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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

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Academic year: 2021

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS

EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

MARIA NEUSA DOS SANTOS

NARRATIVAS DIGITAIS NAS REDES SOCIAIS

A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO RELIGIOSO NA VISIBILIDADE MEDIÁTICA

DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

São Paulo 2020

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS

EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

MARIA NEUSA DOS SANTOS

NARRATIVAS DIGITAIS NAS REDES SOCIAIS

A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO RELIGIOSO NA VISIBILIDADE MEDIÁTICA

DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Tese apresentada à Banca Examinadora, em atendimento a exigência parcial para obtenção do Título de doutora em Comunicação e Semiótica pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PEPGCOS-PUC-SP

)

Área de Concentração: Signo e Significação nos Processos Comunicacionais

Linha de Pesquisa: Dimensões Políticas da Comunicação

São Paulo 2020

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Ficha catalográfica elaborada pelo autor por meio do Sistema de Geração Automático da Biblioteca PUC

SANTOS, Maria Neusa dos

Narrativas digitais nas redes sociais - A construção do imaginário religioso na visibilidade mediática / Maria Neusa dos Santos – São Paulo, 2020

226 f: il. color.

Orientador: Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho

Tese de Doutorado - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Programa de estudos pós-graduados em comunicação e semiótica, São Paulo, 2020.

1. Redes Sociais. 2. Catolicismo. 3. Imaginário. 4. Visibilidade Mediática. 5. Glocal. I. Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho. II Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica. III Título.

Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total l desta Tese de Doutorado por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura_________________________________________________________ Data__________________________

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“O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) [Código de Financiamento 88887.161449/2017-00]

This study was carried out with the support of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel -Brazil (CAPES) – [Financing code 88887.161449/2017-00]

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MARIA NEUSA DOS SANTOS

NARRATIVAS DIGITAIS NAS REDES SOCIAIS

A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO RELIGIOSO NA VISIBILIDADE MEDIÁTICA

Tese apresentada à Banca Examinadora, em atendimento a exigência parcial para obtenção do Título de doutora em Comunicação e Semiótica pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PEPGCOS-PUC-SP

)

Aprovada em: ____ de ___________________ de 2020

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Presidente - Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho

_________________________________________________ Profa. Dra. Helena Tania Katz

_________________________________________________ Profa. Lúcia Isaltina Clemente Leão

_________________________________________________ Prof. Dr. Luís Mauro de Sá Martino

_________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Peres-Neto

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AGRADECIMENTOS

Esta Tese é dedicada a todas as pessoas que acreditaram em mim e colaboraram para que eu construísse mais esta história de vida. Acima de tudo, agradeço a Deus por permitir que esta história fosse narrada.

À CAPES, pela bolsa para que fosse possível a pesquisa.

Ao Prof. Dr. Eugênio Trivinho, que orientou esta pesquisa e me guiou pelos promontórios da vida acadêmica no percurso do Doutorado, pela generosidade de me deixar seguir meu próprio caminho como pesquisadora, pela honestidade em apontar as inconsistências na pesquisa e pelo apoio e a clareza epistemológica.

Um agradecimento especial aos professores Dr. Luiz-Peres Neto e Dra. Helena Tania Katz, pela participação na Banca de Qualificação e pelas incontáveis contribuições que ajudaram a construir esta Tese.

Aos meus familiares, pelo incentivo e pelo o apoio de sempre. Em especial à minha mãe, mulher de sensibilidade única e cuja trajetória de vida sempre me inspira na caminhada.

À Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, pelo apoio, em especial a Maria Irene da Silva, Ivone Ap. Reis, Fátima Teixeira e Elza Domingues, pela sensibilidade e colaboração na trajetória da pesquisa.

A todos os amigos, pelas observações e colaboração: a Sebastiana Mendonça, Silvana Amorim Diniz e Gigi Mathew, que contribuíram para esta realização.

À Secretaria do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, na pessoa de Cida Bueno, que, sempre atenta às minhas necessidades, colaborou no andamento desta pesquisa.

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RESUMO

O escopo desta pesquisa abarcou algumas narrativas digitais do catolicismo no Facebook, buscando compreender a construção do imaginário da religião Católica na visibilidade mediática, a partir do contexto da pós-modernidade, pelos meios digitais. O corpus da pesquisa é composto por análises de fanpages ligadas ao catolicismo no período de 2016 a 2020, com destaque para as mudanças ocorridas na Igreja Católica causadas pela pandemia de Covid-19 no mundo. A problemática central da pesquisa assenta-se nas seguintes perguntas: Em que medida e sob quais procedimentos de comunicação, mediados pelas tecnologias, há mudanças no imaginário e no comportamento da religião Católica em razão de sua inserção na cibercultura? Há deslocamento de espaço no acesso aos bens da fé do catolicismo? O diálogo estabelecido nas redes e/ou o consumo dos bens da fé sinalizam um novo cenário da Igreja? A hipótese inicial concentra-se na ideia de que as redes sociais estão formando um complexo esquema de transmutações rápidas no catolicismo, do local das manifestações de fé para o glocal das experiências de fé. Devido à natureza híbrida do objeto de análise, o referencial conceitual utiliza como alicerces a teoria do glocal e da visibilidade mediática desenvolvida por Eugênio Trivinho, sob inspiração na sociodromologia fenomenológica, e a teoria das narrativas digitais de Paul Ricoeur e Janet Murray. Para a compreensão das redes, a análise apoiou-se em Manuel Castells; e das redes sociais, em Raquel Recuero. Além disso, foram utilizadas as obras de teóricos como David Harvey e Fredric Jameson, no que tange à teoria e à crítica da modernidade e pós-modernidade; e de Cornelius Castoriadis, Maffesoli e Juremir Machado Silva, para tratar da teoria do imaginário. Para a compreensão do fenômeno religioso e da religião mediática, a análise recorreu às contribuições de Mircea Eliade, Peter Berger, Pierre Bourdieu e Luís Mauro de Sá Martino. Para a compreensão de consumo religioso, apoiou-se em Dom Slater, Nestor Canclini e Luiz Peres-Neto. Os conceitos de narrativas digitais, redes sociais, catolicismo, sagrado, cibercultura, cyberspace, dromocracia, glocal, hibridação, compressão do espaço-tempo foram necessários para o entendimento das manifestações narrativas do catolicismo nas redes sociais. Os resultados da investigação apontam para dados novos, entre os quais de que há uma nova configuração da religião Católica mediada pelas redes sociais, com contornos renovados nos ambientes interativos, em que o “controle” religioso muda o locus da cátedra para o fiel, que dita a mensagem a ser consumida.

