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Tratado da lavação da burra

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Academic year: 2021

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À memória de Tomé Rios Monteiro, meu pai, que nunca lavou a burra. A Guilherme Andrada e aos  anos de pastagem de amizade.

Vamos lavar a burra

De início pode parecer esotérico o pontifical apelo para que todos “lavem a burra”. A “sua” burra. Mas para que se entenda semelhante prodígio se fará necessário, antes de tudo, que não tenhamos princípio; que não conheçamos origens; que sejamos apenas. Deixemos, por enquanto, a burra em paz e iniciemos o trajeto virgem. Anterior a qualquer descoberta. Impressentido por todos os oráculos que porventura antecede-ram a nossa existência enquanto tribo — ou grupo de tribo autóctones. A Grande Taba está de braços abertos. Os pajés em festa. Nesse triunfo de maracatus e maracás, brincamos com a civilização, mesmo suportando, com incrível galhardia, as suas mais

. Publicado originalmente em  pelas Edições Bagaço, de Recife. Republicado em MONTEIRO, Ângelo. Escolha e Sobrevivência: Ensaios de Educação Estética (São Paulo: É Realizações, ), pp. -.

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refinadas e complicadíssimas técnicas, apenas pelo masoquístico prazer de nos abrir-mos para o mundo, numa diversão que vem nos custando não só os olhos da cara, mas a cara toda.

Somos um povo em festa, um povo que faz de sua euforia a condição final do seu pro-jeto de ser. Que não é um propro-jeto: já nascemos prontos. Ao contrário de Minerva, que já nasceu armada, surgimos justamente desarmados da cabeça aos pés. Nosso pri-meiro postulado filosófico seria o seguinte: as coisas não estão aqui para serem pensa-das; as coisas parecem não se encaminhar a nenhum destino: estão como existência apenas no hoje, num hoje pronto e acabado que é em si mesmo o seu próprio futuro. No futebol, no samba e no carnaval, já temos a senha dialética dos três estágios que não lograram sequer ser atingidos pelo nosso esforço, pois nos foram dados simultâ-nea e instantasimultâ-neamente sem nenhuma necessidade de síntese, sem nenhum percalço lógico ou metafísico. A nossa metafísica se deixa expressar pelo mais simples dos axiomas: na prática, a teoria é outra. O que significa dizer: não fomos feitos para as teorias. Contamos com uma prática, e, antes mesmo de se constituir numa improvi-sação nossa, já nasceu um dom que dispensou a conquista. Sambamos, jogamos e brincamos carnaval, logo, existimos. Não há necessidade de um projeto criador da história. Nossa história é esse rodízio constante que, todavia, redunda no mesmo. Mas nada disso importa. Eis o que nos importa: aqui não há tradição, há só presente. É como se o que houvesse de comum até agora, entre os homens, tivesse que ser revi-sado ou transmutado por uma experiência inteiramente nova de ser. Por exemplo: essa disponibilidade — ou bem mais uma docilidade que nos é nata — de aceitar e compreender tudo o que é alienígena, e só porque é alienígena, é que não nos deixa adquirir uma vida própria; pode ser um curioso sintoma da nossa mais radical dife-renciação. E tanto isso pode ser interpretado como um desencontro conosco, um repúdio às raízes, para melhor acolher o que for corpo estranho — tal se fatalmente tivéssemos que nos virar sempre no outro —, como pode sugerir ou apontar para um novo estágio de cultura sequer adivinhado por nenhum povo. O problema é saber a que isso nos leva.

Nossa disponibilidade para o outro, para o alheio, para o exterior à nossa própria con-figuração racial ou política, elimina, por princípio, qualquer barreira que os povos sempre mantiveram e sempre voltarão a manter. Não poderemos nos referir nem mesmo a uma possível barreira lingüística, por termos recebido como idioma o por-tuguês. Notamos, pelo contrário, que se os alienígenas aqui são tardos em assimilar nossa linguagem, nós aprendemos magnificamente as línguas mais exóticas, com sotaques, idiotismos e o resto, embora venhamos depois a descobrir, provavelmente deslumbrados, que não podemos ainda falar o nosso português. E quando viremos a aprendê-lo e falá-lo, se o país, que recebeu de graça a sua independência, poderá ser por dom divino, dentro de pouco tempo, haja o que houver, potência mundial? Eu, brasileiro incorrigível, um tanto xenófobo, talvez jamais venha a aprender bem uma língua alheia, embora saiba que, por isso, vá estar sujeito a terminar só nessa ope-ração. Meu país até lá pode mesmo ter adotado as línguas de todos os povos e perdido     –  –  

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inteiramente a sua. Imprevisivilmente, em contrapartida, quem sabe suceda o miracu-loso: o de falarmos ainda melhor o português depois de o termos desaprendido de todo... Somos a pátria do milagre. Duvidar da nossa inteligência seria como duvidar de uma forma de ser — a nossa — de que não existe similar em nenhuma parte. Essa ausência de similitude na experiência humana, com os outros, contribui, em compen-sação, para que adotemos todas as demais similitudes.

