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A AUTO-ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDANTES NA ESCOLA ITINERANTE SEMENTES DO AMANHÃ Silvana Knopf 1

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Academic year: 2021

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SEMENTES DO AMANHÃ

Silvana Knopf1

RESUMO: Este trabalho sistematiza e reflete a prática pedagógica de Inserção na Escola, orientada pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência - PIBID Diversidade, na Escola Itinerante Sementes do Amanhã, localiza no município de Matelândia- PR, desenvolvido durante o ano de 2014. Objetivamos apontar elementos da prática pedagógica da Escola Itinerante Sementes do Amanhã, perpassando pelos elementos de organização da prática pedagógica e a auto-organização dos educandos por meio dos núcleos setoriais e sua influência nas formas de gestão na escola. Nosso caminho metodológico perpassou pelo estudo de documentos do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que abordam os principais conceitos presentes neste trabalho, entre eles a auto-organização e os núcleos setoriais. Entre os documentos estudados estão o Plano de Estudo da Escola Itinerante do Paraná (2013) e relatórios da Escola Itinerante Sementes do Amanhã (2014). Apontamos que, mesmo diante dos limites expressos, os elementos de auto-organização dos educandos, potencializados pela auto-organização dos Núcleos Setoriais, em muito fortalece a autonomia e iniciativa dos mesmos junto à condução da escola.

Palavras chave: Escola Itinerante, auto-organização dos estudantes, formas de gestão.

Introdução:

O texto sistematiza e reflete uma das práticas pedagógicas articuladas no curso de Pedagogia para Educadores do Campo e o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência - PIBID Diversidade, que vem potencializando a formação docente dos pedagogos do Campo. Este projeto vem possibilitando maior intencionalidade na formação docente neste curso.

O curso é realizado em parceria entre a Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA, com recursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária.

A Pedagogia para Educadores do Campo visa formar pedagogos para atuarem nas escolas do campo, capazes de organizar e fortalecer os processos pedagógicos da escola e da

1 Estudante do curso de Pedagogia para Educadores do Campo – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste/Cascavel. silvana.knopf@hotmail.com

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vida social da comunidade, articulado a um projeto de desenvolvimento social das comunidades camponesas. Voltado à formação de camponeses, o curso é organizado em período de alternância. Esse formato de organização do ensino pressupõe um Tempo Universidade-TU e um Tempo Comunidade-TC. A alternância entre TU e TC tem possibilitando que jovens e adultos camponeses e mesmo aos professores que atuam nas escolas do campo sem a habilitação necessária, possam cursar o ensino superior sem que para isso precisem abandonar sua comunidade.

Está distribuído em etapas2 divididas entre TU e TC, cada qual com sua função política e pedagógica. Segundo o Projeto Político Pedagógico (2013):

Tempo Escola (TE), é o tempo presencial em que os estudantes estarão juntos na Universidade ou em outro local, onde se desenvolverão as aulas e orientações para trabalhos práticas nas comunidades de origem. Tempo Comunidade (TC), é o tempo em que estudantes estarão em suas comunidades desenvolvendo suas práticas, bem como outras atividades do curso, como a pesquisa. Este tempo refere-se tanto aos trabalhos individuais como também as atividades realizadas em grupo com o acompanhamento pedagógico docente. (PPP, 2013, p. 18).

Na universidade os alunos se concentram para o estudo das disciplinas, leituras e outras vivências pedagógicas e organizativas possibilitadas pelo curso. Na comunidade dá-se continuidade aos estudos orientados pelos professores das disciplinas e também se retomam as atividades que os estudantes estavam inseridos nas suas comunidades. Estes dois tempos são articulados e propiciam maior relação entre teoria e prática na formação do pedagogo, que pode ser mais potencializada mediante iniciativas direcionadas para a sistematização, estudo e análise da realidade das escolas que os estudantes se inserem.

