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2011 SILVA - DANO MORAL A PESSOA JURIDICA EMPRESARIA E O REFLEXO SOBRE OS RESPONSAVEIS

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WELLINTON OLIVEIRA DA SILVA

DANO MORAL À PESSOA JURÍDICA EMPRESÁRIA E O REFLEXO

SOBRE OS RESPONSÁVEIS

Trabalho de Conclusão de Curso Monografia

Cacoal - RO 2011

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POR:

WELLINTON OLIVEIRA DA SILVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal, como requisito parcial para grau final de Bacharel em Direito elaborada sob a orientação do Professor Me. Telmo de Moura Passareli.

Cacoal - RO 2011

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Catalogação na publicação: Leonel Gandi dos Santos – CRB11/753 Silva, Wellinton Oliveira da.

S586d Dano moral à pessoa jurídica empresária e o reflexo sobre os responsáveis/ Wellinton Oliveira da Silva – Cacoal/RO: UNIR, 2011.

f.:il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal.

Orientador: Profª. MSc. Telmo de Moura Passareli.

1. Direito civil. 2. Dano moral. 3. Pessoa jurídica. 4. Reflexo. I. Passareli, Telmo de Moura. II. Universidade Federal de Rondônia – UNIR. III. Título.

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DANO MORAL À PESSOA JURÍDICA EMPRESÁRIA E O REFLEXO SOBRE OS RESPONSÁVEIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado aprovado para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR –

Campus de Cacoal, mediante apresentação à Banca Examinadora, formada

por:

________________________________________________

Professor Me. Telmo de Moura Passareli - Orientador/UNIR

________________________________________________

Professor Bruno Milenkovich Caixeiro - Membro/UNIR 1º examinador

________________________________________________ Professora Thais Bernardes Maganhini – Membro/UNIR

2º examinadora

Cacoal – RO 2011

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Ao Deus Triuno, Pai, Filho e Espirito Santo, o meu fôlego de vida, minha razão de viver, meu tudo. Às mulheres da minha vida, mamãe e Nádia de Souza Rodrigues, minha eterna princesa.

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Agradeço à minha família, especialmente a minha mãe, Senhora Lika, instrumento de Deus para minha vida. Mãe, essa conquista é nossa! GRANDES COISAS ESTÃO POR VIR! Agradeço também aos meus pastores Reinaldo e Ruth, por acreditarem em mim e por todas as orações e apoio. Pastor

Reinaldo, eu acreditei na sua

pregação, e olha o resultado!Agradeço também aos companheiros Marcos, Anna, Camila e Natália por toda a ajuda.

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Vejamos antes as pessoas, pois é

conhecer pouco o direito, se

desconhecemos as pessoas, em razão das quais ele foi constituído.

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RESUMO

SILVA, Wellinton Oliveira da. Dano Moral a Pessoa Jurídica empresária e o reflexo sobre os responsáveis. 68 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal – 2011.

O presente estudo tem por objetivo analisar a discussão doutrinária acerca de a pessoa jurídica sofrer dano moral, expõe o entendimento doutrinário que acompanha o enunciado da Sumula 227 do Superior Tribunal de Justiça e o argumento daqueles que se lhe opõe. Analisa-se para tanto a natureza da pessoa jurídica em suas muitas facetas bem como o instituto do dano moral. Procura-se com isso uma construção de respostas afinadas não somente com o direito, mas também com a realidade fática, uma vez que se procura saber a resposta para a possibilidade do dano moral a pessoa jurídica empresária ultrapassar a lesão à esse ente e atingir as pessoas físicas que por ela respondem. Procura-se harmonizar os entendimentos, extraindo de cada doutrinador e da jurisprudência o real valor por detrás da proteção inerente a pessoa humana ser estendida ao ente fictício. Em suma o destinatário final de toda ordem jurídica é o homem, servindo todos os outros como instrumentalização para seus anseios. Demonstra necessária a proteção contra danos morais à pessoa jurídica empresária e os reflexos sofridos pela pessoa física, os empresários que tem um de seus direitos de personalidade lesados. Utiliza o método comparativo dedutivo através de técnica de pesquisa bibliográfica.

Palavras-chave: Direito Civil. Dano moral. Pessoa jurídica. Dano reflexo. Personalidade.

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ABSTRACT

SILVA, Wellinton Oliveira da. Moral Damages to the Corporate Manager and the reflex about the responsible. 68 sheets. Course Final Paper. Rondônia Federal University – Cacoal College – 2011.

The present study has the objective analyze the doctrinal discussion about the legal entity suffer a moral damage, it exposes the doctrinal understanding that accompanies the enunciation of docket 227 of the Superior Tribunal of Justice and the argument of those that oppose him. Analyzing both the nature of the entity in your numerous facets as well as the institute of the moral damage. Looking for this the construction of tuned answers not only with the right, but also with the factual reality since that worries to know the answer to the possibility of the moral damage to the corporate manager the lesion of this being and reach the legal entity that respond for it. Looking for harmonize the understanding extracting of each counselor and of the case law the real value behind the inherent protection of a human to be extended to the fictional entity. In short the final receiver of all the legal order is the man, serving everybody as an instrumentalization of your expectations. It shows necessary protections against the moral damages of the corporate manager and the reflections suffered by the legal entity, the businessmen that have one of their personal rights injured. Using the deductive method comparison between the technique of literature.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

1 PERSONALIDADE 11

1.1 CONCEITO E NOTÍCIA HISTÓRICA 11

1.2 PESSOA FÍSICA 13

1.2.1 Do início da existência 15

1.2.2 Do fim da existência 17

1.3 PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO 19

1.3.1 Teorias Conceitualistas 21

1.3.2 Pressupostos Essenciais 26

1.3.3 Tipos 27

1.3.4 Início e Fim da Existência 33

1.4 DIREITOS DA PERSONALIDADE 34

1.4.1 Os Direitos da Personalidade e a Pessoa Jurídica 39

1.4.2 A Pessoa Jurídica e o Homem 42

2 O DANO MORAL 44

2.1 CONCEITO 44

2.2 CONFIGURAÇÃO, PROVA E QUANTIFICAÇÃO 48

2.3 DANO REFLEXO OU DANO POR RICOCHETE 53

3 A PESSOA JURÍDICA EMPRESÁRIA E SEUS RESPONSÁVEIS 56

3.1 ANÁLISE DA SUMULA 227 DO STJ 56

3.2 A QUESTÃO DO DANO REFLEXO AOS RESPONSÁVEIS 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS 62

REFERÊNCIAS 64

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INTRODUÇÃO

Um empresário que com todo esforço, enfrenta as dificuldades econômicas e sociais experimentadas diariamente, as ditas “marolinhas” ou as ondas gigantescas das crises econômicas infligem medo, tentam desmotivar e requer cada vez mais um espírito arrojado e empreendedor daquele que faz desse ministério o seu sonho projetado e meio de subsistência.

Não bastassem essas barreiras, se vê ainda que, em muitas situações, empresas são injustamente lesadas, tendo a sua imagem denegrida, sendo alvo de ações ou omissões que lhes são prejudiciais. Assim sendo, prejuízos patrimoniais são experimentados pela empresa, trazendo sofrimento psicológico as pessoas responsáveis por ela. Não é difícil ver a importância de uma empresa, dada a sua função social e valor que não necessariamente é somente material, mas de apreço e estima, vide os negócios de família, que são passados de geração a geração.

O trabalho objetiva a análise de matéria de vital importância para o direito, e consequentemente para o homem, pois tem relação com assunto que toca a proteção de sua própria essência, a saber, o dano moral, com especial empenho sobre a questão da pessoa jurídica. Há muito a doutrina e a jurisprudência têm se preocupado com esse instituto, tanto que, o Superior Tribunal de Justiça sumulou a matéria, protegendo a pessoa jurídica em sua moral. Contudo, o assunto longe está de se esgotar, pois necessária é a análise do entendimento daqueles que se posicionam contrários a inteligência do Egrégio Tribunal, fundados na ideia de que não se pode colocar no mesmo patamar a pessoa jurídica e a pessoa humana. Perquire-se o real motivo para tutelar a pessoa jurídica em sua moral e até onde se estende à pessoa jurídica os direitos da personalidade inerentes ao homem.

