• Nenhum resultado encontrado

MARIA LUIZA CRUZ DE OLIVEIRA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "MARIA LUIZA CRUZ DE OLIVEIRA"

Copied!
116
0
0

Texto

(1)

MARIA LUIZA CRUZ DE OLIVEIRA

RELAÇÃO ENTRE O USO DE “MÍDIAS ELETRÔNICAS” E OS HÁBITOS DE SONO, SONOLÊNCIA DIURNA E PROCESSOS COGNITIVOS EM

ADOLESCENTES

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre em Psicobiologia.

Natal 2016

(2)

MARIA LUIZA CRUZ DE OLIVEIRA

RELAÇÃO ENTRE O USO DE “MÍDIAS ELETRÔNICAS” E OS HÁBITOS DE SONO, SONOLÊNCIA DIURNA E PROCESSOS COGNITIVOS EM

ADOLESCENTES

Orientadora: Dra. Carolina Virginia Macêdo de Azevedo Co-orientadora: Dra. Katie Moraes de Almondes Co-orientador: Dr. Pablo Valdez Ramírez

Natal 2016

(3)

Oliveira, Maria Luiza Cruz de.

Relação entre o uso de "mídias eletrônicas" e os hábitos de sono, sonolência diurna e processos cognitivos em adolescentes / Maria Luiza Cruz de Oliveira. - Natal, RN, 2016.

115 f: il.

Orientador: Prof.ª Dr.ª Carolina Virginia Macêdo de Azevedo. Coorientador: Prof.ª Dr.ª Katie Moraes de Almondes.

Coorientador: Prof. Dr. Pablo Valdez Ramirez.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Pós-graduação em Psicobiologia. 1. Ciclo sono e vigília Dissertação. 2. Sonolência diurna -Dissertação. 3. Adolescente - -Dissertação. 4. Mídias eletrônicas - Dissertação. 5. Processos cognitivos - Dissertação. I.

Azevedo, Carolina Virginia Macêdo de. II. Almondes, Katie Moraes de. III. Ramirez, Pablo Valdez. IV. Título.

RN/UF/BCZM CDU 159.963.2:316.7 Catalogação da Publicação na Fonte

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

(4)

Título:

RELAÇÃO ENTRE O USO DE “MÍDIAS ELETRÔNICAS” E OS HÁBITOS DE

SONO, SONOLÊNCIA DIURNA E PROCESSOS COGNITIVOS EM

ADOLESCENTES

Autora:

MARIA LUIZA CRUZ DE OLIVEIRA

Data da defesa:

05/04/2016

Banca Examinadora:

___________________________________ Prof. Dr. Fernando Mazzilli Louzada

Universidade Federal do Paraná, PR

___________________________________ Prof. Dr. John Fontenele Araújo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN

___________________________________ Profa. Dra. Carolina Virginia Macêdo de Azevedo Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN

(5)

“Todo caminho da gente é resvaloso. Mas também, cair não prejudica demais A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:

Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, Sossega e depois desinquieta.

Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria,

E ainda mais alegre no meio da tristeza...” Guimarães Rosa

(6)

Agradecimentos

Por tudo o que sou e tenho e por todas as chances que terei: obrigada a minha Mãe, Maria de Lourdes. Pelo dom da vida e por todo amor dedicado. A você e ao meu pai, José Marcolino, por sempre dizer: “Estude, a sua educação é tudo o que podemos te dar”.

Ao meu irmão, Bruno, pelo cuidado em tentar impedir que eu passasse por tudo de ruim que já teve que passar. Crescer ao seu lado foi uma grande lição de vida. Agradeço a minha cunhada, Adriana, por, junto com meu irmão, fortalecer em mim a noção de união. À minha família, minha gratidão por todas as palavras de incentivo, pelo amor e pela paciência.

À Vanessa, por acreditar mais em mim que eu mesma, pela cumplicidade de quem me entende com um olhar. Cumprimos mais uma etapa!

À Carol, por me ensinar muito mais que Cronobiologia. Obrigada pela confiança, pela paciência, pela retidão, pelo exemplo de profissional e por me fazer querer dar o meu melhor. Só espero poder continuar crescendo, pessoal e profissionalmente, aos cuidados dessa orientadora que, pode não saber, nasceu para ensinar.

Aos meus co-orientadores, Katie Almondes e Pablo Valdez. Obrigada pelas sugestões, questionamentos e por me fazer pensar de formas diferentes.

À Aline Belísio, “querida co-orientadora” não-oficial. Não tenho palavras para dizer o quanto nossas conversas foram importantes para que eu conseguisse chegar até aqui. Muitíssimo obrigada!

À Ivanise Sousa pelo suporte durante a ausência de Carol e pelas valiosas sugestões na qualificação.

À Rosane, Fabiana e Jane, pela receptividade, pelos risos e por terem me ensinado tanto em tão pouco tempo.

Aos alunos da Psicologia que ajudaram muito nas coletas, Sharline, Milena e, principalmente, a Wilson.

Aos colegas de base que ajudaram, direta ou indiretamente, nesse projeto, pelas palavras de apoio ou por apenas me ouvir desabafar tantas vezes: Galileu,

Sabinne, Jonathas, Jackeleyde, Edileusa e Karlyne.

A todos os adolescentes que, pacientemente, participaram da coleta e às escolas que abriram suas portas. Obrigada!

Aos amigos que estiveram ao meu lado em tantos momentos da minha vida:

Marcel, Wadjha, Bernard, Luisa, Gleyson, Wilton, João Henrique, Rayane, Gaby e Suelayne. Muito obrigada por todos os conselhos, puxões de orelha e pelo colo.

Vocês se tornaram parte da minha família.

Aos professores do programa de Pós-graduação em Psicobiologia, vocês contribuíram muito para o meu crescimento.

À CNPq pelo apoio financeiro, que permitiu a realização dessa pesquisa. Por fim, a todos que, por falha de memória de alguém muito privada de sono, não tenham sido citados aqui, mas que contribuíram para que eu conseguisse terminar essa etapa.

(7)

Resumo

O atraso de fase em relação aos horários de deitar e levantar na adolescência somado ao crescente uso de mídia pode ocasionar exposição à luz em horários impróprios, irregularidade nos horários e privação de sono, bem como influenciar os processos cognitivos básicos que regulam o desempenho dos indivíduos, como a atenção, a memória operacional e a flexibilidade cognitiva. Esse contexto pode acarretar em redução na performance cognitiva, prejudicando a aprendizagem. Nesse trabalho, investigamos a relação entre o uso de “mídias eletrônicas” e os hábitos de sono, sonolência diurna e desempenho cognitivo de adolescentes do ensino médio de escolas privadas de Natal/RN. Assim, 83 estudantes (60 meninas, 23 meninos) da segunda série do ensino médio de escolas privadas de Natal/RN responderam questionários (A saúde e o sono, Avaliação do Cronotipo de Horne-Östberg e Escala de Sonolência de Epworth) e uma bateria de testes cognitivos (avaliação da atenção por uma Tarefa de Execução Contínua; memória operacional, pelo Subteste de dígitos; e Flexibilidade cognitiva pelo teste de trilhas e de Berg de classificação de cartas). Além disso, preencheram o diário de sono durante 10 dias e um protocolo diário de uso de mídia por dois dias na semana e dois no final de semana. No geral, o uso de mídia foi maior no fim de semana em relação à semana, e o dispositivo mais utilizado foi o celular, seguido de televisão e computador. Não foram encontradas correlações entre a estimativa diária de uso semanal de mídia e os parâmetros relacionados ao sono. Contudo, foram encontradas correlações fracas entre a estimativa diária de uso e: a sonolência ao acordar na semana (r=0,38; p<0,05), estabilidade geral na atenção (r=-0,23; p<0,05), os pontos (r=0,22; p<0,05) e escore total (r=0,22; p<0,05) na ordem direta do subteste de dígitos, e os erros únicos (r=-0,26; p<0,01) do teste de Berg. Em relação à frequência de uso de mídia antes de dormir, a televisão aparece como o dispositivo preferido pelo grupo que mais usa mídia neste horário (G3). Os horários de deitar, levantar e o tempo na cama, em geral, diferiram entre os dias de semana e fim de semana (Anova, p<0,05). De forma geral, os indivíduos do G1 apresentam os padrões de sono com horários mais avançados quando comparados aos adolescentes dos outros grupos. O G1 diferiu dos demais grupos no horário de levantar no fim de semana (Anova, p<0,05) e do G3 no tempo na cama na semana (Anova, p<0,05 – Bonferroni, p=0,06). A maioria dos estudantes apresentou sonolência diurna excessiva, com diferenças nas proporções entre os grupos. Porém, os maiores percentuais foram observados sucessivamente no G1 e G3 (X², p<0,05). Quanto ao desempenho nos testes cognitivos, o G1 apresentou menor percentual de omissões no alerta fásico (Mann-Whitney, p<0,05), uma tendência a um menor percentual de omissões em relação à atenção sustentada (Kruskal-Wallis, p=0,06), maior número de pontos na versão indireta do subteste de dígitos (Mann-Whitney, p<0,05) e maior eficiência na versão A do teste de Trilhas (Mann-Whitney, p<0,05). De maneira geral, esses resultados corroboram nossas hipóteses de que o uso de mídia influencia o sono, a sonolência diurna e a performance cognitiva, principalmente quando a utilização dos dispositivos eletrônicos ocorre próximo ao horário de deitar. Porém, estudos adicionais com um maior número de indivíduos são necessários para confirmar estas evidências.

