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ANO I NÚMERO 12 AGOSTO 2021

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Academic year: 2021

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10 000 Russos • A Constant Storm • A Garota Não • aBAND'onados • Adamant Code • Albert Fish • Alek Rein • All Against • All Kingdoms Fall • Ancharge • Angriff • Anifernyen • Antiquus Scriptum • Apotheus • Artnat • Asimov • Attick Demons • Axia • Balbúrdia • Bas Rotten • Basalto • Besta • Big Red Panda • Bikini Cigarette • Bizarra Locomotiva • Black Bombaim • Blame Zeus • Blind the Eye • Booby Trap • Bosque • Boulder • Buried Alive • Casinos in Heaven • Chaosaddiction • Clockwork Boys • Cobra ao Pescoço • Colosso • Contra Corrente • Corpus Christii • Cosmic Mass • Crab Monsters • Cruz de Ferro • cruzumana • Daemonarch • Damn Sessions • Dead Meat • Deadlyforce • Deserto • Desire • Dirt Cult • Dispirited Spirits • Dogma • Dollar Llama • Donameta • Downfall of Mankind • Dream People • Dreaming in Black • Dúbia • Earth Drive • Enchantya • Existence:Void • Fear the Lord • Flagellum Dei • Fonte • Forgiveness • Fortuna • Foxy Rocket • Gaerea • Ganso • Glasya • Godark • Grau Zero • Grievance • Grindead • Grog • Gwydion • Hexitium • Hills Have Eyes • Ho-chi-minH • Hoofmark • Hourswill • In Vein • InHuman • Inhuman Architects • Ironsword • Ivorybone • Jibóia • Kandia • Kneel • Kruzifix • La Chanson Noire • Last Piss Before Death • Law of Contagion • Left Sun • Lilith's Revenge • Linda Martini • Lisnyky • Living Tales • Lord Sin • Lyfordeath • Madrepaz • Malaboos • Marvel Lima • Mass Disorder • Master Dy • Mata-Ratos • Mau Olhado • Mauro Ramos • Medo • Meses Sóbrio • Mindsnare • Miss Lava • Monolith Moon • Moonshade • Moonspell • Mordaça • Morte • Morte Incandescente • Morte Psíquica • Nagasaki Sunrise • Narcömancer • Needle • Nematomorphos • Never End • Nihility • OddFella • Pântano • Päria • Päzmonstro • peixe:avião • Phase Transition • Phoenix Clove • Pitch Black • Prayers of Sanity • Pull the Trigger • Quinteto Explosivo • Rageful • Razia • Reis da República • Revenge of the Fallen • Reverent Tales • Revolution Within • Rui Gaio • Sacred Sin • Sadistic Overkill • Sanctus Nosferatu • Saturnia • Savanna • Scar for Life • Scatterbrainiac • Secrecy • Secret Chord • Sepulcros • Ser • Severino • She Pleasures Herself • Símio • Skinning • Sober Addict • Solar Corona • Sollust • Sotz' • Soundscapism Inc. • Spiralist • Street Empty • Sun Blossoms • Supreme Soul • Suspeitos do Costume • Swamp Planet • Tarantula • Terminal • The Bateleurs • The Miami Flu • Thragedium • ThrashWall • Three of Me • Through Silence Kept • Timescale • Tó Pica • Tones of Rock • Torn Fabriks • Torpe • Toxikull • Trinta & Um • Um Corpo Estranho • Undone Lines • Unfleshed • Urze de Lume • Vaneno • Vëlla • Venên • Ventr • Vürmo • Waterland • Wells Valley • WinterMoonShade • Wolf X • Wrath Sins • Xeque-Mate • Xutos & Pontapés • Yagmar • Zarco • Zebra Libra • Zurrapa

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EDITORIAL

#12 Agosto 2021

E chegamos ao número 12 desta vossa revista, meta a que nos propusemos em julho de 2020. Um ano de Lusitânia, um ano de rock e metal português. E o tema de capa deste número, E Se Depois, uma clara alusão ao famoso tema dos Mão Morta, traz-nos um balanço precisamente deste primeiro ano com as opiniões de alguns dos nossos colaboradores, alguns números, uma entrevista aos Supreme Soul, a rubrica Em Nome Próprio, as duas habituais colunas, uma coluna nova e os lançamentos deste mês. Outra novidade é que vamos ter mais 12 números da Lusitânia. A nossa agenda, enfim… não há. Obrigado aos nossos leitores, aos nossos assinantes, aos nossos colaboradores, aos nossos ilustradores e a todos aqueles que participaram de uma forma ou de outra, aos entrevistados, às bandas e às editoras que têm fornecido o CD de oferta da versão impressa, e ao Rock e ao Metal Português, razão da nossa existência.