O Pibid Diversidade é uma iniciativa que vem qualificando a formação do professor no curso, visa estimular os estudantes na iniciação à docência, proporcionando interação com a teoria e a prática de uma sala de aula por meio do planejamento, estudo, sistematização e reflexão das ações realizadas nas escolas de inserção.

Objetivamos com este trabalho apontar elementos da prática pedagógica da Escola Itinerante Sementes do Amanhã, perpassando pelos elementos de organização da prática pedagógica e a auto-organização dos educandos por meio dos núcleos setoriais e sua

2 A carga horária total do curso foi distribuída em oito etapas , sendo dois TU e dois TC por ano, num total de quatro anos de curso.

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influência nas formas de gestão na escola. Para tanto, apresentamos à prática pedagógica de inserção na Escola articulada a proposta formativa do curso e ao Pibid Diversidade.

Nosso caminho metodológico perpassou pelo estudo de documentos do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que abordam os principais conceitos presentes neste trabalho, entre eles a auto-organização e os núcleos setoriais. Entre os documentos estudados estão o Plano de Estudo da Escola Itinerante do Paraná (2013) e relatórios da Escola Itinerante Sementes do Amanhã (2014).

Com vistas a uma exposição que facilite a compreensão dos leitores, organizamos o texto em tópicos. No primeiro deles abordamos, de maneira breve, o histórico da escola Sementes do Amanhã. Em seguida apresentamos os núcleos setoriais, sua função e organização no interior da escola e sua condição a auto-organização dos estudantes.

1 A Escola Itinerante Sementes do Amanhã

A Escola Itinerante Sementes do Amanhã está localizada no acampamento3 Chico Mendes, no município de Matelândia, Paraná. A área total do acampamento é de 380 alqueires. A fazenda, ocupada em 2004 por 106 famílias, era ocupada por extensas pastagens e gado de corte.

Após a realização da ocupação o primeiro passo é organizar as famílias, que são distribuídas em Núcleos de Base-Nb4 e Setores. São sete os setores organizados no acampamento, mas o que nos interessa aqui é apresentar as ações do setor de educação, que posteriormente darão origem a Escola Itinerante. O primeiro desafio desse setor, já no primeiro ano de acampamento, foi organizar a educação de jovens e adultos, já que existiam muitos analfabetos no local.

Outra demanda do setor de educação desse espaço foi pensar uma solução para garantir o ensino formal ás crianças em idade escolar. Inicialmente essas crianças, filhos e filhas de acampados, frequentavam a escola de uma comunidade próxima. Contudo, devido à discriminação sofrida pelas crianças, por viverem numa área ocupada, e superlotação das salas de aula, os acampados definiram pela organização de uma escola dentro do

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Acampamento são áreas improdutivas ocupadas pelas famílias Sem Terra e ainda não regularizadas como assentamento pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária-INCRA.

4 Os Núcleos de Base-Nbs são formados por cerca de 08 a 12 famílias e são a instância máxima de discussão das famílias acampadas.

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acampamento. Nesse período a experiência da Escola Itinerante já estava em curso em outros acampamentos do estado, isso facilitou a abertura de mais uma escola.

A Escola Itinerante Sementes do Amanhã iniciou suas atividades letivas no Acampamento Chico Mendes no dia 21 de abril de 2005 e nos seus primeiros anos de existência atendeu as séries iniciais do ensino fundamental, sendo os educadores da própria comunidade.

Atualmente passaram-se dez anos desde a ocupação e a Escola Itinerante acumula nove anos de experiência. Os desafios e aprendizados desse período foram muitos, resistiu à tentativa de despejo das famílias e em 2013 ampliou a oferta de ensino para as séries finais do ensino fundamental. Na comunidade também estão em andamento turma de EJA fase I, alfabetização.

Certamente esta escola vem afirmando o direito a educação de crianças, jovens, adultos e idosos. É fruto da luta dos trabalhadores Sem Terra, por isso acompanha, influência e incorpora na sua ação pedagógica as formas de organização da vida neste espaço.

Feita esta apresentação superficial, mas necessária, nosso próximo passo é apresentar características desta escola de acampamento, conquistada pela luta organizada dos trabalhadores do Movimento Sem Terra e mantida pelo Estado.

