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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE NÚCLEO DE DESIGN PROJETO DE GRADUAÇÃO EM DESIGN 2

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE

NÚCLEO DE DESIGN

PROJETO DE GRADUAÇÃO EM DESIGN 2

JAELSON CARLOS DA SILVA JUNIOR

PUNK E HIP HOP: A INCORPORAÇÃO DE CONCEITOS DE

CONTRACULTURAS URBANAS NO DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO DE MODA.

PROJETO DE GRADUAÇÃO EM DESIGN 2

(2)

JAELSON CARLOS DA SILVA JUNIOR

PUNK E HIP HOP: A INCORPORAÇÃO DE CONCEITOS DE

CONTRACULTURAS URBANAS NO DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO DE MODA.

Projeto de Graduação de Design apresentado como requisito parcial de obtenção do grau de Bacharel em Design pela Universidade Federal de Pernambuco, no Centro Acadêmico do Agreste.

Orientadora:

Doutora Maria Teresa Lopes Co-orientador:

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Catalogação na fonte:

Bibliotecária – Simone Xavier CRB/4 - 1242

S586p Silva Júnior, Jaelson Carlos da.

Punk e hip hop: a incorporação de conceitos de contraculturas urbanas no desenvolvimento da coleção de moda. / Jaelson Carlos da Silva Júnior. – 2016.

108f. il. ; 30 cm.

Orientadora: Maria Tereza Lopes Coorientadora: Amilcar Almeida Bezerra

Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de Pernambuco, CAA, Design, 2016.

Inclui Referências.

1. Contracultura. 2. Hip hop (Cultura popular). 3. Punk (Música). I. Lopes, Maria Tereza (Orientadora). II. Título.

740 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2016-181)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE

NUCLEO DE DESIGN

PARECER DE COMISSÃO EXAMINADORA DE DEFESA DE PROJETO DE GRADUAÇÃO EM DESIGN DE

JAELSON CARLOS DA SILVA JUNIOR

“Punk e Hip Hop: A incorporação de conceitos de contraculturas urbanas no desenvolvimento da coleção de moda. ”

A comissão examinadora, composta pelos membros abaixo, sob a presidência do primeiro, considera o aluno JAELSON CARLOS DA SILVA JUNIOR

APROVADO

Caruaru, 14 de Julho de 2016.

______________________________________________ Ricardo de Sabóia

______________________________________________ Amilcar Almeida Bezerra

______________________________________________ Maria Teresa Lopes

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AGRADECIMENTOS

Foi uma jornada longa até que esse trabalho fosse concluído. Nessa jornada, eu não poderia deixar de agradecer aos meus pais, que me deram estrutura a vida inteira e incentivo para que eu fizesse o que nasci para fazer: Design. Aos meus irmãos, que são meus “pariceiros”. Minha família inteira por me amar e ser tipo um fã clube. Aos companheiros do “Jogação Oculta” por serem tão amáveis, divertidos e closeiros. Ao movimento negro, pelo qual eu tenho o maior respeito e admiração pela luta constante e intensa. Ao movimento LGBT, pelo qual também tenho bastante respeito, carinho e empatia. Ao Governo Federal, pela interiorização das Universidades Públicas que transformaram a minha cidade e seus arredores, me proporcionando a oportunidade de estudar o que mais amo. À Teresa Lopes e Amilcar Bezerra, orientadores e parceiros nessa jornada. Ao Fabrico de Ideias, meu estúdio de design, onde aprendo todos os dias com meus companheiros Victor, Vinicius e Italo. Às Bichas, negrxs, diferentonas, estranhxs e excluídxs, por inspirarem e serem a base para esse trabalho. #ForaTemer #NãoVaiTerGolpe.

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RESUMO

Esta pesquisa foi elaborada com a finalidade de servir de fundamentação histórica e conceitual para a criação de uma coleção de croquis de moda, que carreguem consigo uma bagagem de significados pertencentes aos movimentos de contracultura Punk e Hip Hop. Para estudar estes movimentos, foi necessário investigar o que é uma contracultura e em que circunstâncias ela surge na sociedade. Através desses estudos, foi possível estabelecer um panorama do que cada movimento representou culturalmente na época em que surgiu, na atual cultura pós-moderna e como aplica-los a artefatos de moda.

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ABSTRACT

This research was elaborated with the goal to be an historic and conceptual substantiation for a creation of an Fashion sketch collection which carries with it a baggage of meanings belonging to the movements of counterculture Punk and Hip Hop. To Study these movements, it was necessary: Investigate what an coutnerculture is and under what circunstances it rises in the society. Through these studies, it was possible to establish an overview of what each movement represented culturally at the time they emerged, in the current post modern culture and how to apply them in fashion artefacts.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fotografia do quinteto de George Shearing se apresentando no famoso

clube de Jazz Birdland, por volta de 1952. ... 19

Figura 2 - Capa do livro The White Negro (1957) ... 21

Figura 3 - Dedicatória de Jack Kerouack para Allen Ginsberg em uma das cópias de On the Road mostra que, de tão próximos, eles se permitiam o insulto. ... 24

Figura 4 - Gary Snyder, Peter Orlovsky, Allen Ginsberg visitando o Himalaia em 1982. ... 25

Figura 5 - Cartaz de Route 66, série de 1960 inspirada no livro On the Road. ... 26

Figura 6 - Capa da revista Mad de abril de 1974, uma das mais polêmicas, os distribuidores chegaram a se recusar a vende-la. ... 27

Figura 7 - Malcolm McLaren em frente à Let it Rock. ... 32

Figura 8 - Slogan da loja de Malcolm e Vivienne em 1972. ... 33

Figura 9 - Membros d’O Contingente de Bromley. ... 34

Figura 10 - Soo Catwoman. ... 35

Figura 11 - Siouxsie Sioux e sua icônica maquiagem nos olhos. ... 35

Figura 12 - David Vanian em apresentação do The Dammed em 1977. ... 37

Figura 13 - Jornais mostravam indignação pelo ocorrido no programa de tv Today with Bill Grundy. ... 38

Figura 14 - Anúncio da marca de calçados Dr. Martens de 2007 traz Sid Vicious vindo dos céus. A campanha também retratou diversos ícones do rock da mesma maneira. ... 39

Figura 15 - Malcolm McLaren e Vivienne Westwood, responsáveis por arquitetar o movimento punk. ... 40

Figura 16 - Vivienne Westwood no cortejo fúnebre de Malcolm McLaren. ... 41

Figura 17 - Desconstrução da imagem convencional de um sapato de salto alto, peça intitulada “Scary Beauty” (beleza assustadora) da artista Leanie van den Vyver. ... 42

Figura 18 - Sex Pistols ... 43

Figura 19 - Jovens punks ... 43

Figura 20 - Jovens punks. ... 44

Figura 21 - Tag histórica Kilroy was here, cuja origem não é totalmente esclarecida. . 46

Figura 22 - Metrô da cidade de New York. ... 47

Figura 23 - Freeze, passo parado do breakdance. ... 48

Figura 24 - Logo do The Mighty Zulu Kingz, grupo de breakdance da Zulu Nation. .... 49

Figura 25 - DJ Bobby Viteritti na década de 1970. ... 50

Figura 26 - Flyer original da festa organizada por Clive (Kool Herc). ... 51

Figura 27 - Edifício 1520 na Av. Sedgwick. ... 52

Figura 28 - Graffiti crime hurts, "crime machuca" em tradução livre. ... 54

Figura 29 - Jornal de New Orleans divulgando linchamento que aconteceria na mesma tarde da publicação. ... 58

Figura 30 - Ruby Bridges chegando na escola cercada de brancos protestando contra a integração racial. ... 60

Figura 31 - Poster Black Power. ... 61

Figura 32 - Kathleen Cleaver, liderança dos Panteras Negras. ... 62

(9)

