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Crimes Informáticos e a Evolução da Leislação: o direito tipificando a transformação do fato

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Academic year: 2021

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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DEPARTAMENTO DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

SAMUEL ADIERS STEFANELLO

CRIMES INFORMÁTICOS E A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO: O DIREITO TIPIFICANDO A TRANSFORMAÇÃO DO FATO

Florianópolis 2012

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CRIMES INFORMÁTICOS E A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO: O DIREITO TIPIFICANDO A TRANSFORMAÇÃO DO FATO

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito à obtenção do título de bacharel.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Morais da Rosa

Florianópolis 2012

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Esta monografia, conduzida pelo método dedutivo procedimental de revisão bibliográfica, propõe realizar uma análise dos crimes informáticos frente à legislação brasileira, apresentando dificuldades e apontando algumas possíveis alternativas que possibilitem a prevenção e o combate desses crimes. Para tanto, utiliza bases principiológicas e legislativas, assim como características próprias dos crimes informáticos, que fogem das comumente vistas pelo Direito Penal. Além disso, o transcorrer evolutivo tecnológico e social, caracterizado pelo advento da Sociedade da Informação, com novas possibilidades jamais previstas pelo legislador na criação do Código Penal e de Processo Penal, comprovam lacunas no ordenamento, criadas por situações atípicas próprias da informática. Por outro lado, comprova-se que as situações atípicas são casos exclusivos, enquanto que a grande maioria das condutas já encontra base na legislação penal, contudo, dado o caráter transnacional e único dos tipos não regulamentados, procura-se apontar no trabalho alternativas no seu combate e a necessidade de uma legislação específica.

Palavras-chave: crime informático, Sociedade da Informação, dificuldades, Direito

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1 INTRODUÇÃO...7

2 A EVOLUÇÃO SOCIAL E TECNOLÓGICA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS...9

2.1 PRINCÍPIOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS INERENTES AO ESTUDO CRIMINAL INFORMÁTICO...9

2.1.1 Liberdade de expressão e direito à informação...9

2.1.2 Direito à privacidade e sigilo das correspondências e das comunicações telegráficas...10

2.1.3 Legalidade...11

2.1.4 Anterioridade penal...13

2.1.5 Territorialidade...13

2.1.5.1 Extraterritorialidade: universalidade da lei penal e nacionalidade...14

2.1.6 Busca pela verdade real...15

2.1.7 Inadmissibilidade de provas ilícitas...16

2.2 A EVOLUÇÃO SOCIAL E TECNOLÓGICA: ASPECTOS HISTÓRICOS...17

2.2.1 Sociedade da Informação...21

2.3 O CRESCENTE AUMENTO DE ACESSOS À INTERNET...24

2.3.1 A facilidade do acesso à internet no Brasil...27

2.3.2 A consciência social no seu uso...31

3 CRIMES INFORMÁTICOS...34

3.1 O QUE É CRIME INFORMÁTICO?...35

3.1.1 Terminologia...36

3.1.2 Sujeitos do crime informático...38

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COMPUTADOR OU POR MEIO DELE...41

3.2.1 Crime informático impróprio...45

3.2.2 Crime informático próprio...46

3.2.3 Crime informático misto...49

3.2.4 Crime informático indireto...50

4 TRATAMENTO JURÍDICO PENAL BRASILEIRO AOS CRIMES INFORMÁTICOS E A NECESSIDADE DE ALTERNATIVAS NO SEU COMBATE...51

4.1 TRATAMENTO DADO PELA LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA AOS CRIMES INFORMÁTICOS...51

4.2 DIFICULDADES DO SISTEMA JURÍDICO PENAL FRENTE AOS CRIMES INFORMÁTICOS...57

4.2.1 Dificuldade na identificação da autoria: IP x máquina e máquina x sujeito ...58

4.2.2 Dificuldade para apreensão do sujeito ativo em função do caráter transnacional dos crimes informáticos...61

4.2.3 Dificuldade na fixação da competência jurisdicional para processo e julgamento: tempo, lugar e o princípio da (extra)territorialidade...63

4.2.3.1 Jurisprudência do STJ...66

4.3 A NECESSIDADE DE ALTERNATIVAS ADEQUADAS, EFICAZES E CONTEMPORÂNEAS NO COMBATE AO CRIME INFORMÁTICO...67

5 CONCLUSÃO...71

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1 INTRODUÇÃO

Com o recente avanço tecnológico e a inclusão digital, é notório que a tecnologia faz parte da vida social. O ser humano evoluiu ao ponto de eliminar barreiras de tempo e espaço, desenvolvendo uma aldeia global onde a informação é um elemento vital e instantâneo. O Direito, por sua vez, como ciência responsável pela regulação da sociedade, deve evoluir em sua concepção legislativa e interpretativa e se adequar aos ditames contemporâneos, mantendo a harmonia, o equilíbrio e a paz social.

Devido a esse processo evolutivo rápido e a prolongação das fronteiras humanas por um espaço não físico, com novos bens jurídicos (por vezes intangíveis) a serem tutelados, algumas novas condutas prejudiciais à sociedade, não previstas pelo legislador na criação do Código Penal e de Processo Penal, tomaram lugar.

Assim, depreende-se que o estudo proposto no presente trabalho não é dos mais fáceis, uma vez que trata de tema atual e polêmico, que se encontra em meio a um debate jurídico e social visando tipificar certas atitudes amplamente desenvolvidas através ou contra os meios informáticos, em face da restrição interpretativa das normas penais.

Portanto, justifica-se esta pesquisa pela atualidade de um tema em corrente debate, e pela indispensabilidade de se avaliar as lacunas deixadas por crimes de características próprias, que dificultam tanto a ação policial no seu combate e prevenção, bem como legislativa na criação de tipos penais novos.

Para tanto, o objetivo síntese deste trabalho é apresentar uma classificação usual aos crimes informáticos, tipificados e não tipificados pelo ordenamento penal brasileiro, e apresentar dificuldades trazidas por esses crimes em função de suas características únicas, apontando algumas alternativas no seu combate e prevenção.

Conduzido pelo método dedutivo procedimental de revisão bibliográfica, o estudo é estruturado em três capítulos.

O primeiro capítulo, visando proporcionar o embasamento ao estudo criminal informático, apresenta princípios e direitos fundamentais, e uma visão

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histórica da criação dos computadores, da internet e da sociedade como utilizadora desta tecnologia.

No segundo capítulo, busca-se a definição para o crime informático. Com base na Teoria do Crime, serão apresentadas características envolvendo sua terminologia, sujeitos ativos e passivos, local e tempo do crime. Ainda mais, através da analise da evolução de classificações, pretende-se chegar a taxionomia que distinga o crime informático do crime tradicional praticado por meio informático, facilitando o seu estudo para posterior produção de normas.

Por fim, no terceiro capítulo, através da descrição do tratamento dado pelo ordenamento penal brasileiro aos crimes informáticos e das dificuldades que esses crimes opõem ao sistema jurídico, devido as suas características peculiares, busca-se a constatação, não só da necessidade de uma tipificação neocriminalizadora, mas, sobretudo, de alternativas que ajudem essa nova lei na sua prevenção e no combate.

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2 A EVOLUÇÃO SOCIAL E TECNOLÓGICA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS

Errar é humano, colocar a culpa no computador é mais humano ainda.

Autor desconhecido

Inicialmente, convém ressaltar a importância do estudo principiológico no Direito e sua aplicação aos crimes informáticos, assim como o estudo histórico a respeito da evolução tecnológica nas últimas décadas com o objetivo de proporcionar maior embasamento ao processo evolutivo da sociedade enquanto utilizadora desta tecnologia. Portanto, este primeiro capítulo justifica-se na medida em que busca proporcionar um maior entendimento das bases envoltas na aplicação da lei penal à informática e do por que a tecnologia cada vez mais faz parte do cotidiano humano, principalmente ao se tratar do uso da internet.