O estudo pretende em um primeiro momento analisar a doutrina quanto ao conceito do que é personalidade e quais são os direitos dela decorrentes, na

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tentativa de se extrair daí material para discernimento sobre quais elementos desses direitos são estendidos à pessoa jurídica. Nesse caminho, analisa-se os sujeitos de direitos, dando preferência ao trabalho sobre a pessoa jurídica empresária. Concomitantemente passa-se a avaliar o instituto do dano moral e seus aspectos, com especial vista à inovação do dano moral reflexo.

Partindo daí, obtêm-se recursos e fundamentos para só então passar a construção de pensamento em torno da possibilidade da pessoa jurídica sofrer dano moral e indagar sobre a possibilidade desse dano atingir as pessoas humanas responsáveis pela pessoa jurídica empresária. Pois, se há dano ou lesão, a lei não poderá se quedar inerte, mas segundo o preceito constitucional deverá tomar para sí a responsabilidade de tutelar os direitos do fim de toda a ordem jurídica: o homem.

O tema é atual e de vital importância para a sociedade, pois a pessoa jurídica tem sua missão constitucional, a saber, sua função social, econômica e a pessoa humana como já apontado, é a motivação do direito.

Utilizar-se-á para tanto a pesquisa bibliográfica através da compilação de doutrinas e jurisprudência, para assim fazer uma comparação entre os entendimentos.

Não se busca um fim já planejado, carregado de paixões, mas uma pesquisa pura, através da análise em discurso aberto, não se prendendo a dogmas estanques, mas se fazendo receptivo ao novo.

O método a ser utilizado será o comparativo e dedutivo, pois no caso da comparação vem a ser o mais indicado para a análise de temas concernentes as ciências sociais, tal qual o instituto da personalidade jurídica. Objetiva em um confronto de ideias, que se chegue à conclusão mais conveniente e afinada com a ordem jurídica.

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1 PERSONALIDADE

O capítulo pretende avaliar o que é personalidade, como se adquire e quais os direitos dela decorrentes, de forma a construir a base para a compressão do tema proposto no estudo.

1.1 CONCEITO E NOTÍCIA HISTÓRICA

Para exame alusivo ao tema do presente estudo, se faz necessário primordialmente a conceituação do que vem a ser personalidade. O que é ser pessoa? Seria um conceito concedido pelo direito ou anterior a esse?

As palavras de Gagliano e Pamplona Filho (2009, p.79) demonstram a importância de neste momento, se fazer esta indagação:

Um dos temas mais importantes para a Teoria Geral do Direito Civil é, indubitavelmente, a questão da personalidade jurídica, pois sua regular caracterização é uma premissa de todo e qualquer debate no campo do Direito Privado.

Ao discutir o tema, é comum, em primeiras linhas, tratar sobre os primórdios do que se tinha por conceito de pessoa, citando o ensinamento empregado por Aulo Gelio:

Pessoa veio do vocábulo latino persona ou personare que designava uma espécie de máscara utilizada para amplificar a voz daquele que falaria em público, e também pelos atores que encenavam nos palcos. Posteriormente, a palavra persona já se confundia com a própria pessoa do ator, para posteriormente designar a própria pessoa do homem, que na sociedade utilizaria uma espécie de máscara, para de certo modo encenar um papel, como pai, filho, autoridade, etc (apud NADER, 2008, p.289).

Todavia, contrário ao conhecimento de grandes doutrinadores que se filiam a esse entendimento, alguns dizem ser uma conceituação equivocada. Entende-se que o vocábulo romano deriva do etrusco “phersu” (CRETELA JUNIOR, 2005). Assim também, Miranda (1999, p. 207) toca nesse assunto apontando-o como um equívoco. O mestre continua ao fazer conceituação do que é pessoa: “Ser pessoa é apenas ter a possibilidade de ser sujeito de direito. Ser sujeito de direito é estar na posição de titular de direito”.

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Diniz (2008) condescende deste entendimento doutrinário tradicional, cujo fundamento está na visão de que pessoa é todo ente físico ou coletivo capaz de direitos e obrigações, tal qual o termo sujeito de direito. Ou seja, é todo sujeito de direito titular de direitos e obrigações, com capacidade de atuar em uma situação jurídica.

Frota (2008, p.87) também trata do mesmo assunto:

Pessoa, para a doutrina tradicional, é o ente humano, natural, físico ou jurídico, vivo ou instituído, respectivamente, apto para tornar-se sujeito de um estado civil, bem como para adquirir direito e contrair deveres. É espécie de sujeitos de direitos. Para essa linha, para ser pessoa não é necessário possuir direitos, mas deter a possibilidade de tê-los. O aludido conceito consagra-se no art. 1° do CC/2002.

Primariamente, conceitua-se pessoa como todo ser humano possuidor de direitos e obrigações, ou entes abstratos, criados pela ação humana e dotados com tal status, para agir na esfera jurídica como possuidora de direitos e obrigações, no segundo caso a pessoa jurídica. Pode se valer do termo “sujeito de direito” e “pessoa”, como termos equivalentes. Pessoas físicas ou naturais e pessoas jurídicas ou fictas são os termos comumente conhecidos e adotados pela doutrina majoritária (FROTA, 2008).

O conceito de pessoa mudou de acordo com a época e as mudanças sociais ocorridas. Atualmente, todo homem é capaz de direitos e obrigações, sem distinção. Portanto, para o direito é considerado pessoa (BRASIL, 2002). Nem sempre apenas nascer lhe conferia tal título, como ocorre hoje, e as pessoas jurídicas não eram reconhecidas como tal, mas apenas um esboço do que hoje se apresenta na sociedade contemporânea.

Por exemplo, podemos citar a questão das origens do sistema jurídico adotado, quando em Roma, para ser pessoa não bastava ser gerado, mas nascer sem qualquer deformidade, ser livre, para então, adquirir a capacidade ou personalidade jurídica, o que hoje se vê avançada evolução em que certos direitos protegem até mesmo a pessoa do nascituro. Na Grécia, ser pessoa era prerrogativa de quem exercia seu poder de cidadania plena (RIZZARDO, 2003).

Apoiando o entendimento, a explanação de Cretella (2005, p.60), sobre o direito romano:

Não basta, pois, ser homem para ser pessoa. É preciso ser homem, ter forma humana e não estar na condição de escravo. Só assim

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temos a pessoa, que se erige como centro de direitos e obrigações na ordem jurídico-romana. Pessoa e homem são conceitos diversos para o romano. Só o homem que reúne certos requisitos é pessoa. Pessoa é ser humano acompanhado de atributos. Pessoa é sujeito de direitos e obrigações.

Atualmente, toda pessoa é sujeito de direito, ou tem a capacidade de sê-lo. As regras jurídicas a elas se destinam. Com isso se vê a ligação entre a o conceito de pessoa e personalidade. Personalidade está ligada à pessoa, sendo semelhantes entre si os termos capacidade de direito e personalidade jurídica. Para Diniz (2008), capacidade jurídica vem a ser a medida jurídica da personalidade, a manifestação do poder de ação. “As pessoas são então os sujeitos de direito que atuam no mundo jurídico. Os titulares das ordens e garantias jurídicas” (REALE, 2002, p. 227).

Muito se discute quanto aos direitos inerentes à personalidade, ou direitos da personalidade. O Código Civil tratou da questão na parte geral, no art. 11. Cumpre legar para capítulo posterior a sua abordagem (BRASIL, 2002).

