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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL. LUIS ERLIN GOMES GORDO. COMUNICAÇÃO (I)MATERIAL COM AS DIVINDADES – TIPOS E FORMAS DE EX-VOTOS NA RELIGIOSIDADE POPULAR. São Bernardo do Campo 2017.

(2) UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL. LUIS ERLIN GOMES GORDO. COMUNICAÇÃO (I)MATERIAL COM AS DIVINDADES – TIPOS E FORMAS DE EX-VOTOS NA RELIGIOSIDADE POPULAR. Tese apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para obtenção do grau de Doutor. Orientadora: Profª. Dra. Magali do Nascimento Cunha.. São Bernardo do Campo 2017.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA. Gordo, Luís Erlin Gomes G652c. Comunicação (i)material com as divindades: tipos e formas de ex-votos na religiosidade popular / Luís Erlin Gomes Gordo. 2017. 162 p.. Tese (Doutorado em Comunicação Social) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2017. Orientação de: Magali do Nascimento Cunha.. 1. Ex-votos 2. Tipologia 3. Folkcomunicação 4. Religiosidade popular I. Título. CDD 302.2.

(4) FICHA DE APROVAÇÃO. A tese de doutorado intitulada: COMUNICAÇÃO (I)MATERIAL COM AS DIVINDADES – TIPOS E FORMAS DE EX-VOTOS NA RELIGIOSIDADE POPULAR, elaborada por LUÍS ERLIN GOMES GORDO foi apresentada e aprovada em 29 de janeiro de 2018, perante banca examinadora composta pela Profa. Dra. Adriana Barroso de Azevedo (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Herom Vargas Silva (Titular/UMESP), Prof. Dr. Marcelo Furlin (Titular/UMESP), Profa. Dra. Cristina Schmidt (Titular/Universidade Mogi das Cruzes), Profa. Dra. Eliane Mergulhão (Titular/Universidade UNIP- São José dos Campos).. ________________________________________ Profa. Dra. Adriana Barroso de Azevedo Presidente da Banca Examinadora. Profa. Dra. Magali do Nascimento Cunha Orientadora. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Área de Concentração: Processos Comunicacionais Linha de Pesquisa: Comunicação comunitária, desenvolvimento social.. territórios. de. cidadania. e.

(5) Dedico esta pesquisa a todas as pessoas que nutrem a vida com a esperança que brota da fé. Para minha mãe, Aparecida Guizilini, que me ensinou a ter esperança, pois foi ela quem me apresentou a Deus..

(6) AGRADECIMENTOS. Agradeço à vida com a qual o meu bom Deus me presenteou. Agradeço a Ele por dar sentido à minha vida. Maria Santíssima é minha madrinha e formadora. A ela minha tese, minha prece como ex-voto, em agradecimento pela graça alcançada. Minha família é meu porto seguro, sem ela eu nada seria. Grato sou por ter sido plantado nesta célula. A Congregação Claretiana é a família com a qual escolhi viver. Aos meus irmãos no ideal Missionário, digo que serei eternamente “obrigado” a retribuir a fraternidade cristã. Tenho muitos colegas, amigos um pouco menos, pessoas que passaram e passam deixando marcas em minha vida, presentes que recebi no meio acadêmico, pastoral e laboral. A todos agradeço por dividirem comigo a riqueza de suas histórias. Meus agradecimentos finais à Universidade Metodista de São Paulo. Lugar onde me senti acolhido e pude desenvolver minha tese com total liberdade. Professora e amiga Magali do Nascimento Cunha, grato por semear esperança cristã na terra que sou..

(7) Segue o Teu Destino Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nos queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-proprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam. Ricardo Reis, in "Odes" Heterónimo de Fernando Pessoa.

(8) RESUMO GOMES GORDO, Luís Erlin. Comunicação (I)Material com as Divindades – tipos e formas de ex-votos na religiosidade popular. 2018 (162 p.). Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. Esta tese de doutorado busca avançar na compreensão dos ex-votos como veículo jornalístico e meio de comunicação, atualizando o seu conceito, bem como a sua tipologia. Para tanto, a pesquisa tem por objetivo geral estudar e atualizar a tipologia dos ex-votos criada pelo pesquisador Jorge González e adotada pelos estudiosos da Folkcomunicação, ampliando a compreensão deste fenômeno no processo comunicacional relacionado às religiões, abrindo novas possibilidades de pesquisas acadêmicas nesta área. A tese baseou-se na hipótese de que a atual classificação dos ex-votos adotada pelos pesquisadores de Folkcomunicação requer atualização, uma vez que neste processo comunicacional, assim como em outros, a dinâmica está em contínua mudança, não da prática em si que é milenar, mas em suas formas de expressões e conteúdos (tipologia). Neste sentido, é preciso ainda compreender este fenômeno para além do catolicismo (identidade com o qual foi consolidado), estudando suas manifestações em outros seguimentos do cristianismo e também em outras religiões. Para o desenvolvimento da pesquisa, a Folkcomunicação foi tomada como referencial teórico, com base nos estudos de González, de Luiz Beltrão e de José Marques de Melo. A metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica e o inventário, método já aplicado em pesquisas folkcomunicacionais relacionadas aos ex-votos. Resulta dessa pesquisa a compreensão do fenômeno ex-voto em um passo adiante do convencional (catolicismo). Outra contribuição oferecida é a atualização da tipologia que tem orientado os estudos em Folkcomunicação nas últimas décadas, levando-se em conta a dinamicidade dos processos da comunicação humana. Palavras-chave: Ex-voto. Tipologia. Folkcomunicação. Religiões..

(9) ABSTRACT GOMES GORDO, Luís Erlin. Communication (I) with Divinities through votive offerings - types and forms of ex-votos in popular religiosity. 2018 (162 p). Thesis (Doctorate in Social Communication) - Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. This study aims to further our understanding of exvotos as a journalistic media and means of communication, updating both the concept and the typology. To this purpose, the general objective of the research is to study and update the typology of exvotos developed by Jorge González (researcher) and adopted by experts on Folk Communication, expanding the understanding of this phenomenon in the communication process related to religions, thus offering new possibilities for academic research in this field. The thesis was based on the hypothesis that the current classification of ex-votos adopted by researchers on Folk Communication needs updating, as the dynamics of this communication process, like others, is continually changing. Being millenary, the practice itself does not change, but its forms of expressions and contents (typology) do. In this sense, this phenomenon must be understood beyond Catholicism (which consolidated it), through the studies of its manifestations in other segments of Christianity and in various religions. For the development of this research, Folk Communication was taken as the theoretical framework, based on the studies developed by González, Luiz Beltrão and José Marques de Melo. The methodology consisted of bibliographical research and inventory method, which have already been applied in Folk Communication research related to ex-votos. The result of this study is the understanding of the exvoto phenomenon one step ahead of the conventional (Catholicism). Another contribution is the updating of the typology that has directed the studies on Folk Communication over the last decades, considering the dynamics of the human communication process. Keywords: Exvoto. Typology. Folkcommunication. Religions..