2.1 PRINCÍPIOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS INERENTES AO ESTUDO

CRIMINAL INFORMÁTICO

O sistema de leis atualmente por ser incapaz de preencher todas as necessidades e anseios, fato reconhecido pelo próprio legislador, releva a importância fundamental dos princípios. Assim,

[...] os princípios são, dentre as formulações deônticas de todo sistema ético-jurídico, os mais importantes a serem considerados não só pelo aplicador do direito mas por todos aqueles que, de alguma forma, ao sistema jurídico se dirijam. Sendo assim, ressalta a importância em sua essência e como elemento harmonizador, integrador e de mecanismo de garantia de eficácia da norma jurídica. (RIZZATTO NUNES, 2003, p. 163) Desta forma, através dos princípios, tomam-se soluções baseadas justificadamente no interior do próprio ordenamento normativo.

2.1.1 Liberdade de expressão e direito à informação

A Constituição Federal consagra o Estado alicerçado no Regime Democrático, considerando a liberdade de expressão e o direito da informação como bases da cidadania. Além de expressamente dispostos no art. 5, incisos IV, IX e XIV, da Carta Magna, ambos compõem, juntamente, o ramo denominado de direito da

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comunicação social, previsto no capítulo V do título VIII, estendendo-se do artigo 220 até o 224. Contudo, vale salientar que os dois direitos pertencem a categorias distintas, sendo o primeiro pertencente ao grupo dos direitos civis, enquanto o segundo pertence ao dos direitos sociais.

À medida que o acesso às tecnologias online1 tem crescido de maneira exponencial nas últimas décadas, a internet tem oferecido mais oportunidades para o enriquecimento do discurso público, proporcionando mais espaço à liberdade de expressão em países democráticos. É possível encontrar pensamentos e ideologias diferentes, mostrando a igualdade de expressão numa pluralidade de ideias e informações. “A sociedade digital já não é uma sociedade de bens: é uma sociedade de serviços, onde a posse da informação prevalece sobre a posse dos bens de produção”. (PECK, 2002, p.35)

Entretanto, mesmo que a liberdade de expressão e o direito à informação sejam essenciais para à internet, à divulgação de ideias e a circulação da informação, é necessário cuidado, pois a livre expressão é um conceito relativo. Há a ressalva da proteção constitucional a dignidade, intimidade, honra e imagem das pessoas, podendo ocorrer um choque entre direitos fundamentais e uma possível responsabilização civil e criminal.

Carvalho (2001, p. 89) ressalta:

Que a humanidade não esqueça que, com toda a parafernália da Internet, o que está por trás dela, entretendo a razão humana, é a mesma engrenagem que estabeleceu a primeira comunicação na face da Terra: um corpo humano.

Um corpo humano, um ser humano, independente de ser ou não exigente em sua privacidade pessoal e profissional, tem muitas vezes ela invadida, ameaçada ou manchada por alguém que se avoca no direito de fazer isso por considerar a expressão midiática livre de censura.

2.1.2 Direito à privacidade e sigilo das correspondências e das comunicações

telegráficas

1 De acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: online (palavra inglesa, de on, em + line, linha) Que tem ligação direta ou remota a um computador ou a uma rede de computadores, como a Internet. = EM LINHA.

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A proteção constitucional do direito à privacidade e o sigilo das correspondências e das comunicações telegráficas deve ser observada em face do Estado, e igualmente dos demais particulares, com o direito à privacidade ainda se desdobrando em direito a honra, imagem, intimidade e vida privada. Ambas estão elencadas no artigo 5º, incisos X e XII, da Constituição Federal, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

[...]

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

A inviolabilidade das informações é decorrência natural destes dois direitos fundamentais. Neste sentido, Vianna (2001b, p. 24) coloca:

Como corolário desta afirmação, a inviolabilidade das informações automatizadas, ou seja, daquelas armazenadas e processadas em sistemas computacionais, surgirá então como um novo bem jurídico a ser tutelado pelo Direito Penal, de forma a se garantir a privacidade e a integridade dos dados informáticos.

Devendo, portanto, a inviolabilidade dos dados informáticos ser reconhecido como bem jurídico essencial para a convivência em sociedade.

2.1.3 Legalidade

O princípio da legalidade encontra-se disposto expressamente na Constituição da República em seu artigo 5º, inciso II, o qual dispõe: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Também está expressamente disposto no artigo 1º do Código Penal a seguinte redação: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.

Como garantia constitucional fundamental, o princípio corresponde à proteção contra toda e qualquer invasão do Estado ao direito de liberdade do homem, conforme explana Capez (2004, p. 41):

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Podemos, portanto, assim resumir: o princípio da legalidade, no campo penal, corresponde a uma aspiração básica e fundamental do homem, qual seja, a de ter uma proteção contra qualquer forma de tirania e arbítrio dos detentores do exercício do poder, capaz de lhe garantir a convivência em sociedade, sem o risco de ter a sua liberdade cerceada pelo Estado, a não ser nas hipóteses previamente estabelecidas em regras gerais, abstratas e impessoais.

Somente havendo crime quando existir perfeita correspondência entre a conduta praticada e a previsão legal, em sua concepção formal e estrita, fica comprovada a relevância da legalidade aos crimes informáticos. Muitas são as práticas lesivas que surgiram com o advento da Sociedade da Informação e que ainda não possuem previsão legal, impossibilitando o seu enquadramento no ordenamento penal.

Como a lei penal deve ser precisa na descrição da conduta lesiva praticada pelo agente, não permite que o tratamento punitivo possa ser estendido a uma conduta aproximada ou semelhante, impossibilitando a analogia in malam

partem2. Silva Franco (apud CAPEZ, 2004, p. 45) explica:

Cada figura típica constitui, em verdade, uma ilha no mar geral do ilícito e todo o sistema punitivo se traduz num arquipélago de ilicitudes. Daí a impossibilidade do Direito Penal atingir a ilicitude na sua totalidade e de preencher, através do processo integrativo da analogia, eventuais lacunas. Consequentemente, criam-se eventuais lacunas pelo surpreendente avanço tecnológico, difíceis de previsão no momento da criação do Código Penal décadas atrás, conforme comenta Carla Rodrigues Araújo de Castro (2003, p. 217):

Nos crimes praticados através da informática, ou seja, tipos antigos, nos quais o agente utiliza a informática como meio de execução, como instrumento de sua empreitada, não há dificuldades. O crime é mesmo previsto em sua origem, a forma de sua execução é que inovou, por exemplo, uma ameaça feita pessoalmente não se distingue na tipicidade de uma ameaça virtual.

Problema surge em relação aos crimes cometidos contra o sistema de informática, atingindo bens não tutelados pelo legislador, como dados, informações, hardware, sites, home pages, e-mail etc.. São condutas novas que se desenvolveram junto com nossa sociedade razão pela qual o legislador de 1940, época do Código Penal, não pôde prever tais tipos penais.

Portanto, devido à legalidade, não há como se falar em crime para aquelas condutas não previstas pelo legislador no ordenamento penal.

2 Diante do princípio da legalidade do crime e da pena, pelo qual não se pode impor sanção penal a fato não previsto em lei [...], é inadmissível o emprego da analogia para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. Nada impede, entretanto, a aplicação da analogia às normas não incriminadoras quando se vise, na lacuna evidente da lei, favorecer a situação do réu por um princípio de eqüidade. Há, no caso, a chamada "analogia in bonam partem" [...]. (MIRABETE, 2001, p. 47)

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2.1.4 Anterioridade penal

Conforme este princípio, Capez (2003) salienta que a necessidade de a lei já estar em vigor na data em que o fato é praticado. Expresso no artigo 5º, inciso XXXIX da Constituição Federal, o princípio da anterioridade penal dita que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”, dando caráter constitucional ao artigo 1º do Código Penal.