Mas onde ficaria a fé no milagre se o nosso grande profeta, Pero Vaz de Caminha, que foi português, não tivesse, no início da nossa história, cunhado a frase paradigmática e definida da nossa própria feição como “a terra que em se plantando tudo dá”?

Não só em música, e em jogo, e em perpétua festa, somos diferentes. Por que também não em filosofia? Se o ser não é, entre nós, algo de pensável, temos na negação básica da tragédia — e principalmente da tragédia de pensar, ou de qualquer outra trans-cendência — o nosso modo metafísico mais peculiar. Que é o tátil, o positivo, o ime-diato. O novo mundo já foi instaurado por nós, sem que nós nos déssemos ainda por conta. Quem sabe se a ausência de qualquer tradição não seja o nosso privilégio? Quem sabe, também, se o fato de sermos um povo sem memória não venha a se cons-tituir precisamente numa nova concepção do humano?

De qualquer forma, contamos com o mais buliçoso e festivo dos postulados: ser é “lavar a burra”. Este enunciado, de uma extensão incomum, possui ainda mais vasta aplicação prática por atingir não só a nossa antologia, ou a nossa mestiça antropolo-gia, mas também a ética, a política e todos os demais campos de nossa experiência humana.

“O lavar a burra” representa filosoficamente, para nós, o que em milhares de anos de sabedoria não tinha sido inexplicavelmente sancionado ainda pelo homem. O vamos lavar a burra não só nos indica o desafogo em que habitualmente procuramos fixar a nossa práxis existencial, com exclusão de todos os outros valores por acaso possíveis, mas o milagre de ser sem esforço. De um tão sumo milagre quero me constituir em profeta. Vamos “lavar a burra”, meus irmãos. Cada um a “sua” burra, é claro.

Do significado da lavação da burra

Que significa o “lavar a burra”? A entrega total a uma satisfação patente e garantida? E a quem nos entregamos por inteiro, sem tergiversações, sem recuos, sem receios e até mesmo sem decoro? Ao acaso. O acaso é a única coisa garantida com a qual conta-mos. Somos o povo do acaso. O acaso para nós é valor, porque todas as coisas refletem para nós a sua marca. A alegria dos nossos avoengos conquistadores, ao se refocilarem sobre o fruto de suas pilhagens, transmitiu-se, hereditariamente, até o nosso sangue. Essa graça de tirar o melhor partido das situações para ser o eco, em nós, do longín-    –  –  

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quo brado heróico que ficou latente nos subterrâneos de nossa raça: “vamos lavar a burra!”. Tudo tem que se ajustar, sem maiores adaptações, sem circunlóquios, sem pensares, sem delongas, pois assim o queremos, no voluntarismo dormente de quem espera em berço esplêndido.

Nada de aculturações demoradas para nossa alma receptiva a tudo, venha de onde vier. Estamos aqui, estaticamente, prontos para a pilhagem, o fruir e o gozar de todos os bens, menos como conquistadores que como conquistados das riquezas e dos dons caídos das nuvens — que nem os seguidores de Moisés a caminharem no deserto, naqueles épicos tempos, sonharam sequer. Mas não é só o maná, nem as codornizes, nem a veneranda graça que nos caem do céu. É mais do que isso: é a caça procurando o caçador, é a riqueza perseguindo aqueles que dormem, hipnotizados pela opulência de uma gigante natureza, em seu sonho superlotérico da lavação da burra.

Mortes trágicas, guerras heróicas, atitudes grandiosas: tais coisas jamais alterariam nosso Eldorado, cuja face reflete apenas a certeza tranqüila de que aqui estamos — geográfica e transcendentalmente situados de maneira estratégica para todo o sem-pre — esperando a burrinha, a qual, cedo ou tarde, irromperá entre os nossos capin-zais florescentes e plácidos e eternos.

Eis a grande inversão histórica — não pressentida por nenhuma concepção progres-siva ou cíclica do tempo — a exigir algo também que esteja para além de uma “trans-mutação de valores”, que para o filósofo alemão de Zaratustra representaria uma solução-chave para a ampliação ou a superação dos horizontes habituais do homem. Somos sobretudo ruminantes, muito mais do que supunha o admirável criador do Super-Homem. Ruminamos absolutamente tudo, numa ruminação rápida e numa digestão mais rápida ainda.

