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Os Direitos da Personalidade e a Pessoa Jurídica

1.4 OS DIREITOS DA PERSONALIDADE

1.4.1 Os Direitos da Personalidade e a Pessoa Jurídica

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5° instituiu que é garantido às pessoas o direito à inviolabilidade, a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, prescrevendo o também o direito de pleitearem a indenização material ou moral decorrente de lesão ou violação a qualquer desses direitos. Note que o legislador não fez distinção entre pessoa física ou jurídica, mas preceituou igualmente.

No artigo 52 do Código Civil, o legislador ocupou-se de estender a proteção dos direitos da personalidade à pessoa jurídica, se firmando em uma adequação civil constitucional, mas não se preocupou de elencá-los, usando somente o termo “no que couber” legando essa questão às inúmeras discussões doutrinárias que a muito já se acendem (FROTA, 2008).

É certo que os bens dos direitos da personalidade trazem satisfação física e moral à pessoa humana, entretanto, quando se foca a pessoa jurídica e analisa os direitos da personalidade, se vê que nem todos os direitos cabem a esse ente. Daí pergunta-se: Mas quais direitos da personalidade são aplicáveis à pessoa jurídica? São vários os juízos, cumprindo expô-los para melhor análise e posteriormente se demonstrar o entendimento sobre o qual a jurisprudência tem se firmado majoritariamente.

Se aplicam apenas alguns compatíveis com a pessoa jurídica, exclui-se, portanto, aqueles inerentes ou inseparáveis da pessoa humana tais como o direito à vida, o direito à integridade física corporal e espiritual, o direito a saúde, o direito sobre o cadáver e outros mais, decorrência da não taxatividade. Se ajustam à pessoa jurídica o direito ao nome, o direito a imagem, à honra, ao bom nome, ao crédito, ao sigilo, ao desenvolvimento de sua personalidade jurídica e também a liberdade de expressão, contudo há quem defenda a extensão de outros direitos

inerentes a personalidade humana à pessoa jurídica, com fundamento na Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça e os que atacam este entendimento, sobre qual assunto cumpre tratar no ultimo capítulo do presente trabalho (BELTRÃO, 2005).

Paulo Luiz Netto Lobo apud Frota (2008) é representante da corrente que defende que alguns direitos da personalidade são aplicáveis e pertinentes à pessoa jurídica e outros são exclusivamente inerentes à pessoa humana. Aponta o direito a reputação como o mais atingido, a lesão à imagem com a exposição indevida de suas instalações, o sigilo de correspondências que pode ser violado, daí a lesão à privacidade.

Outra corrente defende que valores da personalidade se aplicam às pessoas jurídicas, mas de maneira diversa dos relativos à pessoa humana, não admitindo a compensação por dano moral, propriamente dito. Vale lembrar o entendimento de representante desta corrente, Nélson Rosenvald:

O Superior Tribunal de Justiça defende a extensão da indenização por danos morais à pessoa jurídica (Súmula 227). Em princípio, soaria inusitada tal possibilidade, por não se cogitar sentimentos íntimos, como a dor e o sofrimento, estarem ao alcance de uma ficção, que é a pessoa jurídica. No entanto, se toda pessoa física possui uma honra subjetiva, que é a auto-estima, passível de sofrer injúria, reconhece-se ter a pessoa jurídica honra objetiva, lastreada em sua prática de condutas capazes de atingir o bom nome da empresa, o que a doutrina costuma nomear como abalo de crédito. Outrossim, o princípio legislador constituinte ressalvou serem invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, sem operar qualquer distinção entre pessoas físicas e jurídica (art.5º, X, da CF). Aliás, o art 52 do Código Civil adverte que se aplica às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. Parece-nos, contudo, que esta visão não merece prosperar. Sendo o dano moral uma lesão à dignidade, esta é atributo exclusivo do ser humano. Quando se cogita da ofensa ao nome da pessoa jurídica, é inaceitável haver qualquer referência a uma ofensa à sua „dignidade‟ em pretensa similitude ao que ocorre com a ofensa ao nome do ser humano. O nome de cada pessoa é o qualificativo primeiro de sua personalidade, a sua identidade genética e o modo de afirmação dos demais direitos da personalidade. Em contrapartida, o nome comercial é um atributo econômico, passível de cessão em negócio jurídico patrimonial. Não se pode, confundir a personificação das pessoas jurídicas – pela concessão de capacidade de direito e de fato pelo ordenamento para aquisição de direitos patrimoniais – com a personalidade, que é um valor próprio do ser humano, que antecede mesmo ao direito. As lesões atinentes à reputação da pessoa jurídica, face à perda de sua credibilidade no mercado, repercutem em sua atividade econômica (quando não atingem os sócios). Poder-se-ia, mesmo, cogitar de um dano institucional contra a pessoa jurídica, mas não do dano moral propriamente dito (apud FROTA, 2008, p.247).

Corroborando o entendimento desta corrente, foi firmado entendimento no Enunciado 274 da IV Jornada CJF que os direitos da personalidade são inerentes à

pessoa humana, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos. Em igual entendimento o Enunciado 286 da IV Jornada de Direito Civil.

O reconhecimento dado à pessoa jurídica, como sujeito de direito, lega a esse ente direitos inerentes a sua situação legal, ou como no entendimento dessa corrente, uma capacidade jurídica geral, o que não se confunde entretanto, com personalidade e capacidade da pessoa humana. Resume claramente o entendimento desta corrente o argumento apresentado:

Assim, podem as pessoas jurídicas, exercitar direitos potestativos e direitos subjetivos, seja de índole patrimonial ou extrapatrimonial (inclusive os direitos da personalidade, no que couber), uma vez que dispõem de atributos da personalidade como o nome, o domicílio, a nacionalidade, a honra, a reputação, etc.[...] (FARIAS; ROSENVALD, 2010, p.351).

Independente da adoção da corrente doutrinária, não se nega a extensão das garantias que o Código Civil legou as pessoas jurídicas. Certo é que os direitos da personalidade são atributos da pessoa física, não obstante, como a pessoa jurídica é uma criação do direito para a realização dos objetivos da pessoa física, lhes assegura a proteção de alguns valores, que no cotidiano são afetados, gerando prejuízos inestimáveis, não podendo o judiciário deixar de dar resposta satisfatória quando da ocorrência de lesão a um direito, tal como preceitua o artigo 5°, XXXV da Carta Magna Republicana brasileira (BRASIL, 1988).

A doutrina majoritária já pacificou a matéria sobre a possibilidade da compensação por dano moral à pessoa jurídica, por atos que venham a lesar a sua reputação, mesmo que pessoa jurídica com fins lucrativos ou não. Divulgação de notícias que atentam contra o nome da pessoa jurídica ou outro elemento identificador, mal uso de marca, produtos, uso abusivo de direitos autorais, violação de segredo, know how e tantas outras situações (FROTA, 2008).

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