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Cartografia de povoamentos de pinheiro bravo em função das classes de qualidade e de produtividade: caso de estudo em Trás-os-Montes e Alto Douro

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Cartografia de povoamentos de pinheiro bravo em função

das classes de qualidade e de produtividade. Caso de

estudo em Trás-os-Montes e Alto Douro

Dissertação de Mestrado em Engenharia Florestal

António Sérgio Fernandes Marques

Orientador: Professor Doutor José Tadeu Marques Aranha

Co-orientador: Engenheiro Mário Rui Duro

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Cartografia de povoamentos de pinheiro bravo em função

das classes de qualidade e de produtividade. Caso de

estudo em Trás-os-Montes e Alto Douro

Dissertação de Mestrado em Engenharia Florestal

António Sérgio Fernandes Marques

Orientador: Professor Doutor José Tadeu Marques Aranha

Co-orientador: Engenheiro Mário Rui Duro

Composição do Júri:

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As doutrinas apresentadas no presente trabalho são da inteira responsabilidade do autor.

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Este trabalho representa o culminar de um ciclo e a conclusão de mais uma etapa pessoal. Representa um percurso árduo e trabalhoso, mas ao mesmo tempo enriquecedor. A sua realização não seria possível sem o apoio de todos aqueles que, de uma forma ou outra, o tornaram possível.

O meu primeiro agradecimento é dirigido ao Professor Doutor José Tadeu Marques Aranha, que acompanhou a realização desta dissertação e com o seu conhecimento, disponibilidade, sugestões e críticas permitiu a sua conclusão.

Ao Engenheiro Mário Rui Duro, técnico do ICNF, pela colaboração e discussões técnicas que permitiram chegar ao tema e à realização do trabalho.

A todos os meus amigos que me acompanharam durante o meu percurso académico e que foram uma ajuda essencial nestes últimos anos. Em especial ao André Alves, Paulo Costa, Manuela Barros, Cátia Ribeiro, Sara Marrafa e Olga Martins por todos os momentos de camaradagem e aventuras passadas, que levo no coração para toda a vida.

À minha família, pela paciência, palavras de incentivo e ternura que me presentearam ao longo de todo este processo. O desfecho deste ciclo é consequência dos seus sacríficos e um orgulho para eles, sentimento que me moveu para o triunfo e nunca para a derrota.

Por fim, queria agradecer à minha namorada, Flávia Meireles da Silva, pelo apoio incondicional ao logo deste trabalho. Em todos os impasses e problemas é imprescindível o apoio de pessoas que nos façam acreditar no nosso valor e que fazem de pequenos instantes grandes momentos. A sua gentiliza, carinho, palavras doces e por vezes apenas a sua presença eram uma fonte de tranquilidade, que entre ventos e tempestades me faziam encontrar sempre o caminho.

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A floresta é o tipo de uso e ocupação do solo mais representativo em Portugal. Durante vários anos o pinheiro bravo foi a espécie com maior ocupação territorial desempenhando inúmeras funções, quer de produção quer ecológicas, tendo ainda um valor económico e social associado aos seus serviços. Contudo, um conjunto de adversidades ligadas à falta de ordenamento fez com que a expansão territorial desta espécie decrescesse.

Este trabalho teve como objetivos: classificar os povoamentos em termos de classe de qualidade e criar uma carta de produtividade para o pinheiro bravo de forma a entender a produção atual dos povoamentos e determinar o possível proveito que se esperaria obter se nas áreas desprovidas de vegetação na região de Trás-os-Montes e Alto Douro fossem instalados povoamentos florestais com esta espécie.

Os resultados alcançados mostram que o potencial produtivo do pinheiro bravo difere entre o distrito de Vila Real e Bragança. O distrito mais produtivo é Vila Real em que 91,5 % dos povoamentos puros estão listados numa classe de qualidade igual ou superior a 14 metros aos 35 anos, o que corresponde ao um AMA máximo de 8 m3/ha ano. O mesmo acontece para

as áreas de matos, onde quase a totalidade da área assume uma classe de qualidade aos 35 anos de igual ou superior a 14 metros. Bragança é distrito com menos aptidão produtiva, mais de metade da região apresenta uma classe de qualidade aos 35 anos de 12 metros, correspondendo a um AMA máximo de 5 m3/ha ano.

Palavras chave: Funcionalidades do território; Ordenamento do território; Gestão florestal; Potencial produtivo; Classe de qualidade; Reconversão de zonas de mato

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The forest it is a kind of land use more representative in Portugal. Since several years the maritime pine was the specie with the largest territorial occupation, fulfilling several ecological functions and still having an economic and social value related with their services. However, a set of adversities related to absence of planning meant that the spatial expansion of this specie decreased.

The objective of this paper is create a productivity map for maritime pine in order to understand the current profit of forest stands and determines the possible suitability for install new stands in areas where shrubs are the principal vegetation in the region of Trás-os-Montes and Alto Douro.

The maritime pine potential production differs between the districts of Vila Real and Bragança. The most productive district is Vila Real in which 91.5% of pure stands are listed in a class of quality equal or superior than 14 meters ate age of 35 years, which corresponds to a maximum AMA of 8 m3/ha year. The same applies for brushwood parts, where nearly the whole area takes a quality class not less than 14 meters to 35 years. Bragança is a district with less productive qualification, more than half of the region has a quality class at 35 years of 12 meters, corresponding to a maximum AMA of 5 m3/ha year.

Keywords: Territory functionalities; Territory planning; Forest management; Productive potential; Site index; Conversion of bush areas.

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Resumo ... v

Abstract ... vii

Índice tabelas ... xi

Índice figuras ... xiii

Lista de Siglas e Abreviaturas ... xv

Capítulo 1 – Introdução ... 1

1.1. Introdução ao tema e objetivos ... 1

1.2. Estruturação do trabalho ... 2

Capítulo 2 – Revisão bibliográfica ... 3

2.1. Importância económica do sector florestal ... 3

2.2. O pinheiro bravo ... 4

2.2.1. Ecologia e distribuição ... 4

2.2.2. Evolução territorial em Portugal ... 5

2.2.3. Causas de degradação ... 7

2.2.3.1. Incêndios florestais ... 7

2.2.3.2. Pragas e doenças ... 8

2.2.4. Fileira do Pinheiro Bravo ... 12

2.3. Funcionalidades do território ... 14

2.4. A utilidade da estatística no sector florestal ... 17

2.5. Sistemas de Informação Geográfica (SIG) ... 18

2.5.1. Aplicações dos SIG no domínio Florestal ... 20

Capítulo 3 – Caracterização da área de estudo ... 23

3.1. Enquadramento geográfico ... 23

3.2. Caracterização climática ... 24

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3.5. Ocupação do solo... 30

3.6. Contexto social ... 31

Capítulo 4 – Material e métodos ... 33

4.1. Material ... 33

4.2. Metodologia ... 33

Capítulo 5 – Apresentação e discussão dos resultados ... 37

Capítulo 6 – Conclusões ... 49

Bibliografia ... 53

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Tabela 1-Evolução da área florestal em Portugal Continental entre 1934 e 1970 (Branco, 1998). ... 6 Tabela 2- Frequência dos diferentes níveis fitoclimáticos na área de estudo. ... 28 Tabela 3- Proporção das diferentes classes de ocupação do solo na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. ... 30 Tabela 4- Distribuição do número parcelas de acordo com a classe de qualidade por andar ecológico em Vila Real. ... 39 Tabela 5-Distribuição do número parcelas de acordo com a classe de qualidade por andar ecológico em Bragança ... 39 Tabela 6- Distribuição do número parcelas de acordo com o acréscimo médio anual por andar ecológico em Vila Real ... 40 Tabela 7- Distribuição do número parcelas de acordo com o acréscimo médio anual por andar ecológico em Bragança. ... 40 Tabela 8- Tabela de médias e desvios padrões paras certas características das parcelas em estudo. ... 41 Tabela 9- Resultados do teste t-Student e os respetivos níveis de significância. ... 41 Tabela 10- Relação entre as classes de qualidade e os acréscimos médios anuais nos diferentes distritos. ... 48 Tabela 11- Erro associado às simulações espaciais. ... 48