Figura 34 - Looks de Kanye West. ... 67

Figura 35 - Rapper coreano G-Dragon... 67

Figura 36 - Ficha de público. ... 72

Figura 37 - Painel de público. ... 74

Figura 38 – Painel de tendência: PUNK. ... 75

Figura 39 - Painel de tendência: HIP HOP. ... 76

Figura 40 - Ficha de síntese da abordagem. ... 77

Figura 41 - Esboços da coleção. ... 78

Figura 42 - Siouxsie Eyes, os olhos icônicos da rockeira. ... 79

Figura 43 - Esboços da coleção. ... 79

Figura 44 - Esboços e evolução da coleção. ... 80

Figura 45 - Esboço da coleção. ... 81

Figura 46 - Produção dos elementos gráficos. ... 81

Figura 47 - Textura criada a partir do processo de digitalização e manipulação do elemento gráfico. ... 82

Figura 48 - Textura em pincel e Nanquim ... 82

Figura 49 - Textura finalizada digitalmente. ... 83

Figura 50 - Produção manual das Tags. ... 83

Figura 51 - Tags "Orgunga". ... 84

Figura 52 - Tags "Plantations No More". ... 84

Figura 53 - Obras caligráficas de Claudio Gil ... 85

Figura 54 - Obras de Calligraffiti ... 85

Figura 55 - Estampas caligráficas "Power to the people", “the end is now” e “no fucking desperate” ... 86

Figura 56 - Tag "Stop Killing Us". ... 86

Figura 57 - Tag "Bicha Bichérrima". ... 87

Figura 58 - Tag "Black Power". ... 87

Figura 59 - Tag "I am my religion". ... 88

Figura 60 - Esboço de pantera. ... 88

Figura 61 - Textura sendo produzida manualmente. ... 89

Figura 62 - Textura tratada digitalmente. ... 89

Figura 63 - Pattern criado através do Tag. ... 89

Figura 64 - Look 1 ... 92 Figura 65 - Look 2 ... 93 Figura 66 - Look 3 ... 94 Figura 67 - Look 4 ... 95 Figura 68 - Look 5 ... 96 Figura 69 - Look 6 ... 97 Figura 70 - Look 7 ... 98 Figura 71 - Look 8 ... 99 Figura 72 - Look 9 ... 100 Figura 73 - Look 10 ... 101

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 12

1.1. GRANDE ÁREA DE INTERESSE ... 13

1.2. PROBLEMA PRÁTICO ... 13

1.3. PROBLEMA DE PESQUISA ... 13

1.4. OBJETIVO GERAL ... 13

1.5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 13

1.5.1. Conceituar os movimentos de contracultura ... 13

1.5.2. Analisar os elementos do Punk e do Hip Hop ... 13

1.5.3. Selecionar quais os elementos do movimento punk e hip hop serão utilizados na coleção... 13

1.5.4. Investigar a metodologia de desenvolvimento de coleção adequada 13 1.6. JUSTIFICATIVA ... 14 1. CAMPOS DE INSPIRAÇÃO ... 15 1.1. CONTRACULTURA ... 15 1.1.1. O QUE É A CONTRACULTURA? ... 16 1.1.2. OS PRIMÓRDIOS DA CONTRACULTURA... 16 1.1.3. A CONTRACULTURA DO SÉCULO XX ... 18 1.2. O PUNK ... 30 1.2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA. ... 30

1.2.2. O PUNK COMO FENÔMENO DA MODA ... 41

1.3. HIP HOP ... 45

1.3.1. OS 4 ELEMENTOS DO HIP HOP ... 45

1.3.2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ... 50

2. PUNK + HIP HOP ... 65

2.1. O QUE ELES TÊM EM COMUM ... 65

3. METODOLOGIA ... 69

3.1. MÉTODOS DE PESQUISA ... 69

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5. APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO E SEUS ELEMENTOS ... 78

5.1. ESBOÇOS E EVOLUÇÃO ... 78

5.2. COLEÇÃO DE CROQUIS ... 90

CONCLUSÃO ... 103

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1. INTRODUÇÃO

As contraculturas são movimentos que questionam e rompem com os conceitos estabelecidos pela sociedade dominante e possuem um grande papel na mudança de valores na sociedade. Desde a antiguidade, esse desejo em quebrar os padrões se manifesta, mas no séc. XX tomou proporções ainda maiores. Andando junto com a luta pelos direitos civis, os movimentos de contracultura que surgiram depois da década de 1950 como os beatniks e os hippies tiveram e têm até hoje um grande impacto na juventude e na nossa maneira de pensar, garantindo mais liberdade e autonomia para vivermos da maneira que queremos. Influenciados por eles, os movimentos punks e o Hip Hop surgiram do caos, da violência e da pobreza para mudar a realidade em que estavam inseridos e através da arte, música e moda contribuíram para a cultura pop para os valores que conhecemos hoje.

O punk é um movimento que surgiu na década de 1970 e estremeceu o mundo. Serve de referência musical, visual e comportamental, já que seus percursores Malcolm McLaren e Vivienne Westwood arquitetaram o movimento. Juntos conseguiram representar toda a insatisfação da juventude de uma época, inconformada com a situação socioeconômica em que se encontravam. O Hip Hop nasce na mesma década e também permanece vivo. Disseminado por pessoas como Afrikaa Bambaataa e Ice-T, surgiu como uma válvula de escape para os jovens negros e latinos, libertando-os do violento destino nas gangues e dando autonomia para uma cultura marginalizada que veio a se tornar uma indústria bilionária.

Esse tema foi escolhido pois as lutas e questionamentos defendidos pelos movimentos punk e Hip Hop estão em pauta novamente. A sociedade está precisando mais uma vez de uma juventude ativa e politicamente contestadora para ir contra o conservadorismo e o retrocesso. O projeto pretende, por meio da pesquisa, estudar as características de ambos os movimentos, levantar seus principais pontos e conceitos e desenvolver uma coleção de moda que possa representar esses conceitos, trazendo-os para a o público atual.

Acredita-se que a moda vai além do vestir e é um instrumento de comunicação capaz de mudar pensamentos e criar novas maneiras de agir. Pensando nisso, a coleção gerada neste trabalho pretende criar uma relação entre os anseios, angústias, pautas e interesses da juventude de hoje, com os que participaram e criaram os movimentos de contracultura passados.

Com uma breve definição dos movimentos e uma contextualização histórica mais precisa será possível entender, nesta pesquisa, o cenário inicial para que uma expressão contracultural aconteça, como esse cenário influencia pessoas

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específicas e como elas dão origem aos movimentos, propagando seus ideais e gerando cultura e arte.

A pesquisa foi fundamentada principalmente nas obras de Antonio Bivar (2007), Dan Joy e Ken Goffman, (2007) e em falas dos membros originais dos movimentos em documentários aclamados. A metodologia de pesquisa pode ser descrita como qualitativa, fazendo uso do levantamento bibliográfico com método de abordagem histórico e passando por uma fase interpretativa.

1.1. GRANDE ÁREA DE INTERESSE Grande área: Design de Moda

Áreas de interesse: Desenvolvimento de coleção, Criação, Cultura pop.

1.2. PROBLEMA PRÁTICO

A escassez no âmbito regional das técnicas de criação de coleção através de conceitos distintos aplicados aos produtos.

1.3. PROBLEMA DE PESQUISA

Como encontrar semelhanças entre dois movimentos culturais e traduzir tais conceitos, uni-los esteticamente e aplica-los aos produtos de moda.

1.4. OBJETIVO GERAL

Desenvolver uma coleção de croquis de moda masculina a partir da criação de uma narrativa e persona que se relacionem com a estética e ideologia contracultural do Punk e Hip Hop e suas características conceituais.

1.5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1.5.1. Conceituar os movimentos de contracultura

1.5.2. Analisar os elementos do Punk e do Hip Hop

1.5.3. Selecionar quais os elementos do movimento punk e hip hop serão utilizados na coleção

1.5.4. Investigar a metodologia de desenvolvimento de coleção

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1.6. JUSTIFICATIVA

Corrupção, ditaduras, manifestações, revoluções. Com tudo isso que o Brasil e o Mundo têm visto, ressurge o clima de revolta, de contestação. Esse clima permeia a humanidade há décadas e busca a mudança de padrões sociais, políticos e culturais que não vem satisfazendo a população. Esse clima deu origem aos movimentos de contracultura no século XX, e cada movimento possui suas características estéticas, a fim de comunicar, transgredir, expressar e atingir a cultura dominante. E é absolvendo esses conceitos e essa estética que esta pesquisa vem, através de produtos de vestuário, trazer o desenvolvimento de uma coleção com qualidade de nível nacional, chegando num modelo ideal, com a carga conceitual que permeia o consumo, cultura pop, hibridismo e transgressão.