Os sujeitos de direitos classificam-se em pessoas físicas ou naturais e pessoas jurídicas ou morais. Respeitadas as terminologias usadas pelo ordenamento jurídico brasileiro, Nader (2008, p.290) toca no assunto sobre o que seria mais adequado:

A terminologia consagrada pelo sistema brasileiro, pessoa natural e pessoa jurídica, para designar, respectivamente, o individual e o coletivo, não é a mais adequada; porque, na realidade, ambas são pessoas jurídicas. Daí Eduardo Garcia Maýnez, entre outros autores, preferir nomeá-las por pessoa jurídica individual e pessoa jurídica de existência visível e de existência ideal, acolhidas posteriormente, pelo Código Civil Argentino.

Muito se discute quanto a terminologia mais adequada a ser utilizada. No entanto longe está de se pacificar o entendimento.

Países como França adotou a terminologia pessoas morais, e o direito português por sua vez, pessoas coletivas. Mas o legislador brasileiro, preferiu o termo pessoa jurídica. Como pode se perceber da leitura do art. 52 do Código Civil. (BRASIL, 2002)

1.2 PESSOA FÍSICA

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aprofundar no estudo do destinatário final do direito, em acordo com a receita do doutrinador:

Não há como deixar de registrar que, sendo o ser humano o destinatário final de toda norma, forçoso concluir que o estudo da personalidade jurídica tome como parâmetro inicial a pessoa natural (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2009, p.79).

O objetivo final de todo direito é o ser humano. É sabido que o ordenamento jurídico tutela vários âmbitos, tais como o direito ambiental, visando proteger a fauna e a flora, entretanto, tudo visa um fim único: o bem estar social do ser humano, da pessoa natural, como valor maior da sociedade, a proteção de sua personalidade. Tutela a proteção dos objetos de direito, visando a proteção da pessoa natural, pessoa humana como pessoa e sujeito de direito.

É pessoa física o ser humano, a pessoa natural. O foco principal de toda norma, o fim último, o destinatário de toda ordem jurídica, que se presta a tutelar seus interesses, resguardando sua dignidade e seus valores. Valores esses que decorrem da pessoa humana em si, que desta forma é transposto e dotado de valor jurídico:

[...] a expressão pessoa natural individualiza em nosso ordenamento jurídico o ser humano enquanto expressão conclusiva do processo biológico que se inicia com a concepção e vai até o nascimento. A pessoa natural, em sua realidade e experiência, representa um valor a tutelar em suas inúmeras formas de expressão, em seu interesse moral e material e no desenvolvimento de sua personalidade. Representa, de acordo com um reconhecimento unânime, o fim último da norma jurídica (BELTRÃO, 2005, p.19).

Reconhece-se, portanto, um direito natural inerente à pessoa humana, apenas pelo fato de ter vindo ao mundo, direito esse chancelado pela Carta Magna no tocante ao princípio da dignidade humana e também no Código Civil Brasileiro.

Como já afirmado na questão histórica, nem sempre foi assim. Com o fim da 2ª Guerra Mundial e posterior Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada pela Organização das Nações Unidas de 1948, que trouxe em seu artigo 1º o seguinte: “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Buscou-se com os Direitos Humanos, tutelar o direito da pessoa humana, em sua essência, como uma forma de precaução contra novas atrocidades (PIOVEZAN, n.p).

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A abordagem quanto à dignidade da pessoa humana, teve como seu maior expoente o idealismo alemão da filosofia Kantiana. Defendeu que o ser humano é um ser racional, portanto um fim e não um meio, diferentemente dos outros seres desprovidos de razão. Em razão de ser um ente racional, seria portanto pessoa. Seu valor e obrigação de ser respeitado decorriam apenas do fato de ter vindo ao mundo, de ser pessoa, independente de sua cor, raça, patrimônio, ou qualquer outro aspecto (KANT, 2006).

No ordenamento jurídico brasileiro, o termo pessoa pode designar dois tipos: Pessoa física ou natural e pessoa jurídica ou ficta. Ressalte-se que ainda se discute quanto à denominação da pessoa humana como ente jurídico.

Quanto à denominação da pessoa natural adotada pela legislação brasileira é bastante criticada, como se retira da seguinte citação de renomada doutrinadora brasileira:

Clara é a imprecisão dessa terminologia, porque desnatura o homem, ao realçar o seu aspecto material, sem considerar suas qualidades morais e espirituais, que são elementos integrantes de sua personalidade. O termo “pessoa individual”, por sua vez, é bastante impróprio, ante a existência de pessoas de existência ideal, que não são coletivas. (DINIZ, 2007, p. 144)

Data vênia o venerável entendimento do legislador, o que hodiernamente tem sido aceita e usada é a expressão “pessoa física” para designar a pessoa humana e distingui-la da pessoa jurídica. Portanto, não há que se confundir os dois entes (BRASIL, 2002).

Feita a conceituação do que vem a ser pessoa física, em uma abordagem superficial sem se ater às suas peculiaridades, mesmo pelo fato de não ser o objetivo final desse estudo.

1.2.1 Do início da existência

Preconiza o art.4º do Código Civil de 2002, in verbis: “A personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (BRASIL, 2002).

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explica o mestre do direito REALE (2002, p.228):

Esses dois preceitos formam como que o pórtico da legislação civil dos povos modernos. Representam eles o resultado de uma longa e trabalhosa evolução histórica. Dizer que todos os homens, via de regra, sem distinção de nacionalidade, são titulares de direitos e obrigações na ordem civil, é afirmar uma conquista de civilização.

Duas correntes divergem com relação ao início da existência da pessoa física ou natural. Pode distinguir seu conceito inicialmente, sem entendimentos contrários que, pessoa física se trata de pessoa humana, individual e não abstrata.

De um lado, defende que o início se dá com o nascimento com vida, remetendo ao artigo do Código Civil vigente supracitado. Antagonicamente, Paulo Nader, Teixeira de Freitas, Nabuco de Araújo e Felício dos Santos, apontando para o início da existência da pessoa física com a concepção. Para Nader (2008), o legislador optou pela primeira corrente, por ser ela mais prática.

Neste ponto é cabível ressaltar a questão quanto à tônica do reconhecimento do nascituro como pessoa, matéria muito discutida e ainda não esgotada.

Desse modo, da interpretação primária do texto legal contido no artigo supramencionado, podemos obter a orientação de que o legislador não contempla o nascituro como pessoa. Mas no prosseguimento da leitura, vemos que ele ordena a proteção aos seus direitos, como que reconhecendo- o como pessoa, pois o que se diz de titular de direitos é pessoa (MONTORO, 2009).

De grande importância é a citação do apurado ensinamento de Teixeira de Freitas, o que suscitou tal discussão:

Se os nascituros não são pessoas, qual o motivo das leis penais e de polícia, que protegem sua vida preparatória? Qual o motivo de punir-se o aborto? E, acrescenta:“ Não concebo que haja ente com suscetibilidade de adquirir direitos, sem que haja pessoa. Se se atribuem direitos às pessoas, por nascer; se os nascituros são representados, dando-se lhes o Curador, que se tem chamado Curador ao ventre; é forçoso concluir que já existem, e que são pessoas; pois o nada não se representa. Se os nascituros deixam de ser pessoas pela impossibilidade de obrar, também não seriam pessoas os menores impúberes, ao menos até certa idade(apud MONTORO, 2009, p.556).

Reside portanto, discussão em torno do início da existência da pessoa, pois há confusão no discernimento das terminologias jurídicas usadas. Personalidade é a

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aptidão para adquirir direitos e obrigações. Todo sujeito de direito é pessoa, pois capaz de direitos e obrigações, mas capacidade quanto à extensão dos direitos, podendo ser maior ou menor. O nascituro é pessoa, tem portanto, capacidade. Mas simplesmente capacidade de direito e não de fato ou de exercício, pois não pode defender ou reivindicar seus direitos inerentes à personalidade. O que será feito através de representantes.

