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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL YAN LUCAS DA SILVA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

YAN LUCAS DA SILVA

JORNALISMO NA PROVÍNCIA DISTANTE: ATUAÇÃO DOS

PRIMEIROS JORNAIS MATO-GROSSENSES NO SÉCULO XIX

Cuiabá-MT

2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

YAN LUCAS DA SILVA

JORNALISMO NA PROVÍNCIA DISTANTE: ATUAÇÃO DOS

PRIMEIROS JORNAIS MATO-GROSSENSES NO SÉCULO XIX

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, sob a orientação do Prof. Dr. Thiago Cury Luiz.

Cuiabá-MT

2020

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JORNALISMO NA PROVÍNCIA DISTANTE: ATUAÇÃO DOS PRIMEIROS JORNAIS MATO-GROSSENSES NO SÉCULO XIX

YAN LUCAS DA SILVA

Apresentada em: 12/03/2020

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________ Prof. Dr. THIAGO CURY LUIZ

(Universidade Federal de Mato Grosso)

___________________________________________ Prof. Dr. BRUNO BERNARDO DE ARAÚJO

(Universidade Federal de Mato Grosso)

___________________________________________ Prof. Dr. BRUNO RODRIGUES

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A todos os profissionais da História e do Jornalismo, que com seus esforços trabalham para que o mundo se torne um lugar melhor.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, a razão de ser de toda a minha existência, a Virgem Santíssima, minha mãe e senhora, que foi quem tudo fez, e o meu bom pai, São José, meu refúgio. Aos meus avós paternos, que me criaram, seu Antônio e dona Juracy, a quem eu devo tudo. Meus avós maternos, seu João e dona Neorly, que nunca deixaram de me ajudar. Aos meus pais, que me trouxeram à vida, me apoiaram e me ajudaram, Natanael e Márcia, que mesmo muitas vezes distantes, não deixaram de estar perto. Aos meus irmãos, Camilla, Cauã e Joaquim, aos meus tios, primos e toda a família, minha base e meu tudo. Agradeço ao meu diretor espiritual, Padre Lucivan Santana, sem o qual não sei o que seria de mim.

De modo especial, agradeço a todos os meus professores, desde o ensino infantil até esta graduação, que se doaram e se desgastaram para que, hoje, eu pudesse ter a oportunidade de receber um diploma de ensino superior. Agradeço o orientador deste trabalho, professor Dr. Thiago Cury Luiz, que de bom grado aceitou esta missão, e não teria conseguido sem sua ajuda, fazendo-se vislumbrar a profissão de jornalista, sendo um dos guias dentro da universidade. À professora Dra. Tamires Ferreira Coêlho, pelos muitos conselhos e sugestões durante o curso, fazendo-me mudar em muitos âmbitos.

Agradeço a pessoas especiais, sem as quais não teria conseguido coisa alguma. Ao tio Natel, um grande incentivador da educação, agradeço os investimentos e o exemplo desde sempre. Minhas colegas de curso, Marina, Aline e Lariça, que durante esse tempo todo me fizeram acreditar que sou capaz de muita coisa. São pessoas incríveis a quem sou eternamente grato pela presença nas muitas manhãs desde 2016.

Às amizades únicas: Vanessa e Adrielly, que nunca me abandonaram, e só cresceram comigo neste tempo, fortalecendo-me e me fazendo acreditar que as coisas boas valem a pena, apesar das tribulações; Joadir, Andreia, Mônica e Lucas, minha família do coração, que me acolheram em muitos momentos e me mostraram o valor de uma amizade e do carinho, a quem sou muito grato; e a Ludmylla, Dilma, Ricardo, Thiago, Laryssa e Wander, pelos muitos momentos, pelas muitas palavras e pela amizade de cada um.

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“O tempo é pouco para o muito que espero...”

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RESUMO

Esta monografia tem por objetivo analisar três dos primeiros jornais de Mato Grosso, originários do século XIX, para compreender características do jornalismo feito na época. Por meio de visitas aos acervos do Arquivo Público de Mato Grosso e do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional da Universidade Federal de Mato Grosso, foi possível estudar os periódicos A Gazeta Cuyabana, O Liberal e A Situação, os únicos disponíveis para consulta física que abarcam o período delimitado para esta pesquisa, o Império brasileiro, que vai de 1822 a 1889. São quatro edições de A Gazeta Cuyabana, datando de 1847 e 1848; três edições de O Liberal, de 1874, 1877 e 1879; e três edições de A Situação de 1875, saltando para 1886 e 1887. Foram observados nas dez edições alguns elementos, como aspectos gráficos, a opinião nos textos para uma identificação de linha editorial, gêneros abordados, as vozes dos jornais, as formas de noticiar, assuntos recorrentes e os pontos históricos presentes. A partir da análise, foi possível perceber que o jornalismo mato-grossense oitocentista, amparado pela imprensa brasileira da época, era palco para disputas políticas, mas também, de forma peculiar, noticiava casos e ocorrências específicas, emitindo opinião. Assim, concordando com a bibliografia consultada, a imprensa mato-grossense imperial é fruto de seu período histórico, tal como em todo o Brasil.

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Periódicos da Província de Mato Grosso 49

Tabela 2 – Edições analisadas 56

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - A Gazeta Cuyabana, edição nº1, de 2 de junho de 1847) 57

Figura 2 - A Gazeta Cuyabana, edição nº1, de 2 de junho de 1847 59

Figura 3 - A Gazeta Cuyabana, edição nº15, de 31 de julho de 1847 60

Figura 4 - A Gazeta Cuyabana, edição nº29, de 19 de julho de 1848 61

Figura 5 - A Gazeta Cuyabana, edição nº7, de 12 de fevereiro de 1848 62

Figura 6 - A Gazeta Cuyabana, edição nº7, de 12 de fevereiro de 1848 63

Figura 7 - A Gazeta Cuyabana, edição nº7, de 12 de fevereiro de 1848 64

Figura 8 - O Liberal, edição nº125, de 29 de janeiro de 1874 65

Figura 9 - O Liberal, edição nº 125, de 9 de janeiro de 1874 66

Figura 10 - O Liberal, edição nº 125, de 29 de janeiro de 1874 67

Figura 11 - O Liberal, edição nº 125, de 29 de janeiro de 1874 67

Figura 12 - O Liberal, edição nº 125 de 29 de janeiro de 1874 69

Figura 13 - O Liberal, edição nº 323, de 10 de novembro de 1877 69

Figura 14 - O Liberal, edição nº 323, de 10 de novembro de 1877 71

Figura 15 - O Liberal, 10 de novembro de 1877 72

Figura 16 - O Liberal, 10 de novembro de 1877 73

Figura 17 - O Liberal, 30 de abril de 1879 75

Figura 18 - O Liberal, 30 de abril de 1879 76

Figura 19 - A Situação, 28 de março de 1875 78

Figura 20 - A Situação, de 28 de março de 1875 78

Figura 21 - A Situação, de 28 de março de 1875 79

Figura 22 - A Situação, de 28 de março de 1875 80

Figura 23 - A Situação, de 23 de maio de 1886 81

Figura 24 - A Situação, 23 de maio de 1886 82

Figura 25 - A Situação, 23 de maio de 1886 82

Figura 26 - A Situação, 23 de maio de 1886 85

Figura 27 - A Situação, de 23 de maio de 1886 86

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO I ... 15

O BRASIL E MATO GROSSO NOS IDOS DO SÉCULO XIX ... 15

1.1 A conjuntura brasileira ... 15

1.1.1 Antecedentes do Império ... 15

1.1.2 Brasil, Reino Unido a Portugal e Algarves ... 18

1.1.3 A questão portuguesa ... 19

1.1.4 Independência... 21

1.1.5 1822-1889: Brasil Império ... 22

1.1.6 Primeiro Reinado... 23

1.1.7 Período Regencial do Império Brasileiro ... 25

1.1.8 Segundo Reinado... 27

1.1.9 O declínio do Império Brasileiro ... 31

1.2 A conjuntura mato-grossense ... 33

1.2.1 Revolta regencial: a Rusga Cuiabana ... 34

1.2.2 Guerra do Paraguai ... 35

1.2.3 Como era a Província de Mato Grosso... 36

CAPÍTULO II ... 40

O JORNALISMO BRASILEIRO E MATO-GROSSENSE NO SÉCULO XIX ... 40

2.1 A imprensa nacional em tempos de Império ... 40

2.2 O jornalismo em Mato Grosso imperial ... 48

CAPÍTULO III ... 54

ANÁLISE DOS JORNAIS OITOCENTISTAS MATO-GROSSENSES: O CASO D’A GAZETA CUYABANA, O LIBERAL E A SITUAÇÃO ... 54

3.1 Objeto de estudo ... 54 3.2 Os jornais ... 55 3.2.1 A Gazeta Cuyabana ... 57 3.2.2 O Liberal ... 64 3.2.3 A Situação ... 77 REFERÊNCIAS ... 91

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INTRODUÇÃO

A história da imprensa mato-grossense é permeada por dois grandes nomes: Rubens de Mendonça (1951) e Estevão de Mendonça (1975), que com seus estudos abriram um leque de possibilidade para outras pesquisas. Este trabalho, amparado pelos feitos dos autores e pelo trabalho de conservação de entidades públicas, consiste na análise de três jornais mato-grossenses no período em que o Estado, que era província, despontou no cenário da imprensa, o período imperial.

