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LIGAÇÕES ENTRE O CRIME ORGANIZADO E O TERRORISMO NO BRASIL: HEZBOLLAH EM ESTUDO DE CASO

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LIGAÇÕES ENTRE O CRIME ORGANIZADO E O

TERRORISMO NO BRASIL:

HEZBOLLAH EM ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: TC Gilberto de Souza Vianna.

Rio de Janeiro 2018

(2)

Este trabalho, nos termos da legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG

_____________________________

Marcelo Barbosa Lima Gasse

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Elaborada por Alessandra Alves dos Santos – CRB-7/6327

G251l Gasse, Marcelo Barbosa Lima.

Ligações entre o crime organizado e o terrorismo no Brasil / Coronel de Infantaria Marcelo Barbosa Lima Gasse. - Rio de Janeiro: ESG, 2018.

45 f.: il.

Orientador: Tenente-Coronel do Quadro Complementar de Oficiais Gilberto de Souza Vianna.

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2018.

1. Terrorismo. 2. Crime organizado. 3. Radicalização de presos. 4.Lei de combate ao terrorismo. I. Título.

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A todos da família que durante o meu período de formação contribuíram com ensinamentos e incentivos.

A minha gratidão, em especial à minha esposa e filhos – Shirley, Pedro e Camila, pela compreensão, como resposta aos momentos de minhas ausências e omissões, em dedicação às atividades da ESG.

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Aos meus professores de todas as épocas por terem sido responsáveis por parte considerável da minha formação e do meu aprendizado.

Aos estagiários da Turma Ética e Democracia, melhor Turma da ESG de todos os tempos, pelo convívio harmonioso de todas as horas.

Ao meu orientador Ten Cel QCO Gilberto de Souza Vianna pelos ensinamentos e orientações que me fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil com a responsabilidade implícita de ter que melhorar.

(5)

A eficiência é uma relação técnica entre entrada e saída.

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Esta monografia aborda o tema terrorismo como um problema social de abrangência mundial. Investigará a existência de grupos terroristas islâmicos no Brasil em ligação com o narcotráfico, e como ocorre a ligação, além de levantar as principais consequências para a Segurança e Defesa Nacional. O trabalho proposto ficará restrito a estudar as possibilidades de ligação entre o crime organizado no Brasil e o radicalismo religioso islâmico, bem como suas consequências para a Segurança e a Defesa Nacional. Para tanto, será analisada a Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016 – lei de terrorismo do Brasil – a fim de indicar o entendimento jurídico acerca do tema, pesquisa bibliográfica, focando em legislações nacionais e internacionais, autores que estão acompanhando o desenvolvimento do fenômeno terrorismo e publicações em mídias especializadas que permitam analisar a intensificação do fenômeno do terrorismo global e a consequência de se possibilitar o contato destes criminosos radicalizados com os criminosos comuns ligados ao crime organizado das grandes cidades brasileiras. Os principais focos serão: definir terrorismo e narcotráfico; levantar as rotas de tráfico de drogas e armas onde exista a presença de elementos radicalizados (terroristas); caracterizar o sistema prisional brasileiro; propor medidas para uma política de prevenção. A conclusão indica ações positivas a serem desenvolvidas e cuja implementação poderia contribuir para a formulação de uma proposta de reforma da Lei de Execução Penal capaz de mitigar a possibilidade de surgimento de grupos radicalizados no interior do sistema carcerário brasileiro.

Palavras chave: Terrorismo. Crime organizado. Radicalização de presos. Fragilidade

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This monograph deals with terrorism as a social problem of global scope. It will investigate the existence of Islamic terrorist groups in Brazil in connection with drug trafficking, and how the connection occurs, in addition to raising the main consequences for National Security and Defense. The proposed work will be restricted to studying the possibilities of linking organized crime in Brazil with Islamic religious radicalism, as well as its consequences for Security and National Defense. In order to do so, we will analyze Law No. 13,260 of March 16, 2016 - Brazil's terrorism law - in order to indicate the legal understanding on the subject, bibliographic research, focusing on national and international legislation, authors that are following the development the phenomenon of terrorism and publications in specialized media that allow the analysis of the intensification of the phenomenon of global terrorism and the consequence of making possible the contact of these radicalized criminals with the common criminals linked to the organized crime of the great Brazilian cities. The main focuses will be: to define terrorism and drug trafficking; to raise the routes of trafficking in drugs and weapons where there are presence of radicalized (terrorist) elements; characterize the Brazilian prison system; propose measures for a prevention policy. The conclusion indicates positive actions to be developed and whose implementation could contribute to the formulation of a proposal for reform of the Criminal Execution Law capable of mitigating the possibility of the emergence of radicalized groups within the Brazilian prison system.

Keywords: Terrorism. Organized crime. Radicalization of prisoners. Fragility of the law

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FIGURA 1 Rotas das drogas produzidas pelos países andinos ...25

QUADRO 1 Cotação da cocaína em 2010 ...25

FIGURA 2 Rota do tráfico de drogas no Brasil ...26

FIGURA 3 Litografia da penitenciária de Cherry Hill, Filadélfia ...32

QUADRO 2 Organização Interna do DEPEN ...40

GRÁFICO 1 Tipos de estabelecimentos de acordo com a destinação originária .41 GRÁFICO 2 Evolução populacional prisional, vagas e déficit de vagas entre 2000 e 2016...42

GRÁFICO 3 Quantidade de vagas e pessoas privadas de liberdade por tipo de regime ou natureza da prisão...42

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ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

CF Constituição Federal

CNPCP Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária CNJ Conselho Nacional de Justiça

CO Crime Organizado

CV Comando Vermelho

DEPEN Departamento Nacional de Política Penitenciária EUA Estados Unidos da América

FARC Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia GLO Garantia da Lei e da Ordem

HRW Human Rights Watch

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LBD Livro Branco de Defesa

LEP Lei de Execução Penal MPF Ministério Público Federal

ONU Organização das Nações Unidas ORCRIM Organizações Criminosas

OSP Órgãos de Segurança Pública PCC Primeiro Comando da Capital PND Política Nacional de Defesa PT Partido dos Trabalhadores TFS Tríplice Fronteira Sul

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1 INTRODUÇÃO ... ..9

2 ABORDAGEM TEÓRICA DE TERRORISMO E DE NARCOTRÁFICO ... 13

2.1 TERRORISMO ... 13

2.2 NARCOTRÁFICO ... 15

2.3 SISTEMA LEGAL VIGENTE RELACIONADO AO CRIME DE TERRORISMO ...17

2.3.1 Tipificação do terrorismo ... 19

2.4 PERSPECTIVAS FENOMENOLÓGICAS DO “NOVO TERRORISMO” ... 21

3 AS ROTAS DO TRÁFICO: ONDE O CRIME E O TERRORISMO SE ENCONTRAM ... 24

3.1 O TERRORISMO E OS CRIMES TRANSFRONTEIRIÇOS... ...27

4 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO: LOCAL DE CUMPRIMENTO DE PENA OU DE TROCA DE EXPERIÊNCIAS...31

4.1 INSTITUIÇÕES RESPONSÁVEIS PELA POLÍTICA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO...37

4.2 EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA NO BRASIL...40

4.3 A RADICALIZAÇÃO DOS PRESOS...43

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1 INTRODUÇÃO.

O terrorismo se constitui em um dos fenômenos mais inquietantes dos tempos atuais e que vem desafiando governos e sociedades. Observamos estarrecidos o crescimento de atentados contra pessoas, instalações civis, órgãos governamentais em quase todos os continentes e que, em última análise, vem provocando uma mobilização mundial no combate a esse fenômeno mundial.