Toda essa pesquisa teve iniciativa na ausência de projetos como esse no âmbito acadêmico regional. A união de estéticas e conceitos diferentes (Punk e Hip Hop). Para a criação e desenvolvimento de uma coleção de moda que parte da conceituação e análise iconográfica, até o momento final, o desfile.

Este projeto traz como benefício provar que é possível seguir uma metodologia de desenvolvimento de coleção, vendo que as empresas da região não seguem um método de projeto, deixando inferior a qualidade do produto final e não trazendo desenvolvimento para a moda local.

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Capítulo 1

1. CAMPOS DE INSPIRAÇÃO

1.1. CONTRACULTURA

Os movimentos de contracultura estão todos interligados, cada um possui alguma referência do seu antecessor. E antes de entendermos o que é contracultura, vamos ver como elas se conectam. Os três fios de ligação de continuidade contracultural são: Contato direto, indireto e ressonância. Contato direto é quando uma contracultura bebe da fonte de outra. Ex.: Os jovens dos anos 60 foram inspirados pelos beatniks, que tem como referência literária a “Geração Perdida”, movimento de vanguarda literário europeu. Contado indireto é quando uma contracultura gera outra através dos rastros que deixou historicamente, como obras de arte, textos e lendas. Ex.: O movimento hippie carrega o ideal libertário e zen da geração beat, apesar do hippie ser um movimento que tem como objetivo fugir dos centros urbanos, um movimento ruralista, já o beat é completamente urbano e underground. Ressonância é o fenômeno também conhecido como o inconsciente coletivo, conjunto das necessidades e potencialidades reprimidas de um conjunto de indivíduos, grupos, classes ou toda a sociedade (JOY e GOFFMAN, 2007).

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1.1.1. O QUE É A CONTRACULTURA?

Joy & Goffman afirmam que A contracultura é a tradição de romper com a tradição, pode-se dizer que a contracultura é o Zeitgeist eterno de contestação reflexão, e afronta à cultura dominante, questionando seus valores e quebrando regras. A contracultura faz com que o mundo se renove, deixando os costumes antigos e retrógrados que aos poucos vão desgastando a sociedade e trazendo à tona questões políticas como o combate ao racismo, a desigualdade de gêneros, violência, periferia e corrupção. Assim surgiram as principais contraculturas que mudaram o mundo no século XX como o movimento Hippie, que pregava a paz numa época traumatizada por guerras, o Punk que mostrava o Caos de uma sociedade que fazia de tudo para parecer perfeita mesmo indo de mal a pior.

Contracultura é essencial para uma sociedade, é um ciclo que se faz necessário para a renovação de valores e evolução intelectual da humanidade, ela traz consigo, conflitos morais que interpelam a sociedade e são acompanhados por movimentos artísticos como: Literatura, artes plásticas, moda e música. A arte está diretamente ligada aos movimentos de contracultura devido à sua capacidade de expressão individual, ideias podem ser transmitidas através de uma pintura, de um livro ou de uma música. Isto só é possível graças às vanguardas modernistas que também podem ser consideradas movimentos contraculturais, pois quebraram a barreira do que era considerado arte, transmitindo frustrações e anseios de uma época, refletindo os novos valores da sociedade pós revolução industrial. A contracultura inicialmente está fadada à condenação, rejeição e julgamento por causa de suas características que vão contra os caminhos e princípios pré-estabelecidos pela cultura predominante de uma geração, mas quando passa a ser adotada por grande parte da população como um fenômeno de moda, seus conceitos podem se perder, o que pode se tornar uma arma para acabar com uma contracultura, como será abordado posteriormente. Portanto, pode-se afirmar que a vereda da contracultura não é fácil de ser trilhada e nela se encontra bastante obstáculos até que comunique seu ponto de vista e posicionamento.

O Caminho mais vital é normalmente é o mais difícil, e passa por convenções muitas vezes transformadas em leis que precisam ser rompidas, com a consequente liberação de outras forças que não suportam a liberdade. Portanto uma ruptura dessa natureza é algo perigoso, embora indispensável para a sociedade. A sociedade reconhece o perigo, e faz com que a ruptura normalmente seja fatal para o homem que a produz. (LOYD apud JOY & GOFFMAN, 2007)

1.1.2. OS PRIMÓRDIOS DA CONTRACULTURA.

Joy & Goffman (2007) mostram que o conceito de contracultura surgiu muito antes do que se imagina, e explicam isso através do antigo mito de Prometeu,

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o deus grego que desafiou seu comandante Zeus para trazer sabedoria e conhecimento aos humanos, e como punição foi acorrentado à uma rocha, onde todos os dias uma águia bicará seu fígado que se reconstrói toda a noite, trazendo um sofrimento diário de ferida e reconstrução que dura toda a eternidade. Ainda usando o mito de Prometeu, os autores mostram que ele passa de deus pecador, a herói, onde no início do século XIX escritores passam a utilizar sua estória para exaltar Prometeu como “aquele que cujo crime foi ser gentil” frase do livro de Lord Byron. Dessa maneira é possível perceber uma metáfora completa para o que seria uma contracultura, pois, Prometeu não estava contente com a maneira em que os humanos viviam e resolveu mudar o cenário sabendo dos riscos a que ele mesmo estava exposto, após conseguir o que queria, foi punido e como todos que se sacrificam por uma causa, foi tratado como herói nos tempos posteriores.

Ao longo dos tempos, as contraculturas podem ser divididas entre pro-prometeicas e antipro-prometeicas. Antipro-prometeicas tem um caráter mais rural, anti-urbano, moralista e que foge à tecnologia, já os pro-prometeicos são exatamente o contrário. Portanto, pode-se dizer que o espírito contracultural está diretamente ligado a Prometeu, faz parte de sua essência, pois possui características humanísticas, vendo que Prometeu desafiou Zeus pelo fato de ter considerado a humanidade merecedora do conhecimento e independência, isso faz com que as contraculturas sejam uma espécie de busca pelo pensamento-livre e autonomia da Inteligência. Percebendo isso, podemos dizer que até as contraculturas com caráter antiprometeico possuem a essência pro-prometeica.

Ainda falando sobre a contracultura dentro dos mitos, temos o exemplo do primeiro judeu, Abraão. Segundo antigas histórias do Midrash, escritas por rabinos para facilitar o entendimento do seu Livro Sagrado, Abraão tem características extremamente contraculturais e rebeldes. Seu pai era artesão e produzia imagens de deuses pagãos, pois a cidade onde eles viviam sofria muita influência da cultura das outras cidades, já que havia guerras territoriais os costumes sempre se misturavam.

Com o Zeitgeist de Abraão para um novo pensamento onde acreditar em deuses de madeira sem poder nenhum não fazia o menor sentido, Abraão passa a ter atitudes que contestavam a cultura dominante de onde ele vivia, como ironizar os clientes de seu pai e até destruir as imagens que seu pai havia feito. Tendo quebrado quase todos os deuses, Abraão colocou o instrumento que usou para danifica-los na mão da maior estatueta, a que tinha restado, dizendo ao seu pai que quem havia feito tudo aquilo era aquela entidade. Seu pai, claro não acreditou e questionou como uma imagem de madeira que ele mesmo construiu podia ter feito tudo aquilo? Com isso Abraão derruba os argumentos de seu pai, reafirmando seu pensamento de que aquela sociedade servia à vaidade e a deuses que não tinham poder algum. Essa é uma característica presente em diversas contraculturas, elas incitam o questionamento, fazem as pessoas pensarem, isso se deve à sensação de vitalidade superior que a contracultura traz e que é entendido pela cultura dominante

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como uma ameaça às convenções sociais. Sendo assim, Abraão dá início à primeira contracultura, O Judaísmo, que carrega até hoje consigo o espírito contracultural e rebelde, esse é um dos motivos pelo qual eles foram expostos a tantos riscos no decorrer da história, mas sempre sobrevivem em sua integridade e determinação daquilo que acreditam.