Palavras-chave: Ciclo sono e vigília, sonolência diurna, adolescente, mídia,

(8)

Abstract

The phase delay with respect to schedules of bedtime and wake up time in adolescence added to the growing media use can cause exposure to light at inappropriate times, irregularity of sleep schedules and sleep deprivation, as well as influence the basic cognitive processes, which modulate the performance of the individuals, such as attention, working memory and cognitive flexibility. This context can lead to reduced cognitive performance, impairing learning. In this work, we examine if the sleep habits, daytime sleepiness and cognition in adolescent attending to school at morning shifts vary in function of the media usage. Thus, 83 (60 girls, 23 boys) second grade high school students of private schools in Natal/RN answered questionnaires (Health and Sleep, Horne and Östberg’s Morningness-Eveningness Questionaire and Epworth Sleepiness Scale) and a battery cognitive tests (evaluation of attention by a continuous performance task, working memory, the subtest of digits, and cognitive flexibility for trail making and Berg’s card sorting test). In addition, they completed the sleep diary for 10 days and daily media use log for two weekdays and two weekend days. Overall, media usage was higher in the weekend compared to the weekdays, and the most widely used device is the mobile phone, followed by television and computer. There were no correlations between the estimated weekly use of media and the parameters related to sleep. However, weak correlations were found between the weekly estimate and use: the overall stability in attention (r = -0.23; p <0.05), points (r = 0.22; p <0.05) and total score (r = 0.22; p <0.05) in the direct order of the digit subtest, and the isolated errors (r = -0.26; p <0.01) on Berg’s test. Concerning frequency of media use before bed, television appears as the preferred device for the group that have the higher frequency media use before bed (G3). The schedules of bedtime, wake up time and time in bed, in general, differ between weekdays and weekend (ANOVA, p<0,05). Overall, the G1 individuals have sleep patterns with more advanced times when compared to adolescents from others groups. G1 differ from others groups in wake up time in the weekend (ANOVA, p<0,05) and from G3 in time in bed on week (ANOVA, p<0,05 – Bonferroni, p=0,06). Most students had excessive daytime sleepiness, with differences in proportions between groups. However, the highest percentages were observed successively in G1 and G3 (X², p <0.05). For performance on cognitive tests, the G1 had a lower percentage of omissions in phasic alert (Mann-Whitney test, p <0.05), a tendency to a lower percentage of omissions in relation to the sustained attention (Kruskal-Wallis, p = 0 , 06), most points in the indirect order of the digit subtest (Mann-Whitney test, p <0.05) and greater efficiency in version A of the trail making test (Mann-Whitney test, p <0.05 ). Overall, these results support our hypothesis that the media use affects sleep, daytime sleepiness and cognitive performance, especially when the use of electronic devices occurs near the bedtime schedules. However, further studies with a larger number of individuals is required to confirm this evidence.

Key-words: Sleep-wake cycle, daytime sleepiness, adolescent, media, cognitive

(9)

Sumário

1. INTRODUÇÃO ... 1

1. O CICLO SONO E VIGÍLIA NA ADOLESCÊNCIA ... 1

2. PROCESSOS COGNITIVOS ... 12 2. OBJETIVOS: ... 20 2.1. OBJETIVO GERAL: ... 20 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: ... 20 2.3. HIPÓTESES E PREDIÇÕES: ... 21 3. METODOLOGIA ... 22 3.1. PARTICIPANTES DO ESTUDO ... 22 3.2. PROCEDIMENTOS PRÉVIOS: ... 22

3.3. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E DE EXCLUSÃO: ... 23

3.4. COLETA DE DADOS E ESTUDO PILOTO ... 23

3.5. AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS DE SONO E REGISTRO DO USO DE MÍDIA ... 25

3.5.1. Questionário a saúde e o sono ... 25

3.5.2. Questionário de classificação econômica ... 25

3.5.3. Escala de Sonolência de Epworth ... 26

3.5.4. Questionário de avaliação de cronotipo de Horne & Östberg ... 26

3.5.5. Protocolo diário de atividades ... 27

3.5.6. Diário do sono ... 27

3.5.7. Avaliações cognitivas ... 28

3.5.8. Tarefa de Execução Contínua – CPT ... 28

3.5.9. Subteste de dígitos da Escala Wechsler de Inteligência para crianças (WISC IV) ... 30

3.5.10. Teste de Trilhas... 30

3.5.11. Teste de Berg de classificação de cartas ... 30

3.6. ANÁLISE DE DADOS ... 32

3.6.1. Variáveis ... 32

3.6.2. Testes estatísticos ... 35

4. RESULTADOS ... 38

4.1. CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA DA AMOSTRA ... 38

4.2. CARACTERIZAÇÃO DO USO DE MÍDIA ... 39

4.3. ESTIMATIVA DIÁRIA DE USO DE MÍDIA E PADRÕES TEMPORAIS DO SONO ... 39

4.4. USO DE MÍDIA E ATENÇÃO... 40

4.5. USO DE MÍDIA E MEMÓRIA OPERACIONAL ... 41

4.6. USO DE MÍDIA E FLEXIBILIDADE COGNITIVA ... 42

4.7. ANÁLISE POR FREQUÊNCIA DE USO DE MÍDIA ANTES DE DORMIR... 43

4.7.1. Atividade antes de dormir ... 43

4.7.2. Motivo para o horário de acordar ... 45

4.7.3. Forma de despertar ... 46

4.7.4. Padrões temporais de sono ... 48

4.7.5. Avaliação da atenção ... 54

4.7.6. Avaliação da memória operacional ... 56

4.7.7. Avaliação da Flexibilidade cognitiva ... 57

5. DISCUSSÃO ... 62

6. CONCLUSÕES ... 74

REFERÊNCIAS ... 75

(10)

1

1. INTRODUÇÃO

1. O ciclo sono e vigília na adolescência

Um dos marcos comportamentais da adolescência é o atraso de fase observado nos horários de sono que ocorrem juntamente com a transição da infância para a adolescência (Carskadon et al., 1993; Andrade et al., 1993). Esse atraso de fase pode estar relacionado a modificações ligadas à fase púbere. Andrade et al. (1993) utilizaram os estágios de amadurecimento propostos por Tanner (1962) para comparar os horários de dormir dos adolescentes e mostraram que quanto mais maduros, mais tardios são os horários de sono.

Enquanto o fim da puberdade pode ser facilmente definido como o momento em que cessa o crescimento ósseo, o final da adolescência é uma etapa muito mais complexa para se definir, pois depende de uma série de medidas físicas, psicológicas, sociais e mentais (Bahadur et al., 2000). Segundo Roennenberg et al. (2004), o máximo atraso nos horários de dormir por volta dos 20 anos de idade pode servir como um marcador do final da adolescência.

O ciclo sono e vigília (CSV) varia entre a infância e a adolescência como consequência de um conjunto de modificações nos mecanismos reguladores de sono e no contexto psicossocial (Carskadon, 2002; Carskadon, 2011).

