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Educação e participação social na gestão de recursos hídricos: proposta metodológica para práticas de conservação de nascentes

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NACIONAL EM GESTÃO E REGULAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS – PROFÁGUA

MARLY DE SOUZA GONÇALVES

EDUCAÇÃO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GESTÃO DE

RECURSOS HÍDRICOS: Proposta metodológica para práticas de

conservação de nascentes

CAMPO MOURÃO 2020

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MARLY DE SOUZA GONÇALVES

EDUCAÇÃO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GESTÃO DE

RECURSOS HÍDRICOS: Proposta metodológica para práticas de

conservação de nascentes

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos em cumprimento parcial aos requisitos para obtenção do título de Mestre em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos, área de concentração em Regulação e Governança de Recursos Hídricos.

Orientadora: Prof.ª. Drª. Maristela Denise

Moresco Mezzomo

Coorientadora: Prof.ª. Drª. Morgana Suszek

Gonçalves CAMPO MOURÃO 2020

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Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Câmpus Campo Mourão

Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos

TERMO DE APROVAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

MARLY DE SOUZA GONÇALVES

O Trabalho de Conclusão de Curso defendido em sessão pública no dia 13 de julho de 2020 foi julgado para obtenção do título de Mestre em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos, área de concentração em Regulação e Governança de Recursos Hídricos, pela banca composta pelos examinadores abaixo assinados, e aprovado em sua forma final pelo Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos.

______________________________________ Prof. Dr. Jefferson de Queiroz Crispim – UNESPAR

______________________________________ Prof. Dr. Eudes José Arantes – UTFPR

______________________________________

Prof.ª Drª Maristela Denise M. Mezzomo – UTFPR – Orientadora

______________________________________

Prof.ª. Drª. Morgana Suszek Gonçalves – UTFPR– Coorientadora

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Dedicatória: Dedico este trabalho a minha família: meu esposo Waldecy, minhas filhas Rhayanna e Thays, meus incentivadores, sempre estiveram comigo e cederam momentos preciosos de estarmos juntos, para que eu pudesse desenvolver este trabalho.

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Agradecimentos

Primeiramente agradeço a Deus por permitir e me dar forças para enfrentar essa jornada. Tive que sair a minha zona de conforto e reaprender.

A minha querida família: Meu querido esposo sempre acreditando, apoiando e ajudando em meus projetos, mesmo dizendo “você não precisa disso”.

Minha mãe que se privou da minha companhia em detrimento aos meus estudos, agradeço-a imensamente por entender isso.

E a minhas amadas filhas Rhayanna e Thays que me incentivaram e acreditaram que eu seria capaz quando eu decidi fazer a inscrição e por fim, me auxiliaram por diversas vezes, elas são minha luz neste mundo.

Ao meu querido colega de trabalho, Márcio. Foi ele que me inspirou quando o procurei para saber das escolas do Campo e comentou comigo sobre as nascentes e me orientou a procurar o Prof. Dr. Jefferson Crispim.

As minhas queridas amigas, não vou nominar porque são várias, sempre estiveram comigo e me apoiaram e acreditaram que eu conseguiria.

Aos meus colegas do curso, que pessoas maravilhosas. Quando adentrei àquela sala de aula, me senti “fora do ninho”, mas me acolheram e cada um se mostrou especial, no fim, estávamos todos “juntos e misturados”, foram momentos ímpar na minha vida, isso vou levar para sempre.

Agradeço imensamente ao Colégio Estadual do Campo Jaelson Biácio do distrito de Piquirivaí na pessoa da Diretora Marli, que com o apoio que me deram foi possível executar parte do projeto.

Tenho um agradecimento especial para minhas Orientadoras. Sou grata, muito grata, por toda a paciência da Prof. Dra. Maristela, que esteve comigo desde a primeira linha escrita no projeto, me auxiliou, me inspirou, me encorajou e por fim delineamos a pesquisa. Confesso, não foi fácil, mas conseguimos e deu resultado. E a Prof.ª Dra. Morgana que também esteve comigo desde o início, me auxiliando, também no esboço e concreção do projeto que teve o produto final a Cartilha foi ela que fez a diagramação desde a capa. Só posso agradecer imensamente, a essas duas parceiras que foram mais que minhas orientadoras.

Não podia deixar também de deixar um agradecimento especial ao Prof. Dr. Jefferson Crispim, conheço-o de longa data, desde a minha graduação e esteve presente na minha carreira acadêmica, se mostrou pronto a me ajudar quando o procurei.

Enfim, agradeço de modo especial também a todos os professores do curso, cada um contribuiu imensamente para o meu crescimento. Pessoas incríveis com alto grau de graduação que me trataram com paciência e compreensão.

Só posso dizer: GRATIDÃO a todos, que direta ou indiretamente estiveram comigo, e posso dizer que cresci muito e cada um à sua maneira, contribuíram para isso.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Nível Superior – Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Agradecemos também ao Programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos - ProfÁgua, Projeto CAPES/ANA AUXPENº.2717/2015, e à Universidade Tecnológica Federal do Paraná–UTFPR pelo apoio recebido.

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“Tudo posso naquele que me fortalece”

Filipenses 4:13

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RESUMO

GONÇALVES, Marly de Souza. EDUCAÇÃO e participação social na gestão de

recursos hídricos: proposta metodológica para práticas de conservação de

nascentes. 2020. 82 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Mestrado) – Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Campo Mourão, 2020.

As nascentes estão expostas a vários riscos e impactos ambientais, os quais envolvem, principalmente, o tipo de uso, ocupação e o manejo do solo no seu entorno. Entre os principais riscos e impactos estão o desmatamento da Área de Preservação Permanente (APP), a erosão e a contaminação do solo e da água por agrotóxicos, o assoreamento, e, por conseguinte, a destruição das nascentes. Considerando estas ameaças, este estudo teve como objetivo elaborar uma proposta metodológica para levantamento de riscos e problemas ambientais em nascentes. Para tanto, utilizou-se de pesquisa bibliográfica para elencar os principais riscos e/ou problemas e as principais técnicas de proteção e recuperação. Após esta pesquisa, foi elaborada uma Cartilha, a qual se constitui como o produto deste trabalho. Esta cartilha tem como objetivo auxiliar usuários (agricultores, técnicos, professores e alunos, entre outros) na identificação dos riscos e impactos in loco. Como forma para aplicação, foi feita a apresentação da mesma junto aos alunos de uma Escola do Campo no distrito de Piquirivaí, município de Campo Mourão-PR. Na visita a uma nascente da comunidade, os alunos fizeram observações tendo a cartilha como referência, e conseguiram definir os riscos e impactos no local. Espera-se que a cartilha possa contribuir na divulgação do conhecimento sobre a necessidade de conservação e proteção das nascentes, com aplicação das técnicas por agricultores e técnicos que atuam no meio rural e também para alunos de escolas do campo como ferramenta de Educação Ambiental.

Palavras-chave: Riscos. Impactos ambientais. Conservação. Técnicas. Educação

Ambiental.

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ABSTRACT

GONÇALVES, Marly de Souza. EDUCATION and social participation in water

resource management: methodological proposal for spring conservation practices.

2020. 82 f. Dissertation (Professional Master in National Network in Management and Regulation of Hydric Resources). Federal Tecnological University of Paraná, Campo Mourão, 2020.