1.1.3. A CONTRACULTURA DO SÉCULO XX

Os movimentos de contracultura estão diretamente ligados ao comportamento jovem, como diz González (2002), que enfatiza a importância da década de 60 no comportamento mundial, ou seja, na moda, na música, nos pôsteres, nas capas dos discos, nas relações interpessoais, no sexo e principalmente na maneira de ver o mundo. Os jovens não queriam mais ser cópias dos seus pais, não queriam nascer crescer, se reproduzir e morrer, eles queriam viver a vida deles de maneira independente e hedonista. Este foi o espírito do tempo que permeava a segunda metade do século passado.

As décadas de 50 e 60 tiveram um papel fundamental para a construção do que conhecemos hoje por contracultura como vemos no livro Contracultura através dos tempos.

Nos anos 1960 todos os nossos tropos contraculturais ocuparam as ruas em alto e bom som ao mesmo tempo. Parecia que alguma espécie de prisão tinha sido aberta e todos os jovens estavam tentando escapar de lá (JOY & GOFFMAN, 2007)

Ao relatar desta maneira podemos refletir sobre quem teria aberto essa prisão de onde sairia tanta liberade individual e senso de bem coletivo. A resposta? Geração Beat. Liderados por Jack Kerouac e Allen Ginsberg a geração de intelectuais, boêmios e marginalizados nascia e dava início ao grande fenômeno pop que é a contracultura, em um país que celebrava a “democracia”, a “liberdade”, o capitalismo e os avanços tecnológicos que fizeram deles os donos de uma bomba, bomba que fora jogada na cidade de Hiroshima, uma arma de terror tão poderosa que foi capaz de fazer as pessoas pararem de pensar no assassinato de judeus pelo Nazismo e começassem a pensar em um Holocausto mundial e sem local e hora definidos. Em meio a essa atmosfera de expectativas criadas pelo American Way of Life e um pânico pós guerra a contracultura volta com toda sua força.

Na cidade de São Francisco em 1955, os ouvidos dos poetas paravam para escutar um “Uivo”. O lobo era Allen Geinsberg que recitava sua obra prima “Howl and other poems” na Six Gallery e faria daquilo um marco na história da contracultura. A obra de Allen vem como uma amostra de protesto e desabafo contra uma sociedade que marginalizava quem não seguia suas regras, que colocava de lado as minorias como homossexuais, negros e drogados de maneira opressora e

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autoritária. Nesta época o Jazz tomava conta dos bares underground das cidades, entenda underground como a cultura dos rejeitados, o subterrâneo, onde os negros batucavam e improvisavam seu Jazz e algazarra para se libertar de um Apartheid vivido em solo americano.

Esta segregação não foi o suficiente para eliminar as tradições africanas que não estavam presas aos séculos de imposição de valores cristãos, já que os escravos eram autorizados a se reunirem uma vez por semana a realizar seus chamados “cantos de trabalho”, porém, vigiados pela polícia e servindo de plateia para a gente branca, que rodeava a multidão negra para se divertirem ao som dos batuques escravos, que anos depois seriam postos “em seus devidos lugares” até que novos ritmos fossem criados nas áreas rurais como o Blues, que trazia consigo uma carga sexual até então incômoda e chocante para a comunidade branca com suas letras eroticamente sugestivas que podem ser comparadas ao Hip Hop explícito atual e ao mesmo tempo representavam a dor de uma sociedade deixada de lado. Derivado do Blues, o Jazz foi o primeiro ritmo afro a ser adotado pela comunidade branca em geral, tendo seu auge nos anos de 1920, que foram considerados como a “era do Jazz”, fazendo desse estilo musical o hino da vida urbana da época. Ao longo dos anos o Jazz foi acompanhando os avanços da sociedade refletindo a dinâmica das metrópoles, fazendo os brancos e negros se misturarem para se divertir e se libertar (Figura 1).

Figura 1 - Fotografia do quinteto de George Shearing se apresentando no famoso clube de Jazz Birdland, por volta de 1952.1

1 Figura 1 – Disponível em: http://alyoung.org/2011/02/15/george-shearing-august-13-1919-february-14-2011/

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Fonte: Site do poeta Laureado da Califórnia Al Young.

Mais precisamente na década de 40, os músicos dariam o toque pós-moderno para o Jazz, o improviso, que refletia a necessidade de libertação e expressão do “eu”, séries elaboradas de acordes que saiam dos corações dos músicos, atravessavam seus saxofones e chegavam direto nos ouvidos dos que necessitavam de toda aquela festa entre instrumentos, trazendo mais emoção e agito para as composições quase nunca seguidas como roteiro de apresentações, este estilo de Jazz era chamado de bebop e apesar de ser um sucesso, não era tão adorado quanto o swing. Essa diferença, segundo Joy & Goffman era o que separava os antenados dos caretas. Os antenados gostavam da bagunça improvisada, e os caretas preferiam o elegante e comportado som tocado pelas Big Bands.

Mas quem são esses antenados? Ainda tomando como referência o livro Contracultura Através dos Tempos, podemos refletir que as outras pessoas que frequentavam os clubes underground de Jazz eram os indivíduos que também se identificavam com a segregação dada pela sociedade, os que se sentiam diferente dela, os Hipsters, que não estavam lá para se divertir as custas dos negros, e sim, para se divertir com os negros sendo o ponto de refúgio para a reprimida geração carregada de pânico pós-guerra, que se apropriava dos estilos afro-americanos e provava que os padrões puritanos e hipócritas pré-estabelecidos pela sociedade não tinham fundamentos válidos.

Podemos encontrar em The White Negro: Superficial reflections on the Hipster (“O Negro Branco: Reflexões superficiais sobre o Hipster” traduzido livremente) de Norman Mailer (1957), mais um reforço da paranoia, do medo e da falta de esperança que pairava sobre aquela época, havia a sensação de que se tinham duas escolhas a se fazer, ou se morria inexplicavelmente sem razões lógicas numa câmera de gás, ou numa cidade radiativamente infectada, e a única coragem dentre várias exceções era a coragem isolada de pessoas isoladas. É nesse cenário que surge essa subcultura, pois, se as expectativas de vida eram ser mortos instantaneamente por uma bomba, ou morrer lentamente conformado com uma sociedade, estressada que sufocava qualquer manifestação criativa, rebelde, auto afirmativa e questionadora (Mailer em 1957 já previa as futuras descobertas médicas em relação aos danos à saúde causados por essa opressão), o que restava para estes indivíduos amantes do Jazz e das noites à deriva pelas cidades era ignorar todo esse câncer mundial e viver numa bolha, um estado, que Joy e Goffman chamaram de Nadalândia.

Como a própria capa do livro de Norman Mailer mostra (ver Figura 2) O Hipster buscou forças para lidar com o recuo social absorvendo a cultura

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Afro-americana, que devido a séculos de escravidão, e segregação, vivendo na fronteira entre o totalitarismo e a democracia, aprenderam a criar seu próprio mundo, seus estilos, sua moda, sua música e sua maneira de ver a vida.

Figura 2 - Capa do livro The White Negro (1957)2

Fonte: Banco de imagens do site da Universidade da Carolina do Sul

Mas a porta de entrada do Hip para o a cultura negra foi o Jazz, que de certa maneira, junto à geração Vanguardista, superou as guerras e a Grande Depressão dos anos vinte, vivida em uma sociedade onde quem comandava eram os ricos e as famílias “bem estruturadas”. Fatores como este fizeram com que cidades grandes como Nova Orleans, Chicago, São Francisco e New York adotassem o que o repertório que o Negro tinha a oferecer. Mailer diz que finalmente o Negro fazia parte da vida americana, e que se havia um casamento entre a cultura negra e o branco, a maconha era a aliança e os filhos eram sua linguagem única, vinda da rua, somente decifrável e compreensível para quem também estava no Hip. O apocalipse que todos estavam esperando era a desculpa perfeita para fugir da realidade, criando seu próprio mundo e se distanciando da cultura caótica dos centros urbanos, este conceito pode ser claramente visto no artigo de Caroline Bird na Harper’s Bazaar em 1957, onde ela dizia que “Não é possível entrevistar um

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Hipster porque seu principal objetivo é se manter fora da (...) sociedade”. Não fazia sentido constituir uma família, alavancar uma carreira ou criar responsabilidades quando não havia certeza se o futuro existiria.

