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AVALIAÇÃO DO ACORDO TBT PASSADOS OITO ANOS

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AVALIAÇÃO DO ACORDO TBT PASSADOS OITO ANOS

Sílvia Helena G. Miranda Bolsista CAPES - PRODOC. Pesq. colab. Cepea Mariana Zechin graduanda de Economia Agroindustrial Ricardo de Queiroz Machado graduando de Economia Agroindustrial Artigo elaborado em abril/2004 O TBT (Acordo sobre Barreiras Técnicas) é reconhecido como um instrumento positivo para regulamentar o comércio internacional entre os países, no que tange aos aspectos técnicos - já explicitados em artigo anterior. Seus princípios buscam garantir transparência, base científica, equidade e equivalência das negociações, importantes aspectos reconhecidos pelos países membros, entre outros. Contudo, ainda há dificuldades na sua implementação, relacionadas às diversas razões, como a diferença cultural, econômica, social e política entre os países; os interesses comerciais e, intrinsecamente, a falta de consenso sobre algumas definições técnicas importantes.

O TBT refere-se a barreiras decorrentes da aplicação de regulamentos técnicos (de natureza compulsória, elaboradas pelo poder público: atos normativos e portarias governamentais), de normas (ou padrões) técnicas (natureza não-mandatória, elaboradas, a princípio, por consenso) e de procedimentos de avaliação de conformidade.

No texto oficial do Acordo TBT, é prevista uma revisão trienal sobre a operacionalização e implementação do mesmo nos países signatários. Três revisões já foram realizadas até o momento: nos anos de 1997, 2000 e em novembro de 2003. As questões enfatizadas na primeira revisão foram a transparência, a assistência técnica aos países membros e o tratamento especial e diferenciado às nações em desenvolvimento.

O Comitê de Barreiras Técnicas ao Comércio (órgão aberto a todos os países membros e responsável também por atender suas consultas) entendeu que as atividades de

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assistência técnica deveriam ser coordenadas em parceria com outras

organizações intergovernamentais, atentando-se ao desenvolvimento de recursos humanos e institucionais, e aos procedimentos da avaliação de conformidade. Também considerou como insatisfatório o status de implementação do Acordo, particularmente pela dificuldade encontrada pelos países na submissão das listas de medidas técnicas, como a aceitação do Código de Boa Conduta do TBT.

O Código de Boa Conduta trata da não discriminação, da transparência, da harmonização e de evitar obstáculos desnecessários ao comércio. Na avaliação, constatou-se, porém, a proliferação de padrões preparados, adotados e aplicados por entidades de padronização que não seguem as disciplinas do Código e que podem gerar um impacto adverso no comércio, mesmo sendo voluntário. Assim, o Comitê propôs aos órgãos de padronização de cada país que procurassem atingir um consenso interno e que utilizassem, preferencialmente, a padronização internacional a fim de impedir a sobreposição com outros órgãos nacionais ou internacionais.

No programa de trabalho da primeira revisão, as tarefas seguintes foram apontadas e direcionadas, principalmente, aos países em desenvolvimento:

a) Adoção de medidas para capacitar países em desenvolvimento, transferir tecnologia, preparar e adotar normas técnicas, padrões ou procedimentos de conformidade, em virtude de suas necessidades especiais de desenvolvimento;

b) Realização de um estudo pelo Secretariado para averiguar o estado de conhecimento sobre as barreiras técnicas nos países em desenvolvimento, especialmente pelas pequenas e médias empresas;

c) Avaliação de como (e se) estão sendo considerados os problemas dos países em desenvolvimento nas organizações normatizadoras internacionais;

d) Promoção de eventos internacionais para disseminar as provisões do Acordo nos territórios das nações em desenvolvimento;

e) Encorajamento ao uso de padrões internacionais, a submissão dos relatórios e a apresentação pelos países membros de eventuais dificuldades enfrentadas ao Comitê, como a troca de informações entre eles.

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Ao concluir essa primeira revisão, estabeleceu-se um Grupo de Trabalho Técnico para examinar alguns Guias ISO/IEC sobre procedimentos de avaliação de conformidade e suas possíveis contribuições ao TBT - no que diz respeito à definição e reconhecimento desses procedimentos pelos órgãos nacionais. O uso comum de recomendações, guias internacionais, padrões sobre testes, inspeção, creditação e certificação seria ainda necessário para assegurar a confiança entre os membros. Lousada (2000) comenta que os EUA foram um dos países que procurou diminuir a importância do sistema ISO/IEC, em face de organismos norte-americanos, cujas normas são aceitas internacionalmente. Disso resultou, inclusive, uma discussão importante sobre o conceito de normas internacionais de facto durante a 1a. revisão.