Entende-se por conseguinte tal afirmativa, que a pessoa física tem seu início ou gênese da concepção. Não se esgotando de forma alguma os embasamentos doutrinários que corroboram ou que dão azo à discussão de tal asseveração, vez que a inscrição do Novel Código do legislador brasileiro foi duvidosa, dando margem a imprecisões.

1.2.2 Do fim da existência

O fim da existência está disposto no Art.6º do Código Civil, in verbis: “A existência da pessoa natural termina com a morte [...]” (BRASIL, 2002). Contudo, o fim somente se opera quanto à pessoa humana em si. Sua personalidade e atributos a ela ligados continuam sendo protegidas, suas memórias, restos mortais, imagem, bem como seus bens.

A morte, contudo, não impede que bens da personalidade física e moral do defunto possam influir no curso social e que perdurem no mundo das relações jurídicas e sejam como tais autonomamente protegidos. É o caso das partes destacadas do corpo, das disposições de última vontade, da sua identidade, da imagem, da honra, do seu bom nome, da sua vida privada, das suas obras e das demais objetivações criadas pelo defunto e nas quais ele tenha, de um modo muito especial, imprimido a sua marca (BELTRÃO,2009, p.85).

A legitimidade para requerer a providência da proteção judicial aos direitos da personalidade post-mortem foi prescrita pelo Novo Código Civil, sendo atribuída ao cônjuge, aos descendentes, aos ascendentes e aos colaterais até o quarto grau. Ou seja, a lesão é feita contra a personalidade do de cujus, mas como evidentemente não poderia requerer a cessação de ameaça, lesão ou reclamação de perdas e danos como institui o Art.12 do Código Civil, atribui-se legitimação aos indivíduos acima citados. No parágrafo único deste artigo, o legislador procurou

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abordar a proteção dos direitos da personalidade do morto (sic) (BRASIL, 2002).

"CIVIL. DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIREITO À IMAGEM E À HONRA DE PAI FALECIDO.

Os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de merecer proteção a imagem e a honra de quem falece, como se fossem coisas de ninguém, porque elas permanecem perenemente lembradas nas memórias, como bens imortais que se prolongam para muito além da vida, estando até acima desta, como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair dos filhos o direito de defender a imagem e a honra de seu falecido pai, pois eles, em linha de normalidade, são os que mais se desvanecem com a exaltação feita à sua memória, como são os que mais se abatem e se deprimem por qualquer agressão que lhe possa trazer mácula.

[...] Os ataques e ofensas à memória do morto são ofensas aos seus parentes próximos, causando-lhes sofrimento e revolta. Dessa forma, os parentes próximos de pessoas famosas falecidas passam a ter um direito próprio, distinto dos direitos de que era titular o de cujus, que os legitima para, por direito próprio, pleitearem indenização em juízo. Tal é a espécie dos autos, porquanto as autoras pleiteiam indenização, por direito próprio, por danos materiais e morais que alegam ter sofrido pela publicação não autorizada da biografia do seu falecido pai.

O novo Código Civil, atento aos princípios constitucionais e a toda legislação esparsa em nosso ordenamento jurídico relativos a esta matéria, disciplina os direitos da personalidade em seus arts. 11/21. Em seu art. 11 estabelece, após ressalvar casos previstos em lei, a intransmissibilidade e a irrenunciabilidade dos direitos da personalidade. Prevê, todavia, no parágrafo único do art. 12, que qualquer ameaça ou lesão a esse direito gera perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei e, em se tratando de morto, como no caso presente, os herdeiros indicados e o cônjuge são legitimados para buscar o ressarcimento ou a indenização decorrente de lesão. (...) De forma ainda mais explícita, em seu art. 20 e seu parágrafo único o novo Código Civil prevê a prévia autorização para a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa, pena de render ensejo a indenização, ocorrendo lesão a honra e a boa forma ou respeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais. Destaca, em seu parágrafo único, que em se tratando de morto, o caso presente, são partes legítimas para requerer a proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. (...) No julgamento do Recurso Especial nº 268.660-RJ, interposto contra acórdão de minha relatoria prolatado na Apelação Cível nº 8.250/97, a Quarta Turma do STJ, relator o Min. Cesar Asfor Rocha, assim se pronunciou sobre questão idêntica: 'Vê-se, assim, ser certo que os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de merecer proteção a imagem de que falece, como se fosse coisa de ninguém, porque ela permanece perenemente lembrada nas memórias, como bem imortal que se prolonga para muito além da vida, estando até acima dela, como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair da mãe o direito de defender a imagem da sua falecida filha, pois são os pais aqueles que, em linha de normalidade, mais se desvanecem com a exaltação feita à memória e à imagem do falecido filho, como são os que mais se abatem e se deprimem por qualquer gesto que possa lhes trazer máculas. Daí porque têm eles legitimidade ativa para postular reparação por ofensas morais feitas à imagem de seus filhos, o que digo apenas de passagem já que o dano moral não foi aqui reconhecido e nem está mais sendo questionado. Ora, se é assim com razão maior se dá quando se

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cuida de buscar indenização pela ocorrência de dano material, por veiculação indevida e desautorizada da imagem da filha falecida pois a mãe também postula por direito próprio na condição de sua sucessora. (BRASIL, STJ, 2006).

Desse modo, é merecida a proteção à imagem do falecido não somente como proteção a ela em si mesma, também como proteção a pessoa dos familiares.

1.3 PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO

O ser humano, na busca da realização de seus interesses pessoais e expansão de sua capacidade laborativa e produtiva, por vezes se encontra limitado frente à determinadas realizações. Dessa forma inicia-se a instituição de uma organização entre indivíduos, que visam uma mesma finalidade, para juntos, somados os esforços se desenvolverem no meio social.

Para atuarem de forma legal, o legislador chancelou o instituto da pessoa jurídica, cujo conceito é fruto de evolução etimológica, e remete ao “berço do direito”, Roma:

Poder-se-ia ainda argumentar que Roma e o direito romano deixaram de existir há mais de 1.000 anos, em 476, quando Odoacro, rei dos Hérulos conquistou Roma e proclamou o fim do Império Romano. Por que trazer de volta passado tão distante? Diremos, porém, que Roma e o direito romano não morreram, não deixaram de existir. Estão vivos no mundo presente, mesmo no Brasil. O direito brasileiro é o direito romano; herdamos nosso direito da antiga Roma, que percorreu toda a Idade Média e os tempos modernos. É natural que o direito romano adotado no Brasil não poderia ser igual ao direito de 2.000 atrás. Foi-se aprimorando e adaptando às novas conquistas sociais. A vibração do direito está exatamente na sua forma de amoldar-se a novas situações; é a sua evolução histórica, acompanhando a evolução da sociedade que ele regulamenta (ROQUE, Universo Jurídico).

Iniciou-se com as corporações no direito romano. Posteriormente no direito clássico, também se passou a admitir o Estado como ente abstrato. Eram chamados universitates personarum e universitates rerum ou bonorum. Somente depois de décadas se deu a conhecer a pessoa jurídica tal qual se conceitua hoje:

No período pós-clássico conheceram-se as pessoas jurídicas por meio do direito canônico e germânico. Difiniu-se o conceito nuclear de pessoa jurídica, denominada pessoa ficta, visto que não possuía corpo, pois era uma realidade funcional (FROTA, 2008).

(22)

No século XVIII e XIX, a doutrina alemã adotou a realidade da existência da pessoa jurídica ao lado da pessoa física ou natural, vez que já existia no meio social, passando apenas a ser reconhecida como pessoa pelo direito pátrio.