O Negro americano, por décadas esteve fadado à uma vida escondia e amedrontada, não restavam muitas alternativas para este grupo social a não ser viver na humildade e pobreza ou ter a coragem de se permitir andar na rua, agir como cidadão comum, porém que podia a qualquer momento ser vítima da violência urbana e racista. Sendo assim, mais uma vez o caos psicológico e social é lembrado como fator para desenvolvimento de uma contracultura, “A paranoia é tão vital para a sobrevivência quanto o sangue” (MAILER, 1957).

A apropriação da cultura negra por parte dos brancos não encerrou-se nos anos 50, Veremos posteriormente que o Movimento Hip Hop tinha características em comum com seus antepassados afro-americanos, e que sua estética, linguagem e música seriam absorvidos pelos brancos da mesma maneira e pelos mesmos motivos, dando origem aos “Wiggas”, termo que vem a ser a junção de “White” (referente ao povo branco)+ “Nigga” (referente à atitude negra), versão pós moderna do The White Negro definido por Mailer em 1957, pois a palavra Negro se refere à etnia e a cultura derivada da África, expressão que com a transição cultural viria a se tornar “Nigger”, durante décadas utilizada como ferramenta de segregação racial, e posteriormente, “Nigga”, termo que metaforicamente saiu da lama pro vinho graças à mudança de valores em relação à cultura negra devido ao Hip Hop. O Rapper Tupac Shakur(1995) diferenciava o Nigger do Nigga afirmando que “Os Nigger são os da corda, pendurados naquela coisa, já o Nigga é quem caminha nos clubes com suas correntes de ouro penduradas”3. Tupac legitimou o termo ao utiliza-lo em sua música “N.I.G.G.A.” (2004), onde ele o transforma em uma sigla de “Never Ignorant To Get Goals Accomplished” que pode ser traduzido em Nunca Ignorantes para Alcançar os Objetivos.

Esta era a atmosfera daquela época, um caos paranoico que deu origem ao modo de vida Hipster, que logo foi adotado no estilo de atuação de astros como James Dean e Marlon Brando, dando aos expectadores um sopro de vivacidade e energia, que estava presente no hip apesar de ter surgido do desespero sombrio pós-guerra. O vazio sentido pela subcultura hip também chegou nos estudantes da

3 Traduzido livremente da frase: Niggers was the ones on the rope, hanging off the thing; niggas is the ones

with gold ropes, hanging out at clubs.". Com “Ones on the rope”, ele se refere aos afro-americanos mortos por linchamento. Esta sentença de morte era usada como intimidação, opressão e afirmação de poder sobre determinado grupo social (SOUZA, 1999).

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Universidade de Columbia, mais precisamente dois, Allen Ginsberg, mencionado anteriormente e Jack Kerouac. Os pioneiros do movimento Beat finalmente haviam se encontrado e com ajuda de Bill Burroughs, mergulharam na literatura experimental. Apesar de estarem dentro do hip, Allen, Jack e Bill não compartilhavam do comportamento radical desesperado de muitos de seus colegas como Gregory Corso, as atitudes exageradas podem ser vistas na referência que Allen Ginsberg faz ao seu amigo Bill Cannastra, um típico hipster incessante no livro Uivo e outros poemas.

Que cantaram em desespero para fora das suas janelas, caíram da janela do metro, saltaram no sujo Passaic, pularam nos negros, choraram pela rua, dançaram descalços sobre copos de vinho partidos esmagaram discos de

Jazz Alemão da nostalgia Europeia dos anos 30 acabaram o uísque e

vomitaram lamentando-se na toalha ensanguentada, lamentos nos seus ouvidos e o estrondo de colossais apitos de vapor. (GINSBERG, 1956)

O primeiro deles a publicar um livro foi Jack Kerouac com The Town and The City. Nesta época, Ginsberg ainda escrevia poesia comum, mas influenciado por William Carlos William, sentiu o poder que tinha o verso livre e experimental, a linguagem intensa e provocante de “Uivo” começava a se desenvolver. Burroughs escreveu Junkie em 1952, relatando como era agitada a sua vida como um homossexual viciado, que teria uma continuação com o livro Queer, que só foi publicado em 1985, pois, como Joy e Goffman (2007) disseram, “a última coisa que os heterossexuais dos anos 1950 queriam era ler descrições explícitas de sexo gay, e a última coisa que os homossexuais queriam era serem vistos com um livro intitulado Queer.”. Isso provava que Burroughs já usava a escrita como forma de libertação e estímulo aos questionamentos do ser humano em relação a si próprio, criando seres pensantes, capazes de formar sua própria opinião.

Embora os hipster vivessem apenas para o “eu” e para o “agora”, suas relações de fraternidade não eram consolidadas, o quarteto Ginsberg, Kerouac, Burroughs e Corso era diferente. Eles compartilhavam suas emoções e sentimentos mais íntimos, o que não era comum para a sociedade da época, fria e fechada. Essa irmandade entre os beats era o que os levava à evolução artística e intelectual.

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Figura 3 - Dedicatória de Jack Kerouack para Allen Ginsberg em uma das cópias de On the Road mostra que, de tão próximos, eles se permitiam o insulto.4

Fonte: site Antiquarian bookstore.

Ainda na década de 1950, os beats desenvolveram um interesse pela cultura oriental (o que mais tarde seria a ligação de continuidade contracultural direta com os Hippies), ideais de paz, iluminação, realização interior e compaixão, presentes, por exemplo, nos costumes indianos (ver Figura 4) e não estavam dentro do estilo de vida hipster, até Burroughs, estava preocupado em libertar as pessoas da alienação político-cultural com seu novo estilo de abordagem literária.

4 Figura 3 – Disponível em:

http://www.antiquarianbookstore.com/newads_files/images/kerouac_on_the_road_inside.jpg Acesso em: 27/02/2014

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Figura 4 - Gary Snyder, Peter Orlovsky, Allen Ginsberg visitando o Himalaia em 1982.5

Fonte: Galeria do site oficial de Allen Ginsberg.

Em 1957 os EUA ferviam, pois, os maiores símbolos da cultura Beat já estavam circulando o país inteiro. Os Neoconservadores consideravam o movimento beatnik como uma manifestação estúpida que queria tomar o país, destruindo a cultura de supremacia americana e hostilizando a civilização. “Uivo” e On the Road são considerados até hoje como obras primas da literatura americana. O “Uivo” de Allen Ginsberg é o lamento que vem para acabar com o silêncio de uma geração através de seus poemas que desconstruíam a estrutura literária convencional, trazendo questionamentos acerca de como a juventude era oprimida pelos tradicionalistas. Allen recitou “Uivo” sob efeitos alucinógenos, o que trouxe mais drama ao evento, que fez os poetas do underground de São Francisco chorarem entre versos cheios de emoção, Fúria e Mágoa. Já On the Road, de Jack Kerouac descrevia suas próprias viagens com Neal Cassady onde os dois literalmente atravessaram os Estados Unidos acompanhados de muito Jazz, maconha, muito Whiskey, putaria e vagabundagem através da icônica Rota 66, fazendo desta autoestrada um símbolo de liberdade, solidão, aventura e reflexão.

Em On the Road Jack inaugurou um novo estilo de literatura, ele envolvia as emoções do leitor fazendo do livro uma trilha sonora onde ele pudesse escutar e viver aquele momento, o que fez desse livro a manifestação do estilo de vida da geração Beat. O sucesso de On the Road foi tão grande que inspirou uma série de TV Americana intitulada Rout 66, mesmo nome da rodovia percorrida por Jack (Ver Figura 5). Embora a série de TV não tenha creditado Kerouac pela inspiração, ela foi

5 Figura 4 – Disponível em:

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responsável por transmitir, de certa maneira, o que ele havia escrito fazendo da Geração Beat um fenômeno Pop.

Figura 5 - Cartaz de Route 66, série de 1960 inspirada no livro On the Road. 6

Fonte: Site do IMDb.