DIREÇÃO Gonçalo João REDAÇÃO José Bonito • Rui Ferraz COLABORADORES Daniel Lucas • Eduardo Trigo • Hélder Raposo • Manuela Lino • Nuno C Lopes • Pedro Jeremias • EDIÇÃO GRÁFICA Jack CJ Simmons PERIODICIDADE Mensal TIRAGEM 66 Exemplares DEPÓSITO LEGAL nº471315/20 • ISSN 2184-7967 (Digital) PROPRIEDADE Ethereal Sound Works CONTATOS Rua de Entrecampos, 25, 3ºD, 1700-156 Lisboa •WWW.REVISTALUSITANIA.PT •REVISTALUSITANIA2020@GMAIL.COM

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3 CAPA: 211 BANDAS (divulgadas no website da Lusitânia) NESTA PÁGINA: 312 BANDAS (base de dados da Lusitânia)

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OS NÚMEROS

Ao longo de doze meses a Revista Lusitânia divulgou e promoveu o Rock e o Metal Português de uma forma contínua através do seu website, da sua página de Facebook e da revista em si, nas suas duas versões, digital e impressa. Nas páginas seguintes deixamos alguns números que caracterizam a actividade do projeto, sem opiniões nem comentários, só números.

AS PESSOAS*

A REVISTA*

* Dados referentes ao primeiros 12 números da revista Lusitânia ou até 30 de julho de 2021, consoante os casos.

2,83

Média de membros da redação por número

6,08

Média de colaboradores por número

5,75

Média de participações por número

40

Artigos publicados no âmbito do tema de capa

21

Entrevistas publicadas

34

Bandas em Destaque

10

Bandas em Estreia

71

Biografias publicadas (Em Nome Próprio)

22

Ilustrações publicadas

10

MetaliCões publicados

3

Fotografias publicadas

1

Banda Desenhada publicada

11

Exórdios publicados

12

Perdidos no Sótão publicados

1

Tudo isto é fixe, tudo isto é Rock

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O WEBSITE**

O FACEBOOK*

AS CAPAS*

Nas páginas seguintes apresentamos as capas da Lusitânia deste primeiro ano:

** Dados referentes ao primeiros 11 números da revista Lusitânia ou 11 meses (de setembro a julho), consoante os casos.

119 Lançamentos divulgados 83 Eventos divulgados 4 Passatempos 66 Tiragem (exemplares)

44,33 Média de páginas por número (versão impressa)

289

Média de downloads por número (versão digital) **

21 Assinantes (versão impressa)

27 Média de Curtas publicadas por mês

1076

Média de visitas por mês

5316 Média de páginas visitadas por mês

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ASSINANTES

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SOZINHO EM CASA

Será sempre fácil ligar este ano de Lusitânia à pandemia. Por vezes quase tenho de me forçar a lembrar que, na verdade, a pandemia já decorria a todo o vapor quando saiu a primeira edição da revista Lusitânia. Na verdade, e para mim, a revista faz parte daquela primeira onda nascida em março.

De repente estávamos todos em casa, com uma redução brutal de trabalho, e um desejo enorme de ocupar algum tempo livre com outra coisa. Com algo que nos preenchesse e realmente gostássemos de fazer. O objetivo da revista ficou claro desde o primeiro momento: divulgar o rock e o metal português e quem com ele trabalha. Havia pouco espaço então para esse passa a palavra dada a qualidade que parecia brotar de cada poro da internet. E é surpreendente a quantidade de bandas e músicos dos quais nunca tinha ouvido falar e aos quais tentámos dar voz.