O II ENCONTRO DE ESTUDOS DE TERRORISMO, realizado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI/Pr) esclarece que:

O terrorismo não é um fenômeno exclusivo dos nossos dias. Sua história é secular, com numerosas variações de ideologia, estilo, escopo, proporções e violência. O que antes não passava de focos localizados dessas manifestações radicais, converte-se hoje numa ameaça global e interligada, desconhecendo fronteiras geopolíticas e quaisquer outras limitações previsíveis pela mente humana. (BRASIL, 2004).

Recentemente a sociedade brasileira vem observando mais preocupada a crise que se instalou no Sistema Penitenciário Nacional. Somado a esse cenário, o crime de terrorismo vem se alastrando em todos os continentes e atingindo, principalmente os atores globais com maior destaque mundial.

Em um passado recente o Brasil foi palco de vários grandes eventos. Ao longo desses eventos houve uma sinergia muito grande entre os Órgãos de Segurança Pública (OSP), Forças Armadas, Ministério Público Federal (MPF), Judiciário, na prevenção e combate ao terrorismo, tendo como consequência a prisão de algumas pessoas e que se encontram em presídios federais.

Observamos estarrecidos o crescimento de atentados contra pessoas, instalações civis, órgãos governamentais em quase todos os continentes e que, em última análise, vem provocando uma mobilização mundial no combate a esse fenômeno.

O Estado Brasileiro demonstrou sua preocupação com o tema por meio dos seguintes documentos, quais sejam, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), através dos seus artigos 4º, Inciso VIII; 5º e inciso XLIII; além do Livro Branco de Defesa onde traz o seguinte comentário:

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Na esfera internacional, o Brasil atua conforme os princípios elencados no art. 4º da Constituição Federal: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político (BRASIL, 2016).

A despeito disso, o Brasil passou por um longo período sem produzir algo significativo a respeito do tema. Contudo em 16 de março de 2016, a Presidência da República, por meia da Casa Civil, promulgou a Lei Nº 13.260 que regulamenta o disposto no inciso XLIII do Art 5º da CF/88. Nesta norma o Art 2º, desta Lei estabelece que:

O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública. (BRASIL, 2016)

Não por acaso, essa lei surge às vésperas do Jogos Mundiais de 2016, realizados no Brasil, mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro. Este arcabouço jurídico surge em função de pressões internacionais, uma vez que, vários países teriam representações nos referidos Jogos Olímpicos.

Essa lei proporcionou que as várias agências internacionais de prevenção e de combate ao terrorismo interagissem com a troca de dados e informações, contribuindo para que não ocorresse nenhum atentado ao longo dos jogos e, ainda, possibilitou à Polícia Federal prender treze suspeitos nos estados do Amazonas, Ceará, Paraíba, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Rio Grande do Sul que utilizavam as redes sociais para fazer apologia ao Estado Islâmico e planejar atentados terroristas no Brasil durante as olimpíadas. Conforme veiculado pelo jornal on-line Folha de São Paulo (https://bit.ly/2FBqHE9).

Outro problema preocupante foi o surgimento de um novo fenômeno criminal que a bibliografia encontrou duas definições: o terrorismo criminal e terrorismo criminoso.

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Na década de 1990 o jornalista Carlos Amorim, reproduziu em seu livro Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado, a seguinte fala de Willian da Silva Lima, conhecido por “Professor”, um dos fundadores do Comando Vermelho:

Conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu: o apoio da população carente. Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente elas serão três milhões de adolescentes que matarão vocês – a polícia – nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões e adolescentes e dez milhões de desempregados em armas (AMORIM, 1994, p. 190).

Como assevera Santos Filho e Dantas (2017, p.6), desde então o mundo experimentou uma rápida evolução do fenômeno da violência e dos crimes relacionados ao narcotráfico, em função do agravamento dos problemas socioeconômicos e do crescimento desordenado dos grandes centros urbanos.

No bojo desse crescimento, os grupos criminosos se organizaram fazendo surgir os termos ORCRIM e CO, protagonizados pelo Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro e pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo.

Em 2006 o PCC fez uma demonstração da sua capacidade de planejamento, organização e comando e controle realizando simultaneamente mais de 40 (quarenta) ações contra o Poder público de São Paulo. Ainda, segundo Santos Filho e Dantas:

os recentes episódios ocorridos nos diferentes presídios entre 2016 e 2017 evidenciaram o grande poder dessas ORCRIM, pois a disputa entre o PCC e o CV pelo controle do tráfico de drogas e das penitenciárias levaram o País a uma grave crise na segurança pública, tendo como consequência o emprego das Forças Armadas em Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e de varreduras em presídios (SANTOS FILHO e DANTAS, 2017, p.6).

Os problemas não param por aí, o jornal Correio Braziliense em 2017 publicou reportagem em que afirma que “a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da

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Capital), baseada em São Paulo, faz negócios com o grupo terrorista Hezbollah, sediado em Beirute, no Líbano” (LUCCA, 2017).

Ainda, segundo o jornal, na opinião de Diógenes Lucca, Coronel da Polícia Militar de São Paulo, “o PCC e o Hezbollah consolidaram uma espécie de aliança empresarial”:

A parceria do crime organizado com essas facções terroristas já é dada como certa. O crime organizado tem feito quase que uma

joint venture, ou seja, uma parceria com o terrorismo para

aproveitar as mesmas rotas clandestinas de tráfico de drogas e armas em benefício mútuo (LUCCA, 2017).

Desta forma este trabalho pretende realizar um estudo científico com o objetivo de investigar a existência de grupos terroristas islâmicos no Brasil, suas ligações com o narcotráfico, além de levantar e as principais consequências para a Segurança e Defesa Nacional.

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2 ABORDAGEM TEÓRICA DE TERRORISMO E DE NARCOTRÁFICO

2.1 TERRORISMO

O terrorismo não é um fenômeno exclusivo dos nossos dias. Sua história é secular, com numerosas variações de ideologia, estilo, escopo, proporções e violência.

Ao longo do tempo o ocidente vem confundindo terrorismo com extremismo religioso, principalmente com o extremismo islâmico. Este extremismo tem suas raízes na negação, não aceitação da crescente influência da cultura ocidental no mundo islâmico, principalmente a cultura norte-americana.

Após a 1ª Guerra Mundial, os países vencedores assumiram a direção de países do Oriente Médio e África por muitos anos. Nesta divisão, Reino Unido passou a ter o controle do Egito, Iraque, Jordânia, Israel, Palestina e Arábia Saudita, e a França colonizou o norte da África, o Líbano e a Síria. Somente após a 2ª Guerra Mundial, os EUA iniciaram sua política intervencionista de maneira mais marcante, promovendo golpes de estado em países onde os governos não se alinhavam com a sua política externa, além de iniciarem o incremento de sua indústria bélica.

A reação à vários anos de intervenção americana teve início em 1979 com a Revolução Iraniana, quando da deposição do Xá Mohammad Reza Pahlevi, que transformou o Irã, que até então era uma monarquia autocrática pró-Ocidente em uma república islâmica teocrática sob o comando do Aiatolá Ruhollah Khomeini.

Outro fato marcante nessa trajetória de reação islâmica foi a Guerra do Afeganistão, 1979, quando tropas Soviéticas invadiram o Afeganistão, e que contou com os americanos apoiando os Mujahidins no fornecimento de armas e treinamento militar. Além das duas Guerras do Golfo que resultaram no que conhecemos hoje como terrorismo extremista islâmico. Entretanto, a percepção de demonização ocorreu de maneira mais intensa depois do ataque às Torres Gêmeas que fizeram o ocidente perceber o surgimento do Estado Islâmico do Iraque que atuava com extrema violência contra seu próprio povo.

Segundo Lewis (2009), a pessoa central e maior pensador islâmico foi Sayyid Qutb, membro da Irmandade Muçulmana, responsável pela morte do Presidente egípcio Anwar Al Sadat em 1981 e por conta disso, considerada um grupo terrorista pelo Departamento de Estado Americano.