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ABSTRACT

The scope of this research covered some digital narratives from Catholicism in Facebook, aiming to comprehend the construction of catholic religion’s imaginary in the medial visibility, from the context of postmodernity, through digital media. The research corpus consists of analyzes of fan pages linked to Catholicism in the period from 2016 to 2020, highlighting the changes that have happened in the Catholic Church, which were caused by the Covid-19 pandemic throughout the world. The central problematic of this research is substantiated in the following questions: To what extent and under what communication procedures, mediated by technologies, are there changes in the imaginary and behavior of the Catholic religion due to its insertion in the cyberculture? Is there any space displacement in the access to the Catholicism faith benefits? Does the established speech in the social networks and/or the faith goods consumption signal a new scenario for the Church? The initial hypothesis turns around the idea that the social medias are forming a complex scheme of rapid transmutations in Catholicism, from the local of the faith manifestation to the glocal of faith experiences. Due to the hybrid nature of the object of analysis, the conceptual referencing uses as basis the glocal's and medial visibility's theory developed by Eugênio Trivinho, under inspiration in phenomenological sociodromology, and under the digital narratives' theory from Paul Ricoeur and Janet Murray. To comprehend the media networks, the analysis fundamented itself on Manuel Castells; for social media, on Rachel Recuero. Besides this, works from the theoreticians David Harvey and Frederic Jamenson were used, with regards to modern’s and post modern’s theory and criticism; and from Cornelius Castoriadis, Maffesoli and Juremir Machado Silva, to go through the imaginary’s theory. To comprehend the religious consumption, it was fundamented on Dom Slater, Nestor Canclini and Luiz Peres-Neto. The results from this investigation point out to new data, among which the new configuration of catholic religion mediated by social media is, with renovated outlines in interactive environments, where the religious “control” changes the locus from the cathedra to the faithful person, who dictates the message to be consumed.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Imagem das redes sociais mais usadas no mundo em 2019 ... 42

Figura 2: Redes sociais mais utilizadas no Brasil ... 44

Figura 3: Imagem de propaganda de bens simbólicos ... 48

Figura 4: Comentários do Facebook ... 51

Figura 5: Imagem do comunicado sobre as transmissões de missas pelo Facebook ... 53

Figura 6: Imagem da primeira missa pelas redes sociais celebradas pelo padre Marcelo Rossi e a interação em tempo real do público nos comentários ao lado ... 55

Figura 7: Uso de fotografias nas transmissões pelo Facebook ... 58

Figura 8: Comentários de seguidor acerca das narrativas fotográficas ... 59

Figura 9: Comentário sobre a narrativa fotográfica ... 60

Figura 10: Imagem do perfil do Pe. Marcelo Rossi no Facebook ... 61

Figura 11: Página do site do Thiago Brado ... 74

Figura 12: Foto do perfil do Facebook do cantor ... 78

Figura 13: Reportagem sobre a primeira mensagem enviada pelo Papa pelo Twitter ... 86

Figura 14: Imagem do portal do Vatican News ... 90

Figura 15: Página das devoções virtuais A12 ... 102

Figura 16: Página do aplicativo Click to Pray ... 104

Figura 17: Rosário digital – O dispositivo inteligente e interativo ... 111

Figura 18: e-Rosary ... 114

Figura 19: Transmissão do Angelus via redes sociais ... 119

Figura 20: Notícias sobre a continuidade das atividades religiosas pelas redes sociais ... 120

Figura 21: Matéria publicada na página do Vatican News sobre catolicismo no mundo ... 121

Figura 22: Imagem e transmissão de missa pela internet ... 124

Figura 23: Um smartphone registra um padre católico comemorando na igreja vazia transmitida amanhã nas redes sociais, em Paris, no dia 4 de abril de 2020 ... 128

Figura 24: Destaque dados pelas mídias nacional e internacional pelo uso de fotografias nos bancos pela ausência de fiéis ... 130

Figura 25: Destaque dos dados de audiência pela TV Aparecida ... 131

Figura 26: Destaque aos acessos em diversas arquidioceses pelas missas online ... 131

Figura 27: Família assiste missa pelas redes sociais ... 133

Figura 28: Praça São Pedro em Roma durante a transmissão do Urbi et Orbi ... 134

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Figura 30: Transmissão ao vivo de missa presidida pelo Papa Francisco no dia 27 de março de 2020 ... 142

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Domicílios que possuem equipamentos TIC... 43

Gráfico 2: Resultados da pesquisa sobre a realização de missas pelas redes sociais em referência a busca pelo Padre Marcelo ... 54

Gráfico 3: Resultado da pesquisa sobre a busca pela palavra missa durante a pandemia ... 55

Gráfico 4: Visualizações de missa no período setembro de 2018 a abril de 2020 ... 56

Gráfico 5: Gráfico de desempenho no Facebook x Youtube ... 57

Gráfico 6: Média dos orantes no aplicativo e 2015 a 2020 ... 107

Gráfico 7: Média dos orantes no aplicativo 2015 ... 107

Gráfico 8: Média dos orantes no aplicativo 2016 no lançamento pelo Vaticano ... 108

Gráfico 9: Média dos orantes no aplicativo 2018 ... 108

Gráfico 10: Média dos orantes no aplicativo 2019 ... 110

Gráfico 11: Índice de aprovação das missas online... 126

Gráfico 12: Dados de visualização de missa 2019 a abril de 2020 pelo Facebook ... 143

Gráfico 13: Dados de visualizações de missa jan. 2019 a mar. 2020 pelo Youtube ... 144

Gráfico 14: Comparativo entre duas redes sociais ... 144

Gráfico 15: Transmissões arquidiocese de São Paulo antes e durante a pandemia ... 145

Gráfico 16: Transmissões arquidiocese de São Paulo durante a pandemia... 146

Gráfico 17: Visualização de missa pelo Facebook período da pandemia ... 147

Gráfico 18: Divisão de respostas entre homens e mulheres e faixa etária ... 149

Gráfico 19: Sobre acompanhar missas pelas redes sociais ... 149

Gráfico 20: Porcentagem de aprovação das transmissões pelas redes sociais ... 150

Gráfico 21: Frequência nas missas transmitidas pelas redes sociais ... 150

Gráfico 22: Se a Igreja Católica deveria usar as redes sociais para evangelizar ... 152

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Redes sociais que o Pe. Marcelo Rossi faz uso ... 46 Tabela 2: Evolução dos processos de comunicação na Igreja Católica a partir da década de 1960 ... 83 Tabela 3: Tabela evolutiva do alcance de usuários pelo aplicativo Click to Pray ... 106 Tabela 4: Indicações de comportamento nas transmissões online ... 129

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 16 1.2 Justificativa da pesquisa ... 19 1.3 Objetivo principal ... 20 1.4 Objetivos específicos ... 20 1.5 Objeto ... 21 1.6 Questão de pesquisa ... 21 1.7 Hipóteses de trabalho ... 21 1.8 Delimitação da temática ... 22 1.9 Metodologia ... 23 1.10 Fundamentação teórica ... 26

1.11 Organização dos capítulos ... 28

2 CAPÍTULO I – NARRATIVAS E RELIGIÃO ... 31

2.1 Narrativas digitais nas redes sociais ... 31

2.2 Narrativas digitais da religião no ciberespaço ... 41

2.3 Padre Marcelo Rossi ... 45

3 CAPÍTULO II – IMAGINÁRIO, TEMPO E COMUNICAÇÃO ... 64

3.1 A construção do imaginário na visibilidade mediática ... 64

3.2 Cantor Thiago Brado ... 70

3.3 Análise da foto de perfil ... 78

3.4 A comunicação Católica medida pelas redes sociais ... 79

3.5 Papa Francisco e o uso das mídias ... 88

4 CAPÍTULO III – VISIBILIDADE MEDIÁTICA E O CATOLICISMO ... 97

4.1 Comunicação com o sagrado em ambientes glocais narrativos ... 97

4.2 Click to Pray – um clique para rezar ... 103

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5 CAPÍTULO IV – NOVAS DINÂMICAS NAS NARRATIVAS DO CATOLICISMO

IMPLANTADAS PELA COVID-19 ... 117

5.1 Novas dinâmicas narrativas do catolicismo ... 117

5.2 Análise de aumento da visibilidade da Igreja Católica nas redes sociais no período da pandemia ... 142

5.3 Análise da visibilidade da Igreja Católica nas redes sociais da cidade de São Paulo .. 145

5.4 Análise de resultado da pesquisa sobre as missas online nas redes sociais ... 148

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 154

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ... 164

ANEXOS ... 171

8.1 Entrevista com o Padre Antonio Valério, diretor internacional dos aplicativos Click to pray e e-Rosary ... 172

8.1.1 Tema: Novas tecnologias e o catolicismo ... 173

8.1.2 Tema: Click to Pray ... 179

8.1.3 Tema: Rosário digital ... 189

8.2 Entrevista com o cantor Thiago Brado ... 192

8.3 Interações na página do Padre Marcelo Rossi no Facebook ... 199

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“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”. (Carl G. Jung)