A revista acabou também por ser uma desculpa para conhecer muitas das pessoas que via em palco, ou nos bastidores dos concertos. Deixámos de ser estranhos e ligámos nomes a caras. Colaborar com a revista fez-me ter também um propósito numa altura mais complicada da vida. Criou-me alguma rotina e estrutura fora do horário de trabalho. Forçou-me a ler, a aprender e a

melhorar a escrita. A saber mais sobre aquilo que era um hobby e a valorizar quem o desenvolvia. Porque não é assim tão fácil como parece. Principalmente quando nos apercebemos do nada que sabemos. Passámos, passei, por momentos difíceis em que de um dia para o outro perdemos muitas das estruturas que tínhamos como imutáveis e inabaláveis da nossa vida. E, no entanto, a maioria de nós continua aqui. Porque, na verdade, nunca estivemos realmente sozinhos em nossas casas. Esteve sempre alguém à distância de um contacto.

Há um par de dias fui ao concerto dos Gaerea no Theatro Live e, com as devidas restrições pelo momento que ainda vivemos, foi quase como regressar a casa. A um sítio onde fomos felizes. As mesmas caras, o mesmo ambiente, a boa disposição geral e alguma cerveja. Respirou-se música. E mesmo que não tenha corrido o

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risco de levar com uma bota na cara durante um mosh mais animado, e seja sempre estranho ouvir este tipo de música sentado em cadeiras de jardim, o ambiente e a adrenalina continua a fazer bem à alma. Sai-se vivo.

E de repente passámos a valorizar mais cada uma destas experiências. Cada uma das conversas que temos sobre música. E cada um dos discos que compramos.

Porque éramos felizes e não o sabíamos. Tínhamos tudo, ou demasiado, e não dávamos valor. Cada concerto, cada revista, cada música que ouvimos tem agora um valor muito superior. Se for esta a lição que tiramos deste último ano então não foi um completo desperdício. Aproveitar o que temos. Sobre o resto vamos escrevendo. --- RF

COLABORADORES

(M/F)

Procuramos colaboradores para a Revista Lusitânia. Ajuda-nos a divulgar e promover o Rock e o Metal Português. Envia-nos um email para REVISTALUSITANIA2020@GMAIL.COM

ASSINATURAS

20,00€ / 12 números Envia um email para

REVISTALUSITANIA2020@GMAIL.COM

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UM ANO DE LUSITÂNIA

Foi há cerca de um ano que me foi endereçado o convite para fazer parte deste projeto jornalístico que dá pelo nome de Revista Lusitânia. Quando me falaram do que seria esta publicação fiquei curioso, ainda mais tendo em conta os envolvidos no projeto, músicos e pessoas cujo trabalho é bem visível e meritório e que, com a Lusitânia pretendiam preencher um vazio no nosso marasmo musical, que nem é tanto assim como pintam, conforme se pode atestar neste primeiro ano de vida.

Surgida em plena crise sanitária, a Lusitânia cedo marcou a sua posição no nicho que é o nosso Rock e isso deve-se, sobretudo, à sua independência e à sua devoção a uma causa. Mas o desafio foi superado e, ao fim de doze meses os resultados estão à vista. Longa vida à Lusitânia, e deve ser dado o devido elogio a todo o staff, onde me incluo, pela forma como trouxe um ar menos rarefeito ao marasmo jornalístico nacional.

Enquanto melómano e também enquanto escriba, o que me foi proposto foi o melhor de dois mundos. Escrever e pensar a música. Acima de tudo foi o desafio de fazer algo que já havia pensado, mas nunca tinha, talvez, feito de forma tão desafiante. Munido de um tema de capa vi-me obrigado a pensar a música e a sua

indústria em pleno caos. Se por um lado tenho perfeita noção das minhas fragilidades, também tenho o mesmo conhecimento das minhas capacidades, contudo os desafios lançados pelo staff

obrigaram a ir mais além na descoberta, na pesquisa e no ato de refletir sobre algo tão subjetivo como a música. Enquanto melómano, a Lusitânia permitiu-me que descobrisse um mundo tão distante de tão perto que está.