2 A proposta pedagógica e as principais características das formas de gestão da Escola Itinerante Sementes do Amanhã

A proposta pedagógica que orienta a Escola Itinerante5 que estamos apresentando é fruto de um longo processo de estudo e discussões, conduzidas pelo Setor de Educação do MST-PR6. Orienta-se pelos pressupostos de educação transformadora defendida pelo MST, que visa articular a educação á luta por transformação social.

O currículo que orienta as Itinerantes é organizado em Ciclo de Formação Humana7, numa tentativa de contrapor a lógica excludente da seriação, pautando a organização do

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As Escolas Itinerantes no Estado do Paraná são extensão da Escola Base, que se localiza em Rio Bonito do Iguaçu-PR. Ela é a responsável pela vida legal dos alunos e pelo repasse de verbas as Escolas Itinerantes. 6 O Setor de Educação do MST Paraná foi constituído em 1997. Atualmente é formado por pessoas de diferentes regiões e que assumem distintas funções como: organização, discussões e encaminhamentos sobre a escola no Movimento, a infância, a formação de educadores e a alfabetização e escolarização de jovens e adultos.

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A Proposta Pedagógica dos Ciclos de Formação Humana para o Ensino Fundamental e Médio foi autorizado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEDD-PR por meio da resolução n° 3922/10 de 2010. No entanto, a escola já vinha trabalhando com esta proposta desde os primeiros anos de existências das Itinerantes.

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trabalho pedagógico numa perspectiva emancipadora. Nos ciclos de formação humana os níveis de ensino estão organizados da seguinte forma, conforme destaca o PPP (2013).

Ciclo da vida Ciclo da

Educ. Básica Idade Anos

Infância Ciclo Único da Educação Infantil 4 anos 5 anos Educação Infantil I Ciclo do Ensino Fundamental 6 anos 7 anos 8 anos 1° Ano 2° Ano 3° Ano Classe Intermediária Pré-Adolescência II Ciclo do Ensino Fundamental 9 anos 10 anos 11 anos 4° Ano 5° Ano 6° Ano Classe Intermediária Adolescência III Ciclo do Ensino Fundamental 12 anos 13 anos 14 anos 7° Ano 8° Ano 9° Ano Classe Intermediária Juventude Ciclo Único do Ensino Médio 15 anos 16 anos 17 anos 1° Ano 2° Ano 3° Ano

Quadro elaborado pela autora.

Nesta lógica de organização das turmas por idade – fases da vida humana- são organizados por agrupamentos de referência, que são mantidos durante o ano letivo. Caso algum educando não consiga apropriação de determinado conteúdo, pode ser organizado novo reagrupamento com crianças de idade e turmas diferentes para frequentar a classe intermediária. Intermediária porque acontece entre os ciclos. Mesmo frequentando a classe intermediária o aluno não fica retido e faz a progressão para o ciclo seguinte.

O processo Avaliativo8 acontece pautado nos pressupostos dos ciclos da vida e em vez de nota os conhecimentos são representados por meio de parecer descritivo, que é resultado de

8 A Avaliação é Processual, Diagnostica Emancipatória, seguida de ferramentas específicas como: o caderno de acompanhamento individual do educando, a pasta de acompanhamento individual, na qual é

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um longo processo de acompanhamento e registro da vida escolar dos educandos. Posteriormente o parecer é socializado com os pais no conselho de classe participativo9, que acontece no final de cada semestre letivo.

A adoção do Ciclo de Formação Humana é orientada pela concepção de desenvolvimento presente na obra de Vigotsky. De acordo ao PPP (2013), os ciclos exigem uma mudança significativa nas concepções que dão sustentação as práticas pedagógicas e à própria consolidação das mesmas, pois se representarem apenas mudança de forma e não de conteúdo, será uma mudança inócua. Entendemos, então, que organizar a escola desta forma significa romper com a fragmentação do saber e alargar os tempos de aprendizagem e desenvolvimento, possibilitando a convivência com a diversidade. Esta proposta não representa, portanto, apenas uma organização temporal, mas uma preocupação com o processo permanente de desenvolvimento e aprendizagem dos educandos.