The springs are exposed to various risks and environmental impacts, which mainly involve the type of use, occupation, and soil management in their surroundings. Among the main risks and impacts includes the deforestation of the Permanent Preservation Area (PPA), erosion and contamination of soil and water by pesticides, the silting up and therefore the extinction of springs. Considering these threats, this study aimed to develop a methodological proposal for the survey of risks and environmental problems in springs. To this end, a literature review was conducted to assess the main risks and/or problems along with the main techniques for the protection and recuperation of springs. After this research, a guidebook was prepared, which constitutes the final product of this work. The guidebook aims to assist users (farmers, technicians, teachers, students, among others) in identifying risks and impaction on site. As a way for application, it was presented to the students of a Countryside School in the district of Piquirivaí, municipality of Campo Mourão – PR. During the visit to the community spring, the students made observations using the guidebook as a reference and they were able to define the risks and impacts on site. It’s expected that the guidebook can contribute to knowledge dissemination about the need for conservation and protection of springs, with the application of techniques by farmers and technicians working in rural areas and also for students from rural schools as an environmental education objective.

Keywords: Risks. Environmental Impacts. Conservation. Techniques. Environmental Education. .

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema de afloramento de nascente ... 22

Figura 2 – Exemplo de erosão linear em sulcos ... 33

Figura 3 – Exemplo de erosão linear em sulcos, com destaque para quantidade de solo superficial carregado vertente abaixo ... 33

Figuras 4a e 4b– Exemplos de erosão linear em ravina ... 34

Figura 5 – Exemplo de Voçoroca ... 35

Figuras 6a e 6b – Exemplo de compactação do solo... 36

Figura 7 – Exemplo de área degradada com falta de APP... 37

Figura 8 – Exemplo de manejo incorreto, com deriva... 40

Figura 9 – Exemplo de manejo incorreto com deriva técnica pulverização aérea em áreas próximas de APP... 40

Figura 10 – Exemplo de coloração e aparência da água... 41

Figura 11 – Vala de esgoto sanitário... 42

Figura 12 – Exemplo de reflorestamento no entorno da nascente... 44

Figura 13 – Esquema de proteção de nascentes com a técnica solo-cimento... 45

Figura 14 – Terraceamento em nível...47

Figuras 15a e 15b – Exemplo de construção de terraços com arado...47

Figura 16 – Exemplo de curvas de nível...48

Figura 17 – Exemplo de bacias de infiltração em estradas rurais...49

Figura 18 – Exemplo de bacias de infiltração nas margens de uma estrada rural.. 49

Figura 19 – Exemplo de técnica de plantio direto ... 50

Figura 20 – Exemplo de palhada para plantio direto... 51

Figura 21 – Exemplo de rotação de cultura... 52

Figura 22 – Exemplo de técnica adubação verde... 54

Figura 23a – Exemplo de esquema BET... 55

Figura 23b – Exemplo de esquema BET... 55

Figura 24 – Área de Estudo: Bacia Hidrográfica do rio do Campo – Manancial de abastecimento público da cidade de Campo Mourão-Paraná... 57

Figura 25 – Reservatórios para armazenamento da água após receber o tratamento com cloração e posterior distribuição aos moradores locais... 58

Figura 26 – Uso e ocupação do solo na Bacia do rio do Campo... 59

Figura 27 – Apresentação da Cartilha com os procedimentos metodológicos...61

Figura 28 – Bacias de contenção nas laterais da trilha que leva a nascente...62

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Figura 30 – Agricultura mecanizada praticada no entorno da nascente... 62

Figura 31 – Pastagem praticada no entorno da nascente... 62

Figura 32 – Água captada do lençol superficial... 63

Figura 33 – Reservatório de concreto para armazenamento da água coletada da nascente... 63

Figura 34 – Caixa para tratamento da água onde é feita a cloração para desinfecção da água... 64

Figura 35a – Bomba d’água do poço tubular ... 64

Figura 35b – Bomba d’água ligada do poço tubular ... 64

Figura 36 – Mata ciliar em processo de formação... 65

Figura 37 – Medição da APP... 65

Figuras 38a e 38b – Erosão laminar e linear junto a nascente... 66

Figura 39 – Ausência de construção de terraços... 67

Figura 40 – Ausência de palhada... 67

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Aspectos para levantamento de riscos e/ou impactos ambientais em nascentes...31

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ... 14 2 OBJETIVOS ... 17 2.1 Geral ... 17 2.2 Específicos ... 17 3 JUSTIFICATIVA ... 18 4 REVISÃO DE LITERATURA ... 20 5 MATERIAIS E MÉTODOS...29 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO...31

6.1 Tipos de Riscos e Problemas Ambientais ... 32

6.1.1 Erosão hídrica ... 32

6.1.2 Compactação do Solo ... 35

6.1.3 Degradação da Área de Preservação Permanente (APP) ... 37

6.1.4 Risco de contaminação por agrotóxico ... 38

6.1.5 Aparência da água ... 41

6.1.6 Risco de contaminação por fossa negra ... 42

6.2 Ações e Práticas Conservacionistas ... 43

6.2.1 Recuperação da cobertura vegetal (APP) em áreas degradadas...43

6.2.2 Proteção de nascentes com a técnica de solo-cimento... 45

6.2.3 Terraceamento ... 45 6.2.4 Curvas de nível ... 47 6.2.5 Bacias de infiltração ... 48 6.2.6 Plantio direto ... 49 6.2.7 Rotação de cultura ... 51 6.2.8 Adubação verde ... 52 6.2.9 Saneamento rural ... 54 7 APLICAÇÃO DA CARTILHA ... 57 8 CONCLUSÃO...69 9 PRODUTO ... 71 REFERÊNCIAS ... 72

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1 INTRODUÇÃO

A água é um direito humano, assim como para as demais espécies, porém, nas últimas décadas, a disponibilidade de água doce tem se tornado cada vez mais escassa em algumas regiões do mundo. Conforme relata Barlow (2015), embora a água ainda esteja no planeta em algum lugar, muitas comunidades estão ficando sem água limpa para os seus diversos usos. O modo atual de produção tem levado a um intensivo consumo de água, o que, em muitas situações, têm gerado a poluição e contaminação dos recursos hídricos em escala alarmante.

A Lei Federal 9.433/97, conhecida como Lei das Águas, é um dos instrumentos de suma importância para o gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil. Foi elaborada com o objetivo de ter uma gestão democrática, moderna e participativa, primando pela descentralização e promovendo a participação social, com a preocupação de integrar os recursos hídricos ao meio ambiente numa perspectiva sustentável, ecológica e equilibrada. A Lei permitiu o reconhecimento da água como um bem público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico, devendo ter um gerenciamento que possa proporcionar usos múltiplos e sustentável, integrando a sociedade civil, os usuários e o governo. Com a instauração da Lei, outros mecanismos de controle foram criados como o Plano Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH) e Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SINGREH). Reconhecendo que a água é fundamental a vida de todas as espécies, incluída numa gestão com estrutura a nível ambiental local e global.

Incluída neste contexto da Lei das Águas, já havia uma preocupação mundial com o futuro da água do planeta, onde órgãos governamentais e não governamentais buscassem soluções mediante projetos e ações para resolver inúmeros problemas relacionados a sua proteção e conservação. O primeiro movimento está relacionado com a Conferência de Estocolmo em 1972, convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Conforme destaca Lago (2006), esta conferência teve como um dos seus princípios a proteção integral do meio ambiente, incluindo a água em qualidade e quantidade, salvaguardados em benefício das gerações atuais e das futuras, por meio de cuidadoso planejamento ou administração.