Inerente ao princípio da legalidade, a anterioridade penal impossibilita a retroatividade da lei penal (exceto no caso de benefício ao agente no caso concreto), conforme afirma Capez (2003, p. 48):

Toda e qualquer norma que venha criar, extinguir, aumentar ou reduzir a satisfação do direito de punir do Estado deve ser considerada de natureza penal. Do mesmo modo, as normas de execução penal que tornem mais gravoso o cumprimento da pena, impeçam ou acrescentem requisitos para a progressão de regime não podem retroagir para prejudicar o condenado, porque aumentam a satisfação do jus punitionis.

Desta forma, como exemplo podemos citar a edição da Lei 11.829/2008, que alterou o Código da Criança e do Adolescente com o fim de aprimorar o combate à produção, venda e distribuição de pornografia infantil, bem como criminalizar a aquisição e a posse de tal material e outras condutas relacionadas à pedofilia na internet. Anteriormente à Lei, o fato de armazenar conteúdo de pornografia infantil no computador não era considerado crime; após a publicação da referida lege, o armazenamento passou a ser considerado típico pela norma penal, porém devido à sua irretroatividade, não foi possível enquadrar quem possuía o conteúdo anteriormente a publicação.

2.1.5 Territorialidade

O artigo 5º do Código Penal assim dispõe: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”. Logo, a regra central de embasamento do dispositivo supra é

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o princípio da territorialidade, pelo qual se aplica a lei brasileira ao crime cometido no território nacional.

Junto ao dito princípio e para um melhor entendimento da eficácia penal no espaço, consagrada no artigo 6º do mesmo diploma legal está a teoria que irá definir o local do crime para posterior aplicação da lei, sendo ela a teoria da ubiquidade e que possui a seguinte redação: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”.

São de extrema importância para a definição de qual lei deve ser aplicada com eficácia aos crimes da informática, pois com a quebra das barreiras territoriais proporcionada pelo uso da internet, não há mais como se falar em territórios divisos, mas apenas em um território uno. Para melhor esclarecimento da dificuldade que o crime informático cria ao ordenamento legal na aplicação, cita-se o exemplo de um agente situado no país A ao utilizar a rede mundial de computadores, pratica lesão à bem juridicamente protegido no país B, através de um servidor localizado no país C.

Diante de tal exemplo, frágil seria somente a aplicação do princípio da territorialidade, porém como salienta Tourinho Filho (1999, p. 132):

O art. 5º do CP, estadeando o princípio da territorialidade, consigna, entretanto: "sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional” oferecendo, desse modo, [...] caminho à oportuna aplicabilidade de outros princípios, que aí estejam consagrados.

Entre nós, à maneira do que se passa na maioria dos Estados soberanos, não vige, apenas, o princípio da territorialidade da lei penal. Este constitui a regra. Mas, ao seu lado, há outros princípios.

Dentre esses princípios, está o da extraterritorialidade.

2.1.5.1 Extraterritorialidade: universalidade da lei penal e nacionalidade

O Código Penal no artigo 7º, inciso II, alíneas a) e b) dispõe:

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: os crimes:

II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro;

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Respectivamente, consagram-se o princípio da universalidade da lei penal e da nacionalidade.

O primeiro visa reunir esforços dos Estados, somando a colaboração de todos no combate à criminalidade e lhes conferindo competência para julgar, independentemente do lugar da infração penal, do bem jurídico prejudicado e da nacionalidade do agente.

O segundo busca tanto proteger a vítima nacional fora do território da Nação, quanto punir o agente nacional em qualquer lugar que o crime tenha ocorrido, podendo-se dizer que “a lei do Estado segue o nacional” (TOURINHO FILHO, 1999, p. 133).

Ambos os princípios são importantes e uma alternativa frente à quebra das barreiras territoriais ocasionada pelos avanços da Sociedade da Informação, mesmo que as divergências socioeconômicas, as concepções políticas diferentes e a inexistência de leis comuns entre os Estados ainda constituam barreiras aparentemente intransponíveis.

No mesmo sentido afirma Peck (2002, p. 19):

A globalização da economia e da sociedade exige a globalização do pensamento jurídico, de modo a encontrar mecanismos de aplicação de normas que possam extrapolar os princípios da territorialidade, principalmente no tocante ao Direito Penal [...].

Enfim, estes são os princípios essenciais na persecução do criminoso informático para além das fronteiras do país.

2.1.6 Busca pela verdade real

A função punitiva do Estado só pode atuar perante aquele que, realmente, tenha cometido uma infração, devendo o juiz penal investigar a verdade real, procurando saber como realmente ocorreram os fatos, quem realmente praticou a infração e em que condições a realizou, para dar base certa à justiça.

Complementa Tourinho Filho (1999, p. 41-42):

A natureza pública do interesse repressivo exclui limites artificiais que se baseiam em atos ou omissões das partes. A força incontrastável desse interesse consagra a necessidade de um sistema que assegure o império da verdade, mesmo contra a vontade das partes.

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[...]

Entretanto, porque o conteúdo da relação jurídico-material que informa a res

injudicio deducta, em regra, versa sobre interesse disponível, muitas vezes

se transige com a verdade real. Excepcionalmente o Juiz não penal procura, realmente, investigar a verdade material.

No Processo Penal, cremos, o fenômeno é inverso: excepcionalmente, o Juiz penal se curva à verdade formal, não dispondo de meios para assegurar o império da verdade.

No Processo Civil vigoram as presunções, as ficções, as transações, elementos todos contrários "à declaração de certeza da verdade material". Florian, estudando a prova civil e a prova penal, estabeleceu suas diferenças: a) quanto aos poderes do Juiz e às faculdades dispositivas das partes; b) quanto ao diferente sentido da verdade (no Processo Penal se investiga a verdade de fato no interesse público, que vence todo obstáculo); c) no Processo Penal os meios de prova são mais extensos; d) pela diversidade do conteúdo de cada um dos institutos probatórios; e) pela diversidade do procedimento correspondente a cada um dos meios de prova. Mostra, assim, Florian, em linhas gerais, vigorar, no Processo Penal, o princípio da verdade real.

Para dificultar ainda mais a condenação penal do réu de crime informático com base em provas sólidas e que atestem a verdade real, tem-se a dificuldade de produção de tais provas. É necessária comprovação do juízo mínimo de probabilidade da ocorrência do delito como critério para instauração do inquérito policial e, consequentemente, de indícios suficientes de autoria e provas da materialidade do delito. Situações essas que na prática atestam a dificuldade do cumprimento do princípio da busca pela verdade real.

2.1.7 Inadmissibilidade de provas ilícitas

No processo brasileiro o uso de prova ilícita é inadmissível pelo artigo 5º, inciso LVI, da Constituição Federal e pelo artigo 157, do Código de Processo Penal, que em seu parágrafo 1º reforça a ideia de ilicitude da prova ilícita derivada, in

verbis:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; Art. 157 - São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

§1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou

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quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.

Como exceção a essa regra, leciona Tourinho Filho (1999, p. 66):

Aliás, sem embargo dessa Lei, parece-nos que se deve respeitar o critério da proporcionalidade do direito tedesco tão bem expresso na Súmula 50 das Mesas de Processo Penal da USP, segundo a qual "'podem ser utilizadas no processo penal as provas ilicitamente colhidas, que beneficiem a defesa". Na verdade, se a proibição da admissão das provas ilícitas está no capítulo destinado aos direitos fundamentais do homem, parece claro que o princípio visa a resguardar o réu. Sendo assim, se a prova, obtida por meio ilícito, é favorável à Defesa, seria um não senso sua inadmissibilidade. Diante dos crimes informáticos, deve se ter extremo cuidado tanto na investigação preliminar durante a fase pré-processual, quanto nos atos praticados durante o curso do processo penal, especialmente por ser um território arenoso para as autoridades e que pode levar a uma investigação imbuída de ilegalidade.

