17.8 Bases de enumera¸ c˜ ao
Quest˜ ao 17.31. (Bases de enumera¸c˜ao; expans˜ao b−´adica).
17.31.a. ** Demonstrar que, para todo natural n˜ao-nulo n, existem ´ unicos naturais ℓ, d
0, . . . , d
ℓtais que:
∀ ∈
N: ≤ ℓ, 0 ≤ d
< 10; d
ℓ> 0; e n = X
ℓ=0
d
· 10
Em outras palavras, n tem representa¸c˜ao ´ unica n = (d
ℓd
ℓ−1· · · d
0)
10na base decimal com d´ıgitos d
.
Ex.: (A base decimal ). 2 = (2)
10= 2 · 10
0; 4 = (4)
10= 4 · 10
0; 10 = (10)
10= 1 · 10
1+ 0 · 10
0; 16 = (16)
10= 1 · 10
1+ 6 · 10
0;
100 = (100)
10= 1 · 10
2+ 0 · 10
1+ 0 · 10
0; 63 = (63)
10= 6 · 10
1+ 3 · 10
0; 4027 = (4027)
10= 4 · 10
3+ 0 · 10
2+ 2 · 10
1+ 7 · 10
0;
17.31.b. Generalizar o argumento para qualquer natural b > 1 substituindo 10 acima.
Nos pr´oximos exemplos, j´a omitimos as parcelas nulas para enfatizarmos as ideias no esbo¸co de demonstra¸c˜ao abaixo.
Ex.: (A base bin´ aria, cujo alfabeto para os d´ıgitos ´e {0, 1}).
2 = (10)
2= 1 · 2
1; 4 = (100)
2= 1 · 2
2; 10 = (1010)
2= 1 · 2
3+ 1 · 2
1; 16 = (10000)
2= 1 ·2
4; 63 = (111111)
2= 1·2
5+1·2
4+1·2
3+1 ·2
2+1·2
1+1·2
0; 100 = (1100100)
2= 1 · 2
6+ 1 · 2
5+ 1 · 2
2;
4027 = (111110111011)
2= 2
11+ 2
10+ 2
9+ 2
8+ 2
7+ 2
5+ 2
4+ 2
3+ 2
1+ 2
0. Ex.: (A base hexadecimal, cujo alfabeto para os d´ıgitos inclui (A)
16= 10, (B)
16= 11, (C)
16= 12, (D)
16= 13, (E)
16= 14 e (F )
16= 15).
2 = (2)
16= 2 · 16
0; 4 = (4)
16= 4 · 16
0; 10 = (A)
16= A · 16
0;
16 = (10)
16= 1 · 16
1; 63 = (3F )
16= 3 · 16
1+ F · 16
0; 64 = (40)
16= 4 · 16
1; 100 = (64)
16= 6 · 16
1+ 4 · 16
0; 4027 = (F BB)
16= F · 16
2+ B · 16
1+ B · 16
0. Esbo¸ co de demonstra¸ c˜ ao: Como discutido na Observa¸c˜ao que se segue ao Item 17.28.a.ii, a aplica¸c˜ao daquele item `a fun¸c˜ao J
bdo Item 17.26.d (com b = 10 ou, mais geralmente, b natural tal que b > 1) mostra que a sequˆencia 1 = b
0< b = b
1< b
2< b
3< · · · < b
k< b
k+1< · · · ´e ilimitada superior- mente. Usando o PBO de forma adequada, obtemos que, para todo natural n˜ao-nulo n, h´a um ´ unico natural ℓ tal que b
ℓ≤ n < b
ℓ+1. Dividindo R
0= b n
506
por b
ℓ, obtemos o quociente d
ℓ, e o resto R
1´e menor que b
ℓ. Repetindo o processo para o resto R
1no lugar de R
0, um pr´oximo resto R
2no lugar de R
1, etc., obtemos os d´ıgitos posteriores como quocientes para divisores b
cada vez menores (e, portanto, com restos cada vez menores), at´e que a divis˜ao euclidiana seja exata (isto ´e, o resto seja 0); *************************
17.31.c. ** Descrever e demonstrar um algoritmo de adi¸c˜ao de dois naturais n˜ao- nulos na base decimal. Mais precisamente, dados dois n´ umeros naturais n˜ao-nulos m e n, considerar suas representa¸c˜oes ´ unicas m = (c