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Figura 1- Área de distribuição do pinheiro bravo (Alía & Martin, 2003). ... 4 Figura 2- Evolução das principais espécies florestais em Portugal entre 1995 a 2010 (ICNF,2013). ... 7 Figura 3- Dados das áreas ardidas de pinheiro bravo entre 1996 e 2014 (ICNF, 2015). ... 8 Figura 4- Evolução da zona afetada (zona interior) e da zona tampão (zona exterior). Localização da faixa de contenção fitossanitária (CCB) implementada em 2007 (Sousa et al., 2011). ... 11 Figura 5- Índice de produtividade para o pinheiro bravo em Portugal Continental. Destaque para o norte e centro do país. (Santos & Almeida, 2003). ... 16 Figura 6- Enquadramento geográfico da área de estudo. ... 23 Figura 7- Conjunto de folhas da Carta Militar que representam a região de Trás-os-Montes e Alto Douro. ... 24 Figura 8- Temperatura média anual na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. ... 25 Figura 9- Precipitação média anual na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. ... 26 Figura 10- Regiões climaticamente homogéneas de Trás-os-Montes e Alto Douro (Cabral, 2013). ... 27 Figura 11- Distribuição dos andares ecológicos na Região de Trás-os-Montes e Alto Douro. ... 28 Figura 12-Disposição dos diferentes tipos de solos na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. ... 29 Figura 13- Classes de ocupação do solo em Trás-os-Montes e Alto Douro de acordo com a COS 07. ... 31 Figura 14- Evolução populacional em Trás-os-Montes e Alto Douro entre 1991, 2001 e 2011. ... 32 Figura 15- Organização espacial das parcelas utilizadas. ... 38 Figura 16- Distribuição das classes de qualidade em Trás-os-Montes e Alto Douro para áreas puras de pinheiro bravo. ... 42 Figura 17- Percentagem de classe de qualidade por distrito para as áreas puras de pinheiro bravo. ... 43 Figura 18-Percentagem dos acréscimos médios anuais por distrito para áreas puras de pinheiro bravo. ... 44

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Figura 20- Percentagem de classe de qualidade por distrito para áreas de matos. ... 45 Figura 21- Distribuição espacial das classes de qualidade em Trás-os-Montes e Alto Douro para as áreas de matos. ... 46 Figura 22- Percentagem dos acréscimos médios anuais por distrito para as áreas de matos. . 46 Figura 23- Distribuição espacial dos acréscimos médios anuais das áreas de matos em Trás-os-Montes e Alto Douro. ... 47

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Lista de Siglas e Abreviaturas

AMA – Acréscimo Médio Anual

Brg – Bragança

COS – Carta de Uso e Ocupação do Solo

DGRF – Direção Geral dos Recursos Florestais

ENF – Estratégia nacional para as florestas

ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas

IFN – Inventário Florestal Nacional

INE – Instituto Nacional de Estatística

IGP – Instituto Geográfico Português

PIB – Produto interno bruto

POSF – Plano Operacional de Sanidade Florestal

PROF – Plano Regional de Ordenamento Florestal

SI – Site Index (Índice de Qualidade)

SIG – Sistemas de Informação Geográfica

TMAD – Trás-os-Montes e Alto Douro

VAB – Valor Acrescentado Bruto

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Capítulo 1

Introdução

1.1. Introdução ao tema e objetivos

A floresta desempenha um papel de grande importância no que diz respeito à conservação dos recursos naturais, sendo ainda apontada como um bem fundamental para o desenvolvimento económico e social sustentável do país. Esta afirmação é justificada pela estratégia nacional para as florestas (ENF) (Resolução do Conselho de Ministros n.º 6-B/2015, de 4 de fevereiro) que mostra a rentabilidade dos recursos em virtude das suas funções. Dados do IFN6 mostram que é esta tipologia que ocupa a grande extensão nacional (35%) seguido das áreas de matos e pastagens (32%) (ICNF, 2013a).

O pinheiro bravo é a terceira espécie mais representativa do território nacional ocupando 23% da superfície florestal, percentagem esta que tem vindo a decrescer ao longo dos anos (ICNF, 2013a). Para Pereira (2014), prevalece a falta ou o inadequado ordenamento florestal como principal causa de decadência das áreas ocupadas por esta espécie. De acordo com Alves (1988), uma melhoria a nível do ordenamento florestal passa pela utilização dos meios computacionais que oferecem novas ferramentas e permitem uma análise mais pormenorizada das particularidades do território, potenciando o seu uso e facilitando as tomadas de decisões.

Na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, como apresentado no Capítulo 2, a espécie mais representativa da região é o pinheiro bravo. Posto isto e fazendo uso de um programa de SIG, pretende-se criar uma carta que traduza a qualidade e as potencialidades produtivas para a espécie, em locais onde existem povoamentos puros. Para além desta caracterização atual, pretende-se ainda determinar o potencial de crescimento da espécie em áreas atualmente ocupadas por matos. Apesar destas áreas estarem desprovidas de estrato arbóreo, não traduzem uma incapacidade produtiva, podendo ser aproveitadas para reflorestamento.

Este trabalho vai ao encontro aos objetivos estratégicos da ENF, nomeadamente a “Especialização do território” e “Melhoria da gestão florestal e da produtividade dos

povoamentos”. Os resultados desta dissertação fornecem com maior detalhe regional a

adequabilidade produtiva das espécies para obtenção de melhores benefícios económicos. Pode servir como molde para futuras ações a desenvolver na região, de maneira a contribuir para a resolução dos problemas que promovem a degradação da área florestal, garantindo assim a sustentabilidade económica do setor.

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1.2. Estruturação do trabalho

O presente trabalho está dividido em seis capítulos. O primeiro destina-se à apresentação dos objetivos, onde são expostos os motivos que levaram à realização deste trabalho. O tópico seguinte descreve o contexto em que esta dissertação se realizou. É feita uma alusão à espécie e às suas exigências, essenciais para a interpretação dos resultados. Aqui é referida a sua importância económica e a evolução territorial que fornece informações da sua tendência. Para além disso, é feita uma pequena descrição das particularidades dos sistemas de informação geográfica (SIG), da sua aplicação e utilidade no sector florestal. O mesmo se sucede para a estatística, outra ferramenta usada para a concretização desta dissertação.

O terceiro capítulo é dedicado à área de estudo. Aqui é feita a sua caracterização em termos climáticos, ecológicos e sociais.

Os restantes capítulos estão ligados ao propósito deste trabalho, referindo-se aos procedimentos e matérias utilizadas. São ainda expostos e discutidos os resultados alcançados com a apresentação das diferentes figuras e tabelas.

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Capítulo 2 – Revisão bibliográfica

2.1. Importância económica do sector florestal

A Resolução do Conselho de Ministros n.º 114/2006, de 15 de setembro, reconhece que a floresta é um sector estratégico para o desenvolvimento nacional, sendo assim uma prioridade para o país. Aqui é aprovada a Estratégia Nacional para as Florestas (ENF), um “elemento de referência das orientações e planos de ação públicos e privados

para o desenvolvimento do sector”. Este documento foi atualizado pela Resolução do

Conselho de Ministros n.º 6-B/2015, de 4 de fevereiro, pela necessidade de acompanhar e dar resposta às tendências que se fazem sentir no sector a nível nacional e internacional.

Estudos realizados por Merlo e Croitoru (2005) apresentados pelo Millenium Ecosystem Assessment (2005) e citados na ENF, mostram que o valor económico total das florestas de Portugal Continental ultrapassa os valores por unidade de área de outros países mediterrâneos. O nosso país retira ao fim de um ano, mais riqueza por área florestal (344 euros/ha ano) do que países como França (292 euros/ha ano) e Espanha (90 euros/ha ano). Este valor não reflete apenas as transações comercias, mas um vasto valor de serviços ecossistémicos prestados à sociedade.