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Para Wolozyn (2017), apud Rato (2011), Sayyid Qutb acreditava que o mundo islâmico estava deixando de ser legitimamente islâmico porquê a Sharia não era considerada como única fonte do direito e da organização política, dessa maneira o Estado moderno estava destruindo a identidade islâmica.

Segundo alguns autores, o extremismo islâmico é uma ideologia política que se fundamenta em três pilares, quais sejam: antimoderna, antissecularista e antiocidental, e tem por objetivo transformar o indivíduo em muçulmano observante radical e a sociedade em uma comunidade religiosa.

Importante considerar dois pontos nessa ascensão do extremismo islâmico. O primeiro foi a Revolução Iraniana, em 1979, que derrubou uma monarquia, considerada corrupta pró-ocidente, que era liderada pelo Xá Reza Pahlevi e levando ao poder o Aiatolá Khomeini. A Revolução fez surgir um Estado Teocrático, baseado nas leis corânicas que retomou valores, tradições e a cultura islâmica, que havia sofrido tentativa de ocidentalização pelo Xá Reza Pahlevi.

Segundo Wolozyn (2017), o Aiatolá Khomeini pretendia criar um Estado Islâmico no norte da Líbia com a união de todos os estados islâmicos, além de pregar a destruição do Estado de Israel, desta forma motivou o surgimento de grupos radicais, especialmente os xiitas, no Líbano, na maioria dos países islâmicos do Oriente Médio e na África.

O segundo ponto importante foi a guerra entre a União Soviética e o Afeganistão (1979 – 1989). Graças a essa guerra, várias correntes islâmicas de todo o mundo se uniram para combater os Soviéticos.

Esses guerreiros eram recrutados em nome da jihad – guerra santa – e contaram com forte apoio financeiro e ideológico da Arábia Saudita. O Paquistão, formou as

madrassas – centros de treinamento – e os americanos forneceram treinamento e

armamento através da CIA.

Além desses dois fatos históricos importantes, Viola contribuiu afirmando que o crescimento do radicalismo ocorreu também em função do crescimento Hezbollah no Líbano com apoio do Irã e que teve como fato marcante o atentado terrorista de 1983, que resultou em mais de duzentos marines norte-americanos mortos. Ronald Reagan, presidente dos EUA, decidiu retirar suas tropas do País, estratégia que foi interpretada pelo Oriente como uma fraqueza do Ocidente, e nessa linha de raciocínio bastava atacar incessantemente que ele se retiraria. Tal atitude, pode ter sido um dos motivos pelos quais vários atentados terroristas se sucederam com tanta violência.

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2.2 NARCOTRÁFICO

O narcotráfico é uma atividade ilícita praticada para a comercialização de drogas ilícitas. O narcotráfico se utiliza de um poder paralelo, fundamentado em uma economia ilegal, os quais abalam a estrutura político-administrativa da região, além de gerar violência e corrupção, em função da presença do crime organizado. Hoje em dia, o narcotráfico representa um negócio altamente rentável, o que dificulta as ações das autoridades que pretendem combate-lo.

Este delito se caracteriza se utilizar de uma sofisticada infraestrutura, composta por aeroportos, armazéns de carga, laboratórios, armamentos modernos e pessoas altamente especializadas, dentre outros. Todo esse esquema é protegido por um grande aparato, pessoas preparadas e altamente armadas. Em função disso, ele tornou-se um problema mundial. Diversos países da América Latina lideram o ranking do narcotráfico mundial, entretanto, a Colômbia é o principal centro de comando dessa atividade e o maior produtor mundial de cocaína.

Como reflexo, nos últimos anos diferentes ondas de violência associadas ao narcotráfico assolaram o Brasil e o mundo. Neste contexto, cumpre destacar dentre as principais ondas, as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas – Exército do Povo na Colômbia (FARC), o ataque do Primeiro Comando da Capital (PCC) em maio de 2006 em São Paulo, o ataque do Comando Vermelho (CV) em dezembro de 2006 no Rio de Janeiro, a Guerra do Rio de Janeiro contra as Organizações Criminosas (ORCRIM), e mais recentemente, a Crise no Sistema Penitenciário Brasileiro ao final do ano de 2016 e início do ano de 2017.

Segundo o relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (2008, p. 12), o tráfico de drogas, o crime organizado transacional, o tráfico de armas e a lavagem de dinheiro se tornaram partes essenciais do terrorismo, o qual tem aumentado a sua presença no mundo do crime. A relação entre suas técnicas e recursos potencializa os danos de suas ações, particularmente por causa dos significativos lucros obtidos com o narcotráfico.

Nesse sentido, o mundo experimentou um rápido crescimento da violência e dos crimes relacionados ao narcotráfico a partir da década de 1990, em razão do

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agravamento dos problemas socioeconômicos e do crescimento desordenado das populações nos grandes centros urbanos. No Brasil, a taxa de homicídios aumentou 14% por 100 mil habitantes entre os anos de 2006 e 2016, sendo considerado um dos mais consistentes indicadores desse incremento da criminalidade.

Figura 1

Fonte: Atlas da Violência 2018/ Ipea e FBSP

Nesse contexto, para Souza, grupos criminosos organizaram-se para cometer ações violentas contra a população. Em razão dessa reunião surgiram novos termos como ORCRIM e CO, bem contextualizados pelo CV no Rio de Janeiro e pelo PCC em São Paulo, dentre os mais conhecidos. Essas ORCRIM surgiram dentro de presídios nos respectivos estados. O recrudescimento da ORCRIM paulista se deu em maio de 2006 e expôs para todo país a gravidade do problema, em razão da capacidade de organização, coordenação e controle, pois eclodiram simultaneamente mais de 40 (quarenta) ações contra o Poder Público em São Paulo. Nessa ocasião, penitenciárias, instalações da polícia civil e militar, policiais fora do serviço, bancos e o sistema público de transportes foram alvos das investidas do CO (2006, p. 20).

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Os recentes episódios ocorridos em diferentes presídios brasileiros ao final do ano de 2016 e início de 2017 evidenciaram o grande poder dessas ORCRIM, pois a disputa entre o PCC e CV pelo controle do tráfico de drogas e das penitenciárias levaram o País a uma grave crise na Segurança Pública, tendo como consequência o emprego das Forças Armadas em Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e de varreduras em presídios.

Subsidiariamente, verifica-se a dificuldade das autoridades brasileiras de combaterem essa mazela em um território que apresenta dimensões continentais, com uma área superior a 8.500.000 quilômetros quadrados, mais de 7.000 quilômetros de fronteira marítima e 16.886 quilômetros de fronteira seca. Este fato tem sido determinante para o aumento da atividade desse tipo de delito.

2.3 SISTEMA LEGAL VIGENTE RELACIONADO AO CRIME DE TERRORISMO A Constituição Brasileira de 1988 trata diretamente do crime de terrorismo em seu Art 4º, Inc VIII, dos princípios que regem as relações internacionais, que deixa explícito o repúdio ao terrorismo. Além de tratar de forma indireta, por meio dos incisos XVII, que veda a plena a liberdade de associação para fins lícitos, de caráter paramilitar e o inciso XLIV, que atribui como crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

A Política Nacional de Defesa (PND) na seção que trata do ambiente internacional, fala:

A configuração internacional, caracterizada por assimetrias de poder, gera tensões e instabilidades que contribuem para o surgimento de grupos insurgentes e de organizações terroristas ou criminosas e que tendem a incrementar a guerra irregular. Ainda que a ocorrência de conflitos generalizados entre Estados tenha reduzido, renovam-se aqueles de caráter étnico e religioso, exacerbam-se os nacionalismos e fragmentam-se os Estados, cenário propício para o desenvolvimento da denominada “guerra híbrida”, que combina distintos conceitos de guerra (BRASIL, 2016).