kc
k−1· · · c
0)
10n = (d
ℓd
ℓ−1· · · d
0)
10na base decimal, isto ´e, m = X
kı=0
c
ı· 10
ıe n = X
ℓ=0
d
· 10
.O algoritmo recebe os n´ umeros k, ℓ, c
ı, d
e devolve a representa¸c˜ao de m + n na base decimal. Generalizar o algoritmo para bases de enumera¸c˜ao b > 1;
17.31.d. * Descrever e demonstrar um algoritmo de compara¸c˜ao de naturais n˜ao- nulos na base decimal. Mais precisamente, dados dois n´ umeros naturais n˜ao-nulos m e n, considerar suas representa¸c˜oes ´ unicas m = (c
kc
k−1· · · c
0)
10n = (d
ℓd
ℓ−1· · · d
0)
10na base decimal, isto ´e, m = X
kı=0
c
ı· 10
ıe n = X
ℓ=0
d
· 10
.O algoritmo recebe os n´ umeros k, c
ı, ℓ e d
e devolve uma, e apenas uma, das respostas: m < n, m = n ou m > n . Generalizar o algoritmo para bases de enumera¸c˜ao b > 1, observando que a resposta produzida pelo algoritmo independe da base de enumera¸c˜ao escolhida!
Dica: E poss´ıvel realizar a compara¸c˜ao em dois passos bem diferentes, cada ´ um com um crit´erio de compara¸c˜ao. O segundo s´o ´e usado quando o primeiro crit´erio tem o mesmo valor para ambos m e n;
17.31.e. Descrever e demonstrar um algoritmo com as caracter´ısticas abaixo:
Dados de entrada: naturais c
0, c
1, d
0e d
1tais que c
16= 0 6= d
1, represen- tando dois naturais m e n na base decimal por suas representa¸c˜oes ´ unicas:
m = (c
1c
0)
10e n = (d
1d
0)
10, isto ´e, m = 10c
1+ c
0e n = 10d
1+ d
0com 10 ≤ m, n ≤ 99;
Dados de sa´ıda: naturais a
0, a
1, a
2e a
3representando o natural m · n na base decimal como mn = (a
3a
2a
1a
0)
10, isto ´e, m · n =
X
3ı=0
a
ı· 10
ı.
507
17.9 M´ ultiplos e divisores, primos e compos- tos em
NDefini¸ c˜ ao 17.32. Consideremos as seguintes defini¸c˜oes em N :
− Dados m, n ∈
N, dizemos que m divide n, n ´e divis´ıvel por m, m ´e divisor de n, n ´e m´ ultiplo de m, e que a divis˜ao euclidiana de n por m ´e exata , e denotamos
14isto tanto por m\n como m|n se, e somente se, existe d ∈
Ntal que md = n (isto ´e, o resto da divis˜ao euclidiana de n por m ´e 0);
− Dado p ∈
N, p ´e primo se, e somente se, p possui exatamente dois divisores distintos
15, a saber, 1 e p;
− Dado q ∈
N\{0, 1}, q ´e composto se, e somente se, q n˜ao ´e primo.
Os conceitos acima est˜ao bem definidos em
Nem virtude dos seguintes resultados:
Quest˜ ao 17.33. Dados os sistemas de Peano (N, 0, S) e (N
′, 0
′, S
′), seja ϕ : N −→ N
′o ´ unico isomorfismo de sistemas de Peano de N sobre N
′. Provar que:
17.33.a. ∀m, n ∈ N , m ´e divis´ıvel por n se, e somente se, ϕ(m) ´e divis´ıvel por ϕ(n);
17.33.b. ∀m, n ∈ N , m ´e primo se, e somente se, ϕ(m) o ´e.