A partir do modelo dos dois processos de regulação do sono (Borbély, 1982; Daan et al., 1984; Borbély & Acherman, 1999; Borbély et al., 2016), Carskadon et al. (2004) propuseram uma explicação para o atraso de fase visto na adolescência, segundo a qual, modificações nos processos regulatórios afetariam a expressão do ritmo dos adolescentes. De acordo com o modelo de Borbély e Acherman (1999), o CSV é regulado pela interação de dois processos: o “processo C” e o “processo S”.

(11)

2 O “processo C”, chamado de componente circadiano, é descrito como um ritmo diário de propensão ao sono, controlado pelo sistema de temporização circadiano, que, em condições normais, é sincronizado principalmente ao ciclo de claro e escuro do ambiente, o que permite alocar a vigília na fase de claro e o sono na fase de escuro, em animais diurnos. Há evidências de que durante a adolescência (Carskadon et al., 2004), mudanças nos mecanismos de geração e sincronização do ritmo afetam: (a) a sensibilidade do sistema de temporização circadiano aos efeitos da luz dependente de fase (Crowley et al., 2007; Hagenauer et al., 2009; Crowley et al., 2015), promovendo mais atrasos que avanços; e (b) o aumento do período endógeno do ritmo (Duffy et al., 2001).

Segundo Pittendrigh et al. (1958), os momentos de maior sensibilidade à luz ocorrem nas transições entre os estados alternantes de um ciclo claro e escuro. Isso porque o sistema de temporização responde ao estímulo luminoso desencadeando um atraso de fase no final da atividade e início do repouso, e o oposto no final do repouso e início da atividade, que ocorrem, em condições naturais, ao anoitecer e ao amanhecer, respectivamente. Assim, os indivíduos tendem a atrasar seus ritmos ainda mais quando expostos à luz à noite.

Crowley et al. (2015) demonstraram que há uma maior resposta inibitória de melatonina à luz à noite em adolescentes com estágio mais avançado de desenvolvimento puberal. Esse resultado corrobora a proposta de Carskadon et al. (2004) de que o sistema de temporização dos adolescentes é mais sensível à luz à noite. As evidências apontam ainda para uma menor sensibilidade à luz pela manhã, momento em que as respostas à luz são menos intensas Crowley & Carskadon, 2010; Sharkey et al., 2011). Essa combinação de respostas modificadas da

(12)

3 sensibilidade à luz à noite e pela manhã em adolescentes promoveria um aumento no atraso de fase.

O aumento do período endógeno é outra modificação no Processo C que ajuda a explicar o atraso de fase dos adolescentes. Carskadon & Acebo (2005) encontraram maiores períodos endógenos em adolescentes, quando comparados a adultos, em experimentos de protocolo de dessincronização forçada. Alguns estudos em adolescentes (Andrade, et al., 1993; Carskadon et al., 1993) corroboram esse fenômeno ao demonstrar uma tendência crescente à vespertinidade verificada ao longo da adolescência. Além disso, experimentos em laboratório demonstraram que os padrões temporais de secreção de melatonina sofrem atraso em adolescentes mais maduros, mesmo quando os horários de escuro foram fixados (Carskadon et al, 1997; Carskadon et al., 2004).

Segundo o modelo dos dois processos, o segundo fator regulador do CSV é o

“Processo S”, ou componente regulatório homeostático do sono, que sofre influência

do sono e da vigília prévios. De modo que a pressão homeostática para o sono aumenta à medida que o tempo em vigília se estende, e se dissipa durante o tempo em que estamos adormecidos. Assim influenciando a intensidade e, em menor escala, a duração do sono. Propõe-se que esse componente esteja associado à acumulação crescente de um subproduto do metabolismo energético, a adenosina (Porka-Heiskanen et al., 2002), nas fendas sinápticas a medida em que se prolonga a vigília, o que atua como inibidor da atividade neuronal. Durante o episódio de sono, ocorreria uma remoção de adenosina acumulada.

Jenni et al. (2005), utilizando o marcador eletrofisiológico do processo S, ondas tetas na eletroencefalografia (EEG), demonstrou que há uma redução na velocidade de acumulação da propensão ao sono em adolescentes mais velhos.

(13)

4 Além disso, Taylor et al. (2005) relacionaram o estágio de desenvolvimento de Tanner com a latência do sono, e encontraram que adolescentes mais maduros apresentam maiores latências quando comparados aos mais imaturos. Indicando que, no horário fixado para dormir, os indivíduos mais velhos ainda não haviam atingido a pressão homeostática suficiente para adormecer, resultando em mais tempo acordados na cama. Por outro lado, não foi encontrada diferença na velocidade de dissipação da pressão homeostática durante o episódio de sono. Dessa forma, apesar do início do sono demorar mais a ocorrer, a duração não sofre alteração, em dias livres.

Os processos C e S, embora independentes, interagem de maneira que o sono ou a vigília sejam mantidos até o momento em que os dois processos apontem para a mesma direção (Borbély, 1982). No final da tarde, apesar da forte pressão homeostática, o indivíduo não adormece devido à baixa propensão circadiana ao sono. O sono acontece quando a pressão homeostática acumulada é alta e coincidente com o aumento na propensão circadiana. Durante o episódio sono, quando a pressão homeostática é dissipada, a propensão circadiana mantém o indivíduo adormecido. O despertar acontece quando, somado à dissipação homeostática, o processo C começa a reduzir seu efeito de propensão ao sono.

Outras propostas de modelos para explicar a regulação do sono incluem um terceiro processo. Akerstedt & Folkard (1996) propuseram uma modificação no modelo de dois processos de regulação do sono, ao sugerir que o alerta de um indivíduo pode ser previsto pelos componentes circadiano e homeostático somados à inércia do sono, ou Processo W, que pode ser definido como um fenômeno de desorientação ou redução no desempenho, que ocorre imediatamente após o despertar (Tassi et al., 1992; Tassi & Muzet, 2000). Assim como os processos S e C,

(14)

5 a inércia do sono modula o desempenho cognitivo (Burke et al., 2015), de maneira que, ao acordar, a inércia reduz o desempenho cognitivo. Logo após, o ritmo circadiano de alerta mantém um nível estável de processos cognitivos, apesar do aumento da pressão homeostática.

Além da regulação homeostática e circadiana, o sono apresenta um componente ultradiano, que se expressa por meio da alternância entre os dois estágios de sono: Sono não-REM, que é, atualmente, subdividido em três estágios (N1, N2 e N3), em que o primeiro representa a transição da vigília para o sono, e o N3, o sono profundo ou de “ondas lentas”; e o sono REM, também conhecido como “paradoxal” ou “sono ativo”, em que a atividade eletroencefálica é semelhante à vigília. Em adultos humanos saudáveis, um ciclo completo de sono leva cerca de noventa minutos para ocorrer e em uma noite habitual temos por volta de cinco ciclos completos (Carskadon & Dement, 2011).

Além dos processos de regulação já citados, Bjorvatn & Pallesen (2009) sugerem um fator capaz de sobrepor os demais: o comportamental. É importante entender quais comportamentos podem influenciar o sono e como as atividades realizadas próximo ao horário de deitar afetam o sono (Fossum et al., 2014). Os ciclos sociais, tais como horário de trabalho, de estudo, de lazer, por exemplo, exercem forte efeito sobre esse sistema e podem influenciar a sincronização do CSV diretamente ou indiretamente, modulando a exposição dos indivíduos à luz (Aschoff & Wever, 1976).

Carskadon et al. (2004; 2011) propõem que, além das modificações nos processos regulatórios do CSV, a adolescência é uma faixa etária pela qual os indivíduos passam por profundas modificações psicossociais e que o balanço entre os sistemas que regulam o CSV é desafiado (Crowley et al., 2014) por fatores que

(15)

6 podem exacerbar o atraso de fase habitual (Carskadon et al., 1997; Carskadon, 2011). Entre esses fatores psicossociais podemos citar o aumento na autonomia para decidir por quanto tempo os jovens podem permanecer acordados noite adentro (Loessl et al., 2008), o aumento de socialização via redes sociais (Lemola et al., 2014), a necessidade de estender a vigília para cumprir as obrigações acadêmicas (Carskadon,1997), maior acesso e tempo de uso de “mídias eletrônicas” (Calamaro et al., 2009), e o aumento da exposição à luz à noite associado a essas situações (Gellis & Lichstein, 2009; Calamaro et al., 2009; Van der Lely et al., 2015).