O Código Civil Brasileiro de 1916 instituiu a forma do início da pessoa jurídica. Com os avanços tecnológicos e sociais ocorridos durante o século XX e XXI, a pessoa jurídica ganhou um novo status perante a sociedade, principalmente com relação a contribuição com a estabilidade econômica estatal e o atendimento da função social, exemplo de despatrimonialização do direito civil, ou seja, a sua constitucionalização (BRASIL, 1916)

O século XX, podemos dizer, foi o século da pessoa jurídica. Desde então, pouquíssimas atividades da sociedade são desempenhadas pelo homem como pessoa natural. A pessoa jurídica, da mas singela à mais complexa, interfere e imiscui-se na vida de cada um, até mesmo na vida privada. Sentimos um crescimento exarcebado da importância das pessoas jurídicas. Atualmente, o peso da economia conta-se pela potencialidade das pessoas jurídicas, que transcendem o próprio Estado e se tornam supranacionais naquelas empresas que se denominam “multinacionais (VENOSA, 2008, p. 223).

Pessoa jurídica, não é a denominação mais aceitável para a doutrina. Há diversidade no entendimento de legislações estrangeiras quando por sua vez preferiram conferir o nome de pessoa ficta ou intelectual, pessoa moral no direito austríaco e suíço, pessoa coletiva para o direito português e pessoa ideal. O legislador brasileiro preferiu seguir o entendimento da legislação alemã, espanhola e italiana (GAGLIANO, 2009).

Ao tratar sobre o assunto, Frota (2008), cita a crítica à terminologia pessoa jurídica, utilizada pelo direito pátrio, feita por Antônio Menezes Cordeiro, que em seu entendimento a terminologia mais aceitável para esse ente abstrato seria pessoa coletiva. Não obstante essa declaração faz crítica a si mesmo:

Pessoa colectiva, por seu turno, tão-pouco é designação perfeita: inculta haver, subjacente, uma „colectividade‟, no sentido directo de pluralidade de pessoas o que nem sempre sucede. Mas feita a ressalva, ela pode ser conservada: está consagrada (MENEZES CORDEIRO apud FROTA, 2008, p. 101).

Defendendo a denominação adotada pelo Novel brasileiro, VENOSA (2008, p.224) faz referência ao termo utilizado pela ordem luso-jurídica:

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Na verdade, a denominação por nós utilizada tem a vantagem de realçar o aspecto jurídico, o que nos interessa. “Pessoa coletiva” é como denomina o Direito Português, realçando mais o aspecto externo do instituto; enfatiza as pessoas jurídicas constituídas de indivíduos, mas deixa de fora aquelas pessoas jurídicas constituídas fundamentalmente de patrimônio, que são as fundações.

Não entraremos no questionamento quanto a mais precisa denominação a ser utilizada, pois é material para outro estudo mais aprofundado. Ressalte-se também que a doutrina não é unânime Mas adotando a denominação pessoa jurídica ou coletiva, pode-se conceituá-la como uma entidade abstrata, podendo ser composta por pessoa humana ou uma coletividade que exerce suas atividades através dela. Ou um patrimônio individual ou coletivo que afetado, é usado para uma determinada finalidade requerida por quem o fez.

No entendimento apurado de Rodrigues (2003, p.86):

Pessoas jurídicas, portanto, são entidades a que a lei empresta personalidade, isto é, são seres que atuam na vida jurídica, com personalidade diversa da dos indivíduos que os compõem, capazes de serem sujeitos de direitos e obrigações na ordem civil.

Então, se entende que o legislador brasileiro adotou a denominação pessoa jurídica, admitindo ser ela a menos imperfeita (MARIO apud VENOSA, 2008).

1.3.1 Teorias Conceitualistas

São múltiplas as teorias quanto à natureza jurídica da pessoa jurídica. Das palavras de Venosa (2008) podemos obter a real situação em que se encontra a discussão sobre esse tema de vital importância, tendo em vista os avanços sociais:

É por demais polêmica a conceituação da natureza da pessoa jurídica, dela tendo-se ocupado juristas de todas as épocas e de todos os campos do Direito. Como diz Francisco Ferrara (1958:18), com frequência o problema dessa conceituação vê-se banhado por posições e paixões políticas e religiosas e, de qualquer modo, sobre a matéria formou-se uma literatura vastíssima e complexa, cujas teorias se interpretam e se mesclam num emaranhado de posições sociológicas e filosóficas. Na verdade, o conceito de pessoa jurídica é um dos assuntos mais tormentosos em Direito (FERRARA apud VENOSA, 2008, p.226).

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totalidade, todavia, faz-se oportuno citar as teorias que mais se destacam para sopesar quanto seus argumentos.

Na divisão feita por Frota (2008), diz que se distinguem em teorias negativas e afirmativas. Contudo, o exame feito por Venosa (2008), mostra de forma mais ampla as conclusões sobre a qual os estudiosos se alicerçaram e divergindo em alguns pontos. Para ele a divisão se apresenta da seguinte maneira: Doutrinas Negativistas, Doutrinas da Ficção, Doutrinas da Realidade e Doutrina da Instituição. Já nas palavras de Rodrigues (2003), a existência do instituto da pessoa jurídica gerou perplexidade nos juristas, que se lançaram na busca de descobrirem a sua natureza jurídica, elaborando mais de dezenas de teorias explicativas, todavia no seu entender, merecem um maior enfoque, a da ficção legal, da pessoa jurídica como realidade objetiva, a da pessoa jurídica como realidade técnica e a teoria institucionalista de Hauriou.

É de se notar a dificuldade nessa análise, pois não há um consenso quanto ao entendimento sobre as teorias, confirmando o que Venosa (2008) afirmou anteriormente.

Para os teóricos negativistas, dentre os quais se destaca, Planiol, a pessoa jurídica nada mais é que, criação arbitrária da lei, pois seria impossível um ser inanimado exercitar qualquer fim. Para eles só existem os seres humanos, não admitindo qualquer atributo de personalidade correspondente a pessoa jurídica. Ao citar o importante estudioso das normas jurídicas, Venosa (2008, p.229) esmiúça seu entendimento:

É nessa categoria que deve ser colocado M.Planiol (1911/1913, t. 1:3005-3019), para quem a denominação “pessoa jurídica” mascara um patrimônio coletivo” ou uma “propriedade coletiva”. Sustenta esse autor que se trata de forma muito especial de propriedade, que tem em si mesma sua razão de ser e que se fundamenta no necessário agrupamento de indivíduos a quem a propriedade pertence. A propriedade é comum, embora a administração dos bens seja apenas reservada a alguns membros (2008, p.229).

Em sua obra, Frota (2008) elenca a teoria adotada por Marcelo Planiol como uma teoria chamada teoria da propriedade coletiva. Entende que se enquadraria de forma mais correta na doutrina afirmativa. Com entendimento diverso, Rodrigues (2005, p.88), já o coloca como a teoria da pessoa jurídica como realidade técnica:

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Segundo a Teoria da pessoa jurídica como realidade técnica, a personalidade jurídica é um expediente de ordem técnica, útil para alcançar indiretamente alguns interesses humanos. O Estado, as associações, as sociedades existem; uma vez que existem não se pode concebê-los a não ser como titulares de direitos. A circunstância de serem titulares de direito demonstra que sua existência não é fictícia, mas real. Apenas, tal realidade é meramente técnica, pois, no substrato, via à satisfação dos interesses humanos. É como dizem Planiol e Ripert, tecnicamente útil aos homens, no seu interesse criar seres nos quais farão repousar direitos que a final se destinam a beneficiar os próprios homens.

Rodrigues (2005) continua asseverando ainda que os autores ensinam que é concedida personalidade às coletividades criadas pelo homem. Seria então um meio de aumentar sua forma de atuação, para o livre desenvolvimento humano. É então um meio para a realização de determinada atividade humana coletiva ou não.