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O Livro Brando de Defesa (LBD), quando fala dos Princípios Básicos do Estado, reforça o que prescreve o Art 4º da CF/88: “independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político”(BRASIL, 2016).

Contudo, antes de 2016, o crime de terrorismo, poderia ser tratado por três diplomas legais, mas que incorriam no problema da falta de tipificação. São eles: O Código Penal Brasileiro, a Lei de Segurança Nacional e a Lei de Crimes Hediondos.

Nas duas primeiras, não há referência direta ao terrorismo, podendo no máximo comparar alguns atos com conduta típicas de atentados terrorista, classificando-os entre os crimes contra a incolumidade pública e contra a paz pública, como os crimes: de explosão (art 251), o uso de gases tóxicos e asfixiantes (art 252), dentre outros.

Conforme afirma Woloszyn (2017), o Projeto de Lei nº 236, de 09 de julho de 2012, que institui a reforma do Código Penal, procura corrigir essa lacuna e trata da matéria dos art 239 a 242. A Parte Especial, Título VIII, que estabelece os crimes contra a paz pública, no Cap. I, se refere ao crime de terrorismo, tipificando-o e penalizando seu financiamento (art 240) e favorecimento (art 241). Além disso, o inciso III do art 239, considera crime de terrorismo os atos praticados por preconceito de raça, cor, etnia, religião, nacionalidade, sexo, identidade ou orientação sexual, e por razões políticas, ideológicas, filosóficas ou religiosas (BRASIL, 2012). Entretanto, como veremos mais a frente, este artigo se confronta com a nova lei de combate ao terrorismo, aprovada em 2016.

Já com relação a Lei de Crimes Hediondos, esta, se alinha com o art 5º, inc XLIII da Constituição Federal de 88. Na norma supracitada, em seu art 2º, considera “a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo insuscetíveis de anistia, graça, além de ficar proibido o indulto e fiança” (BRASIL, 1988).

Embora não se possa prever, o Brasil não se encontra livre da possibilidade de um atentado terrorista ou de um ato perpetrado por um indivíduo isolado que tenha se radicalizado. Segundo Woloszyn (2017, apud GUIMARÃES, p.30-31) este sustenta que a ameaça mais presente no país é o terrorismo baseado em organizações

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criminosas. Segundo o autor, não há no Brasil problemas de ordem religiosa e política que levem ao terrorismo, há sim, o fortalecimento do crime organizado.

Para ilustrar esta afirmação basta recordarmos dos ataques que foram perpetrados sistematicamente por organizações criminosas ligadas ao narcotráfico como o PCC em São Paulo e o CV no Rio de Janeiro, além de facções dissidentes e que hoje estão presentes em quase todos os estados da federação.

Para Fernandes:

Os atentados de alcance terroristas contra quartéis, órgãos públicos, autoridade públicas, autoridades policiais, incêndios criminosos de ônibus, assassinatos dirigidos à alvos previamente escolhidos e outros atos de mesmo potencial de violência, ocorridos em maio de 2006, no Estado de São Paulo, e praticados por integrantes de organizações criminosas e sob a ordem manifestamente ilegal de seus líderes, não podem ser simplesmente interpretados e definidos como crimes comuns. (FERNANDES, 2012, p.81).

2.3.1 Tipificação do terrorismo

A lei de combate ao terrorismo surgiu em meio às pressões internacionais em função da proximidade dos Jogos Olímpicos de 2016 que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro, uma vez que 206 países trariam para o Brasil seus 11.303 atletas, além de cidadãos comuns, e principalmente, autoridades dos mais altos cargos para assistirem aos Jogos Olímpicos.

Sem a lei, mesmo sendo considerada pouco eficiente, seria impossível tipificar o crime de terrorismo e isso não iria possibilitar a ocorrência dos Jogos em um contexto de segurança, principalmente para um grupo de países que enfrentam o problema em seu próprio território nacional.

Woloszyn destaca que:

Existem algumas incoerências nesta legislação uma vez que sua concepção não foi direcionada somente na questão do

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terrorismo e de seu financiamento, mas principalmente, na preocupação de excluir os movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou categoria profissional. Tal preocupação foi influenciada pelas legislações antiterroristas já existentes e seu impacto negativo frente aos direitos humanos (WOLOSZYN, 2017).

A Lei do terrorismo, Nr 13.260, de 16 de março de 2016, regulamenta o disposto no inciso XLII, do art 5º da Constituição federal de 1988. Em seu art 2º, expressa:

O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia,

discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião,

quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública (grifo meu).( BRASIL, 2016)

A redação deste artigo deixa evidente a preocupação exagerada em limitar ao máximo as razões pelas quais se pratica o crime de terrorismo. Crimes praticados com outras motivações que não estas, não serão tipificadas como atos terroristas e abrem um precedente enorme em um país onde outras mazelas diferentes das previstas nessa lei, poderão culminar em atos, que em vários outros países, seriam classificados como terrorista. Da mesma forma, o texto deixa transparecer uma tentetiva de proteger os Direitos Humanos e como assevera Woloszyn (2017), trata-se de categorias distintas que não guardam relação de causa e efeito.

Além disso, o parágrafo 2º deste artigo estabelece que:

O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos

sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades

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constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei. (BRASIL, 2016)

Também fica claro que o legislador se preocupa em salvaguardar manifestações políticas e sindicais. É interessante lembrar do momento histórico em que essa lei foi promulgada. Março de 2016 o Brasil tinha como Presidente da República a Sra Dilma Vana Rousseff, e todo o primeiro escalão de seu governo, assim como ela, eram ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT) e aos outros partidos ditos de esquerda. A então Presidente da República, assim como vários de seus assessores, Ministros, Governadores, tinham um passado ligado à militância política nas décadas de 1960-1970 em vários grupos, que ao longo de anos realizaram ações que hoje seriam facilmente enquadradas como atos terroristas em qualquer país do mundo.

Woloszyn (2017, apud ELAGAB, 1997, p.19) recorda que o terrorismo possui motivações extremamente variadas, dependendo da época e da ideologia prevalente. Desta forma, pode-se inferir que a norma vigente no Brasil deixa a desejar com o seu reducionismo nas motivações.

2.4 PERSPECTIVAS FENOMENOLÓGICAS DO “NOVO TERRORISMO

Conforme Fernandes (2012, apud JOHSON, 1997, p.111) assevera, a fenomenologia é o estudo da experiência humana consciente na vida diária. Já na Revista Filosofia-Conhecimento Prático, ao abordar o assunto, Moura afirma que:

A fenomenologia trata dos fenômenos perceptíveis. Ela une o sujeito e o objeto. O pensamento fenomenológico surgiu no século 19, a partir dos estudos de Franz Bretano, e teve como estudiosos filósofos como Edmund Husserl, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Merleau-Ponty. A fenomenologia é oposta ao positivismo, partindo da análise da realidade do ponto de vista do indivíduo. Assim, ela busca interpretar o mundo por meio de um determinado sujeito segundo as suas próprias experiências (MOURA, 2009, p.8).

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Para Fernandes (apud COLTRO), “o método fenomenológico trata de desentranhar o fenômeno, pô-lo a descoberto, desvendá-lo para além da aparência, apegando-se aos fatos vividos da experiência [...]”. (2012, p.76). Dito isso, Fernandes (2012) arremata afirmando que “é possível inferir que a fenomenologia não se atém às causas e princípios, mas sim às percepções, ou seja, o que se vislumbra de um novo evento criminal pela interpretação de sua realidade [...]”. (FERNANDES, 2000, p.76).