Não há tempo a perder: eis uma de nossas tábuas, diante da qual se torna pálida a sen-tença anglo-americana, “time is money”. Tempo é ouro, mesmo para nós. Radical-mente ouro. Mais que velocidade, ou eficiência, ou exigência das engrenagens sociais e econômicas, é um tempo agoniado de ser tempo. É um tempo fulminante em seu prestígio áureo, o qual não pode esperar o ver-se apenas transformado em ouro, mas apreendido em si mesmo como ouro, que pinga num escoar incessante e incontrolável que nos tonteia. Pois somos um povo entontecido pelo tempo, por um tempo que nos faz dourados, quer no pretérito — a mais linda das tradições, porque não passou de sonho —, quer no futuro — o mais exaltado porvir do universo.

Nada pode espelhar maior alma do que um vasto território, e este o temos: não preci-samos ser expansionistas, já nascemos dentro da expansão. Se Deus não nos consti-tuiu um povo eleito, deu entretanto por concluído que, mais dia, menos dia, nós o seríamos por uma lei de gravitação natural.

As coisas entre nós se resolvem no vagar ou no Sonho. E o Sonho é o nosso vagar. Por-que somos vagarosos, naturalmente o futuro nos dará por prudentes. Por já surgir-mos, por herança, abarrotados de riquezas, seremos tidos por desambiciosos por     –  –  

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índole. Por possuirmos uma vasta terra, jamais nossa vontade seria impelida a qual-quer tentativa de expansionismo. E se o próprio Deus foi tornado brasileiro, nossa condescendente misericórdia independe de qualquer religião que tivéssemos acei-tado. Será essa misericórdia um cansaço precoce de resolvermos os problemas, ainda quando estes exijam determinação ou pulso de ferro?

Em tudo e por tudo, estamos aptos a exercer nosso ministério, não só filosófico, mas poético e místico, para o qual fomos fadados: o de lavar a burra. O de lavar a burra, sim, mas quando?

De como lavar a burra

O primeiro dado para que se lave a burra é que a burra exista. Não há, entretanto, uma entidade mais intangível, que chega mesmo às raias da sobrenaturalidade. E é interes-sante reconhecer que, ainda sendo poucos aqueles que tiveram uma experiência con-creta com a burra, nada vem se tornando mais contagiante do que a necessidade de lavá-la. Somos, por todos os títulos, o povo mais metafísico do mundo, pois estamos todos dispostos a lavar a burra ainda sem sabermos o que esta seja. O número dos que a lavaram é infinitamente menor que o daqueles que guardam a esperança, que às vezes ultrapassa a morte, de lavá-la um dia.

Sobre a discussão de um tema tão impalpável, para a maioria daqueles que vivem neste Paraíso, ainda surge um problema angustiante: como lavá-la? Desconhecem-se rituais mais complicados do que os dessa lavação. Tem-se não somente que visualizar a burra, como fazer o possível e o impossível para alcançá-la. Muitos olhos estão cra-vados nela — embora, em inúmeros casos, fixos sobre o invisível. Que fazer? Funda-mentalmente ter fé, e alguma esperança: não é mister mais nada.

A faculdade de brincarmos com o tempo parece, à primeira vista, entrar em franca contradição com nossa mania quase mórbida de entesourá-lo, tal se o tempo fosse, para nós, constituído de moedas. Mas, estonteados e confusos por essa verdadeira agonia de agarrar o tempo antes que ele nos voe das mãos, estamos simultaneamente concorrendo para que as horas do calendário humano nunca sejam aquelas que nele se encontram demarcadas. Muitas vezes, deixamos de aproveitar frações apreciáveis desse mesmo calendário, as quais se esgotam inutilizadas e sem nenhuma serventia, atrasando todos os nossos encontros decisivos com o tempo, como se todas as horas e todos os minutos perdidos fizessem parte de uma poupança especial para o século das vacas magras. E como se neste exato século tivesse de irromper, numa extrema con-tradição, o próprio apogeu das vacas gordas.

Seria isso uma fé nas metamorfoses, as vacas gordas saindo das vacas magras? A mul-tiplicação dos tesouros brotando precisamente de um dissipar sem conta? Alimenta-    –  –  

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mos como que uma crença escatológica, de fundo sebastianista, na ressurreição até dos nossos tempos malbaratados. É como se, quando um dia todo tempo se esgotasse, sempre nos restasse um recurso mágico para adiar seu cadáver e sua conseqüente decomposição. Em contrapartida, vivemos apenas dentro do hoje, tal se houvesse uma elisão do próprio tempo.

De que forma conciliar essa aptidão de um povo apenas para o presente — e neste presente apenas para o agora —, como se nem o passado nem o futuro alguma vez existissem, com esse malbaratar de um tempo continuamente amputado, decepado, degolado, na maioria das suas frações? A única forma de conciliar semelhante para-doxo consiste, a nosso ver, na lavação da burra. Dentro de um tempo mais especial que o cronológico, e à parte mesmo de um sentido cósmico que nele pudesse haver, restaria um tempo que estaríamos poupando apenas para um dia: o grande dia da lavação da burra.