Da interpretação da teoria adotada por Ihering, valendo-se do trabalho citado em outra obra, que concede uma visão mais clara a respeito da situação que se apresenta:

Negando a autonomia existêncial à pessoa jurídica, o grande IHERING argumentava que os verdadeiros sujeitos de direito seriam os indivíduos que compõem a pessoa jurídica, de maneira que esta serviria como simples forma especial de manifestação exterior da vontade de seus membros. (apud GAGLIANO, 2009, p. 184)

Já a doutrina da ficção tem como seu expoente maior o jus filósofo alemão Friedrich Carl Von Savigny. Prevaleceu na Alemanha e na França no século XVIII.

No juízo ficcionista a pessoa jurídica é simples criação da mente humana, uma ficção jurídica. A personalidade jurídica atribuída a ela advém dos seres humanos, membros que a compõem. Dessa forma, criada através da legislação, de onde pode se estender ou restringir sua capacidade de atuação (LISBOA apud FROTA, 2008).

O ponto mais atacado dessa doutrina, reside na questão da natureza jurídica do Estado. Pois sendo o Estado apenas simples criação da lei, consequentemente o direito que dele emanasse também o seria. Nas palavras de DINIZ (2008, p.233) encontramos esta afirmação:

Não se pode aceitar esta concepção, que, por ser abstrata, não corresponde à realidade, pois se o Estado é uma pessoa jurídica, e se se (sic) concluir que ele é ficção legal ou doutrinária, o direito que dele emana também o será.

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Outra questão seria a que envolve a personalidade do Estado. Pergunta-se de quem recebeu o status ou capacidade para agir na esfera jurídica como sujeito de uma relação.

Uma das mais sérias críticas feitas a essa teoria refere-se à personalidade do próprio Estado, como sujeito de direito, isto é, como sujeito capaz de possuir, adquirir e transferir bens, de estar em juízo, etc. Se o próprio Estado é uma pessoa jurídica, é de se perguntar quem o investe de tal capacidade. Respondem os adeptos dessa corrente que, como o Estado é necessidade primária e fundamental, tem existência natural. Contudo, isso não afasta a contradição da teoria (VENOSA, 2008, p.227).

Acompanhando a classificação feita por Venosa (2008), tem-se ainda a doutrina da realidade, dominante entre os franceses e adotada pelo autor que ladeia ilustres doutos, dentre eles Clóvis Bevilaqua, onde faz uso de suas palavras do comentário ao Código Civil de 1916, Art. 13:

A pessoa jurídica, como sujeito de direito, do mesmo modo que do ponto de vista sociológico, é uma realidade, é uma realidade social, uma formação orgânica investida de direitos pela ordem jurídica, a fim de realizar certos fins humanos. (apud VENOSA, 2008, p.228)

Nessa doutrina a ficção e a teoria da realidade orgânica encontra um ponto de intersecção. Sobre isso acentua Washington de Barros Monteiro:

[...] a teoria da realidade técnica surge como teoria eclética entre a teoria da ficção e a teoria da realidade orgânica, pois reconhece traços de validade em ambas, uma vez que admite que só o homem é passível de direitos e obrigações e que a personalidade da pessoa jurídica deriva de uma criação, de uma técnica jurídica (apud VENOSA, 2008. p.229).

Nesse ponto de vista, a pessoa jurídica tem existência real, no entanto, não como a pessoa natural. Trata a pessoa jurídica como uma realidade técnica do direito, manobra legislativa utilizada pelo homem com vistas a seu fim.

Por último, ainda seguindo a citada classificação, a doutrina da instituição, ou como prefere Rodrigues (2003), teoria de Haouriou, criada por Maurice Hauriou, todavia desenvolvida por George Bonnard (RAÓ, 1999).

Diniz (2008, p. 233), também se filia a essa doutrina louvando o argumento do jurista:

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A teoria da realidade das instituições jurídicas, de Hauriou, admite que há um pouco de verdade em cada uma dessas concepções. Como a personalidade humana deriva do direito ( tanto que este já privou seres humanos de personalidade – os escravos, p.ex.), da mesma forma ele pode concedê-la a agrupamentos de pessoas ou de bens que tenham por escopo a realização de interesses humanos. A personalidade jurídica é um atributo que a ordem jurídica estatal outorga a entes que o merecerem. Logo essa teoria é a que melhor atende a essência da pessoa jurídica, por estabelecer, com propriedade, que a pessoa jurídica é uma realidade jurídica.

Em seu turno, Venosa (2008) discorda de tal juízo, afirmando que esta teoria não contribui em nada para iluminar o entendimento sobre a matéria, mas somente gera confusão.

Ao se estudar as teorias de cada doutrinador explanadas não se pretende chegar a uma conclusão lógica. Tal qual uma ciência exata, onde na soma de alguns fatores sempre se chegará a um resultado esperado. Entretanto é salutar, pois obtendo cada conceito, pode-se tal qual um ruminante em seu processo de digestão, absorver cada conceito para dessa forma se chegar à construção de uma linha de pensamento.

Até mesmo o grande jurista brasileiro se escusou de criticar tais conceituações, defendendo que cada uma com suas particularidades nos entrega material para compreensão do fenômeno:

Furto-me de criticá-las, porque me parece que cada qual, de certo modo, oferece um adminículo para melhor compreensão do fenômeno. Talvez seja mais relevante encarar o problema objetivamente, para verificar, a título de conclusão provisória sobre o assunto, que tais instituições existem efetivamente. Ninguém nega que elas atuam na vida jurídica e que, através de sua vontade, numerosos negócios jurídicos se aperfeiçoam; ninguém nega que o Estado as reconhece, as tributa, as aciona, quando necessário. Portanto, a única afirmação definitiva que se formula consiste em tal juízo de existência. (RODRIGUES, 2003, p. 89)

E suplementando a ideia conclusiva quanto à discussão dessas teorias, o autor abrilhanta seu comentário ao citar Planiol e Ripert:

Aliás, poder-se-ia pensar – e esta é uma frase de Planiol e Ripert – que a validade da discussão sobre a natureza da pessoa jurídica é de menor relevo, porque as diferenças da concepção não influem jamais sobre as soluções positivas que a lei fornece (apud RODRIGUES, 2003, p.89).

Portanto, de maior interesse é saber que a pessoa jurídica é uma realidade insofismável e entender qual o seu papel na realidade social. Através de uma

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análise alicerçada em matéria civil constitucional, entender como adequar o pleno exercício de sua função social às particularidades que se apresentam de acordo com a evolução social. Busca-se assim o real objetivo da pessoa jurídica, e assim se concederá soluções positivas como o autor acima citado, discorreu.

1.3.2 Pressupostos Existenciais

Para o inicio da existência da pessoa jurídica, a doutrina aponta alguns pressupostos ou fatores básicos que somente quando presentes dão ensejo a validação de seu surgimento e existência. São eles a vontade humana criadora, a observância das condições legais para sua formação ou instituição e o objetivo para o qual se pretende, ou licitude de seu objetivo (VENOSA, 2008).

O primeiro, a vontade humana, apenas da leitura superficial já se infere seu conteúdo. É o livre ânimo para com um objetivo, formar uma pessoa jurídica. Já retira dessa forma a possibilidade de qualquer tipo de pretensa imposição. É o livre arbítrio do homem em ao se associar ou simplesmente em sua individualidade formar uma pessoa jurídica, observando todas as condições legais, o que remete ao próximo pressuposto.

Esclarecedoras são aqui as palavras de Venosa (2008, p.225):

As pessoas jurídicas de direito publico de caráter fundamental, como o próprio Estado, iniciam-se em razão de suporte histórico, de criação constitucional, surgindo como que espontaneamente da necessidade social de soberania de um Estado em face de outro. Afasta-se, portanto, esse conceito criativo, por ser um processo diferente, da gênese das pessoas jurídicas de direito privado. No direito privado, o fato que dá origem à pessoa jurídica é a vontade humana, sem, a princípio, nenhuma interferência do Estado, exceto quando a autorização estatal é necessária. Antes de qualquer ato de cunho estatal a personalidade desses entes já existe, ainda que em estado potencial. Esses entes podem ser tratados como sociedade irregulares, mas não se nega que já tenham certos atributos da personalidade.

