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Click to Pray – um clique para rezar

O Click to Pray é um aplicativo oficial de oração da Rede Mundial de Oração do Papa, coordenada por uma equipe de representantes nos continentes africano, asiático, norte- americano, latino-americano e europeu. A Rede Mundial de Oração do Papa é uma obra pontifícia, cuja missão é rezar e viver os desafios da humanidade e da missão da Igreja que preocupam o Santo Padre, expressos nas suas intenções mensais. A plataforma foi lançada em

novembro de 2014, em Portugal, pelo Apostolado da Oração,29 em conjunto com a agência “La Machi”. O aplicativo foi lançado no Vaticano, em 10 de março de 2016. Há versões disponíveis em português, espanhol, francês, alemão, inglês e italiano. Essa rede de oração está ligada ao Apostolado da Oração, que foi fundado em 1844, e à Santa Sé, confiada à Companhia de Jesus, ordem religiosa da qual faz parte o Papa Francisco. A Rede Mundial de Oração do Papa está presente em 98 países e reúne 35 milhões de católicos; o Movimento Eucarístico Juvenil (MEJ), ramo juvenil da Rede Mundial de Oração do Papa, está em 56 países e reúne 1,6 milhões de crianças e jovens, de 5 a 25 anos.

Figura 16: Página do Aplicativo Click To Pray

Fonte: https://clicktopray.org

É nesse contexto glocal que a comunicação com o sagrado é deslocada da percepção geográfica de contato humano para o lugar imaterial de intenso fluxo espectral de luz, densamente povoado, das redes comunicacionais e da comunicação humana imediata. A condição de fé ou aquisição do sagrado foi se tornando habitus, povoando o imaginário religioso e fazendo o fiel sentir-se um sujeito ativo, mesmo estando passivo. Essa imersão do fiel na plataforma, segundo o padre Antonio Valério:

[...] se deu pela necessidade concreta que é proporcionar três momentos de oração ao longo do dia e rezar pelas intenções do papa, mas por trás existe a funcionalidade. Foi necessário estudar a parte gráfica, ser também uma

29 Existente há 175 anos, o Apostolado da Oração é um movimento eclesial que procura viver a espiritualidade apostólica e eucarística, voltado ao Sagrado Coração e fundamentado na releitura do Mistério da Paixão de Jesus. É uma união de fiéis que se oferecem, de forma cotidiana, para a continuidade da obra de nossa redenção. É um dos movimentos mais antigos da Igreja Católica. (Cf. http://aomej.org.br/historia)

plataforma intuitiva para o usuário, tudo isso é importante. Recorrer às ferramentas habituais nos outros aplicativos móveis que existem no mercado, seguir as mesmas regras para ter ‘sucesso’, poderíamos dizer assim. (PE. ANTONIO VALÉRIO. Entrevista concedida à autora)30.

O processo de glocalização da vida humana é configurado como um conjunto de experiências potencializadas e multiplicadas pelo enfrentamento dos contextos glocais – como articuladores socioculturais e transpolíticos –, que reescreve midiaticamente a atualidade. Essa reescrita acontece, principalmente, por meio das infotecnologias que vigoram sob o modelo bunker, “um reduto de livre confinamento interativo do corpo, da subjetividade e do campo próprio” (TRIVINHO, 2007, p. 299), fazendo o glocal interativo emergir. Daí que o emprego da comunicação digital e o uso da cibercultura pela religião fortalecem a interação e estabelecem laços de unidade entre o fiel e o papa.

Sua missão é criar laços, pontas e difundir as intenções do papa, que é um dos desafios que o papa encontra. Mobilizar os cristãos e as pessoas de boa vontade para aquilo que entende ser os desafios do mundo e da missão da Igreja. E, neste sentido, a comunicação digital e os estudos da cultura digital têm servido para que mais pessoas conheçam quais são as intenções do papa. Também é verdade que, com o Papa Francisco, estamos diante de um homem com o carisma muito particular e com um perfil de comunicador que é muito fácil chegar a um público mais amplo, vemos como suas mensagens são difundidas não só através dos meios de comunicação católicos, mas também por outros grupos, e por isso há, certamente, um fortalecimento dos laços com a figura do papa. (PE. ANTONIO VALÉRIO. Entrevista concedida à autora).

A tabela a seguir mostra a evolução da Rede Mundial de Oração do Papa de 2015 a 2019.

Tabela 3: Tabela evolutiva do alcance de usuários pelo Aplicativo Click To Pray

Fonte: Informações do site da Rede Mundial de oração e elaboração da tabela feita pela autora.

O catolicismo é uma experiência de fé e de relação pessoal com o “eu interior”, por isso, uma figura de referência, como o papa, faz com que as pessoas busquem no aplicativo uma relação de encontro. O próprio Papa Francisco disse, em uma aparição pública na praça São Pedro, na oração do Angelus:

Gostaria de vos convidar a unir-vos à Rede Mundial de Oração do Papa, que difunde, inclusive através das redes sociais, as intenções de oração que proponho todos os meses à Igreja inteira. É assim que se leva em frente o apostolado da oração, fazendo crescer a comunhão. (Angelus, 8 jan. 2017).