(10) RESUMEN GOMES GORDO, Luís Erlin. Comunicación (I)Material con las Divinidades – tipos y formas de exvotos en la religiosidad popular. 2018 (162 p). Tesis (Licenciado en Comunicación Social) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. Estudio que busca avanzar en la compreensión de los exvotos como vehículo periodístico y medio de comunicación, actualizando su concepto como también su tipología. Para tanto, la pesquisa tiene por objetivo general estudiar y actualizar la tipología de los exvotos criada por el pesquisador Jorge González y adoptada por los estudiosos de la Folkcomunicación, ampliando la comprensión de este fenómeno en el proceso comunicacional relacionado a las religiones, abriendo nuevas posibilidades de pesquisas académicas en este área. La tesis se basó en la hipótesis de que la actual clasificación de los exvotos adoptada por los pesquisadores de Folkcomunicación requiere actualización, una vez que en este proceso comunicacional, así como en otros, la dinámica está en continuo cambio, no de la práctica en sí que es milenar, pero en sus formas de expresiones y contenidos (tipología). En este sentido, es necesario aún compreender este fenómeno para más allá del catolicismo (identidad con el cual fue consolidado), estudiando sus manifestaciones en otros seguimientos del cristianismo y también en otras religiones. Para el desarrollo de la pesquisa, la Folkcomunicación fue tomada como referencial teórico, con base en los estudios de González, de Luiz Beltrão y de José Marques de Melo. La metodología empleada fue la pesquisa bibliográfica y el inventario, método ya aplicado en pesquisas folkcomunicacionales relacionadas a los ex-votos. Resulta de esa pesquisa la comprensión del fenómeno exvoto en un paso adelante de lo convencional (catolicismo). Otra contribuición ofrecida es la actualización de la tipología que ha orientado los estudios en Folkcomunicación en las últimas décadas, llevándose en cuenta la dinamicidad de los procesos de la comunicación humana. Palabras-llave: Exvoto. Tipología. Folkcomunicación. Religiones..

(11) LISTA DE FIGURAS Figura 1- Vênus de Willendorf – Áustria (20.000 – 22.000 anos a.C.) ................................. 31 Figura 2 - Mãos em Negativo (mutiladas). Réplicas da Caverna de Garga – França .......... 33 Figura 3 - Placa de granito – ex-voto romano – Braga (Portugal) ........................................ 55 Figura 4 - Altar lateral e detalhe – Catedral de Mainz (Alemanha) – construído ex-voto...... 56 Figura 5 - Exemplo de “duplo orante” pré-colombiano – Museo de La Plata (Argentina) ..... 62 Figura 6 - Vaso de Warka – procissão com oferendas para a deusa Inanna. Bagdá ........... 65 Figura 7 - Gato Mumificado – oferenda (espécie de ex-voto) à deusa Basted (Egito) ........ 68 Figura 8 - Imagem de Asclépio (século III a.C.) – terracota – Museu Britânico.................... 69 Figura 9 - Ex-votos oferecidos a Asclépio (Útero, intestino, olho, orelha, seio em terracota) (Século III a.C.) – Museu Britânico....................................................................................... 70 Figura 10 - Ex-voto (placa votiva dedicada a Esculápio – I d.C.) - Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa ......................................................................................................... 73 Figura 11 - Sarcófago de Hagia Triade – Museu Arqueológico de Heraclião (Grécia) ......... 76 Figura 12 - Ex-voto olhos – Placa de Bronze – Museu de Archeologia de Dijon – França... 79 Figura 13 - Ex-votos para Pachamama – Memorial da América latina – São Paulo ............ 83 Figura 14 - Cabeça e imagem de Endovélico – Século I d.C. – M.N.A Lisboa..................... 89 Figura 15 - Ex-votos (placas) – com inscrições de agradecimento a Endovélico – Século I d.C. – Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa ................................................................ 91 Figura 16 - Ex-voto zoomórfico oferecido a Endovélico – Século I d.C. – M.N.A Lisboa ..... 92 Figura 17 - Ex-votos de diversos santuários no Brasil ....................................................... 102 Figura 18 - Ex-votos aos pés de Nossa Senhora da Cabeça Igreja de Santa Luzia, SP ... 103 Figura 19 - Ex-voto (Banner) Igreja Santa Cecília, São Paulo -SP .................................... 104 Figura 20 - Ex-voto (tatuagem).......................................................................................... 106 Figura 21 - Ficha para envio do testemunho ..................................................................... 112 Figura 22 - Ex-votos – Igreja Deus é Amor, São Paulo - SP ............................................. 113 Figura 23 - Milagres na Igreja Deus é Amor ...................................................................... 114 Figura 24 - Oferendas para o orixá Exu – Cemitério da Saudade – Campinas - SP .......... 121 Figura 25 - Pintura de Camilo Tavares (Festa de Iemanjá) ............................................... 123 Figura 26 - Compilação de fotos – Ex-votos alimentícios .................................................. 134 Figura 27 - Capela Nossa Senhora do Ó e ex-voto pictórico – Sabará - MG ..................... 136 Figura 28 - Túmulo de Exú Tranca Ruas – Cemitério da Saudade – Campinas - SP ........ 137 Figura 29 - Fiéis pagando promessa peregrinando de joelhos – Fátima - Portugal ........... 138 Figura 30 - Devota vestida de São Francisco – Canindé - CE........................................... 139 Figura 31 - Ex-voto no formato de tatuagem ..................................................................... 140 Figura 32 - Chupetas Túmulo do “anjinho” Cezinha Cemitério da Penha – São Paulo ...... 142.

(12) SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13 CAPÍTULO 1 ....................................................................................................................... 26 RELIGIÃO É COMUNICAÇÃO ............................................................................................ 26 1.1 O Ser Humano é Comunicação................................................................................ 27 1.2 Registros Comunicacionais ..................................................................................... 29 1.3 O Ser Humano é Espiritual ....................................................................................... 35 1.4 Os Símbolos, elos que ligam Religião e Comunicação ......................................... 41 1.5 A Religião é um meio de Comunicação .................................................................. 46 CAPÍTULO II ....................................................................................................................... 53 EX-VOTO: COMUNICAÇÃO DE INTIMIDADE COM AS DIVINDADES .............................. 53 2.1 O significado etimológico de EX-VOTO .................................................................. 53 2.2 O ex-voto é comunicação ........................................................................................ 57 2.3 Ex-votos nas origens das práticas religiosas......................................................... 59 2.4 Ex-voto presente nas religiões antigas................................................................... 63 CAPÍTULO III ...................................................................................................................... 93 EX-VOTO PARA ALÉM DO CATOLICISMO ....................................................................... 93 3.1 Ex-votos no catolicismo – história e atualidade..................................................... 94 3.2 Ex-votos no catolicismo Brasileiro ......................................................................... 98 3.3 Os ex-votos no catolicismo de hoje ...................................................................... 101 3.4 A presença dos ex-votos nas igrejas evangélicas ............................................... 106 3.5 Ex-votos nas religiões de matriz religiosa africana ............................................. 115 CAPÍTULO IV .................................................................................................................... 124 NOVAS TIPOLOGIAS DE EX-VOTOS .............................................................................. 124 4.1 Ex-voto na Folkcomunicação ................................................................................ 124 4.2 Tipologia dos ex-votos adotada pela Folkcomunicação ..................................... 129 4.3 Atualização da tipologia dos ex-votos .................................................................. 132 4.4 Proposta de nova tipologia para os estudos folkcomunicacionais dos ex-votos ................................................................................................................................... 144 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 153 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 158.