Na segunda revisão trienal, em 2000, foi concluído que diversos conceitos necessitavam ser discutidos e consensuados em âmbito do TBT. Richter (2002) menciona que o Japão apontou a necessidade de esclarecer o que é uma "norma internacional" e também melhor explicar algumas expressões, como "medidas para garantir transparência" e "imparcialidade dos procedimentos de elaboração de normas internacionais".

A Comunidade Européia enfatizou a importância de avaliar os impactos das regulamentações legítimas, e não apenas aquelas consideradas indevidas. Propôs também aprofundar o estudo sobre a elaboração de diretrizes multilaterais quanto à etiquetação e de discutir-se a etiquetação ecológica. Neste contexto, cabe ressaltar que, a Comunidade Européia contribuiu para a aprovação de um pequeno texto sobre rotulagem, acenando para que o Comitê acompanhasse de perto esse assunto – atualmente, a rotulagem de transgênicos é um dos temas mais controversos no âmbito do TBT, sendo a União Européia o país com maior destaque, entre os desenvolvidos, na normatização do tema junto ao TBT, consideradas as notificações feitas desde 1995.

Por sua vez, a Índia destacou a proliferação de regulamentações e normas técnicas pelas nações desenvolvidas. Sugeriu que as exportações dos países em desenvolvimento estavam duplamente prejudicadas: pelos padrões, regulamentos e procedimentos de

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avaliação de conformidade "incompatíveis com as obrigações do acordo", e pela

incapacidade técnica e financeira que os países em desenvolvimento enfrentavam para cumpri-las.

Lousada (2000) abordou os principais pontos encaminhados pelo Brasil ao Comitê para a segunda revisão trienal do TBT, destacando:

a) Necessidade de definição efetiva do conceito de normas internacionais; b) Importância do uso de padrões internacionais para promover a harmonização dos padrões e fundamentar as normas técnicas. É preciso considerar tanto as instituições que os elaboram e adotam quanto os aspectos do processo de sua elaboração e adoção, para a consecução desses objetivos. Para evitar padrões conflitantes, o país defendeu também um único organismo como responsável pela padronização internacional;

c) Criação de condições que facilitem o reconhecimento mútuo ou a elaboração de protocolos, baseados no princípio da reciprocidade. Esses acordos poderiam ser bilaterais ou plurilaterais e compreender diversos sistemas ou níveis de avaliação de conformidade, visando à aceitação dos resultados de procedimentos de avaliação de conformidade, que são adotados pelas partes individualmente. Para execução desses procedimentos já existem guias e padrões internacionais, os quais deveriam ser adotados;

d) Promoção da cooperação técnica, sugerindo um programa financiado por várias entidades internacionais, e sob responsabilidade do Comitê acompanhar seu funcionamento. Conhecimento mútuo e cooperação entre diferentes agentes técnicos nas áreas de padronização, metrologia e avaliação de conformidade constituem a base para o fortalecimento da confiança técnica e, conseqüentemente, dos acordos e entendimentos de reconhecimento recíproco;

e) Necessidade de uma maior interação entre o Comitê e os organismos internacionais nas atividades de normalização, visando evitar duplicação de normas e regras conflitantes.

A terceira revisão trienal fundamentou-se na discussão sobre a implementação e administração do Acordo, na prática de regulamentação, transparência, procedimentos de avaliação de conformidade, assistência técnica aos outros membros e tratamento especial e

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diferenciado às nações em desenvolvimento. Abordaram também alguns

assuntos já debatidos na segunda revisão trienal, como a necessidade do uso de guias ou recomendações internacionais. Reiterou-se a importância dos membros aceitarem, sempre que possível, unilateralmente, os resultados de avaliação de conformidade provenientes de outros países membros.

O Código de Boa Conduta foi discutido novamente, tendo em vista sua grande relevância como elemento para a efetiva implementação do Acordo. Os focos de preocupação foram os mesmos debatidos na 2a revisão, entre eles a necessidade dos países membros concentrarem-se na avaliação do impacto das regulamentações legítimas, ao uso de medidas voluntárias ou imperativas, e na escolha de instrumentos políticos que facilitem o emprego do Código.

Durante a segunda revisão, simultaneamente ao desenvolvimento da padronização internacional, organismos normalizadores de alguns países membros optaram por adotar padrões equivalentes oriundos de outros países, na medida em que esses padrões atendiam seus objetivos comercias. Na terceira revisão, o Comitê reconheceu que tal equivalência pode constituir um elemento promotor da boa prática de regulamentação, não limitando a proliferação e consolidação do uso de padrões internacionais. A transparência e a não discriminação são dois princípios que devem fundamentar esse processo.