2.2 A EVOLUÇÃO SOCIAL E TECNOLÓGICA: ASPECTOS HISTÓRICOS

No momento pautado pela globalização de culturas ao redor do mundo, onde a ferramenta mais utilizada para a difusão do conhecimento, não nos restringindo a ele em sua forma bruta, mas no próprio avanço da sociedade humana como todo, é a tecnológica, sabemos que as duas últimas décadas foram um marco por apresentar uma quantidade praticamente inesgotável de informação, anulando toda a distância de tempo e lugar.

A história dessa rede que abrevia os caminhos da informação possui suas origens na Guerra Fria3, mais precisamente no final da década de 60. Paesani (2000, p. 25) menciona que o Departamento de Defesa norte-americano confiou, em 1969, à Rand Corporation a elaboração de um sistema de telecomunicações que garantisse que a corrente de comunicações dos Estados Unidos não seria afetada por ataques nucleares.

Desse modo, comenta Paesani (2000, p. 25):

[...] a solução aventada foi a criação de pequenas redes locais (LAN), posicionadas nos lugares estratégicos do país e coligadas por meio de redes de telecomunicação geográfica (WAN). Na eventualidade de uma 3 Período histórico de disputas estratégicas e conflitos de ordem política, econômica, social, tecnológica, militar e ideológica entre os Estados Unidos – representantes do capitalismo – e a União Soviética – representante do socialismo. Comumente chamada de Guerra Fria pelo fato de não que houve guerra bélica entre as duas nações.

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cidade vir a ser destruída por um ataque nuclear, essa rede de redes

conexas – Internet, isto é, Inter Networking, literalmente, coligação entre

redes locais distantes, garantiria a comunicação entre as remanescentes cidades coligadas.

Como típico produto produzido na era de tensões entre as duas superpotências mundiais – EUA e URSS – a tecnologia gerada incorporava interessantes características do ponto de vista militar, tais como: ausência de nodo central, capacidade de reconfiguração dinâmica, flexibilidade arquitetural, comunicação instantânea, entre outras.

Furlaneto Neto e Guimarães (2003, p. 68) continuam:

Posteriormente, no ano de 1973, Vinton Cerf, do Departamento de Pesquisa avançada da Universidade da Califórnia e responsável pelo projeto, registrou o Protocolo de Controle de Transmissão/Protocolo internet (protocolo TCP/IP), código que consentia aos diversos networks incompatíveis por programas e sistemas comunicarem-se entre si.

Tal tecnologia rapidamente se espalhou pelo ambiente acadêmico, primeiramente nos Estados Unidos e posteriormente no exterior. Já no final da década de 80, como ressalta Takahashi (2000), a promoção do uso da internet e do avanço da tecnologia associada nos EUA não era mais liderada pelo Departamento de Defesa, mas pela National Science Foundation4 (NSF). A partir de 1989, a NSF passou a incentivar ativamente as conexões de outros países aos EUA, para fins ligados à educação e pesquisa.

Destarte, o mais importante elemento que permitiu a internet transformar-se num instrumento de comunicação de massa não nasceu nos Estados Unidos, mas no Laboratório Europeu de Física, com sede em Genebra, no ano de 1989. Como destaca Paesani (2000, p. 26), a world wide web (ou www, w3 ou web) foi criada sob o comando de T. Berners-Lee e R. Cailliau, composta por hipertextos, ou seja, documentos cujo texto, imagem e sons seriam evidenciados de forma particular e poderiam ser relacionados com outros documentos, permitindo que o usuário pudesse ter acesso aos mais variados serviços, informações e conteúdos sem a necessidade de conhecer os inúmeros – e difíceis – protocolos de acesso.

O histórico da evolução da internet no Brasil também seguiu o mesmo modelo dos Estados Unidos. Conforme Takahashi (2000, p. 133), surgiu do:

4 A National Science Foundation (NSF) é uma agência federal [norte-americana] independente criada pelo Congresso em 1950 para “promover o progresso da ciência; para avançar com a saúde, prosperidade e bem-estar; e para assegurar a defesa nacional”. (tradução nossa). Cf. www.nsf.gov.

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[...] pioneirismo de algumas instituições acadêmicas e ONG, assim como decolando a partir do envolvimento ativo do Governo Federal, através do MCT, e de vários governos estaduais, tais como os de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e outros.

Com a diferença de o decidido apoio governamental à internet, desde os estágios iniciais, tornou o Brasil com maior distinção da maioria dos países em desenvolvimento.

Takahashi (2000, p. 133) aponta que:

Uma primeira versão de serviços Internet com pontos em 21 estados no País foi implantada pela Rede Nacional de Pesquisa (RNP) de 1991 a 1993, a velocidades baixas. Entre 1995 e 1996, esses serviços foram atualizados para velocidades mais altas.

Paralelamente, a partir de junho de 1995, uma decisão do Governo Federal definiu as regras gerais para a disponibilização de serviços Internet para quaisquer interessados no Brasil.

Porém, de nada adiantaria existir uma rede que conecta e elimina barreiras entre pessoas ao redor do globo se não existissem máquinas que permitissem o acesso a essa rede.

Já considerada, indubitavelmente, uma das maiores invenções tecnológicas das últimas décadas5, o primeiro computador eletrônico foi inventado em 1946 e revolucionou o modo do homem agir, trabalhar, pensar, enfim, viver. Segundo Carla Rodriguez Castro (2003, p. 2):

O primeiro computador eletrônico data de 1946 e foi criado pelas necessidades militares. Denominou-se ENIAC – Eletronic Numeric

Integrator and Calculator e foi utilizado para montar tabelas de cálculo das

trajetórias dos projéteis. Em 1951 apareceram os primeiros computadores em série e, com a rápida e avassaladora evolução tecnológica, temos hoje os PC (computadores pessoas) e notebooks.

Assim, podemos conceitua-lo:

[...] como sendo um processador de dados que pode efetuar cálculos importantes, incluindo numerosas operações aritméticas e lógicas, sem a intervenção do operador humano durante a execução. É a máquina ou sistema que armazena e transforma informações, sob o controle de instruções predeterminadas. Normalmente consiste em equipamento de entrada e saída, equipamento de armazenamento ou memória, unidade aritmética e lógica e unidade de controle. Em um último sentido, pode ser considerado como uma máquina que manipula informações sob diversas formas, podendo receber, comunicar, arquivar e recuperar dados digitais ou analógicos, bem como efetuar operações sobre lei. (CASTRO, C. R., 2003, p. 1)

5 Basta uma rápida pesquisa à internet sobre as maiores invenções para perceber que o computador eletrônico/digital está em praticamente todas as listas, pela sua capacidade de continuamente transformar nossa sociedade.

(20)

Tais computadores – operando sob um sistema digital – frutos da computação moderna e classificados como de primeira geração, como indica Fonseca Filho (2007), ainda estavam distantes dos inventos tecnológicos usados pela humanidade no século XXI, pois as operações computacionais eram produzidas para tarefas específicas. Cada máquina tinha um programa em código binário6 diferente que indicava o fluxo das operações e isto dificultava a programação e limitava a versatilidade desses primeiros computadores.