Após este breve esclarecimento acerca do fenômeno fenomenológico, faz necessário levantarmos algumas questões entre o criminoso comum e o terrorista. Neste mister, Fernandes (2012) inicia sua base de comparação primária citando Mariguela, em sua obra Mini Manual do Guerrilheiro Urbano, onde o autor estabelece que:

o guerrilheiro urbano, no entanto, difere radicalmente dos delinquentes. O delinquente se beneficia pessoalmente por suas ações, e ataca indiscriminadamente sem distinção entre explorados e exploradores, por isso há tantos homens e mulheres cotidianos entre suas vítimas. O guerrilheiro urbano segue uma meta política e somente ataca o governo, os grandes capitalistas, os imperialistas norte-americanos. (MARIGUELA, 1969).

Do acima exposto, podemos considerar que os crimes contra instalações militares, autoridades civis e militares, incêndios criminosos em ônibus, dentre tantas outras ações, como ocorreram em São Paulo em 2006 e cometidos por elementos ligados às ORCRIM, como o PCC, não deveriam ser considerados como crimes comuns. Entretanto a legislação brasileira que trata do tema, Lei Nr 13.260, ao tipificar como crimes terroristas somente os que forem praticados por razões de xenofobia,

discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião [...], e cria uma enorme

dificuldade para os órgãos de Segurança Pública no enfrentamento do problema e para a manutenção da ordem.

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Em 28/07/2017, o jornal Correio Brasiliense, estampou em seu site a notícia a qual afirmava que “a organização criminosa PCC, estava negociando com o grupo terrorista Hezbollah, sediado em Beirute, no Líbano”. Para o Jornal, a ORCRIM paulista estaria revendendo drogas obtidas em países vizinhos da América do Sul, em troca de armas pesadas e munições. As negociações incluiam também, o contrabando de produtos eletrônicos, cigarros, roupas e combustíveis. Durante a reportagem em epígrafe, o Coronel Diógenes Lucca, narra o que viu no exterior:

Voltei do exterior tremendamente apavorado com aquilo que ouvi lá: o terrorismo, nos últimos 15 anos, cresceu na ordem de 85% no mundo. E quando eu tive contato com esse número, com as práticas do Estado Islâmico [o DAESH] utilizando inclusive crianças, e vendo como o terrorismo se alargou, eu voltei para o Brasil bastante preocupado [...] E lá nesse curso, uma coisa foi muito dada: todos os órgãos que atuam no combate ao terrorismo (órgãos de inteligência, agências) têm naquela região da América do Sul, da tríplice fronteira (Paraguai, Argentina e Brasil), um local tremendamente monitorado. É dado como certo que ali há células de grupos terroristas (em particular, o Hezbollah, e há suspeitas de que os atentados ocorridos [em 1994] na Argentina partiram daquela região), e portanto, não me surpreende que as organizações criminosas [do Brasil] estejam já se aproximando desses grupos terroristas para incrementar suas ações. (LUCCA, 2017).

Ainda nesse diapasão, Fernandes cita o cientista político brasileiro Bastos Neto que forneceu a seguinte interpretação:

é nesse ambiente que limites reais entre a Segurança Nacional e a Segurança Pública tornam-se cada vez mais obscuros, uma vez que, como foi dito, o própio perfil de inimigo interno já não é tão fácil de definir. O embaraço causado pela inoperância das Agência de Segurança de Estado nos força a uma nova reflexão

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sobre o papel das Polícias, das Forças Armadas e dos, assim chamados, Serviços de Inteligência. A partir do que ocorreu na cidade de São Paulo, em maio de 2006, com os ataques terroristas do, assim chamado, PCC, ficou claro quanto estão frágeis as nossas instituições quando são chamadas a agir com objetividade dentro dos parâmetros de lei. (NETO, 2008, p. 83-84).

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3. AS ROTAS DO TRÁFICO

O Brasil com os seus 8.500.000 quilômetros quadrados de superfície, é o maior país da América do Sul, ocupando aproximadamente 47% de todo o subcontinente sul-americano. A leste é banhado pelo oceano Atlântico e a oeste faz fronteira com quase todos os países da América do Sul, a exceção do Chile e do Equador, perfazendo um total de 15.733 Km de fronteira terrestre.

Nossas fronteiras foram definidas com base nas características naturais do terreno como rios, lagos, montanhas, serras e picos elevados, além da aplicação do recurso das linhas geodésicas, quando não existia um acidente natural para demarcá-la. Em grande parte, por este motivo as nossas fronteiras são altamente permeáveis, o que por um lado facilita o trânsito entre os países, por outro lado dificulta sobremaneira o controle desse trânsito pelas autoridades competentes.

Além desta vulnerabilidade, alguns dos nossos vizinhos são reconhecidamente os maiores produtores de drogas ilícitas do mundo, tais como a cocaína e a maconha. Segundo uma reportagem da revista on-line EXAME,” a Colômbia foi confirmada como o maior produtor de cocaína do mundo e como o país com mais cultivo de coca. durante o período compreendido entre 2014 e 2015, o cultivo de coca duplicou no país, e sua área alcançou níveis não vistos desde 2007”.

Para o site Grupo 4 Drogas, os grandes exportadores da droga estão na América do Sul, são eles: Colômbia, com 48% da cocaína apreendida em contrabando internacionais, seguida pelo Brasil com 7% e Bolívia, com 5% das apreensões internacionais. Para outra mídia especializado, os maiores produtores de cocaína são Colômbia, Peru, Bolívia e Venezuela.

Segundo o Departamento de Estado dos estados Unidos sobre as estratégias internacionais de controle de narcóticos,” o Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo e, provavelmente, o primeiro maior consumidor de subprodutos da cocaína, como por exemplo o crack”. Para o Departamento americano, “o Brasil não tem capacidade de conter o fluxo de drogas ilícitas pelas fronteiras brasileiras por causa da sua porosidade e extensão”.

O relatório da ONU de 2016 destaca que aproximadamente 5% da população mundial consumiu algum tipo de droga em 2015, isso equivale a 250 milhões de pessoas no mundo. Com esse dado é possível inferir a tendência de aumento do tráfico de entorpecentes no mundo.

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Ao par de tudo isso o Brasil transformou-se na principal rota da droga que sai dos países andinos - Colômbia, Peru e Bolívia – para a Europa, passando pela África. A droga entra pelos rios, cuja fiscalização federal é débil, cruza os oceanos em barcos e contêineres, e chega aos consumidores europeus.

Figura 2

Rota das drogas produzidas pelos países andinos

(Babi Brasileiro/Mundo Estranho)

Os preços das drogas ilícitas no mundo é outro fator que parece recrudescer o tráfico internacional. Nos países desenvolvidos, elas alcançam cifras exorbitantes, como segue no quadro abaixo.

Quadro 1

Cotação da cocaína em 2010

Cotação de cocaína (Países exportadores)

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Brasil 1.500 Colômbia Holanda 28.000 Portugal 51.000 Grécia 89.000 Dinamarca 230.000 Grupo 4 Drogas

Em relação a produção e exportação de maconha, o nosso vizinho Paraguai é considerado o maior produtor e exportador da droga da América do Sul. Segundo as próprias autoridades paraguaias, 80% da produção do país é comercializada com os traficantes brasileiros. A droga é plantada em reservas ambientais das fazendas paraguaias e ficam camufladas entre as árvores. Estas fazendas estão situadas muito próximas à fronteira com o Brasil, mais precisamente no estado do Mato Grosso do Sul, o que facilita a sua comercialização.

Figura 3

Rota do tráfico de drogas no Brasil

http://qdrogaqnada.blogspot.com/2008/10/as-rotas-do-trfico-no-brasil-existem.html

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3.1 O TERRORISMO E OS CRIMES TRANSFRONTEIRIÇOS

Foz do Iguaçu é a cidade brasileira na região da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai) situada na porção meridional da América do Sul. É considerada por muitos como uma cidade cosmopolita por coexistirem diversas etnias, como árabes, indianos, coreanos, chineses, dentro outras. A região fica situada entre dois importantes rios: o rio Paraná e o rio Iguaçu e faz fronteira com duas cidades irmãs: Ciudad del Leste (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina).