Os beats libertaram a cultura pop para que cada um pudesse ter seu momento de rebeldia, e isso era refletido no cinema, mesmo que de forma forçada e alienada através de filmes como Rebelde sem causa. Imagens de que a geração beat não tinham um motivo para sua contestação se deve ao fato de estarem muito ligados aos Hipsters, que não queriam nada com a vida, apenas escapar do mundo caótico e paranoico. Publicações ganharam seu valor crítico e sátiro (Ver Figura 6), em especial a revista Mad, que trazia o humor jovem e vigoroso agregado às paródias da cultura pop americana carregadas de deboche à vida adulta e careta. A liberdade sexual também era tema das publicações americanas com revistas como a Playboy que defendia a sexualidade como algo comum para a sociedade através de um soft porn, porém com a falsa sensação do sexo livre para todos, pois os homens consumiam mulheres nuas como brinquedos sexuais.

6 Figura 5 – Disponível em: http://www.imdb.com/media/rm37655296/tt0053534?ref_=ttmd_md_pv Acesso em:

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Figura 6 - Capa da revista Mad de abril de 1974, uma das mais polêmicas, os distribuidores chegaram a se recusar a vende-la.7

Fonte: Site Comics Alliance.

Os anos de 1960 desencadearam a sociedade para algo pelo qual elas tanto ansiavam, a Autonomia. A luta pelos próprios direitos de “ser quem você quer ser” envolviam os jovens, os meios artísticos e a mídia, o que fez com que tudo que se esperava da contracultura nos últimos anos se esvaísse.

Os hippies estavam por vir e precisavam que o terreno fosse preparado. A geração Beat, como foi visto anteriormente, traziam para o ocidente todo o zen-budismo da cultura oriental. Meditação transcendental, existencialismo, caronas pelo mundo em busca do autoconhecimento e libertação e a vida ao ar livre. Esses elementos foram as características absorvidas pelo movimento que viria a seguir. Denise Gonçalves (2007) mostra como o contexto histórico do pós-guerra nos E.U.A foi palco da afirmação de instituições de consumo exagerado como os fast foods, os supermercados, shoppings centers, e como o American way of life era regido pelo imediatismo exacerbado. Essa era a arma contra o comunismo que se estava instalado no mundo inteiro. Com o consumismo, foram criadas necessidades que só

7 Figura 6 – Disponível em: http://comicsalliance.com/the-10-best-mad-magazine-covers-ever/ Acesso em:

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podem ser satisfeitas dentro de uma sociedade capitalista. A geração nascida após a Segunda Guerra Mundial é chamada de Boomers, graças ao Baby boom ocorrido no período estimado de 1943-1964. Baby boom é o nome dado ao evento de explosão populacional, ou seja, muitos bebês nasceram do pós-guerra, sendo testemunhas do que seriam os movimentos culturais das décadas que viriam em seguida.

Esta geração foi responsável pelo que Gonçalves (2007) cita como “A Grande Recusa”, trata-se da contestação da vida americana sofisticada, com qualidade devida tecnologicamente assegurada com aparelhos eletrodomésticos. A ideia de se opor à massificação e ao obsoletismo planejado pelas indústrias para garantir maior compra de seus produtos era tida como estúpida e irracional.

A contracultura aflora novamente, desta vez batendo de frente com o consumo e a sociedade material dos anos 1960. O consumismo e o avanço tecnológico traziam a sensação de liberdade, porém atrapalhava o desenvolvimento da própria libertação pessoal. Questionamentos sobre o prazer, a moral e a forma de expressão livre faziam parte das pautas de movimentos estudantis ao redor do mundo. Todos os fatores citados, juntamente com a ligação de continuidade contracultural direta com a geração beat fizeram com que o movimento Hippie tivesse a possibilidade de se instaurar dentro da juventude que se renovava.

Os Hippies defendiam seu ponto de vista que tanto o capitalismo quanto o comunismo eram formas limitadas de governo que viam a sociedade como um objeto a ser controlado, cada um de sua forma. O movimento Hippie queria a experimentação de formas livres e não-racionais de perceber o mundo, fazendo disso uma fonte de conhecimento visando uma revolução expressiva, contestando os aspectos opressores da sociedade e questionando e rompendo os padrões de comportamento impostos pela cultura dominante, o que vem a ser mais uma característica em comum entre as contraculturas modernas.

O termo Hippie deriva do Hipster, que como visto anteriormente, tem como principal característica, a fuga da sociedade. Era uma das propostas do hippie, a filosofia do cair fora, se relacionar com a sociedade de uma nova forma, uma forma alternativa, libertando-se de uma espécie de Gaiola Ocidental, fugindo do ativismo realizado no âmbito político, pois, “aderir às formas de contestação tradicionais, vinculadas a um partido ou sindicato, significaria aceitar as regras do jogo” (GONÇALVES, 2007).

Todos esses fatores nos levam à principal característica do movimento hippie, “O Antissistema”, a recusa das abordagens conservadoras impostas pela sociedade dominante, sejam no âmbito do comportamento, da indumentária, da música, ou da própria visão de moradia e comunidade. Seus ideais de pacifismo e

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espontaneidade iam contra à cultura violenta e frígida dos centros urbanos. Suas passeatas e protestos tinham caráter totalmente pacífico e alegre. A contracultura Hippie pode ser classificada como Antiprometeica.

Gonçalves (2007) aponta dois dos principais elementos de referência da atitude hippie. O psicodelismo e a experiência mística, elementos que foram herdados dos beatniks em sua identificação com a cultura oriental. Essas características visavam a realização individual e a abertura da mente para canalizar a criatividade e elevar o nível de consciência através do uso de drogas perceptivas como maconha e principalmente o LSD.

O uso do LSD era tido como uma “revolução psicodélica” de caráter religioso, onde o homem considerava-se um ser total em busca da conscientização cósmica. O uso de alucinógenos era o meio pelo qual os hippies fugiam da realidade objetiva e destorcida pela sociedade, encontrando-se num plano isento da influência ocidental-cristão-branca. O movimento Hippie marcou os anos de 1960 por ser um movimento de revolução que quebrava os padrões tradicionais do que era a própria revolução.

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1.2. O PUNK

O punk foi um movimento de contestação que estremeceu a década de 70/80, questionava os valores da sociedade de consumo através de sua transgressão musical, comportamental e visual. Em meio a crises econômicas e opressão sofrida pela classe trabalhadora principalmente em Londres e em New York, o punk mostra a verdade, a miséria e a destruição que a cultura dominante e conservadora tinha imposto sobre os menos favorecidos. As características do punk se espalharam para diversas subculturas e contraculturas que surgiriam a seguir, fazendo com que o punk nunca morresse.

1.2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA.

Desde a década de 1950 o rock influencia o mundo através dos jovens. Os jovens são a principal ferramenta que a contracultura usa para atingir seus objetivos. A ingerência do Rock na contracultura já estava sendo um meio de comunicação massivo desde os Hippies, mas algo extremamente agressivo estava por vir. Antonio Bivar (2007) uma geração quando cumpre seu papel, tem que dar lugar à próxima demanda de jovens que devem surgir com uma nova proposta e reinventar a maneira de “dar o seu recado”.

O Rock estava presente em todo o mundo, principalmente depois de Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones. Bivar afirma que depois da bossa nova ter tomado conta do mercado fonográfico no fim dos anos 50, nada seria mais avassalador quanto os Beatles. O mundo voltava a ser jovem. Alguns anos depois com os grandes festivais de Música, grandes concertos, os Hippies, tudo tinha sido massificado. O Rock agora era chamado de Pop, Andy Warhol quebrava a linha entre a arte e a vida cotidiana com o Pop Art. As estrelas da música adotaram o individualismo, as bandas foram se separando, e seus membros seguindo carreira solo. Os jovens atentos que mais tarde dariam vida ao movimento punk estavam no começo da adolescência, o momento delas chegaria anos mais tarde, e assim, ouvindo tudo e absorvendo o que podiam encontrar de mais interessante para formar suas personalidades. Quem consumia o rock via seus ídolos falarem sobre como estão ricos e poderosos, o que soava estranho, pois a maioria deles algum tempo atrás estava batalhando seu lugar ao sol e eram tão pobres quanto seus companheiros rockeiros, que ainda estavam na miséria, miséria esta que já estava fora de moda.