Umas das particularidades da ENF é a apresentação da matriz estruturante do valor da floresta. Aqui, é atribuída uma cotação considerando o tipo de floresta e a função inerente associada não só à produtividade, mas também às funções ecológicas. É tido em conta as externalidades negativas essenciais para definir as estratégias futuras e determinar o valor da floresta Portuguesa.

No documento inicial, o valor atribuído ao complexo florestal português era de 994 milhões de euros. A espécie com maior importância económica era o sobreiro, com um valor de 440 milhões de euros, o eucalipto e o pinheiro bravo apresentavam valores mais baixos, 92 e 90 milhões de euros respetivamente. As grandes perdas de valor são, neste documento, associadas aos incêndios florestais (378 milhões de euros) e às pragas, doenças e invasoras (16 milhões de euros).

Após a atualização dos valores atribuídos ao eucalipto e ao pinheiro bravo mantiveram-se assim como os valores negativos relacionados com os incêndios. As alterações feitas aos valores da matriz não foram muito discordantes, no entanto, o valor total da floresta portuguesa baixou para os 982 milhões de euros.

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Em 2009 as indústrias que representam a fileira florestal patenteavam um valor acrescentado bruto (VAB) de 2 % do VAB nacional e 1,6 % do produto interno bruto (PIB) (Pereira, 2014). Apesar da tendência negativa verificada entre 2000 e 2009, o VAB da silvicultura, em 2013, teve um aumento de 8,7 % em valor, e de 6 % em volume, comparativamente com 2012. Este aumento deve-se essencialmente aos incrementos na produção de madeira e de cortiça acompanhadas de alterações positivas em volume e preço (INE, 2015).

A partir do ano de 2004, constatou-se uma tendência negativa no número total de trabalhadores em empresas da fileira florestal e em empresas das indústrias transformadoras, tal como é exposto no relatório de caracterização da fileira florestal (AIFF, 2014). Em 2009, a fileira florestal era responsável por 1,9 % do emprego nacional, cerca de 95 mil postos de emprego, tendo diminuído para 1,5 % em 2011 (Pereira, 2014; Sarmento & Dores, 2013b).

2.2. O pinheiro bravo

2.2.1. Ecologia e distribuição

O pinheiro bravo ( Pinus pinaster Ait.) , também conhecido no seu nome vulgar como pinheiro marítimo, ocupa a zona costeira de Portugal, França e Espanha , estendendo-se pelo sul da Europa, ocupando ainda zonas do norte de África, tal como mostra a Figura 1 (Majada et al., 2011).

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Em Portugal ocupa essencialmente a faixa litoral, onde predomina a influência atlântica. Resiste com alguma facilidade à salinidade, secura atmosférica e altas temperaturas, mas apresenta dificuldades em manter-se em zonas com ocorrência de geadas e nevões. Adapta-se até uma altitude de 1000 metros, porém nas regiões de transição para a continentalidade ocorre até uma altura na ordem dos 700 metros (Alves, 1988; Costa, 1984)

No que diz respeito às condições pluviométricas, estas ostentam um valor ótimo de 800 mm anuais, podendo suportar até 500-600 mm desde que exista humidade atmosférica e condições do solo favoráveis. Estas condições que passam por uma vasta gama de solos desde que não apresentem muito calcário solúvel, má drenagem e compactação que impeça o crescimento radicular em profundidade (Alves, 1988).

2.2.2. Evolução territorial em Portugal

Ações de arborização em Portugal têm marcado a ocupação florestal atual. No período de 1805 iniciaram-se as arborizações das dunas do litoral, ação que perdurou até 1936, deixando uma área arborizada de cerca de 23350 ha. Contudo, os trabalhos mais intensivos de florestação deram-se entre 1938 e 1968, pela execução do Plano de Povoamento Florestal criado pelo Estado Novo (Estevão, 1983).

O pinheiro bravo surge como a opção mais eficaz, dada a sua preferência ecológica e a sua pertinência económica (Branco, 1998). Esta espécie aparece no próprio plano como “ uma verdadeira riqueza que muito importa desenvolver”, onde o principal objetivo era o desenvolvimento das indústrias que usam o pinheiro como matéria-prima (Estevão, 1983). De acordo com Branco (1998), após a finalização do plano, o incremento em área florestal foi de cerca de 363 mil hectares, em que 168 mil hectares correspondiam a áreas de pinhal. Desde então, o pinheiro bravo passou a ter supremacia espacial em relação a outras espécies, ocupando cerca de 44,2% da área florestal, tal como se mostra na Tabela 1.

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Tabela 1-Evolução da área florestal em Portugal Continental entre 1934 e 1970 (Branco, 1998).

Área (103 ha) Área (%)

1934 1970 1934 1970 Pinhal 1139 1307 45,2 45,3 P. Bravo - 1274 - 44,2 P. Manso - 33 - 1,1 Outras Resinosas 6 39 0,2 1,4 Sobreiro 741 638 29,4 22,1 Azinheira 380 573 15,1 19,9 Eucalipto 6 154 0,2 5,3 Carvalho 108 6 4,3 0,2 Castanheiro 85 27 3,4 0,9 Outras Folhosas 6 126 0,2 4,4 Outras Espécies 67 16 2,7 0,6 Área Florestal 2520 2883

Em 1965, iniciaram-se em Portugal Continental trabalhos periódicos com resultados estatísticos e cartográficos que têm como objetivo averiguar a dinâmica dos recursos florestais. O último inventário realizado em Portugal (IFN6) tem como referência o ano de 2010. Neste relatório preliminar é feito um balanço tendo em conta os dados de 1995 e 2005 (ICNF, 2013a).

Apesar do aumento da área de pinheiro manso, a área de pinhal está numa queda acentuada, devido à diminuição constante das áreas de pinheiro o bravo, tal como mostra a Figura 2. Esta espécie deixa assim de ser aquela com maior representatividade a nível Nacional, após 2005, sendo ultrapassada em área pelo Eucalipto. Nos resultados referentes ao período de 2010, o pinheiro bravo aparece como sendo a terceira espécie com maior ocupação territorial, onde a lista é liderada pelo eucalipto e posteriormente pelo sobreiro. Dentro deste período, a diminuição da área de pinheiro bravo foi aproximadamente de 263 mil hectares, ultrapassando os ganhos da execução do plano de povoamento florestal em cerca de 95 mil hectares. Este documento refere que a grande percentagem desta área se transformou em áreas de “matos e pastagens” (165 mil hectares) e outra porção em áreas de eucalipto (70 mil hectares) (ICNF, 2013a).

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Figura 2- Evolução das principais espécies florestais em Portugal entre 1995 a 2010 (ICNF,2013).

2.2.3. Causas de degradação

Dados do IFN6 mostram que a área de pinheiro bravo diminuiu 263 mil hectares entre o período de 1990 e 2010 (ICNF, 2013a). As causas desta redução são resultado da falta de condições para a sua gestão, facto que favorece a propagação de incêndios florestais, pragas e doenças (Pereira, 2014).

Em Portugal prevalece o domínio privado relativamente à propriedade florestal. As áreas públicas correspondem apenas a 15 % de toda a área florestal, no qual apenas 2 % são propriedade privada do Estado. Esta realidade é um impedimento à ação do Estado no ordenamento florestal (AIFF, 2013b; Macedo, 1997). Esta situação é agravada pela baixa rentabilidade retirada pelo proprietário, não só pela reduzida dimensão da propriedade florestal que pode atingir dimensões inferiores a 1 ha, mas também pelo retorno económico que se obtém na prática silvícola (AIFF, 2013b; Pereira, 2014).

2.2.3.1. Incêndios florestais

Nos anos 50, Portugal começou a vivenciar o êxodo das populações das zonas interiores do país. Movimentações estas que resultaram no abandono de práticas que outrora controlavam a acumulação de combustível (Gonçalves et al., 2010)

Uma falta de gestão florestal ativa em conjunto com condições climatéricas favoráveis ao crescimento e secagem do combustível florestal, favorece a ocorrência de incêndios. A grandeza dos incêndios esta dependente, entre outros fatores, da continuidade vertical e horizontal do material vegetal e da combustibilidade das

0 200 000 400 000 600 000 800 000 1 000 000 1 200 000

Eucalipto P.Bravo Sobreiro Azinheira P.Manso

Á re a (h a) Espécies florestais 1995 2005 2010

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existências florestais. As ações do Estado Novo criaram, em Portugal, a maior mancha contínua de pinhal da Europa (Silva et al., 2007). Espécie que apresenta uma folhada com características de “ignição fácil e combustão rápida e energética” (Fernandes, 2007).