Delimitando este período histórico para o trabalho, é preciso entender o Brasil oitocentista, período de grandes feitos e reviravoltas políticas e sociais. As decisões tomadas pela Corte portuguesa de vir para a sua colônia geraram uma série de mudanças significativas no país. Os conflitos resultaram na independência brasileira; na abdicação do trono por parte de Pedro I; o reinado de seu filho, Pedro II, e, posteriormente, a proclamação da República.

O tempo que constitui desde a proclamação da independência, em 1822, até a proclamação da República, em 1889, é o período em que o país foi um reino independente, o Império do Brasil. Cada ação neste período histórico resultou em mudanças importantes para a conjuntura político-social do país, sendo aí o período de desenvolvimento dos jornais e a atuação marcante dos mesmos neste contexto.

Na Província de Mato Grosso, a comunicação era remota, o que atrasa a reação dos provincianos com relação aos acontecimentos nacionais. Mas, apesar disso, a província tinha a sua realidade, sua política, que era sempre ligada ao cenário nacional, seus costumes e cultura sendo estabelecidos.

A imprensa mato-grossense era uma cópia da imprensa feita em outras localidades do Brasil: era movida pelo cenário politico. Como nas revoltas regenciais, os periódicos tinham grande peso nas ações e lutas dos grupos, mesmo que isso custasse aos editores a liberdade ou a própria vida. Ora censurada, ora autorizada, a imprensa brasileira, desde o seu nascimento, enfrentara grandes batalhas.

Na província de Mato Grosso, o conteúdo dos miolos dos jornais era o relato de disputas políticas. A imprensa nasce como órgão oficial do governo, e, posteriormente, surgiram periódicos particulares, mas que tocavam nos assuntos de ordem pública, prestavam serviços e expunham muita opinião. Dentro do período delimitado, há os três jornais escolhidos para análise, levando-se em conta a disponibilidade: A Gazeta Cuyabana, O Liberal e A Situação.

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Para entender os três jornais mato-grossenses, é preciso conhecer o contexto histórico, as linhas de pensamentos que perpassavam o Brasil na época e seus reflexos no jornalismo. Os jornais eram fruto de seu tempo.

A partir da compreensão do contexto histórico por que passara o Brasil e, em especial, a província de Mato Grosso no período imperial, surge o questionamento de como era o jornalismo feito em terras mato-grossenses. Apesar das generalizações presentes em toda a extensão do país, há a indagação e a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre os periódicos que circulavam durante o tempo delimitado.

Esta pesquisa se estabelece na necessidade de compreender, dentro dos padrões da época, como faziam jornalismo e se mantinham três pioneiros do jornalismo de Mato Grosso. O objetivo dessa pesquisa é entender como aqueles periódicos conseguiam fazer o serviço competente ao jornalismo. Como objetivos específicos, compreender o período histórico e de como vivia a sociedade oitocentista mato-grossense; identificar os gêneros presentes nos jornais; detalhar ideias e correntes de pensamentos contidos no texto, identificando assim a linha editorial; observar a presença de opiniões nas três publicações; e, por fim, compreender a importância dos jornais para a história não só da imprensa, mas de Mato Grosso.

Entender o jornalismo oitocentista mato-grossense vem da necessidade de compreender a própria história do Estado, por vezes negligenciada. Este trabalho se faz primordial pela escassez de estudos na área jornalística que identifique, nos periódicos antigos, fragmentos de gêneros e termos que hoje ainda se encaixam no jornalismo. É importante pela história, para o entendimento, por meio do acesso ao passado, dos caminhos percorridos para se chegar até aqui. A partir deste estudo, será possível ter um pouco mais clara a ideia de quem eram as vozes que ressoavam em Mato Grosso, sobretudo em Cuiabá, do que falavam, o que faziam, quais assuntos ganhavam as páginas dos periódicos.

Para se chegar aos resultados, o caminho traçado foi o de análise de casos. Dentro do período histórico proposto, entre 1822 e 1889, há, através de instituições públicas que conservam alguns exemplares de jornais antigos, três títulos que abarcam o império, citados anteriormente.

Disponibilizadas dez edições para a análise, são quatro números de “A Gazeta Cuyabana”, três de “O Liberal” e três de “A Situação”. As visitas feitas ao Arquivo Público e ao Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional da Universidade Federal de Mato Grosso, que contêm as edições originais e digitalizadas, possibilitaram a análise. Foram observados pontos específicos, como aspectos gráficos, gêneros de texto, coluna de notícias, a opinião e assuntos abordados, além de características únicas dos jornais em questão.

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Dessa forma, o alcance e a representatividade desta pesquisa são limitados pelo corpus (e, dentro do corpus, há uma quantidade pequena de exemplares devido ao tempo remoto), ao qual esta pesquisa recorre. Assim, foi feita uma identificação das principais características do jornalismo apresentadas nessas dez edições, pelos três jornais, com raízes na historiografia e na base bibliográfica.

O fundamento deste trabalho se dá pela análise dos jornais escolhidos a partir do contexto histórico-jornalístico referenciado. Logo, se dá por um estudo de caso. Marcia Duarte (2009, p. 215) revela que é o método de pesquisa mais utilizado em disciplinas que estudam as relações humanas, interações sociais e afins. É a melhor opção para se levantar uma quantidade de informações para análise.

O contato com os jornais analisados se torna imprescindível em função da coleta dos muitos dados identificados para as conclusões deste trabalho. Apesar das muitas críticas ao método, o estudo de caso se faz a partir de uma realidade já construída, como declara a própria Marcia (2009, p. 218):

Não é suficiente observar um fenômeno social, um evento histórico ou destacar certos comportamentos com o objetivo de declará-los “casos”. Se desejarmos falar sobre um “caso”, precisamos dos meios de interpretá-lo e contextualizá-lo em uma realidade. (DUARTE, 2009, p. 218).

Logo, o ponto de partida para esta análise se faz da necessidade de conhecimento empírico. Ou seja, toda a contextualização histórica, política, social e jornalística ajudará a compreender o objeto de estudo em questão. Se os jornais escolhidos são frutos de seu tempo, para entendê-los é preciso entender seu tempo.

Dentro do estudo de caso, o interesse se dá para além do caso em si, mas para o que ele compreende e trata. Neste estudo, os jornais são o ponto chave para o entendimento de uma parte do que era o jornalismo oitocentista mato-grossense.

Marcia Duarte (2009, p. 225), a partir de Nisbet e Watt (apud LÜDKE e ANDRÉ, 1978), destaca algumas etapas da composição do estudo de caso. Uma delas é a coleta de dados. Neste trabalho, ela aconteceu mediante a disponibilidade dos acervos de órgãos e instituições específicas. Dentro do Arquivo Público de Mato Grosso e do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDHIR) da Universidade Federal de Mato Grosso há edições de jornais em estado físico disponíveis, mas também digitalizados. Optando preferencialmente pelos jornais em estado físico, para um melhor contato e análise, e a partir da limitação de tempo

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definida, os três jornais escolhidos com suas edições estavam disponíveis no acervo do Arquivo Público.

A leitura das edições dos três jornais, “A Gazeta Cuyabana”, “O Liberal” e “A Situação”, realizada no interior do Arquivo Público, transforma-se no processo de coleta de informações. A leitura e a captação de detalhes essenciais definidos como categorias para esta análise.