Este estudo mostra que o uso das tecnologias dentro da religião, como espaço democrático de interações, faz parte da própria dinâmica da religião, sobretudo quando entramos nos espaços digitais e sociais, onde a dinâmica de interação é feita por perguntas e diversas narrativas de vida, seja por parte da plataforma, seja por parte dos seguidores. Assim, a religião se destaca como um bem mais individual do que coletivo/comunitário e por isso parece ter mais seguidores e/ou fruidores, calcando expressivos números a cada dia, de 114 pessoas nos dois anos iniciais para uma média de 53.320 pessoas, muito além do alcance local. É nas redes que muitos encontram, fazem ou refazem seu micromundo religioso.

Os gráficos a seguir mostram a evolução deste aplicativo desde a sua criação, quando não estava ligado à figura da Igreja ou a um potencial base comunicacional unindo o centro às demais redes sociais, até a expressiva visibilidade, alcance e sucesso quando associado à figura do Papa Francisco.

Gráfico 6: Média dos orantes no Aplicativo de 2015 a 2019

Fonte: Aplicativo Click To Pray

O gráfico 6 mostra o número de pessoas que usava este aplicativo em 2015, quando ainda não estava ligado à figura do papa, embora a intenção já fosse a mesma.

Gráfico 7: Média dos orantes no Aplicativo de 2015

Fonte: Aplicativo Clik To Pray

O aplicativo Click to Pray foi lançado oficialmente em 10 de março de 2016, por ocasião das "24 horas para o Senhor", e passou a ser a plataforma oficial de oração pelas intenções do papa. Na ocasião, alcançou a média de 2.214 pessoas, ainda bastante inexpressiva considerando a sua potencialidade.

Gráfico 8: Média dos orantes no Aplicativo de 2016 no lançamento pelo Vaticano

Fonte: Aplicativo Click To Pray

No entanto, como dissemos anteriormente, tendo por base dois importantes pilares – o Papa, representando a Igreja, e a estrutura comunicacional –, a média do ano seguinte foi de 19 mil seguidores; e, no ano seguinte, saltou para 53 mil. Além da visibilidade clara dos números expressivos de seguidores, usuários do aplicativo, alguns temas tiveram picos de visualização em 2018, como o de um vídeo em que o papa falou sobre as redes sociais, que obteve 75 mil visualizações. Em 2019, com o tema dos jovens na escola de Maria, bateu um recorde de 150 mil visualizações.

Gráfico 9: Média dos orantes no Aplicativo de 2018

Gráfico 10: Média dos orantes no Aplicativo de 2019

Fonte: Aplicativo Click To Pray

Os dados estatísticos, como sinalizadores de tendências, apontam para processos de inserção profunda do catolicismo na visibilidade mediática, que se tornou “imperativo do cotidiano” após a ligação e administração da plataforma pelo Discatério de Comunicação da Igreja.

Ao usar o espaço das redes para atualizar os seus modos de interação com o fiel, transportando os mais variados espaços e intenções mundiais, por meio da tecnologia, a religião Católica proporciona um certo conforto e um ganho de tempo na vida do fiel. Perguntado sobre a importância de esse projeto estar ligado diretamente ao papa, o padre Antonio Valério disse:

A importância é muito grande, não só por gosto ou interesse pessoal do papa em assumir este projeto, mas também com a abertura que isto tem na colaboração da Secretaria da Comunicação do Vaticano, onde se faz toda esta comunicação das intenções do papa, e depois, com outras dicas dentro da Santa Sé, também tem havido parcerias pontuais, de acordo com a intenção; ora sobre ecologia, ora sobre os imigrantes e refugiados, então tudo isso abre muitas parcerias dentro das instituições da Santa Sé, e por isso é muito importante o reconhecimento da Rede Mundial da Oração do Papa como obra pontifícia, por que é uma obra da Santa Sé, e por isso também está dentro do que é a atividade normal do Santo Padre.

O aplicativo percorre estratégias de comunicabilidade da Igreja na interação, advindas da aproximação do papa com seus fiéis. O ato transforma o contato do papa num encontro que se dá no diálogo da Igreja, pretensa doadora de sentido na totalidade da vida social de seus fiéis e da realidade pessoal ou social de necessidades peculiares. Entende-se que a Igreja tem uma nova compreensão da forma de viver a fé e desse novo local que a rede constitui, ao qual

todos têm acesso o tempo todo. Assim, conclui-se que a religião, ao transportar sua visibilidade, confirma a existência dos “não lugares” e induz ao deslocamento da percepção geográfica de contato humano para o lugar imaterial de intenso fluxo espectral de luz, densamente povoado, das redes comunicacionais. A globalização da modernidade emerge, assim, como um processo de compressão do tempo e de aniquilação do espaço, na definição de David Harvey (1992), a que se associam a internacionalização do capital, o consumismo e a construção de um mercado global. A globalização não significa, assim, o fim do local, enquanto realidade social. O que a globalização significa de fato é uma forte e intensa conexão do local e do global, associada a um conjunto profundo de transmutações da vida cotidiana, que afetam as práticas sociais e os modos de comportamento preexistentes.

O aplicativo é mais uma das narrativas de como o catolicismo se constrói na visibilidade mediática. Carranza (2011) atenta para alguns aspectos dentro da cultura da virtualidade real, que passa a ser a realidade da pessoa, com sua existência material e simbólica imersa num embate de imagens virtuais, nas quais os símbolos não são apenas metáforas, mas abarcam experiências reais, capazes de mudar indivíduos e coletividades. A base material da cultura, o modo de vida no espaço de fluxos e no tempo intemporal, tem valores e funções que se organizam em simultaneidade, sem contiguidade, construindo sequências imprevisíveis, sem passado e sem futuro, instantâneas (CARRANZA, 2011, p. 227).

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