Na proposta por ciclos o ensino orienta-se pelos pressupostos da Escola Comuna da União Soviética e da pedagogia do MST, que articula as bases da vida e da ciência por meio dos Complexos de Estudo. Da experiência da escola comuna, sistematizada por Freitas (2009), nos apropriamos do conceito de autogestão dos estudantes, auto-organização e trabalho socialmente necessário, que conforme Pistrak apud Freitas, (2009).

Os trabalhadores da Escola-Comuna em sua atividade partiram de Marx e Lênin sobre o desenvolvimento multilateral da personalidade no comunismo, sobre a necessidade de combinar o ensino com o trabalho produtivo, com a vida, sobre a formação do coletivo e a relação criativa com o trabalho e estudo. (FREITAS, 2009, p.20).

Articulado a estes pressupostos, o acúmulo prático e teórico da pedagogia do MST concebe a escola como espaço de formação da classe trabalhadora e aponta as matrizes educativas fundamentais como cultura, luta social, história, trabalho e organização coletiva, que precisam movimentar o ensino e as relações sociais vivenciadas pelos educandos.

Conforme o Caderno de Educação nº9 (1999), a proposta de educação do MST inova em formas e espaços de organização dos estudantes, professores e comunidade, devendo funcionar de forma planejada, coletiva e solidária. Propõe, efetivamente, uma nova forma escolar, em que um dos aspectos é a estrutura orgânica da escola.

arquivada mensalmente um trabalho dos educandos e o parecer descritivo, que expressa o resultado final da avaliação do educando.

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Esta organização é embasada na forma de organização dos acampamentos, com princípios de gestão democrática, auto-organização dos estudantes, coletivos pedagógicos, direção coletiva e divisão de tarefas.

Para a pedagogia Socialista os fundamentos da autogestão, conforme Pistrak (2000) visam constituir hábitos de saber trabalhar, viver e construir coletivamente, é preciso saber lutar pelos ideais da classe trabalhadora, lutar tenazmente, sem trégua; é preciso saber organizar a luta, organizar a vida coletiva, e para isso é preciso aprender, não de imediato, mas desde a mais tenra idade o caminho do trabalho independente, a construção de coletivo independente, pelo caminho do desenvolvimento de hábitos e habilidades de organização coletiva.

A organização da escola desde estes pressupostos orienta-se por princípios de autogestão que possibilitam maior participação do coletivo de educadores, educandos e comunidade escolar em geral. Deste modo, os educandos, por meio dos Núcleos Setoriais, vivenciam experiências de tomada de organização e tomada de decisão que contribuem significativamente com os distintos processos de gestão da Escola Itinerante.

A Auto- organização dos estudantes

A implementação dos Núcleos Setoriais inicia no ano de 2013, a partir de estudo e pesquisa sobre o ensino e as formas de organização da Escola Itinerante no setor de educação do MST. O referido estudo resultou na elaboração do Plano de Estudo. O Plano de Estudo, documento que reúne os conteúdos das diversas disciplinas, os objetivos formativos e de ensino e tem como objetivo principal fazer a conexão dos conteúdos com a vida, ou seja, trabalha com as porções da realidade, nas quais podem conectar-se os conteúdos de distintas disciplinas, como destaca o documento.

Por plano de estudo deve-se entender o conjunto de decisões que fornece aos educadores elementos para definir a amplitude dos conteúdos a serem ensinados, os objetivos tanto de caráter formativo como de ensino, as expectativas de desenvolvimento, as indicações das relações que tais conteúdos e objetivos têm com a vida cotidiana dos estudantes, bem como orientações metodológicas gerais que conduzam a uma organização da escola e do ensino com significado para os estudantes do campo. (PLANO DE ESTUDO, 2013, p. 9).