António Salgueiro indica que a diminuição da atividade resineira deixou também os pinhais mais desprotegidos. Esta prática mantinha os resineiros nos povoamentos durante quase todo o ano, sendo um reforço na vigilância e deteção de incêndios. Para facilitar a realização das intervenções torna-se necessário uma limpeza regular do pinhal, o que reduziria a carga de combustível e a severidade, em caso de incêndio (Agrotec, abril 22, 2015).

Dados recolhidos pelo ICNF (2015) mostram que, desde 1996 até 2014, em média, 12,6 % do território flagrado correspondia a áreas de pinheiro bravo. Analisando a Figura 3 reparamos que 2005 foi o ano que mais contribuiu para a área ardida desta categoria, com cerca de 24,3 % de toda a área de pinheiro ardida. Foi também em 2005 que ardeu mais área de pinheiro bravo em comparação com outros tipos de uso e ocupação do solo, com um valor de 25,5 %. Durante este período, a área ardida em pinhal soma cerca de 363954 ha, onde 46, 3 % deste valor, está associado aos anos de 2003 e 2005.

Figura 3- Dados das áreas ardidas de pinheiro bravo entre 1996 e 2014 (ICNF, 2015).

2.2.3.2. Pragas e doenças

Face à globalização dos mercados e ao avanço industrial mundial, as transações de bens e serviços são uma realidade à qual já estamos habituados. Estas trocas dão-se ao nível de uma vasta gama de recursos, dos quais os produtos florestais não são exceção.

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 Á re a (% ) Período

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9

No ano de 2007 estima-se que o comércio de madeira e de produtos derivados tenha sido de cerca de 324 000 000 m3. Estes dados apontam para um aumento de 83% em valor e

de 61% em volume, desde o ano de 1992 (FAO, 2011; Leal et al., 2010).

De acordo com a Resolução do Conselho de Ministros n.º 28/2014, esta grande movimentação de recursos permite a disseminação de novos agentes patogénicos, em que a sua fixação pode ser favorecida através de fenómenos de modificação de habitats devido às alterações climáticas ou a oportunidades através de fenómenos extremos, no caso de fogos florestais e tempestades que deixam os ecossistemas mais vulneráveis.

Em Portugal foi criado um plano de ação, o Programa Operacional de Sanidade Florestal (POSF), que visa auxiliar a Proteção Florestal Nacional relatando as medidas e procedimentos apropriados na prevenção e controlo de agentes bióticos nocivos. Este plano encontra-se enquadrado no Decreto-Lei n.º 154/2005, de 6 de setembro (alterado e atualizado pelos Decretos-Leis nº 193/2006, de 26 de setembro, 16/2008, de 24 de janeiro, 4/2009, de 5 de janeiro, 243/2009, de 17 de setembro, 7/2010, de 25 de janeiro, 32/2010, de 13 de abril e Decreto-Lei n.º 95/2011, de 8 de agosto). Tenta ainda criar condições para uma ação clara e eficaz, aumentando o conhecimento dos agentes nocivos que afetam ou possam vir a afetar o território nacional. Através da avaliação da sua distribuição espacial e do grau de perigosidade pretende-se reduzir os danos provocados e consequentemente as perdas económicas. Outro objetivo é impedir a introdução de novos agentes, através de um controlo mais apertado das importações e a nível de circulação de material lenhoso, para que seja assegurado o controlo de material vegetal passível de estar infetado (ICNF, 2013b).

Existem dois organismos detetados em Portugal que exigem quarentena e afetam diretamente o pinheiro bravo e foram considerados prioritários pelo POSF, sendo eles: o

Fusarium circinatum (Cancro Resinoso do Pinheiro) e o Bursaphelenchus xylophilus

(Nemátodo da Madeira do Pinheiro). Estes agentes são apenas aqueles que se encontram em quarentena em território nacional, contudo existem outros que atacam os pinhais portugueses. São referidos no POSF e temos como exemplo da processionária do pinheiro ( Thaumetopoea pityocampa) e torcedora ( Rhyacionia buoliana) (ICNF, 2013b)

O cancro resinoso do pinheiro apareceu em Portugal pela primeira vez em 2008 num viveiro localizado na região centro. Após a sua confirmação foi lançado um plano de ação cujas medidas de proteção fitossanitárias foram publicadas na Portaria n.º 294/2013, de 27 de setembro (ICNF, 2014b). Este fungo afeta muitas espécies do género

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no hospedeiro obriga a análises laboratoriais, visto que pode atacar a planta nos vários estágios do seu desenvolvimento e ocupar as diferentes partes da planta, desde a raiz até rebentos ou até mesmo a própria semente. Os sintomas são variados desde morte ou curvatura apical, libertação de resina nos ramos, coloração avermelhada nas agulhas e

dieback desde os pequenos ramos que se pode alastrar a toda a árvore levando a sua morte

(EPPO, 2005; ICNF, 2014b). Este fungo difunde-se através do vento ou insetos que transportam o inóculo e novas infeções aparecem através de plantas/sementes infetadas ou da utilização de ferramentas que estiveram em contacto com material infetado.

Este problema é mais alarmante ao nível de viveiros florestais, onde se dá grande parte do controlo. A grande preocupação é a não utilização de plantas ou sementes infetadas para plantação que possam difundir este agente. Atualmente este problema vive-se ao nível dos viveiros florestais que influencia a produtividade destas plantas. Porém, não se descarta a possibilidade de afetar povoamentos já instalados. Estudos elaborados por Möykkynen et al. (2015) mostram a incidência doFusarium circinatum no território,

tende a mover-se para norte de acordo com as alterações de clima que se faturam. Assim, Portugal passa a ter uma percentagem de território menos vulnerável, em que a grande preocupação centra-se a norte do país.

O nemátodo da madeira do pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus) constitui uma das maiores ameaças mundiais aos sistemas florestais, trazendo grandes perdas ao nível económico e ambiental (Vicente et al., 2012). Trabalhos levados a cabo por Mota et al. (1999) detetaram a sua presença pela primeira vez em território nacional, mais propriamente na região Marateca / Pegões. Portugal foi o primeiro país europeu a ser afetado e desde então que se tem definido estratégias para evitar a sua expansão. Recentemente foi criado um plano de ação nacional de controlo do nemátodo da madeira do pinheiro em concordância com o POSF, onde as medidas de proteção fitossanitárias estão atualmente expressas e atualizadas no Decreto-Lei n.º 95/2011, de 8 de agosto (ICNF, 2014a)

Este organismo é responsável pela doença da murchidão do pinheiro que provoca a mortalidade de grandes extensões, em que os sintomas não são muito específicos, sendo necessárias análises laboratoriais para confirmar a sua presença. Todavia, árvores atacadas apresentam um declínio rápido caracterizado pelo emurchecimento da parte aérea e podridão radicular, devido ao bloqueio do transporte de nutrientes (EPPO, 2013; Vicente et al., 2012).

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A dispersão do nemátodo é feita através de um inseto vetor do género

Monochamus. Em Portugal o nemátodo mantém uma relação simbiótica com o Monochamus galloprovincialis. Antes da presença do nemátodo este inseto era

considerado um saprófito secundário no ecossistema florestal, não existindo qualquer estudo da sua biologia e preferência ecológica. Atualmente é a chave para o controlo desta praga, pois é o responsável pela infeção e dispersão pelo povoamento. A circulação de material lenhoso infetado é também umas das formas de disseminação, suspeitando-se ser a causa de introdução deste organismo no nosso país (EPPO, 2013; Sousa et al., 2001)

Após a identificação deste agente em Portugal, foi demarcada uma área que continha a zona infetada e uma zona tampão, com um raio de cerca de 20 km.O objetivo era impedir a expansão para outras zonas do país. Contudo, esta zona foi sofrendo alterações dimensionais ao longo dos anos, conforme o avanço da dispersão desta praga, como ilustra a Figura 4 (Sousa et al., 2011).