Nas últimas décadas, observa-se um aumento na disponibilidade e no uso de dispositivos eletrônicos, além disso, o avanço tecnológico permite que esses equipamentos se tornem mais leves e portáteis, sendo mais fácil o uso na cama, próximo aos horários de dormir (Fossum et al., 2015; Brunborg et al., 2011).

Desde o advento dos dispositivos eletrônicos de mídia, os profissionais da área educacional buscam um meio de inseri-los no contexto escolar de modo que promovam a facilitação do aprendizado (Atif, 2013). Por algum tempo, a propaganda de várias instituições educacionais trazia como diferencial o ensino por meio de equipamentos digitais.

Ao longo dos anos, enquanto um grupo permaneceu apoiando o uso, ressaltando as vantagens, um outro grupo de profissionais e pesquisadores surgiu, defendendo a ideia de que existam mais problemas que soluções vinculados ao uso de dispositivos eletrônicos pelos jovens estudantes (Atif, 2013). Entre as vantagens apontadas pelo grupo que defende o uso da tecnologia em favor da educação estão: a promoção de aprendizado independente, acesso mais fácil a informação e a promoção de um meio atraente de educar. Enquanto entre as desvantagens aponta-se: preguiça para estudar, pois os dispositivos eletrônicos fornecem meios mais

(16)

7 fáceis de obter respostas; o esquecimento da forma básica de se estudar; e que a mídia digital seria apenas mais uma forma de obter conhecimento, não garantindo eficiência diferenciada (Clark, 1994).

A disputa sobre o papel do uso de mídias eletrônicas no ensino produziu resultados contraditórios. Anderson et al. (2006), em uma pesquisa envolvendo processamento de uma sequência de vídeos de ação por um adulto, encontraram a ativação de 17 áreas cerebrais distintas diante do uso, o que indica uma maior ativação cortical, o que estaria relacionado com a promoção de efeitos positivos da mídia. Os efeitos do uso de mídia, quando se considera o conteúdo acessado através dos dispositivos, também podem ser positivos ou negativos quando se avalia o comportamento dos indivíduos. Isso surge quando se considera que os indivíduos aprendem a partir do acesso à mídia, de acordo com o que eles assistem e que esse aprendizado influência o comportamento (Fisch, 2005). Desta forma, comportamentos violentos poderiam ser aprendidos a partir de filmes e jogos que os banalizem. Por outro lado, novos conteúdos poderiam ser aprendidos através de documentários e programas educativos. Quando há uma medida mais objetiva de processos cognitivos, Colzato et al. (2010) encontraram resultados que apontam melhor flexibilidade cognitiva em indivíduos que praticaram jogos de tiros em primeira pessoa (Colzato et al., 2010).

Entretanto, parece ser menos controverso dizer que, atualmente, utilizamo-nos intensamente de dispositivos digitais de mídia para concluir diversas tarefas diárias e que esse uso parece interagir com as diversas atividades, afetando, inclusive, os horários e a qualidade de sono dos indivíduos (Orzech et al., 2016).

O uso de mídia à noite parece estar relacionado com a duração do sono em dias letivos (Calamaro et al., 2009; Van den Bulck, 2004; Cain & Gradisar, 2010) e

(17)

8 com atraso nos horários de dormir (Gamble et al., 2014). Esse efeito da mídia nos horários de sono pode ser ocasionado diretamente, devido ao efeito ativador sobre o sistema nervoso, característico das atividades de entretenimento, ou indiretamente, através do efeito sincronizador da luz emitida pelos dispositivos eletrônicos, resultando em um deslocamento nos horários de dormir dos jovens.

Apesar dos atrasos observados nos horários de sono dos indivíduos dessa faixa etária, não há uma redução na necessidade de sono durante o curso da adolescência (Carskadon et al., 1990, 2011; Hagenauer et al., 2009), como é visto durante a infância. Contudo, se vê uma redução da duração de sono praticada nessa faixa etária. Esse encurtamento do sono pode ser explicado por uma interação entre o crescente atraso de fase ao longo da adolescência e o aumento de pressões sociais (Carskadon, 2011; Boergers et al., 2014), como os horários escolares matutinos, que atuam como um forte sincronizador dos horários de acordar em dias letivos (Andrade et al, 1993). Além disso, Fischer et al. (2003), propõe que os horários de trabalho de alguns jovens também podem ser considerados responsáveis pelo encurtamento na duração do sono em dias da semana.

Devido à discrepância entre o tempo biológico e o tempo social (Wittmann et al., 2006) no qual um indivíduo está submetido, os adolescentes tendem a se privar de sono durante os dias da semana e a tentar compensar o sono perdido nos dias livres (Acebo et al., 2002). Fenômeno que confere ao padrão de sono dos jovens um caráter irregular.

A redução na duração do sono vista ao longo da adolescência, segundo Willinghan (2012) apresenta, também, relação com as preferências individuais nos horários do dia para a realização de atividades. Essas preferências individuais foram

(18)

9 caracterizadas e denominadas como cronotipo por Horne & Östberg, em 1977. Segundo os autores, existem três tipos de cronotipos por meio dos quais podemos classificar os indivíduos: 1 – matutinos, aqueles que dormem e acordam cedo; 2 – intermediários, aqueles que possuem horários intermediários de sono e 3 – vespertinos, aqueles que dormem e acordam tarde. Segundo Martynhak et al. (2010), ainda existe um quarto tipo de classificação de indivíduos segundo o cronotipo, que seriam os bimodais, que, em algumas respostas assemelham-se aos matutinos e em outras, aos vespertinos.

Para Willingham (2012), a redução na duração do tempo de sono vista ao longo da adolescência está correlacionada com a idade e com o cronotipo. De forma que quanto mais velho for o adolescente, maior será a privação de sono na qual estará submetido. E em relação ao cronotipo, os indivíduos vespertinos se submetem a maior redução no tempo de sono que intermediários e matutinos, principalmente porque possuem horários de acordar impostos pelo contexto social. Wittmann et al. (2006) demonstrou que os indivíduos adultos de cronotipo vespertino apresentavam maiores diferenças nos horários de dormir e acordar, entre a semana e o final de semana, refletindo o desalinhamento observado entre os ritmos biológicos e sociais que resultam numa pior qualidade de sono devido tanto à redução na duração do sono, quanto à alocação temporal inadequada desse sono, quando comparada a outras variáveis fisiológicas com ciclo circadiano conhecido (Roenneberg, 2012). Além disso, as preferências individuais por horários do dia possuem efeitos sob o desempenho cognitivo, de modo que os indivíduos apresentam melhores performances em medidas de atenção, memória e funcionamento executivo quando os testes são realizados no horário do dia preferido do participante.

(19)

10 Tais características da sociedade moderna podem produzir perda de sono e até uma diminuição da qualidade de vida (Alhola & Polo-Kantola, 2007), bem como uma desincronização circadiana, denominada de “Cronorruptura”. Esse processo é definido por Erren & Reiter (2009) e por Pittendrigh (1960) como sendo um grande distúrbio na organização circadiana da fisiologia, assim como do comportamento, capaz de gerar uma quebra nas relações de fase dos sistemas biológicos entre si e em relação a fatores externos. Esse fenômeno pode ocorrer pela exposição à luz excessiva à noite (especialmente à luz azul, associada a telas de computadores, tablets, celulares e demais dispositivos com telas de LED), o que reduz a secreção de melatonina, hormônio sinalizador da noite para o restante do organismo (Cipolla-Neto, 2015).

O desalinhamento crônico entre o tempo biológico e o tempo ambiental é mais comum em adolescentes que em outras faixas de idade, uma vez que esse fenômeno se torna mais frequente à medida que a preferência de horários para realização de atividades se torna mais tardia, ou seja, à medida que os indivíduos passam a apresentar tendências vespertinas, fato comum entre os púberes (Carskadon et al., 1999, 2001), independente do cronotipo. A curto prazo, a privação de sono pode ter como possíveis consequências: aumento no cansaço (Van den Bulck, 2004) e na sonolência diurna (Dahl, 1999). Enquanto a longo prazo, esse fenômeno pode ocasionar um risco crescente de desenvolvimento de distúrbios do sono (Blask, 2009), alterações cognitivas (Gronfier et al., 2007), síndromes metabólicas e problemas cardiovasculares (Garaulet & Madrid, 2010), obesidade (Roennenberg et al., 2012), desregulação reprodutiva (Gamble et al., 2013) e câncer (Davis & Mirick, 2006; Blask, 2009).