O núcleo setorial tem como função primordial trabalhar com a auto-organização dos educandos, despertar nos mesmos a capacidade de juntos ajudarem a conduzir o processo da escola, pois segundo Plano de Estudo (2013).

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O objetivo principal do MST no âmbito da educação é ajudar a formar seres humanos mais plenos e que sejam capazes e queiram assumir- se como

lutadores, continuando as lutas sociais de que são herdeiros, e construtores

de novas relações sociais, a começar pelos acampamentos e assentamentos onde vivem e que são desafiados a tornar espaços de vida humana criadora. Para isso é preciso educar as novas gerações de modo a que desenvolvam uma visão de mundo que inclua estes objetivos; crianças e jovens ativos, com iniciativa, multilateralmente desenvolvidos, com apropriação de conhecimentos científicos relevantes, capazes de ligar teoria e prática, que aprendam habilidades técnicas, hábitos sociais e valores de convivência e trabalho coletivo. (PLANO DE ESTUDO, 2013, p.11).

Os núcleos setoriais são compostos por educandos das diversas turmas e idades diferenciadas, para que ajudem a gestar a escola e se coloquem como sujeitos deste processo. Atualmente, é indicados no Plano de Estudo (2013) a organização de sete Setores, conforme apresentamos no quadro abaixo.

NÚCLEO SETORIAL FUNÇÃO QUE ESTUDANTES EXERCEM

Memória Os estudantes são responsáveis em guardar a memória da escola, produz registros escritos da vida coletiva da escola, através de três instrumentos: a) Diário da Escola , b) Pasta de Acompanhamento das Praticas Pedagógicas dos Complexos, c) Arquivo Fotográfico e Audiovisual.

Apoio ao Ensino Este núcleo se auto organiza em torno de tarefas ligadas a dimensão do ensino na escola e o acesso ao conhecimento cientifico, desde o planejamento de ensino, o quadro de tempos educativos e fazem isso desde a organização de materiais e equipamentos de suporte ao ensino (TV, o Rádio DVD), e os materiais didáticos, a organização da biblioteca, secretaria escolar. São responsáveis em receber visitas na escola e apresentar a proposta pedagógica e organização no cotidiano escolar. Comunicação Os membros deste núcleo setorial atuam no processo de socialização de informação

na escola e acampamento, proporcionando a todos a conexão com os fatos que estão acontecendo na escola, na comunidade e ao em torno, para isso organizam radio escolar, jornal e murais. Realizam leitura do diário no tempo formatura para toda comunidade escolar.

Finança/Estrutura Exerce a função de planejamento financeira e administrativo da estrutura da escola. Organizar os processos de finanças da escola, entradas de recursos, saídas, planejamento financeiro, prestações de contas. Além disso faz o controle do patrimônio da escola e da merenda escolar.

Embelezamento É o núcleo responsável pela organização dos espaços, possibilitando a primazia do belo na escola. Tem a função de proporcionar que os espaços da escola mesmo improvisado, sejam acolhedores em harmonia com a natureza e a produção humana. Neste sentido os estudantes se auto organizam através de três atividades centrais: plantio de flores, árvores, arbustos ou seja o jardinamento da escola, a organização estética da escola: identificação dos espaços, exposição de trabalhos e a valorização dos símbolos na escola.

Saúde e Bem Estar É responsável pelo bem estar da coletividade, que se preocupa com as diversas questões da vida humana: desde a alimentação, a limpeza e higiene e saúde. Neste núcleo setorial além de executar tarefas práticas de limpeza, faz orientações em relação a boa alimentação, cuidado com higiene e espaços limpos, organizados. Agrícola É responsável pelas práticas agrícolas na escola e possibilita a vivência do cuidado

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com a terra e com o meio ambiente, planejarão a produção de alimentos para consumo na escola e na comunidade através das hortas agroecológicas, pomar e plantios de outros alimentos, também poderão fazer criação de animais

Quadro organizado pela autora.