(13) 13. INTRODUÇÃO Esta tese de doutorado em Comunicação Social é resultado da pesquisa que avança na compreensão dos ex-votos como veículo jornalístico e meio de comunicação, buscando atualizar o seu conceito, bem como a sua tipologia. São muitas as razões que me levaram até o deslumbramento pelo tema dos ex-votos, a começar pela minha vocação sacerdotal. Nasci no ano de 1973, na cidade de Cambé, norte do Paraná. Minha família sempre foi muito religiosa (católica), quase todas as recordações da minha infância estão relacionadas com eventos religiosos: folia de reis e festas juninas (no sítio em que morávamos); reza do terço e procissões; quermesse em homenagem a Santo Antônio, padroeiro de Cambé; participações familiares das missas dominicais, etc. Ainda criança, segundo minha mãe, eu já manifestava o desejo de ser padre. Fiz acompanhamento vocacional durante vários anos, e entrei no seminário com 15 anos de idade, na cidade de Rio Claro (SP). Escolhi a Congregação Dos Filhos do Imaculado Coração de Maria (conhecida como Missionários Claretianos), fundada por Santo Antonio Maria Claret. Minha escolha não foi aleatória, foi fundamentada em minha devoção a Nossa Senhora. Eu queria pertencer a uma ordem mariana. Completei o ensino médio e ingressei no filosofado em Batatais (SP), fiz Filosofia nas Faculdades Claretianas (1992-1994) e, em seguida, fui para o noviciado na cidade de Progreso no Uruguai, fiquei lá um ano. Em 1996, iniciei meus estudos teológicos no Studium Theologicum (PUC – afiliado a Lateranense de Roma), em Curitiba (PR). Depois de dois anos de curso, fiz meu estágio pastoral (obrigatório) em Paranatinga (MT), retornando, em seguida, a Curitiba para finalizar a Teologia. Antes de fazer meus votos solenes, fiz uma experiência itinerante (missionária e formativa) no Chile. Depois dessa experiência, já consagrado padre, fui enviado a Pato Branco (PR), e trabalhei um ano como Reitor do Seminário Claretiano dessa cidade. Durante toda minha formação sacerdotal, sempre nutri um amor muito grande pelas.

(14) 14. artes, de forma geral, mas com um interesse peculiar pela pintura e poesia. Meus estudos acadêmicos eram intercalados com leituras sobre esses temas. No ano de 2003, fui transferido para São Paulo disposto a estudar Jornalismo. Fiz meu curso na Universidade Nove de Julho (Uninove) e comecei a trabalhar na revista Ave Maria, assumindo a direção editorial no meu último ano de faculdade. Em seguida, o Governo Provincial nomeou-me também diretor editorial da Editora Ave-Maria. Escrevi vários livros, tendo a espiritualidade como pano de fundo de minhas publicações. Tive o privilégio de ter a maioria das minhas obras traduzidas para idiomas como: espanhol, italiano, inglês, maltês e adaptadas para Portugal. Nas minhas incursões na literatura, experienciei a oportunidade de escrever quatro livros infantis em parceria com o renomado autor Maurício de Sousa. Após terminar o curso de Jornalismo, eu pretendia continuar meus estudos e fazer mestrado e doutorado, mas com a carga de trabalho na editora tive que adiar meu sonho, que agora se realiza. Assim, fiz meu mestrado em Comunicação Social entre os anos 2013 e 2014 na Universidade Metodista de São Paulo, meu orientador foi o professor José Marques de Melo. Quando meu orientador me assumiu na Metodista, ele disse: “você vai trabalhar sobre os ex-votos”, esse desafio me causou certo desconforto, pois eu não era familiarizado com a folkcomunicação. Hoje agradeço a sensibilidade do professor Marques e percebo que a folkcomunicação está presente nas minhas origens, por isso não foi difícil ficar apaixonado por essa teoria. Conversando com minha mãe de 84 anos sobre meu projeto de pesquisa, e explicando a ela sobre os ex-votos, ela me fez uma revelação que encheu minha alma de alegria, ratificando a importância desse tema para mim. Assim que ela nasceu em 1933, teve poliomielite. Devido às complicações, corria o risco de morrer, meus avós fizeram uma promessa que se ela sobrevivesse, iriam tirar uma foto dela e depositar aos pés de Nossa Senhora Aparecida (em Aparecida). Minha mãe se recuperou, e meus avós cumpriram a promessa. Graças a esse voto, minha mãe é a única dos seis filhos que possui uma foto de quando era criança..

(15) 15. Analisando esse fato com os olhos da Folkcomunicação, defendo, assim como Beltrão, que os ex-votos são um veículo jornalístico. No meu doutorado, eu decidi continuar nesta linha de pesquisa, e fui acolhido com carinho pela professora Magali do Nascimento Cunha, e juntos vimos a necessidade de ampliar as formas tipológicas dos ex-votos, facilitando assim, futuras pesquisas nessa área de forma multidisciplinar. A Trajetória de pesquisa: Os estudos na área de Comunicação Social são amplos e variados, como não poderiam deixar de ser. Nos últimos anos, percebemos um grande interesse dos pesquisadores desta vertente acadêmica pelos temas relacionados à religião. Esta tese poderá dar visibilidade aos processos comunicacionais relacionados aos aspectos culturais da religiosidade popular, que fazem parte da nossa identidade brasileira e latino-americana. Muitas destas expressões votivas, aparentemente singelas, simples e ingênuas, estão alicerçadas na força da resistência cultural de nossa gente. Entender este fenômeno e dá-lo a conhecer seria uma forma de preservar nossa memória. Há, ainda, um pequeno número de pesquisas sobre os ex-votos na área de conhecimento da Comunicação e da Informação. Novas abordagens podem trazer grandes contribuições para a interface que engloba mídia-religião-cultura. A pesquisa apresentada é inédita e amplia a concepção utilizada hoje acerca dos exvotos, dando um passo além do senso comum que os relacionam somente com o catolicismo popular. Em suas origens, essa prática votiva era muito difundida e se aplicava a várias manifestações religiosas (primitivas) espalhadas pelo mundo. Este retorno histórico ao princípio poderia ampliar, em nossos dias, o seu campo de entendimento, incluindo outras identidades religiosas. A pesquisa de mestrado que desenvolvi, orientada por José Marques de Melo, já permeava essa seara dos exvotos como expressão comunicacional. A dissertação resultou, inclusive, no livro ExVotos – A Saga da Comunicação Perseguida (Editora Ave-Maria, 2015) e a pesquisa que origina esta tese continua a desenvolver o tema, estendendo a perspectiva..

(16) 16. Existe uma lacuna na classificação tipológica dos ex-votos que, inclusive, é levantada por Marques de Melo (2010, p. 104). Trazida essa problemática à tona, considerando-a como um desafio, o objetivo é apresentar uma classificação atualizada. Dessa forma, a proposta é rever a tipologia dos ex-votos academicamente aceita no tempo presente, preservando a atual classificação e acrescentando novos elementos tipológicos. Considerando uma nova tipologia, agregando manifestações devocionais de outras crenças, é possível ampliar, de forma significativa, os estudos sistemáticos deste tema, não só na esfera comunicacional, mas interdisciplinar. O pioneiro artigo de Luiz Beltrão “O ex-voto como veículo jornalístico”, publicado no ano de 1965, na revista Comunicação & Problemas, é considerado a gênese da corrente de pesquisa acadêmica fundada por ele, denominada Folkcomunicação, que aproxima as diversas manifestações culturais populares - de modo especial as folclóricas - das pesquisas em comunicação social. Embora Beltrão inicie sua pesquisa em Folkcomunicação, com base nos ex-votos, ele não os classifica sistematicamente. Marques de Melo (2010), com base na VIII Conferência Nacional de Folkcomunicação, realizada em Teresina – PI, no ano de 2005, que tratou como tema principal A comunicação dos pagadores de promessas: do ex-voto à industria dos milagres, sugere para os estudiosos da Folkcomunicacão a tipologia dos exvotos elaborada pelo pesquisador mexicano Jorge González, autor do livro Exvotos y retablitos – religión popular y comunicación social en México, em que fez um estudo primoroso sobre os ex-votos como forma de comunicação social. Tendo por base os estudos de González (1986), os ex-votos são classificados em cinco tipos: a) objetos figurativos da graça alcançada (partes do corpo ou figuras humanas, casas, animais, vegetais, carros, feitos nos mais diversos tipos de materiais); b) objetos que ressaltam metonimicamente um aspecto, elemento ou componente ‘representativo’ da totalidade do milagre realizado (as representações.