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A Conferência de Estocolmo sinalizou o início da preocupação mundial com o meio ambiente por parte de eventos organizados pela ONU. Um dos documentos que marcaram este momento foi o Relatório Brundtland, publicado em 1987 denominado de “Nosso Futuro Comum” que traz o conceito de desenvolvimento sustentável para o discurso público. Após isso, novos encontros foram promovidos pela ONU, como a Conferência Rio-92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, resultando na elaboração da Agenda 21 e em Johannesburgo em 2002, a qual ficou denominada como “Cúpula do Desenvolvimento Sustentável” ou Rio+10, com o objetivo de avaliar as propostas estabelecidas na Rio-92. Em 2012 realizou-se a Conferência Rio+20 denominada de “Cúpula dos Povos” com o objetivo de reafirmar o acordo sobre Desenvolvimento Sustentável, deste encontro oito objetivos foram definidos. O último encontro da Cúpula do Desenvolvimento Sustentável ocorreu em 2015 em New York com o tema “Transformando o Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” na qual foi firmado o compromisso de cumprimento de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (PNUD, 2015).

Dentre os objetivos firmado em 2015, o ODS 6 descreve que se deve: Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos (PNUD, 2015).

A premissa de sustentabilidade se faz, pois, há a necessidade de proteção e conservação das águas, por ser um recurso finito, fundamental e imprescindível à vida. Para isso, deve ter condições físicas e químicas condizentes para consumo humano e demais espécies existentes nos diversos ecossistemas (BRAGA et al., 2005). Rebouças et al. (2002), descreve que além da manutenção da vida, a água é essencial às atividades industriais e agrícolas.

Neste sentido Hass (2010), destaca que são as águas das nascentes a principal fonte de abastecimento para o consumo dos seres vivos, pois são elas que fornecem água para os córregos e rios. Para que as nascentes cumpram seu papel, é necessário cuidar do seu entorno, verificando os riscos as quais estão submetidas.

Embora o impacto das atividades humanas não possa ser avaliado sem incluir o papel da água em todas suas fases, ainda se tem a falta de conhecimento quantitativo sobre os impactos que podem acarretar ao recurso (CHAHINE, 1992). A água tem e sempre terá influência sobre o controle da evolução da Terra, devido

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ao seu movimento em ciclo, modificando seu estado, o qual é chamado de ciclo hidrológico. O movimento da água dentro do ciclo hidrológico compreende o maior fluxo de qualquer material na biosfera.

Sendo as nascentes componentes do ciclo hidrológico, são também conhecidas por cabeceiras ou fontes, e acontecem em locais onde emergem os olhos d’água, as quais, são as descargas naturais dos aquíferos superficiais que dão origem ou alimentam os cursos d’água (GUERRA, 1995).

Torna-se necessário verificar, numa perspectiva geoambiental e de forma pontual, as condições atuais em que se encontram as nascentes e a que tipo de riscos e impactos ambientais estão submetidas como, erosão hídrica, desmatamento da Área de Preservação Permanente (APP), contaminação por uso indiscriminado de agrotóxicos, entre outros.

Com a expansão da agricultura e pecuária em diversas regiões do Brasil nas últimas décadas, houve desmatamento acelerado sem a preocupação de preservar o ecossistema em seu entorno. As nascentes, que deveriam ser protegidas ficaram expostas em muitas áreas e sofrem riscos de degradação, sendo que em muitos locais, foram soterradas para virar área de pastagem ou agrícola, deixando de existir e abastecer os canais superficiais (SCHÄFFER, 2011).

Assim, tendo em vista a preocupação global em relação a água, este trabalho teve como principal objetivo, desenvolver uma proposta metodológica para o levantamento de riscos e problemas ambientais em nascentes. A proposta foi apresentada em formato de uma cartilha, com indicação de aspectos a serem verificados in loco em relação aos riscos e problemas, além de técnicas adequadas para cada situação apontada. A cartilha foi apresentada e aplicada em uma escola do campo do distrito de Piquirivaí, no município de Campo Mourão-PR.

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2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Elaborar uma proposta metodológica para levantamento de riscos e problemas ambientais em nascentes.

2.2 Específicos

 Identificar aspectos referentes aos riscos e problemas ambientais em nascentes;

 Determinar metodologias de observação para cada aspecto;

 Definir ações e/ou técnicas de proteção e/ou recuperação para cada aspecto;

 Elaborar uma cartilha com a proposta de levantamento de riscos e problemas ambientais, além de ações e/ou técnicas adequadas;

 Apresentar e aplicar a cartilha em uma Escola do Campo, com finalidade de disseminar o conhecimento.

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3 JUSTIFICATIVA

Diante da fragilidade que se encontram os recursos hídricos no Brasil, o programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos - ProfÁgua oferece a possibilidade de formar profissionais capacitados com o intuito de observar e atuar de forma completa e global, mediante o modelo institucional proposto na Lei das Águas.

O curso traz duas linhas de pesquisas que visam desenvolver novas metodologias para a gestão dos recursos hídricos. A linha de pesquisa deste trabalho está pautada no Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos, a qual tem por objetivo desenvolver novas metodologias e também na proposição de ajustes e novos modelos para que haja a gestão descentralizada e participativa das águas, onde se considera entre outros, a Educação para Gestão de Recursos Hídricos.

A proposta de elaborar uma metodologia para proteção e conservação de nascentes, a partir de modelos existentes e descritos na literatura, vem ao encontro da proposta da linha de pesquisa, que por meio da participação social e atuação dos agentes envolvidos, se tenha o conhecimento necessário para identificar os riscos e impactos a que estão submetidas.

Isto posto, esta proposta metodológica teve como o objetivo disseminar conhecimentos básicos sobre a verificação de elementos positivos e negativos nas áreas adjacentes às nascentes, de forma a gerar subsídios para preservação ou mesmo sua recuperação.

Para que o material atinja um maior número de pessoas, tanto moradores da zona rural quanto técnicos da área, o documento foi redigido em uma linguagem simplificada, com o propósito de ser utilizada na Educação Ambiental em Escolas do Campo, ou mesmo outra categoria de usuários, a fim de incentivar a conscientização e preservação de recursos hídricos com práticas ambientais sustentáveis aplicáveis a sua realidade.

A elaboração da cartilha, vem de encontro com as três dimensões definidas pela Agenda 2030 em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS): Sociais, Econômicos e Ambientais, sendo que o ODS 6 em sua premissa visa “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”. Além disso, o escopo do ODS 4 é Educação de Qualidade que, entre outras metas, propõe garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidade

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necessários para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, por meio da educação e estilo de vida sustentáveis (ONU, 2015).

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4 REVISÃO DE LITERATURA

O planeta Terra tem dois terços de sua superfície ocupados por água sendo, aproximadamente, 360 milhões de km2 de um total de 510 milhões km2 de território (ORSINI, 2008). Corson (2002), relata que 97,4% dessa extensão é constituída de água salgada presente nos oceanos, 2,6% de água doce, sendo que destes, 0,59% ocorre em lençóis de água e 0,007% em lagos. Orsini (2008), destaca que a água doce acessível é utilizada de diversos modos: para consumo; abastecimento doméstico e industrial; agricultura e irrigação; recreação e lazer; geração de energia; diluição de rejeitos; preservação da fauna e flora; entre outros.

O Brasil, em relação aos demais países do mundo, é favorecido enquanto a disponibilidade de recursos hídricos, tendo uma vazão média anual dos rios em torno de 180 mil m3/s, correspondendo 12% da disponibilidade mundial de recursos hídricos (ANA, 2007). A disponibilidade de água no Brasil depende em grande parte do ciclo anual das chuvas fazendo com que as vazões dos rios variem entre as bacias hidrográficas (ORSINI, 2008). Vale ressaltar, para tanto, que a distribuição deste recurso no país não é equilibrada. Em muitas das regiões do Brasil já há escassez hídrica e conflitos para o uso da água. A região Norte, por exemplo, concentra aproximadamente 80% da quantidade de água potável disponível, mas representa apenas 5% do total da população brasileira. Já as regiões próximas ao Oceano Atlântico, possuem mais de 45% da população, porém, menos de 3% dos recursos hídricos do país (ANA, 2019).