A implementação dos Núcleos Setoriais acontecem nas doze Escolas Itinerantes do estado, no entanto é a demanda específica de cada uma que determina quais núcleos serão organizados em cada espaço. Na Escola Itinerante Sementes do Amanhã estão em andamento os Núcleos Setoriais: finança, agrícola, saúde e bem-estar.

3 Auto-organização dos estudantes e sua relação com as formas de gestão na escola: um passo na busca de mais autonomia dos estudantes.

A definição pelos Núcleos Setoriais que demandava trabalho concreto na escola foi definida pelo coletivo de educadores durante a semana pedagógica da escola e os núcleos de finança, saúde e bem-estar e agrícola, estão articulados á vida do acampamento.

Cada núcleo setorial é representado por um coordenador e uma coordenadora, responsáveis pela participação nas reuniões com o coletivo pedagógico da escola, pelo planejamento das atividades elencadas pelos próprios alunos e, quando necessário, articular a comunidade para participar e contribuir em alguma atividade dos núcleos. Também, participam da reunião da coordenação da comunidade para socializar e discutir a pauta deles. Essa prática organizativa mexe e remonta todo o processo pedagógico da escola e faz os sujeitos envolvidos refletir e replanejar sua prática educativa.

Para o desenvolvimento das atividades os núcleos se organizam em tempos semanais programados pela escola. Neste momento cada núcleo precisa ter clareza de sua função na coletividade.

Segundo as ações planejadas, o núcleo setorial da finança precisa compreender como estão sendo administrados financeiramente os recursos que entram na escola e qual a finalidade dos mesmos (exemplo: qual valor de fundo rotativo entra na escola e qual é o destino dele). O trabalho do núcleo está diretamente articulado a disciplina de matemática, já que precisa lidar com cálculos diversos e construções de tabelas.

O núcleo de Saúde e Bem Estar tem maior controle sobre a merenda escolar e a construção do cardápio da escola, etc. Para isso os educandos precisam saber a data de validade dos produtos, pensar e construir, juntamente com a cozinheira, um cardápio para a escola, considerando as variedades de alimentos que a escola possui. É necessário que

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compreendam e saibam organizar um cardápio saudável, considerando os nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo. Este setor está intimamente ligado à disciplina de ciência e biologia.

O Núcleo Agrícola tem contato direto com a horta da escola e tem como principal função, além de produzir, discutir a produção de alimentos saudáveis, cuidar e cultivar a diversidade de hortaliças. Sua função para o coletivo da escola é a de melhorar a qualidade da alimentação e complementar a merenda escolar.

Durante o desenvolvimento da prática na escola, são retomados estudos sobre a função dos Núcleos Setoriais e os educadores, na função de mediadores, auxiliam os núcleos no planejamento das ações, tomando o cuidado de não retirar dos educandos o protagonismo. É o educando que deve organizar e programar as ações na escola, como destaca Almeida apud Camini (2009).

A auto- organização dos estudantes é pensada como fio condutor da formação e gestão da escola do campo. É assumir na concretude o que se defende sobre “ser sujeito do processo”. Ninguém se faz sujeito se não “põe a mão na massa”. E jamais alguém se torna sujeito esperando ou aceitando que os outros façam por ele. Tornamo-nos sujeitos na ação. A estrutura orgânica da escola está apoiando nos núcleos de base e na formação de coletivos ou equipes disso, é possível levar nossos estudantes e professores a compreenderem que há momentos de coordenar e outros de serem coordenados, entendendo a importância de propor, avaliar e tomar decisões coletivas sobre o processo (CAMINI, 2009, p. 227).

Em determinadas ações, conforme descritas no relatório (2014), percebemos que a auto-organização dos educandos perpassa o chão da escola e reflete na organização do acampamento, pois para organizar o trabalho os estudantes precisaram dialogar e organizar esta a ação junto à comunidade. Esta ação afirma a pertinência da relação entre as ações de trabalho que perpassam as demandas da escola, que de acordo ao Plano de Estudo (2013) assumem dimensões pedagógicas. São iniciativas que se aproximam do conceito de trabalho socialmente necessário.