(17) 17. podem ser as mais diversificadas, como buquê de noivas, muletas e aparelhos ortopédicos, etc); c) objetos propriamente discursivos, nos quais de maneira escrita, se propaga o milagre (cartaz, mármore, placas, etc); d) midiáticos são os ex-votos impressos em jornais e revistas na intenção de divulgar a graça alcançada; e) são os chamados “retablitos” que em uma tradução livre podemos chamar de “tabuinhas”, ou seja, quadrinhos pintados (pictóricos) em diferentes materiais, geralmente em formatos retangulares que descrevem por meio de pintura o milagre recebido. Em relação ao estudo de González, Marques de Melo não fecha a questão, pelo contrário: “como se trata de uma tipologia originalmente construída no México, é possível que os pesquisadores brasileiros se deparem com outras espécies, que deverão ser arroladas, agrupadas e se possível classificadas” (MARQUES DE MELO, 2010, p. 104). O ex-voto é uma prática devocional (agradecimento a uma divindade por uma graça alcançada) que teve início antes mesmo do cristianismo. Os registros mais antigos dos ex-votos, como compreendemos atualmente, foram encontrados em duas localidades, na região que hoje é a Itália. As cidades de Pesto e Lácio abrigavam grandes templos em homenagem aos deuses cultuados por estes povos. Ou seja, essa relação comunicacional por meio do ex-voto com a divindade está alicerçada no paganismo. Somente depois acabou sendo associada, quase que exclusivamente, ao catolicismo popular. As classificações tipológicas dos ex-votos, tanto de Beltrão, Marques de Melo e González, estão intimamente ligadas à tradição popular católica. Porém, a compreensão alargada do sentido do ex-voto, uma vez que era uma prática pagã que foi incorporada ao catolicismo, abre espaço para um entendimento mais ampliado e diversificado do que sejam de fato essas expressões, incluindo a presença marcante deste processo comunicacional em outras confissões religiosas, como, no caso do Brasil, no cristianismo evangélico (de modo especial as pentecostais e neopentecostais) e nas religiões de matriz africana..

(18) 18. A não inclusão deste amplo universo religioso, que cada dia ganha mais força, sobretudo no Brasil, nas pesquisas em Folkcomunicação, limita a abordagem acadêmica nesta área. Embora os evangélicos utilizem outros termos para a expressão e materialização de uma graça alcançada, defendeu-se nesta tese que as formas de anunciar um “milagre” recebido por eles podem sim ser contempladas dentro de uma classificação tipológica dos ex-votos, incentivando futuras pesquisas Folkcomunicacionais. Mesmo no interior do catolicismo, novas formas de pagamento de promessa surgiram espontaneamente nos últimos anos, de modo especial com o advento da internet, e que até hoje ainda não foram classificadas. A prática religiosa dos exvotos se renova e se adapta constantemente, é um movimento ancestral que faz parte das culturas no imaginário coletivo. Com base nestas constatações é que se constitui a questão-problema desta investigação: Como é possível elaborar uma atualização da atual classificação tipológica dos ex-votos, incluindo não só as novas formas de pagamento de promessas provenientes do catolicismo popular, mas também as práticas de agradecimento por uma graça alcançada em outras expressões religiosas? O objetivo geral é estudar e atualizar a existência de novos tipos de ex-votos que não se enquadram na tipologia dos ex-votos - criada por Jorge González e adotada pelos estudiosos da Folkcomunicação - amplificando a compreensão deste fenômeno no processo comunicacional relacionado às religiões, abrindo novas possibilidades de pesquisas acadêmicas nesta área. Os objetivos específicos são: - revisar as teorias de Luiz Beltrão acerca dos ex-votos como forma comunicacional (veículo jornalístico); - identificar novas expressões de ex-votos; - atualizar a tipologia de ex-votos sugerida por Jorge González; - ampliar a compreensão do ex-voto como forma de comunicação do fiel com a divindade que “tem o poder” de realizar o milagre esperado;.

(19) 19. - apresentar uma nova tipologia dos ex-votos contemplando não só a prática devocional no catolicismo popular, mas demonstrando que essa prática é viva e presente em outras denominações religiosas; - averiguar as semelhanças e possíveis diferenças de ex-votos no catolicismo com as outras religiões. A hipótese principal foi que a atual classificação dos ex-votos adotada pelos pesquisadores de Folkcomunicação requer atualização, pois, neste processo comunicacional, assim como em outros, a dinâmica está em contínua mutação, não da prática em si que é milenar, mas em suas formas de expressões e conteúdos (tipologia). Nesse sentido, é preciso ainda compreender este fenômeno para além do. catolicismo. (identidade. com a. qual. foi. consolidado. os estudos em. Folkcomunicação), estudando suas manifestações em outros segmentos do cristianismo e também em outras religiões. Como hipóteses derivativas foram apontadas: - Os ex-votos são entendidos e classificados dentro de uma visão reducionista, em que são catalogados como pagamento de promessa, somente relacionados ao material proveniente do catolicismo popular; - No catolicismo popular, o pagamento de promessa não é novidade e é bastante recorrente em sua forma de manifestação. Porém, muitas dessas práticas devocionais “se modernizaram” e os novos tipos de ex-votos não estão contemplados na tipologia ainda adotada nos estudos de Folkcomunicação, manifestações digitais (textos e imagens), as tatuagens, entre outros; - As denominações evangélicas, embora não trabalhem com o conceito de exvotos (assim como entendido pela Folkcomunicação, via catolicismo), incentivam, de alguma forma, a oferenda em agradecimento por milagres recebidos; - As oferendas destinadas aos orixás (religiões afro-brasileiras), também podem ser classificadas como ex-votos, ampliando o campo de pesquisa nesta área para além do cristianismo. A trajetória metodológica adotada na tese constou de dois pilares: o primeiro foi a pesquisa bibliográfica; o segundo, o inventário, metodologia já estabelecida no campo da Folkcomunicação, relacionada às pesquisas que têm como objeto os exvotos..

(20) 20. Pesquisa bibliográfica: “Os livros constituem as fontes bibliográficas por excelência. Em função de sua forma de utilização, eles podem ser classificados como leitura corrente ou de referência” (TRIVIÑOS, 1990, p. 50). Tendo em vista esta orientação, procederemos a uma pesquisa mais abrangente da bibliografia disponível sobre os principais temas que demandam esse estudo: - Comunicação e religião, aspectos históricos e relações. - O ex-voto como comunicação, sua história e aplicações. - Religiões contemporâneas e suas relações com os ex-votos. 2. Inventário: A Rede Folkcom sugere como método de estudos dos ex-votos o inventário: “inventariar todas as peças incorporadas ao acervo do núcleo de devoção [...] o ideal é inventariar todas as peças expostas” (MARQUES DE MELO, 2010, p. 105). Os autores Silvia Regina da Mota Rocha e Carlos Xavier de Azevedo Netto, ambos da Universidade Federal da Paraíba, em artigo sobre o Inventário do Patrimônio Religioso da Paraíba, escrevem sobre os dois eixos da pesquisa, tendo por base o inventário: No que concerne ao modelo conceitual do Inventário, o primeiro eixo de sua conceituação refere-se à forma na qual está estruturada suas duas categorias macro: que possibilitarão categorizações geral e específica do objeto em inventariação, respectivamente, configuradas da seguinte forma: - Como categorias macro temos: categorização geral; e categorização específica; - Como categorias subsequentes ou complementares temos: informação contextual; informação suporte e artística; informação semântica; e informação histórica e documental. O segundo eixo de conceituação refere-se aos desdobramentos das categorias subsequentes ou complementares configurados em diversas tipologias ou campos para registro de informação especializada de diversas áreas de conhecimento: Ciência da Informação, Biblioteconomia, História, Estética, Restauração e Conservação e Teologia. Portanto, os campos ou categorias indexais para registro de informação especializada que compõem a ficha de inventário não apresentam relação hierarquizada, mas de complementariedade, com vistas à qualificação dos bens culturais móveis e integrados religiosos (ROCHA; AZEVEDO NETTO, 2012, p. 13)..

