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2 DANO MORAL

2.3 DANO MORAL REFLEXO OU DANO MORAL POR RICOCHETE

Vencida a fase de explanação dos fundamentos e conceituação do dano moral passa-se a analisar o dano moral reflexo ou indireto, ou como também é chamado, dano por ricochete.

Como o próprio nome já deixa claro, ocorre quando em alguma situação o ato lesivo ocasionador do dano é direcionado a uma pessoa, mas este extrapola seu objetivo gerando também efeitos prejudiciais sobre outrem. O dano reflete para outra pessoa que também é lesada, o que no caso do dano moral será uma lesão a algum

dos direitos da personalidade. A pessoa que recebe o reflexo do dano se trata de pessoa próxima da vítima que sofre lesão indireta. Sendo constatado que o dano realmente refletiu gerando dano, há de se estabelecer a reparação civil (GAGLIANO, PAMPLONA FILHO, 2011).

A jurisprudência brasileira tem se orientado no sentido da realidade do dano reflexo. De fato há casos em que salta aos olhos a ocorrência da lesão moral sofrida por pessoas próximas a vítima. A perda de um ente querido, um bem de alta estima, gera efeitos maléficos a integridade psicofísica e até consequências materiais. Frota (2008, p. 30) também corrobora este entendimento:

A titulo de exemplo, um pai oferece um automóvel de presente ao filho quando este completa 18 anos. No primeiro passeio terceiros, de forma injusta, abalroam o veículo, a provocar a morte do adolescente. Com efeito, o dano moral ao pai caracterizou-se com a morte do adolescente, pois deteve a dignidade lesada, no que toca à integridade psicofísica. Dessa maneira, a compensação por dano moral é imperativa e independe da lesão material, que pode estar ao lado da citada compensação

O centro das discussões doutrinárias é a legitimidade para pleitear a ação de indenização e a necessidade de comprovação ou não da dependência econômica. Recentes decisões trataram sobre o assunto e contribuíram para firmar o entendimento na jurisprudência. Ressalta-se que as doutrinas alemã e francesa admitem o dano moral reflexo, "Reflexschade ou préjudice d´affection”. O Superior Tribunal de Justiça julgou recurso de um caso em que os pais ajuizaram pedido de danos morais por terem perdido sua filha em um atropelamento em Belo Horizonte, Minas Gerais. Em sede de recurso o motorista questionou a legitimidade dos pais em pleitear a compensação por danos morais, por acidente sofrido por sua filha. No caso em questão, o motorista não respeitou a preferencial, vindo a ser atingido por outro veículo, sendo arrematado contra a garota que estava transitando na calçada. Foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais ao pagamento de danos materiais e morais. Em resposta ao recurso onde questionava a legitimidade dos pais, proferiu a relatora ministra Nancy Andrighi:

Quanto à legitimidade dos pais para propor a ação, a ministra considerou que “são perfeitamente plausíveis situações nas quais o dano moral sofrido pela vítima principal do ato lesivo atinja, por via reflexa, terceiros, como seus familiares diretos, por lhes provocarem sentimento de dor, impotência e instabilidade emocional.” Para a ministra, trata-se de danos morais reflexos. Embora o ato tenha sido praticado diretamente

contra determinada pessoa, seus efeitos acabam por atingir, indiretamente, a integridade moral de terceiros. “É o chamado dano moral por ricochete ou préjudice d‟affection, cuja reparação constitui direito personalíssimo e autônomo dos referidos autores”, completou. (BRASIL, STJ, 2011).

Complementando sua explanação, a Ministra comentou que pode ocorrer a possibilidade de compensação por danos morais reflexos, mesmo sem a comprovação da dependência econômica entre os lesados. No julgamento a relatora ainda prosseguiu se valendo das palavras de Caio Mario da Silva Pereira, onde professa que mesmo não se tratando de dano direto, pode demonstrar que sofreu sequelas, que o dano o atingiu, adquirindo com isso legitimidade para pleitear indenização por danos morais com exclusividade, cumulativamente com a pessoa que foi ofendida diretamente ou como assistente litisconsorcial (BRASIL, STJ, 2010). Em seu estudo sobre responsabilidade Cavalieri Filho (2007) indaga se haveria então limites para reparação por dano moral. Qualquer um que alegasse ter sofrido um dano moral indireto seria legítimo para pleitear sua compensação? Faz importante recomendação aos julgadores que avaliem com cautela cada decisão, tendo em vista que em uma determinada situação, um parente próximo pode se sentir muito feliz pelo dano sofrido enquanto um amigo poderia sofrer muito mais.

Na oportunidade, o autor elogia o Código Civil Português, no tocante a regra expressa quanto à indenização por danos morais decorrente da morte, onde elenca os titulares em um escalonamento de seus familiares e ainda faz importante citação que nos revela o entendimento jurisprudencial do acordão unânime da 4ª Turma do STJ, no REsp. 160.125/DF, do rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira:

Responsabilidade civil. Dano moral. Legitimidade e interesse dos irmãos da vítima. Ausência de dependência econômica. Irrelevância. A indenização por dano moral tem natureza extrapatrimonial e origem, em caso de morte, na dor, no sofrimento e no trauma dos familiares próximos das vítimas. Irrelevante, assim, que os autores do pedido não se dependessem economicamente da vítima. Os irmãos possuem legitimidade para postular reparação por dano moral decorrente da morte da irmã, cabendo apenas a demonstração de que vieram a sofrer intimamente com o trágico acontecimento, presumindo-se esse dano quando se tratar de menores de tenra idade, que viviam sob o mesmo teto (apud CAVALIERI FILHO, 2007, p.84).

Vê-se então a evolução do entendimento jurisprudencial que, a pouco não admitia a compensação por dano moral e agora já se pacifica quanto à necessidade de se tutelar também o interesse de terceiros ofendidos. Fala-se até de um novo

efeito do dano, qual seja o dano social, apontado por Antônio Junqueira de Azevedo, que segundo a tese, se configura quando da lesão à sociedade, o rebaixamento do seu patrimônio moral, com destaque para a segurança, sendo matéria para análise em outro estudo. Cumpre ressaltar que há jurisprudência que aplaude essa concepção, vide a decisão do TJ/RS, no Recurso Cível 71001281054, DJ 18/07/2007 (FROTA, 2008).

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