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Sim, porque quando se está na moda, mesmo que a moda seja pobreza, e mesmo que a pessoa seja contra modismos, existe qualquer coisa [...] que é no mínimo divertido estar lá. Mas quando tudo isso acaba e os mais espertos saem ganhando (e a moda seguinte é o “retorno à elegância”). (BIVAR, 2007)

Começava a se falar em pós-modernidade com os discos conceituais de rock, David Bowie se denominava um ator a viver personagens, e se lança o conceito de performance, Bowie era um dos grandes ícones do Glam Rock, com suas maquiagens e figurinos extravagantes, os seguidores do Glam Rock partilhavam do mesmo ideal de seus ídolos, você podia ser o que quiser, amar quem quiser, transar com quem quiser, cada atitude era sua performance. O ano era 1972 e um dos filmes mais marcantes do século XX estreava, Laranja Mecânica, que se passava em um futuro repleto de violência e caos, com gangues aterrorizando cruelmente as ruas de Londres. O filme até hoje é visto com uma grande rede cheia de significados e críticas político-sociais, não podia ser diferente, Laranja Mecânica influenciou diretamente o comportamento dos Punks a acordarem para o quanto a sociedade era podre. Começava uma nova era de caos no mundo, crises financeiras, de petróleo, ditadura no Brasil. Na música, os sintetizadores portáteis embalavam o som do Space Rock, fazendo a indústria fonográfica faturar milhões, com uma sonoridade chata que só servia se o ouvinte estivesse sob efeito de drogas como LSD e cocaína, que voltara com tudo. Alguém precisava fazer o oposto, o universo estava cansado, a paciência estava se esgotando e tudo isso acelerou o advento do Punk.

A palavra Punk foi dita pela primeira vez por Shakespeare. 400 anos depois em, Lou Reed, ex-membro da banda The Velvet Underground definia a palavra punk como a turma marginalizada, travestida, assaltante, sadomasoquista, prostituta, drogada e que não prestava, ou seja, tudo aquilo que agride a moral e os bons costumes, estes eram os punks do início da década, por volta de 1973. Mas em 1975 o Punk despertaria graças ao seu articulador, Malcolm McLaren (BIVAR, 2007).

Malcolm decidiu, em 1971, abrir uma loja chamada Let it Rock (Figura 7) em parceria com sua namorada Vivienne Westwood. A loja se aproveitava do saudosismo do rock vivido na época vendendo discos e roupas para os Teddy Boys, Vivienne e Malcolm não estavam interessados no legado fashion dos hippies, eles se inspiravam no que os anos de 1950 haviam deixado e estava localizada na 430 Kings Road que ficava numa região pobre de Londres, a apelidada de Fim do mundo. Em 1972 a loja passou por uma reformulação, tendo sua fachada modificada, adotando o símbolo de uma caveira com ossos cruzados rodeada da frase “Too fast to live, too Young to die” (“Rápido demais para viver, jovem demais para morrer”, em tradução livre) (Figura 8). Vivienne e McLaren agora produziam

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roupas de couro e cheias de zíper, camisetas carregadas de frases provocantes e irônicas, o que chamou a atenção da banda The New York Dolls, que estavam em Londres e visitaram a loja, fazendo McLaren se impressionar com seu visual, o que levou Malcolm a viajar com eles para New York. Mais tarde, em 1974, a loja foi renomeada, passou a ser chamada de SEX, um dos pontos altos da história da indumentária punk, Vivienne agora desenhava roupas com referências Sadomasoquistas, látex, correntes e muita transgressão, levando o sex shop para as ruas e assim, quebrando os tabus da liberdade sexual.

Figura 7 - Malcolm McLaren em frente à Let it Rock.8

Fonte: Site da Wolds End shop

8 Figura 7 – Disponível em: www.worldsendshop.co.uk/how-malcolm-got-the-kings-road-shop/ Acesso em:

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Figura 8 - Slogan da loja de Malcolm e Vivienne em 1972.9

Fonte: Site IPKat.

Durante a estadia de McLaren em New York empresariado os The New York Dolls, tudo parecia estar ligado ao mínimo, a arte minimalista entrava em cena, e fazia os artistas não precisarem de muito esforço para produzir algo. Com a separação da Banda, Malcolm volta para Londres com a cabeça renovada e com 3 novas ideias na cabeça.

a) que as músicas com não mais de dois minutos de duração e letras que falassem dos problemas sociais urbanos tinham um futuro; b) que valia a pena praticar a política situacionista de confrontos e controvérsias, assim como produzir eventos e gestos que polarizassem atitudes; c) que resumindo, ele estava muito avançado para New York e que Londres continuava sendo o celeiro ideal para laboratórios artísticos de vanguarda. (BIVAR, 2007)

A SEX era o ponto de encontro da juventude punk, e uns de seus frequentadores assíduos eram Steve Jones e Paul Cook, dois marginais da classe trabalhadora Londrina que durante sua vida estiveram envolvidos com uma inúmera quantidade de roubos, incluindo uma ação durante um show do David Bowie onde, dezenas de equipamentos foram levados, incluindo 16 guitarras. Malcolm se juntou aos dois para formar uma banda, Steve como guitarrista e Paul como baterista, o vendedor da SEX, Glen Matlock cuidou do baixo e depois de um rápido teste com

9 Figura 8 – Disponível em: http://ipkitten.blogspot.com.br/2011/03/too-fast-to-live-too-young-to-die-too.html

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John Lydon, conseguiram um vocalista, a banda já tinha um nome, nasciam os SEX PISTOLS, a primeira banda Punk.

Estimulados por McLaren a escreverem músicas sobre suas atitudes, Os Sex Pistols fazem seu primeiro show em 1975, com o tempo foram se aprimorando, abrindo cabeças e surpreendendo por sua performance. Em fevereiro de 1976 a banda se apresenta no “Mis Mundo Alternativo”, um concurso de beleza de travestis repleto de artistas do underground Londrino, naquela noite todos paravam para assistir e se impressionar com a agressividade da apresentação dos Sex Pistols.

Como um movimento juvenil e adolescente, os Punks surgem por todas as partes de Londres, com suas gangs, e grupos, como os fãs do Sex Pistols, “O Contingente de Bromley” (Figura 9), grupo que era uma das maiores referências do estilo punk, do qual notórios personagens da cena punk faziam parte como Billy Idol, Soo Catwoman (Figura 10) e Siouxsie Sioux (Figura 11).

Figura 9 - Membros d’O Contingente de Bromley.10

Fonte: Site Metallized.

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Figura 10 - Soo Catwoman.11

Fonte: Site Tetue.

Figura 11 - Siouxsie Sioux e sua icônica maquiagem nos olhos.12

Fonte: Site Dangerous Minds.

O quartel general desse fã clube era o apartamento de Siouxie, que muitas vezes foi manequim-viva na loja SEX, devido à sua ousadia e estilo, usava camisas masculinas enormes, hora rasgadas, hora com xingamentos escritos ou

11 Figura 10 – Disponível em: http://www.tetue.net/?article146&lang=fr Acesso em: 02/03/2014

12 Figura 11 – Disponível em: http://dangerousminds.net/comments/siouxie_siouxhigh_priestess_of_punk Acesso

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cheias de alfinetes e correntes. Siouxie mais tarde se lançaria na música e se tornaria um dos ícones da cultura pop dos anos 70/80.

Os jovens d’O Contingente de Bromley são uns dos principais responsáveis por lançarem o estilo punk, um estilo extremamente forte e impactante. Roupas eram compradas a preços baixíssimos e customizadas, uma característica trazida do movimento hippie, o famoso Do it yourself (D.I.Y.), ou “faça você mesmo”, parecia que os punks tinham saído de um bombardeio, pois os trapos e as roupas rasgadas eram tão comuns quanto o preto que eles tanto amavam (herança sombria da beat generation). Apesar de utilizarem a desconstrução como característica principal, os punks não estavam pra brincadeira, nas ruas, sua postura era ereta e a segurança de quem estava ali para dar um recado.

