TROMBOSES DA ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNA E SEUS RAMOS (THROMBOSES OF THE INTERNAL CAROTID ARTERY AND ITS BRANCHES). EGAS MONIZ. Separate. Trabalho apresentado ao Meeting da Sociedade dos Neurccirurgiões Britânicos, reunido em Lisboa em 10-11 de abril de 1947 (30 p á g i n a s ) .
a t r o m b o s e das artérias cerebrais, d e t e r m i n a d a s freqüentemente pela a r t e r i o ¬ sclerose, que pode existir s ò m e n t e nos vasos cerebrais, ou pela e n d a r t e r i t e obstrutiva luética, que, p o r sua vez, t a m b é m pode ser u n i c a m e n t e cerebral. A s sintomatologias da trombose cerebral e da hemorragia são idênticas mas, n a s t r o m b o s e s , há sinais p r o d r ô m i c o s q u e t o r n a m o diagnóstico mais fácil. São historiados b r e v e m e n t e t r ê s casos de t r o m b o s e cerebral e m o s t r a d a s a s claras angiografias c o r r e s p o n d e n t e s .
Mais i n t e r e s s a n t e s do que as t r o m b o s e s das a r t é r i a s cerebrais são as da carótida interna n o seu curso cervical, p o r q u e , a n t e s da angiografia, n e m se suspeitava de sua existência. Esta síndrome se manifesta geralmente em h o m e n s e n t r e 40 e 50 anos, apesar de h a v e r casos e n t r e jovens. O s i n t o m a p r e d o m i n a n t e é a hemiplegia do lado o p o s t o a o vaso obstruído, mais intensa n o m e m b r o superior. E n t r e os sinais p r o d r ô m i c o s , h á : crises de cefaléia (às vezes localizadas), parestesias passageiras nos m e m b r o s , afasia mixta nas he-miplegias direitas, ligeiras convulsões, p e r t u r b a ç õ e s objetivas da sensibilidade. A hemiplegia p o d e ser g r a d u a l ou apopletiforme. H á t a m b é m z u m b i d o s nos ouvidos e p e r t u r b a ç õ e s visuais. A sintomatologia piora e m e l h o r a a l t e r n a t i -vamente, m a s os vestígios da hemiparesia p e r m a n e c e m . São r a r o s os casos n o s quais h á cardiopatias e a p r e s s ã o arterial n ã o é, via de regra, elevada. Q u a n t o aos nervos c r a n i a n o s : anosmia ou hiperosmia, papiledema, escotomas, hemianopsias, neurite retrobulbar, anisocoria, paralisia do r e t o interno, pari¬ lisia facial. Êste conjunto de s i n t o m a s fêz suspeitar da lesão, m e s m o a n t e s d a s investigações angiográficas. H á t r o m b o s e s completas da artéria carótida interna sem hemiplegia, ou convulsões jaksonianas.
O sinal p a t o g n ô m i c o da lesão é obtido d u r a n t e a angiografia, p o r q u e , q u a n d o se t e n t a fazer a arteriografia n a última p o r ç ã o da carótida c o m u m ou n a carótida interna em seu curso cervical, percebe-se a o b s t r u ç ã o da ca-r ó t i d a c o m u m p ca-r ó x i m o à bifuca-rcação, q u a n d o a t ca-r o m b o s e é completa, ou notável r e d u ç ã o do calibre da carótida interna, q u a n d o a o b s t r u ç ã o é incom-pleta. Se a arteriografia fôr bem feita e n ã o se obtiver i m a g e m da circulação cerebral, isto é suficiente para fazer o diagnóstico. E n t r e t a n t o , êste é mais s e g u r o se fôr possível conseguir a i m a g e m da carótida i n t e r n a no seu curso cervical. O e s t u d o dos filmes p e r m i t e estabelecer l o g o o diagnóstico diferen-cial entre t r o m b o s e completa e incompleta. O b s e r v e m - s e com cuidado os 3 filmes tirados com intervalos de 2 s e g u n d o s , como r e c o m e n d a o A. N o se-g u n d o a n se-g i o se-g r a m a , em casos de t r o m b o s e s incompletas, o a p a r e c i m e n t o tardio de a l g u m a s veias ou artérias cerebrais, é de g r a n d e valor diagnóstico, p o r q u e , nas t r o m b o s e s incompletas, n e n h u m v a s o è visível.
A s t r o m b o s e s da carótida i n t e r n a no p e s c o ç o são causa de hemiplegia, assim como n o caso de t r o m b o s e das a r t é r i a s cerebrais. N ã o é possível esta-belecer a freqüência d e s t a síndrome. Se a angiografia fôsse t a m b é m u s a d a em hemiplegias de o r i g e m vascular e n ã o sòmente nos t u m o r e s e lesões v a s -culares cerebrais, talvez o n ú m e r o de casos a u m e n t a s s e . P a r e c e que a sífilis é o principal fator etiológico, seguida pelo alcoolismo, arteriosclerose, infec¬ ções, t r a u m a s .
São resumidas as observações de sete casos (o p r i m e i r o d a t a n d o de 1931), d o c u m e n t a d o s angiogràficamente, e feitas interessantes interpretações radio¬ lógicas.