Depois de um ano que, talvez para sempre, irá ecoar nos becos sem saída da memória humana e onde a Lusitânia se mostrou como uma alternativa, é natural que também o nível de exigência aumente, não só por parte dos leitores, como também da própria publicação. Este será o segundo ano de uma vida que tem dado passos seguros e certos. Por isso, o desafio foi aceite, a prova superada e é chegada a hora de olhar em frente para novos desafios, afinal, há sempre algo a melhorar, a inovar, a fazer diferente. Os desafios estão aí, assim como está a Lusitânia.

Dou os parabéns a todos os que fazem parte deste universo Lusitânia e agradeço todo o apoio, todo o carinho que temos recebido e agradeço, uma vez mais à Revista Lusitânia pelo convite e por pensarem a música. Venham mais doze!

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O HEAVY ME(N)TAL

Passados quase 18 meses desta fase das nossas vidas, que se esperava ir decorrer, vá lá, até ao verão de 2020, tem cada vez mais vindo à baila o tema da nossa saúde mental. Coletiva e individual. De facto, a velha dúvida de quem seríamos perante um cenário apocalíptico (com direito a zombies ou não) teve uma resposta rápida e brutal. E a maioria de nós não terá gostado certamente da personagem que veste.

Uma alteração que se verificou praticamente do dia para a noite nos nossos hábitos, tanto de trabalho como sociais, nunca seria fácil. Perdemos muito do que dávamos como garantido e, passado este tempo todo, continuamos impedidos de fazer muito do que realmente gostávamos. Isto para não falar da perda de emprego, de rendimentos e o facto de termos passado muitos dias seguidos com as mesmas pessoas, de quem subitamente já não gostamos tanto. E do isolamento. E da depressão. O medo, a preocupação e o stress associado são os principais sintomas de qualquer situação de ameaça e o prolongar da situação que vivemos exacerba esses mesmos sintomas e extrema as reações que qualquer um de nós teria perante os mesmos. O cansaço leva a falta de paciência e reações mais violentas.

Alguns dos remédios mais prescritos para este estado têm sido, entre outros, fazer exercício de baixa intensidade, manter uma rotina saudável, conversar com outros e, claro, ouvir música. Há muito que se conhecem os benefícios de ouvir música. Entre outros a música permite-nos melhorar as permite-nossas capacidades cognitivas, incluindo a memória, o estudo e mesmo as tarefas mais intelectuais. Também aumenta a nossa motivação e disposição para lidar com o nosso dia-a-dia, incluindo não só o trabalho, mas também o exercício físico. Muitos de nós temos playlists que nos motivam de acordo com o tipo de exercício que temos de realizar. E, para quem não gosta lá muito, quando nos centramos nela o tempo de exercício para passar muito mais rápido.

Mas a música permite-nos igualmente lidar melhor com a dor física e com a depressão. A terapia musical é vista como uma forma segura de reduzir a ansiedade e depressão em pacientes que sofrem de problemas neurológicos, como os resultantes de AVCs, Alzheimer ou Parkinson. Não espantará ninguém saber que muitas das pessoas mais afetadas pela nova ordem mundial são músicos ou trabalham no mundo da música.

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A música sempre foi, para um artista, o seu escape ou a sua materialização de muitos sentimentos e dúvidas que traz dentro de si. Um artista quando chora, grita ou se corta em palco está a exorcizar os seus demónios interiores. E a lidar com eles de uma forma efetiva. Mesmo assim são inúmeros os casos de suicídios no mundo da música. Voluntários ou acidentais. E, ao contrário do que se possa pensar, e que nos tentaram alimentar à força em julgamentos formais ou na praça pública tão mediáticos como os de Marylin Manson depois do massacre de Columbine, ou os suicídios atribuídos à música dos Judas Priest ou Ozzy Osbourne ao longo dos tempos, a música contribuiu efetivamente para reduzir o impacto da depressão, ansiedade e isolamento de muitos destes artistas e fãs. E neste contexto o metal é uma expressão maior dessa purga de sentimentos. Se formos pelo habitual histerismo dos órgãos de comunicação social pensaremos que os músicos, roadies, engenheiros de som, donos de bares e fãs ligados ao metal estariam neste momento numa de duas categorias: a suicidar-se em massa em rituais satânicos ou a assassinar em série. Ou as duas coisas numa, em ações de morte-suicídio. Infelizmente são poucos os que auguram aos fãs do metal um futuro apocalíptico ao melhor estilo Mad Max, mas ainda tenho alguma esperança.