(21) 21. A pesquisa se enquadra na categoria macro, com categorizações gerais e específicas. O inventário foi realizado em locais físicos como santuários (catolicismo); igrejas (catolicismo e protestantismo); cruzeiros e cemitérios (religiões de matriz africana e catolicismo popular); e outros locais de cultos que congregam tanto a umbanda como o candomblé; também foram pesquisadas algumas plataformas digitais da internet. Foram selecionados alguns espaços físicos e digitais com base na Matriz Religiosa Brasileira1. São locais que estão intimamente ligados à cultura religiosa de nosso país, desde a devoção oriunda do catolicismo popular; das expressões devocionais da matriz africana e povos originários e do cristianismo evangélico, de modo especial, o neopentecostal que se apropria de muitos elementos simbólicos, tanto do catolicismo quanto das religiões embasadas na cultura africana. 2.1 Espaços físicos pesquisados: - Santuário do Divino Pai Eterno – Trindade - Goiás. É um santuário católico, nacionalmente conhecido por fiéis de todo território, com grande presença de devotos. A pesquisa neste local foi importante, pois é oficial da Igreja Católica. As peças votivas depositadas são de grande variedade tipológica e contribuíram, dessa forma, para o inventário. - Santuário São Francisco do Canindé – Canindé – Ceará. Da mesma forma que o Santuário do Divino Pai Eterno, essa devoção é oficial da Igreja. O local atrai fiéis de todo o Brasil, especialmente do Nordeste, justamente por essa razão este local foi escolhido. A variedade de tipos de peças também é ampla. - Igreja – Padre Donizetti – Tambaú – São Paulo. A escolha deste local se deu por tratar-se de um “santo popular”, não canonizado pela Igreja, mas “canonizado” pelo povo. O local é bastante visitado e as peças votivas também são diversificadas, ampliou-se, dessa forma, o inventário. - Igreja Deus é Amor – Sede Mundial – São Paulo – São Paulo. O caso da Igreja Deus é Amor é único entre as denominações evangélicas. Foi imprescindível 1. A Matriz Religiosa Brasileira é a expressão religiosa advinda dos povos originários, dos europeus e dos africanos. Este tema será tratado no terceiro capítulo desta tese..

(22) 22. incluir em nossa pesquisa este local, pois além dos ex-votos tradicionais como encontrados no catolicismo popular (muletas, peças ortopédicas, exames médicos, fotos), foram catalogados outros tipos de ex-votos, como por exemplo, vidros contendo vômitos, simbolizando o demônio expulso ou até mesmo enfermidade lançada fora do corpo. - Cruzeiro – Cemitério da Saudade – Campinas – São Paulo. Quase todos os cemitérios do Brasil têm os seus cruzeiros (uma cruz em local de destaque com espaço próprio para acender velas, embora a finalidade seja essa, estes locais acabaram se tornando centros de cultos para religiões de matriz africana, sobretudo por estarem localizados dentro de um cemitério, remetendo assim o culto aos ancestrais). Dos cemitérios que visitamos, o local se destacou pela quantidade e variedade de oferendas aos mortos e aos orixás. Este cemitério também foi escolhido por ter um túmulo construído em homenagem ao orixá Exu, o próprio túmulo pode ser considerado um ex-voto. A quantidade de “pagamentos de promessa” ao redor do túmulo é em larga escala. - Casa de Iemanjá – Salvador – Bahia. Este local é bastante emblemático, pois de fato é uma casa, localizada na praia Rio Vermelho, mas funciona como um santuário dedicado à Iemanjá. Em uma das salas destaca-se a imagem da entidade e aos seus pés grande quantidade de oferendas (ex-votos) das mais variadas possíveis. Embora não seja um terreiro, o local é considerado sagrado, tanto para os adeptos da umbanda quanto do candomblé. Além das oferendas aos pés de Iemanjá, os fiéis fazem seus rituais nas areias do mar ao lado da casa. Caminhando pelo entorno é possível detectar vários tipos de pagamentos de promessa. 2.2 Espaços midiáticos pesquisados: Foram inventariados também programas de TV evangélicos que priorizam em seus roteiros os testemunhos de graças recebidas (muitos são somente pela via da oralidade, outros além do testemunho oral estão acompanhados da materialidade da graça recebida, como carteiras de trabalho, fotos de antes e depois, dentre outros). A pesquisa também teve como objeto de estudo espaços midiáticos digitais, especificamente os canais da mídia digital Youtube, pois os conteúdos veiculados neste meio foram primeiramente televisionados e agora estão disponíveis na internet.

(23) 23. com acesso a qualquer hora e local (embora tanto evangélicos quanto católicos se utilizem desses meios, o foco desta pesquisa foram canais evangélicos). Os dois canais escolhidos pertencem a denominações neopentecostais, pois a base central de seus programas são os testemunhos. Canais do Youtube pesquisados: - Igreja Universal do Reino de Deus – Canal no Youtube2. - Igreja Mundial do Poder de Deus – Canal no Youtube3. A partir das visitas aos locais e do acesso aos canais do Youtube, as peças não foram analisadas em sua individualidade (mensagem contida), mas foi feita uma descrição dos ex-votos expostos não lhes atribuindo juízo de valor. Também não foram feitas fichas específicas com análise de cada peça e nem com a quantidade de determinadas categorias. A tarefa metodológica configurou-se na produção de uma lista (geral) dos tipos de ex-votos identificados (categorização geral e específica) em cada um dos locais visitados. Dessa forma, foi determinado um tempo exato para o procedimento. A pesquisa ocorreu de acordo com a especificidade de cada local visitado e do número de ex-votos nele depositados, lógica que também foi adotada para os sites. 2.3 Etapas do inventário: - Identificação das peças – foi feito um registro de todas as peças encontradas. Seguindo como ponto de partida a tipologia de González, listando os ex-votos que se enquadram nestas categorias. As peças que não se encaixaram foram agrupadas separadamente. Como já foi dito, não se verificou o número exato de peças similares, mesmo que em uma modalidade existissem dezenas de peças, e em outra apenas uma, elas tiveram o mesmo tratamento de valor. (Tipologia de González: objetos figurativos; representativos; discursivos; midiáticos e pictóricos).. 2 3. Endereço para consulta está nas referências. Endereço para consulta está nas referências..