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INTRODUÇÃO

A Tese que aqui apresentamos aprofunda conhecimentos construídos ao longo da nossa trajetória de Pós-Graduação, de 2013 e 2014, em nível de Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo no PPGCOM da ESPM/SP, quando estudamos as relações entre a comunicação, consumo e religião. Neste estudo, vimos as narrativas de peregrinos sobre o consumo moral da fé no Santuário de Santa Paulina, em Nova Trento, interior do Estado de Santa Catarina. Na época, o fenômeno chamava a atenção porque o consumo transcendia a materialidade. As narrativas desta pesquisa, em dissertação defendida em 2015, demonstravam uma busca de valores muito além de apenas visitar o lugar, um consumo de bens simbólicos. Instigados por este fenômeno de narrativas sobre encontros com o “sagrado”, demos continuidade ao assunto, observando a mudança das formas de peregrinar, que apresentava um deslocamento dos espaços físicos para o virtual, muito além das peregrinações locais.

Se, no passado da Igreja Católica, os fiéis visitavam santuários como meio de manifestar sua fé, hoje, alinhados às novas formas de comunicação, eles se inscrevem nos “santuários virtuais”, “espaços virtuais” que funcionam como um repositório de todas as mensagens, orações e devoções. Na atualidade, com o auxílio da tecnologia, as pessoas passaram a se comunicar de diferentes formas, refletidas na maneira como os indivíduos vivem sua fé, ressignificam suas ações e opções. A religião passa por uma remodelação promovida pela dinâmica própria do desenvolvimento tecnológico, na qual a intervenção virtual, via internet, reorganiza os vínculos entre indivíduos e sistemas simbólicos que se davam presencialmente, uma dinâmica que nos insere na saída cultural das sociedades modernas, da religião institucionalizada para a cultura do catolicismo mediatizado.

Observamos o empenho da Igreja na aproximação da linguagem e na inserção nos meios digitais. Desde 2013, com a posse do Papa Francisco, percebemos que a direção da Igreja Católica vem propondo novas formas de diálogo entre a religião e as redes sociais. Dentre várias iniciativas, destacamos a inauguração, em 27 de junho de 2015, de um portal chamado Vatican News, um sistema de informação da Santa Sé em um “plano multilinguístico, multicultural, multicanal, multimídia e multidevice”1, voltado para quatro

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disponíveis em seis seções linguísticas (italiano, inglês, francês, alemão, espanhol e português), apontando para novos rumos na comunicação da Igreja Católica. Desde então, intensificou-se o uso de mídias sociais para compartilhamento de informações, acompanhamento das atividades religiosas do catolicismo, promoção da fé e desenvolvimento de aplicativos (apps) ligados à religião. Esses fatos influenciaram a mudança do imaginário da Igreja em relação às tecnologias. Hoje, há um novo cenário no catolicismo, que busca maior visibilidade no ciberespaço, com presença acentuada de inserção nas redes sociais, entre elas o Facebook, como plataforma de divulgação e narrativização da fé em redes. As ferramentas e os recursos das novas tecnologias estão proporcionando uma atuação da Igreja que extrapola os espaços tradicionais.

Entre tantas opções de pesquisa, entendemos que havia novos elementos e posicionamentos da Igreja em relação às mídias digitais, bem como maior procura nas redes por produtos religiosos como bens de consumo, tais como orações virtuais, shows, missas e outras formas de praticar a fé em outros ambientes além dos espaços determinados de local sagrado, como as igrejas. Nesse cenário, observamos crescentes interações dos fiéis em postagens nas fanpages de instituições religiosas e de personagens católicos, bem como respostas narrativas a posts e outras formas mediáticas de relacionamento entre o internauta e a Igreja. Por outro lado, percebemos uma adesão da evangelização em rede e o esforço para modernizar expressões, formas e conteúdo de apresentação da religião em vista da importância do uso da internet pela religião. A internet desponta no panorama atual como um “meio de comunicação, de interação e de organização social” (CASTELLS, 2009, p. 257). A mediatização surge e se desdobra com o avanço desse complexo dispositivo da internet, que, por sua vez, se desenvolveu mediante “a apropriação da capacidade de interconexão por redes sociais de todos os tipos, que reinventaram a sociedade e, nesse processo, expandiriam espetacularmente a interconexão de computadores, em seu alcance e em seus usos” (CASTELLIS, 2009, p. 53).

Além da revolução da internet, marcada por uma potencialização ampla das forças sociais dentro de um sistema operacional em rede, as processualidades comunicacionais do fenômeno religioso são moldadas por novas modalidades de construção simbólica, de práticas e de interações sociais marcadas pelo lógica cibercultural, conceito cunhado por Trivinho (2007), encarregadas de inscrever e consolidar, na contemporaneidade, o modus operandi da da velocidade, que alterou, significativamente, as bases sociais e culturais em que a vida 1 Disponível em 05 dez. 2017: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2017-12/papa-francisco---a-reforma-da-midia-do-vaticano.html. Acesso em 11 out. 2019.

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humana era centrada, dos contextos presenciais para os contextos ciberculturais de ressignificação dos signos e da linguagem inscritos na dinâmica das relações em rede, instituindo novas dinâmicas nas formas de narrar os fatos e feitos próprios da vida em rede. Partindo dessas premissas, decidimos estudar as narrativas digitais nas redes sociais, no que tange o imaginário religioso na visibilidade mediática.

Entendemos que as narrativas digitais nas redes sociais constituem uma característica da sociedade atual. Os recursos da tecnologia são usados para contar histórias e fatos de ordem pessoal, religiosa ou social de forma inovadora, dinâmica e envolvente. Com a circulação da informação instantânea, desconsiderando os limites geográficos, e as novas possibilidades de relacionamentos, aprendizagens e comportamentos, o storytelling – “contar histórias” – é utilizado na comunicação para conectar pessoas a histórias, contextos, situações e desafios. Com os avanços tecnológicos decorrentes do crescimento industrial, as narrativas ganham novos instrumentos, que inserem a sociedade no denominado “ciberespaço”, em uma integração entre máquina e homem. Os aspectos mais importantes dessa trajetória são os aprendizados relativos a tempo, espaço e velocidade vinculados aos modos de visibilizar a religião pelas mídias digitais na sociedade mediatizada. Podemos afirmar, sem equívoco, que, neste período técnico-científico-informacional, a internet, através das tecnologias da informação e da comunicação (computador, celulares, smartphones, tablets), enquanto possibilidade de comunicação e informação, está modificando a maneira como as pessoas se relacionam, aprendem, se comunicam e expressam sua fé.

Cada vez mais presente em todas as esferas da vida, a tecnologia – com seus termos, como internet, redes, memória, HD, nuvem, hologramas, algoritmos, informação, download,

upgrade, sistemas operacionais, apps, agora mais familiares para a Igreja Católica do que há

pouco menos de dez anos – facilita a inserção e a permanência neste ambiente virtual. Quanto maior a exposição à tecnologia, maior a compreensão e a incorporação desses termos na vida da Igreja, provocando mudanças de comportamento e a integração dessa visão nas esferas eclesiais de modo amplo. Com a velocidade dos avanços tecnológicos aumentando exponencialmente, podemos esperar um futuro diferente para as religiões e, em especial, para o catolicismo, em suas formas de viver a fé. Ainda que se mantenha a estrutura presencial, a religião ganha velocidade na inserção dos meios digitais, o que indica um deslocamento dos rituais para o virtual.