No último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a cidade brasileira apresentou cerca de 256.088 pessoas. A população da região da tríplice Fronteira aumentou atraída, principalmente pela possibilidade da Zona Franca da Cidade do Leste.

Segundo Chichoski e Silva a China iniciou sua imigração nas décadas de 1970 e 1980, atraídas pelo comércio de elétrico e eletrônico e miudezas (2017, p.6). Os árabes vieram na década de 1960 fugindo, em sua maioria, dos conflitos do Oriente Médio e já em 2010 era a segunda maior comunidade da América do Sul, contando com aproximadamente 22 mil árabes e descendentes, conforme afirma Amaral:

Desde o final da década de 1960, Ciudad del Este e principalmente Foz do Iguaçu estavam se tornando o destino de grande contingente de imigrantes de origem árabe. Em sua maioria, estes indivíduos deixavam seus países de origem para fugir dos vários conflitos que eclodiram no Oriente Médio logo após a Segunda Guerra Mundial, dentre os quais a Guerra Civil do Líbano (1970-1990) ganhou um infeliz destaque. Atualmente, a comunidade de descendência árabe presente na região é considerada a segunda mais importante da América do Sul, somente superada pela presente em São Paulo (AMARAL, 2010, p.30).

Conforme assevera Aita (2016), na região da Tríplice Fronteira Sul (TFS) existem colônias de árabes, de maioria palestina, libanesa, síria e egípcia, que chegaram no início dos anos 1960 buscando oportunidades de comércio na fronteira. Aita apud Carneira afirma que a quase todos os árabes desta região professa o islamismo, sendo os xiitas maioria. Em Ciudad del Este vivem aproximadamente 9 mil

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muçulmanos, sendo a maioria xiita, e na cidade de Puerto Iguazú não há uma significativa comunidade árabe (CARNEIRO, 2016).

Na década de 1990 ocorreram dois atentados terroristas na Argentina, o primeiro foi realizado contra a Embaixada de Israel, em março de 1992, onde um carro bomba explodiu, deixou 29 mortos e aproximadamente 350 feridos. Já o segundo, foi perpetrado contra um centro comunitário judaico (Asociación Mutuales Israelitas Argentinas – AMIA) em 1994, culminando com a morte de 85 pessoas e ferindo outras 300.

Entretanto, como afirma Aita apud Lasmar (2015), a justiça argentina somente divulgou em 2013, que o resultado das investigações apontava para o governo do Irã com a participação de alguns diplomatas locais como planejadores e financiadores do atentado terrorista, o que levou as autoridades argentinas a descartarem a participação dos habitantes da TFS nos atentados.

Porém nesse meio tempo ocorreram os atentados do 11 de Setembro de 2001, que jogaram luz, mais uma vez, na TFS. A região foi acompanhada pelos EUA com mais intensidade por ser considerada como um possível refúgio de terroristas, em decorrência de sua comunidade árabe e de seu histórico anterior.

Conforme publicado no relatório sobre as atividades de grupos criminosos e terroristas na TFS, de autoria de Rex Hudson (2010), a presença de grupos terroristas, dentre eles o Hizballah, na América do Sul, ocorre desde a segunda metade da década de 1980, quando agentes desses grupos começaram a recrutar simpatizantes na região. Ainda segundo o relatório, a região seria usada como um local seguro para a prática de atividades suporte para os atentados terroristas, tais como: levantamento de recursos, lavagem de dinheiro, recrutamento de simpatizantes, treinamento do pessoal, planejamento dos atentados, dentre tantas outras ligadas às práticas terroristas.

Além do relatório citado, Aita menciona Castro (2015) quando este levanta outros aspectos importantes nessa análise:

A porosidade da fronteira tríplice, materializada pelo intenso trânsito de pessoas e mercadorias, além do contrabando e tráfico de drogas e de armas, seria indicativo da possibilidade de ligação da região com o jihadismo, sobretudo por favorecer o financiamento de atividades terroristas em outras regiões do mundo. Além disso, atribui-se à TFS carga de periculosidade

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devido ao elevado número de imigrantes e descendentes árabes na população local, em especial libaneses originários do Vale do Bekaa (sul do Líbano), fronteira com Israel e núcleo de atuação do grupo Hizbalah (CASTRO, 2015).

Como assevera Noriega e Cardenas (2011), o grupo terrorista Hizbalah, financiado pelo Irã aumentaram suas operações na América do Sul e se constituem em uma ameaça na região.

Apesar de o Brasil possuir outras oito cidades em região de tríplice fronteira, a TFS por seu valor geopolítico é a mais importante. A região tem três aeroportos internacionais, rodovias que ligam as cidades irmãs e demandam para o interior de seus países, importante rede fluvial que possibilita a navegação e a geração de energia elétrica, importante para o Brasil e fundamental para o Paraguai, tudo isso favorecendo sobremaneira a ocupação e o desenvolvimento regional.

Entretanto, os últimos anos têm revelado um incremento significativo nos crimes transfronteiriços ou transnacionais. Em 24 de abril de 2017, bandidos fortemente armados, realizaram um assalto à uma transportadora de valores no Paraguai, levando, aproximadamente, US$ 11,7 milhões, o que corresponde aproximadamente a R$ 40 milhões. Nesse que é considerado o maior assalto já ocorrido no Paraguai e segundo investigações conjuntas entre as polícias do Brasil e daquele país, foi realizado por brasileiros, conforme afirma o delegado-Chefe da polícia federal em Foz do Iguaçu:

Essa foi uma ação feita por brasileiros. Foi um planejamento extenso, com o uso de armamentos robustos. Isso leva a crer que foi ato de uma organização ou de organizações criminosas que agem no Brasil e, também no Paraguai (FABIANO BORDIGNON).

Ainda, conforme os Anais do I Seminário de Pós-Graduação de Relações Internacionais (UNILA):

Não é de hoje que os crimes transfronteiriços ocorrem na região da Tríplice Fronteira, desde o início da formação da região, ervateiros, principalmente argentinos praticavam contrabando. Também ocorreu em momentos diferentes o ciclo do

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contrabando da madeira e café, e após o começo da construção da Hidrelétrica de Itaipu com o bum populacional ocorrido com a vinda de barrageiros de todos os estados brasileiros e a explosão do comércio em Ciudad del Este que na época tinha o nome de Puerto Presidente Strossener tivemos o início do contrabando de eletrônicos, bebidas e diversos outros produtos que eram comprados no Paraguai por preços baixos (CHICHOSKI e SILVA, 2017, p.10).

Hoje, existe uma estimativa de pelo menos 30 quadrilhas criminosas atuantes na região da tríplice fronteira. Contudo, segundo Fabíola Perez afirmou em uma matéria publicada na revista Isto É, um relatório da Fundação de Defesa da Democracia (FDD) para a Comissão de Relação Exteriores do Senado dos Estados Unidos o grupo extremista Hezbollah, de origem libanesa, vem atuando no Brasil em parceria com a organização criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) para fortalecer o comércio ilegal de produtos contrabandeados, principalmente, do Paraguai.

Ainda, segundo a autora, o Hezbollah e o PCC, além de atuarem no tráfico de drogas produzidas nos países andinos e Paraguai, como a cocaína e a maconha, a aliança criminosa domina o contrabando de cigarros para o Brasil. Perez apud Ottolenghi assevera que o Hezbollah auxiliaram o PCC na obtenção de armamento e acesso aos canais internacionais do crime em troca de proteção de prisioneiros de origem libanesa no Brasil ( EMANUELE OTTOLENGHI).