(24) 24. - Categorização – para facilitar a separação dos gêneros encontrados, as peças foram agrupadas (primeiramente, segundo os tipos propostos por González e, posteriormente,. agrupando. peças. que. formavam. outras. categorias).. Esta. categorização não foi a mesma em cada identificação, pois encontrou-se diversidade de material comparando um local de pesquisa ao outro. A categorização no inventário também não representou a tipologia final, foi apenas um recurso para agrupar as peças. Somente depois da coleta de dados e das categorizações é que foi construída uma nova tipologia para os ex-votos, de forma a contemplar as várias expressões religiosas, tópico elucidado no Capítulo 4 desta tese. E com base nos resultados alcançados pela análise, foram concretizados nesta pesquisa quatro capítulos, a saber: No primeiro capítulo intitulado Religião é Comunicação, foi apresentado um levantamento histórico da comunicação e da religião desde os primórdios do ser humano, defendendo a ideia de que não existem dicotomias entre estes elementos (comunicação – religião), eles fazem parte de um mesmo processo evolutivo. O ser humano por natureza é comunicação e crença em algo além da matéria. No segundo capítulo, que recebeu o título de Ex-Voto: Comunicação de Intimidade com as Divindades, é apresentada a história dos ex-votos, sobretudo dentro de um processo comunicacional de povos primitivos com as divindades. Nesta comunicação, o ex-voto aparece como um diálogo direto e próximo do fiel com a divindade. Com base neste percorrido histórico, foi defendido que o ex-voto sobrevive ainda hoje em nossas práticas religiosas como uma herança ancestral. No terceiro capítulo Ex-voto para além do catolicismo, foi apresentada a teoria que o entendimento acerca dos ex-votos pode ser ampliado. Tendo por alicerce o capítulo anterior em que o ex-voto aparece como uma herança ancestral, neste capítulo, foram apresentadas diversas manifestações religiosas atuais - percebendo que esta relação de oferenda, de troca “de favores”, entre o divino e o ser humano é muito mais comum do que se imagina. Ampliou-se, dessa forma, o entendimento do que são os ex-votos. Além do catolicismo, receberam destaque algumas práticas religiosas do candomblé, da umbanda e de denominações evangélicas..

(25) 25. No quarto e último capítulo, nomeado como Novas tipologias de ex-votos, foi desenvolvida. uma. leitura. Folkcomunicacional. dos ex-votos,. destacando. a. importância deste tema nos estudos de Luiz Beltrão, e como os ex-votos foram estudados nesses anos. Foi exposta também a classificação tipológica desta prática votiva elaborada por Jorge González e adotada pela Folkcomunicação, como ferramenta para os estudiosos sobre o tema. Somente depois foi indicada uma nova tipologia, contemplando alguns elementos que surgiram em virtude da evolução dos meios de comunicação, como o tecnológico, por exemplo. Também foram incluídas, nesta tipologia, as manifestações religiosas de outras denominações, como forma de ampliar o campo de estudo acadêmico tendo por base os ex-votos..

(26) 26. CAPÍTULO 1 RELIGIÃO É COMUNICAÇÃO. Tanto o tema da religião quanto o da comunicação vêm ganhando espaço nos estudos acadêmicos de diferentes áreas disciplinares, pois o interesse pelos dois temas é inegável, e embora muitos destes estudos tratem dos dois temas separadamente, existem também alguns pesquisadores que defendem a teoria da existência de uma relação quase que simbiótica entre a religião e a comunicação, e nós compartilhamos dessa ideia. O historiador das religiões Mircea Eliade (2010, p. 13), logo no prefácio de seu clássico livro História das Crenças e das Ideias Religiosas ( I ), escreve algo que nos permite fazer a ligação entre o ser humano, a religião e a comunicação: “ [...] O sagrado é um elemento da consciência, e não uma fase na história dessa consciência. Nos mais arcaicos níveis de cultura, viver como ser humano é em si um ato religioso, pois a alimentação, a vida sexual e o trabalho têm um valor sacramental”. Eliade termina este parágrafo afirmando de forma contundente: “Em outras palavras, ser – ou, antes, tornar-se – um homem significa ser “religioso” (grifo nosso). Embora Mircea Eliade não inclua a comunicação nesta estrutura, não é difícil associá-la, pois desde os primórdios da humanidade, o ser humano é um ser de expressão, estabelecendo relações externas por meio da linguagem, da arte, da mitologia e dos rituais. O desejo de se comunicar é inerente ao ser humano, e o termo cultura está intimamente ligado às formas de comunicação. O antropólogo Glifford Geertz (2015, p. 34), em seu livro As interpretações da Cultura, diz: “A cultura, em vez de ser acrescentada, por assim dizer a um animal acabado, foi um ingrediente, e um ingrediente essencial na produção deste mesmo animal.” Ou seja, é a cultura que tece a nossa identidade. Geertz (2015, p. 4), no primeiro capítulo do livro já citado, defende o que seria cultura para ele: “O conceito de cultura que eu defendo [...] é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas.

(27) 27. teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado”. Pensar a cultura como uma teia nos parece uma teoria fabulosa, pois uma teia. pode. se. estender. gradativamente,. criando. laços. complexos,. sem. individualismos. Um ponto não é apenas um ponto, é a extensão de outro em uma relação sem fim, e os símbolos utilizados na confecção desta “teia” surgem do desejo de comunicar. Mas não basta criar teias, é preciso interpretá-las para que o ser humano se conheça e se reconheça. Na busca deste significado, a religião ou o metafísico aparece como um sentido místico na tentativa de interpretar/contemplar a realidade.. 1.1 O Ser Humano é Comunicação4 Quando pensamos em comunicação não estamos reduzindo a compreensão deste conceito à palavra. A comunicação, como sabemos, vai além da oralidade e da escrita. Apontamos como descritivo de comunicação a definição de Antônio Pasquali, que a relaciona com a comunidade, estando um passo além da informação: Informação é ontologicamente relacionada à casualidade. Ela conota a mensagem/causa de um transmissor ativo, que busca gerar no receptor passivo um comportamento/efeito imediato ou remoto. Comunicação é ontologicamente relacionada à comunidade. Ela conota a mensagem/diálogo, que busca produzir respostas não programadas, reciprocidade, consenso e decisões compartilhadas. [...] Consequentemente, informação categoricamente expressa um relacionamento comunicativo menos perfeito ou equilibrado do que a comunicação, e tende a produzir mais verticalidade do que igualdade, mais subordinação do que reciprocidade, mais competitividade do que complementaridade, mais imperativos do que indicativos, mais ordens do que diálogo, mais propaganda do que persuasão (PASQUALI, 2005, p. 27).. O livro Comunicación antes de Colón produzido pelo CIBEC5, assinado pelos coautores Luís Ramiro Beltrán, Karina Herrera, Esperanza Pinto e Erick Torrico 4. Tanto neste subcapítulo como nos seguintes, nossa intenção não é traçar todo o percurso histórico e evolutivo dos componentes analisados, pois seria impossível. Nosso objetivo é mostrar a “gêneses” de tais elementos na estrutura humana, a saber: comunicação, religiosidade, utilização de símbolos. 5 CIBEC – Centro Interdisciplinário Boliviano de Estudios de La Comunicación..