Considerando as redes sociais digitais como um meio de possibilidades, estabelecido com base nos elementos virtuais e nas relações entre os usuários, interessa-nos a complexidade da interface entre o fenômeno da comunicação, a partir de suas ocorrências

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concretas, sua evolução e a inserção do catolicismo nas redes sociais, por meio da utilização dos dispositivos comunicacionais na constituição de um outro imaginário do catolicismo na visibilidade mediática, com representações sociais frente à lógica da comunicação. A discussão central desta Tese está assentada no entendimento de que a configuração da civilização mediática avançada traz novas formas de narrar histórias pessoais e grupais. Considerando que a orientação e a visão acerca do tempo mudam conforme a progresso do mundo, a Tese foca a construção de narrativas pelo uso das novas tecnologias como ferramentas para construção social e ressignificação dos espaços e das manifestações de fé.

A centralidade da cibercultura manifesta-se não só na potencialidade dos dispositivos tecnológicos no cotidiano, mas também em suas dimensões política, social e cultural na construção da narrativa. Nesta Tese, propomos uma análise da construção do imaginário religioso advindo de narrativas digitais, ciberculturais, práticas mediáticas cristalizadas nas tramas convergentes da comunicação, da religião e da tecnologia na sociedade contemporânea. Essas narrativas são investigadas em seus componentes de articulação imaginária e processos de agenciamento atrelados às representações da técnica, configurando diferentes tipos de narrativas representativas do imaginário religioso, organizadas em torno da visibilidade mediática. Buscamos entender o conceito de visibilidade partindo do pressuposto teórico de que ela é gerada pelo campo da cibercultura e abre novos espaços para a “construção de significações individuais, coletivas nos ambientes virtuais e representações perante a sociedade” (TRIVINHO, 2007, p. 352).

Castoriadis (1982) apresenta o imaginário partindo de uma visão que vai muito além do plano sígnico-imagético: postula-o como uma criação que serve como força propulsora da formação e da transformação de uma sociedade. Nas significações imaginárias estão imbricados os projetos idealizados e a prática diária; ambos se misturam e constroem uma rede de sentidos que norteiam a vida humana.

1.2 Justificativa da pesquisa

A presente Tese está alinhada às frequentes reflexões e diagnósticos acerca das transformações sociais ocorridas no catolicismo, com sua inserção no uso das tecnologias mediáticas, pautada pelo fenômeno glocal, tendo por base a velocidade própria da cibercultura.

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Com base na pesquisa, foi realizada uma análise de algumas narrativas digitais nas redes sociais – Facebook – na construção do imaginário religioso na visibilidade mediática. Buscamos investigar sua constituição, os diálogos estabelecidos numa semiose da comunicação entre sujeitos e a cibercultura, o acesso ao sagrado por meio do virtual. Na contemporaneidade há um processo crescente de consumo dos bens da fé, que ganham relevância no cenário religioso toda vez que se trata de religião e tecnologias.

Faz-se necessário suscitar pesquisas, no campo da Comunicação, que questionem as políticas de uso das manifestações religiosas nas redes sociais, sua imersão e inserção na visibilidade mediática e sua ética em relação ao público e ao privado. Partindo da relação entre comunicação, signo, significação e cultura, este trabalho objetiva tecer considerações acerca de alguns apontamentos das narrativas digitais, da visibilidade mediática na construção de atores sociais e do imaginário religioso, além de se justificar, no campo da Comunicação e Semiótica, por ser inédito na análise de algumas narrativas digitais do Facebook em referência ao Catolicismo e à construção do imaginário religioso.

As análises propostas nesta pesquisa visam contribuir para o campo teórico da Comunicação, sobretudo em relação às transformações ocorridas nas formas de comunicação da Igreja no uso das mídias sociais, considerando as religiões como espaços democráticos de expressão da fé.

1.3 Objetivo principal

O objetivo desta pesquisa é investigar o avanço do Catolicismo no uso das redes sociais, pela plataforma do Facebook, compreender a construção do imaginário da religião Católica na visibilidade mediática, a partir do contexto da pós-modernidade, pelos meios digitais, com foco em alguns personagens da Igreja Católica e suas performances mediáticas. Vale ressaltar que este trabalho é um estudo de Comunicação, e por isso não discutirá fundamentos teológicos da fé.

1.4 Objetivos específicos

Identificar e analisar como funcionam as linguagens, os compartilhamentos e a comunicação entre os seguidores no ciberespaço e nas relações culturais.

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Verificar as ideologias presentes no imaginário e analisar os processos comunicativos advindos das mediações codificadas na dinâmica de trocas culturais e simbólicas, ora individuais, ora coletivas.

Analisar o emprego da comunicação digital e o uso da cibercultura pela religião, para visibilizar ações internas da Igreja Católica.

Identificar as ações de consumo de bens simbólicos nos espaços das redes como estratégias de proximidade com o mundo moderno.

1.5 Objeto

O corpus da pesquisa é composto por análises de fanpages ligadas ao catolicismo no período de 2016 a 2020, com destaque para as mudanças ocorridas na Igreja Católica causadas pela pandemia de Covid-19 no mundo.

1.6 Questão de pesquisa

A questão central da pesquisa pretende responder em que medida e sob quais procedimentos de comunicação, mediados pelas mídias digitais, mais especificamente pelas redes sociais, há mudanças no imaginário e no comportamento da religião Católica em relação à inserção na cibercultura. Desta questão desdobram-se outras: Há deslocamento de espaço no acesso aos bens da fé do catolicismo? O diálogo estabelecido nas redes e/ou o consumo dos bens da fé sinalizam um novo cenário da Igreja? O controle de espaço e tempo da cátedra foram flexibilizados pelas redes sociais?

1.7 Hipóteses de trabalho

A hipótese inicial concentra-se na ideia de que as redes sociais estão formando um complexo esquema de transmutações rápidas no catolicismo, do local das manifestações de fé para o glocal das experiências de fé. Assim, nas redes sociais, mudam também as relações entre a instituição e o fiel, ganhando novas dinâmicas diante da interatividade virtual proporcionada pelas atuais tecnologias de comunicação.

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As tecnologias digitais criaram um cenário, para onde grande parte da vida humana tem-se direcionado. Essas mudanças acabam penetrando em todas as esferas da vida, trazendo repercussões também para o modo de compartilhamento de experiências, relações sociais e mercadológicas nas formas de apresentar objetos e rituais do sagrado.

As análises propostas nesta pesquisa visam contribuir para o campo teórico da Comunicação, sobretudo em relação às transformações ocorridas nas formas de comunicação do catolicismo no uso das mídias sociais, considerando as religiões como espaços democráticos de expressão.

1.8 Delimitação da temática

O uso histórico da popularização dos meios radiofônicos e televisivos pelas religiões ganha novas dinâmicas diante da interatividade virtual proporcionada pelas atuais tecnologias de comunicação. A utilização, cada vez mais intensa, dos recursos da informática para a produção e a circulação de mensagens também se aplica às instituições religiosas, que utilizam as redes sociais para disseminar conteúdos e agregar valores da instituição, como fazem diversos grupos do catolicismo no Brasil.

Esta pesquisa parte do pressuposto de que, na organização, o uso de estratégias mediáticas é fundamental para que a religião realize táticas de contato com seu público. Dessa maneira, as instituições Católicas utilizam-se das múltiplas formas de contato no ciberespaço, como os sites das arquidioceses ligadas à Igreja Católica, principalmente no Brasil. Na atual conjuntura, o virtual apresenta-se como um aporte de possibilidades de comunicação para as religiões.