Talvez não estejamos preparados para o como lavá-la, mas há prodígios que poderão despertar, mesmo lançando fora a mais comezinha noção de tempo. Senão também não se explicaria o caso de sermos um povo conservador e deslumbrado, até pelo mais convencional, embora sem contarmos com espécie alguma de tradição, salvo as que achamos por bem inventar. Da mesma forma, não teríamos nossas vanguardas, mesmo sem dispormos de qualquer espécie de futuro.

Os nossos heroísmos, embora destituídos de bravatas espanholas, conseguem ser, por conta disso, mais fascinantes do que se porventura existissem. E os nossos burocratis-mos, mais convictos que os europeus ou os norte-americanos, independem até mesmo de uma complexidade que tecnicamente sequer chegamos a atingir. Além da necessidade, esse respeito, essa veneração pelo papel — como a dos nossos antepassa-dos indígenas por miçangas e espelhinhos, não tão distinta da nossa de hoje por horóscopos e pronunciamentos oficiais — talvez nos façam entender melhor por que, sendo um povo de burocratas natos, somos conseqüentemente (feliz conseqüência) um povo de poetas e, por extensão, uma matriz fecunda de todo tipo de heróis. Nosso burocratismo faz a história, daí seu dom específico em relação a outros buro-cratismos. Isso automaticamente explica o fato de constituirmos um povo de poetas: trazemos a burocracia no sangue; transformamos tudo em papel, no sagrado e vene-rado papel. E do papel irrompem, como não poderia deixar de ser, nossa miraculosa história e, com ela, todo um cortejo imprevisível de heróis. Os maiores heróis teriam de ser fatalmente os nossos poetas, em seu heroísmo, sobretudo, de não acreditarem muito no heróico de sua postura ou posição.

Nada mais inexplicável, tratando-se de uma nação tão jovem, do que essa nossa estra-nha destinação para transformar tudo em papel. Mas quem não dispõe de tradição compensa-se no sistema, na complicação, absolutamente dispensável, do que se com-preende tão bombasticamente como sistema. Tudo então se torna pretexto para regis-tros e códigos e documentos. As coisas já surgem oficiais ou oficializadas; a história já nasce empapelada para o consumo furioso dos que, no hoje, não podem dispensar a     –  –  

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doce e embaladora chancela oficial. Isso nos impossibilita de esperar o surgimento, o crescimento e a maturação de nossos líderes, ídolos ou heróis. Entretanto, achamos melhor que eles sejam importados, porque, recebendo-os já prontos, evitaremos o tra-balho de fazê-los. E não será sem uma pasmada admiração que se dirá de nós: tão jovens e tão burocratas!

A burra estará sempre à nossa espera. Mas onde? No fim da picada, lá onde tudo é possível, porque já se perdeu toda a noção do possível. Se nenhuma fada sorri sobre os nossos destinos, uma indefectível burra, lá no fim da picada, vela e sorri por todos nós.

A burra de cada um

O grande postulado “ser é lavar a burra” converte-se rapidamente em “ser é lavar a minha burra”. Não se consegue, entre nós, raciocinar objetivamente sobre uma pala-vra de extensão tão grande como “ser”. Aliás, não se consegue compreender coisa alguma quando esta é tomada em sua objetividade, pois toda objetividade nos parece ligada, de modo imediato, com um sujeito: este sujeito, particularíssimo, é cada um de nós. E tudo que consiga escapar desse particularismo tão pouco metafísico é para nós transcendência. Transcendência seria, por exemplo, imaginar uma burra que não fosse nossa, mas habitasse outras cocheiras, ou imaginá-la lavada, ainda que não seja um de nós o responsável por esta lavação.

No ato, improvável naturalmente, de cada um lavá-la, cada um por sua vez, seria obtida a noção universal de que todos objetivamente conseguiram operar o ritual da lavação. Dessa forma, seria atingida a compreensão radical de uma possibilidade, a qual, realizando-se em nós, ainda que apenas em um de nós, fez-se símbolo para todos. Vemos, portanto, elevar-se à categoria de símbolo a resposta para um caso par-ticular. As manobras que utilizamos para atender a um dado interesse: eis nossa con-cepção de universalidade, quer de uma idéia, quer de um programa, quer de uma ideologia, quer de uma arte ou mesmo de um jogo.

Uma máxima que venha interessar a todos terá que provir primeiro do nosso interesse particular. Só o fato de algo mobilizar particularmente o meu interesse pode exempla-rizar, em sua funcionalidade imediata, uma razão universal — e o que é válido para a verdade é também válido para o erro. Nossa astúcia consiste quase toda num tatear eterno em busca do pêlo dourado dessa magnificente burra com a qual jamais parare-mos de sonhar. Dessa esperança é que advêm nossa alegria, nossa efusão interminá-vel, esse desejo de se perder por um nada — ainda quando esse nada não passe de uma simples bola batendo nas traves do destino, como sucedâneo da incapacidade de

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atingirmos o objeto próprio da nossa jogada no mundo. Ou será que não estamos preocupados com isso?