A preocupação com a transparência na normatização técnica foi ressaltada pelos problemas que abrangem as deficiências, em períodos curtos, na realização de comentários e sua execução inadequada. Uma recomendação importante foi a de que os países desenvolvidos outorgassem às nações em desenvolvimento mais que 60 dias para efetuarem seus comentários. Aliás, com relação à data de entrada em vigor do regulamento técnico, o Comitê insistiu a importância do cumprimento da decisão, determinando a concessão de um prazo mínimo de seis meses entre a publicação do regulamento e o momento em que este entraria em vigor.

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Desde a segunda revisão trienal, grande parte das ações foram

empreendidas no desenvolvimento do programa técnico de TBT relacionado à cooperação. Aproximadamente 100 submissões relacionadas ao auxílio técnico foram recebidas dos países membros. A análise de questionários aplicados (Questionnaire for a Survey to Assist Developing Country Members to Identify and Prioritise their Specific Needs in the TBT Field) subsidiou o reconhecimento pelo Comitê técnico do TBT de que, entre os fatores que afetam a capacidade dos países membros em desenvolvimento em implementar o Acordo, encontra-se a carência de conhecimento sobre tal acordo e da capacidade (em termos de recursos humanos, de legislação e de infra-estrutura técnica). O levantamento evidenciou também que as necessidades relacionadas ao auxílio técnico referem-se em larga escala a natureza dinâmica e sofisticada dos regulamentos, padrões e procedimentos de avaliação de conformidade.

Um levantamento semelhante, mas voltado apenas à visão do setor privado na implementação e no impacto do Acordo sobre Medidas Fitossanitárias e Sanitárias (SPS) nas exportações dos países em desenvolvimento, foi realizado por Henson et al (1999). Os autores verificaram que os fatores mais importantes em relação à habilidade dos países satisfazerem às exigências do SPS na exportação de produtos agroindustriais foi o acesso insuficiente ao conhecimento técnico e científico e a incompatibilidade das exigências frente aos métodos de produção e ao mercado doméstico. Dificuldades financeiras e técnicas na participação dos países em desenvolvimento nos fóruns internacionais têm sido apontadas por vários autores como uma razão da pouca participação dos mesmos na regulamentação internacional.

O SPS é regido, fundamentalmente, pelos mesmos princípios do TBT – transparência, equivalência, harmonização, não-discriminação, assistência técnica. Assim, as dificuldades na implementação parecem ter também as mesmas raízes. Este fato aliado à constatação de que os temas básicos são os mesmos abordados nas três revisões do Acordo TBT, num período de oito anos, sugerem que as orientações do Comitê não estão sendo suficientes para promover a adequada implementação do Acordo.

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Na verdade, os países convivem com realidades muito distintas, no

que diz respeito às técnicas, economias, meio social, estrutura produtiva e legal e a complexidade dos temas técnicos. Desta maneira, torna-se um ambiente propício para a multiplicidade de atitudes e normatizações. Além disso, é quase certo afirmar que aqueles que estabelecerem as “regras do jogo” (ou os regulamentos e normas técnicas que orientem a transação de produtos) estarão à frente de um melhor desempenho comercial.

Fontes:

HENSON, S. et al. The impact of sanitary and phytosanitary measures on developing countries exports of agricultural and food products. In: The Conference on Agricultural and The New Trade Agenda in the WTO 2000 Negotiations. Genève: World Bank/WTO, Oct. 1999. 21 p. (Draft for Discussion).

LOUSADA, Manuel. 2º Revisão trienal do acordo de barreiras técnicas ao comércio – Relatório. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, novembro de 2000.

RICHTER , Karina. Barreiras técnicas. www.inmetro.gov.br, 2002.

World Trade Organization. Technical Barriers to Trade Agreement. Third Triennial

Review of the Operation and Implementation of The Agreement on Technical Barriers to Trade. G/TBT/13. 11/11/2003 (acesso em dezembro de 2003).

World Trade Organization. Technical Barriers to Trade Agreement. Second Triennial

Review of the Operation and Implementation of The Agreement on Technical Barriers to Trade G/TBT/ 9. 13/11/2000 (acesso em dezembro de 2003).

World Trade Organization. Technical Barriers to Trade Agreement. TBT. First Triennial Review of the Operation and Implementation of The Agreement on Technical Barriers to Trade G/TBT/ 5. 19/11/1997 (acesso em dezembro de 2003).

Referências

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