A construção da comunicação em rede e a expansão infinita de possibilidades de sentidos e representações no ciberespaço levaram-nos a escolher o caminho de investigação das narrativas na análise da construção do imaginário religioso na visibilidade dos sujeitos nas plataformas digitais. Tomamos como rede social o Facebook, porque ele instaura um regime de visibilidade (BRUNO, 2013) que trará impactos diretos no modo como os atores sociais estruturam, comunicam e fazem a manutenção de suas identidades em rede. Isso se dá porque, se o dispositivo prioriza aqueles conteúdos que mobilizam o maior número de interações, equiparando audiência e relevância, caberá ao ator elaborar uma performance capaz de mobilizar o outro, visando o envolvimento necessário para validar a imagem que projeta para si, sua existência e a visibilidade na rede em que coabitam.

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Fundado em 2004, na Califórnia, Estados Unidos, o Facebook assume como missão “dar às pessoas o poder de compartilhar e fazer do mundo um lugar mais aberto e conectado”, além de “manter contato com amigos e parentes, descobrir o que está acontecendo no mundo e compartilhar e expressar o que é importante para elas”.2 Traz uma plataforma em que cada

usuário pode ter um perfil pessoal, no qual é possível compartilhar informações pessoais com os demais “amigos”. Por sua vez, cada usuário pode acompanhar as atualizações alheias na sua “linha do tempo”, uma lista atualizada com os interesses e atividades de compartilhamento dos “amigos”. Empresas e organizações em geral também podem marcar presença no Facebook mediante um formato de perfil específico, as chamadas “fanpages”. Em nível geral, os dados oferecidos pela empresa em dezembro de 2018 apontam para a média de 2,13 bilhões de usuários em todo o mundo.

Delimitamos um espaço de tempo para a observação das mudanças ocorridas na Igreja Católica a partir de 2013, com destaque para os avanços no período de 2016 a 2020, quando foram mais visibilizadas as ações da Igreja pelas mídias sociais, além de definirmos para análise dois personagens mediáticos da atualidade, sendo um jovem e leigo e outro sacerdote da Igreja Católica e mediático há cerca de vinte anos. As demais análises se voltam para produtos de consumo da Igreja alinhados às mídias sociais: a fanpage do Santuário de Aparecida, com a vela virtual e dois aplicativos lançados no mundo pelo Discatério de Comunicação da Igreja Católica, com sede em Roma, na Itália.

1.9 Metodologia

Tendo em vista a natureza do objeto de estudo, a pesquisa foi realizada por meio da abordagem qualitativa, partindo dos princípios dados por Martin Bauer e George Gaskell (2008, p. 57), que definem a finalidade real da pesquisa qualitativa como não sendo a de contar opiniões ou pessoas, mas, ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão.

O emprego da entrevista qualitativa para mapear e compreender o mundo da vida dos respondentes é o ponto de entrada para o cientista social que introduz, então, esquemas interpretativos para compreender as narrativas dos atores em termos mais conceptuais e abstratos, muitas vezes sem relação a outras observações. A entrevista qualitativa, pois, fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais

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e sua situação. O objetivo é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos. (BAUER e GASKELL, 2008, p. 65).

Esta pesquisa envolveu comunicação, redes sociais e religião, valendo-se de diversos procedimentos metodológicos. Além da investigação bibliográfica, essencial para a fundamentação teórica, foi necessário dedicar atenção redobrada a algumas narrativas disponibilizadas nas redes sociais: perfis de instituições e personagens, bem como às demais informações que agregavam respostas para nossas questões de pesquisa. À vista disso, utilizamos o instrumento de análise do Google chamado Trends, para composição de gráficos de crescimento do catolicismo nas redes, e o aplicativo de pesquisas Forms, do Google, para uma sondagem qualitativa acerca de questões relacionadas ao uso das redes sociais para visibilização da fé durante a pandemia da Covid-19 no Brasil. Para esta última questão, nossa amostra coletada foi disponibilizada por dois dias, no período de 28 e 29/04/2020, na plataforma do Facebook da Pascom Brasil (Pastoral da Comunicação), existente há cerca de um ano, com 1.132 membros inscritos, de diversas faixas etárias e níveis de escolaridade. A página da publicação da pesquisa não é um órgão oficial da CNBB, ou seja, não foi criada e nem é administrada pela Pastoral da Comunicação da Igreja do Brasil, mas por livre iniciativa de uma pessoa que, provavelmente, é Católica. A opção de não ser órgão oficial teve como finalidade receber respostas que não tivessem vínculo com alguma Pastoral da Comunicação e retratassem as opiniões individuais dos participantes. Por ser um grupo aberto, foi possível verificar que reúne pessoas de diversos estados do Brasil e diferentes faixas etárias.

O critério adotado para a coleta de informações foi o seguinte: deixamos as questões abertas por dois dias, fechando às 18 horas do segundo dia, totalizando nesse período 107 respostas para seis perguntas. O texto inicial trazia a seguinte informação: “Por conta do afastamento social e fechamento das igrejas Católicas devido à pandemia causada pela Covid -19, muitas paróquias estão transmitindo suas celebrações pelo Facebook e o YouTube. Abaixo um questionário com a sua opinião sobre este novo cenário da fé Católica”. Em seguida, as perguntas foram formuladas com as opções de resposta “sim”; “não”; “não muito”. Em três questões, além de responder “sim” ou “não”, eles podiam justificar. As perguntas formuladas foram: “Você tem acompanhado as missas pelas redes sociais? Você está gostando de rezar as missas pelas redes sociais? Quantas missas você rezava antes, por semana, quando tinha que se deslocar até uma igreja? Quantas missas, por semana, você reza hoje, da sua casa? O que mais o emociona nas missas pela internet? Você acha que a Igreja Católica deveria usar mais as redes sociais para evangelizar?”.

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Houve ainda uma segunda pesquisa, com duas pessoas, sendo um padre e um jovem, ambos da Igreja católica, porém com atividades, faixa etária, posições e de origens diferentes, sendo um do Brasil e outro de Roma, Itália. Para estas duas pesquisas, em relação à coleta de dados, seguimos a sugestão da metodologia da técnica de entrevista em profundidade proposta por Bauer e Gaskell (2002). Para os autores, as entrevistas em profundidade são o principal instrumento de registro das percepções, opiniões e experiências dos sujeitos em estudo. Elas têm por objetivo “uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos”.

Padre Antônio Valério, 42 anos, é um sacerdote jesuíta português residente em Roma, na Itália, coordenador internacional dos aplicativos Click To Pray e e-Rosary, um rosário digital, ambos lançados pela secretaria do Vaticano, respectivamente, em 2016 e em 2019. Com a finalidade de obter informações aproximadas do pensamento da Igreja acerca da comunicação nas mídias digitais, optamos pelo sacerdote que desenvolve uma função estratégica na coordenação de novos aplicativos ligados à figura do papa na visibilidade da Igreja Católica. As perguntas foram direcionadas aos dois aplicativos e à visão dele sobre a inserção de novas tecnologias no catolicismo.

Thiago Brado, 29 anos, cantor e compositor católico brasileiro com 340 mil seguidores no Facebook e 510 mil seguidores no Twitter, foi reconhecido em 2014, quando ganhou seu primeiro troféu como compositor solo num evento promovido pela Rede Século 21. O prêmio deu ao jovem talento maior visibilidade. Em cinco anos, conquistou mais de 500 mil adeptos no Twitter, 817 mil inscritos no YouTube e quase 350 mil no Facebook. Optamos por entrevistá-lo por representar o pensamento jovem com campanha de marketing orgânica (não houve investimento financeiro no crescimento inicial), sem apoio institucional, por não ser portador de título representativo e nem ter apoio institucional da Igreja. As perguntas giram em torno da sua percepção em relação à importância do uso das mídias e do imaginário que tem da religião.