Superadas também a segunda e terceira gerações, que compreenderam os anos entre 1956 a 1963 e 1964 a 1970, respectivamente, chegou-se à quarta geração, que se iniciou com as tecnologias que abrigavam milhões de componentes eletrônicos em um pequeno espaço, o circuito integrado ou chip7. Para Cortelazzo

(2000), com os microprocessadores e custos reduzidos, surge a quinta geração de computadores (1984 a 1990), que se caracterizou pelas estações de trabalho e redes de computadores.

A sexta geração, que se estende até os dias atuais, caracteriza-se pela alta velocidade e processamento paralelo combinado com processamento vetorial8,

tornando os computadores mais rápidos e potentes.

Destarte, vivemos na convergência tecnológica, em que os computadores ganham, a cada dia, novos e menores dispositivos e uma variedade de programas justapostos, tornando a máquina mais próxima do homem, capaz de (re)criar a coletividade num mundo próprio e restrito.

Nesse sentido, comenta Santaella (1996, p. 204):

Cada vez mais a comunicação com a máquina, a princípio abstrata e desprovida de sentido para o usuário, foi substituída por processos de integração intuitivos, metafóricos e sensório-motores em agenciamento informáticos amáveis, imbrincados e integrados aos sistemas de sensibilidade e cognição humana.

6 O sistema binário ou de base 2 é um sistema de numeração posicional em que todas as quantidades se representam com base em dois numeros, ou seja, zero e um (0 e 1). Os computadores digitais trabalham internamente com dois níveis de tensão, pelo que o seu sistema de numeração natural é o sistema binário (aceso, apagado). Cf. MURDOCCA, Miles J; HEURING, Vincent P. Introdução à Arquitetura de Computadores. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

7 Em eletrônica, um circuito integrado é um circuito miniaturizado (composto principalmente por dispositivos semicondutores), que tem sido produzido na superfície de um substrato fino de material semicondutor. Cf. BAKER, R. Jacob. CMOS: Circuit Design, Layout, and Simulation. 3a. ed. Wiley-IEEE, 2010.

8 Para saber mais sobre sistemas de processamento paralelos e vetoriais Cf. <http://equipe.nce.ufrj.br/gabriel/sispar/ArqPar1.pdf>.

(21)

Surgiu então o virtual9, e a possibilidade de conectar imagem, som e escrita. Aliada à informática, foi o maior fator evolutivo da interação humana com a máquina.

Tapscott (1999, p. 23) expõe que:

Quando computadores de todas as áreas são interligados em rede, está surgindo nada menos do que um novo meio de comunicação humana, que poderá suplantar todas as revoluções anteriores – a prensa tipográfica, o telefone, a televisão, o computador – no seu impacto sobre nossa vida econômica e social. Isso é, de fato, uma “mudança de paradigma”.

Esta mudança refere-se ao momento atual da história, em que a transformação do modelo de sociedade está pautada no novo paradigma tecnológico, baseado na tecnologia da informação. Trata-se de situação nada comum na história da humanidade, por ser difícil encontrar outros períodos históricos análogos à expansão que se assistiu nestas últimas décadas, como salienta Fonseca Filho (2007, p. 139):

Quando a História olhar para trás e estudar os anos do século XX [e início do século XXI], entre outras coisas, perceberá que, do ponto de vista científico, eles estão caracterizados como tempos em que se produziu uma aceleração tecnológica e um avanço nas comunicações sem precedentes. [...] Após as revoluções do ferro, da eletricidade, do petróleo, da química, veio a revolução apoiada na eletrônica e no desenvolvimento dos computadores. A partir dos anos setenta iniciou-se a integração em grande escala da televisão, telecomunicação e informática, em um processo que tende a configurar redes informativas integradas, com uma matriz de

comunicação baseada na informação digital, com grande capacidade de

veicular dados, fotos, gráficos, palavras, sons, imagens, difundidos em vários meios impressos e audiovisuais.

Por consequência, esse novo modelo social apoiado na revolução eletrônica desenvolveu-se em uma aldeia global, onde a informação é o elemento vital e instantâneo, denominada Sociedade da Informação.

2.2.1 Sociedade da Informação

Segundo Werthein (2000, p. 71), a expressão Sociedade da Informação passou a ser utilizada como forma de transmitir o conteúdo específico do “novo paradigma técnico-econômico”. Ainda segundo o autor, a expressão refere-se às transformações técnicas, organizacionais e administrativas que a sociedade vem 9 Segundo Rohrman (1999 apud VIANNA 2003a, p. 32), virtual é o termo empregado para designar a simulação de objetos físicos através de gráficos tridimensionais.

(22)

passando, propiciadas pelos avanços tecnológicos na microeletrônica e telecomunicações. Criou-se a nova era, onde as transmissões de dados são de baixo custo e as tecnologias de armazenamento são amplamente utilizadas. A informação flui a velocidades e em quantidades inimagináveis, assumindo valores políticos, religiosos, e sociais.

Macdonald (2006, online) explica que:

A Sociedade da Informação é uma expressão vinda do conceito de Globalização. A Globalização é um dos processos de integração económica, social, cultural dos meios de comunicação dos países do mundo do final do século XX. As principais características da Globalização são a homogeneização dos centros urbanos, a expansão das corporações para fora dos seus núcleos geopolíticos, a revolução tecnológica da comunicação e da electrónica e uma cultura de massas universal.

Ela é a consequência de três fenômenos inter-relacionados: a convergência da base tecnológica, o dinamismo da indústria e o crescimento da

internet. Sobre eles, comenta Takahashi (2000, p. 3-4):

O primeiro, a convergência da base tecnológica, [...] decorre do fato de se poder representar e processar qualquer tipo de informação de uma única forma, a digital. Pela digitalização, a computação (a informática e suas aplicações), as comunicações (transmissão e recepção de dados, voz, imagens etc.) e os conteúdos (livros, filmes, pinturas, fotografias, música etc.) aproximam-se vertiginosamente – o computador vira um aparelho de TV, a foto favorita sai do álbum para um disquete, e pelo telefone entra-se na Internet. Um extenso leque de aplicações abre-se com isso, função apenas da criatividade, curiosidade e capacidade de absorção do novo pelas pessoas.

O segundo aspecto é a dinâmica da indústria, que tem proporcionado contínua queda dos preços dos computadores relativamente à potência computacional, permitindo a popularização crescente do uso dessas máquinas.

Finalmente, em grande parte como decorrência dos dois primeiros fenômenos, o terceiro aspecto na base dessa revolução é o fantástico crescimento da Internet:

No curto período de oito anos, a Internet se disseminou por praticamente todo o mundo, propiciando conectividade a países até então fora de redes e substituindo outras tecnologias (Bitnet, Fidonet etc.) mais antigas. Mesmo ainda sendo, em muitos países, um serviço restrito a poucos, a velocidade da disseminação da Internet, em comparação com a de outros serviços, mostra que ela se tornou um padrão de fato, e que se está diante de um fenômeno singular, a ser considerado como fator estratégico fundamental para o desenvolvimento das nações.

Sem dúvida, produzir, processar, comunicar e armazenar grandes quantidades e diferentes tipos de informação são aspectos que fazem do meio eletrônico o grande instrumento para consolidação da Sociedade da Informação,

(23)

cabendo ao Direito acompanhar essas mudanças e atentar-se às novas ameaças e realidades. Quanto à “informação”, Paesani (1999, p. 14) diz que:

[...] já não pode mais ser dispensada, quer pela qualidade, quer pela quantidade, pois se transformou em novo bem jurídico, de primeiríssima ordem, para o homem contemporâneo.

Complementa-se o acima exposto através de Castells (2002), que expõe as características fundamentais desta sociedade, onde as tecnologias se desenvolvem ao permitir que o homem atue sobre a informação propriamente dita, ao contrário do passado quando o objetivo dominante era utilizar informação para agir sobre as tecnologias.