(20)

11 Essas alterações provocadas pela desorganização temporal do sono reforçam a afirmação de que o sono parece ser uma necessidade básica universal, assim como a necessidade de comer (Willingham, 2012). E embora não exista um consenso sobre as funções do sono, várias teorias foram propostas para explicar porque dormimos. Frank (2006) as divide em: (a) somáticas, aquelas que indicam que o sono é primariamente para o corpo, permitindo que processos anabólicos ocorram; e em (b) neurais, aquelas que argumentam que o sono é primariamente para o cérebro.

As teorias neurais são divididas em (a) metabólicas, que se baseiam nas ideias de que o sono atua como um processo de desintoxicação, defesa e recuperação do organismo dos danos causados pelo estresse oxidativo, além de processo restaurador de algo no cérebro que foi reduzido pela vigília (suprimento energético); e em (b) cognitivas. Entre as teorias cognitivas, podemos citar: 1) o sono como promotor da memória e da plasticidade neural, que é a base dos processos mnemônicos (Kopasz et al., 2010); 2) a consolidação da memória através de um sono de duração suficiente e com arquitetura que obedece uma sequência adequada (Ribeiro et al., 2014); e 3) a relação entre privação de sono e diminuição da atenção e da concentração durante as aulas (Fischer et al., 2003).

A falta de um sono adequado além de estar relacionada com uma redução na produtividade, no bem-estar e na segurança dos indivíduos, possui efeitos negativos sobre o pensamento crítico, a criatividade e a tomada de decisão (Durmer & Dinges, 2005; Harrison & Horne, 2000; Alhola & Kantola, 2007).

Dessa forma, o impacto dos hábitos impróprios de sono no desenvolvimento de crianças e adolescentes se torna um ponto de grande discussão e preocupação entre pesquisadores, educadores e familiares.

(21)

12 2. Processos cognitivos

O contexto de sala de aula e as cobranças da vida acadêmica demandam que os indivíduos estejam em boa forma para ter o melhor desempenho, que, segundo Schmidt et al. (2007) e Rogers et al. (2003), flutua influenciado pela ação da interação entre a pressão homeostática e a variação circadiana em processos cognitivos. A atenção, a memória operacional e a flexibilidade cognitiva são processos básicos, capazes de interferir nos processos cognitivos humanos.

Segundo o modelo de Posner e Rafal (1987), a atenção é um processo neuropsicológico básico não unitário. Composta por quatro componentes, a atenção confere ao indivíduo a capacidade de responder ao ambiente, selecionar um sinal e uma resposta específicos e se manter responsivo ao longo do tempo. De acordo com esse modelo, os processos que compõe a atenção são: o alerta tônico, que por ser o componente mais basal, permite ao indivíduo responder ao ambiente a qualquer momento; o alerta fásico, que é a capacidade do indivíduo de responder a um estímulo ambiental após um sinal de aviso; a atenção seletiva, que permite que respondamos a um determinado estímulo, enquanto os demais são ignorados; e a

atenção sustentada, que é a capacidade de permanecer responsivo ao ambiente por

tempo prologado (Posner & Rafal., 1987; Cohen & O’Donell, 1993; Valdez et al., 2005). Embora se saiba que existem mecanismos neurais distintos responsáveis por cada componente do sistema atencional, ainda não há completo esclarecimento desse substrato neural (Posner & Petersen, 1990; Posner & Berger, 2000). Contudo, compreende-se que uma lesão em qualquer uma das estruturas envolvidas com a atenção produzirá déficits no desempenho de diversas outras tarefas, independente da natureza da lesão (Fernandez-Duque et al., 2001).

(22)

13 Farrant et al. (2014) encontraram correlação entre baixo desempenho em tarefas de flexibilidade cognitiva e distúrbios atencionais, como hiperatividade, o que demonstra uma integração da atenção e das funções executivas.

As funções executivas (FE), também denominadas de controle executivo ou de controle cognitivo (Diamond, 2013), são definidas por alguns autores como um grupo de funções mentais complexas constituídas de habilidades e capacidades necessárias para organizar uma sequência de ações que nos permite realizar um determinado objetivo (Consenza & Guerra, 2011; Fuster, 2009; Malloy-Diniz et al., 2008). São responsáveis pela capacidade de iniciar, programar e controlar o comportamento de um indivíduo (Valdez et al., 2012) e, nas últimas décadas, começaram a ser intensamente estudadas e utilizadas na clínica para a realização de avaliação neuropsicológica (Barros & Hazin, 2013). São as funções executivas que permitem aos indivíduos: tomar decisões, ter autocontrole e resolver problemas. Essa organização e direcionamento dos pensamentos permitida por tais habilidades é essencial tanto para o sucesso acadêmico, bem como no dia-a-dia (Jurado & Rosselli, 2007).

Apesar de existir muitas formas de divisão dos subcomponentes das funções executivas e da dificuldade para ser definida, Jurado & Rosselli (2007) afirmam que há um acordo quanto à importância e complexidade das funções executivas para o comportamento adaptativo humano. Ainda segundo os autores, muitas questões permanecem sem resposta quanto ao entendimento das funções executivas, como, por exemplo, se existe uma habilidade base que pode explicar todos os componentes ou se esses componentes constituem processos relacionados, porém distintos. Essas duas hipóteses são chamadas, respectivamente, de teoria da unidade e da não-unidade.

(23)

14 Mesmo diante de uma conceituação geral, não existe um consenso sobre como definir esses processos regulatórios do comportamento. O que existe são modelos teóricos desenvolvidos durante a busca por tentar explicar o funcionamento executivo (Tirapu-Ustárroz et al., 2002).

O modelo de Lezak (1995, cit. Stuss, 2011; Valdez et al., 2012) considera, entre as subdivisões das funções executivas, os seguintes componentes: Iniciativa, inibição, flexibilidade, planejamento e verificação e correção.

Atualmente, há um consenso de que existem três funções executivas principais: o controle inibitório, a memória operacional e a flexibilidade cognitiva (Diamond, 2013). Nesse trabalho foram utilizadas, a memória operacional e a flexibilidade cognitiva como medidas de desempenho do funcionamento executivo.

De acordo com Baddeley (1996, 2012), para desempenhar tarefas complexas é necessário reter informação por tempo suficiente para completar o objetivo. A memória operacional constitui o sistema responsável por esse processo. O conceito de memória operacional envolve o conceito inicial de memória de curto prazo (Baddeley, 2012), diferenciando-se dessa última por utilizar um número de subsistemas e não um módulo unitário; e por estar envolvido em diversas outras tarefas cognitivas, como: aprendizado, raciocínio e compreensão (Baddeley, 1996). Segundo o modelo revisado por Baddeley (2000), a memória operacional é constituída por quatro componentes: a alça fonológica, processo pelo qual o indivíduo reverbera informação obtida através da linguagem; o esboço visuo-espacial, considerado um paralelo da alça fonológica, permite armazenar informações visuais e espaciais; o buffer episódico, que é um sistema de armazenamento temporário de informações de diferentes naturezas, promovendo a formação de um código multimodal; e o executivo central, que é uma espécie de

(24)

15 controle atencional da memória operacional, “decidindo” como a alça fonológica e o esboço visuo-espacial devem ser utilizados (Baddeley, 1996, 2000, 2001).

Segundo Fuentes et al., (2008), flexibilidade cognitiva é a capacidade de alternar o curso das ações ou dos pensamentos de acordo com a exigência ambiental, criativamente combinando conhecimentos e hábitos familiares para produzir novas sequencias de ações ou representações (Deák, 2003). Segundo Diamond (2013), um dos aspectos da flexibilidade cognitiva é a capacidade de mudar perspectivas espaciais ou interpessoais, que permitem ao indivíduo visualizar uma determinada situação por meio de diferentes direções e pontos de vista.