Quest˜ ao 17.34. (A rela¸c˜ao de ordem parcial em
Ndada por divisibilidade).
17.34.a § Com a sucess˜ao imediata S, definimos 1 := S(0), 2 := S(1) e 3 := S(2).
Demonstrar que que 2 n˜ao ´e divisor de 3;
17.34.b § * Provar que a rela¸c˜ao bin´aria ≤
Dabaixo ´e rela¸c˜ao de ordem parcial em N :
∀m, n ∈ N, (m ≤
Dn ⇐⇒ m\n) ;
14Esta nota¸c˜ao tamb´em se aplica `a extens˜ao deste conceito de N paraZ.
15Logo, 1 n˜ao ´e primo por defini¸c˜ao de primalidade. Historicamente, 1 era considerado primo e, depois, modificou-se a defini¸c˜ao para retir´a-lo. Com isto, evitaram-se as exce¸c˜oes que 1 causava em v´arios enunciados.
508
17.34.c § Demonstrar que 1 e 0 s˜ao, respectivamente, o m´ınimo e o m´aximo do con- junto parcialmente ordenado (N, ≤
D);
17.34.d § Demonstrar que, para todos os naturais n˜ao-nulos m e n, se m ≤
Dn, ent˜ao m ≤ n (na ordem usual)
16;
17.34.e § Dos itens anteriores, deduzir que: 0 n˜ao ´e primo; 2 e 3 s˜ao primos; e que os n´ umeros primos s˜ao os elementos minimais de N \{1} para a rela¸c˜ao de ordem parcial ≤
D;
17.34.f§ Mostrar que ≤
Dn˜ao ´e total (linear);
17.34.g§ Demonstrar que ≤
D´e bem fundada
17, observando que isto significa que, para todo subconjunto n˜ao-vazio C de
N, existe m ∈ C tal que m ´e minimal
18em C com rela¸c˜ao a ≤
D.
Dica: Usar o Item 17.34.d e a boa ordena¸c˜ao de (
N, ≤).
Quest˜ ao 17.35. (Alguns resultados sobre primos).
17.35.a. * Demonstrar que, para todo natural primo p vale:
∀m, n ∈
N, [(p\m ∨ p\n) ⇐⇒ p\(m · n)]
Obs. A implica¸c˜ao no sentido reverso ´e o conte´ udo original do Lema de Euclides colocado em termos da matem´atica contemporˆanea;
17.35.b. O que ainda ´e v´alido no Item 17.35.a se substituirmos “primo p” por “natural q > 1”? Por quˆe?
17.35.c. Provar que, para todos os naturais m, n e d, (d\m ∧ d\n) = ⇒ d\(m + n);
17.35.d. Mostrar que a rec´ıproca do Item 17.35.c ´e falsa;
17.35.e. *
Provar que, para todos os naturais m, n e d, [d\(m + n) ∧ d\n] = ⇒ d\m;
16Do Item 17.34.a e do fato de que 2< S(2) = 3, a rec´ıproca ´e falsa!
17Toda rela¸c˜ao bem fundada induz uma no¸c˜ao de demonstra¸c˜ao por indu¸c˜ao bem fun- dada e uma no¸c˜ao de defini¸c˜ao por recurs˜ao bem fundada; Elas podem ser bastante com- plexas quando comparadas `as indu¸c˜oes finita e completa. No caso de ≤D, o caso-base consiste do m´ınimo 1, mas o passo indutivo possui infinitos “sucessores imediatos” de cada vez devido ao Item 17.34.f. Por exemplo, todos os primos s˜ao “sucessores imediatos” de 1 para a rela¸c˜ao≤D.
18Isto ´e, n˜ao existec∈C tal quec <Dm.