As categorias definidas para serem analisadas nos três jornais permeiam entre aspectos gráficos, gêneros de texto, coluna de notícias, a opinião e assuntos abordados. São cinco pontos essenciais que englobam outros aspectos menores. Trata-se de pontos essenciais para o jornalismo, sobretudo o que existia no século XIX, que sobrevivia da opinião e da luta política. Por ser distante do centro político e administrativo do país, a curiosidade e interesse por saber como se provia uma parte do jornalismo na província de Mato Grosso move o ímpeto para esta análise.

A partir da observação, captação e recolhimento dessas informações contidas nas edições dos jornais, a elaboração de um relatório é necessária, como aponta Marcia Duarte (2009, p. 225).

Dentro do relatório há a análise em si das informações coletadas. Neste trabalho, ela se deu em forma de confronto com a contextualização histórico-jornalística apresentada, de modo a provar que, de fato, o jornalismo identificado naquelas poucas edições analisadas dos três periódicos escolhidos muito se encaixa no que foi narrado e apresentado nos capítulos anteriores.

Os resultados obtidos nesta pesquisa, como garante Duarte (2009, p. 215), são qualitativos, o que é comum em estudos de caso, e caracterizam pelo problema definido, que permite identificar, nos fragmentos analisados, o jornalismo oitocentista mato-grossense. Todo o caminho percorrido – contextualização, coleta de informações, análise, relatório e confronto – resulta no que se transformou este trabalho.

Com três capítulos, esta análise traça pontos bem específicos. No primeiro, uma discussão histórico-epistemológica sobre o período imperial do Brasil, seus antecedentes e sua queda. Para bem entender o contexto nacional em que se inseriam as províncias, é preciso entender a cena política brasileira, sempre agitada, e que mexera constantemente com os costumes da sociedade, esta última sofrendo mudanças no quesito de influências culturais. A província de Mato Grosso, mesmo distante do centro administrativo do país, tinha seu cotidiano ligado às decisões vindas dos principais centros, tal como em todas as outras províncias do país.

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A imprensa não só acompanhava todas essas mudanças e reviravoltas da história brasileira, mas era muitas vezes motivação para tais acontecimentos. Por tamanha importância dos jornais na história do Brasil e uma forma de entender o jornalismo feito no século XIX, sofrendo muitas influências, o segundo capítulo aborda a imprensa brasileira e mato-grossense no período, também em caráter histórico-conceitual.

Após entendido o período histórico e o jornalismo vigente na época, o terceiro capítulo traz propriamente a análise de conteúdo dos três jornais escolhidos, com suas características, seus diferenciais e sua importância. A partir deste capítulo, foi possível identificar como era feito o jornalismo em Mato Grosso em meados do Brasil Império.

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CAPÍTULO I

O BRASIL E MATO GROSSO NOS IDOS DO SÉCULO XIX

1.1 A conjuntura brasileira 1.1.1 Antecedentes do Império

Apesar de só iniciar historicamente em 1822, com a proclamação da Independência por Dom Pedro I, o período conhecido como Brasil Império ganha uma melhor compreensão a partir de seus antecedentes.

Em novembro de 1807, a corte de Dom João VI deixa Portugal e chega ao território de sua então colônia nas Américas, aportando no Rio de Janeiro em 7 de março de 1808. Dentre os fatores que pesaram no deslocamento da família real portuguesa para o Brasil, o mais conhecido provém das estratégias de Napoleão Bonaparte, que determinou o Bloqueio Continental, regulamentando aos países europeus não abrirem seus portos a navios ingleses.

Como Portugal era aliada da Inglaterra há longos anos, não aderiu ao bloqueio determinado por Napoleão, já que a Inglaterra era uma das únicas nações que resistiam às investidas francesas.

Com a intensificação do conflito, ingleses e franceses exigiram que Portugal se definisse. Uma decisão problemática: optar pela França significava perder o Brasil para a Inglaterra, que certamente apoiaria movimentos independentistas na Colônia. Unir-se aos ingleses representava selar a invasão de Portugal pelas tropas franco-espanholas. (MAESTRI, 1997, p. 18).

Napoleão decretou a invasão em Portugal em 1807, restando a Dom João VI a alternativa de fugir para a colônia escoltado pelo apoio naval da Inglaterra. Sendo assim, o Brasil se torna a primeira colônia a ser sede da nação que a colonizava, como afirma Maestri (1997, p. 20). “Esse foi o único caso moderno de transmigração de grande parte do segmento superior de uma classe dominante”.

Em 1808, calcula-se que no Rio de Janeiro, que viria a ser a capital do império, tinha entre 50 a 60 mil habitantes (SILVA, 2011, p. 37). A vinda dos nobres portugueses mudou o cenário da então colônia, em todas as áreas. Uma porção importante da Europa, ainda que decadente, passava a habitar o Brasil, que, segundo a visão dos europeus, estava longe de ser um local adequado para se viver.

O Brasil era uma atrasada colônia de uma das mais atrasadas nações europeias. Possuía uma população de aproximadamente 3,6 milhões de habitantes constituída,

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em sua maior parte, de negros e mestiços que viviam na miséria ou muito próximo dela. [...] As elites coloniais eram profundamente incultas. Uma multidão de senhores e senhoras assinava de cruz. [...] A disputa anglo-francesa modificaria a sorte do Brasil. (MAESTRI, 1997, p. 18).

A colônia sofreu inúmeras adaptações para atender aos requisitos “padrão europeu”. O imperador tomou medidas econômicas para melhorar a situação. Decretou a liberdade comercial, podendo então os portos brasileiros serem abertos às nações amigas, com novas taxas de alfândega para mercadorias de cada país. Esta ação elevou a colônia ao patamar de sede da monarquia, já que quebrava o pacto colonial que visava o exclusivismo: a colônia só comercializava com a nação colonizadora.

Para abrigar a corte, muitos ricos no Rio de Janeiro tiveram que abandonar seus palácios e mansões, visto que a Coroa deveria residir em um lugar à “altura europeia” ou que se aproximasse dela, o que era raro ou quase não existia no Brasil. É evidente, portanto, que a vinda da corte de D. João VI para a antiga Terra de Santa Cruz causou uma enorme revolução nos costumes, na cultura, economia e política desta que era a colônia e passava a ser a sede do Império.

A transferência da família real para o Novo Mundo não constituiu apenas uma fuga diante das tropas invasoras e do liberalismo europeu. Como vimos, migrando para o Brasil, a aristocracia lusitana fazia da necessidade, virtude, e transferia a sede da administração real para a “melhor parte” do império lusitano. [...] Ao chegar ao Rio de Janeiro, o príncipe regente dom João teria dito ao representante do governo inglês que considerava “muito pouco provável” seu retorno para Lisboa. (MAESTRI, 1997, p. 20-21).

Neste período, o Brasil já era um território marcado predominantemente por escravos negros vindos da África. Entre 1808 e 1831, somam-se mais de 750 mil escravos trazidos pelos navios, apesar dos impedimentos impostos pela Inglaterra (SILVA, 2011). Mantido sob cuidados excessivos, o sistema escravista brasileiro era a engrenagem que fazia movimentar o carro-chefe da colônia.

A grande preocupação dos proprietários de terras e de homens era atravessar essa importante conjuntura política sem pôr em perigo a organização social escravista sobre a qual se assentavam a economia e a sociedade de então. Durante a crise do Estado colonial luso-brasileiro, as elites senhoriais das diversas regiões do Brasil preocupavam-se com a sorte da produção escravista e do tráfico negreiro. (MAESTRI, 1997, p. 35).

Historiadores ainda afirmam que, mesmo antes da chegada da família real, a população da colônia já vivia uma espécie de miscigenação. Portugueses assediavam e estupravam índias e escravas africanas, resultando em mais da metade da população sendo mestiça, mas apenas

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alguns usufruindo dos mesmos benefícios do “ser branco”, descendente de europeu. Ao mesmo tempo, a imigração para a colônia também aumentava.

Os africanos formavam uma multidão de estrangeiros. Havia, no entanto, outros expatriados, que, embora relativamente poucos, se foram tornando, por suas atividades e “língua enrolada”, cada vez mais visíveis: espanhóis, franceses, ingleses, irlandeses, suíços, alemães, italianos, austríacos, suecos e holandeses. (SILVA, 2011, p. 41).