Para nós, os grandes ou os pequenos preconceitos felizmente não passariam, até hoje, de ninharias; todavia, tanta liberdade de ser não nos deu ainda aquela certeza, mesmo velhaca, que fez que o filósofo Matias Aires, em sua louvação ao rei D. José, não sem uma ponta de riso, deixasse dito que ele não nasceu para reinar, já nasceu reinando. Nós também, como povo, já nascemos reinando, apenas não nos descobrimos ainda como donos desse reino. Daí o reinarmos sem saber, sempre num futuro que não ultrapassa as barreiras do presente. Sonhamos atados às peias do agora.

Ensinamos porém ao mundo uma grande lição: se nada nos resta mais do que uma burra (lembre-se de que, para os nossos ancestrais, a burra representava uma mala abarrotada de ouro), extraímos desse imponderável sentimento de posse uma ética de alcance universal, a saber, a de que todos os outros tenham o direito de lavar a sua burra.

Cada um de nós guarda, no mais abscôndito e recatado das nossas aspirações, essa legendária mala ou essa legendária burra. Porventura, mesmo não se levando em conta ufanismos de nenhuma espécie, em nós dormitam os mais ricos sortilégios, que, esperamos, os mais patriotas, não estão reservados exclusivamente para os ursos e os piratas. Enquanto isso — e aí está o desdobramento do nosso ensino ético —, aconselhamos de graça para os mortais: lave cada um a sua burra. E deixe, também, que cada um lave a sua burrinha em paz.

Nunca paremos de lembrar uma paisagem: a do fim da picada, num englobar que vai das hiléias inextricáveis aos pampas e às caatingas. Não há paisagem mais vasta para um sonho; nela, uma burra há de esperar por nós.

Da ruminação à iluminação

Há uma forma cortês com a qual costumamos tratar aqueles que pararam de disputar conosco: homenageá-los histericamente, através de lágrimas e discursos interminá-veis, de hinos laudatórios, de rezas, de coroas. Os mortos, sim, os mortos serão sempre muito pranteados; e a morte traz consigo o misterioso condão de torná-los melhores do que nunca em vida supuseram ser, ou porque souberam da sua real estatura, ou porque morreram na absoluta ignorância dela. Na realidade, nem a bondade, nem a generosidade, nem as virtudes menos exigentes se constituíram sequer na preocu-pação desses nossos tão pranteados mortos.

A bajulação, que ultrapassa até o domínio da vida mortal, encontrou todavia no elo-gio deslavado dos nossos mortos a primeira de suas respostas. A própria morte, com     –  –  

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efeito, vê-se merecedora de encômios tais como a vida nunca os teve, tudo porque menos um deixou de lavar a burra. A possibilidade, portanto, de a atingirmos tornou-se, com os que se vão ou os que se foram, muito maior. Já que a grama não vem dando para todos, disputamos agoniadamente os seus pedaços, se bem que com uma elegân-cia que caracteriza tão vivazmente nossa formação.

Se a bajulação, não só àqueles que morrem mas também àqueles que vivem, transfor-mou-se numa instituição nacional, isto se deve, entre outros fatores, principalmente a dois: a de não se quebrar a corrente que nos liga à ancestralidade — porque foi baju-lando que nossos avós nos legaram a herança de hoje — e a de nos perpetuarmos, ainda que equivocadamente, na memória dos outros. A bajulação, em sua estranha misericórdia, parece impossibilitar ou adiar sempre a certeza inquestionável de nossa morte. Dessa forma, chegamos à última agonia sem percebermos, quiçá muitas vezes, que não mais pertencemos à mundana vida.

A bajulação constitui-se num logro da vida contra o logro da morte. Tal metafísica, que a justifica perante os nossos olhos, evitando-nos o escrúpulo e o remorso, explica provavelmente por que somos tão pródigos no elogio aos nossos mortos: por nos dei-xarem livre o caminho para que lavemos a burra, e também por nos permitirem agradecermos, pela nossa memória, à posse tão cobiçada de tão grande bem.

Felizes daqueles que não mais vão lavar a nossa burra — pensa com certeza cada um de nós. Porque a burra é, por princípio, nossa. Protágoras, que era grego, doutrinava que o homem é a medida de todas as coisas. Nós, que somos brasileiros, colocamos no nosso eu todo o peso dessa medida.

Mais felizes do que aqueles que se foram, seremos nós, os que ficamos, nós que conta-mos com a sorridente perspectiva de voltar nossos olhos para o infinito horizonte em que se delineia, mítica e mascarada, a eterna promessa de todos os dias: não o sol, nem a lua, mas a burra.