O que nunca perceberam, ou nos perguntaram, é o que tiramos deste tipo de música, do stage diving, do mosh pit, do

headbanging, das letras violentas ou da música pesada ou agressiva: o efeito catártico de libertar alguma da raiva ou frustração que sentimos no nosso dia-a-dia. Acaba por ser irónico que os artistas e fãs do rock e heavy metal acabem por ser dos que melhor têm sobrevivido nestes tempos. Mas tem tudo a ver com a nossa experiência.

Todas as pessoas que dependem da vertente económica da existência de concertos (artistas, roadies, salas de espetáculos, bares) têm sofrido com a paragem, mas temos assistido a múltiplas manifestações de apoio práticas a muitos deles. São inúmeras as angariações de fundos para manter as salas, ou mesmo os trabalhadores, a funcionar. Vemos artistas a vender diretamente aos fãs e estes a responderem. Vemos fóruns e comunidades a funcionar. Vemos lojas especializadas a vender. Publicidade a ser feita entre pares. Recomendações sobre bandas e sítios sem qualquer contrapartida esperada. Voltaram em força as trocas e vendas em segunda mão de música e instrumentos. A produção musical tem explodido porque temos tanto mais para contar e expurgar. E continua a ser especial quando encontramos alguém em fóruns ou lojas físicas que gosta daquela banda obscura

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que ouvimos. Continuamos a fazer amigos assim.

Isto, que parece estranho ao mundo lá fora, sempre foi o normal no submundo do rock e metal. Foi o que sempre fizemos. Por vezes andámos perdidos ou iludidos na nossa pretensa grandeza? Sim, claro. Mas num momento de crise voltámos àquilo que nos caracteriza e que tem sido importante para mantermos alguma da nossa sanidade mental. E quando voltamos a um concerto voltamos a encontrar conhecidos que acabam por ser

velhos amigos. Porque a pandemia trouxe-nos isso nesta comunidade: conhecemos muito mais gente agora do que antes da mesma começar. Porque precisámos falar uns com os outros. E do outro lado alguém ouviu.

Se mesmo assim precisar de mais, não hesite em procurar ajuda profissional. Existem várias linhas de apoio telefónico, mas o Serviço Nacional de Saúde, por exemplo, tem o número 808 24 24 24 em permanência para quem precisar falar com alguém. --- RF

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Entrevista a Anthony Malhado dos Supreme Soul:

Para quem não vos conhece, quem

são os Supreme Soul?

As sonoridades características do Indie Rock, sobretudo do Post-Punk, e da New Wave da década de 80 definem na sua generalidade a nossa música. Com uma fusão de guitarras, de sintetizadores e de ritmos mecânicos envolventes, procuramos construir canções intensas e emocionais.

Em Supreme Soul, existe romantismo e ambientes épicos, melancolia e ruídos sombrios.

Blur é o vosso último EP lançado em

abril. O que podemos encontrar em

Blur?

Em Blur, podemos encontrar a mesma estética e sonoridade presentes em No One’s All, caracterizadas por guitarras densas e melódicas em conjugação com instrumentos clássicos de orquestra e eletrónica de sintetizadores a fazer lembrar os anos 80.

Do ponto de vista conceptual, Blur fala sobre as fragilidades do ser humano e as lutas constantes com a realidade e por vezes, na fuga inevitável para o imaginário e das consequências decisivas que fazemos na vida.

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Passaram dez anos desde No One's

All, o vosso álbum de estreia.

Por onde andaram?

Após o lançamento do No One’s All e dos concertos que realizámos, a banda acabou por viver um período de algum cansaço e estagnação. E nos últimos anos, temos que salientar, que alguns dos membros do grupo passaram por importantes mudanças ao nível pessoal e profissional e a dada altura, não foi possível conciliar a banda e tudo o que se estava a passar à nossa volta.