Figura 4- Evolução da zona afetada (zona interior) e da zona tampão (zona exterior). Localização da

faixa de contenção fitossanitária (CCB) implementada em 2007 (Sousa et al., 2011).

De acordo com os dados da DGRF ( 2007), expostos em Sousa et al. (2011), esta área total aumentou de 309 000 ha (em 2000) para 1 010 000 ha (em 2007). A área afetada correspondia a cerca de 48 000 ha no ano de 2000 e teve um aumento de 32 000 ha até 2007, aumentado o número de pinheiros abatidos de 53 487 para cerca de 200 000. Este autor relata ainda que cerca 5 milhões de resinosas saudáveis foram cortadas para estabelecer uma faixa de contenção fitossanitária, mas que no nosso país, até à data, o nemátodo apenas foi detetado no pinheiro bravo.

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Estas medidas, no entanto, não foram eficazes aparecendo novos focos mais a norte da zona onde foi detetada inicialmente. Com este avanço foi criada uma nova zona tampão com 20 km de raio em toda a zona portuguesa junto à fronteira de Espanha, ou seja, 28% de todo o território nacional. As freguesias onde a presença do nemátodo foi positiva foram classificadas como locais de intervenção e sujeitas a medidas suplementares de controlo (ICNF, 2014a; Sousa et al., 2011).

O documento referente aos resultados preliminares do IFN6, afirma que este agente tem sido responsável por um corte excessivo de árvores e que nenhum país da Europa esteve perante tais níveis de perturbações (incêndios, pragas e doenças). De acordo com Reva (2014), num cenário extremo de destruição de pinhal, as perdas económicas seriam desastrosas. A maior perda seria a nível das indústrias que utilizam embalagens de madeira, com uma perda económica de cerca de 16 biliões de euros em volume de negócios pondo em causa cerca de 160 000 postos de emprego. A serração iria perder cerca 82.2 milhões de euros em exportações colocando em risco cerca de 1 900 postos de emprego. Teríamos ainda perdas na indústria das embalagens que utilizam a madeira como matéria prima, exportações de madeira em bruto e outras situações comercias associadas a floresta. Estima-se que o valor do défice português aumente, no mínimo 2,5 biliões de euros.

2.2.4. Fileira do Pinheiro Bravo

Em Portugal destacam-se três fileiras florestais, que refletem as três espécies com maior representatividade no território nacional (Pereira, 2014). O estudo prospetivo para o sector florestal (AIFF, 2013a) salienta a complexa rede de relações que existe entre as diferentes fileiras, devido ao grande número de aplicações dos materiais lenhosos.

As contas económicas da silvicultura (INE, 2015) fazem também alusão às principais utilizações dadas à madeira das diferentes espécies. Aqui a produção de madeira é agrupada em dois grandes conjuntos: Madeira para serrar e madeira para triturar. Na indústria ligada à trituração, usa-se madeira de eucalipto com o objetivo de produzir pasta de papel. Apesar da utilização de fibras de espécies resinosas na produção, a grande quantidade de matéria-prima deste género florestal é direcionada primordialmente na produção de aglomerados e de produtos para fins energéticos. A vertente ligada à serração utiliza maioritariamente madeira de pinho, com uma aplicação vasta para fins industriais da madeira e mobiliário (INE, 2015). É nesta última que existe

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*1 Painéis de fibras de madeira ou de outras matérias lenhosas, mesmo aglomeradas com resinas ou com outros aglutinantes orgânicos. *2 Obras de marcenaria ou de carpintaria para construções, incluindo os painéis celulares, os painéis montados para revestimento de

pavimentos (pisos) e as fasquias para telhados (shingles e shakes), de madeira (exceto painéis de madeira contraplacada, tacos e frisos, não montados, para soalhos e construções pré-fabricadas).

*3 Móveis de madeira, para salas de jantar e salas de estar (exceto assentos).

*4 Colofónias e ácidos resínicos, e seus derivados; essência de colofónia e óleos de colofónia; gomas fundidas

o maior consumo de madeira desta espécie, onde o estudo prospetivo para o sector florestal (AIFF, 2013a) enaltece a indústria da madeira e do mobiliário.

Ainda de acordo com o mesmo documento, apesar da disposição negativa verificada entre o período de 2008 a 2011, a indústria da madeira apresentou um VAB de 356,7 milhões de euros. Aqui, 75 % do VAB englobam a “fabricação de outras obras de carpintaria para construção” (39%), “serração de madeira” (26%) e “fabricação de painéis de partículas de madeira” (10%). Da indústria do mobiliário podemos destacar a “fabricação de mobiliário de madeira para outros fins” (67%) e “fabricação de mobiliário para escritório e comércio” (18%), representando 85% do valor total desta indústria, com um VAB total de 384.4 milhões de euros.

Tendo em conta a produção de madeira, tem-se notado um aumento em importações e exportações. Estas transações são feitas essencialmente a nível europeu onde o maior consumo da madeira portuguesa tem como destino Espanha (AEP, 2008). Entre o período de 2008-2011, o volume de exportações foi de aproximadamente 10,49 milhões de euros, onde se destaca a atividade 4411*1 e a 4418*2 na indústria da madeira e essencialmente a atividade 94036010 *3 na indústria do mobiliário (AIFF, 2013a).

A resina é outro benefício económico tirado do pinheiro bravo, apesar de ter vindo a perder valor em Portugal desde 1990, à semelhança de outros países da Europa. Em Portugal estimava-se que esta prática abrangia mais de metade da área de pinhal, atingindo um pico de 0.06 % no PIB nacional, no ano de 2003 (Anastácio & Carvalho, 2008).

Entre 2008 e 2011 verificou-se uma variação positiva da exploração de resina, a qual se traduz no VAB de 18.1 milhões de euros. Quase 100% das exportações resultam da atividade 3806*4, que vertem um valor de 167.88 mil euros (AIFF, 2013a).

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2.3. Funcionalidades do território

Os ecossistemas florestais desempenham uma série de funções que vão não só ao encontro das necessidades económicas das populações e assegurar as necessidades ecológicas, mas também tentam responder a questões de bem-estar social. Sugimura e Howard (2008) definiram como principais valências a produção, a conservação da água da paisagem, a promoção da comodidade e a conservação de biodiversidade. Desta forma, podemos considerar os espaços florestais comos sistemas multifuncionais que contemplam a componente ambiental, social e económica. Porém, diferentes beneficiários têm perspetivas díspares da utilização dos recursos, o que é um motivo de conflito entre as partes interessadas (Agnoletti & Santoro, 2015; Häyrinen et al., 2016; Krcmar et al., 2003). De acordo com a revisão dos PROF (que está em curso em 2016) as funcionalidades do território florestal poderão ser de produção lenhosa, de produção de bens e serviços ou de conservação e proteção do solo.

Uma gestão florestal sustentável surgiu como forma de harmonizar a exploração dos recursos, sem por em causa as questões socias e ambientais, permitindo a sua existência no futuro (Häyrinen et al., 2016; MacDicken et al., 2015). Em complementaridade a esta gestão florestal surgiu, no início de 1990, a certificação florestal. Esta partilha o objetivo de uma gestão florestal sustentável, mas como nova ferramenta que utiliza critérios e indicadores (Rametsteiner & Simula, 2003). O processo de certificação é um ato voluntário com fortes influências do mercado, que procura cada vez mais produtos obtidos de gestão florestal transparente, resultando em práticas sustentáveis. Um novo leque de oportunidades comerciais e maior valorização dos produtos é também uma visão agradável para fazer a certificação (Hălălişan et al., 2012; Sarmento & Dores, 2013a) . Em Portugal, a reduzida dimensão da propriedade aliada ao fraco retorno económico é um entrave ao investimento inicial necessário para suportar os custos de uma certificação e para uma gestão ativa do território (Sarmento & Dores, 2013a).