Alguns, principalmente os norte-americanos, olhariam embasbacados para um disco voador, tal se fora uma deidade projetada sobre os céus. Nós, mais modestos, divisa-mos, na promessa da burra, o objeto da nossa mais áurea conquista. E no maior pasto, ao qual não faltará capim, onde fartos, ao ruminá-lo, atingiremos a Iluminação. O Satori. O Nirvana. O Paraíso. Tal como Nabucodonosor, o sábio rei, o alcançou. Numa súmula, finalmente, da nossa mútua e eterna bajulação — única arma de defesa encontrada para suportarmos um futuro que não vem —, ruminamos assim nossa miséria e dela sairemos, de qualquer forma, com o sonho da Fartura, pois a esperança existe para essas coisas.

Corpo descoberto, alma penada

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Pequenos e grandes, quase todos, numa antecipação metafísica, forçam a apropriação das coisas antes que elas cheguem pelas vias previsíveis e naturais. Assim se explica por que mais da metade dos nossos lavadores tenham chegado à lavação de uma burra que, afinal, lhes enlouqueceu a cabeça. Dessa forma, os nossos maiores conse-guiram, até hoje, lavar a burra. Não canonicamente, absolutamente fora dos cânones. Não a burra, mas o sucedâneo dela. Veja-se até que ponto a metafísica nacional ultra-passa limites, mesmo sem tê-los como ponto de partida, mesmo sem saber que eles existem, e antes mesmo da necessidade de ultrapassá-los.

O roubo, qualquer roubo, passa por uma atividade lúdica, nada criminal. Roubar, fraudar, extorquir, com ou sem eufemismos, é atividade, entre nós, principalmente dos que não têm fome. E por quê? Porque a fome de lideranças não leva em conta a fome primária e elementar dos que precisam de pão para sobreviver no mísero e ine-vitável plano biológico. É uma fome, a deles, que quer fraudar outra fome: a dos que não queriam estar pilhados. Um autoritarismo plebeu parece constituir a base de espí-rito dos que, não se sabendo plebe por escolha própria, desejam apenas dominar. E sem conhecer o espírito da grande plebe, bem como suas carências e contradições, abocanham uma nobreza para a qual não nasceram nem foram preparados. Abaixo que são da pequena e da grande plebe. Abaixo de si mesmos.

Mas a burra vai longe, a burra vai muito longe. A burra não chegará a lugar algum? Quem a encontrará, se os maiorais da taba começaram por exercer a pilhagem dos que nunca conseguiram ver a burra nem em sonho? A pilhagem dos que nada têm para ser pilhados? O resultado é o mais curioso: a taba passa fome para que seus caci-ques e pajés se locupletem.

Tais caciques e pajés forçam revoluções, à direita e à esquerda, que apenas retrogra-dam o tempo da taba. São liberais sem respeitar a liberdade; são autoritários desco-nhecendo o que significa autoridade. Os caciques e os pajés enlouqueceram, e a taba, toda taba, ficou muda: os primeiros não sabem de ideal; os segundos não sabem de pão. Terminou-se cruelmente por lesar os direitos da burra — essa entidade metafísica que, como os deuses, necessita tanto da nossa compreensão e, principalmente, de se sentir conhecida como burra. Que a clemência dos nossos deuses, que são tantos, os ajudem — aos caciques e aos pajés — numa coisa: a se afundarem cada vez mais. Que lhes valha o prestígio ilusório da taba e o nada de uma auréola que não convencerá a mais ninguém.

Criaram marginais, mas não conseguem entendê-los. Aumentou-se, com isso, o número dos marginais involuntários da burra, o que não impede que ela continue sendo sonhada por aqueles que verdadeiramente a merecem. Aqueles que, sonhado-res perpétuos das loterias, desmilingúem-se no nada de suas vidas desamparadas para acolher o resultado que eles, os maiorais, apenas esperam para si próprios. Cinismo

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contraditório — estão se negando, os caciques e os pajés, à imagem que de si pretende-ram fazer para que uma taba faminta os aplaudisse.

Conclusão: a burra, a grande burra, morrerá sem ser entendida. Nem achada será, o que é muito pior.

A subserviência e suas divisões

A primeira das nossas subserviências é ao tempo. A última moda, uma vez instalada, adquire a consistência dos ditames milenares. Quanto ao passado, retém-se apenas o que houve ou possa ainda haver nele de repetitivo. Assim como o último cacoete se torna dono da situação, uma cólica do passado passa a comandar as nossas vidas. Chamemo-la, pois, de subserviência temporal.