(28) 28. (2008, p. 32), ao defender a configuração integral do ser humano, apresenta o problema dos primeiros traços comunicativos do ser humano: Os estudos evolucionistas – no biológico com Charles Darwin e no cultural com Lewis Morgan – deixaram uma inquestionável marca no pensamento antropológico. Claro que esta marca nunca esteve livre de questionamentos e polêmicas, ainda que, em alguns casos as investigações na área de paleontologia estabeleceram de maneira quase que incontestável um movimento progressivo desde o homo habilis, um hominídeo datado de 1.750.000 mil anos a.C., até o homo sapiens, protótipo do homem atual que havia aparecido ao redor de 30 mil anos a.C. Neste discurso, se considera que a linguagem articulada, como um sistema significativo embasado em sons vocais, surgiu nos tempos do homo erectus, isto é, uns 400.000 anos a.C. (BELTRÁN et al, 2008, p.32). Os antropólogos divergem quanto ao aparecimento da linguagem oral, justificando a dificuldade em determinar um período exato. Porém, existe uma certeza comprovada por meio da arqueologia que mesmo antes de o ser humano articular a linguagem oral, o desejo de comunicar já estava presente na essência natural da raça humana. Os autores Flávia Marqueti e Pedro Paulo A. Funari (2011) 6 apresentam a problemática destacando que a comunicação por meio de sons, que são uma característica da espécie humana, não pode ser datada, de forma exata, em algum lugar do passado. Ressaltam também que muitos pré-historiadores defendem que os Neandertais nunca desenvolveram a capacidade da fala, diferenciando-se assim de nossa espécie. Os autores apontam, inclusive, um argumento7 de que a capacidade da fala foi decisiva na preservação dos seres humanos. A comunicação, segundo este argumento, seria crucial para a compreensão da própria humanidade. Muito embora não tenhamos acesso aos códigos linguísticos dos paleolíticos, temos testemunhos eloquentes, numerosos e variados da comunicação por meio de imagens e objetos (MARQUETTI; FUNARI, 2011, p. 156).. 6. Em algumas citações em que somente o ano da publicação aparece, indica que foram tiradas de arquivos digitais (internet). 7 O argumento é apresentado nos estudos de Clive Gamble, como em Origins and revolutions, Human identity in earliest prehistory. Cambridge: Cambridge University Press, 2007..

(29) 29. Nesta pesquisa, não temos a pretensão de defender teorias sobre o exato momento do aparecimento, na história da humanidade, das diferentes formas comunicacionais dos seres humanos. Defendemos a ideia de que a interpretação da realidade levou o homem a se relacionar (de forma comunicativa) primeiro com a natureza, depois com os seus iguais. Nesta linha de raciocínio, citamos mais um trecho do livro compilado pelo CIBEC: A relação homem-natureza, inevitável pela necessária existência do indivíduo em seu entorno, já supõe uma forma, ainda que incompleta, de comunicação. Do mesmo modo, a igualmente importante relação homem-homem implica certo tipo de intercâmbio [...]. Dessa forma é certificado, então, que a comunicação nasce com o ser humano, pois é um dos componentes sine qua non de sua especificidade. Dessa forma, tendo em conta ao que se indicou, as investigações encontram provas do desenvolvimento progressivo do ser humano na qual não seria concebível que em algum momento, nem sequer em sua mais primitiva origem, que estivesse alheio à comunicação. Em outros termos, a configuração do homem como tal não pode ter ocorrido à margem da possibilidade de estabelecer contato com o mundo exterior e com os seus semelhantes. Que a palavra articulada tenha surgido posteriormente, por razões não clarificadas absolutamente, isto é outra questão (BELTRÁN et al, 2008, p. 32-33 – grifo e tradução nossos).. Importa-nos, neste primeiro momento da nossa pesquisa, a certeza defendida no trecho que lemos acima: “a comunicação nasce com o ser humano”.. 1.2 Registros Comunicacionais A pré-história, como é defendida por alguns pensadores, compreende o tempo em que o ser humano ainda não havia desenvolvido a escrita, ou criado símbolos gráficos de codificação aceitos por uma comunidade. Antes da escrita, porém, encontramos inúmeros vestígios espalhados em todo o mundo de representações gráficas (pictóricas), escultóricas e arquitetônicas que antecedem a escrita, mas comunicam o entendimento que nossos antepassados tinham do mundo, da vida, da morte e do transcendente. Muitas dessas inscrições pictóricas.

(30) 30. foram encontradas em cavernas e são uma narrativa da vida da época, a caça, a representação antropomórfica em grupos, etc. Como o nosso trabalho gira em torno dos ex-votos, decidimos citar alguns registros comunicacionais pré-históricos, que mesmo não sendo elementos exclusivamente religiosos destes povos, se assemelham muito com a comunicação estabelecida com as divindades em diferentes continentes. Esta constatação nos faz entender que a comunicação com um ser “superior”, como é o caso dos ex-votos, não está desvinculada do cotidiano destes povos antigos. A historiadora da arte universal Gina Pischel defende a teoria de que a arte pré-histórica começou em meados dos anos 40.000 a.C., esta constatação é apoiada em descobertas arqueológicas. As formas de expressão datadas a partir desta data são, em sua maioria, escultóricas e pictóricas (PISCHEL, 1966, p. 9). Não podemos fazer malabarismos ao tentar interpretar essa forma comunicacional, pois nossos antepassados estavam tentando reproduzir o entorno em que eles viviam. As formas de arte da Pré-História, que são predominantemente reproduções da realidade, nasceram, como manifestações da vontade criadora do homem primitivo, de sua aspiração de “fazer” do nada alguma coisa, de sua complacência em fixar, de modo evidente, em determinadas formas, alguns objetos do seu pensamento confuso, de sua angústia opressora. Neste sentido, a arte rupestre exprime a visão da realidade ambiente do homem préhistórico e sua consciência mágica do mundo (PISCHEL, 1966, p. 10).. Embora o ser humano tentasse reproduzir a realidade, não podemos dizer que era uma arte comunicacional concreta, pois diante do inexplicável, do mistério, a arte surgia como forma de comunicação com a força mágica e transcendente. Porém, sobre este tema, falaremos mais adiante. Dentre a diversidade tipológica da arte pré-histórica, destacamos duas que nos parecem mais emblemáticas, e que são datadas por volta do ano 40.000 a.C.. Enfatizamos, então, a Vênus e a Mão em Negativo, em que a comunicação primitiva, por meio da arte, estaria relacionada também com a religiosidade..

(31) 31. Vênus – é uma obra escultórica, foram encontradas várias representações em diferentes lugares da Europa. É uma “estatueta” com evidentes caracteres femininos: A Vênus deste tempo (por vezes tão pequena a ponto de caber na palma da mão) era posta em evidência como mãe e recurso de procriação; era, portanto caracterizada por grandes seios e nádegas abundantes, reservando menor interesse à figuração da cabeça e dos braços. A data das chamadas Vênus, em esteatita ou marfim, foi árdua porque, devido à mobilidade, elas puderam ser transferidas de sede por vias de convulsões naturais ou deslocamentos humanos. Na Europa encontram-se algumas dezenas de exemplares, principalmente em Laussel, Lespugne, Willendorf, bem como na Itália nas vizinhanças do Panaro (PICHEL, 1966, p. 10).. Não há uma definição exata sobre o significado simbólico das imagens da Vênus, mas pelo fato de serem muitas as representações, pode-se dizer que a imagem estava relacionada a uma espécie de culto, e devido às imagens serem pequenas poderiam sugerir que fossem como amuletos que as pessoas carregavam. Figura 1-Vênus de Willendorf – Áustria (20.000 – 22.000 anos a.C.). Fonte: Couri, 2015.. Vê-se nesta possibilidade uma forte incidência de estarmos diante de um objeto considerado mágico, mítico. As peças fariam parte de uma forma de religião doméstica ainda primitiva (ELIADE, 2010, p. 32). Mirceia Eliade cita o historiador.