Outras características expostas pelo sociólogo espanhol citado acima, compreendem na alta penetrabilidade das novas tecnologias, no predomínio da lógica de redes, pela qual todo tipo de relação complexa pode ser materialmente implementada em qualquer tipo de processo, na flexibilidade, por existir uma alta capacidade de reorganização e reconfiguração de componentes, e na crescente convergência de tecnologias em diversas áreas do saber.

Convém ressaltar que as transformações em direção à Sociedade da Informação não foram propiciadas apenas pelo avanço tecnológico, seguindo uma lógica técnica e neutra, mas pela interferência política e social.

Conforme Werthein (2000, p. 72):

[...] processos sociais e transformação tecnológica resultam de uma interação complexa em que fatores sociais pré-existentes, a criatividade, o espírito empreendedor, as condições da pesquisa científica afetam o avanço tecnológico e suas aplicações sociais.

Assim, enquanto o mundo economicamente mais desenvolvido, pioneiro nos serviços, desfruta do complexo de redes digitais de alta capacidade, utilizando intensamente os serviços de última geração, uma parcela considerável da população mundial não tem acesso sequer à telefonia básica.

Esse maior acesso à informação pode gerar uma nova lógica de exclusão, acentuando desigualdades já existentes, tanto entre sociedades, como no interior de cada uma, entre setores e regiões de maior e menor renda. Haja vista que a redução nos preços dos computadores e serviços essenciais de acesso à rede ainda não supera a relação entre nível de renda e acesso às novas tecnologias.

(24)

[...] a universalização dos serviços de informação e comunicação é condição necessária, ainda que não suficiente, para a inserção dos indivíduos como cidadãos. [...] Urge, portanto, buscar meios e medidas para garantir a todos os cidadãos o acesso eqüitativo à informação e aos benefícios que podem advir da inserção do País [Brasil] na sociedade da informação.

Enfim, o acesso à informação, indispensável à evolução, é um ponto crítico condicionante de qualquer sociedade que busque uma interação a nível mundial. Consequentemente, todo o dinamismo informativo passou a fazer parte da cultura diária da nova geração, a qual caminha, mesmo que a curtos passos, para a integração de todos na sociedade da informação global.

2.3 O CRESCENTE AUMENTO DE ACESSOS À INTERNET

Segundo Moran (1998) a possibilidade de estar em casa conectado com o mundo e se comunicando com várias pessoas ao mesmo tempo, independentemente de espaço geográfico e temporal, de conhecê-las ou não, abre novas possibilidades de interações entre a humanidade. Contudo, o acesso às redes de comunicação no globo ainda é bastante desigual.

Takahashi (2000) relata que a infraestrutura requerida para qualquer pessoa ter acesso ao processo de conexão online a partir de sua residência, local de trabalho, centro comunitário, área de lazer etc., consiste – precipuamente entre os equipamentos mais acessíveis à população em geral – em microcomputador pessoal, conhecido como PC (Personal Computer) associados à televisão ou monitor e um modem com ligação a linha telefônica.

Um aspecto determinante na universalização do acesso diz respeito aos custos para o usuário. Apesar do custo de acesso ser relativamente baixo, como é o caso do Brasil10, isso por si só não resulta em uma grande penetração na rede por parte da população. Outros fatores devem ser levados em consideração, como a renda per capita, penetração do serviço telefônico e nível de escolaridade. A esses ainda agregam-se fatores culturais, a familiaridade da pessoa com a utilização da

internet e a utilidade das informações fornecidas. Conclui Takahashi (2000, p. 33)

que é necessário “adequar a tecnologia – hardware e software11 –, bem como os

10 Vide a disseminação de computadores populares, a exemplo do Computador do Milhão lançado pela SBT e Microsoft, e o acesso à internet de banda larga.

11 Na área da computação, o termo hardware é usado para a parte física do computador, ou seja, o conjunto de componentes eletrônicos, circuitos integrados e placas, enquanto que o software é a

(25)

conteúdos e serviços, à diversidade das demandas e às características – sociais culturais e físicas – dos usuários da rede”.

Nos últimos anos, tem aumentado o número de iniciativas, ora com o objetivo de acelerar a incorporação dos cidadãos às novas formas de organização social introduzida pela tecnologia, ora no sentido de evitar que a evolução tecnológica funcione como novo fator de exclusão social. Essa mudança é perceptível quando tratada com dados.

No final do século XX, mais precisamente no ano de 1999, de acordo com a NUA Internet Surveys12, eram 275.54 milhões de usuários da internet, enquanto que a população mundial beirava os seis bilhões de pessoas13, ou seja, aproximadamente 4,6% da população possuía acesso à rede.

Passado um ano somente, de acordo com o website14

www.internetworldstats.com (Internet World Stats), o qual monitora as estatísticas da

internet através de dados publicados por websites renomados como Nielsen

Online15, International Telecommunications Union16, Gfk17, entre outros, os usuários da rede em 31 de dezembro de 2000 eram 361 milhões de pessoas.

Já no ano de 2011, a estimativa da população mundial beirava os sete bilhões de pessoas – sabe-se que agora já passam de sete bilhões18 –, dentre as quais 2,27 bilhões de pessoas possuíam acesso à internet. Isso representa uma penetração de aproximadamente 32,7% da população mundial no ano de 2011, uma enorme evolução se comparada com os 4,6% de dez anos atrás. Em números absolutos, esse crescimento foi de 528% aproximados, entre os anos 2000 e 2011, enquanto que a população mundial, no mesmo período, cresceu aproximados 16%.

parte lógica, o conjunto de instruções e dados processados pelos circuitos eletrônicos do hardware. (MURDOCCA, 2000)

12 Para maiores detalhes Cf. <http://www.nua.ie/surveys/>.

13 Para maiores detalhes Cf. <http://pessoas.hsw.uol.com.br/populacao-seis-bilhoes.htm>.

14 De acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: website (palavra inglesa): [Informática] Página ou conjunto de páginas da Internet com informação diversa, acessível através de computador ou de outro meio eletrônico. = SÍTIO.

15 O website pode ser encontrado em: <www.nielsen-online.com/>. 16 O website pode ser encontrado em: <www.itu.int/>.

17 O website pode ser encontrado em: <www.gfk.com/>.

18 Para maiores detalhes Cf. <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/10/mundo-chega-7-bilhoes-de-

(26)

No Brasil, a estimativa do número de usuários tem variado muito, em razão da diversidade de fontes e critérios. Segundo o F/Nazca19, no ano de 2011, os internautas20 tupiniquins eram 81,3 milhões (a partir de 12 anos), enquanto que para o Ibope/Nielsen Online21, eram 78 milhões (a partir de 16 anos). Ainda segundo o

website Internet World Stats (IWS), a estimativa feita em 2011 apontava 79,25

milhões de internautas brasileiros, representando uma penetração da população à rede de 39%.

O crescimento dessa população online no Brasil é espantoso. Na última década ele foi de 1.484%, enquanto que o total mundial foi de 528%. Takahashi (2000) apontava o país como variando entre 12º e 14º no ranking mundial (dependendo do critério) em números absolutos de usuários na internet. Já pesquisas recentes, como as coletadas pelo IWS, apontam o Brasil como 7º no

ranking mundial.

Outro dado expressivo desse crescimento pode ser notado em pesquisa realizada pelo Ibope/Nielsen Online, que coloca o país na 3ª posição de usuários ativos, com 46,3 milhões, perdendo apenas para Estados Unidos e Japão, que possuem 203,4 e 62,3 milhões, respectivamente.

Porém, em relação ao tempo médio que cada um destes usuários passa

online, o Brasil lidera o ranking mundial. Com a última marca aferida em agosto de

2011, cada brasileiro passa em média 69 horas por mês conectado. Mas, infelizmente, a quantidade de acessos à internet não é necessariamente um indicativo de desenvolvimento.