A escassez de água já afeta mais de 40% da população mundial, conforme dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2015). Esse número deverá subir ainda mais com as mudanças climáticas e da gestão inadequada dos recursos naturais. O relatório cita ainda, que é possível trilhar um novo caminho que assegure a água, a disponibilidade e a gestão sustentável por meio da proteção às nascentes, rios e bacias e compartilhamento de tecnologias de tratamento de água. Há a necessidade da viabilização entre um processo sustentável que possibilite o desenvolvimento da produção agrícola, paralelo à preservação do meio ambiente, devendo ser aplicada ações de políticas públicas que viabilizem o desenvolvimento econômico e a manutenção dos ecossistemas naturais.

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Segundo a Agência Nacional de Águas – ANA (2016), as mudanças no ciclo hidrológico ocorrem em função das mudanças nos padrões da precipitação, e podem modificar significativamente a disponibilidade e a distribuição temporal da vazão nos rios. Podendo ser somadas aos impactos esperados no regime hidrológico, visto que as mudanças climáticas ao causarem efeitos sobre as águas superficiais, causará efeitos também nas taxas de recarga de águas subterrâneas, ou seja, os recursos de águas subterrâneas renováveis e os níveis dos aquíferos.

A ANA tem buscado soluções sustentáveis, através de estudos e proposições de ações para melhoria da gestão de recursos hídricos, que aliado ao desenvolvimento econômico, também se tenha a preocupação de proteger as águas e seus usos múltiplos conforme determina a Lei 9.433/97, a qual estabelece a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). Esta lei define, como um de seus fundamentos, a bacia hidrográfica como unidade territorial para implementação de ações da PNRH e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).

A bacia hidrográfica é um sistema composto por inter-relações de subsistemas social, econômico, demográfico e biofísico, podendo ser definida como um espaço caracterizado por um sistema de águas que fluem a um mesmo rio, lago ou mar, cujas modificações são devidas à ação ou interação dos subsistemas sociais e econômicos (SOUZA et al., 2012). Bem como, a bacia hidrográfica ainda se constitui como um ambiente apropriado para planificação de medidas a corrigir, caracterizar, diagnosticar e valorar os impactos ambientais gerados pelo uso e manejo dos recursos naturais, sendo a nascente constituinte fundamental na bacia hidrográfica estão sujeitas a degradação e contaminação (SILVA et al., 2006).

Conforme CONAMA (2002) com a Resolução Nº 303/2002, Art. 2º § II, nascente ou olho d’água: local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente a água subterrânea (Figura 1).

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Figura 1 – Esquema de afloramento de nascente

Fonte: Davide et al. (2004).

A área de recarga de uma nascente pode englobar todos os sistemas envolvidos no ciclo hidrológico (SILVA, 2009). As nascentes são extremamente relevantes do ponto de vista ambiental, dado que a maioria pode fornecer água durante o ano todo, mesmo em períodos de estiagem. Além de serem responsáveis pela origem de cursos de água (CASTRO et al., 2001).

Calheiros et al. (2009, p. 4) também consideram que nascente ideal é àquela que fornece água de forma abundante e de boa qualidade. Além da quantidade de água produzida, deve ter boa distribuição quanto a vazão ao longo do ano. Cita também, que a bacia hidrográfica não deve funcionar apenas como reservatório impermeável, a água recebida pela precipitação pluvial deve ser absorvida por meio do solo e armazenada no lençol subterrâneo, e deve cedê-la aos poucos para as nascentes. Dessa forma, manterá a vazão em períodos de seca e garantirá o fornecimento para uso econômico e social nas atividades humanas, como irrigação, abastecimento público, dessedentação de animais e também para a manutenção do regime hídrico do corpo d’água principal, como forma de garantir a disponibilidade de água em todos os períodos do ano.

Conforme descrevem Valente e Gomes (2011, p. 111), as nascentes provenientes de lençóis artesianos, são aquelas de camadas impermeáveis e podem ser abastecidas em locais diferentes de seus afloramentos. Essas nascentes geralmente ocorrem em regiões montanhosas com fortes declives. Afirmam que não é possível classificar as nascentes em um único enquadramento devido a sua vazão. Sendo que podem ser perenes, intermitentes e temporárias ou

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efêmeras. As nascentes perenes se manifestam durante o ano todo, com variação de vazão ao longo do ano, enquanto que as nascentes intermitentes fluem apenas durante as estações chuvosas, e perdem a vazão durante os períodos sem chuvas. Destacam ainda, que a maioria dos córregos brasileiros tem sua origem em nascentes de contato ou de depressão, ou seja, são provenientes de lençóis freáticos.

Os processos hidrológicos têm impactos significativos por meio do escoamento superficial podendo ter alterações relevantes nos corpos hídricos, indicando que à medida que há precipitação, ela se dispersa de várias formas, uma parte sofre interceptação pela vegetação e a outra se infiltra no solo. A parte que infiltra no solo é dividida, uma fica retida na base do solo, sendo um reservatório de água disponível para as plantas e outra irá drenar abaixo da zona das raízes, constituindo-se na recarga dos aquíferos freáticos e artesianos (TUCCI et al., 1997).

Quando as nascentes estão submetidas aos impactos provocados pelo escoamento superficial, perdem a capacidade de produção de água, isso ocorre quando o ambiente de contribuição natural de infiltração que é a área de recarga do lençol freático é alterado e compromete seu reabastecimento e sua produção de água (RODRIGUES, 2011).

As nascentes de água têm proteção garantida conforme Art. 4º parágrafo IV da Lei Federal 12.651/12, sendo consideradas Áreas de Preservação Permanente em áreas rurais ou urbanas “as áreas no entorno das nascentes e dos olhos de água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros”.

A referida Lei cita também no seu Art. 6° que as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação tem a finalidade de conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha. No Art. 7º declara que é dever do ocupante da área mesmo não sendo dono da propriedade, manter a vegetação em Área de Preservação Permanente (BRASIL, 2012).

Considerando que a Política Nacional de Recursos Hídricos, no Art. 1º da Lei 9.433/97 determina que a água é um bem de domínio público, sendo também ressalvado na Constituição Federal a qual corrobora em seu Art. 26 que se incluem entre os bens dos Estados: I – As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes

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de obras da União. O inciso abrange todo o ciclo hidrológico terrestre, pois, inclui, as águas subterrâneas e as águas nascentes (emergentes), as fluentes (rios e córregos) e dormentes (em depósito: em lagos, lagoas e represas) (MILARÉ, 2011).

O Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) estabelecido pela Lei 9.433/97, é um dos seus instrumentos, que orienta a gestão das águas no Brasil e tem por objetivo geral: estabelecer um pacto nacional para definição de diretrizes e políticas públicas voltadas para a melhoria da oferta de água em qualidade e quantidade, gerenciando as demandas e considerando a água um elemento estruturante para a implementação das políticas setoriais visando o desenvolvimento sustentável e a inclusão social. Enquanto que os objetivos estratégicos ou finalísticos, reflete o objetivo geral e contemplam três dimensões: a melhoria das disponibilidades hídricas, superficiais e subterrâneas, em qualidade e quantidade; a redução dos conflitos reais e potenciais de uso da água, bem como dos eventos hidrológicos críticos e a percepção da conservação da água como valor socioambiental relevante (BRASIL, 2006).

Dentro das metas estabelecidas pelo PNRH, constam as diretrizes para recuperação de nascentes, prioritariamente descritas no Programa de Desenvolvimento e Implementação de Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos, explicado no subprograma III.7, que aborda a Aplicação de Instrumentos Econômicos Gestão de Recursos Hídricos, que visa várias ações dentre elas e, estabelece um mecanismo de compensação financeira para proteção, recuperação e conservação de rios, nascentes e estuários. (BRASIL, 2006).

