivas Brigadas.
A Brigada Policial, comandada pelo Coronel José Sotero de Menezes, composta dos 1º. e 2º. Corpos do Estado do Pará e 1º. do Amazonas,
tornou-***
se digna dos maiores encômios pela sua bravura e constante dedicação; não esquecendo de mencionar o valoroso 5º. Corpo de Polícia da Bahia, a cuja bravura, já comprovada, tornou-se digno de reconheci-mento nacional.
Sinto o dever de inscrever na presente parte, dentre aqueles que heroicamente pagaram com a sua vida, esse imposto glorioso que a nossa Pátria exige, nas horas de sacrifício, os nomes dos bravos, Tenente-Coronel Antonio Tupy Ferreira Caldas, Comandante da 5ª. Brigada, cuja espada valia uma ga-rantia para a República, e Majores José Moreira de Queiróz e Henrique Severiano da Silva e Capitão Antonio Manoel D’Aguiar e Silva, Assistente do Comando da 2ª. Coluna, que tombaram no campo de honra, firmando assim, naquele exemplo de valor, que o Exército Nacional tem abnegados que sabem morrer no seu posto.
Todo o meu Estado-Maior cumpriu muito bem o seu dever, tendo unicamente de utilizar-me dos serviços do Capitão Abilio Augusto de Noronha e Silva, meu assistente d’Ajudante-General, 1º. Tenente Sebastião Lacerda D’Almeida e Tenente
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José Antonio Dourado, ajudante de campo.
Sanguinolento foi esse combate; mas, também foi um novo padrão de glorias para o Exército Brasileiro. Foi mais um sacrifício feito pelos nossos bravos por amor à República, que tanto estremece-mos e pela qual nos julgaestremece-mos honrados, servindo-a com armas na mão.
Contamos infelizmente 467 baixas, entre mortos e feridos, como consta das relações juntas; mas o inimigo perdeu o duplo, além de mulheres e crianças, em número de 900; perdeu posições, re-cursos, 600 armas, 4 canhões Krupp desmontados, caixas de guerra, cornetas, munição e 90 prisionei-ros, gravemente feridos.
É para lamentar que o inimigo fosse tão valente na defesa de causas tão abomináveis. Viva a República dos Estados-Unidos do Brasil!
Vivam as Forças expedicionárias no interior do Estado da Bahia!
Artur Oscar Andrade Guimarães
Monte Santo, 13 de outubro de 1897
Sr General Encarregado do Expediente da Guerra
Para que façais chegar às mãos do Sr Presidente da República, vos envio as inclusas partes do Sr General Comandante em Chefe, os comandantes das divisões, brigadas e corpos das Forças em operações neste Estado, referentes aos últimos combates que determinaram a vitória de Canudos.
Saúde e Fraternidade
Encarte da edição especial dos CADERNOS DELITERATURABRASILEIRA, números 13 e 14 (dez. 2002), que tem