Eram poucas as presenças não-portuguesas e africanas na Colônia, visto que havia limites da presença de homens livres que não eram de Portugal. Os que havia, estavam por motivos comerciais, e variava entre as províncias. D. João VI muda tais questões a partir de 1808, fomentando a vinda de outros povos da Europa e pretendendo formar as primeiras colônias de imigrantes dentro do território brasileiro. Nova Friburgo, em 1820, foi uma delas. O Brasil, ainda colônia de Portugal, tornou-se um lugar de pluralidade de raças. Para além das cores, os costumes foram sendo implementados uns aos outros. Numa família de europeus, as crianças aprendiam o que vinha da Europa, mas sua ama de leite e suas babás, escravas negras, confiavam-lhes sentenças de suas próprias realidades e sabedoria. Quando cresciam, viviam em uma mescla de aprendizado, e, assim, a cultura brasileira ia se formando, mesmo sem perceberem ou mesmo menosprezando o que consideravam inferior.

Apesar da mistura de nacionalidades e costumes, não se dissolvia, entretanto, a mentalidade de que branco é homem livre e negro é sempre escravo, mesmo nascido livre ou alforriado (SILVA, 2011, p. 57). Essa relação marcava a sociedade colonial e predomina ainda durante os tempos de império.

A economia colonial girava em torno dos grandes fazendeiros com suas plantações e os comércios nas cidades mais populosas. Engenhos de cana de açúcar e café e a extração de minerais ainda davam vida à economia. A vinda da Corte portuguesa ampliou o cenário para além das finanças, e a elite colonial brasileira, formada por proprietários rurais e negociantes, passou a desejar um patamar de vida semelhante aos aristocratas vindo com ou por D. João VI e D. Carlota Joaquina posteriormente. “Até mesmo o comportamento de seus fâmulos passou a ser copiado”, conforme Alberto da Costa e Silva (2011, p. 58). Essa elite brasileira também foi agraciada com títulos e honrarias, aumentando o prestígio entre si, mesmo não protagonizando cargos políticos.

Logo, isso também contribui para as mudanças trazidas e causadas com os eventos de 1808, que trouxe a família real para o Brasil.

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1.1.2 Brasil, Reino Unido a Portugal e Algarves

Tal como a Grã-Bretanha, em termos geográficos e oficiais, o Brasil também se tornou uma unificação com outros países, ou melhor, unindo os territórios portugueses. E isso por conta da fuga de D. João VI para cá.

Com a vinda do governante para a colônia, Portugal ficou sob os cuidados de um representante britânico que comunicava os acontecidos ao príncipe regente. Após a derrota do exército napoleônico, consolidada na Batalha de Waterloo, as monarquias europeias se reuniram na Áustria para redefinir o mapa da Europa, que tinha sido modificado pelas invasões comandadas por Napoleão Bonaparte. A partir deste Congresso em Viena, fica evidente a irregular situação de Portugal, já que seu governante não regia dali, mas sim de uma de suas colônias, em uma terra além-mar.

Em uma medida política e econômica, o Brasil foi elevado a Reino Unido a Portugal e Algarves em 1815, com sedes político-administrativas no Rio de Janeiro e em Lisboa. Dessa forma, para fins oficiais, o Brasil não era mais uma colônia, mas sim, sede do reinado português. Desde 1808, medidas precisavam ser tomadas para melhorias nas grandes cidades, visto que a população cresceu e o nível de exigências aumentou. A partir da declaração de reino unido, as ações de mudança deveriam continuar. D. João VI determinou a abertura de estradas que ligassem as grandes cidades, sobretudo, nas províncias de Minas Gerais e São Paulo, facilitando o transporte de alimentos. Além disso, ainda instalou no Brasil ministérios, tribunais, cartórios, pretendendo consolidar seu governo e sustentar a aristocracia portuguesa vinda consigo. Para isso, aumentou os impostos.

A vinda da família real e a declaração do Brasil como reino fez o país avançar em muitos quesitos, saindo do atraso como colônia. D. João VI, com suas medidas econômicas, interferiu no crescimento cultural brasileiro. Livros, revistas e jornais estrangeiros ganharam maior circulação aqui. Os costumes europeus e o requinte das damas que copiavam as francesas também causaram mudanças no cotidiano das mulheres que aqui viviam. Uma grande influência era a própria princesa D. Carlota Joaquina, que cavalgava pelas ruas do Rio de Janeiro, retirando o costume de as mulheres ficarem em casa ou saírem completamente coberta de véus e mantos. (SILVA, 2011, p. 51).

O então príncipe regente também ampliou escolas e fundou faculdades no território brasileiro, propiciando a vinda de intelectuais da Europa. Na missão cultural francesa, que visitou o Brasil em 1816, veio o renomado Jean-Baptiste Debret, que pintou muitas cenas do cotidiano no Rio de Janeiro da época, resultando em um grande acervo para a historiografia.

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Como em todo império, D. João VI detinha o poder do território para si. Os governadores de cada capitania respondiam por ele em suas respectivas regiões. Os povoados se tornavam vilas por conta de fundações de Câmaras com representantes, mas, sobretudo, com o intuito de fiscalização e coleta de impostos.

Durante este período, todo o tesouro da Corte era submetido ao Rio de Janeiro, causando uma série de controvérsias nas populações de outras províncias (NEVES, 2011, p. 83). Em um desses movimentos, eclodiu a conhecida Revolta de Pernambuco, em 1817, resultando na fuga do então governador da província para o Rio de Janeiro, pedindo amparos ao príncipe regente.

1.1.3 A questão portuguesa

Paralelamente aos ocorridos no Brasil, em Portugal o contexto político difícil se aprofundava. Desde a fuga da família real e da Corte, os portugueses, com sentimentos de abandono, ficaram sob os cuidados dos ingleses, o que não era satisfatório à opinião pública. Com o rei indo embora, os portugueses ficaram, literalmente, desgovernados, a ver navios1.

Concomitantemente aos protestos no interior das províncias do território brasileiro, os portugueses também travaram enclaves em Lisboa.

Idealizada por uma sociedade secreta e maçônica, [a revolta] tinha no general Gomes Freire de Andrade seu principal mentor. O objetivo central era o de afastar os ingleses e outros estrangeiros do controle militar do país e promover “a salvação e a independência de Portugal”, com a criação de um governo constitucional. (NEVES, 2011, p. 86).

Gomes Freire e os insurgentes foram presos e executados ainda em 1817, ano em que se iniciaram as manifestações. Mesmo com este fim, os sentimentos nacionalistas e contra a Inglaterra cresceram entre os portugueses.

Antes da eclosão das revoltas tanto brasileiras quanto portuguesas, em 1816, falecia D. Maria I de Portugal, conhecida como Maria, “a piedosa” ou “a louca”. A segunda definição se devia a seus problemas mentais. D. Maria era mãe de D. João, logo, com sua morte, o filho deveria assumir a soberania da nação, “mas como, se o príncipe havia se instalado na colônia?” (NEVES, 2011, p. 87).

1 A própria expressão “a ver navios” tem origem em Portugal, em tempos remotos, quando a população

desacreditava na morte de seu rei, D. Sebastião, no fim da década de 70 do século XVI. Os portugueses esperavam no Alto de Santa Catarina a chegada de seu rei que havia morrido na batalha de Alcácer-Quibir, mas ficavam sempre vendo navios chegarem sem a sua presença. De certa forma, quando D. João VI saiu de Portugal para o Brasil, uma parte da população também ficou a ver navios, já que não foram contemplados com a viagem, que mudara os rumos da história dos dois países.

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As questões burocráticas a serem resolvidas se resumiam apenas ao local da coroação, visto que D. João já governava do Brasil há muito tempo. O príncipe era regente por conta das condições de saúde de sua mãe. Após dois anos de protestos dos portugueses, D. João se torna imperador, com coroação na América, especificamente no Paço Imperial, na então cidade do Rio de Janeiro, capital do império no Brasil. Este acontecimento só acirrou os ânimos em Portugal.