Outra meta estabelecida pelo PNRH, é o Programa de Usos Múltiplos Integrada de Recursos Hídricos (Programa VI), em seu subprograma VI.4, que prevê a conservação de solos e água no manejo de microbacias no meio rural sob duas vertentes: projetos demonstrativos em áreas selecionadas, agregando conhecimento sobre práticas bem sucedidas, de caráter preventivo ou orientadas para a recuperação de áreas já degradadas; pela difusão de projetos e experiências que já vêm sendo implementadas por diversos segmentos sociais, com potencial de transformação em políticas públicas.

Portanto, os métodos de preservação devem abranger pontos fundamentais para que haja redução de contaminação física, química e biológica, para isso, deve-se adotar práticas condeve-servacionistas para controle de erosão do solo devendo construído estruturas físicas como: barreiras vegetais, curvas de níveis, terraços,

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barraginha, dentro outros que podem ser utilizados para contenção do escoamento superficial. Ao adotar essas práticas, serão criadas condições favoráveis à infiltração da água no solo (CALHEIROS et al., 2009).

Vários fatores contribuem para degradação da área no entorno das nascentes, conforme destacados por Pinto (2003) e podem ser classificadas em categorias de conservação:

 Preservadas: quando apresentam pelo menos 50 m de vegetação natural medidas a partir do olho d’água;

 Perturbadas: quando não apresentam 50 metros de vegetação natural no seu entorno, mas apresentam bom estado de conservação mesmo que estando ocupados por atividades agropecuárias;

 Degradadas: quando se encontram com alto grau de perturbação, com pouca vegetação, solo compactado devido a presença de atividades pastoris e apresentam processos erosivos.

A degradação das águas das nascentes pode, entre outras, ser ocasionados por causas naturais ou antrópicas. No caso de causas antrópicas, a degradação das características dos recursos hídricos vem ocorrendo de forma intensa e tem diversos motivos: manejo inadequado das atividades agropastoris, uso da terra sem práticas conservacionistas, o que provoca erosão dos solos; supressão da vegetação natural na Área de Preservação Permanente (APP) substituída por cultivo agrícola, pastoris, habitação e, consequentemente, contaminação por efluentes domésticos, disposição inadequada de resíduos sólidos nas proximidades ou diretamente nas nascentes e rios (DAVIDE et at., 2004).

Ferreira e Coelho (2015) relatam que, a ausência das práticas voltadas à sustentabilidade ambiental e econômica, desencadeou significativos problemas e inúmeros impactos negativos, citam que a ocupação do solo constitui um fator de influência importante nestas relações, principalmente, no que se refere ao seu uso.

O produtor ao adotar um manejo sustentável que preserve o solo e a vegetação, preserva a água, ou seja, havendo qualquer modificação em qualquer um desses componentes afeta os outros. Ainda algumas ações podem auxiliar na manutenção, como uso ponderado de agrotóxicos; cercamento das nascentes; enriquecimento da vegetação se for necessário; dentre outros (CARVALHO, 2004).

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As matas ciliares contidas nas Áreas de Preservação Permanente ajudam a controlar carreamento de solo presente no escoamento superficial provocado pelas precipitações, reduzem e estabilizam erosões nas encostas, tem a capacidade de minimizar os efeitos devastadores das enxurradas e consequentemente os processos erosivos (SILVA, 2015).

Da mesma forma, Carvalho (2004), relata que a preservação do solo com aplicação de técnica que minimizem impactos, dará condições para infiltração da água da chuva na sua totalidade, evitando assim a formação de fluxo superficial, uma vez que onde há água em um momento, há sedimento sendo transportado e, por consequência a possibilidade de contaminação. Essa função de filtro que o solo exerce, constitui-se num depurador natural da água. Por ser o solo um meio poroso e suas partículas (argilas e húmus) apresentarem propriedades eletrostáticas, a água que infiltrar e percorrer esta porosidade poderá ser filtrada, isso contribui para que os olhos de águas ou nascentes sejam protegidos das contaminações e degradações difusas e pontuais (CARVALHO, 2004).

Para Leal (1998), as ações para preservação de áreas degradadas deverão englobar três níveis fundamentais em função do grau de degradação já existente no meio: a) Recuperação e controle do meio ambiente; b) Avaliação e controle da degradação futura; c) Planejamento ambiental.

Dependendo do grau de degradação, pode ser prioritária a recuperação dos ecossistemas, ou seja, a recuperação e controle do meio ambiente antes que ocorram processos irreversíveis, considerando as necessidades das populações locais e os padrões de uso. Neste caso a recuperação ambiental dar-se-á por meio do controle da poluição hídrica e do reflorestamento das áreas de preservação permanente e recuperação de áreas erodidas. O nível de atuação no que diz respeito à avaliação e controle de degradação futura, trata-se de conservar e melhorar as condições existentes. Por fim, o planejamento ambiental com intervenções do meio de modo a aproveitar da melhor forma o potencial, com base em critérios qualitativos e quantitativos (LEAL, 1998).

O planejamento ambiental permite a análise integrada do ambiente, a partir de um conjunto coordenado de etapas que envolvem não só o levantamento de diversas informações, mas a sistematização e análise visando garantir a preservação e a conservação do ambiente, principalmente, no caso de bacias hidrográficas, onde os cursos de água que vem sofrendo constantes degradações

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(TROMBETA, 2016). Quando o planejamento em relação ao uso dos elementos naturais pelas atividades urbanas ou rurais não é elaborado ou é feito de forma parcial, inúmeros problemas podem surgir, principalmente em relação aos recursos hídricos e a vegetação (SILVA, 2019).

Neste sentido, Crispim et al. (2012), evidenciam que é necessário levar conhecimento sobre métodos de conservação de nascentes aos moradores da zona rural, as quais, muitas vezes, usufruem da água das nascentes como fonte para o próprio consumo, sem a devida desinfecção ou descontaminação. A contaminação biológica, ela pode desencadear problemas de saúde como vômito e diarreia (WILLIAMS et al., 2012).

Da mesma forma, se torna interessante levar o conhecimento sobre os métodos de proteção e conservação de nascentes para alunos da zona rural. A escola, enquanto agente formador de opinião e promoção do conhecimento, pode contribuir para que os alunos se reconheçam como protagonistas locais, conduzindo-os a desenvolver análises críticas sobre a realidade local e ao mesmo tempo global em relação ao estado de conservação que se encontram os mananciais e as nascentes de onde vivem.

Esta perspectiva está dentro do escopo da educação ambiental, entendida como os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

A educação ambiental possui métodos de abordagem que perpassa ao educando a compreensão em relação a questões ambientais, passando a ter uma nova percepção sobre o meio ambiente, tornando-se um agente empreendedor em relação a conservação ambiental (MEDEIROS et al., 2011). Da mesma forma, Dias (1993), destaca que é importante incentivar empreendimentos e ações dos alunos, visto que, não são simples receptores de informações, uma vez que, eles têm algo importante a articular ao compartilhar ideias, interpretar e buscar novas experiências.

Assim, a Educação Ambiental apresenta bases em propostas educativas com inegável relevância para construção de uma perspectiva ambientalista da sociedade, buscando caminhos sustentáveis, requalificando a compreensão e o modo de nos relacionarmos com a natureza (LOUREIRO, 2008).

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Conforme Jacobi (2017), também destaca que a escola e os ambientes pedagógicos, são locais onde atitudes reflexivas podem ser pautadas por meio de práticas educativas e pelo paradigma da complexidade em torno da problemática ambiental. Podendo dessa forma, a partir de novos paradigmas, trazer formação numa perspectiva rumo a sustentabilidade ambiental. Isto posto, conferindo significados que possam construir seu próprio conhecimento e possibilitando modificar a sua realidade, priorizando-se a vivência do que está sendo aprendido e o retorno que isso trará para o aluno e para o meio em que vive.