De qualquer forma, ao longo destes dez anos, nunca a banda deixou de trabalhar em música. Foram anos dedicados a experimentações ao nível das sonoridades e dos instrumentos e acima de tudo na nossa formação, enquanto músicos e produtores.

Todo o conhecimento que adquirimos ao longo dos últimos anos acaba por se refletir, de forma significativa, no trabalho que estamos agora a desenvolver para o novo disco.

O vosso próximo álbum está

previsto para 2021. Querem

desvendar um pouco do que aí

vem?

Estamos neste momento em fase de gravações. O contexto de pandemia tem vindo a condicionar o trabalho e o próprio lançamento.

É certo que este novo disco não vai representar uma ruptura com o que já fizemos no passado. Vai existir uma continuidade ao nível das sonoridades e da estética.

No ponto de partida para este disco, o caminho a percorrer já estava definido. O que e como fazer, resultado da maturidade que a banda adquiriu ao longo dos últimos anos. Por essa razão, penso que será um trabalho mais espontâneo do que os trabalhos anteriores.

Lembro-me de um dos vossos

últimos concertos no Sabotage onde

acabaram com um tema inédito, na

altura anunciado como parte de um

próximo trabalho. Promessa

cumprida?

Tocámos uma versão inicial do Strange Intimacy como single e acabou por fazer parte do EP Blur. Portanto, promessa cumprida.

E agora, um EP cá fora, um álbum

na forja, uma pandemia que teima

em durar, para quando promoção

ao vivo?

Neste momento a nossa prioridade é terminar o álbum. Em 2022 contamos estar de volta aos palcos portugueses e apresentar ao vivo o nosso próximo disco.

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EM NOME PRÓPRIO

Os Grau Zero foram fundados em 05/1993 em Vialonga, sob o nome de Anarkotendencies, com uma formação de quarteto contando com Nuno Ardisson no Baixo, Pedro Ribeiro na guitarra, Pedro Sales Madeira na voz e Ricardo Antunes na bateria. A vontade enorme de fazer música, aliada à mistura de várias influências, entre o heavy metal, thrash metal, crossover, hardcore e punk de cada membro, fazia uma fusão original e fora do comum ao que outras bandas nas imediações faziam. Após a estreia na escola de Vialonga, a banda fez várias actuações de onde se destacam as audições de jovens músicos do concelho de Vila Franca de Xira, festas de Vialonga em 1994, e vários bares de música ao vivo com bastante atividade na altura, como eram o Toca2 em VFXira e o Pauly Pady Bar na Póvoa de Santa Iria.

Em 1996, entra para o baixo, Luís “Mata-Ratos” Matos, passando o Nuno Ardisson para o lugar de guitarra ritmo. E em maio do mesmo ano a banda grava a maquete Entre Parêntesis, nos estúdios STS em

Sacavém, com a produção de Paulo Ferro e Nuno Ardisson.

Tragicamente em 14 de dezembro de 1997, o Luís Matos falece em acidente de viação, deixando a banda órfã de baixo e com um rude golpe na motivação de continuidade. A banda apresentar-se-ia a 18 de janeiro de 1998 no Pauly Pady Bar, num concerto de homenagem ao Luís, perante um público que esgotou e abarrotou o estabelecimento. A banda decide pôr término à actividade dada à falta de condições psicológicas que a situação criou. Entretanto cada membro seguiu os seus projetos na área da música, mas sempre se cruzando. De projetos em nome próprio, até outros em formato banda, como se conta as participações do Nuno Ardisson nas bandas Mandioca e Deepressure, ou do Pedro Sales Madeira no baixo dos Máquina Apollo e Cirrose Caótica, a actividade musical dos elementos nunca cessou.

Em Novembro de 2019 marca uma viragem. Nuno Ardisson na guitarra e voz, Pedro Sales Madeira no baixo e voz, reactivam a banda, e dada a indisponibilidade dos restantes membros originais se juntarem ao projeto, é recrutado Nuno “Neno” Gonçalves (ex-Deepressure) para a bateria e Edivan

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Edy” Paiva (Arise) para a guitarra. Dada a Pandemia e a estagnação cultural, aliada a situações pessoais, “Edy” Paiva acaba por sair do projeto, tornando-se o mesmo num trio actual.

