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A PRÁTICA DO EDUCADOR SOCIAL DE RUA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RUA

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A PRÁTICA DO EDUCADOR SOCIAL DE RUA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RUA

Rodrigo Bravin Universidade Federal do Espírito Santo- UFES Mestrando em Educação RESUMO: Este trabalho pretende, a partir de uma revisão bibliográfica, discutir a

prática do educador social de rua com crianças e adolescentes em situação de rua baseado na pedagogia social de Paulo Freire que se fundamenta na construção de uma educação problematizadora e defende o diálogo como necessidade existencial, reconhecendo o educando como autor de sua história. Os educadores sociais, embasados na pedagogia social realizam abordagens junto às crianças e adolescentes em situação de rua, que, na maioria das vezes apresentam vínculos familiares rompidos e/ou fragilizados (socialmente, emocionalmente, espiritualmente e financeiramente). Essa prática busca estimular no público infanto-juvenil a estruturação de um projeto de vida e o despertar para a mudança da realidade que signifique o abandono da rua como espaço de moradia e sobrevivência.

Palavras-chave: Pedagogia social, Educador Social, Criança e Adolescente de Rua.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A realidade vivenciada por crianças e adolescentes em situação de rua tem se apresentado cada vez mais complexa e distante das políticas públicas, e é nesse espaço que a atuação do educador social se desenvolve, tendo ele um papel fundamental na orientação e formação de meninos e meninas. Na interação cotidiana construída entre educador social e criança e adolescente em situação de rua se estabelece a vivência/promoção de uma rede de conhecimentos, valores e princípios que propiciam momentos singulares no processo de reintegração e valorização desse público.

A atuação do Educador Social de rua se dá num contexto de acirramento da questão social com o crescimento da pobreza, marginalidade e violência buscando fundamentalmente a construção de um projeto histórico, no qual crianças e adolescentes possam sonhar e desejar uma nova vida e o abandono da rua como espaço de moradia.

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2 EDUCAÇÃO BANCÁRIA X EDUCAÇÃO PROBLEMATIZADORA

A atuação do educador social de rua sobre a realidade de vida dos meninos e meninas de rua se externa através de ações educativas, que podem ser diferenciadas de acordo com a maneira pela qual se realizam. Neste processo se destacam duas concepções opostas de educação, caracterizadas a partir da relação entre educação e o processo de humanização descrita em Freire citado por Gadotti (1989):

Na concepção bancária (burguesa), o educador é o que sabe e os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa e os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra e os educandos, os que escutam docilmente; o educador é o que opta e prescreve sua opção e os educandos, os que seguem a prescrição; o educador escolhe o conteúdo programático e os educandos jamais são ouvidos nessa escolha e se acomodam a ela; o educador identifica a autoridade funcional que lhe compete, com a autoridade do saber, que se antagoniza com a liberdade dos educandos, pois os educandos devem se adaptar as determinações do educador; e, finalmente o educador é sujeito do processo, enquanto os educandos são meros objetos. (FREIRE apud GADOTTI, 1989, p.9).

Nesta concepção o educando é concebido como ser passivo do processo de educação, destituído de qualquer saber, dependente do conhecimento transmitido pelo educador. A educação torna-se ato de depositar onde os educandos são recipientes e o “saber” uma doação do educador. Neste caso valoriza-se mais a sonoridade da palavra do que a sua força transformadora. “[...] Eis aí a concepção ‘bancária’ da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-guardá-los [...]” (FREIRE, 1987, p. 58).

Já a concepção chamada de problematizadora se funda na relação dialógica entre educador e educando, onde o diálogo é uma necessidade existencial que possibilita o aprendizado conjunto e o processo de saber é uma busca compartilhada.

Ao contrário da “bancária”, a educação problematizadora, respondendo a essência do ser da consciência, que é sua intencionalidade, nega os comunicados e existência a comunicação. Identifica-se com o próprio da consciência que sempre ser consciência de, não apenas quando se intenciona a objetos, mas também quando se volta sobre si mesma [...] já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de “transmitir” conhecimentos e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação “bancária” [...]. (FREIRE, 1987, p.67-8).

Não mais terá uma consciência compartimentada, moldada para receber depósitos, mas possuirá um pensamento crítico, questionador e capaz de entender que “[...] somente na comunicação tem sentido a vida humana [...]” (FREIRE, 1987, p. 64), na troca de saberes e experiência, não na hierarquização. “[...] que o pensar do educador somente

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ganha autenticidade na autenticidade do pensar dos educandos, mediatizados ambos pela realidade, portanto na intercomunicação [...]”. (FREIRE, 1987, p. 64).

3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO EDUCADOR SOCIAL DE RUA

Para Romans, Petrus e Trilla (2003) “o educador social precisa de uma série de competências que irá desenvolvendo no desempenho do trabalho que a instituição contratante lhe encomende." (ROMANS; PETRUS; TRILLA, 2003, p.124)

Desta forma, propõem três competências consideradas suscetíveis de serem melhoradas por meio de treinamento e formação, necessárias ao exercício profissional. Entre elas estão os conhecimentos (gerais e específicos).

Conhecimentos gerais [...] entenderemos esta preparação como a formação profissional de base imprescindível para conseguir desempenhar, com "profissionalismo", a educação social e que podem ser proporcionados através de estudos universitários [...]

Conhecimentos específicos [...] são suscetíveis de ser aprendidos ou melhorados por meio de formação, que deve permitir ao educador social enfrentar novas atividades. [...] conhecimento do meio (ROMANS; PETRUS; TRILLA, 2003, p. 125).