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5 MATERIAIS E MÉTODOS

Como parte inicial deste trabalho, foi organizada a base teórico-metodológica com pesquisa bibliográfica em livros e artigos científicos, abordando temas como conservação e proteção das nascentes e principais riscos e problemas ambientais. A metodologia utilizada para definir os aspectos foi a metodologia denominada Geofatores, descrita primeiramente por Matula e Letko (1980), sendo adaptada de Rodrigues (2008), que ajustou os geofatores a dinâmica do território brasileiro. Os geofatores utilizados por Rodrigues (2008) foram:

 Geofator A: determina a geodinâmica do solo que afeta a ocupação rural e urbana, tais como: presença de sulcos, ravinas, voçorocas, erosão laminar e áreas inundáveis;

 Geofator B: determina as características do solo e da rocha que podem limitar o uso e ocupação do solo, como declividade, afloramentos rochosos, profundidade do nível da água;

 Geofator C: determina as áreas que não estão destinadas a ocupação, APPs e áreas de nascente.

A metodologia de geofatores teve como objetivo orientar a definição de aspectos a serem observados para analisar riscos e problemas as quais estão submetidas as nascentes. Assim definiu-se como aspectos: o solo, a vegetação (APP) e a água. A partir da definição destes aspectos, foram determinados os tipos de riscos e impactos, o que deveria ser observado e quais ações poderiam ser feitas. Estas três etapas tiveram como base literaturas diversas disponíveis em livros e artigos científicos.

A próxima etapa do trabalho foi a elaboração de uma cartilha contendo estes aspectos, para que esta sirva como referência para levantamentos em campo, sendo destinada para públicos variados como alunos de escolas rurais, agricultores, ou mesmo, técnicos. É um documento de relevância técnica com linguagem simplificada, baseado em objetivos e critérios que atenderão requisitos da gestão de recursos hídricos e a Lei das Águas, e em consonância com as metas descritas no quarto e no sexto objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecida pela ONU para a Agenda 2030.

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A cartilha foi apresentada em uma Escola do Campo localizada no distrito de Piquirivaí, do município de Campo Mourão/PR. A apresentação envolveu uma palestra e, posteriormente, a aplicação dos procedimentos metodológicos por meio de visita em uma nascente localizada nas proximidades da escola. A escolha da escola se deu pelo fato de estar na área de manancial de abastecimento público da cidade de Campo Mourão (Rio do Campo) e a nascente visitada ser umas das fontes de abastecimento público do próprio distrito.

A cartilha está disponível para download de forma gratuita na internet, no repositório da biblioteca da UTFPR, câmpus Campo Mourão.

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6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A definição dos aspectos solo, vegetação e água, os principais riscos e/ou impactos ambientais, o que deve ser observados e as ações ou técnicas para cada situação, são apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1 – Aspectos para levantamento de riscos e/ou impactos ambientais em nascentes

ASPECTOS

TIPO DE RISCO E/OU IMPACTO AMBIENTAL

O QUE

OBSERVAR EM CAMPO AÇÕES/TÉCNICAS

QUEM FAZ SOLO Erosão hídrica: – Laminar – Linear: Sulco, Ravina, Voçoroca

– Lavagem superficial do solo – Formação de sulcos (fendas) pouco profundos,

aprofundados ou muito profundos

– Mudança na coloração da água da nascente após a chuva

- Prática de manejo do solo em curvas de nível ou terraços

- Construir bacias de contenção de águas pluviais nas estradas rurais

- Plantio em contorno ou em nível

- Plantio em consórcio com outras vegetações – Rotação de culturas

- Adubação verde

- Plantio direto

- Proteção da nascente com a técnica solo cimento Proprietário Morador ou Profissional Técnico Compactação – Solo endurecido na

superfície e em profundidade

- Evitar superpastejo, usar sistema de pastejo rotacionado

- Evitar uso intensivo de máquinas quando há muita umidade no solo

- Rotação e sucessão de culturas

- Usar plantas com sistema radicular profundo

- Penetrômetro

APP Degradação

– Medir a APP para ver se há 50 metros de raio da nascente (conforme Código Florestal Lei 12.651/2012)

– Mudança na coloração da água

– Fazer reflorestamento da área com mudas nativas do bioma ou abandono da área para regeneração natural

– Fazer o cercamento da área para evitar entrada e pisoteio de animais

– Proteção da nascente com a técnica solo cimento

ÁGUA

Risco de

contaminação das águas por agrotóxico e esgoto doméstico

– Presença de erosão em área com agricultura convencional, relevo com declividade acentuada, estradas rurais no entorno da nascente – Fossa negra próxima a nascente

– Mudança na coloração da água

– Adotar práticas conservacionista para controle da erosão (curvas de níveis, terraceamento, bacia de infiltração) – Evitar aplicação de agrotóxico próxima a área de entorno da nascente

– Falta de APP: fazer o reflorestamento com mudas nativas do bioma ou abandono da área para regeneração natural

– Construir Fossa Séptica ou Bacia de Evapotranspiração

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Os dados foram adquiridos por levantamento bibliográfico, de acordo com o direcionamento definido na metodologia e nos objetivos da presente pesquisa. Os resultados obtidos serviram para avaliar a importância da aplicação dos métodos de conservação e preservação de nascentes, conforme os parâmetros relacionados, possibilitando ao observador associar os riscos e/ou impactos com técnica a ser aplicada. Diante dos aspectos definidos conforme Quadro 1, apresenta-se a descrição de cada um dos riscos e impactos ambientais selecionados.

6.1 Tipos de Riscos e Problemas Ambientais

6.1.1 Erosão hídrica

A erosão hídrica ocorre a partir de um processo complexo e pode envolver diversos fatores que se relacionam e se manifestam com diferentes intensidades (ZONTA et al., 2012). A precipitação, tipo de solo, declividade, comprimento das encostas, cobertura vegetal e as práticas de manejo do solo, são os principais fatores que interferem no processo erosivo.

Desta forma, a erosão hídrica favorece perdas de solo e água, na qual são perdidas matérias orgânicas, nutrientes e também resíduos de agrotóxicos (HERNANI et al., 2002), sendo estes carreados para nascentes e corpos hídricos. Além de prejuízos sociais e ambientais, causam também perdas ao agricultor, devido a redução da capacidade produtiva do solo, elevando os custos da produção (ZONTA et al., 2012).

A erosão hídrica pode ser classificada em laminar e linear (sulcos, ravinas e voçorocas). A erosão laminar provoca evolução gradativa de lavagem da superfície do solo, ou seja, sendo início de um processo erosivo. Enquanto que a erosão linear ocorre, quando a chuva se acumula em um determinado local do terreno e provoca a formação de sulcos que se não forem controlados, se tornam cada vez maiores e mais profundos, podendo chegar ao estágio mais avançado formando uma voçoroca (ZONTA et al., 2012). A voçoroca torna inúteis grandes superfícies de uma propriedade por serem sulcos profundos, todas essas formas podem acontecer simultaneamente no mesmo terreno, sendo ainda que consideram que a

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primeira fase do processo erosivo é causada pelo impacto da gota de chuva (BERTONI; LOMBARDI NETO, 2005).

A Erosão Linear em sulcos (Figuras 2 e 3), ocorre quando a erosão laminar é mais intensa formando pequenas incisões na superfície em forma de filetes muito rasos de até 0,5m de profundidade e ocorre quando o escoamento da água se concentra em canais perpendicularmente às curvas de níveis, sendo mais severas em áreas de declividade (BERTONI; LOMBARDI NETO, 2005).