Em agosto de 1820, os grupos revoltosos nas terras lusitanas exigiam a presença do filho do imperador, Pedro I, em Lisboa; a saída dos militares ingleses da administração; queriam também uma nova Constituição; e a recolonização do Brasil. Tal acontecimento levou o nome de Revolta Constitucionalista, conhecida também como Revolução Vintista e Regeneração Constitucional. De forma geral, os liberais pretendiam reverter as práticas do Antigo Regime2 consolidado na Idade Média e que era a base das monarquias.

A situação se agravou em 1821, quando em províncias do Pará e da Bahia já havia indícios dos ideais constitucionalistas vindos da Europa. Estes ideais foram tomando espaço e conquistando muitos no território brasileiro, e os movimentos instaurados ganharam força através das discussões levadas por jornais, folhetos e panfletos em Portugal. Tais impressos tinham por objetivo acusar o Antigo Regime pelos erros e mazelas presentes na sociedade da época.

Um dos pontos da Revolução proposta era uma espécie de 'nova colonização' do Brasil, que depois da vinda da família real passou a ser a parte mais rica do Reino. "Pretendia-se acabar com a unidade administrativa do Brasil e ligar as províncias brasileiras, uma por uma, a Portugal.", afirma Maestri (1997, p. 29).

Na dúvida entre mandar seu filho a Portugal e o proclamarem rei ou de a Revolução tomar conta do Brasil, as ações forçaram D. João VI a voltar para sua terra natal, deixando este solo sob a regência de seu filho, D. Pedro I.

No rastro desse debate político, opiniões e interesses se forjaram, suscitando posturas diversas entre os segmentos das elites dos dois lados do Atlântico. O retorno de D. João VI a Portugal, em abril de 1821, deixando como regente o príncipe D. Pedro, iniciou o processo que levou à emancipação do Brasil, cujos motivos, porém, não decorriam das ideias abstratas de liberalismo ou de consciência nacional. (NEVES, 2011, p. 92).

2 O Antigo Regime é uma forma de governo que estabelece todo o poder nas mãos do rei e dos grupos ligados a

ele, como nobreza, clero e burguesia. Foi comum na Europa seiscentista, setecentista e oitocentista, tendo suas bases implodidas a partir da Revolução Francesa, cujo ápice se deu em 1789. O absolutismo e o mercantilismo são termos chaves para compreender este regime, já que ninguém era maior que o soberano rei e suas ações, que visava ao mercado de extração em suas colônias ou no território de origem.

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Maestri (1997, p. 30-31) afirma que o então príncipe regente, D. Pedro I, tinha pouca educação e instrução. E garante ainda mais: D. João VI levou uma certa quantidade do tesouro brasileiro, deixando o país quebrado.

1.1.4 Independência

Após a volta de D. João VI para Portugal, D. Pedro I enfrentou muitas dificuldades. Em algumas províncias, sobretudo Pará, Bahia e Maranhão, os ideais revolucionários lusitanos tinham muita força, e só recebiam ordens vindas de Lisboa. Outras províncias, como as de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, passaram a agir como se fossem independentes. O poder sobre o reino esvaia nas mãos do príncipe regente.

Ele tentou algumas medidas, como a extinção de taxas, mas as alas comerciais e a guarnição militar portuguesa queriam submeter o Rio de Janeiro a uma Junta Governativa da capital lusitana, tirando todo o poder administrativo do Brasil.

Contudo, as elites brasileiras que haviam depositado a confiança nos ideais constitucionalistas estavam se organizando, mas perdendo o crédito em Lisboa, iniciando movimentos de independência do Brasil e a coroação de D. Pedro I.

Acerca de D. Pedro, “apesar de ter escrito ao pai protestando absoluta fidelidade, parece certo que o regente manteve contatos com uma conspiração que pecava por debilidade e desorganização”. (MAESTRI, 1997, p. 33).

Os grupos em Lisboa queriam a presença de volta do príncipe em Portugal, mas D. Pedro o contrariou. É o episódio que se conhece como “Dia do Fico”. A guerra entre Portugal e Brasil estava feita, o que acirrou os ânimos e as decisões de ambas as partes.

Vislumbrava-se também, a partir de então, por meio de folhetos políticos e da imprensa, as diferentes versões que cada lado possuía sobre a ideia de união no interior do universo luso-brasileiro. Para os portugueses, o Brasil constituía parte integrante de um poderoso império, agora sob a tutela de um governo liberal e justo. Para os brasileiros, a união significava a formação de um império indissolúvel, composto, porém de dois reinos distintos, que teriam direitos e deveres recíprocos. (NEVES, 2011, p. 95).

Com feitos, ações e determinações, tendo também por ajuda os esforços de sua esposa, a austríaca D. Leopoldina e o conhecido Patriarca da Independência José Bonifácio de Andrada e Silva, Pedro I declara independência em 7 de setembro de 1822, apenas consolidando o que já estava acontecendo. Em 12 de outubro do mesmo ano, é aclamado como imperador constitucional do Brasil, e sua coroação ocorre em 10 de dezembro. “Tais eventos

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estabeleceram, em sentidos diferentes, os fundamentos do novo Império”. (NEVES, 2011, p. 97).

Nascia, assim, o período historicamente conhecido como “Brasil Império”, temporalidade relativa ao objeto de estudo desta pesquisa.

1.1.5 1822-1889: Brasil Império

O período histórico em que o Brasil era um império independente é dividido em três partes: [1] O “Primeiro Reinado”, que compreende de 1822 a 1831, cujo soberano era D. Pedro I; [2] “Regências”, de 1831 a 1840, com vários governos regenciais; e, por fim, [3] “Segundo Reinado”, de 1840 a 1889, governado por D. Pedro II.

D. Pedro I encontrou muitos percalços para se estabelecer como soberano e o Brasil como um império independente de Portugal. Diferentemente de outros países, nossa independência teve lutas após sua proclamação.

Pouco a pouco, as províncias iam se manifestando a favor da proclamação feita por D. Pedro I, decretando a liberdade do novo império. Aquelas que a negaram, tiveram de lidar com os poderes armados. As lutas em si eram causadas pela rivalidade entre aqueles que reconheciam ou não o novo império e imperador. Havia também a presença de portugueses que não aprovaram a independência, resultando em conflitos armados, mortes e ajuda de tropas britânicas.

Em Portugal, foi difícil e demorado para o Brasil ser considerado uma nação independente e não mais uma colônia. Foi preciso pagar um preço pelo reconhecimento. Literalmente.

Já em Portugal, por sua vez, O Campeão Portuguez em Lisboa, de 11 de maio de 1822, não se conformava em abandonar a ideia de que o Brasil pertencia “aos portugueses como uma herança de seus pais”, que o conquistaram, justificando, assim, o uso da força para reverter o curso dos acontecimentos. Somente em 1825, depois de demoradas negociações e mediante indenizações, D. João VI reconheceu a independência do Brasil. O gesto, entretanto, veio sob forma de uma concessão, que cedia e transferia a soberania sobre o território americano, que só ele detinha, para o reino do Brasil, sob a autoridade de seu filho. (NEVES, 2011, p. 101).

Especificamente, o império brasileiro “indenizou” D. João VI em 600 mil réis, além de assumir uma dívida de Portugal com a Inglaterra no valor de 1,4 milhões de libras. Além disso, o preço da independência garantiu aos portugueses: direitos iguais aos súditos; não anexação de outras colônias conquistadas por eles; benefícios comerciais, e ainda concedia a D. João o título de Imperador honorífico do Brasil. (MAESTRI, 1997, p. 50).

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1.1.6 Primeiro Reinado

Era preciso então estabelecer seus poderes, suas políticas e organizações. As questões não foram fáceis, visto que havia oposição entre os representantes brasileiros e o imperador, que, ao abrir a Assembleia Geral Constituinte de 1823, mostrou a que estava: fundar um novo governo absolutista. Com ações questionáveis, os eventos que viria a seguir deixaram claras as intenções do imperador.

A Assembleia teve suas discussões e brigas, entre liberais e o imperador. D. Pedro, entretanto, dissolveu o grupo em novembro de 1823, prendendo deputados e enviando muitos para exílio, como o caso de José Bonifácio de Andrada e seus irmãos, que se opuseram anteriormente às ações do imperador, apesar de antes Bonifácio o ter ajudado no processo de independência.