Desta forma podemos conjecturar que a presença, cada vez mais intensa, de elementos ligados à grupos terroristas, como o Hezbollah, na região da TFS, participando do comércio ilegal do contrabando do cigarro, aumenta a possibilidade destes financiarem, de alguma forma, seus atos terroristas em alguma parte do globo.

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4 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO: LOCAL DE CUMPRIMENTO DE PENA OU DE TROCA DE EXPERIÊNCIAS

O Brasil, até 1830, por ser ainda uma colônia portuguesa, não tinha um Código Penal próprio, submetendo-se às Ordenações Filipinas, que, em seu livro V, elencava crimes e penas que seriam aplicadas no Brasil. Pena de morte, degredo para as galés e outros lugares, penas corporais (como açoite, mutilação, queimaduras), confisco de bens e multa e ainda penas como humilhação pública do réu eram exemplos de penas aplicadas na colônia. Não existia a previsão do cerceamento e privação de liberdade posto que as ordenações são do século XVII e os movimentos reformistas penitenciários começam somente no fim do século seguinte. Nesta época, portanto, as prisões eram apenas local de custódia (SANTIS e ENGBRUCH, 2016).

Conforme assevera o autor, a pena de prisão foi introduzida no Brasil em 1830, com o código Criminal do Império, e foi instituído em duas formas: a prisão simples e a prisão com trabalho. O Código não estabelecia nenhum sistema penitenciário específico, devendo os governos provinciais escolher o tipo de prisão e seus regulamentos.

Entretanto, somente com o segundo Código Penal, datado de 1890, que houve a abolição da pena de morte no Brasil e, surgiu o regime penitenciário de caráter correcional, com vista a socialização e a reeducação do detento.

No Brasil, foi a partir do século XIX que se deu início ao surgimento de prisões com celas individuais e oficinas de trabalho, bem como arquitetura própria para a pena de prisão. O Código Penal de 1890 possibilitou o estabelecimento de novas modalidades de prisão, considerando que não mais haveria penas perpétuas ou coletivas, limitando-se às penas restritivas de liberdade individual, com penalidade máxima de trinta anos,

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bem como prisão celular, reclusão, prisão com trabalho obrigatório e prisão disciplinar (MACHADO et tal, 2013).

Ainda segundo as autoras, três sistemas penitenciários adotavam as penas privativas de liberdade: o sistema Filadélfia (ou celular), o de Auburn (silent system) e, por fim, o sistema Progressivo (inglês ou irlandês).

Conforme assevera Oliveira apud Rusche, Georg e Kirchheimer, Otto “o primeiro sistema se baseava nos princípios dos Quaker , que sustentavam que a religião era a única e suficiente base da educação, desta forma a reclusão dos presos aliado à leitura da bíblia, único objeto autorizado dentro das celas, conduzi-lo-ia a uma reflexão e ao arrependimento de seus pecados” (OLIVEIRA, 2004, p.179).

Figura 4

Litografia da Penitenciária de Cherry Hill, Filadélfia.

Fonte: Library Company of Philadelphia Wainwright Lithograph Collection. Disponível em:< https://bit.ly/2NvlANy.

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o isolamento absoluto (...) não se pede a requalificação do

criminoso ao exercício de uma lei comum, mas à relação do indivíduo com sua própria consciência e com aquilo que pode iluminá-lo de dentro. De tal modo, podemos concluir que no

regime adotado na Filadélfia, as únicas operações da correção do indivíduo foram a consciência e a arquitetura que isolava o indivíduo de todo contato com outro ser humano (FOUCAULT, 1999).

O segundo sistema, o de Aurburn surgiu na primeira metade do século XIX, mais precisamente no ano de 1821, na cidade de Nova York, na prisão de mesmo nome. Este sistema, diferentemente do primeiro, tem como base fundamental a adoção do trabalho do presidiário como forma de regenerar o indivíduo. Estes seguiam uma disciplina austera, onde trabalhavam em oficinas durante o dia e eram recolhidos em celas individuais à noite onde permaneciam em silêncio absoluto cobrado a base de chicote.

Os presos realizavam os seus trabalhos e alimentação em locais coletivos, contudo, o contato lateral, ou seja, entre os detentos, era proibido e mantido por guardas munidos de chicotes. Para Focault, a prisão deveria ser:

microcosmo de uma sociedade perfeita onde os indivíduos estão isolados em sua existência moral, mas onde sua reunião se efetua num enquadramento hierárquico estrito, sem relacionamento lateral, só se podendo fazer comunicação no sentido vertical. (...) A coação é assegurada por meios materiais, mas sobretudo por uma regra que se tem que aprender a respeitar e é garantida por uma vigilância e punições (FOUCAULT, 2007. p.199).

O sistema Irlandês foi criado no ano de 1853 por Walter Crofton, em uma época em que vários países, principalmente Alemanha, França, Bélgica e Holanda adotaram os modelos americanos de sucesso, fruto de um amplo debate no Primeiro Congresso Internacional de Prisões, que aconteceu em Frankfurt na Alemanha no ano de 1846.

O sistema de Crofton foi concebido em quatro fases a serem vencidas pelos detentos até que esse alcançasse sua liberdade.

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A primeira fase a ser vencida era muito parecida com os regimes da Pensilvânia, onde o preso permanecia isolado o tempo todo em sua cela refletindo sobre os seus crimes.

Em uma segunda fase, após oito ou nove meses de isolamento, o detento passava a trabalhar durante o dia, de maneira coletiva, contudo, sem contato lateral e estrita obediência ao silêncio e sendo recolhido na parte da noite para suas celas individuais. Na fase seguinte, o rigor das regras das fases anteriores e substituída por uma política de preparação do preso para o retorno para a vida em sociedade. Nesta fase ele é autorizado a ter contato com outros presos durante o trabalho que passa a ser realizado, inclusive, no campo.

A última fase autorizava o detento a viver livre na sociedade, em regime de liberdade condicional até o fim de sua pena.

No Brasil, com a criação do Código Criminal em 1831, o Estado passou a dispensar outro tratamento aos detentos. A pena como cerceamento de liberdade, a exemplo dos Estados Unidos, começou a ser utilizada como critério para as punições, como se pode observar em alguns artigos do referido código.

Art. 46 – A pena de prisão com trabalho obrigará aos réus a ocuparem-se diariamente no trabalho que lhes for destinado dentro do recinto das prisões, na conformidade das sentenças e dos regulamentos policiais das mesmas prisões.

Art. 47 – A pena de prisão simples obrigará aos réus a estarem reclusos nas prisões públicas pelo tempo marcado nas sentenças.

Art. 48 – Estas penas de prisão serão cumpridas nas prisões públicas que oferecerem maior comodidade e segurança, e na maior proximidade que for possível dos lugares dos delitos devendo ser designadas pelos juízes nas sentenças.

Art. 49 – Enquanto se não estabelecerem as prisões com as comodidades e arranjos necessários para o trabalho dos réus, as penas de prisão com trabalho serão substituídas pela de prisão simples, acrescentando-se em tal caso a esta a sexta parte do tempo por que aquelas deveriam impor-se (BRASIL,1831).

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Entretanto, segundo Oliveira (2010), o Código Criminal falhou por não abordar o funcionamento das cadeias. Caberia as Assembleias Legislativas Provinciais legislar sobre a construção de novas cadeias, casas de correções e, também sobre o seu funcionamento.

A rotina de funcionamento da unidade carcerária, o tipo de atividade e sua disciplina eram vistas como fundamentais para que a condenação pudesse alcançar os objetivos desejados.

Entretanto Rocha (2006) oferece uma visão focada por outro prisma. Com o primeiro código Penal brasileiro, fortemente influenciado pelas ideias europeias, pelo iluminismo e do processo de humanização da pena, estabelece a eliminação da pena capital para os crimes políticos, individualização da pena, previsão de atenuantes e agravantes e julgamentos especiais para menores de quatorze anos. Desta forma, verifica-se um claro movimento da legislação penal brasileira no sentido da humanização da pena, conforme assevera Rocha apud Salla.