A observância das condições legais é inerente ao Estado democrático Direito. Neste requisito se encontra as condições estatuídas no Código Civil Brasileiro, pois elenca a formalidade para o surgimento da pessoa jurídica de direito privado, que ocorre com o devido registro, vide os artigos 45 e 46 do Novel e art. 121 da Lei 6.015/1973.

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Nessa esteira, o registro da pessoa jurídica de direito privado tem natureza constitutiva, já que a atribui personalidade jurídica, situação diametralmente oposta a da ocorrida com o registro da pessoa humana, que adquire personalidade jurídica com o nascimento com vida e o registro civil possui natureza declaratória. Outras pessoa jurídicas, como partidos políticos, sindicatos, instituições financeiras e multinacionais, possuem além dos mencionados, outros requisitos constitutivos. As pessoas jurídicas de direito publico surgem em virtude de fatos históricos, criação constitucional, leis especiais e tratados (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, apud FROTA 2008, p. 107).

O terceiro pressuposto é de vital importância para a sanidade da ordem jurídica. A licitude dos objetivos a que se almeja a constituição da pessoa jurídica é medida auto protetiva do Estado, excluindo a possibilidade dele próprio chancelar o surgimento de pessoa jurídica ou dar proteção a um ente cujo objetivo atente contra seus princípios, protetores da sociedade.

Finalmente, a atividade do novo ente deve dirigir-se para um fim lícito. Não se adapta à ordem jurídica a criação de uma pessoa que não tenha finalidade lícita. Não pode a ordem jurídica admitir que uma figura criada com seu beneplácito contra ela atente. Se a pessoa jurídica, em suas atividades, desviar-se das finalidades lícitas, o ordenamento tem meios para cercear e extinguir sua personalidade. (VENOSA, 2008, p.226)

Observa-se então que, a disposição de vontade deve se amoldar aos padrões estatuídos na lei fundamental estatal. É, pois limitada pela lei, e deverá ainda atender ao que preceitua a Constituição Federal no tocante a sua função social, como assevera Fabio Ulhoa Coelho (apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2009, p.188).

1.3.3 Tipos

Na compreensão de Rodrigues (2003, p.90), as pessoas jurídicas podem ser classificadas quanto a sua estrutura, no caso das pessoas jurídicas que tem como elementos a pessoa humana e no segundo caso as que se constituem não por pessoas humanas, mas de patrimônio destinado a um fim.

No primeiro caso temos as associações e as sociedades, universitas personarum e no segundo as fundações, universitas bonorum.

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Outra classificação ainda com base no entendimento do autor é quanto a órbita de atuação da pessoa jurídica. A classificação feita na legislação é pessoa jurídica de direito público, interno ou externo e pessoa jurídica de direito privado (BRASIL, 2002).

Pode-se usar a expressão feita por Gagliano e Pamplona Filho (2009, p.201) para expressar o objetivo do estudo:

Em que pese a menção expressa a tal distinção no Código Civil brasileiro, o campo de investigação desta obra não comporta uma análise muito detalhada das pessoas jurídicas de direito público, devendo se concentrar nas pessoas jurídicas de direito privado.

Especificamente procura-se o estudo restrito às pessoas jurídicas de direito privado com finalidades mercantis ou empresariais, regidas então pelas leis comercial e empresarial.

Entretanto, em uma rápida explanação, cuida-se de deixar alistada sua classificação basilar para o enriquecimento do trabalho.

O Código Civil Brasileiro, em seu Art. 425 dispõe que “São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público” (BRASIL, 2002).

Como exemplo, se enquadra as organizações internacionais, os Estados Soberanos e a Santa Sé (GAGLIANO, 2009).

No tocante as pessoas jurídicas de direito público interno o Código Civil de 2002 no art. 41 também estatui os seus integrantes, que vêm a ser a União, os Estados, o Distrito Federal e os territórios; os municípios; as autarquias e as associações públicas e as demais entidades de caráter públicas criadas por lei (BRASIL, 2002).

O artigo 44 do Código Civil tratou de elencar as pessoas jurídicas de direito privado sobre as quais se necessita melhor análise para o êxito do presente trabalho.

Antes de tudo se faz necessário à conceituação do que vem a ser pessoa jurídica de direito privado, pois o Código Civil somente elenca, mas não conceitua. Trabalho legado aos doutrinadores e interpretes da lei.

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As pessoas jurídicas de direito privado são entidades que se originam do poder criador da vontade individual, em conformidade com o direito positivo, e se propõe realizar objetivos de natureza particular, para benefício dos próprios instituidores, ou projetadas no interesse de uma parcela determinada ou indeterminada da coletividade.

Feita a conceituação passa-se então a elencar os integrantes das pessoas jurídicas de direito privado de que trata o artigo anteriormente citado.

Primeiramente temos as associações, tratadas nos artigos 53 a 61 do CC/2002. São constituídas de grupos de pessoas humana ou jurídicas, com a peculiaridade concedida pela Novel que as distingue claramente, quando sublinha que não terão por objetivo fins econômicos, embora o tenha para aumento do seu patrimônio, não há lucro para seus associados (BRASIL, 2002).

A fundação é um ente criado pela separação de um patrimônio destinado a um objetivo, religioso, moral, cultural ou de assistência, requerido pelo instituidor que externa seu desejo que aquele patrimônio seja trabalhado para se atingir um determinado fim, que recebe da lei personalidade jurídica tornando-se capaz de figurar como sujeito de direito. Os artigos 62 a 69 do Código Civil de 2002 tratam das fundações (BRASIL, 2002).

Os partidos políticos são regidos por lei própria, a saber, a Lei n°9.096, de 19 de Setembro de 1995, onde dispõe sobre sua criação, registro, organização e funcionamento. A Resolução 23.282 de 22 de Junho de 2010, expedida pelo Tribunal Superior Eleitoral, também preceitua orientações. Em seu artigo 8° trata sobre a criação do partido político e aponta o número de pessoas necessárias para sua constituição.

Em acordo com Serejo (2006), são espécies de associações que visam o poder político. Essas associações se organizam em torno de ideais políticos e se empenham para sua concretização.

Por se tratar de uma espécie distinta de associação, é formada por pessoas naturais que se agremiam para efetivação de seus ideais. Mais esclarecedor é o conceito de Fávila Ribeiro:

O partido político é um grupo social de relevante amplitude, destinado à arregimentação coletiva, em torno de ideias e de interesses, para levar seus membros a compartilharem do poder decisório nas instâncias governativas. O partido político é uma associação de cidadãos que pretendem, mediante a ação concertada junto da opinião publico, obter o exercício e os benefícios do poder. É uma forma de agremiação de um grupo social que se propõe organizar, coordenar e instrumentar a vontade

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popular com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de governo (apud SEREJO, 2006, p.57).

As organizações religiosas da mesma forma que os partidos também são associações em sua natureza, ainda que tenham estatuto próprio (FIUZA, 2006).

As sociedades cooperativas estão previstas nos artigos 1.093 a 1.906 do Código Civil. Tem natureza de associação e é regulada pelas leis da sociedade empresária. É a coligação de duas ou mais associações que não perdem sua individualidade ou personalidade. Possuem sócios que podem ter a responsabilidade limitada ou ilimitada (FROTA, 2008; BRASIL, 2002).

As sociedades, elencadas nos artigos 981 a 1.195 do Código Civil, divide-se em empresárias e sociedades simples (BRASIL, 2002).

São também grupos de pessoas que compõem a pessoa jurídica e se distinguem pelo tipo da atividade realizada.