Figura 2 – Exemplo de erosão linear em sulcos

Fonte: Arquivo do grupo de Pesquisa em Geoecologia e Gestão Ambiental UTFPR (2016).

Figura 3 – Exemplo de erosão linear em sulcos, com destaque para quantidade de solo superficial carregado vertente abaixo

Fonte: Arquivo do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Gestão Ambiental UTFPR (2016).

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As ravinas são erosões lineares que apresentam profundidade maior que 0,5 metros (Figuras 4a e 4b). Conforme Bertoni e Lombardi Neto (2005), diferenciam-se da erosão linear em sulcos, devido não diferenciam-serem corrigidas pelo preparo normal do solo. As ravinas ocorrem quando o escoamento superficial escava o solo em grandes cavidades ou valas por meio da declividade de um terreno.

Figuras 4A e 4B– Exemplos de erosão linear em ravina

Fonte: Arquivo do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Gestão Ambiental UTFPR (2016).

Já as voçorocas são formas de erosão linear mais complexas e destrutivas devido ser uma ação do escoamento subterrâneo e superficial, sendo enormes buracos e crateras a partir de combinações de vários processos erosivos. São ações erosivas de difícil controle e apresentam grande profundidade e paredes irregulares, formando um perfil transversal em formato em "U" (Figura 5).

Guerra (1995), afirma que as voçorocas podem surgir de antigas cicatrizes de escorregamentos ou deslizamentos de terras. Dessa forma, pode desenvolver processos como o pipping (erosão interna) e por meio da ação do escoamento superficial concentrado, como sulcos e ravinas. Em geral, as voçorocas surgem do uso inadequado do solo, causando perda de resistência ou estabilidade da estrutura e são causados pela força de infiltração da água no interior do solo provocando o processo de ruptura hidráulicas e produzindo a erosão regressiva, ou seja, tem início em um ponto de emergência d'água e progride para a montante, ocasionando o carreamento de sedimentos das camadas internas do solo (VARGAS, 1977).

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Figura 5 – Exemplo de voçoroca

Fonte: Arquivo do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Gestão Ambiental UTFPR (2019).

6.1.2 Compactação do Solo

A origem da compactação do solo pode ser de natureza mecânica ocasionados por tráfego de máquinas ou pelo pisoteio de animais (Figuras 6a e 6b). O solo compactado resulta no aumento da resistência mecânica ao crescimento das raízes em maior profundidade e acaba resultando na morte das plantas em curtos períodos de seca. O solo compactado favorece o acúmulo de água na superfície prejudicando a respiração das raízes e favorece a erosão hídrica. Quando a ocupação do solo se dá pela pecuária, é necessário que haja manejo adequado da atividade para não afetar a qualidade do solo. O objetivo do manejo da pastagem tem como finalidade manter a qualidade do solo, evitar degradação da pastagem, manter constante a produção de capim por unidade de área, entre outras vantagens (MARTHA JÚNIOR, 2003).

O pecuarista deve adotar o sistema de pastejo, a qual permite entre outros, proporcionar a qualidade do solo e maior qualidade e quantidade de carne e leite sem exercer pressão na capacidade de suporte durante um período de tempo definido. Deve-se evitar ao máximo o superpastejo onde há animais em excesso na pastagem, o que acaba por comprometer a produção animal e desgaste da pastagem e, consequentemente, a compactação do solo. O produtor deve

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considerar sempre o período de descanso específico de cada capim (COSTA, 2004).

Quando a ocupação do solo se dá pela agricultura, deve-se fazer o manejo correto do uso de máquinas e equipamentos agrícolas para evitar compactação do solo. Carneiro et al. (2009) descrevem que o manejo incorreto de máquinas e equipamentos agrícolas leva a formação de camadas subsuperficiais endurecidas, provocando interferência na estrutura do solo, propiciando a redução do volume total dos poros, e consequentemente reduzindo a produtividade das plantações.

Para quantificar e monitorar a compactação para um manejo adequado dos solos, recomenda-se o uso de penetrômetro, que é um instrumento que mede a resistência à penetração em unidades de pressão (força/área) de um cone padrão posicionado na extremidade de uma haste de metal, que ao ser inserido no interior do solo, determina a resistência à penetração. A utilização do instrumento permite que se definam estratégias para melhor desenvolvimento das culturas, pois é possível identificar as camadas compactadas, podendo dessa forma utilizar melhores métodos de manejo do solo e da água (CARVALHO, 2009).

Figuras 6A e 6B – Exemplo de compactação do solo

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6.1.3 Degradação da Área de Preservação Permanente (APP)

O Código Florestal (Lei Federal nº 12.651/2012) define Área de Preservação Permanente (APP) (Figura 7) como sendo: “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, localizada na zona rural ou urbana, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.

Matas ciliares são áreas de preservação permanentes e se constituem em coberturas vegetais nativas, que ficam às margens de rios, igarapés, lagos, olhos d´água e represas. Borgui et al. (2004, p. 2-3) define que as matas ciliares são chamadas também de vegetação ripária, as quais abrangem todos os tipos de vegetação encontrada às margens dos corpos d'água independente da sua área ou região de ocorrência.

Figura 7 – Exemplo de área degradada com falta de APP

Fonte: Autoria própria (2018).

A degradação das APPs expõe áreas de mananciais que deveriam ter em sua totalidade a vegetação como forma de proteção, sendo que a vegetação aumenta a infiltração e contribui para o controle da poluição difusa, visto que mantém o ambiente livre de impactos ambientais, como carreamento de materiais sólidos como partículas de solo provocado pela erosão hídrica e resíduos de agrotóxicos.

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Wadt et al. (2003), atribuem que a conservação e recuperação das matas ciliares, trazem inúmeros benefícios ao ecossistema, especificamente ligadas a proteção das margens de rios, lagos, igarapés, cursos d’água e as nascentes, contra desbarrancamentos e assoreamentos e mantém a capacidade original de escoamento dos leitos, e também a proteção e preservação da fauna e flora local.

Assim sendo, mesmo tendo as áreas de vegetação preservadas é necessário manejo adequado do solo por meio de construção de terraços, curvas de nível, cordões de isolamento, plantas perenes na área do entorno, entre outros., pois, sem estas práticas conservacionistas, haverá grande possibilidade de contaminação das águas por resíduos de agroquímicos e outros materiais.

6.1.4 Risco de contaminação por agrotóxico

Conforme Candiotto et al. (2013), os agrotóxicos são reconhecidos por muitos, como uma tecnologia muito eficiente na agricultura por fortalecer a produção e manter a completude das culturas agrícolas e também por reduzir os custos com a inserção de mão de obra.

Entretanto, os compostos agroquímicos causam impactos ambientais e sociais e conforme descreve Soares e Porto (2007). Isso acontece porque a aplicação destes compostos na agricultura, não deve levar em conta apenas o aumento da produtividade, mas deve-se também contabilizar os problemas ambientais e que podem causar na saúde dos seres vivos.

Conforme descreve Bortoluzzi et al. (2006), é constante, principalmente em áreas agrícolas, acontecer a transferência de moléculas de variados princípios ativos constantes nos agrotóxicos por meio dos ambientes terrestres aos aquáticos, devido ao uso de quantidades elevadas de produtos e as altas taxas de erosão do solo.

A preservação ambiental das cabeceiras de microbacias hidrográficas, é fundamental não só para os ecossistemas, mas também para o abastecimento e gerenciamento de água aos centros urbanos e atividades agrícolas de cunho comerciais.

Mezzomo (2013), descreve que o tipo de uso do solo no entorno, influencia na conservação das áreas que deveriam ser preservadas. Haverá maior

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favorecimento à conservação de nascentes e córregos, se houver um plano de manejo adequado e gestão integrada para proteção das APPs.