(32) 32. Franz Hancar para explicar a possível função religiosa das estatuetas de Vênus, seriam estas uma espécie de ídolos religiosos representando a avó mítica, da qual, presume-se, descendem todos os membros das tribos: elas seriam uma proteção para as famílias e as habitações, promovendo grandes caças. E como agradecimento pela benevolência dessas “deusas” elas recebiam as oferendas de grãos de cereais e gordura (ELIADE, 2010, p. 32). Destacamos os elementos comunicacionais dessa relação com a divindade. Parece haver um consenso em determinadas comunidades pré-históricas da existência de uma força mística. A comunicação existia entre os pares que divulgavam esta fé, e entre os humanos com aquilo que eles estabeleceram como “sagrado”. A figura do feminino como símbolo religioso persiste em nosso imaginário, ainda hoje muitas religiões utilizam a representação feminina para se conectarem com o espiritual. No cristianismo, mais precisamente no catolicismo, temos a figura de Maria, invocada como Nossa Senhora, a questão materna é o que sobressai nesta devoção. Nas religiões brasileiras de matriz africana, tanto no candomblé quanto na umbanda, o maior símbolo do feminino é Iemanjá, o seu nome já indica a sua função de mulher fértil “mãe cujos filhos são como peixes”. No hinduísmo, os adeptos dessa religião, entre os muitos deuses, adoram a “Divina Mãe Kundalini”. Para a nossa pesquisa, é importante sinalizar que, assim como na préhistória, ainda hoje a relação comunicacional com o sagrado feminino passa quase que necessariamente pela oferenda (agradecimento material - ex-votos). Mão em Negativo – em diferentes partes do mundo encontramos registros da mão em negativo. Esta técnica de imprimir a mão na parede das cavernas antecede inclusive outros tipos de pinturas, como a representação de animais ou de caçadas. A ação para deixar gravada na rocha a mão exigia certos conhecimentos, como o domínio de materiais utilizados. Nesta técnica, a mão untada com algum tipo de material colorido era pressionada na parede das grutas e cavernas. Muitas vezes, além da impressão, os autores circundavam o desenho da mão com tinturas de outras cores (PISCHEL, 1966, p. 10). Vestígios da mão em negativo foram encontrados na Europa, África, América e Oceania, datados de um mesmo período.

(33) 33. pré-histórico (que varia de 40.000 a 9.000 anos a.C.), considerando o ciclo evolutivo de cada região. Figura 2 - Mãos em Negativo (mutiladas). Réplicas da Caverna de Garga – França (Paleolítico Superior). Fonte: Pischel, 1966. A historiadora da arte Gina Pischel chama a atenção sobre uma possível interpretação de muitas dessas mãos estarem mutiladas, faltando alguns membros, como é o caso dos registros de Gargas – França. A autora cogita um possível rito sacrifical ligado à magia ou oferenda a alguma divindade: “O fato de a forma anatômica das mãos apresentar, por vezes, mutilação de dedos, fez que se supusesse estarem tais formas ligadas a ritos sacrificiais, dos quais a imagem fosse a evocação” (PISCHEL, 1966, p. 10). Mesmo se desconsideramos as mutilações como rituais de sacrifício, caracterizando por assim dizer uma forte evidência religiosa, para alguns autores, a simbologia em si da mão pode ser entendida como comunicação mística, por aquilo.

(34) 34. que a mão representa. Nesta investigação acerca do poder mítico/religioso da simbologia da mão, o pesquisador Carlos Callejo Serrano cita o arqueólogo espanhol Martín Almagro Gorbea: Para Martín Almagro as mãos eram um motivo de culto que o homem usava porque compreendia que a mão era o único instrumento que o fazia vencer a natureza que o rodeava. O culto misterioso à mão nos oferece uma manifestação das preocupações espirituais dos homens primitivos, desde o paleolítico até hoje. A mão, por si mesma, é símbolo do homem e expressão de sua vontade. Todos os povos fazem do uso e representação dos gestos da mão um complexo de variações de caráter espiritual. O cristianismo, por exemplo, utiliza a mão para o supremo ato da bênção; o povo romano e outros povos posteriores a utilizam como signo de boas-vindas ou saudação (SERRANO, 1981, p. 4, tradução nossa).. Ainda hoje, como ressalta o autor, a mão representa um elo com o divino. No cristianismo e no judaísmo, Deus Pai é retratado como a Mão Criadora, a mão direita de Deus é a proteção dos fiéis. Na Bíblia, vemos inúmeras passagens com essa analogia, por curiosidade citamos: “A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direita do Senhor me levantou, a mão direita do Senhor fez maravilhas” (SALMOS, 117,16), ou ainda, “cobriu-me com a sombra de sua mão” (ISAIAS, 49, 2b). Porém, quando Deus se zanga, sobretudo no Antigo Testamento, a mão de Deus é sinônimo de “justiça divina”, ou até mesmo “vingança”: “pois dia e noite, vossa mão pesava sobre mim; minhas forças se esgotavam” (SALMO, 31,4). Em outras religiões se destaca a mão chamada Hamsá, sendo utilizada como proteção por três grandes crenças: no Islã representa Muhammad, filha do profeta Maomé; no judaísmo é conhecida como a mão de Miriam e é utilizada como proteção; no Budismo recebe o nome de Abhaya Mudra, sendo utilizada como amuleto que dissipa o medo. Uma das peças mais utilizadas como ex-votos por devotos em diferentes partes do mundo é também o símbolo da mão. Não é de estranhar que, de fato, os povos primitivos utilizassem o símbolo da mão como possibilidade de se comunicarem com o divino. O ser humano é um ser comunicante: O Ser humano é, por conseguinte, não só um simbolizador ou um leitor de símbolos, é, sobretudo, alguém que produz uma realidade intermediária complexa e historicamente determinada feita de.

(35) 35. representações significativas que servem a ele como cenário de sua cotidianidade. O homem é, pois, um animal comunicante que emprega grande parte de sua vida, senão a maior, neste espaço simbólico artificial. O adjetivo comunicante implica tanto que o ser humano se faz na comunicação e comunica como que se comunica com outros semelhantes e é ele mesmo comunicável (BELTRÁN; HERRERA; PINTO; TORRICO, 2008, p. 35, tradução nossa).. Nesta construção simbólica, mais do que compreender o cotidiano, existe a inquietação das coisas que não conseguimos responder. Se hoje, apesar de todo o conhecimento que temos, ainda vagamos em busca de respostas sobre temas universais como o sentido da vida, por exemplo, imaginemos como estes questionamentos deveriam “perturbar” o homem primitivo. Por essa razão, que os aspectos religiosos assim como os comunicacionais aparecem nos primeiros registros de nossa raça. A ideia da existência de uma possível transcendência está no cerne do indivíduo pré-histórico, e é com essa força (entendida como mágica no primeiro momento) que nossos ancestrais estabeleceram formas simbólicas de comunicação.. 1.3 O Ser Humano é Espiritual São várias as possibilidades de reflexão do homem primitivo, que o levaram no decorrer da história a desenvolver o seu lado espiritual, o fato de o ser humano poder pensar e ter memória acumulativa, fez com que ele se questionasse sobre sua própria existência. Dizemos que o ser humano é espiritual, quando julgamos, que em sua maioria, o gênero humano acredita que a vida não é só matéria, mas existe uma força maior que organiza ou rege a existência. A palavra espírito tem sua origem do grego (ruah) que significa hálito, ou sopro, sendo assim, o sopro de Deus que habita no ser humano e, é esse sopro, segundo a tradição judaico-cristã, que dá vida ao homem. O ser humano é espiritual, pois ele pensa e age, com este princípio, de que algo “maior” do que somos impulsionaria o nosso viver. Mas, dentre os aspectos da vida, o que sem dúvida nenhuma mais nos inquieta e indubitavelmente inquietava também nossos antepassados primitivos, é a.

Referências

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