As sociedades empresárias ou mercantis como cita o antigo código são as que têm por objetivo o lucro através da atividade empresária econômica. Quando se entende o que vem a ser empresa, facilita a compreensão do conceito de sociedade empresária. Cabível aqui é o empréstimo das palavras de Passareli (2010, p.30), que trata sobre direito empresarial:

E justamente no art. 966 do código civil encontra-se a definição legal de quem vem a ser considerado empresário, tido ali como aquele que exerça profissionalmente uma atividade econômica de forma organizada e direcionada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Desse conceito legal de empresário pode-se retirar, então, o entendimento do conceito de empresa, que passa a ser considerada justamente a “atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”, quando exercida profissionalmente por alguém, no caso o empresário.

Nos artigos 1.039 a 1.092 do Código Civil, estão elencados os tipos de sociedades empresárias.

Elas são a sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita simples, a sociedade em comandita por ações; a sociedade limitada; sociedade anônima ou por ações (BRASIL, 2002).

Reforçando a conceituação oferecida pelo autor supracitado, competente é o comentário de Diniz (2008, p.263):

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Assim, para saber se dada sociedade é simples ou empresária, basta considerar a natureza das operações habituais: se estas tiverem por objeto o exercício de atividades econômicas organizadas para a produção ou circulação de bens ou de serviços, próprias de empresário sujeito a registro (CC, art. 982 e 967), a sociedade será empresária. E a ela se equipara a sociedade que tem por fim exercer atividade própria de empresário rural, que seja constituída de acordo com um dos tipos de sociedade empresária e que tenha requerido sua inscrição no Registro das Empresas de sua sede (CC, arts. 968 e 984).

Nesse passo, menos custosa se torna a conceituação da sociedade simples, pois já delineada através da conceituação feita. Pode se observar então o contraste entre os dois tipos de sociedades.

Valendo-se das palavras de expoente do direito empresarial:

Quando não há preponderante interesse econômico imediato que reverte aos sócios, as sociedades denominam-se „simples‟, podendo se estabelecer para tratar de bens de conteúdo patrimonial ou não. Buscam cumprir finalidades e interesses mais ligados à classe das próprias pessoas que as formam, sem uma exploração econômica dos bens, ou sem procurar extrair resultados lucrativos das atividades. São as sociedades civis propriamente ditas, como as formadas em torno de um condomínio, a engendrada para a administração de bens, para a construção de prédios de um grupo de pessoas, para o exercício de atividades que não redunda em exploração econômica (RIZZARDO, 2009, p.28).

A sociedade simples como já observada, não exerce atividade empresarial, não explora atividade econômica de natureza organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços, próprias de empresário.

O artigo 982 do Código Civil de 2002 faz distinção entre sociedade empresária e sociedade simples: “Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais” (BRASIL, 2002).

Convém tratar também sobre outro tipo de sociedade, qual sejam as sociedades não personificadas.

Também denominadas sociedades de fato, conforme se detrai do nome apresentado, é o conceito da sociedade que estão em pleno desenvolvimento de suas atividades negociais, sem, contudo terem se amoldado aos padrões legais exigidos.

Daí se entender o nome sociedade não personificada, tendo em vista que em conformidade com o artigo 982 do Código Civil de 2002, somente pelo registro da pessoa jurídica é que começa a figurar como sujeito de direito detentora de

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personalidade jurídica. Mesmo que tenham os requisitos exigidos tais como domicílio certo, nome social, título de estabelecimento, mas não tiverem feito seu competente registro com o arquivamento dos atos constitutivos, são enquadradas como sociedades personificadas, legalmente não tem personalidade jurídica (BRASIL, 2002).

Contudo, como já se comentou, é sociedade de fato. Desse modo, age na forma das sociedades personificadas, não podendo em razão disso, se desconsiderar suas ações e negociações.

Em razão disso, no exercício de suas atividades empresariais, os sócios desse tipo societário respondem ilimitadamente pelas obrigações, na modalidade solidária, como preceitua o artigo 990 do Código Civil, se sujeitando também ao regime de falência (MARTINS, 2009).

Outra questão relevante trazida pelo autor acima citado é a distinção apresentada pela doutrina entre sociedades de fato e as sociedades irregulares.

Diz que aquela não tem qualquer ato constitutivo ou documentos que se baseiam sua atuação, e esta apenas deixam de arquivar no Registro Público das Empresas Mercantis e Atividades afins.

Em análise mais apurada o autor traz entendimento mais harmônico a seguir explicitado:

Para nós, quer a sociedade tenha os atos constitutivos escritos e não arquivados, que resulte apenas de atividade comercial em comum, com ânimo societário, teremos uma sociedade de fato e não uma sociedade irregular. Esta será a sociedade que se organiza legalmente, arquiva os seus atos constitutivos no Registro Publico das Empresas Mercantis e Atividades Afins, mas posteriormente, pratica atos que desnaturam o tipo social. [...] Já a sociedade de fato não chegou a possuir personalidade jurídica, por não ter arquivado os seus documentos constitutivos no Registro Publico das Empresas Mercantis e Atividades Afins. A circunstância de terem algumas sociedades chegado a lavrar um contrato especificando objeto, capital, atribuições e responsabilidade dos sócios etc (sic). serve apenas de elemento de prova entre os sócios, nenhum reflexo tendo em relação aos terceiros que são aqueles que contratam com a sociedade. O Código Civil em vigor se coaduna com tal ponto de vista (arts. 986 e segs.) (MARTINS, 2009).

Ainda nessa esteira, justifica o autor que essa nova percepção se deu quando da incidência da teoria da aparência.

Na sociedade de fato, quando agindo na forma de sociedade legalmente constituída, estando presente a boa-fé, os que negociaram com a sociedade poderão se embasar nesta teoria para se proteger e defender seus direitos contra os

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sócios. Já no caso da sociedade irregular, não poderá alegar essa defesa tendo em vista a publicidade do Registro Publico das Empresas Mercantis e Atividades Afins (MARTINS, 2009).

Recentemente foi aprovada a Lei nº 12.441, de 11 de Julho de 2011 acrescentando o inciso VI ao artigo 44 do Código Civil vigente onde trata sobre as pessoas jurídicas de direito privado, adicionando ao rol de pessoas jurídicas a figura da EIRELI, Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, estipulando o prazo de entrada em vigor a partir de 180 dias do dia 12 de Julho de 2011, data da publicação (BRASIL, 2011).

Essa lei gera uma mudança no quadro geral das sociedades, tendo em vista que em seu texto, no artigo Art. 980-A, no § 6°, versa que caberá a essa empresa, no que couber as regras previstas para a sociedade limitada (BRASIL, 2011).

Esta modificação decorre da recepção de matéria do Direito Francês, quando o legislador francês na Lei n° 85.697 de 11 de Julho de 1985, dispôs sobre a possibilidade da constituição de sociedade pela vontade de uma só pessoa, denominando a de Empresa Unipessoal de Responsabilidade Limitada, EURL. Contudo, tal matéria já era citada na lei alemã (MARTINS, 2009).

1.3.4 Inicio e fim da existência

A existência da pessoa jurídica, em acordo com as disposições da lei, se inicia com o devido registro, como assevera o art.45 do Código Civil de 2002, “a inscrição do ato constitutivo ou do contrato social no registro competente” (BRASIL, 2002). Somente assim adquire personalidade jurídica e capacidade para atuar na esfera jurídica recebendo a proteção legal. Salienta-se isso tendo em conta a existência das pessoas jurídicas irregulares, que existem no plano de fato e não de direito.

Valida a transcrição da nota feita por Rodrigues (2003, p.91), onde realça a argumentação a favor de sua tese quanto à natureza jurídica da pessoa jurídica:

Note-se, desde logo, a distinção entre a existência no plano do direito e a existência no plano dos fatos. Se a lei declara que a existência no plano do direito se inicia com a inscrição dos estatutos no registro peculiar, é porque, naturalmente, admite que exista no campo material uma

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