Com a ideia de seguir a linha do que ficou parado em 1998, a banda constrói um novo som com influências do old school do

Thrash Metal ao Hardcore, com a face do ambiente do subúrbio de Lisboa de onde provêm. Com o lema, A união faz a força, e da fusão vem a nossa; a banda espera poder acrescentar mais um pouco de força e garra ao panorama musical do género.

Os Inner Blast têm origem em Lisboa no ano de 2006, formados pelo guitarrista Aquiles Dias e pela teclista Mónica Rodrigues. Pouco tempo após o início dos trabalhos, o baterista Nuno Sabu, que já havia tocado com a Mónica num projeto anterior, é convidado a fazer parte da banda, e a sua entrada é decisiva para a definição da sonoridade dos Inner Blast, sendo parte ativa na composição dos temas. Em 2007, já havia algum tempo que a banda ensaiava sem baixista, e após varias audições para o lugar, surge o Luís Pote , cuja entrada contribuiu em muito para a estabilidade da formação da banda. Contudo, um ano passado de intenso trabalho, e a banda ainda se continuava a debater com a ausência de uma voz

adequada ao que desejavam para o projeto. Foi já só no final de 2008 que a busca terminou, com a entrada da Liliana Silva, que há data começava a dar os primeiros passos como vocalista. Como

front-woman, a Liliana revolucionou

lentamente o som dos Inner Blast, quer através das melodias criadas, quer através da exploração e uso de diferentes registos vocais, alternando entre o gutural e o lírico.

2011 foi o ano da estreia dos Inner Blast em palco, com uma atuação no Side B a 9 de abril, e posteriormente uma serie de vários outros concertos, mas também o ano da primeira experiência em estúdio, com a participação no trabalho final do curso de Produção Áudio do Luís Silva, que viria a ser lançado no outono de 2011 como EP e intitulado Sleepless Monster, tornando-se esta edição de autor o primeiro registo oficial da banda. Os anos que se seguiram foram de consolidação do projeto e o início da conquista do seu espaço no underground nacional, mas também de evolução e amadurecimento enquanto banda.

Em janeiro de 2015, tendo como produtor o Paulo Basílio, os Inner Blast começam nos TDA Estúdios as gravações do seu primeiro álbum, Prophecy. O trabalho de produção dura até ao outono, e é já no início de 2016, após assinarem com a Nordavind Records o contrato de edição e distribuição, que é lançado o primeiro

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full-lengh da banda. Infelizmente, no final desse mesmo ano após a gravação do

videoclip do tema Feel the Storm, os Inner Blast sofrem a sua primeira baixa com a saída do baixista Luís Pote por motivos pessoais. A vaga em aberto, viria a ser ocupada em janeiro de 2017 pelo Fernando Narciso, um velho conhecido da banda, e que apesar de ainda ter gravado o

videoclip do tema Darkest Hour, um dos singles do álbum Prophecy, sairia pouco tempo depois, em dezembro do mesmo ano. Desta feita, a vaga de baixista foi preenchida em março de 2018 pelo Luís Silva, outro velho conhecido da banda, e que já havia produzido o EP Sleepless Monster. Contudo, alguns meses depois, e sem que nada o fizesse prever, em junho de 2018 é a vez da teclista Mónica Rodrigues abandonar a banda, mas ao contrário das vezes anteriores, e depois de muita ponderação, os Inner Blast decidem abdicar das teclas e avançar como quarteto.

É já com o novo formato que a banda decide voltar a estúdio para a gravação do seu segundo álbum de originais, Figment of the Imagination e para o efeito, à semelhança do que já havia acontecido no primeiro álbum, a produção ficou a cargo do Paulo Basílio. As gravações tiveram início em novembro de 2018 no estúdio BuzzRoom, e a produção ficou concluída em junho de 2019, vindo o álbum a ser lançado a 22 de novembro, após a assinatura do contrato de edição e

distribuição com a Ethereal Sound Works.