[...] a emancipação política do Brasil certamente acarretou uma nova percepção, por parte dos quadros diretivos do país, em relação à diversas áreas, inclusive aquela ligada às prisões. O primeiro indicador desta mudança haviasido dado pelo decreto do príncipe regente, de maio de 1821, e depois também pelos vários artigos sobre das prisões constates dos projetos de Carta elaborado pela Constituinte de 1823. E finalmente pela Constituição Imperial de 1824, prevendo a existência de prisões sob condições de higiene e funcionamento até então inexistentes nos estabelecimentos coloniais. Um reflexo imediato disto, em São Paulo, em 1825, visconde de São Leopoldo, em determinar uma parte da cadeia de São Paulo para servir de casa de correção (SALLA, 1999, p.47-48).

Nos primórdios da década de 1900, o sistema carcerário, buscando um melhor controle da população, passou por algumas modificações estruturais, surgiram tipos modernos de prisões adequadas às categorias criminais: contraventores, menores, processados, loucos e mulheres. (MACHADO et tal, 2013, p.4).

Ainda segundo os mesmos autores, as prisões podiam ser: asilos de contraventores, que abrigavam os bêbados, vagabundos e mendigos; os asilos de

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menores, que aplicavam métodos corretivos à delinquência infantil; prisão de processados, destinadas aos que ainda não haviam sido condenados, evitando-se desta forma em misturar possíveis inocentes com criminosos já condenados; manicômios criminais que realizavam tratamento clínico em presos com distúrbios mentais e, por fim, cárceres de mulheres. Outro fator a ser considerado quanto à separação do réu na prisão era o fato de que deveria levar-se em consideração a índole, antecedentes e grau de criminalidade do condenado.

Ainda, como nos ensina Rocha (2006), dentro deste contexto mais humanista do tratamento do preso, chamado por ele como período científico, o Brasil constrói a primeira Penitenciária de São Paulo em 1920. Esta doutrina tratava o detento como doente e a cadeia como se fosse um hospital que tinha como objetivo regenerar o criminoso. Esse sistema objetiva a transformação moral e social do criminoso por meio da privação da sua liberdade.

Desta forma, na tentativa de sistematizar condutas para o cumprimento desse audacioso objetivo, surge no Brasil a obrigação da criação de um código penitenciário. Movimentos nesse sentido ocorreram nas décadas de 1933, 1957 e 1970, contudo sem lograr êxito, ou por percalços políticos, ou pela simples falta de vontade política.

Somente em 1984, o Brasil consegue instituir a Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/ 84) que se consolidou no processo de humanização da pena:

A descrição mais detalhada sobre as normas prisionais brasileiras, ou pelo menos suas aspirações para o sistema prisional, pode ser encontrada na Lei de Execução Penal (LEP). Adotada em 1984, a LEP é uma obra extremamente moderna de legislação; reconhece um respeito saudável aos direitos humanos dos presos e contém várias provisões ordenando tratamento individualizado, protegendo os direitos substantivos e processuais dos presos e garantindo assistência médica, jurídica, educacional, social, religiosa e material. Vista como um todo, o foco dessa lei não é a punição, mas, ao invés disso, a “ressocialização das pessoas condenadas” (Relatório da HRW. 1998).

O objetivo principal da Lei nº 7.210/84 é expresso em seu Título I, Do Objeto e da Aplicação da Lei de Execução Penal: Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar

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as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.

Rocha (2006) ressalta outro ponto importante na LEP, a questão da individualização da pena, cabendo ao Estado a análise do criminoso e a aplicação da pena proporcional ao seu delito e peculiar à sua pessoa, como prevê a Lei: Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal.

Ainda, neste diapasão de aprofundamento do Estado de Direito, o Estado brasileiro no exercício do direito de punir, tem que adotar meios eficazes que possam transformar criminosos, além de proporcionar condições de ressocialização, como prevê a LEP:

Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.

Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso. Art. 11. A assistência será:

I - material; II - à saúde; III -jurídica; IV - educacional; V - social; VI – religiosa (BRASIL, 1984).

4.1 INSTITUIÇÕES RESPONSÁVEIS PELA POLÍTICA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

Como afirma o relatório de dados consolidados do Departamento Nacional de Política Penitenciária (DEPEN), em 30 de junho de 2016 o sistema contava com 1.422 unidades prisionais, mais 368.049 vagas e 726.712 detentos. Desta forma pode-se verificar que o sistema possui uma estrutura enorme que requer, além de uma atenção muito grande por parte das autoridades, uma destinação de recursos suficientes para manter todo esse aparato.

Não obstante ao gigantismo do sistema e da problemática que o cerca, segundo Moraes (2003), no Brasil existem vários sistemas penitenciários, uma vez que o direito penitenciário é de competência concorrente, cabendo à União legislar de forma geral e aos Estados de forma específica. Sendo assim, cada membro da federação

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administra um conjunto dispare de estabelecimentos penais, cabendo a cada Estado formular estruturas e normas.

A execução penal é um processo que compromete vários órgãos, como preceitua a LEP em seu Artº 61: o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária; o Juízo da Execução; o Ministério Público; o Conselho Penitenciário; os Departamentos Penitenciários; o Patronato; o Conselho da Comunidade e a Defensoria Pública.

O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), com sede na Capital da República, é subordinado ao Ministério da Justiça sendo ele responsável pela definição da política criminal por meio das seguintes atribuições previstas no Artº 64 da LEP:

I - propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito, administração da Justiça Criminal e execução das penas e das medidas de segurança;

II - contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas e prioridades da política criminal e penitenciária;

III - promover a avaliação periódica do sistema criminal para a sua adequação às necessidades do País;

IV - estimular e promover a pesquisa criminológica;

V - elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento do servidor;

VI - estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos penais e casas de albergados;

VII - estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal;

VIII - inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-se, mediante relatórios do Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou outros meios, acerca do desenvolvimento da execução penal nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo às autoridades dela incumbida as medidas necessárias ao seu aprimoramento;

IX - representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sindicância ou procedimento administrativo, em caso de violação das normas referentes à execução penal;

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X - representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em parte, de estabelecimento penal (BRASIL, 1984)

A Política penitenciária brasileira tem como órgão executor o Departamento Nacional de Política Penitenciária – DEPEN, portanto, como Rocha (2006) assevera:

O DEPEN é o órgão superior de controle, destinado a acompanhar e zelar pela fiel aplicação da Lei de Execução Penal e das diretrizes da política criminal emanada do CNPCP. Sua finalidade é oferecer condições para que se possa implantar um ordenamento administrativo e técnico convergente ao desenvolvimento da política penitenciária (ROCHA, 2006)

Desta forma, suas atribuições ditadas pelo Art. 72 da Lei nº 7.210/84 são: I - acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em todo o Território Nacional;

II - inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e serviços penais;

III - assistir tecnicamente as Unidades Federativas na

implementação dos princípios e regras estabelecidos nesta Lei; IV - colaborar com as Unidades Federativas mediante

convênios, na implantação de estabelecimentos e serviços penais;

V - colaborar com as Unidades Federativas para a realização de cursos de formação de pessoal penitenciário e de ensino profissionalizante do condenado e do internado.

VI – estabelecer, mediante convênios com as unidades federativas, o cadastro nacional das vagas existentes em estabelecimentos locais destinadas ao cumprimento de penas privativas de liberdade aplicadas pela justiça de outra unidade federativa, em especial para presos sujeitos a regime

disciplinar. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)

Parágrafo único. Incumbem também ao Departamento a coordenação e supervisão dos estabelecimentos penais e de internamento federais (BRASIL, 1984).

Referências

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