Em 25 de março de 1824, a Carta soberana era outorgada, com um detalhe que causou grandes efeitos no território do reino: todo o poder nas mãos de D. Pedro, e não havia pontos maiores de representações da população. Houve também a definição dos poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e o Moderador. Este último, resumidamente, anulava os outros três, visto que era a mão do imperador agindo nas decisões, nomeações e justiça. É possível afirmar que D. Pedro I atuava como um déspota.

Como era de se esperar, as províncias reagiram. A Confederação do Equador, em julho de 1824, foi uma dessas reações. Ela pretendia formar um governo federativo e republicano com as províncias de Pernambuco, Ceará, Paraíba, entre outras. Apesar do espírito republicano e federalista ganhar força (NEVES, 2011), o movimento não resistiu às tropas imperiais, e muitos foram executados.

A Constituição de 1824 ainda deixava outras marcas:

[...] Ao definir um censo para votantes, afastava da vida política inúmeros indivíduos situados nas camadas mais pobres da sociedade [...]. Mais importante, reconhecia implicitamente a manutenção da ordem escravista [...]. (NEVES, 2011, p. 105).

Escravos, índios, mulheres e menores de 25 anos não tinham direito político. Os homens que tinham direito político ainda eram divididos: para votar ou se candidatar era preciso, no mínimo, uma renda de 100 mil réis. Quem não obtinha essa renda, não podia se envolver nas questões políticas. As províncias ficaram sem autonomia, pois eram comandadas por conselhos diretamente ligados ao Rio de Janeiro.

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Afirma Mário Maestri que, na época, o Brasil tinha cerca de 4 milhões de habitantes, com 1,5 milhão de escravos (MAESTRI, 1997, p.47). Nem os escravos, tampouco os nativos foram contemplados pela Constituição.

O Primeiro Reinado brasileiro, então, foi marcado até o seu fim, 1831, por lutas de caráter político, entre grupos que defendiam ações mais conservadoras de linha absolutista, e outros que levantavam a bandeira de ideais liberais que visavam a participação da nação e de seu povo no governo. Isso tudo, somado a ações em Portugal após a morte de D. João VI, só enfraqueceu a soberania e poder outrora demonstrado por D. Pedro.

Em Portugal, com a morte de seu pai em 1826, D. Pedro I fora aclamado imperador, mas não chegou a ser coroado devido a pressões dos dois países a que pertencia. Apesar disso, ele ainda outorgou uma constituição para os lusitanos ainda menos democrática que a brasileira.

Após os desastrosos acontecimentos da Guerra da Cisplatina, província que tinha declarado independência do império do Brasil e se uniu à República Argentina, as tropas imperiais foram derrotadas, sendo preciso a Inglaterra intervir, culminando na fundação da República Oriental do Uruguai, no ano de 1828.

A conjuntura se acirrava para o imperador: a derrota militar e os atos políticos contribuíram para desgastes na sua imagem como soberano. Após animosidade nas visitas do imperador a Minas Gerais (MAESTRI, 1997), o fracasso de D. Pedro I culminou no que se conhece como ‘Noite das Garrafadas’.

No dia 13 [março de 1831], algumas contramanifestações espontâneas de constitucionalistas terminaram em uma forte pancadaria que assumiu rapidamente o caráter de confronto étnico e político entre portugueses e brasileiros, entre liberais e imperiais. Os principais armamentos do entrevero foram pedras e cascos de velhas garrafas [...]. (MAESTRI, 1997, p. 61).

Após ações de líderes liberais com o pensamento para depor D. Pedro I, em 7 de abril do mesmo ano, ele abdica do trono em favor de seu filho, com cinco anos de idade. O imperador, então, agora não mais portador deste título, volta à Europa com o restante da família real.

O Brasil deveria ser governado por regentes até a maioridade de Pedro II, como mandava a lei. Iniciou então, a partir da saída de D. Pedro I, o período dentro do império conhecido como “Regências”.

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1.1.7 Período Regencial do Império Brasileiro

Pelos encargos políticos, a história divide este período em Regência Trina Provisória, que equivale aos três meses que deram sequência à abdicação de D. Pedro I. Logo após, a Regência Trina Permanente, de 1831 a 1835. E as Regências Unas, de 1835 a 1840.

Este período é marcado pela ausência de um imperador ou imperatriz efetivamente no governo brasileiro. D. Pedro I abdicou do trono em favor de seu filho, que, em 1831, estava com apenas cinco anos de idade. Para tal, como mandava a lei, era preciso indicar representantes para reger o país. Durante os nove anos de regências, muitos representantes passaram por este cargo, em conjunto ou individualmente.

Os grupos políticos que comandavam o cenário viriam a se tornar mais tarde, no Segundo Reinado, os protagonistas das muitas decisões. Os liberais eram divididos entre os exaltados e os moderados; os primeiros defendiam uma autonomia das províncias, eram federalistas. Já os segundos eram adeptos à soberania do imperador, mas com algumas ressalvas. Havia também o grupo dos restauradores, que, seguindo a nominação, pretendiam restaurar a soberania do imperador com o retorno de Pedro I.

Durante os primeiros anos das regências, foram definidos importantes pontos, como a criação de um Código de Processo Criminal e da Guarda Nacional, esta com o objetivo de proteger a população dos extremos do governo e de manifestações revoltosas. Cada província tinha sua Guarda Nacional para conter as revoltas, que viriam a se tornar característica principal do período regencial.

Sobre a Guarda Nacional, Marcello Basile destaca:

Tinha a função precípua de coadjuvar as forças policiais e tropas de primeira linha na segurança interna e externa; mas, diante do contingente reduzido dessas corporações, iria muitas vezes substituí-las em suas funções. O serviço era obrigatório a todo cidadão brasileiro maior de 18 e menor de 60 anos, com renda para ser eleitor [...]. (BASILE, 2009, p. 74).

Na regência trina provisória, assumiram os senadores Francisco de Lima e Silva, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e José Joaquim Carneiro de Campos. Na regência trina permanente, que durou quatro anos, Carneiro de Campos permaneceu mediante eleição e foram acrescidos, também em processo eleitoral, José da Costa Carvalho e João Bráulio Moniz, deputados.

O feito mais significativo das primeiras regências foi o Ato Adicional, em 1834. Alegrando os liberais exaltados, este ato permitia emendas à Constituição de 1824 que

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garantiam autonomia às províncias, fazendo surgir também as Assembleias Legislativas Provinciais. Deste modo, o poder moderador estava anulado durante este tempo.

As conhecidas revoltas que aconteceram neste período foram motivadas por conta de tal autonomia às províncias, provocando disputa política. Cada revolta teve seus gatilhos próprios, caracterizados pelas lutas de cada região, de cada realidade, visando diferentes motivos, que em alguns pontos podiam convergir.

As principais revoltas regenciais foram: Cabanagem, na província do Grão-Pará (atual Pará); Balaiada, no Maranhão; Sabinada, na Bahia; Farroupilha, no Rio Grande do Sul. A mais curta das revoltas foi a Sabinada, durando menos de um ano: organizada pelas elites intelectuais baianas, pretendiam proclamar uma república ali. Muitos revoltosos foram condenados à morte após o governo intervir.

A mais longa foi a Farroupilha, ultrapassando o tempo do próprio período regencial, durando dez anos. Iniciou-se com insatisfações por parte dos fazendeiros e produtores de charque que estavam sendo trocados por outros produtores da Argentina e Uruguai. Tal revolta chegou a um patamar grande de proclamarem duas repúblicas. Foi a mais articulada e organizada revolta, mesmo com divergências internas, deixando um grande legado na cultura gaúcha até os dias atuais. Bento Gonçalves, Anita e Giuseppe Garibaldi foram alguns dos personagens icônicos da revolta, que, por muitos, é considerada uma revolução.

As tropas governamentais sob o comando de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, contiveram os revoltosos. Em março de 1845, acordaram em um tratado de paz. As fundadas Guardas Nacionais também ajudavam nas contenções das revoltas, mas, em alguns casos, chegaram a dar problemas ao governo regencial.

A Guarda Nacional tornou-se, assim, um importante instrumento de articulação entre os poderes central e local, constituindo-se no exemplo maior de organização litúrgica [...]. Acabou convertendo-se, então, em força política, usada pelo governo na repressão às revoltas, mas, por outro lado, protagonizou vários desses movimentos. (BASILE, 2009, p. 75).