Mas o punk não era só visual, só música crassa. É também uma crítica em um ataque frontal a uma sociedade exploradora, estagnada e estagnante nos seus próprios vícios. Os punks não querem esperar o tão prometido fim do mundo, eles querem o apocalipse agora, em 1976. (BIVAR, 2007)

As bandas estavam por toda parte e ganhando destaque nas revistas e na crítica musical, que não falava em outra coisa, apesar de nenhuma delas ter discos gravados (os próprios Sex Pistols oficialmente só possuem um único álbum de estúdio até hoje), o rock tinha voltado ao básico, apenas os instrumentos principais, nada de sintetizadores, a música estava livre, e ela estava com raiva. E as gravadoras deram início à caça aos talentos. Nas escolas de arte, os punks aderem à anti-arte, uma releitura do Dadaísmo dos anos 20, e se voltando a tudo que se dizia harmônico. A imprensa começa a tratar o movimento punk como algo político, apesar dele ainda não ter esse caráter, ou pelo menos achar que não tem. A politicagem do punk não estava em se envolver com o governo para resolver a sociedade. A política do punk era a agressão a esse governo, o Punk é a Anarquia.

O Punk também estava presente nos E.U.A., The New York Dolls foram pioneiros, mas o Ramones era A Banda Punk Americana. E ouvindo Ramones que surgiu a Sniffing Glue (cheirando cola, nome derivado de uma música dos Ramones, “Now I wanna Sniff some glue”), a fanzine13 que se tornaria a porta voz do movimento punk. Escrita por Mark Perry, um jovem entediado com seu emprego resolve escrever tudo o que o punk queria dizer. Mark estimulava o punk de uma maneira que ele mesmo dizia que se não fizessem aquilo crescer, era melhor esquecer tudo.

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Em setembro de 1976 acontece o primeiro festival punk no CLUB 100, dois dias de pura anarquia musical, lá tocaram desde os Sex pistols e The Clash até a banda da estreante Siouxie, citada anteriormente. Este festival marcou o movimento punk, pois devido a uma brincadeira de David Vanian, vocalista do The Dammed (figura 12), que jogou cerveja no público, fazendo alguém mais louco ainda, jogar um copo que atinge uma garota, fazendo-a perder um dos olhos. Todos os jornais e revistas culpavam o punk pela violência. Mark P. e os defensores do punk afirmavam que a verdade tinha que ser dita, afinal, foi um “acidente” que poderia ter acontecido até em um show hippie nos anos 60. Mark incentivou seus leitores a escreverem suas próprias fanzines e escreverem críticas para os jornais, ele queria empestar a imprensa com muito punk rock.

Figura 12 - David Vanian em apresentação do The Dammed em 1977.14

Fonte: Site Flower Bomb Songs.

Em outubro de 1976, os Sex Pistols estavam de contrato assinado com a gravadora EMI, o The Dammed lançava o primeiro compacto punk, New Rose em novembro. No mesmo mês os Sex Pistols lançavam seu primeiro single, uma de suas músicas mais marcantes, Anarchy in the UK15. Uma letra impactante e que sintetizava o espírito do movimento punk. Mas o ápice chegou em dezembro com a participação dos Sex Pistols e do Contingente de Bromley em um dos programas de TV mais assistidos da Inglaterra, o Today with Bill Grundy. O apresentador Bill Grundy deu uma “cantada” em Siouxie, incomodado, Steve Jones o chamou de “velho pervertido” e em seguida “Dirty Fucker” (pode ser traduzido por “filho da puta

14 Figura 12 – Disponível em: http://expo67-cavestones.blogspot.com.br/2012/01/damnes-1977.html Acesso em:

02/03/2014

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pervertido”)16. Era a primeira vez que a Inglaterra via o palavrão Fuck ser mencionado na Televisão (Figura 13), todas as famílias se sentavam na sala para assistir aquele programa, aquilo não podia acontecer, todo mundo conhecia a palavra, todo mundo falava, mas a hipocrisia fez com que todos se escandalizassem, afinal de contas, em casa pode, na TV não.

Figura 13 - Jornais mostravam indignação pelo ocorrido no programa de tv Today with Bill Grundy.17

Fonte: Site Stereo Society.

Foi o suficiente para o Punk dominar o cenário pop, era 1977, mesmo ano do Jubileu de 25 anos do reinado da Rainha Elizabeth II, Bivar (2007) afirma que, a sociedade da época se perguntava se os punks destruiriam a um festejo tão importante como este. Todos estavam apavorados. A sexta edição da fanzine Sniffin’ Glue marcou o cenário punk como uma espécie de manifesto.

O punk quebrará todas as regras. Ele trará mudanças que tornará o rock inglês muito excitante. Faz tempo que o rock vem sendo um divertimento leve, e de tão seguro, já não amedronta mais os pais. O punk encherá de medo os fãs patéticos do rock que veem se satisfazendo com merda há muito tempo. Anarchy é a música mais relevante nos últimos 12 anos. O

punk não é uma moda louca, é a realidade. Se as pessoas estão com medo

16 Sex Pistols e Bromley Contingent em entrevista para Bill Gundry. Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=OC16gG5Rtzs Acesso em: 09/03/2014

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do punk é culpa delas, porque elas não entendem a vida. A vida diz respeito ao concreto, ao fundo do poço, gente patética, aborrecida e um índice de desemprego mais alto que nunca. O punk está ajudando a garotada a pensar. É disto que todo mundo tem medo, porque existem muitos garotos pensando atualmente. O punk reflete a vida como ela é, nos apartamentos desconfortáveis dos bairros pobres e não no mundo de fantasia e alienação que a maioria dos artistas criam. É verdade, o punk destruirá, mas não será uma destruição irracional. O que o punk destruir será depois reerguido com honestidade. (PERRY apud BIVAR, 2007)

Estava feito o “estrago” O punk Invadia o mundo e o seu visual estava cada vez mais Agressivo, foram adicionadas cruzes, suásticas e mais imagens provocantes. Bivar (2007) nos diz que o punk era contra todos, mas a favor da exteriorização do sentimento reprimido de revolta contra os erros da humanidade, todas as discriminações, desigualdades, desonestidades e a opressão sofrida pelos menos favorecidos. Este é o espírito do Punk

Sid Vicious, ex baterista da banda de Siouxie entra nos Pistols como baixista após a Saída de Glen. A banda parecia finalmente estar completa. Apesar de Sid ser um desastre musical, ele era uma fonte de marketing incrível para eles, com seu estilo insano e sua vida louca. Até hoje Sid é considerado um dos grandes ícones do punk e do rock no mundo (Figura 14). Sid também é responsável pela dança “Pogo”, que desconstrói qualquer noção de ballet que um indivíduo possa ter. Com pulos, pontapés e correntes sendo giradas, o Pogo era a melhor maneira de extravasar toda a raiva e expulsar todos os demônios dentro de uma pessoa.

Figura 14 - Anúncio da marca de calçados Dr. Martens de 2007 traz Sid Vicious vindo dos céus. A campanha também retratou diversos ícones do rock da mesma maneira.18

Fonte: Site Site Coloribus, Creative Advertising Archive.

18 Figura 14 – Disponível em:

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Não demorou muito para as grandes marcas americanas adotarem o estilo punk. Os editoriais de moda estavam cheios de fetichismo e preto. O fim dos Sex Pistols chegou durante sua estadia para um Show em São Francisco, Malcolm não aguentava mais trabalhar com pessoas irresponsáveis como eles e alegou que John Rotten havia estragado vários dos planos que ele tinha preparado. Malcolm continuou a gerenciar bandas e projetar coleções de moda com Vivienne Westwood. A loja da 430 King’s Road passou por várias mudanças e funciona até hoje com o nome de Worlds End Shop vendendo os produtos de Vivienne, que é considerada a arquiteta do estilo Punk juntamente com seu parceiro McLaren (Figura 15). Apesar hoje adotar diversos estilos, o Caos ainda mora dentro dela, junto com um pedaço da alma de Malcolm, falecido em 2010 (Figura 16). O punk estava massificado, mas sua essência não tinha acabado. A contracultura prometeica das ruas tinha dado o seu recado. O punk ensinou a sociedade a não tratar os menos favorecidos como se eles não existissem, eles existem e quando provocados podem mostrar que são capazes de chocar o mundo.

Figura 15 - Malcolm McLaren e Vivienne Westwood, responsáveis por arquitetar o movimento punk.19

Fonte: Blog The Flamboyat.

19 Figura 15 – Disponível em: http://theflamboyantblog.wordpress.com/tag/malcolm-mclaren/ Acesso em:

Referências

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