Surgem no nosso país várias estratégias, politicas e planos com o intuito de maximizar o rendimento florestal, combater o défice de produtividade e assegurar a sustentabilidade dos recursos. Na lei de bases da política florestal foi proposta a criação de planos regionais de ordenamento florestal (PROF) e de planos de gestão florestal (PGF). Estes são instrumentos complementares definidos no Decreto-Lei n.º 16/2009 de 14 de janeiro (Guiomar et al., 2011) e, de acordo com esta regulamentação, determinam

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“regionalmente o conjunto de normas que regulam as intervenções nos espaços

florestais”.

O PROF é um instrumento que se encontra em concordância com os objetivos previstos na ENF(Decreto-Lei n.º 16/2009 de 14 de janeiro). Esta estratégia apresenta dois objetivos distintos, mas que partilham dos mesmos ideais, sendo eles a “Especialização do território” e a “Melhoria da gestão florestal e da produtividade dos

povoamentos”. Esta intenção está definida no PROF pela necessidade de estes avaliarem

as potencialidades das áreas florestais de acordo com o uso mais comum do espaço (Decreto-Lei n.º 33/96 de 17 de agosto; Resolução do Conselho de Ministros n.º 6-B/2015). A existência de uma matriz que define o valor dos vários tipos de floresta, de acordo com as várias funções desempenhadas, permite identificar o serviço mais valoroso e assim tirar um maior proveito das potencialidades do território, considerando as características biofísicas e os aspetos socias ecológicos e económicos. Esta ação permite assegurar todas as vocações dos ecossistemas florestais sem colocar em causa os seus aspetos socias económicos e ecológicos e a sua sustentabilidade.

Também Alves (1988) fazia referência aos desequilíbrios existentes da exploração dos sistemas florestais que levantavam preocupações ambientais. Este autor defende que o planeamento florestal regional tem que ter por base a compreensão dos vários usos da terra associadas a contextos socias e económicos, mas também aos condicionalismos eco-biológicos. A carta ecológica de Portugal elaborada por J. Pina Manique e Albuquerque considera aspetos como pluviosidade, temperatura e geadas, de acordo com diferentes andares hipsométricos. Desta integração resultam diferentes zonas fitoclimáticas, às quais estão subjacentes determinadas espécies florestais dominantes e subdominantes adaptáveis às características climáticas da região. Este tipo de zonagem permite simplificar o planeamento florestal criando áreas ajustadas às propriedades ecológicas potenciando a capacidades produtivas das existências florestais (Alves, 1988; Carvalho, 1994).

Uma silvicultura apropriada garante uma gestão sustentável dos recursos, em que o delineamento dos tratamentos a aplicar ao longo do período de exploração é definido de acordo com a especulação da produtividade (Moreira & Fonseca, 2002; Skovsgaard & Vanclay, 2013). O potencial produtivo de uma estação florestal é normalmente quantificado num índice, o mais comum é com base na altura dominante a uma idade de referência (Índice de qualidade de estação – SI). Esta idade está dependente das práticas de gestão inerentes em que o mais comum é uma altura próxima da idade de revolução.

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Os resultados são normalmente agrupados em classes e expostos graficamente. Este tipo de metodologia permite quantificar o conjunto de condições responsáveis pelo crescimento das árvores, que se vão traduzir numa determinada produção (Marques, 1987 ; Skovsgaard & Vanclay, 2007; Skovsgaard & Vanclay, 2013).

O trabalho de Santos e Almeida (2003) tinha como objetivo estabelecer um índice de produtividade do pinheiro bravo para o território nacional utilizando os princípios da geoestatística e funções de análise espacial. Este índice foi apresentado em cinco classes diferentes, exclusivamente para locais de ocorrência da espécie. Deste trabalho, resultou a Figura 5 que mostra a distribuição da produtividade, onde as zonas mais escuras são as de melhor produtividade (referenciada com o número 1) havendo uma diminuição da eficiência produtiva na medida em que se caminha para a cor amarela (referenciada com o número 5). Para estes autores as melhores áreas são aquelas que estão afastadas dos terrenos duros do litoral e em que o clima é favorável e os solos mais férteis. Estes autores não fazem referência à zona de Trás-os-Montes e Alto Douro, no entanto é possível reparar que a maior incidência da espécie está relacionada com a zona a oeste da região em que a sua produtividade é muito variada.

Figura 5- Índice de produtividade para o pinheiro bravo em Portugal Continental. Destaque para o norte e

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2.4. A utilidade da estatística no sector florestal

A estatística é o campo da matemática que trata da análise e interpretação dos dados permitindo tirar conclusões que ajudam na tomada de decisão. A análise estatística é uma ferramenta utilizada nas diferentes áreas científicas com o objetivo de investigar e interpretar uma ou várias características de uma amostra populacional (Padovani, 2012).

No âmbito florestal, a utilização deste tipo de ferramentas é uma prática comum. Inicialmente, o grande foco era criar modelos capazes de presumir características que traduzissem um valor económico dos recursos, como por exemplo, o volume de madeira de uma determinada área (Stoyan & Penttinen, 2000). Com o passar do tempo, e com o reconhecimento da multifuncionalidade da floresta, começou a ganhar terreno na determinação e evolução de processos e outras características biológicas dos ecossistemas florestais (Jayaraman & Rugmini, 1990; Stoyan & Penttinen, 2000).

Têm sido criados vários modelos para estimar alturas, densidades e volumes de acordo com características mais facilmente mensuráveis, índices para caracterizar a capacidade produtiva dos povoamentos e relações entre a vegetação e ocorrências e intensidade de fogos florestais (Gregoire, 2009). A criação destes modelos é possível devido à existência de relações entre características, onde se procura através de uma variável X (independente) determinar o valor de uma variável Y (dependente) (Härdle et

al., 2007). Um exemplo é a relação entre altura dominante e a idade, através da utilização

mais comum de equações polimórficas disjuntas que permitem a criação de curvas de classe de qualidade traduzidas no índice de qualidade da estação florestal.Outro exemplo é a criação de equações para determinar a altura das árvores, que são essencialmente resultados de uma função de regressão, cuja variável dependente é a altura de uma amostra populacional e os valores da variável independente que geralmente são o diâmetro à altura do peito (Jayaraman & Rugmini, 1990; Marques, 1987 ). Os coeficientes que resultam desta aferição podem posteriormente ser ajustados em diferentes modelos de equações, em que o melhor ajustamento é determinado, por exemplo, pelo coeficiente de determinação (R2). O R2 é uma medida de ajustamento

estatístico que explica a variância existente entre as várias componentes utilizadas no modelo estabelecido (Rawlings et al., 1998).

Outra utilidade muito comum é analisar os efeitos das variáveis independentes sobre as variáveis dependentes e perceber se os dados fornecem evidências para sustentar determinada hipótese. Existem vários testes estatísticos que melhor se adequam conforme

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o tipo de delineamento experimental e o tipo de dados a avaliar (Härdle et al., 2007; Wienclaw, 2015). Se estivermos perante dados que apresentem uma distribuição normal, também designada por distribuição de Gauss, são usados testes paramétricos, em que o mais comum é o teste de t de Student. No caso de não apresentarem uma distribuição normal usa-se testes não paramétricos como o teste de Mann-Whitney.Temos ainda a análise de variância (ANOVA), que é um processo agregado a diversos modelos, na qual a sua aplicação resulta na apreciação dos efeitos de uma, ou várias, variáveis independentes sobre uma variável dependente (McDonald, 2008; Normando et al., 2010). A estatística é ainda associada a uma componente espacial, tornando-se uma ferramenta de grande importância ambiental, com aplicações numa vasta gama de áreas. Estas técnicas têm acompanhado os avanços tecnológicos e computacionais o que facilita a sua aplicação e simplifica o seu procedimento técnico. De uma forma simples, os valores amostrados estão associados a uma determinada localização, assumindo uma relação estatística de acordo com a distância de cada variável da amostra. Isto traduz-se num valor ligado a um fenómeno espacial continuo (Diggle & Ribeiro, 2007)

No âmbito florestal são inúmeras as suas utilizações, permitindo analisar efeitos das alterações climáticas sobre vegetação, estabelecer o avanço de pragas e doenças e determinar a composição vegetal (Pereira et al., 2008). As decisões de gestão florestal estão muitas vezes dependentes de informações espaciais, onde a incorporação desta técnica em programas SIG permite criar informação contínua no território, através de simples amostras de dados. Isto permite melhorar a qualidade das decisões de gestão o que certamente se irá traduzir na sua eficácia (Köhl et al., 2006).