Os núcleos se constituem espaço de vivenciar teoria e pratica, pois os educandos e professores desenvolverão um conjunto de ações que perpassam a prática de planejamento coletivo, a execução de tarefas e a apropriação de conhecimentos científicos. Deste modo, os Núcleos Setoriais influenciam na gestão da organização do Trabalho Pedagógico e demandam estudos específicos sobre determinados aspectos que as disciplinas precisam desenvolver.

Todavia, percebemos que há limites em movimentar as disciplinas para que as demandas identificadas desde os Núcleos Setoriais se articulem aos conteúdos desenvolvidos,

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pois esta ação demanda outras iniciativas, como a prática do planejamento coletivo, que ainda é um exercício árduo entre os educadores.

As reflexões contidas no relatório (2014) apontam que em alguns momentos os educandos deixavam de se auto-organizar, porque faltava a compreensão da necessidade de fazê-lo.

Constamos que o que mais avança nesta forma de auto-organização dos estudantes são as ações de trabalho específico dos núcleos, nas quais é possível desenvolver maior autonomia, iniciativa e gosto pelo trabalho coletivo, dentre outros. Permanece o limite em estabelecer a relação entre as ações desenvolvida nos núcleos e o ensino.

Conclusões do trabalho desenvolvido

Ao passo que retomamos estudos sobre a Proposta Pedagógica da Escola Itinerante, percebemos quão as ações que estão em andamento nesta escola dão unidade aos pressupostos e indicativos de organização do ensino e dos educandos. No entanto, ainda é preciso avançar na compreensão teórica sobre a mesma, pois quando a teoria não consegue ser resignificada na prática cotidiana da escola, é porque ainda faltam elementos a ser apropriados.

Por se tratar de uma proposta nova de organização escolar e de ensino, em alguns momentos as disciplinas não conseguem fazer ligação direta com as atividades dos núcleos setoriais, deixando lacuna entre a teoria e a prática dos educandos. Deste modo, destacamos a importância dos educandos e professores permanecer em constante formação e estudo, a fim de compreender o ensino desde a perspectiva dos Complexos de Estudo, bem como a gestão democrática da escola, desde os processos de autogestão dos educandos.

Estes elementos e iniciativas em andamento, sem dúvida, contrapõe a cultura escolar hegemônica, na qual as relações de poder são reguladas por leis, muitas vezes externas a escola, que são incorporadas por professores e educandos, tornando-se submissos e passivos a elas.

Os Núcleos Setoriais são iniciativas de autogestão dos estudantes, que mesmo com limites, contribuem significativamente para formar outra postura politica e pedagógica no coletivo escolar, na qual os educandos e professores são sujeitos destes processos.

Através desse processo planejado de Inserção na Escola, obteve-se melhores condições de compreender o Núcleo Setorial dentro da Escola Itinerante Sementes do

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Amanhã. No decorrer das atividades desenvolvidas, observamos que os educandos entenderam a condução do Núcleo Setorial parte da própria auto- organização dos mesmos. REFERENCIAS BIBLIOGÁFICAS

CAMINI, I. Escola Itinerante, na fronteira de uma nova escola, São Paulo, Expressão Popular, 2009.

PPP. Projeto Político Pedagógico do Curso Pedagogia para Educadores do Campo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Unioeste, Campus de Cascavel-PR, 2013.

PPP. Projeto Político Pedagógico da Escola Itinerante/ MST-PR, Curitiba, 2013.

RELATÓRIO DO PIBID, A prática com os Núcleos Setoriais, 2014.

FREITAS, L.C; CALDART, R.S; SAPELLI, M.L.S.(Orgs). Plano de Estudos da Escola Itinerante, 1º Edição, Edunioste, Cascavel, 2013.

FREITAS, L. C. Introdução. In: PISTRAK, M. M. A Escola-Comuna. São Paulo: Expressão. Popular, 2009.

MST. Como fazemos a escola de educação fundamental. Caderno de Educação nº9. São Paulo: MST, 1999.

Referências

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