2.3.1 A facilidade do acesso à internet no Brasil

A informação é um elemento presente na sociedade desde que o homem, nos primórdios da sua existência, aprendeu a se comunicar. Os instrumentos atuais 19 F/Nazca Saatchi & Saatchi é uma agência de publicidade brasileira, fundada em abril de 1994. Cf. <http://www.fnazca.com.br/>.

20 De acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: internauta (inter[net] + nauta): Utilizador da internet.

21 O IBOPE Nielsen Online é uma joint-venture que existe há 11 anos entre o IBOPE e a Nielsen, líder mundial em medição de audiência de internet. Com o auxílio de um software proprietário, instalado em um painel de internautas representativo da população brasileira com acesso à web no domicílio ou no trabalho, a empresa detalha o comportamento dos usuários do meio digital. Cf. <http://www.ibope.com.br/> e <http://www.acnielsen.com.br/>.

(27)

tecnológicos apenas aceleraram esse processo de comunicação. Telégrafo, telefone, rádio, televisão são apenas alguns exemplos de tecnologias que surgiram para abreviar caminhos na disseminação da informação. Todavia, na última década é o computador que se popularizou como centro das atenções quando o assunto é informação. Inclusive o computador, aliado da internet, já possui a capacidade de substituir no cotidiano grande parte destas tecnologias de comunicação.

Carvalho (2006, p. 73) ressalta que:

Apesar de ter começado no Brasil como assunto de Estado, [...] a comunicação de dados rapidamente despertou o interesse da comunidade acadêmica nacional, à medida que a tecnologia de redes de computadores, a exemplo do que acontecia no exterior, se disseminava pelas universidades. A ideia da comunicação, local e global, entre pesquisadores e o potencial de acesso quase instantâneo às informações que até então levavam dias ou semanas para estarem disponíveis, era o sonho de muitos professores. Era a ciência sem fronteiras.

Conforme relata Müller (2008, online), no final de 1994 o governo brasileiro divulgava, através do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Ministério das Comunicações, a intenção de investir na nova tecnologia:

No final de 94, a Embratel iniciou seu serviço de acesso à Internet em caráter experimental. Cinco mil usuários foram escolhidos para testar o serviço. Alguns meses depois, em maio de 95, o acesso à Internet via Embratel começou a funcionar de modo definitivo. Mas a exclusividade da Embratel no serviço de acesso a usuários finais desagradou à iniciativa privada. Temia-se que a Embratel e outras empresas de telecomunicações dominassem o mercado, criando um monopólio estatal da Internet no Brasil. Diante disso, o Ministério das Comunicações tornou pública a posição do governo de que não haveria monopólio e que o mercado de serviços da Internet no Brasil seria o mais aberto possível.

Carvalho (2006) vai salientar a criação do Comitê Gestor da Internet (CGI)22, em maio de 1995, que passou a se responsabilizar pelos rumos da implantação, administração e o uso da internet. O CGI teria ainda, segundo Müller (2008, online), “como atribuições principais: fomentar o desenvolvimento de serviços da Internet no Brasil, recomendar padrões e procedimentos técnicos e operacionais, além de coletar, organizar e disseminar informações sobre os serviços da Internet”.

Carvalho (2006, p. 151) ainda aponta que:

Apesar do CGI ter contado com o apoio de muitos setores da sociedade brasileira, desde o momento de sua criação, as medidas de restrição no registro de domínios [...], a mudança para o modelo de cobrança pelos serviços de registro e manutenção de domínios, [...] e as questões que envolviam propriedade sobre nomes de domínio, geraram críticas por parte

(28)

de usuários e organizações participantes da Internet no Brasil. E essas questões, quando aliadas ao fato de que todos os membros do CGI haviam sido indicados exclusivamente pelo Governo Federal (que, por sua vez, possuía maioria no CGI), fizeram com que sua representatividade fosse, por vezes, questionada.

Entretanto, mesmo em meio a algumas controvérsias, esta base de governança da internet no Brasil serviu de modelo para outros países e continuou funcionando sem maiores problemas, impulsionando o crescimento do mercado (TAKAHASHI, 2000).

Nas telecomunicações, houve a privatização de todo o sistema brasileiro, permitindo uma maior e mais rápida disponibilidade de acesso aos meios de comunicação à população. Sendo o acesso à internet dependente diretamente da disponibilidade de meios físicos de comunicação (especialmente linhas telefônicas) e de dispositivos de processamento local (especialmente computadores), salienta Takahashi (2000) que necessariamente ocorreria uma expansão no acesso à rede.

Mendonça (2010, online) destaca bem a expansão causada pela privatização das telecomunicações:

Três mil reais! Isto mesmo. Era este o preço que pagávamos para ter o “luxo” de possuir um telefone fixo em casa. E não faz muito tempo. Em meados dos anos 90, além de ter que dispor de um alto investimento era necessário aguardar meses ou até mesmo anos para obter-se o benefício. Celular? Este era o “Ferrari” da época; somente altos executivos e pessoas de alto poder aquisitivo podiam usufruir deste privilégio.

Diversas iniciativas para facilitar o uso da internet pelas camadas mais pobres da população também foram criadas, a exemplo do Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicações, instituído através da Lei 9.998, de Agosto de 2000, o qual tem por finalidade proporcionar recursos destinados a cobrir a parcela de custo exclusivamente atribuível ao cumprimento das obrigações de universalização de serviços de telecomunicações.

Organizações Não Governamentais (ONG), com o apoio dos setores privado e público também contribuíram para a universalização do acesso, valendo destacar o VivaRio, o CDI e a Rits:

O VivaRio tem atuado fortemente em educação nas comunidades carentes no Rio de Janeiro e vem utilizando Internet com cada vez maior intensidade desde 1997/98, quando lançou e coordenou o Serviço Civil Voluntário no seu estado. Nessa iniciativa, foi experimentado interessante modelo baseado em educação supletiva (baseada no Telecurso 2000), informática/Internet e formação para a cidadania.

(29)

O CDI [Comitê para a Democratização da Informática] é talvez a iniciativa brasileira mais diretamente envolvida na disseminação de informática e Internet nas comunidades mais carentes.

A Rits [Rede de Informações para o Terceiro Setor] é uma organização fundada [...] com o objetivo de apoiar organizações do Terceiro Setor no uso de recursos de informática/Internet para apoiar e divulgar suas iniciativas. Os serviços e informações oferecidos pela Rits por seu website são modelares pela qualidade e abrangência. (TAKAHESHI, 2000, p. 38). Algumas iniciativas parlamentares recentes também merecem destaque por estarem diretamente ligadas à internet, propiciando o acesso dos alunos a computadores no âmbito escolar, através de programas como o PROUCA (Programa Um Computador por Aluno) e o RECOMPE (Regime Especial para Aquisição de Computadores para Uso Educacional), ambos instituídos pela Lei 12.249, de 11 de junho de 2010:

Art. 7º - O Prouca tem o objetivo de promover a inclusão digital nas escolas das redes públicas de ensino federal, estadual, distrital, municipal ou nas escolas sem fins lucrativos de atendimento a pessoas com deficiência, mediante a aquisição e a utilização de soluções de informática, constituídas de equipamentos de informática, de programas de computador (software) neles instalados e de suporte e assistência técnica necessários ao seu funcionamento.

[...]