Esses conhecimentos se referem ao "saber fazer” profissional na intervenção dirigida à problemática da população atendida. Inclui também ao conhecimento de suas funções para intervir com seriedade nas tarefas que lhe são próprias, ou seja, trabalhando em equipe multidisciplinar colaborando na elaboração de respostas adequadas e integrais às demandas da população. Além disso, o conhecimento de suas capacidades e limitações no desempenho de seu trabalho, a fim de evitar situações constrangedoras que comprometam o bom desempenho das tarefas requisitadas deve ser destacado.

4 A PRÁTICA DO EDUCADOR SOCIAL NA RUA

A rua é um espaço transitório e imediato que torna crianças e adolescentes vulneráveis à violência iminente e impõe a necessidade de conseguir comida e outras coisas. Para Carvalho (2004), significa liberdade sem horários, sem responsabilidades e um espaço psicológico no qual os grupos têm histórias iguais e os mesmos problemas que os levaram para lá, possibilitando que se identifiquem. Acabam sentindo-se a vontade e são respeitados, isso dá força e estimula a permanência.

Lira (2003) considera a rua como um espaço articulado que convida o Educador para o embate. “[...] Não é mais aquele espaço solto, bagunçado, movimentado, mas sim um

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espaço onde as coisas estão definidas, onde os atores sociais executam e exercem os seus papéis de forma ordenada e correlacionada. (LIRA 2003, p. 210)”.

O principal trabalho do educador social será o de tentar despertar nas crianças e adolescentes o desejo pela mudança daquela realidade, o interesse pela construção de um projeto de vida que supere aquela situação imediata e parta para o campo dos desejos, dos sonhos, pois esse público enfrenta na rua.

[...] o repúdio social que o confina em estereótipos e estigmas que identificam sua pobreza com o vício e acumulam sobre sua pessoa toda a classe de imagens pejorativas de incapacidade e maldade, culpando-os por sua própria sorte [...] (GRACIANI, 1999, p. 110).

O educador social terá que se encaixar nessa sincronia, pois,

[...] ele é o estranho, o invasor, o de fora, aquele que vai alterar um determinado ritmo das coisas e trazer à tona, num aberto quadro de enfrentamento, questões que outros preferiram não ver, quanto mais enfrentar. O Educador Social contribuirá para deflagrar um processo que é ao mesmo tempo diferente, complexo e profundamente transformador. (LIRA 2003, p. 209, 210).

Nesse momento o educador encontrará as maiores dificuldades como “[...] a família com seus laços estremecidos ou rompidos, a escola não adequada e capacitada para atender este tipo de clientela, a sociedade que não lhes dá uma oportunidade para emprego, estágio ou capacitação”. (LIRA, 2003, p. 211)

É preciso ir à rua abandonando os olhares estereotipados e vazios, precisa “[...] despojar-se da pretensão de já saber tudo, já conhecer tudo ou da ansiedade em objetivar ações sem antes procurar entender a realidade [...]”. (GRACIANI, 1999, p. 29). É uma oportunidade de conhecer os códigos que esses meninos (as) travam entre si e com a sociedade. “[...] estranhar o que nos é familiar e familiarizar-se com o estranho sem nos confundirmos com ele [...]”. (GRACIANI, 1999, p.29).

Lira (2003) considera importante o momento em que se mapeia o espaço e indica a necessidade de trabalhar a questão dos olhares, falas espaçadas e alguns jogos que tragam a criança e o adolescente para perto concretizando o estabelecimento de vínculo. Conseqüentemente o educador começará a estabelecer relação de confiança, criando um importante momento para mostrar a criança ou adolescente “[...] a figura do Adulto Positivo, aquele que pode se apresentar enquanto a pessoa disponível para auxiliá-lo na construção do seu projeto de vida [...]”. (LIRA, 2003, p. 211).

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou analisar a prática do educador social de rua com crianças e adolescentes em situação de rua. Apoiado na pedagogia social de Paulo Freire podemos destacar a importância e necessidade deste profissional que atua num contexto de aumento da pobreza e marginalização de grandes seguimentos populacionais, buscando a construção de projetos de vida que possam transformar a realidade de meninos e meninas.

É importante frisar a complexidade que é atuar com crianças e adolescentes em situação de rua, pois o trabalho não se restringe somente a abordagem e aconselhamento. Se não houver uma retaguarda qualificada com os atores (Estado, Órgãos da Justiça, Sociedade Civil, etc.) conhecendo profundamente suas responsabilidades e enxergando crianças e adolescentes como cidadãos de direitos, a atuação dos Educadores Sociais de Rua se limitará a abordagens sem nenhum sentido.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, D. B. B. et al. (org.). Crianças e adolescentes em situação de rua e

consumo de drogas. Brasília: Plano, 2004.

FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo: Centauro, 2005.

______. Educação como prática de liberdade: a sociedade brasileira em transição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

______. Pedagogia do oprimido. 28. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

GADOTTI, M. Convite à leitura de Paulo Freire. Rio de Janeiro: Scipione, 1989.

GRACIANI, M. S. S. Pedagogia Social de Rua. 3. ed. São Paulo: Cortez. Instituto Paulo Freire, 1999.

LIRA , A. Educadores sociais e a exploração sexual infanto-juvenil: uma proposta,

um olhar. 2003. Disponível em: <http://www.cedeca.org.br/publicacoes/constr_01.pdf>

acesso em 10/05/2014.

ROMANS, M; PETRUS, A; TRILLA, J. Profissão: educador social. Porto Alegre: Artmed, 2003.

Referências

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