2.5. Sistemas de Informação Geográfica (SIG)

Os sistemas de informação geográfica surgiram da necessidade de criar novas técnicas que, de uma forma rápida e eficaz, fossem capazes de diferentes aplicabilidades sobre dados espaciais. A grande quantidade de recursos humanos e despesas económicas associados ao Inventário Territorial Canadiano foi uma das causas motivadoras para a criação desta ferramenta que teve a comunidade do aumento da indústria computacional e diminuição de custos de aquisição destes equipamentos (Longley et al., 1991c).

Os SIG utilizam um conjunto de aplicações informáticas que permitem trabalhar com informação georreferenciada, e que estão armazenadas num computador ao qual estão ligados vários equipamentos periféricos permitindo processar, manipular, arquivar

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e apresentar as várias relações entre os dados requeridos (Auerbach, 2015; Worboys & Duckham, 2004). Permitem integrar informações que derivam de várias fontes num só sistema, tornando possível, a partir da base dados, executar inúmeras análises. Assim, a partir de uma base de dados onde se encontram as informações consideradas importantes para determinada pesquisa é possível, através do conhecimento apropriado dos seus comandos, obter um conjunto diferenciado de ficheiros (Longley et al., 1991f; Worboys & Duckham, 2004).

A sua utilização remonta para os finais dos anos sessenta e a sua expansão foi rápida, onde várias entidades com interesse na seleção, organização e interpretação da informação geográfica retiraram partido dos benefícios desta ferramenta, sendo usada por pessoas ligadas não só à geografia mas também à agricultura, biologia, matemática, economia e muitas outras áreas (Longley et al., 1991c, 1991e).

Um SIG é muito mais do que apenas um software incorporado num sistema computacional. Uma correta descrição assume outros elementos fundamentais ao seu funcionamento, sendo eles os seguintes: software, hardware, dados e o utilizador (Chrisman, 1999). O primeiro corresponde ao programa informático capaz de realizar as operações e o arranjo de dados, existindo uma vasta quantidade de sistemas comerciais e de livre acesso aptos a concretizar as operações desejadas (Auerbach, 2015; González et

al., 2012; Sui, 2014). O hardware corresponde à parte física do sistema, sendo os computadores pessoais os equipamentos mais utilizados. Contudo, com o avanço tecnológico, vários aparelhos apresentam uma adaptação a determinados programas e vice-versa (González et al., 2012; Longley et al., 1991f). Os dados são considerados como um elemento de grande importância para o desenlace e sucesso dos resultados, pois é sobre este componente que vão ser realizadas todas as operações necessárias à obtenção da informação pretendida. A acessibilidade aos dados é cada vez maior pois grande parte encontra-se em formato digital. O aumento de partilha de dados na web facilita a sua aquisição, podendo ser descarregada para a componente física em qualquer altura. No entanto, alguma desta informação, para poder ser utilizada, tem de ser solicitada à identidade produtora (Alesheikh et al., 2002; González et al., 2012).A última fração do sistema corresponde à parte viva, sendo considerada como a mais importante de um SIG. Aqui estão representadas as pessoas responsáveis pela elaboração e uso do SIG, capazes de produzir resultados, soluções e análises a partir da base de dados. Todavia, o sucesso está dependente do uso racional de todas as componentes por técnicos e especialistas (González et al., 2012).

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2.5.1. Aplicações dos SIG no domínio Florestal

Os SIG, tendo em conta as suas características, são instrumentos de análise constituídos por inúmeras e variadas aplicações, evoluindo e adaptando-se para executar infindas funcionalidades em diversas áreas (Longley et al., 1991a). O planeamento ambiental e a gestão dos recursos florestais bem como de outros recursos naturais compreende a análise detalhada de um conjunto de variáveis e de informações geográficas, que envolve a criação de uma base de dados com relação espacial entre si. Posto isto, é evidente que os SIG são uma ferramenta com grande potencial capazes de combinar diferentes elementos em diferentes escalas em que a exploração destes resultados vai traduzir-se em progressos e melhorias na gestão e ordenamento do território (Longley et al., 1991a, 1991d).

No setor florestal a sua importância passa essencialmente pela avaliação e gestão dos recursos. Cada vez mais existe uma preocupação a nível da gestão sustentável que assegure as necessidades produtivas, mas também que tenha em questão a vitalidade dos ecossistemas no futuro. Esta complexidade de gestão pode ser alcançada através da utilização desta ferramenta, que com restrições e atributos dos dados espaciais auxilia na otimização do uso do território (Nzesset, 1997).

A análise de dados cartografados foi desde sempre uma questão importante no âmbito do planeamento e gestão florestal. Os sistemas de informação geográfica vieram marcar uma viragem importante neste aspeto, reforçando a criação e atualização da cartografia tradicional. Assim, com esta ferramenta a edição de mapas já realizados ou a criação de novos torna-se uma tarefa mais rápida e simples sem grandes custos adicionais. A manipulação de mapas permite, através de números, cores linhas e outos símbolos, demonstrar uma variedade de relações espaciais (Longley et al., 1991b).

Um exemplo com grande destaque é a criação de cartas de risco de incêndio e o estabelecimento de sistemas de apoio à vigilância e combate de fogos florestais como mostram os trabalhos de Eugenio et al. (2016), Pourghasemi (2016), Sivrikaya et al. (2014), Kalabokidis et al. (2013) e Teodoro e Duarte (2013). Apresenta também grande utilidade em ações de reflorestação, onde através dos condicionalismos do local como precipitação, temperatura, altitude, exposição, declive e tipo de solo, entre muitas outras é possível a criação de cartografia de aptidão e capacidade produtiva das espécies florestais (Anoshirvan et al., 2014; Jaimes et al., 2012; Preda et al., 2007; Santos & Almeida, 2003). A sua aplicabilidade é vasta sendo capaz de realizar inventariações de

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recursos florestais (Chen & Zhu, 2013; Köhl et al., 2006; Store & Antikainen, 2010), otimizar e criar redes viárias florestais (Parsakhoo, 2016; Silva et al., 2016), estudar e avaliar o impacto de pragas e doenças. (Bone et al., 2013; Naish et al., 2012). Isto são apenas alguns exemplos da versatilidade deste mecanismo que é cada vez mais usado neste sector.

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Capítulo 3 – Caracterização da área de estudo

3.1. Enquadramento geográfico

O presente trabalho foi realizado na região de Trás-os-Montes e Alto Douro que é composta pelos distritos de Vila Real e de Bragança, tal como se apresenta na Figura 6. Esta região corresponde a cerca de 12,24 % da totalidade do território português, estando compreendida entre as latitudes 41º N e 42º N e as longitudes 8º 5’ W e 6º 5’ W. Os seus limites estendem-se desde o rio Douro, o distrito do Porto e Espanha, perfazendo um total aproximado de 10906 km2. Bragança é o distrito com maior extensão, ocupando mais de

metade (60,5 %) da totalidade do território de Trás-os-Montes e Alto Douro. No seu conjunto esta região abrange vinte e seis municípios. Segundo a nomenclatura das unidades territoriais (NUTS), todos eles se encontram na região Norte (NUTS II). No entanto, a sua organização relativamente ao terceiro nível (NUTS III) varia entre as sub-regiões Douro, Tâmega e Alto Trás-os-Montes. Esta área é representada por 92 folhas da Carta Militar de Portugal, série M888, distribuídas da forma que mostra a Figura 7.