A segunda das nossas subserviências, que se entronca na primeira, é a subserviência antológica. Um soneto cretino do passado, ou uma modinha da mais baixa categoria, agarra-se visgosamente à nossa sólida memória nacional — aliás, memória sem memória —, como remos presos às costas dos condenados às galés, sem que possa-mos nos desvencilhar de semelhante feitiçaria. Um poeta brasileiro, que um dia cis-mou de cantar as pombas, está hoje sentenciado, por toda a eternidade, pela maldição de jamais desprender tais pombas de sua vida. Ai dos condenados às antologias! Ai das pombas ou das cigarras que não morrerão jamais! Entre as condenações, talvez não haja pior, nesses casos, do que se estar condenado a não ser esquecido, pois o esquecimento também salva. Mas é dessa forma que muitos lavam a burra entre nós. Por uma nada não são poucos os que chegam à glória eterna; por um tudo, ao contrá-rio, muitos se defrontam com seu próprio sepultamento sob as dunas do esqueci-mento e da morte.

A terceira das nossas subserviências é ao exterior. Basta um débil mental cruzar o Atlântico, em demanda de outros ares, para ganhar entre nós a estatura de gênio. A rendição dos nossos ao que for de fora nos permite a indizível graça de jamais atingir-mos o conhecimento de nós mesatingir-mos. Só nos rendeatingir-mos, fora disso, ao que houver de pior dentro da nossa formação. Norma da subserviência do exterior: ser sempre no outro aquilo que não conseguimos ser para nós próprios.

A quarta das nossas subserviências é à convenção de respeitabilidade. Fazer-se res-peitável, ou parecer resres-peitável, veio a constituir-se na ânsia suprema do nosso espí-rito. A sanção acadêmica, as glórias adquiridas, à dura força, pela autolouvação ou lavação grupal: assim se alcança o remate da nossa trajetória existencial. Essa é a sub-serviência ao respeitável.

A quinta das nossas subserviências é o culto do chefe, seja qual for o chefe, mesmo     –  –  

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sem ser chefe de jeito nenhum: ser chefe é, de certo modo, participar da divindade. Rir e chorar com o chefe: tal a norma de tal subserviência, a subserviência ao chefe. Os múltiplos coronelismos regionais, transplantados para as letras, as ciências e as artes, encarregam-se de fazer o resto até culminar na transformação do culto do chefe em dogma, jamais periclitante ou moribundo. Dessa forma, não poucos têm deixado de lavar a sua burra. O chefe está em tudo, multiplicado em chefes, embora não haja chefe algum. De um ponto de vista teológico, teríamos a diluição do chefe nos chefes. A infinita multiplicidade deles terminou por gerar uma espécie de panteísmo do chefe. Outras espécies de subserviência podem se considerar ramificações das cinco formas assinaladas. Essa subserviência ampla, total, abissal — com suas frentes, seus acordos, suas miscigenações ideológicas, etc. —, não seria a nossa forma de nos inclinarmos metafisicamente à totalidade do real que até agora conseguimos apreender?

Esse desejo de lavar a burra, de qualquer jeito, não seria ainda, de nossa parte, uma tentativa de ratificar, pela continuidade da rotina — aqui adorada como um deus ou como o perpétuo devir —, o preceito áureo do deixa-disso ou do deixa-pra-lá, para ver de que jeito a coisa um dia fica? Lavemos a burra, irmãos. E viva a nossa inocência!

A subserviência: uma coluna

Tudo se mantém por meio dela, a subserviência: nada se altera nem se transforma, porque a subserviência, da qual todos terminam por depender, coluna que é de todo o organismo e sustentáculo de todos os órgãos, garante a eternidade ou, pelo menos, a longevidade de nossos sistemas e instituições. De sistemas e instituições gastos pelo cupim, que, no cupim, insistem em permanecer. Ainda não entenderam, compensa-toriamente, a abertura do capim, que, em seu verde, pode salvar e renovar. Uma burra invicta e incólume espera, viridente sobre o verde, a explosão do caos ou da ordem, e não sabe qual das duas explosões virá. Salvemos, então, a burra. A burra, nossa espe-rança, deve ser salva.

Uma taba tão religiosa como a nossa parece rejeitar os famintos do capim. E da ale-gria. Tudo porque os caciques e os pajés, vendo que o capim vai se tornando mais caro, por mercê deles mesmos, contam com uma alegria que não pode irromper: a alegria dos famintos de pão que aspiram, pelo menos, a ter direito ao capim. E viva a taba, e viva a alegria! Mas como? Salve-nos, Senhor de todas as tabas, se o capim ficar mais caro que o pão! Salve-nos antes do pão que do capim! Que pão não há mais. E se não houver mais capim?

A subserviência não nos deixa, porém, e a burra vai se tornando mais distante e mais inatingível. A taba, cada vez mais magra, esta não atina em que direção seguir. Os     –  –  

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caciques e os pajés, cada vez mais atarantados, não sabem que destino dar à tribo. E nós, o que haveremos de saber?