Segundo Déak (2003) realizar diferentes respostas em diferentes situações não é necessariamente um sinal de flexibilidade, se cada resposta for aprendida separadamente e apenas solicitada em contextos diferentes. Dessa forma, o aprendizado de diversos pares de estímulos e respostas não é equivalente à flexibilidade, sendo um pré-requisito desta, uma vez que essa capacidade exige a habilidade de conseguir escolher uma resposta dentro de uma faixa de respostas possíveis.

Embora o aprimoramento das funções executivas inicie desde o nascimento do indivíduo e progrida até o final da adolescência/início da vida adulta, mudanças importantes no desempenho são vistas dos 2 aos 5 anos de idade (Zelazo et al., 2003). Entre os 7 e os 9 anos de idade, verifica-se um pico do desenvolvimento dessas funções. Por volta dos 16 aos 19 anos ocorre outro período de desenvolvimento rápido dessas capacidades (Anderson et al., 2001).

Esse desenvolvimento tardio tem relação com o amadurecimento do provável sítio neuroanatômico dessas funções: o córtex pré-frontal. Segundo Goldberg (2002), essa região atua como um maestro de uma orquestra, mediando o

(25)

16 funcionamento executivo através da regência da atividade de diversos circuitos neurais (Barros & Hazin, 2013). Essa região somente atingirá pleno funcionamento ao final da adolescência (Consenza & Guerra, 2011), quando ocorre um acelerado amadurecimento, sendo sensível às variações ambientais, incluindo, nesse caso, o sono (Del Ciampo, 2012).

Espy (1997), em estudos com crianças de 2 a 6 anos, encontrou que essa capacidade emerge por volta dos 3 aos 5 anos de idade, demonstrando, ainda, que à medida que a complexidade de uma tarefa de classificação de cartas aumenta, mais erros perseverativos são cometidos pelas crianças. No estudo, a maioria dos participantes não conseguiu passar da primeira categoria, o que demonstra um amadurecimento incompleto dessa capacidade.

Segundo Zezalo & Frye (1998) e Anderson (2002) – ambos citados por Jurado et al., 2007 – a flexibilidade cognitiva, assim como outras funções executivas, apresenta um gradual amadurecimento ao longo do desenvolvimento do indivíduo, sendo uma das últimas capacidades a completar seu processo de pleno desenvolvimento, o que ocorre por volta do final da adolescência.

Durante a adolescência ocorrem modificações psicossociais profundas e rápidas (Carskadon et al., 2004; Carskadon et al., 2011; Andrade et al., 1993), o que, exige habilidades adaptativas, que demandam acentuada flexibilidade cognitiva (Hauser et al., 2014). Além disso, as novas demandas e a maior autonomia podem influenciar os hábitos e horários de sono dos jovens.

Estudos correlacionando a regulação ultradiana do sono e a flexibilidade cognitiva (Walker et al., 2002) mostraram que indivíduos, quando acordados durante a fase REM do sono apresentavam melhores desempenhos nas tarefas de avaliação cognitiva quando comparados com aqueles que foram acordados durante a fase

(26)

17 NREM do sono. Os autores do trabalho sugerem que a vantagem no desempenho do primeiro grupo não está relacionada apenas com o nível de excitação cortical, mas estaria ligada a mudanças neurofisiológicas específicas influenciando as redes cognitivas dos indivíduos.

Considerando os horários matutinos dos compromissos escolares dos adolescentes e a conhecida arquitetura do sono normal, em que as maiores porcentagens de sono REM ocorrem ao final do episódio de sono (Carskadon & Dement, 2011), o estudo de Walker et al. (2002) sugere que pode haver uma influência desses despertares nas redes cognitivas que promovem o correto funcionamento da flexibilidade cognitiva.

A privação de sono afeta, virtualmente, todas as funções cognitivas humanas, com destaque para o decréscimo na atenção e na memória operacional (Goel & Rao, 2009; Durmer & Dinges, 2005). Várias teorias tentam explicar como ocorre essa diminuição na performance cognitiva em situação de privação de sono, uma delas é a “hipótese da instabilidade do estado de vigília” (Durmer & Dinges, 2005). Para compreender essa teoria, primeiro deve-se considerar que o sono é um estado ativo e que existem sistemas neurofisiológicos promotores da vigília e do sono. Quando ativo, o sistema promotor de vigília, além de exercer seu próprio efeito (excitar o córtex de maneira que se mantenha alerta e desperto) inibe o sistema promotor do sono (Aloé et al., 2005). A hipótese da instabilidade do estado de vigília argumenta que o desempenho se torna instável a medida que o tempo em privação de sono progride, uma vez que ocorrem breves interferências dos sistemas promotores de vigília e de sono, promovendo instabilidade do estado de vigília (Alhola & Polo-Kantola, 2007). Goel & Rao. (2009) afirmam que essa instabilidade somada ao aumento da pressão homeostática, proveniente do tempo em vigília,

(27)

18 pode causar “ataques” de sono, “microssonos”, em que os indivíduos se tornam incapazes de se relacionar com o ambiente. Esse fenômeno ocorre quando o indivíduo, apesar de demonstrar estar acordado, apresentar um padrão de atividade cerebral semelhante àquela vista durante o sono (Alhola & Polo-Kantola, 2007).

Segundo a “Hipótese da vulnerabilidade pré-frontal”, proposta por Horne (1993), existem regiões cerebrais que se beneficiam mais do sono que outras e que, nenhuma delas se beneficia tanto quanto o córtex pré-frontal, o que torna essa região mais afetada pela privação do sono (Boonstra et al., 2007).

Sabe-se que as cobranças da sociedade moderna, bem como as facilidades que o desenvolvimento tecnológico proporciona, promoveram o desenvolvimento de uma rotina intensa, cujo início ocorre por volta da metade da adolescência. Esse estilo de vida frenético impulsiona muitas das atividades do nosso cotidiano para momentos inadequados. A adolescência é uma etapa de mudanças e descobertas, os jovens utilizam, intensamente, a tecnologia para se manter conectados com o mundo (Calamaro et al., 2009), o que, segundo uma pesquisa da National Sleep Foundation (2008) está relacionado com uma redução de 1 a 2 horas a duração do sono dos adolescentes. Segundo Calamaro et al. (2009), adolescentes que conseguem dormir entre 8 e 10 horas de sono por noite em dia letivo apresentam um uso de mídia, cerca de, 2 vezes menor que aqueles jovens que dormem menos que 8 horas. Essa pesquisa ainda sugere que esse padrão comportamental pode ocasionar um aumento na sonolência diurna excessiva, e consequentemente, comprometer a capacidade dos indivíduos de permanecer alertas e funcionais durante o dia. Além desses fatores capazes de influenciar no desempenho, alguns estudos (Wolfson & Carskadon, 1998; Carskadon et al., 1998; Medeiros et al., 2001; Wolfson & Carskadon, 2003) encontraram relação entre a irregularidade do sono e a

(28)

19 performance acadêmica, de maneira que a performance tende a piorar com o aumento da irregularidade.

Para avaliar como a mídia pode interferir nos hábitos de sono, na sonolência e funcionamento diurno de adolescentes, é importante avaliar o uso dos dispositivos eletrônicos tanto de forma geral como antes de dormir. Ainda são poucos estudos que avaliam a implicação do uso de mídia em parâmetros do sono e nos processos cognitivos, em conjunto, e que usem medidas de controle precisas.

A constante conexão dos jovens ao mundo por meio de dispositivos eletrônicos, a exposição à luz em horários impróprios, a irregularidade dos horários de sono e a constante privação de sono decorrente desse conjunto de fatores parece ser impactar o desenvolvimento de um indivíduo adulto saudável. Considerando esse estilo de vida, é importante avaliar a relação entre essas variáveis. Entre as perspectivas de uma pesquisa desse tipo, podemos citar o potencial para a criação de programas que visem educar jovens e preparar a comunidade escolar e os pais para lidar com situações que são prejudiciais à saúde e ao desenvolvimento cognitivo dos jovens, ajudando-os a adotar hábitos de uso de mídia e de sono saudáveis. Para isso, desenvolvemos uma pesquisa com uma amostra de adolescentes, estudantes de escolas privadas, da cidade do Natal/RN.