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Figura 7- Conjunto de folhas da Carta Militar que representam a região de Trás-os-Montes e Alto Douro.

3.2. Caracterização climática

De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA,2016), grande parte do território nacional corresponde, com base na classificação de Köppen-Geiger, a um clima temperado (do tipo C), onde as temperaturas médias do mês mais frio variam entre 0 e 18 °C. Os subtipos presentes em Portugal e que caracterizam a área de estudo são o Csa e o Csb. O primeiro corresponde a um clima com um período marcadamente seco e quente no verão com a temperatura média do mês mais quente superior a 22 °C. Este é predominante nas regiões interiores do vale do Douro. O subtipo Csb é o que predomina em toda a totalidade da região norte de Portugal, sendo caracterizado por uma temperatura média do mês mais quente igual ou inferior a 22 °C e em que a temperatura média de quatro meses é superior a 10 °C (Chazarra et al., 2011).

As características climáticas da região de Trás-os-Montes e Alto Douro resultam não só da desigualdade orográfica do terreno, mas também da exposição a influências continentais e atlânticas (Rodrigues et al., 2010). A latitude e a orografia do terreno são características que ajudam a entender a variabilidade climática da região mesmo em zonas confinantes. Os maciços montanhosos dificultam a entrada de massas de ar húmido oceânico para o interior, influenciando a ocorrência de precipitações sendo mais comum

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em latitudes maiores, embora existem variações locais. Os locais mais a sul são aqueles com mais influências mediterrânicas e oceânicas existindo um aumento de temperaturas de norte para sul (Cabral, 2003; Gonçalves & Figueiredo, 2011).

Estas afirmações podem ser ratificadas através da Figura 8 e da Figura 9, que apresentam as diferenças climatéricas, sendo nítidas as amplitudes térmicas e a variação em termos de precipitação. De uma forma geral, as zonas próximas ao rio Douro são aquelas que apresentam um ambiente mais seco, com temperaturas médias anuais entre os 15 °C e os 16 °C e precipitação entre os 400 e os 600 mm por ano. Contrastando com estes valores encontram-se as zonas mais a norte, que correspondem a regiões montanhosas. As temperaturas médias anuais variam entre os 7.5 °C e os 12.5 °C com precipitações acima dos 1000 mm por ano, podendo ser superiores a 2500 mm como se verifica na zona do Gerês.

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Figura 9- Precipitação média anual na região de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Para Gonçalves e Figueiredo (2011), Rodrigues et al. (2010) e Cabral (2003) a região de Trás-os-Montes e Alto Douro esta categorizada em duas regiões climáticas homogéneas: Terra Quente e a Terra Fria, existindo uma zona de transição entre estas duas. Gonçalves e Figueiredo (2011), dividem a região climática designada por terra fria em: Terra Fria de montanha e Terra Fria de planalto. De acordo com o mesmo autor, o maciço de Bragança apresenta características de Terra Fria de montanha. Particularidades estas que passam por precipitações entre 1000 a 1200 mm e temperaturas médias anuais inferiores a 9 °C, ocorrendo essencialmente nas serras de Montesinho e da Nogueira.

O principal atributo na delimitação das zonas climaticamente homogéneas é a temperatura média anual. De acordo com a Figura 10, retirada de Cabral (2003), e com base nos trabalhos de Gonçalves e Figueiredo (2011) e Rodrigues et al. (2010), a Terra Fria Transmontana alarga-se pelos municípios de Bragança, Vinhais, Vimioso, Miranda do Douro, Carrazeda de Ansiães e Mogadouro. Apresenta invernos rigorosos com verões curtos e secos, temperaturas médias anuais entre 12 °C e 13 °C e precipitações que podem ser superiores a 1200 mm. A Terra Quente ocorre pelos vales a norte do Douro estendendo-se até Mirandela as temperaturas médias anuais oscilam dos 14 °C a 15 °C. Esta região climática encontra-se situada maioritariamente entre 400 - 500 metros de

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altitude e apresentam precipitações de 600 – 800mm. A zona de transição apresenta características intermédias das duas zonas climáticas, fazendo-se sentir um pouco da cada uma delas.

Figura 10- Regiões climaticamente homogéneas de Trás-os-Montes e Alto Douro (Cabral, 2013).

3.3. Zonas ecológicas

Tal como já foi referido no ponto 2.3. do Capítulo 2, foi elaborada para Portugal uma carta que assume uma caracterização climática, agrupando características como precipitação, temperatura e geadas de entre vários intervalos altimétricos. Os intervalos altimétricos definidos foram cinco: Basal (altitudes inferiores a 400 metros), Submontano (altitudes entre 400 e 700m), Montano (altitudes entre 700 e 1000m), Altimontano (altitudes entre 1000 e 1300m) e Erminiano (altitudes superiores a 1300m).

Com base na informação apresentada na Tabela 2, referente à distribuição dos andares altitudinais mostrados na Figura 11, é admissível afirmar que grande parte da região está entre os domínios Submontano e Montano. As zonas superiores a 1000 metros acomodam apenas a 8,5 % da totalidade do terreno, divergindo com os 17 % da zona basal. A extensão territorial do distrito de Bragança é superior à de Vila Real, contudo é neste último que existe uma maior presença de áreas com altitudes superiores a 1000 metros. Contrastando com Bragança, que tem uma supremacia evidente em relação às áreas com altitudes mais baixas.

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Tabela 2- Frequência dos diferentes níveis fitoclimáticos na área de estudo.

Podemos ainda fazer uso da Figura 11 para uma breve caracterização geomorfológica. De acordo com Pereira (2002), as grandes cadeias montanhosas, com altitudes superiores a 1400 metros correspondem à Serra de Montesinho (a leste) e à serra do Gerês e do Marão (a ocidente). Com altitudes mais baixas temos ainda as Serras da Nogueira, de Bornes e Alvão com altitudes máximas de 1320 ,1200 e 1329 metros. Este revelo debate-se ainda com vales profundos por onde passam as linhas de água da região (Cabral, 2013).

Figura 11- Distribuição dos andares ecológicos na Região de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Andares % Bragança % Vila

Real % Em Trás-os-Montes Basal 19,5 12,6 17,0 Submontano 42,2 34,1 38,9 Montano 35,2 36,4 35,6 Altimontano 2,6 14,9 7,5 Erminiano 0,4 1,8 1

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3.4. Solos

Tal como mostra a Figura 12 e descreve Cabral (2003) e Rosário (2004) a região de Trás-os-Montes e Alto Douro é essencialmente dominada por solos pobres e esqueléticos, designados por cambissolos e litossolos. Os cambissolos ocorrerem normalmente em zonas de declives moderados ou inexistentes, enquanto que os litossolos encontram-se em zonas de declives mais acentuados. De acordo com o mesmo autor, as zonas mais importantes localizam-se se em Chaves, Vila Pouca de Aguiar e Torre de Moncorvo. Aqui existem solos de elevada fertilidade e espessura, associadas às linhas de água, fluvissolos.

O trabalho de Figueiredo (2012) permitiu determinar que cerca de 77 % do território de Trás-os-Montes e Alto Douro apresenta solos com pedregosidade moderada a elevada e que cerca de 34 % da superfície é coberta por rocha. Os solos de maior fertilidade apresentam uma classe de pedregosidade baixa enquanto que os cambissolos e litossolos repartem-se por várias classes. A razão para a existência de grande variabilidade está diretamente ligada ao clima, que tem influência direta sobre os processos de meteorização.

Imagem

Figura 1- Área de distribuição do pinheiro bravo (Alía & Martin, 2003).
Figura 3- Dados das áreas ardidas de pinheiro bravo entre 1996 e 2014 (ICNF, 2015).
Figura 4- Evolução da zona afetada (zona interior) e da zona tampão (zona exterior). Localização da  faixa de contenção fitossanitária (CCB) implementada em 2007 (Sousa et al., 2011)
Figura 5- Índice de produtividade para o pinheiro bravo em Portugal Continental. Destaque para o norte e  centro do país
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