Caso haja o predomínio do desmatamento e utilização de agrotóxicos sem manejo adequado, ocorrerá o enfraquecimento da proteção, afetando diretamente o solo, a água, a flora e a fauna. Pois, os usos de agrotóxicos na área de entorno, podem ter os resíduos carreados pelo escoamento superficial para dentro das APPs e podem contaminar as nascentes e corpos hídricos.

Portanto, é extremamente necessário que a área de APP seja conforme determina a Lei 12.651/12, que deve ter sua constituição num raio de 50 metros e quanto mais próximo do formato circular for a APP, menores serão as chances dos sedimentos e a água contaminada por moléculas de agrotóxicos alcançarem os corpos hídricos, pois a medida que adentram, acabam sendo depositados e filtrados pela vegetação antes de chegar às nascentes e rios, com isso os efeitos serão menores, e haverá a chance de conservação das bacias hidrográficas ou parte importante delas, como as áreas de nascente e trechos de rios e córregos que abastecem a população.

Ferreira (2015), destaca por meio de estudos, que dos pesticidas aplicados nas culturas, menos de 0,1% atingem as pragas-alvos, demonstrando que grande parte desses produtos são perdidos durante o processo de aplicação, e os resíduos acabam causando efeitos adversos ao meio ambiente e a saúde humana, por meio da contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas pelo escoamento superficial e pela percolação as águas pluviais.

Para Ferreira (2015), ainda se destaca que a deriva (Figuras 8 e 9) decorrente da aplicação de agrotóxicos pela pulverização aérea pode atingir uma distância de 32 quilômetros, ou seja, uma distância muito superior à área-alvo. Augusto et al (2015), descreve que a pulverização aérea traz enormes problemas, devido a quantidade expressiva de agrotóxico que penetra no ambiente por diferentes vias. Mesmo tendo total controle e em condições climáticas ideais como temperatura, vento, entre outros., há a deriva técnica que faz com que os agrotóxicos pulverizados não fiquem totalmente nas plantas. Segundo a autora, apenas 32% permanecem na cultura, o restante, cerca de 49% vai para o solo e 19% para as áreas circunvizinhas por meio do ar atmosférico.

Spadotto e Gomes (2019) descrevem que após aplicação de agrotóxicos haverá vários processos físicos, químicos, físico-químicos e biológicos que

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interagem com o ambiente e determinarão seu comportamento, como retenção (sorção) pelas plantas, transformação por meio da degradação biológica e decomposição química, transporte por meio da deriva, volatilização, lixiviação e carreamento de partículas pelo escoamento superficial e outras interações desses processos.

Figura 8 – Exemplo de manejo incorreto, com deriva

Fonte: Spadotto e Gomes (2019).

Figura 9 – Exemplo de manejo incorreto com pulverização aérea em áreas próximas de APP

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6.1.5 Aparência da água

A aparência da água pode ser determinada pela cor (Figura 10), devido às

substâncias dissolvidas de origem mineral e orgânica, que acarretam maior ou menor intensidade de cor dependendo da concentração dessas substâncias (FUNASA, 2014). A aparência da água faz parte de um conjunto de parâmetros que compõem o padrão de potabilidade, determinando se a água é própria para o consumo humano (BRASIL, 2006).

Dessa forma, a alteração na aparência da água pode ocorrer entre outros fatores, por processos erosivos, devido a partículas que são carreadas para dentro das nascentes. É necessário verificar no seu entorno, o tipo de ocupação do solo, se há habitação, agricultura ou mesmo pecuária, e demais riscos as quais poderão estar submetidas, como fossas negras, uso de agrotóxicos para controle de pragas e doenças que podem causar riscos de contaminação no manancial, falta de APP, entre outros. Todos esses fatores podem modificar a aparência da água, alterando sua coloração e ainda estando passível de outros contaminantes que poderão alterar seu padrão de potabilidade caso essa nascente seja utilizada para abastecimento.

Figura 10 – Exemplo de coloração e aparência da água

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6.1.6 Risco de contaminação por fossa negra

O saneamento básico nas comunidades rurais brasileiras conforme descreve Crispim et al. (2019), se apresenta desestruturado, uma vez que muitas dessas se encontram desprovidas de sistemas de tratamento eficientes (Figura 11). Quando se fala em saneamento básico no meio rural, praticamente inexiste o tratamento de esgotos, o problema se torna ainda mais agravante, pois estes poluentes oriundos de águas da cozinha, lavanderia (águas cinzas) e banheiros (águas negras) são lançados em fossas negras, sumidouros ou mesmo, escoam por valas.

Conforme descreve ATSDR (2012), a ingestão de água contaminada por micro-organismos patógenos pode provocar, vômito e diarreia. Santos e Crispim (2013) também relatam que a partir do momento em que os micro-organismos penetram no lençol freático e há o consumo desta água contaminada, pode ocorrer diversas doenças no organismo humano.

A falta de tratamento de esgoto nas áreas rurais é um desafio pois, não é possível realizar o tratamento das águas residuais da mesma forma que ocorre nas cidades, cabendo aos proprietários rurais a responsabilidade de buscar práticas de saneamento.

Estas práticas seriam fundamentais para proteger o meio ambiente e consequentemente a água, pois é comum nas áreas rurais os moradores se estabelecerem próximo às nascentes, utilizando-se da água para consumo (FIGUEIREDO et al., 2018).

Resende et al. (2018), relata que a população residente na zona rural, tem baixo acesso a infraestrutura para abastecimento de água potável, devendo por este motivo receber maior atenção.

Figura 11 - Vala de esgoto sanitário

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6.2 Ações e Práticas Conservacionistas

Considerando a necessidade de ações e práticas diante de alguns dos riscos e impactos ambientais apontados anteriormente e no Quadro 1, são apresentadas algumas possibilidades, tendo em vista minimizar ou resolver os problemas. As ações e práticas conservacionistas podem ser de caráter, vegetativo, edáfico e mecânico.

6.2.1 Recuperação da cobertura vegetal (APP) em áreas degradadas

A recuperação da cobertura vegetal em áreas degradadas é uma técnica conservacionista de caráter vegetativo, depende de técnicas e estratégias. Wadt et al. (2003), destacam que situações em que a degradação da área de preservação permanente esteja ocorrendo em fase inicial (degradação agrícola) ou final (degradação biológica), é necessário adotar técnicas de recuperação dessas áreas podendo ser, em longo, médio ou curto prazo e ainda poderá depender do sistema de exploração da área (pastagens, lavouras, florestas cultivadas ou sistemas agroflorestais). Sendo necessária a recomposição das matas ciliares, deve garantir que se utilize o maior número possível de espécies para que haja garantia da heterogeneidade da flora local (WADT, et al. 2003). Calheiros et al. (2009), descrevem que para a recuperação de áreas de APPs que se encontram degradadas, primeiramente deve-se verificar qual é o tipo de afloramento de água existente, para que possa distinguir se há encharcamento inicial do solo, ou apenas a submersão temporária para o sistema radicular das plantas, sendo que é necessário ter esse conhecimento para a escolha das espécies que ali consigam se desenvolver.

A cobertura florestal é a que exerce maior efeito sobre as nascentes e não existe composição ideal, por isso deve se conhecer as espécies da região, por meio de avaliação dos estudos florísticos e/ou fitossociológicos ou pela avaliação fisionômica da vegetação, dessa forma, o reflorestamento terá melhor contribuição hidrológica. O sistema de reflorestamento depende do grau de preservação da área e a recuperação da cobertura vegetal pode ser:

- Plantio total - em áreas bastantes perturbadas que se encontram sem nenhuma das características bióticas das formações florestais ciliares originais;

Referências

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