(29)

20

2. Objetivos:

2.1. Objetivo Geral:

Verificar a relação entre o uso de “mídias eletrônicas” sobre os hábitos de sono, sonolência diurna e desempenho cognitivo de adolescentes do ensino médio.

2.2. Objetivos específicos:

 Descrever os hábitos de sono, a sonolência diurna e o desempenho na tarefa de atenção e nos testes de memória operacional e flexibilidade cognitiva em função do uso semanal de mídia;

 Comparar os hábitos de sono, a sonolência diurna e o desempenho na tarefa de atenção e nos testes de memória operacional e flexibilidade cognitiva em função da frequência de uso de mídia antes de dormir;

(30)

21

2.3. Hipóteses e predições:

Hipótese 1: Os hábitos de sono dos adolescentes, o nível de sonolência diurna e o desempenho nos testes de processos cognitivos variam de acordo com o uso semanal de mídia.

Predição 1: Adolescentes que apresentam maior uso semanal de mídia terão horários mais tardios de ir para a cama e de levantar, menor tempo na cama na semana, maior irregularidade nos horários de sono, maior sonolência diurna, maior propensão a cochilar durante o dia e pior desempenho nos escores da tarefa de atenção, no subteste de dígitos e nos testes de trilhas e de Berg.

Hipótese 2: Os hábitos de sono, a sonolência diurna e o desempenho nos testes cognitivos variam em função do uso de mídia antes de dormir.

Predição 1: Indivíduos que usam mais frequentemente dispositivos eletrônicos antes de dormir apresentam horários de dormir e de acordar mais tardios, bem como menor tempo na cama na semana, maior irregularidade nos horários de sono, maior sonolência diurna, maior propensão a cochilar durante o dia e pior desempenho nos escores da tarefa de atenção, no subteste de dígitos e nos testes de trilhas e de Berg.

(31)

22

3. Metodologia

3.1. Participantes do estudo

O estudo foi desenvolvido numa população de 83 estudantes da 2ª série do Ensino Médio de escolas privadas do município de Natal/RN. Os dados foram coletados entre setembro de 2014 e novembro de 2015 em 4 (quatro) escolas de 3 (três) zonas da cidade do Natal/RN, sendo: 1 escola na zona Leste (25 adolescentes), 1 escola na Zona Norte (19 adolescentes) e 2 escolas da Zona Sul (39 adolescentes). A pesquisa foi apresentada a 411 adolescentes, dos quais 115 assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e 92 deles participaram da coleta de dados. Após a aplicação dos critérios de exclusão, a amostra final foi composta por 83 adolescentes (Meninas: 60 - Meninos: 23).

3.2. Procedimentos prévios:

Alguns procedimentos foram tomados antes do início da coleta de dados, obedecendo a seguinte ordem:

 Envio do projeto de pesquisa, do qual essa dissertação faz parte, ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN. O projeto foi aprovado conforme o parecer em anexo (CEP/UFRN - Parecer 650.621 – Anexo 1);

 Apresentação dos objetivos e da metodologia do projeto à equipe pedagógica e psicológica da escola para solicitar autorização da instituição mediante assinatura de carta de anuência e elaborar a programação para coleta de dados;

(32)

23

3.3. Critérios de Inclusão e de Exclusão:

Foram incluídos adolescentes de ambos os sexos matriculados em escolas privadas do município de Natal/RN, cursando a 2ª série do Ensino Médio que aceitaram participar voluntariamente da coleta de dados, por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 2). Indivíduos que relataram a presença de algum distúrbio do sono ou neurológico e uso de algum psicofármaco que pudesse interferir no desempenho dos indivíduos nos testes de avaliação cognitiva foram excluídos da amostra no início da coleta de dados.

3.4. Coleta de dados e estudo piloto

Entre os dias 12/09 e 02/10/2014 foi realizado um estudo piloto. O objetivo dessa etapa foi verificar a efetividade e ajustar o tempo de aplicação dos questionários, equipamentos e testes de avaliação neuropsicológica. O estudo contou com a adesão, via assinatura de termo de consentimento, de 28 alunos da 2ª série do ensino médio de uma escola da Zona Sul de Natal/RN. Após desistências e perda de dados e aplicação dos critérios de exclusão, o total de participantes do estudo foi de 22 adolescentes. Os dados coletados durante o estudo piloto fizeram parte da amostra final analisada no estudo, na medida em que não houve diferença na metodologia aplicada posteriormente.

Antes de iniciar a coleta de dados o projeto foi apresentado ao público alvo da pesquisa, os alunos da escola. Na sequência, foi feita a entrega do termo de consentimento livre e esclarecido aos estudantes para serem entregues aos pais/responsáveis legais. Em seguida, ocorreu a devolução dos términos assinados.

(33)

24 A coleta ocorreu em duas etapas, utilizando os instrumentos citados no Quadro 1. A primeira etapa consistia de um levantamento sobre saúde, sonolência, cronotipo, avaliação econômica e hábitos de vida. A aplicação desse bloco de questionários foi feita em sala de aula, durante, aproximadamente uma hora, em dia normal de aula, agendado previamente com a escola. A segunda etapa de coleta iniciava sempre nas sextas-feiras, quando os alunos recebiam um envelope contendo o diário do sono e protocolo diário de uso de mídia; e sua conclusão acontecia 11 dias após a entrega desse material. Os dados sobre o uso de mídia foram coletados: 1- através da frequência de uso de mídia antes de dormir, por meio de uma questão no diário do sono; e 2- através da estimativa diária de uso de mídia protocolo de atividades, por meio do protocolo diário de uso de mídia.

A avaliação cognitiva aconteceu em um dia dentro dos 10 dias de coleta de dados de sono, para isso os adolescentes eram retirados, individualmente e apenas uma vez, de sala de aula e levados a uma outra sala, na tentativa de diminuir ao máximo as interferências externas. Para reduzir a influência da transição do fim de semana para a semana no alerta dos indivíduos, a tarefa era realizada entre terça e sexta-feira.

Quadro 1 – Instrumentos utilizados e duração de uso em cada etapa da coleta.

Etapas Instrumentos utilizados Duração

 A Saúde e o Sono com questões

referentes à saúde geral e avaliação econômica da população;

 Escala de Sonolência de Epworth;  Cronotipo Horne & Östberg;

Aplicação única;

 Diário de sono; 10 dias;

 Protocolo diário de uso de mídia; 2 dias na semana e 2 dias no fim de semana;  Tarefa de Execução Contínua Aplicação única

 Subteste de Dígitos da Escala Wechsler de Inteligência para crianças (WISC IV)

Aplicação única

 Teste de Trilhas Aplicação única

(34)

25

3.5. Avaliação dos hábitos de sono e registro do uso de mídia

3.5.1. Questionário a saúde e o sono

Questionário proposto por Miriam Andrade (Mathias et al., 2006), contendo originalmente 40 questões sobre saúde geral, conhecimento sobre o sono e hábitos dos indivíduos. Como o foco dessa pesquisa não era o conhecimento dos indivíduos sobre o sono e o objetivo da aplicação deste questionário era a coleta de dados para caracterizar os hábitos de sono gerais dos indivíduos e para aplicação dos critérios de exclusão, utilizamos uma versão modificada do questionário, removendo toda a sessão acerca dos conhecimentos sobre o sono e adicionando onze alternativas sobre questões relacionadas à saúde geral. Esse procedimento foi feito para caracterização dos problemas de saúde e o usode medicamentos capazes de afetar o desempenho nos testes de desempenho executivo e os hábitos de sono (Anexo 3).

3.5.2. Questionário de classificação econômica

A classificação econômica foi feita a partir de modelo de questionário modificado, adotado em outras pesquisas (Belísio, 2010, 2014), elaborado utilizando o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) proposto pela Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (ANEP, 2008) e inserido no questionário “A saúde e o sono” (Mathias el al., 2006). Esse levantamento permitiu classificar a amostra em oito classes econômicas de acordo com a pontuação referente às respostas quanto às posses e grau de instrução, como mostrado no Quadro 2.

(35)

26 Quadro 2 - Pontos e Renda familiar média de acordo com o Critério de Classificação

Econômica Brasil (CCEB).