Com a metodologia da Análise das Redes Sociais (ARS), analisamos narrativas digitais (fotografias e textos) à luz da crítica reflexiva e da fundamentação teórica constituída na pesquisa bibliográfica e na investigação dos registros das dinâmicas sociais virtuais, do mapeamento das interações e conversas em larga escala, além da popularidade e audiência das páginas.

No decorrer da Tese, destacamos as análises de recortes em relação à Igreja Católica tendo por base o Papa Francisco, além de fanpages no Facebook ligadas ao catolicismo, como a do cantor Thiago Brado, mencionado anteriormente, e do padre Marcelo Rossi, de 52 anos,

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com 5.521.548 de seguidores no Facebook, fenômeno mediático da Igreja Católica com mais de vinte anos de carreira.

Explicamos que os recortes das entrevistas no decorrer do texto são apresentados em itálico para diferenciá-las de textos citados. Nas análises da foto do perfil do Facebook dos dois personagens, o padre Marcelo e o cantor Thiago, há destaques em negrito em determinadas frases ou expressões que entendemos ser importantes para facilitar o entendimento do leitor e ressaltar o aspecto analisado.

1.10 Fundamentações teóricas

Valemo-nos de um estofo teórico interdisciplinar que envolve, especialmente, os campos da Comunicação, da Religião e da Sociologia, entre os quais se elencam as teorias do imaginário, do virtual, do fenômeno glocal, da dromocracia cibercultural, da privacidade digital e as teorias das mediações. Essas filiações teóricas nos levarão a perscrutar vários aspectos que compõem as manifestações subjetivas do imaginário religioso por meio de narrativas digitais do Facebook, movimentadas pela visibilidade mediática dos sujeitos.

A condição glocal discute as interpretações terminológica e conceitual do fenômeno de glocalização, traçando “o percurso desde seu aprisionamento celebrativo no campo das grandes corporações empresariais até sua imersão reflexivo-descritiva da área das Ciências Humanas e Sociais”, (TRIVINHO, 2012, p. 19) sobretudo na compreensão dos processos reestruturados após o advento da cibercultura. O autor tece uma análise crítica da significação histórico da existência “em tempo real na cibercultura e da forma sociotécnica e instantânea do ser/estar individual/grupal em rede, refletindo que a marca da época são as experiências vividas, seja em contexto de recepção ou participação no consumo de produtos culturais em tempo real, seja no reduto da interatividade, protegido pelo bunker e alocado em nichos virtuais, tendo em comum o sedentarismo nômade.” (TRIVINHO, 2012, p. 37).

A utilização, cada vez mais intensa, dos recursos da informática para a produção e a circulação de mensagens torna necessária a reflexão sobre as características da comunicação virtual. “A noção de cibercultura nomeia a fase contemporânea da civilização tecnológica. Abrange, como um bloco social-histórico, o estirão mais avançado da mundialização do capital, fincada nas tecnologias do virtual e em redes interativas” (TRIVINHO, 2007, p. 217). “O imaginário, do ponto de vista social/histórico, absorve os significados coletivos e anônimos e, do ponto de vista psique/soma, exerce funções nos âmbitos representativo,

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afetivo e intencional, enquanto o imaginário social é posição, criação. Ele articula e dá sentido à sociedade instituinte, impulsionando o movimento das significações sociais (magma)” (CASTORIADIS, 1982, p. 414), à vista de que o imaginário configura e estrutura o indivíduo.

No ciberespaço, cria-se a cibercultura, que vai se caracterizar pela formação de uma sociedade estruturada por meio de uma conectividade telemática generalizada, ampliando o potencial comunicativo, proporcionando a troca de informação sob as mais diversas formas e fomentando agregações sociais. O ciberespaço cria um mundo operante, interligado por ícones, portais, sites e homepages, permitindo colocar o poder de emissão nas mãos de uma cultura que vai produzir informação. De acordo com Castells, “a humanidade está imersa em uma trama simbólica de representações. A formação de redes é uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em nosso tempo, transformando-se em redes de informação energizadas pela internet” (2009, p. 7).

Quanto à noção de pós-modernidade, os livros de Harvey, Jameson e Lyotard foram essenciais para compreender as características da época moderna, a condição moderna e o modernismo: a lógica do capitalismo tardio. Para Lyotard, a pós-modernidade é a época que emerge do descrédito nos metarrelatos propagados pela modernidade, e, no contexto pós-moderno, a cultura comparece como produto rentável para o mercado. Tomamos como referência a A velocidade e política, de Paul Virilo, que analisa o progresso das sociedades sob o prisma do desenvolvimento do “progresso dromológico”. (VIRILO, 1996, p. 52). Esse fenômeno implica na aceleração do movimento de variados tipos de veículos existentes ao longo da história.

Quanto aos conceitos de catolicismo mediático ou a visibilidade das religiões, buscamos entendê-los com base nas reflexões de Peter L. Berger (1985) acerca da mercantilização da religião na modernidade. Segundo esse autor, para manter a ordem social e repelir a constante ameaça de anomia, a sociedade depende de um sentido que a legitime. O principal sentido de legitimação é a religião. A religião, conforme o título do livro de Berger sugere, é um “dossel sagrado”, que assegura a estabilidade da sociedade ao transcender e transferir o problema da legitimação para a esfera transcendente, onde ela não pode ser questionada. Antonio Spadaro, por sua vez, trata da ciberteologia, pensando o cristianismo em tempos de redes, em que a lógica da web coloca desafios interessantes para a própria compreensão do cristianismo.

Quanto à constituição imaginária, tomamos por base as ideias de Castoriadis, que define o imaginário como algo da ordem da instituição social, que ganha status de motor do desenvolvimento da sociedade por meio de magmas sociais. Todavia, as aptidões humanas e a

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interação com o mundo social obedecem a motivações que ele denomina “magma de significações”, que dão sentido ao imaginário. Esse magma age como catalisador de valores, costumes, crenças e sonhos, influenciando o comportamento individual e a ação coletiva na dinâmica da semiose de passado, presente e futuro.

1.11 Organização dos capítulos

Esta Tese está estruturada em quatro capítulos. O capítulo I contextualiza a inter-relação entre redes sociais e narrativas no Facebook, discutindo os avanços tecnológicos e a chegada da web 2.0, que implantou algumas plataformas (blogs, sites de rede social e publicadores de conteúdo), fornecendo ferramentas mais práticas e interativas para os usuários, facilitando a criação e a publicação de seus próprios conteúdos, as chamadas narrativas digitais, oferece reflexão acerca da transformação dos formatos narrativos tradicionais para o formato digital, considerando a mudança dos meios de comunicação no decorrer do percurso histórico, assim como a linguagem, que alterou radicalmente a maneira de produzir, interpretar e visibilizar as narrativas hoje. Traz a definição de conceitos como ciberespaço, cibercultura, narrativas digitais, redes sociais e mídias digitais, além das explicações de Nora Paul (2010, p. 123-126) acerca do método de combinação dos elementos usados em narrativas digitais, tais como mídia, ação, relacionamento, contexto e direcionamento. As análises decorrentes das narrativas digitais realizadas serão apresentadas ao longo dos capítulos I, II, III e IV. Os anexos desta Tese conduzem a leitura na íntegra das entrevistas realizadas no Brasil, com respectivas análises, e de algumas páginas Católicas brasileiras no Facebook, que também são analisadas.