O Nada? Mas o Nada não pode interessar aos que exigem o tudo: a burra. E ninguém consegue estar abaixo do Nada. Abaixo da baixeza, que existirá? E como, por outro lado, ela, a baixeza, irá se ultrapassar? Pode? Se puder, o que faremos da grandeza dos pastos que, por tantas preces, e tantos desejos, e tantas náuseas, e tantas crises, ainda não atingimos? Reconciliemo-nos com o Divino. E o Divino será a burra de todos nós, uma burra — essa caixa de Pandora — que está ainda mais acima da burra de cada um.

Nossos avatares e nossos guias, porém, cada vez mais raros, quando não invisíveis, que aspiram, junto com tais deuses, a colaborar com a nossa salvação, estes não dispõem de meios — porque nos recusamos — de salvar ninguém. Não queremos a salvação e queremos nos salvar. Como pode ocorrer semelhante contradição? Essa burrice que contraria à burra? Que contraria não só ao divino, mas ao humano e ao animal que há na burra?

Como crer no Divino, se dependermos apenas de um humano que está abaixo do capim que lhe é prometido? Como, por outro lado, crer no humano, se este se recusa ao Divino? Por que o Divino, sem o humano, que pode senão recusar? Como crer no Humano e no Divino, se não há chefes nem súditos; se a espinha do Homem se que-brou e não alcança, a essa altura, sequer dobrar-se para o Divino?

A burra está abandonada: nem o homem nem Deus, ainda que à força, poderão ajudá-la. Quebramo-nos. Que fazer? Viva a burra que se perdeu!

A burra e a cansada inocência

Ai da cansada inocência dos que emergiram da senilidade mesmo sem ter conhecido a infância, e que viram naquela a verdadeira face de sua origem. Ai dos que nasceram lúcidos antes do tempo para que assim, bem lúcidos, soubessem apenas o quanto vale o não-saber. No torto, amar o torto, mesmo sem a ânsia de endireitá-lo. Mas como? Nascer-se cego para depois ver na cegueira o sucedâneo da luz do olhar? E, nessa tra-jetória, a nossa história é sempre um logro. Comemos um capim que as alimárias mais remotas rejeitaram, e o nosso futuro se endereça a uma burra que não conhece-mos. Tanto melhor: o nome disso é mito. Para os que nunca o tiveram, é mito tudo o mais.

Vestimo-nos da ausência de todos os carnavais imaginários, sem que pudéssemos ainda conhecer o nosso próprio carnaval. Alegramo-nos de uma alegria alheia e nos entristecemos com uma alegria que poderia ser nossa. A tal desacerto chamamos     –  –  

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festa, e numa alma, entregue aos ventos mais dispersos, menos à atmosfera que lhe seja própria, vemos a síntese da liberdade. Dessa forma, desenvolvemos nossa espe-rança: na negação como forma de fé; na promiscuidade como princípio de caráter; na barganha da própria alma como essência do nosso futuro de indivíduos e de povo. Nascemos velhos, e isso para nós é ter futuro. Futuro é o que não nos falta: possuímo-lo até demais. Será pela vantagem de nascermos velhos que a nossa tolerância jamais se quebra, ainda diante do que nos espolie, nos deforme e nos degrade? Só estranha-mos a nossa própria face. Esta parece ser a nossa fundamental estranheza. Tiveestranha-mos alguns Canudos — e isso há muitos, muitos anos —, mas para nos contentar basta macunainamente o selo na carne de um herói sem caráter.

Eis a forma que encontramos de ultrapassar a jamais aceita miscigenação: dispensa-mos o caldeamento que produz a têmpera. Dispensadispensa-mos, portanto, a têmpera. A nós só nos interessa a misturação: só não quisemos nos comprometer com a diferença, a nossa diferença. Pois o nosso marco é líquido, e em água se derrete o nosso sangue. Pois a água fará crescer mais ainda um mar que não é nosso, para que, nos embe-bendo mais a mais, dessa água nos afoguemos todos.

Dançamos, pobre íncolas, o nosso furor perante uma fogueira extinta: a nossa taba. Dançamos, cada vez mais absortos, julgando que as suas chamas ainda brilhem. A isso nos conduziu o nosso sonho: sonho de uma burra que não chega nunca nem acaba mais. Se observarmos um pouco, porém, não são nossas as tangas que nos cobrem o corpo, nem os cocares que nos enfeitam a cabeça, nem as danças que nos movimentam os membros — nem mesmo o tacape é o de nossas guerras.

Enquanto estávamos dormindo, irônicos duendes, para os quais alargamos desme-didamente o cachimbo da paz, mudaram não só os nossos gestos, mas até as nossas formas; deram-nos até outra carne e outro sangue. Pensamos ainda existir, e essa é nossa única vantagem. Quem sabe se também mudaram a cor da nossa burra? Para os que ainda pastam, sempre há de restar uma esperança.

Recife, junho a julho de .

Referências

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