Outras revoltas menos conhecidas e de feitos menos significativos para a história do Brasil de forma geral foram: Malês, na Bahia; Insurreição do Crato, no Ceará; Carrancas, em Minas Gerais; Revolta de Manuel Congo, no Rio de Janeiro; além da Rusga, em Mato Grosso. A província de Pernambuco foi palco de quatro revoltas, mas pequenas em duração.

As regências unas foram feitas por dois regentes: de 1835 a 1837, o padre Diogo Antônio Feijó comandava. De 1838 a 1840 quem assumiu foi Pedro de Araújo Lima. Ambos também enfrentaram as muitas manifestações.

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Tantas revoltas, conflitos e guerras internas fizeram com que os liberais perdessem força ao ver o quanto a federalização do reino havia surtido efeitos fora do imaginado. Durante a regência de Araújo de Lima, a ala conservadora, que defendia a soberania do imperador e todo o poder em suas mãos, ganhou força com os eventos. A centralização do poder retornou com a Lei Interpretativa do Ato Adicional, em 1840.

Ainda na regência de Araújo de Lima, as revoltas foram forte e violentamente contidas. Entre elas, a Sabinada e a Cabanagem resultaram em muitas mortes: na primeira, cerca de 12 mil. Na segunda, 30 mil. Outras decisões do regente pairam entre o bom e o ruim: restringiu a liberdade de imprensa, mas também criou instituições para gerar a memória nacional, como o Arquivo Público, atual Arquivo Nacional, e deu apoio à criação privada do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Neste contexto de crescimento do movimento conservador e restaurador da monarquia, surge o pensamento de antecipar a maioridade de D. Pedro II, podendo ele então assumir o trono e ser o imperador antes dos 18 anos. As classes política e econômica aceitaram, e então Pedro II, aos 14 anos, tornava-se imperador. Este fato é conhecido na história como “Golpe da Maioridade”. Antes disso, foi preparado por José Bonifácio. Começa o Segundo Reinado.

Colocava-se no poder uma criança tímida e inexperiente. D. Pedro, nascido em 1825, era órfão de pai e mãe, só lhe restando no Brasil duas irmãs, com quem convivia numa corte chamada por um diplomata de “a mais triste do universo”. Fora educado sob rígida disciplina pelos homens da Regência, que procuraram fazer dele um governante perfeito nos termos dos modelos da época para os bons príncipes. Coroado, o jovem monarca esteve durante os primeiros anos sob a influência de palacianos a que se deu o nome de facção áulica. Aos poucos, no entanto, tornou-se independente e passou a governar com todos os poderes que lhe conferia a Constituição. (CARVALHO, 2012, p. 97).

1.1.8 Segundo Reinado

A partir do Golpe da Maioridade, os primeiros anos do Segundo Reinado foram marcados pelo governo dos tutores de D. Pedro II, visto que ele tinha entre 14 e 15 anos quando fora proclamado imperador. Com a boa educação e influência de seus próximos, o pequeno imperador se destacou pela rapidez com que lidava com o mundo ao seu redor, de decisões, política e serviço.

Em pouco menos de três anos, D. Pedro II tornou-se conhecedor da complexa administração imperial e começou a compreender as diversas facetas da política. Favoritos e cortesãos desaparecem para emergir a figura isolada do imperante na plena consciência de suas funções majestáticas. (FROTA, 2000, p. 340).

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Ao contrário do governo de seu pai, o tempo em que D. Pedro II passou como soberano do reino é considerado um dos mais tranquilos e propícios para a construção da nação na história brasileira.

Casou-se com a princesa italiana D. Teresa Cristina, em março de 1843. Suas filhas, D. Isabel e D. Leopoldina, nasceram em 1846 e 1847, respectivamente. Embora desde D. João VI o palácio imperial se encontrasse no bairro de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, D. Pedro interferiu diretamente na construção de Petrópolis, na região serrana do estado, e construiu ali um palácio de verão aonde sempre ia com a família real. A própria etimologia do nome da cidade vem do imperador: Petrópolis, deriva de Petrus, palavra latina que designa Pedro; logo, cidade de Pedro.

As ações políticas de Pedro II foram sempre pautadas por sua honestidade e senso de justiça (FROTA, 2000). Entre o início do Segundo Reinado até 1850, a soberania do imperador foi aos poucos estabelecendo a ordem e a conjuntura do Brasil como um país independente de fato.

A questão política que rege este período cria laços em pensamentos passados e aqui se transformam em grupos que tocariam o cenário no reinado, perpassando pelas questões da abolição da escravidão até à Proclamação da República.

No Primeiro Reinado, o Partido Português tomava as rédeas por restabelecimento do Brasil a Portugal. Nas Regências, este grupo se funde aos ideais dos Restauradores, tornando o Partido Regressista e se estabelecendo no governo de D. Pedro II como Partido Conservador.

O outro lado, por sua vez, que em tempos de Pedro I era o Partido Brasileiro, diverge-se em Liberais Moderados e Exaltados no Período Regencial, querendo a autonomia das províncias e menos poder nas mãos do imperador. Torna-se o Partido Progressista, até chegar ao Segundo Reinado como Partido Liberal, tendo uma vertente para os Liberais Radicais que viria a se tornar mais tarde o Partido Republicano.

As lutas desses dois partidos causavam impactos não muito bons na política imperial. Para tal, D. Pedro II investiu em uma forma de revezar a presença dos dois grupos no Gabinete Ministerial. Quando havia a necessidade, o imperador utilizava de seu poder moderador.

Algumas revoltas tomaram a atenção da corte na década de 1840, por se tratar de grupos de liberais buscando maior participação no governo. O exército imperial conteve as manifestações. Entre 1840 e 1850, justamente para estabelecer o Brasil como nação, D. Pedro II utilizou mais do poder moderador. O imperador escolhia ministros e representantes. Equilibrando este escalão, Pedro escolhia de ambos os grupos, liberais e conservadores, em

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casos de até chamar alguns dos revoltosos das manifestações da década de 1840 para compor a linha ministerial, concedendo anistia.

Essa capacidade de arbitramento por parte do Poder Moderador ajudou a legitimar a monarquia, embora, com o passar do tempo, se tenha transformado em fator de deslegitimação. (CARVALHO, 2012, p. 98).

Apesar de aparente eficácia nas decisões, Guilherme Frota aponta uma questão que era problemática para a nação:

Opinava o povo através das eleições para deputados gerais, deputados provinciais e vereadores, estes municipais. Não se formara, porém, uma consciência eleitoral. E o processo, corrupto, dava sempre a vitória ao partido que se encontrava no poder, o qual se escudava em senhores locais, pequenos soberanos na terra onde habitavam. (FROTA, 2000, p. 345).

Em 1847, o Brasil aderiu ao parlamentarismo. Entretanto, essa forma de governo era completamente diferente da inglesa. Os historiadores chamam de “Parlamentarismo às avessas”, pois era o imperador quem interferia diretamente nas ações e decisões, podendo dissolver várias resoluções que não agradassem suas concepções políticas.

Controlados e findados os resquícios e consequências do Período Regencial, o governo então partia para ações em outras áreas e problemas mais urgentes da época.

Umas das questões mais importantes a serem tratadas foi o gradativo fim da escravidão no território brasileiro. O primeiro passo para a abolição foi o fim do tráfico de africanos por meio de navegações. Após motivações e exigências da Inglaterra, era preciso romper com este tipo de comércio. O problema morava no fato de que muito da economia brasileira era estabelecida sobre o tráfico negreiro e seus “empresários”.

A partir da resolução Bill Aberdeen, em 1845, tudo ficou mais difícil para a vinda de africanos escravizados para o Brasil. Muitos navios eram aprisionados no oceano e os negros que seriam vendidos ganhavam liberdade, visto que era essa a medida que a Inglaterra tomaria com navios negreiros no Atlântico a partir da resolução.

Este posicionamento inglês permitiu formar um ambiente favorável à extinção do tráfico, com habilidade aproveitada por D. Pedro II e os intelectuais. Formulada a Lei nº 708, pelo Ministro da Justiça, Euzébio de Queiroz Matoso Câmara [...].” (FROTA, 2000, p. 343).

Com a Lei Euzébio de Queiroz, em 1850, o Brasil encerrou o tráfico de escravos e iniciava um processo lento até a abolição. A lei fez com que os números de escravos diminuíssem, aumentando assim seu preço. Nesse cenário, cresce a imigração no país.