Faz ainda uma análise das narrativas e do personagem mediático de alta visibilidade, o padre Marcelo Rossi, sacerdote católico que há mais de vinte anos se reinventa nos ambientes das mídias digitais, com 5,5 milhões de seguidores no Facebook. O capítulo I busca dar destaque às diversas narrativas, constituídas de vários elementos semióticos, apresentadas nas redes sociais do padre Marcelo Rossi, ora vindas do próprio sacerdote, ora dos seguidores da página. Além de apresentar gráficos do aumento das visualizações de missas com o padre Marcelo nas redes sociais num determinado período do ano de 2020, em referência ao tempo específico marcado pela pandemia da Covid-19, que atingiu o mundo em dezembro de 2019, na província de Wuhan, na China.

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O capítulo II, por sua vez, apresenta uma breve história do desenvolvimento do catolicismo nas redes sociais, abordando a expansão da religião Católica nas mídias digitais e a visibilidade mediática. O espaço virtual é cenário de interlocução das expressões de fé e da busca de orientações para o sentido da vida, de valores éticos e morais. Estuda a construção do imaginário religioso na visibilidade mediática, com foco na Igreja Católica, objeto de nossa discussão, além de tratar do tempo e das novas percepções a partir do uso das tecnologias digitais. Pautamo-nos na teoria do imaginário de Castoriadis, que apresenta uma concepção do social e do histórico radicada na ideia da criação e recriação de formas de organização da sociedade, para quem a criação incessante e essencialmente indeterminada dependerá de sua relação direta com a constituição social-histórica de uma dada sociedade, de uma dada época.

Nesse percurso, procuramos trazer os aspectos principais da inserção da Igreja nos meios digitais, com destaque para uma linha do tempo da própria Igreja no lançamento de documentos que marcam a sua evolução desde a década de 1950, quando a Igreja publica sua primeira carta acerca do uso dos meios de comunicação, às décadas seguintes, de 1960 até 1990. Porém, detemo-nos nos dez últimos anos, da inserção quase total nos meios digitais, iniciando pela figura do Papa Emérito Bento XVI ao atual pontífice, o Papa Francisco. Além disso, trazemos uma análise detalhada das narrativas digitais do cantor católico Thiago Brado na construção de um imaginário mediático com maior número de adeptos no Brasil, entre os jovens cantores católicos, com 340 mil seguidores no Facebook. A ascensão mediática de Thiago Brado se dá na construção de um imaginário de sucesso, enquanto produção da mídia, ancorada na sua performance jovial e herdeira de um estilo pentecostal, católico carismático, expresso nos discursos como a “jornada” por meio de músicas fabulosas.

O capítulo III trata dos conceitos da visibilidade mediática somada à comunicação tecnológica e à cultura pós-moderna, que Eugênio Trivinho define como modo de existência em tempo real, uma vida humana glocalizada à luz do horizonte simbólico dominante das tecnologias do tempo e da velocidade em tempo real, mantido pela potência da visibilidade mediática.

Os ambientes glocais narrativos na comunicação com o sagrado deslocada da percepção geográfica de contato humano para o lugar imaterial de intenso fluxo espectral de luz das redes exigem que o internauta seja dromoapto, ou seja, que esteja totalmente conectado e domine as linguagens necessárias para a interação no ambiente de rede também no âmbito religioso. Trazemos para análise a presença da Igreja nas redes digitais com sites, aplicativos e produtos como o Click to Pray, um aplicativo oficial de oração, chamada de

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Rede Mundial de Oração do Papa, e o lançamento do Rosário Digital, uma pulseira de oração digital com conexão Bluetooth ligada à Rede Mundial de Oração do Papa.

O quarto capítulo foi desenvolvido devido às mudanças acontecidas na Igreja Católica com a chegada da pandemia da Covid-19, iniciada em dezembro de 2019, na China, e que trouxe mudanças radicais para a religião no mundo, mas especificamente na Igreja Católica, a partir de março de 2020, quando. por determinações da Organização Mundial de Saúde (OMS), os fiéis tiveram de deixar de praticar os rituais próprios do catolicismo presencialmente para participar de celebrações online em todas as igrejas do Brasil, instaurando um novo modelo de igreja nas redes sociais, tendo a velocidade da civilização mediática como marca e colocando em visibilidade conteúdos e espaços privados da religião. As análises deste capítulo nos darão subsídios significativos para compreender o deslocamento das práticas tradicionais do catolicismo para as redes sociais.

A internet, por sua facilidade de acesso e de uso, e pela expansão do alcance e da abrangência das interações sociais, possibilita que as pessoas assumam o poder de ter uma palavra pública. As mídias digitais tornaram-se espaços de autonomia, para além do controle de governos e instituições que historicamente monopolizaram o processo de produção da informação e detinham o seu poder, como a Igreja Católica. As plataformas digitais ampliam e estendem o escopo das ações de construção de sentido social de indivíduos e coletivos já socialmente conectados e participativos, dando-lhes mais autonomia pública e social.

O capítulo traz uma análise da evolução do uso das tecnologias e das estratégias midiáticas pela Igreja Católica no processo de mediatização do catolicismo, apresentando em detalhes de algumas mudanças internas e externas da Igreja Católica, com destaque para duas sondagens feitas em forma de pesquisa, sendo uma acerca da importância do uso dos meios digitais para a visibilidade da Igreja em âmbito nacional e outra sobre o aumento da visibilidade da Igreja Católica da Arquidiocese de São Paulo no uso das redes sociais durante a pandemia.

Assim, as experiências religiosas parecem incorporar-se na dimensão simbólica que as viabiliza, e as agências do sagrado são responsáveis por favorecer essas experiências.

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CAPÍTULO I – NARRATIVAS E RELIGIÃO

2.1 Narrativas digitais nas redes sociais

Enquanto seres humanos, produtores de linguagem, temos uma real necessidade de narrar nossos feitos e realizações, como uma forma de inserção social. (RICOEUR, 1994, p. 55). A narrativa é um dos nossos mecanismos cognitivos primários para a compreensão do mundo, bem como um dos modos fundamentais pelos quais construímos comunidades, desde a tribo agrupada em volta da fogueira até a comunidade global constituída por meio de aparelhos tecnológicos.

Ao narrar, contamos os fatos de um determinado tempo e espaço. Vinculadas às formas de narrar a vida, temos desde as grandes narrativas mundiais, que contam histórias de povos e nações, surgidas durante o século XVIII, na Europa, pela lógica iluminista, com a introdução e a defesa do uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas), em um movimento que promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, até as novas descobertas e o avanço científico nos séculos XIX e XX, que colocaram à disposição do ser humano informações diferentes, como a descrição da órbita dos planetas e do relevo da Lua, a invenção da tecnologia, das máquinas e a Revolução Industrial, o desenvolvimento do comércio e a ascensão dos negócios próprios dos desbravadores da nova narrativa na era da luz.

Tendo isso em mente, é inegável que vivemos em um mundo pautado por uma infindável diversidade de narrativas, e na contemporaneidade, haja vista os espraiados processos de mediatização, elas são ainda mais potencializadas. Baseada na expansão da informação em rede pela internet, que permite a comunicação em escala global, em que a informação, digitalizada, pode se reproduzir, circular, se modificar e se atualizar em diferentes interfaces, marcada pela difusão rápida e contínua de mensagens mediáticas, a história se inscreve numa outra dinâmica de narrar a realidade do mundo. Os períodos evolucionários das tecnologias de cada época, com íntima relação com as narrativas da História – a Pré-história, a Antiguidade, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea –, possibilitaram as condições para o progresso tecnológico, dos meios analógicos para as mídias digitais, que adquiriram papel fundamental na evolução das formas de narrar.