Classe Pontos Renda Familiar Média (R$)

A1 42 a 46 9.733,00 A2 35 a 41 6.564,00 B1 29 a 34 3.479,00 B2 23 a 28 2.013,00 C1 18 a 22 1.195,00 C2 14 a 17 726,00 D 8 a 13 485,00 E 0 a 7 277,00

3.5.3. Escala de Sonolência de Epworth

A escala de Epworth (Johns, 1991) foi desenvolvida utilizando situações cotidianas hipotéticas, por meio das quais se pode medir o grau de sonolência diurna de um indivíduo. São 8 perguntas que devem ser pontuadas de 0 (menor possibilidade de adormecer) a 3 (maior possibilidade de adormecer) (Anexo 4). O objetivo da utilização desse questionário era contabilizar o total de participantes que apresentava sonolência diurna excessiva e os que tinham pouca sonolência, para isso foi utilizado o escore gerado por meio desse levantamento, que varia entre 0 e 24, valores abaixo de 10 pontos são considerados indícios de pouca sonolência, enquanto valores acima de 10 pontos indicam sonolência excessiva.

3.5.4. Questionário de avaliação de cronotipo de Horne & Östberg

Esse questionário (Horne e Östberg, 1977) consiste em 19 questões, que devem ser respondidas respeitando a sequência em que estão dispostas. Para essa pesquisa, foi utilizada a versão adaptada para a população brasileira por Benedito-Silva et al. (1990). O objetivo dessa ferramenta era avaliar a preferência de horários de um indivíduo para a realização de atividades ao longo de um dia. Dessa forma,

(36)

27 seus escores permitiram classificar o participante em uma das três categorias de cronotipo: Matutino, intermediário e vespertino. Os menores valores obtidos a partir das respostas indicam maior tendência à vespertinidade e os maiores, tendência à matutinidade (Anexo 5).

3.5.5. Protocolo diário de atividades

O uso semanal de mídia foi estimado por meio de uma versão adaptada do protocolo proposto originalmente por Knauth et al. (1983) e adaptado para língua portuguesa por Fischer et al. (1987). O preenchimento foi feito durante dois dias no meio da semana e dois dias de um fim de semana. Neste protocolo são registrados os horários de início e fim, e consequentemente a duração do uso de diferentes tipos dispositivos eletrônicos (celular, computador, tablet, televisão e vídeo-game). Numa escala de intervalos de quinze minutos que monitora às 24 horas do dia. O uso de cada dispositivo eletrônico foi registrado por uma reta traçada entre os horários de início e fim do uso do dispositivo (Anexo 6).

3.5.6. Diário do sono

Objetivava registrar os hábitos de sono tais como horário de deitar e levantar, forma de despertar, e frequência e duração de cochilos. A este questionário foi adicionada uma escala para avaliação de sonolência ao acordar. Foi utilizada uma versão adaptada por Belísio (2014) da Escala de Sonolência ilustrada com faces de Maldonado et al. (2004) (Anexo 7). O diário foi preenchido durante os 10 dias de coleta.

(37)

28 O uso de mídia antes de dormir foi avaliado por meio de uma questão do diário do sono “O que estava fazendo antes de dormir?”, calculando a frequência com a qual os indivíduos fazem uso de dispositivos eletrônicos antes de deitar.

3.5.7. Avaliações cognitivas

Entre as terças e sextas, os alunos eram, individualmente, levados a outra sala para a aplicação dos testes cognitivos, essa bateria de testes durava em média 50 minutos por pessoa e era realizada apenas uma vez com cada participante. A aplicação era realizada entre às 8:00h e 10:15h.

3.5.8. Tarefa de Execução Contínua – CPT

Os componentes da atenção foram avaliados por meio de uma versão da Tarefa de execução contínua (Figura 1) modificada por Valdez et al. (2005). Esta tarefa consiste na apresentação de estímulos numéricos exibidos na tela branca de um computador, com medição de 15 polegadas, localizada 60 cm a frente do participante com fonte do dígito Arial 60.

Para responder aos estímulos, os jovens devem utilizar os dedos indicador, médio e anular para pressionar respectivamente as teclas 1, 2 e 3. O número 1 deverá ser acionado quando aparecer qualquer número entre “0” e “8”. O número 2 é pressionado quando surgir no centro da tela o número “9”; quando após o número “9” surgir um “4”, o participante deve acionar a tecla “3”.

A tarefa consiste em 27 blocos de 20 estímulos, sendo 14 estímulos diferentes de “9”, 4 estímulos “9” e 2 estímulos “4” após o “9”. A duração da

(38)

29 apresentação dos estímulos é de 100 milissegundos e os intervalos entre os estímulos variam entre 1000 a 1400 milissegundos. A duração total da tarefa é de 12 minutos e 12 segundos, totalizando, ao final, a apresentação de 540 estímulos.

Na execução da tarefa, respostas diferentes de “9” são aceitas como medidas do alerta tônico, as respostas aos estímulos iguais a “9” são consideradas como medidas da atenção seletiva, enquanto o alerta fásico é considerado responder o “4” após um “9”. Por fim, a atenção sustentada ou vigilância corresponde à capacidade do indivíduo de manter o foco na tarefa que está realizando ao longo dos 12 minutos e 12 segundos de teste.

Ao chegar na sala de aplicação, o participante era colocado frente ao computador a ser usado, onde era instruído sobre as regras da tarefa e realizada um breve treino de duas etapas. Na primeira, o aplicador controlava a velocidade com a qual os estímulos apareciam, na segunda parte do treino, acontecia uma breve simulação do que acontece durante a execução da tarefa. Os resultados dos treinos não foram incluídos na análise dos dados.

(39)

30

3.5.9. Subteste de dígitos da Escala Wechsler de Inteligência para crianças

(WISC IV)

O subteste de dígitos faz parte da Escala Wechsler de Inteligência para crianças (WISC IV) e é uma medida de memória de curto prazo e de memória operacional, sendo constituído de duas etapas, em que o indivíduo deve responder a sequências numéricas crescentes de duas formas: na ordem direta, o indivíduo deve repetir os números na sequência que lhe foi informada, enquanto na ordem indireta, os indivíduos devem repetir a sequência no sentido inverso ao que lhe foi informado.

3.5.10. Teste de Trilhas

O teste de Trilhas foi utilizado como medida de flexibilidade cognitiva, uma vez que é constituído por duas partes: (A), que investiga o rastreamento visuoperceptual, velocidade de processamento e atenção; e (B), que investiga, adicionalmente, a flexibilidade cognitiva e a inibição (Strauss & Spreen, 2006; Howieson & Lezak, 2014). Na parte A, os indivíduos devem ligar, de maneira crescente, 25 círculos numerados, e na parte B os indivíduos devem ligar, de maneira crescente e alternada, 25 círculos contendo letras e números, de modo que nunca dois números ou duas letras estejam ligadas.

3.5.11. Teste de Berg de classificação de cartas

Uma das medidas de flexibilidade cognitiva foi realizada por meio do teste de Berg de Classificação de Cartas (Berg’s Card Sorting Test – BCST) (Figura 2), que

Referências

Documentos relacionados

As viagens tinham como principal razão: principal razão: as peregrinações/ culto dos lugares as peregrinações/ culto dos lugares

Nome: Atacado Solda Fria HVAC MEGA PRO Para Tubo Cobre Aluminio e Latão uso Ar Condicionado ID#: 106 Valor: R$49.00..

Foram desenvolvidas duas formulações, uma utilizando um adoçante natural (stévia) e outra utilizando um adoçante artificial (sucralose) e foram realizadas análises

• Os municípios provavelmente não utilizam a análise dos dados para orientar o planejamento de suas ações;. • Há grande potencialidade na análise dos micro dados do Sisvan

A investigação do grau de transparência das DFs apresentadas pela IPES analisada perpassa a atividade de controle social, uma vez que a sociedade em geral, direta ou indiretamente,

Quando a luz acende, o console está sob a condição de monitoramento, com os medidores de nível principal mostrando o nível do sinal do canal do monitor e o sinal do canal é

A Trilha, que fica no interior do Bosque Santa Marta, corresponde a um percurso de 300 m, onde os monitores incentivam os visitantes a perceberem o ambiente utilizando diferentes

de Ishioka Monte Tsukuba (Termas de Monte Tsukuba) Pera Kasumigaura Cidade da Ciência de Tsukuba Museu de Natureza da Província de Ibaraki Metrópole de Tóquio Metróple de Tóquio