Art. 9º - O Recompe suspende, conforme o caso, a exigência:

I - do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI incidente sobre a saída do estabelecimento industrial de matérias-primas e produtos intermediários destinados à industrialização dos equipamentos mencionados no art. 7º quando adquiridos por pessoa jurídica habilitada ao regime;

II - da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS incidentes sobre a receita decorrente da:

a) venda de matérias-primas e produtos intermediários destinados à industrialização dos equipamentos mencionados no art. 7º quando adquiridos por pessoa jurídica habilitada ao regime;

b) prestação de serviços por pessoa jurídica estabelecida no País a pessoa jurídica habilitada ao regime quando destinados aos equipamentos mencionados no art. 7º;

III - do IPI, da Contribuição para o PIS/Pasep-Importação, da Cofins-Importação, do Imposto de Importação e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico destinada a financiar o Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação incidentes sobre: a) matérias-primas e produtos intermediários destinados à industrialização dos equipamentos mencionados no art. 7º quando importados diretamente por pessoa jurídica habilitada ao regime;

b) o pagamento de serviços importados diretamente por pessoa jurídica habilitada ao regime quando destinados aos equipamentos mencionados no art. 7º.

Além das diversas iniciativas do Governo e das Organizações Não Governamentais, há outros fatores que aproximam a população dos meios

(30)

tecnológicos e, em consequência, da internet. Mesmo com os preços de mercado dos computadores e dos requisitos para o acesso à rede, como a ligação com a companhia telefônica, terem diminuído consideravelmente na última década, ainda existe uma parcela desta população que não é capaz de arcar com os custos, seja por fatores sociais ou econômicos. Neste cenário, sobrevieram as lan houses ou

cybercafés.

A lan house ou cybercafé é uma ilha de contato para a entrada ao

cyberespaço23. São locais onde qualquer pessoa pode usar um computador com

acesso à internet pagando uma taxa por período de uso. Lançadas no Brasil no final da década de 90, elas primeiro converteram-se em centros de entretenimento para os apaixonados por jogos de computador. Como na época a internet residencial ainda era cara, ruim e rara, as lan houses rapidamente se espalharam pelos centros urbanos. Os clientes eram constituídos, precipuamente, de jovens das classes A e B da sociedade, que se reuniam para jogar jogos de computador em rede.

Com o passar dos anos e a maior penetração desta população à rede, as

lan houses deixaram os centros urbanos buscando outro viés. Se nestes centros a internet sem fio (wireless) já se encontra perpetrada em vários locais de acesso,

podendo ser acessada de um simples celular, as lan houses ganharam importância nas regiões mais carentes, não apenas em termos socioeconômicos, mas também em regiões rurais e sem infraestrutura, ampliando a inclusão digital a todos os polos.

Porém, a crescente facilidade do acesso à internet por si só não representa uma vantagem na vida do cidadão comum. Mesmo que ela seja fundamental na sociedade tecnológica contemporânea, o computador com acesso à rede é apenas um instrumento da vontade humana, e de nada serve caso não exista uma consciência no seu uso.

2.3.2 A consciência social no seu uso

O homem (homo sapiens), afirma Kant (2005), é a única criatura racional sobre a terra, ou seja, que pensa e tem consciência de seus atos, guiados pelo uso 23 O mundo ciberespacial é composto e constitui-se não pelo espaço ou tempo que ocupa, mas pelo intercâmbio das informações – permuta de dados e comunicabilidade intersignificativa –, propulsionado pela energia colateral teleológica de sistemas vivos (seres humanos e sociedade). (COLLI, 2010, p. 31).

(31)

da razão. O homem é capaz de dar um significado daquilo que se conscientiza, de transmitir esse significado e de idealizá-lo, antecipando ações futuras.

Neste ponto, Leontiev (1978, online) salienta que o:

[...] estudo completo da consciência como uma forma superior, especificamente humana da psique, que surge no processo da interação social e que pressupõe o funcionamento da linguagem, constitui o requisito mais importante para a psicologia do homem.

Assim, antes de procurar uma definição para “consciência social”, é oportuno buscar um entendimento do que é “consciência”.

Gomes (2003, p. 124), resumindo Freud, diz que a consciência é “a função de um sistema específico do aparelho psíquico, responsável pela percepção do mundo exterior, de sentimentos e de processos do pré-consciente”.

Para o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, consciência é “a faculdade de a razão julgar os próprios atos”. É um termo que provém do latim

conscientia, o qual significa conhecimento, o cumprimento do dever, o conhecimento

interior de certo ou errado.

Partindo desses significados, conclui-se que o termo “consciência” possui uma estreita ligação com o entendimento maniqueísta do bem e mal, do que é bom e do que é ruim, envolvendo a percepção do mundo exterior, o entendimento, a ética e assumindo o papel de crítica e juízo aos atos do homem.

Com a evolução natural e a tomada da razão, do homem racional, o indivíduo passou a adquirir conhecimento e, ao transformar esse conhecimento em cultura, passou a moldar o mundo ao redor de acordo com suas necessidades e aspirações. Da consciência individual emerge a consciência social ou coletiva.

Motta (2006, online) conceitua a consciência social como sendo “a forma com a qual o homem lida com as regras que regem a sua vida e é o que organiza e dá sentido ao que é vivido coletivamente, ou seja, organizando e dando sentido à vida social ou ao viver em sociedade”. Dessa forma, passamos a ter uma consciência coletiva, a qual não exclui, mas engloba a consciência individual, e mantém a estrutura da sociedade e a harmonia coletiva.

Na Sociedade da Informação, apesar das barreiras de tempo e espaço terem sido quebradas e as fronteiras do novo mundo, o mundo virtual, terem surgido, as regras de uma consciência social e coletiva ainda permanecem.

(32)

Sobre o mundo virtual, fruto da evolução tecnológica, Vianna (2003a, p. 15) salienta que não é um lugar “bom ou mau em si mesmo, mas tão-somente um instrumento tecnológico colocado à disposição da humanidade que pode usá-lo bem ou mal”. O computador, assim como qualquer outro instrumento tecnológico usado para o acesso à internet, por si só, também não é capaz de criar algo bom ou algo ruim. Por ser um mero instrumento da vontade humana, deve ser programado para determinada finalidade objetivada por essa vontade.

Como exemplo comparativo, pode-se usar uma faca de cozinha. Percebe-se que a faca de cozinha, por Percebe-ser um objeto inerte, não é capaz de cometer a lesão corporal ou o homicídio. O homem, por sua vez, pode usar essa faca como instrumento para alcançar tais objetivos. Isso não significa, todavia, que ela deveria ter sua fabricação banida para não ser mais usada como instrumento criminal. É necessário ter noção de que ela é um objeto com poder ofensivo, porém não foi desenvolvida com esse propósito, restando ao homem possuir a consciência do seu manuseio.

O mesmo raciocínio acompanha os instrumentos tecnológicos. Como instrumentos, eles são auxiliares da construção do conhecimento individual e coletivo, porém dependem da boa vontade de quem os usa.

Nesse ponto, Colli (2010, p. 34) faz alguns comentários:

O indivíduo, ao ingressar no mundo on-line (virtualizado), traz consigo as características do seu comportamento no mundo off-line (real/tangível). Estabelece-se aí a dialética virtual-real, na qual a denominada realidade virtual passa a ser o palco.

O estabelecimento dessa dialética é fundamental para a compreensão dos cibercrimes cometidos na internet. A partir de uma conduta exercida no mundo real, como, por exemplo, digitar um texto ou clicar em algum

hyperlink, pode-se exercer simultaneamente uma ação e um resultado no

mundo virtualizado, como, por exemplo, a publicação de algum vídeo ou texto.

Fonseca Filho (2007, p. 139) aponta outro problema que surge do mau uso da tecnologia – ou do uso sem consciência – observado entre jovens e adultos que veem no computador a sua principal atividade de lazer e trabalho: “o excesso de informação e o perigo do empobrecimento que pode ser causado pelo [seu] uso indevido [...]”. Com o montante absurdo de informações disponibilizadas a todo instante na rede, fica difícil para o cidadão comum selecionar aquilo que realmente

Referências

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