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Na modernidade, há uma nova organização social, influenciada pela industrialização, que conferiu valor ao desenvolvimento do sistema capitalista e seus conceitos próprios de tempo, dinheiro e lucro, elevando a tecnologia a um elemento de distinção social entre desenvolvimento e subdesenvolvimento, deixando de ser um componente ou fator somente de produção. A introdução e a difusão dos meios elétricos e eletrônicos, respectivamente na metade do século XIX e no século XX, representaram uma grande reconfiguração dos meios de comunicação na virada tecnológica da Revolução Industrial, criando novos meios – como o telégrafo, o telefone, o cinema, o fonógrafo, a fotografia, o rádio e a televisão –, que significaram um ciclo cultural de aceleração na transmissão e circulação das mensagens. Era o início da comunicação mediática, cujo desenvolvimento, ao longo do século XX, passou aos

media interativos, que possibilitaram o aperfeiçoamento da comunicação do homem e de sua

cultura como forma de expressão do ser em sociedade.

A relação dos seres humanos com o conhecimento do mundo ao seu redor se transforma completamente quando é intermediada pelas mídias digitais. As percepções, os relacionamentos e a própria atividade mental operam a partir de uma contínua intersecção com o digital. Por conta disso, nosso pensamento, assim como nosso relacionamento com a realidade e com outros seres humanos são, ao menos parcialmente, adaptados à lógica das mídias digitais. (MARTINO, 2014, p. 40).

À medida que o tempo se acelera e as distâncias encurtam, passado e futuro se dissolvem, ocorrendo o surgimento do reinado do presente, próprio da era digital. Dessa passagem do tempo-matéria, da realidade geofísica, para o tempo-luz, nascem as narrativas digitais. Desenvolvidas em ferramentas computacionais e com possibilidades de publicação e circulação em ambientes virtuais, as narrativas apresentam-se de diversas formas digitais: como histórias, relatos, narrativas multimídias ou multimidiáticas; a pluralidade de meios de produção de narrativas digitais demonstram o caminho por onde têm passado a construção pessoal e social da humanidade e as novas maneiras de narrar os fatos pessoais e sociais. Martino propõe alguns conceitos-chaves sobre mídias digitais, como “barreira digital, ciberespaço, convergência, cultura participativa, inteligência coletiva, interatividade, interface, segurança e vigilância, ubiquidade, velocidade e virtualidade” (2014, p. 11-12). As narrativas digitais são essencialmente estabelecidas pelas mídias digitais, como dados, sons, imagens, letras ou qualquer outro elemento, sequências de números que permitem o compartilhamento, o armazenamento e a conversão de dados. Uma das características que

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marca fortemente o contexto contemporâneo é a velocidade das transformações da vida social e das informações que são propagadas minuto a minuto pelos meios de comunicação.

A tecnologia digital surge na segunda metade da década de 1960, através de fusões referentes à informática e às telecomunicações. Segundo André Lemos (2002, p. 85), as mídias digitais atuam de duas maneiras: prolongando e multiplicando a capacidade das mídias tradicionais ou criando tecnologias, na maioria das vezes híbridas. “A tecnologia digital proporciona uma dupla ruptura: no modo de conceber a informação (produção por processos microeletrônicos) e no modo de difundir as informações (modelo todos-todos)”. O termo ‘novas tecnologias’ engloba diversos desenvolvimentos tecnológicos realizados nos últimos anos, tais como a ciência da computação, a microeletrônica, as telecomunicações, a engenharia de software e a análise de sistemas. As novas tecnologias aumentam a capacidade de registrar, armazenar, analisar e transmitir grandes volumes de informações complexas de maneira segura, flexível, confiável, imediata e com independência geográfica. A tecnologia da informação tem sido capaz de transformar e reestruturar operações que fazem uso de informações para realizar transações, acompanhar registros, desenvolver análises, controlar e comunicar. Desenvolvidas no ciberespaço, as narrativas digitais são marcadas pela difusão rápida e contínua de mensagens mediáticas com diversas moldagens, textos, imagens, sons, artes, vídeos. Martino (2014, p. 21) aponta que o conceito “ciber”, desde o advento da internet e das mídias digitais, é atrelado a ambientes e tecnologias. A palavra e sua definição aparecem pela primeira vez citadas pelo matemático radicado norte-americano Norbert Wiener, em seu livro Cybernetics, de 1984. A palavra “cibernética” vem do grego Kibernos, ‘controle’. A cibernética é a área do saber que se dedica a estudar as relações entre formação e controle em um sistema. Já o termo “ciberespaço” foi usado pela primeira vez no livro Neuromancer, de William Gibson, publicado em 1984. Referia-se a um espaço imaterial ao qual seres humanos eram conectados através de aparelhos eletrônicos.

O ciberespaço é a interconexão digital entre computadores ligados à rede. É um espaço que existe entre os computadores, quando há uma conexão entre eles que permite aos usuários trocarem dados. Cada pessoa com acesso à internet faz parte do ciberespaço quando troca informações, compartilha dados, publica alguma informação. (TRIVINHO, 2007, p. 29).

A cibercultura consolida-se a partir da segunda metade do século XX, irradiando-se para todos os segmentos da vida humana, à medida que todas as atividades do cotidiano estão atreladas à tecnologia informática (TRIVINHO, 2007). A cibercultura se origina no final dos anos 1960, nos Estados Unidos, com jovens (ibélicos) que construíram PCs para tirar o

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monopólio dos grandes conglomerados das empresas de telecomunicações. Ela influenciou diretamente a concepção de comunicação tecnológica com o valor utópico articulador da sociedade pós-moderna. As principais características da cibercultura são a velocidade e a interatividade, bases do fenômeno glocal,3. A velocidade de transmissão de informações propiciada pelas novas tecnologias, notadamente a internet, tem alterado de maneira drástica nossa forma de perceber espaço e tempo, bem como de agenciar nossas práticas subjetivas, sobretudo do mundo religioso.

Compreendida como civilização mediática avançada (TRIVINHO, 2012, p. 36), essa época expressa o eixo articulatório na lógica da comunicação em tempo real como sendo o

modus operandi do capitalismo tardio. Pode-se dizer que esse feito do capital – o fenômeno

da comunicação em tempo real – remonta ao empreendimento iniciado na Revolução Industrial para alcance de níveis altos de produtividade da indústria, por meio de estratégias, instrumentos administrativos e ferramentais, além de procedimentos processuais, todos eles concebidos para extrair resultados ótimos da relação entre tempo e espaço, entendidos como tempo de produção e circulação de mercadorias, para sua transformação em dinheiro e presença de capital na maior extensão territorial possível.

Na civilização mediática atual, tomada aqui na pós-modernidade, o imaginário deixa de ser apenas um conjunto de imagens e torna-se uma trama concernente a valores e sensações partilhadas. O sucesso desse novo tempo dependeu de investimentos econômicos e intelectuais que promovessem a passagem do uso de instrumentos técnicos para os tecnológicos, de modo que estes, incluindo as telecomunicações, viabilizassem a superação da barreira representada pela conjunção espaço-tempo, necessária para o deslanchar do empreendimento capitalista (HARVEY, 2004). A comunicação em tempo real comparece, no processo histórico desse desenvolvimento, como ápice da invenção do próprio meio de sobrevivência do capital como modus operandi social, cultural e econômico, constituído na forma de rede de relações aceleradas entre sujeitos, instituições e corporações empresariais, entre elas os media.

Nesse espaço mediatizado marcado por velocidade e rapidez, os signos aparecem, desaparecem e se ressignificam na sociedade, combinados aos recursos tecnológicos, permitindo a vazão da interatividade e da criatividade às novas formas de produção de narrativas que aparecem. Essas narrativas são construídas com base nas práticas sociais e com

3 O fenômeno glocal e seu processo derivado, a glocalização, equivalem ao complexo modo de reprodução social-histórica – essencialmente descentrada, socialmente enredada e altamente acelerada – do existente sob o imperativo da espectralização audiovisual e informacional e de suas relações sociais”

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