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Os grandes fazendeiros, dependentes de mão de obra escrava, não podiam pagar muito pelos africanos. A alternativa foi contratar estrangeiros livres, pagando suas despesas em troca de serviços. Mais tarde, o governo imperial interveio nessa situação, oferecendo também melhores condições aos imigrantes.

Uma fonte de riqueza no período do Segundo Reinado foi a produção de café. Com a decadência da exploração de minérios, a agricultura cafeeira surge como setor a ser investido. Entre o Rio de Janeiro e o Vale do Rio Paraíba em São Paulo, as grandes fazendas produtoras do grão fizeram com que essa cultura ultrapassasse a produção do açúcar, tornando-se a principal mercadoria nacional, posto antes abrigado pelo pau-brasil, pelo ouro e cana-de-açúcar.

Toda a cafeicultura propiciou ao Brasil avanços e melhorias em transporte, ligando as fazendas até as cidades e estas até os portos no Rio de Janeiro e em Santos. 1867 foi marcado pela inauguração da ferrovia entre Jundiaí e Santos, a São Paulo Railway, propiciando crescimento e urbanização em tal região.

A febre do café atingiu a novos e velhos fazendeiros que encontrara escoadouro fácil da produção nas ferrovias recentemente construídas. O café correspondia, em 1860, a 48% do total da exportação, chegando, mesmo, a 70%. (FROTA, 2000, p.401).

Além do café e do açúcar, o Brasil se aventurava na exportação de algodão em São Paulo; tabaco em Minas Gerais, Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul; e o cacau no sul da Bahia. Havia também na região Sul cultivo de trigo, mate e uva, com a presença de imigrantes italianos. Já no fim do império, na Amazônia, iniciou-se a extração de borracha, mas esta beneficiou mais o Brasil no período republicano.

Ao início do Segundo Reinado, as finanças não iam bem: vendia-se pouco, comprava-se muito. Somente em 1844 com a tarifa Alves Branco é que iniciou uma melhora. Era cobrado um alto valor de produtos importados para que os compradores tivessem que recorrer aos produtores nacionais. Este feito alavancou a indústria em pequenos pontos.

Com a proibição de tráfico negreiro, o dinheiro outrora utilizado para este fim passou a ser investido em outros setores pelos fazendeiros, donos de plantações e empresários. Um grande fomentador neste período foi Irineu Evangelista de Sousa, o conhecido Barão de Mauá, que, segundo João Antônio de Paula (2012), foi o mais expressivo exemplo de self-made man por ter investido e aberto muitas empresas de diversos setores como indústria, ferrovia, navegação, entre outros.

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Na educação e profissionalização, os cursos de ensino superior – Direito, Engenharia e de Ciências Agrárias – tiveram mais destaque no período. A imperatriz D. Teresa Cristina, que era fomentadora da Arqueologia, tratou de construir um grande acervo histórico. Ainda mais:

A segunda metade do século XIX marcou o início da modernização da infraestrutura econômica e da estrutura urbana brasileiras: 1861 é o ano da construção da Estrada de Rodagem União Indústria, entre Juiz de Fora e Petrópolis; em 1872 dá-se a inauguração da primeira linha de telégrafo; em 1872-1874 ocorreu o lançamento do cabo submarino que ligou o Brasil à Europa; em 1880 iniciou-se a telefonia; data de 1888 a primeira usina hidroelétrica; entre 1872 e 1895 instalaram-se redes de tráfego urbano nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Campinas, São Luís e Recife. (PAULA, 2012, p. 212).

1.1.9 O declínio do Império Brasileiro

O interesse na territorialidade e tudo o que envolvia a Bacia do Rio da Prata foi o que levou à Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870. A Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai, disputou contra o Paraguai, comandado por Fernando Solano Lopéz.

A guerra teve o seu estopim a partir da invasão na Província de Mato Grosso e a prisão da embarcação Marquês de Olinda, ambos desenrolados pelos paraguaios. Em cinco anos de lutas e apesar do melhor preparo do exército do Paraguai, os aliados saíram vitoriosos devido à superioridade econômica, vantagem naval e financiamento da Inglaterra.

O reino teve cerca de 50 mil mortos, a economia entrou em declínio, D. Pedro II teve sua imagem desgastada e a insatisfação na ala militar foi instaurada. O que ganhou força neste período foram as reclamações de diversos setores, até os pensamentos em movimento republicano, sendo a fundação do partido no mesmo ano do fim da guerra.

A guerra não aproveitou a ninguém. O Paraguai teve metade ou mais de sua população dizimada, sobretudo a masculina. Ao final do conflito, lutavam velhos e crianças. Na Argentina, a guerra foi sempre impopular e o presidente Mitre teve de abandonar o comando dos aliados para resolver problemas de política interna. O mesmo aconteceu com Flores, do Uruguai, que acabou assassinado. O Brasil teve de suportar o maior peso dos custos do conflito em termos de homens e recursos. À medida que a guerra se prolongava, o entusiasmo que de início alimentou o voluntariado se esvaneceu e a opinião pública passou a ter dúvidas quanto à conveniência de continuar o conflito. Só a firme posição do imperador, decidido a levar a guerra até a derrota final de López, manteve as tropas no campo de batalha. (CARVALHO, 2012, p. 106).

Outro ponto era o tema da abolição da escravidão que em 1870 já era colocado em questão. Em 1871, a Lei do Ventre Livre, que dava liberdade aos escravos nascidos a partir desta data, entrou em vigor. Em 1885, foi a vez dos escravos maiores de 60 anos ganharem a alforria com a Lei dos Sexagenários. Até culminar em 13 de maio de 1888: com D. Pedro II na

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Europa, a então imperatriz em exercício, D. Princesa Isabel, assinou a Lei Áurea, extinguindo de vez o regime escravocrata no Brasil. É certo que tais decisões incomodaram as elites que ainda mantinham seus negócios com mão de obra negra. E este não era o único problema, visto que após séculos de escravidão, os negros teriam muitos percalços a enfrentar.

Ajudaram também na crise do império as constantes investidas dos bispos do Pará e de Olinda, que proibiram a presença de frequentadores maçons nas atividades católicas. Um em questão era o Visconde de Rio Branco, que fazia parte da alta cúpula junto a D. Pedro II e regeu um de seus ministérios. Apesar da fidelidade dos bispos à doutrina católica reiterada pelo então papa Pio IX, o imperador não deixou de apoiar Rio Branco, legando uma mancha na relação da monarquia com a Igreja Católica.

Próximo ao fim do império, as sustentações da monarquia estavam todas contra Pedro II. Uma dessas sustentações era a ala militar, que estava descontente com os desígnios do imperador. Um fator preponderante foi o papel e as oportunidades que deveriam ter os militares, que na época, necessitavam de outros afazeres, além do ofício das fardas, para o sustento completo. O descaso por parte dos ministros ligados ao soberano causava revolta em muitas figuras importantes no Exército, como o Marechal Deodoro da Fonseca, que, mais tarde, viria a ter grande presença em acontecimentos decisivos.

Aspiravam, esses militares, uma posição social e política melhor, aperfeiçoamento profissional adequado, desenvolvendo um sentimento de desprezo pelos “casacas”, isto é, os civis, que ocupavam os cargos administrativos e manobravam o governo. O imperador não se identificara com o militarismo, nem mesmo durante as guerras externas, demonstrando uma certa indiferença que provocou a penúria na década de 1870 e 1880. (FROTA, 2000, p. 465).

Com a crescente investida dos republicanos e seus ideais, a figura de D. Pedro II e a monarquia foram perdendo força. Um fato curioso é que o Partido Republicano elegia poucos representantes, devido a isso, a ideia de um golpe se tornou “necessária”.

O Visconde de Ouro Preto, monarquista, tratou de apresentar uma proposta de reforma que visava em cheio resolver à questão da “indisciplina militar”. Insatisfeitos, os militares reagiram.

Em 15 de novembro de 1889, comandados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, militares destituíram o próprio Visconde de Ouro Preto. À noite, era proclamado o governo provisório da República dos Estados Unidos do Brasil.

D. Pedro II e família estavam em Petrópolis quando souberam do ocorrido. Seguindo os mandos dos militares, foram para a Europa no dia 17, de madrugada, para não haver o perigo de levante popular. Iniciava, então, a República.

Referências

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