Entretanto, e apesar de felizmente os concertos nunca terem cessado, os Inner Blast que até aqui já tiveram o prazer de partilhar o palco com algumas bandas internacionais, tais como Rhapsody of Fire, Frozen Crown, Cloven Hoof, Dynazty, Imperial Age, Childrain, Tyr e Moonspell; assinaram em julho de 2019 com a Oeste Ritmos - Grupo Notredame Productions, o contrato de agenciamento, um passo importante com vista o crescimento da banda.

Os Ledderplain são uma banda de Hard Rock / Heavy Metal fundada em 2013, no Peso da Régua, a sua sonoridade define-se pelas influências do New Wave of British Heavy Metal, como Iron Maiden, Judas Priest, Black Sabbath, DIO, Motorhead, Ozzy Osbourne, etc.

Em 2017 os Ledderplain lançaram o seu primeiro trabalho discográfico intitulado de The Ancient Tales of Abaddon e um single em 2019 chamado Soul of the Mariner. Com estes trabalhos foram partilhando palco com algumas das bandas mais consagradas do metal nacional como Attick Demons, Serrabulho, Terror Empire, Heavenwood, Decayed, Moonspell. Os Ledderplain

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também atuaram em palcos como o Douro Rock, Milagre Metaleiro, Fora de Rebanho, Portinha Metal Fest, Concentração Motard do Peso da Régua, entre outros. A música de Ledderplain já passou em várias rádios do seu próprio género em Portugal e no estrangeiro, servindo de exemplo Brasil e Estados Unidos da América.

Atualmente acabaram de gravar o seu segundo trabalho de estúdio, que está a ser produzido e masterizado no Blind and Lost Studios em Santa Marta de Penaguião, pelo Guilhermino Martins, e será lançado muito em breve.

Os Wrath Sins são uma banda Gaiense, com o seu início em 2012. Com dois álbuns de originais já lançados sobre a alçada da Raising Legends Records e Raging Planet, preparam o seu regresso com o terceiro registo de originais, intitulado Kalopsia um trabalho conceptual, em formato de trilogia.

Kalopsia será o sucessor daquele que foi o seu segundo e aclamado pela imprensa nacional e internacional The Awakening. Álbum gravado no Raising Legends Studios com o produtor André Matos (Heavenwood / Equaleft / Godiva). The Awakening prometeu ressoar e

destacar-se entre o panorama nacional, onde cumpriu e arrecadou dezenas de críticas das mais renomadas revistas e webzines, como Loud!, Ultraje, Necromance (ES), Zephyrs Oden (ALE) entre muitos outros; e à semelhança de Contempt Over The Stormfall em 2015, foi nomeado entre várias listas como um dos melhores álbuns do ano, entre elas de António Freitas (Alta Tensão)

Partilhando palco com bandas como Ramp, Fleshgod Apocalypse, The Temple, entre muitos outros passando por festivais como Laurus Nobilis Music Famalicão, Vimaranes Metalvum, Hell In Sintra, Canecas Fest, os Wrath Sins são um dos valores emergentes do underground nacional e visa com o novo trabalho, o conceptual Kalopsia, previsto sair em 2022, marcar e cimentar a sua posição.

Formados em 1979, os Xeque-Mate são referenciados como fundadores do Heavy Metal português, chegando mesmo a ser rotulados pelos média como sendo “os pais do heavy metal nacional”. O seu single de estreia, "Vampiro da Uva", foi lançado em 1981 pela Metro-Som e atingiu grande sucesso no mítico programa de rádio, Rock em Stock, da Rádio Comercial, apresentado por Luís Filipe Barros, um dos principais responsáveis

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pelo boom do rock português. Em consequência do êxito deste primeiro trabalho, surgem vários concertos ao vivo e participações em programas de rádio e de televisão. Entretanto para poderem reproduzir ao vivo mais fielmente a sua sonoridade, optaram pela entrada de um segundo guitarrista. Paulo Barros, que mais tarde fundaria os míticos Tarantula, foi o escolhido.

Em 1985 gravaram o álbum Em Nome do Pai, do Filho e do Rock’n’Roll, com selo da editora Horizonte. Outro dos pontos altos da carreira dos Xeque-Mate foram as primeiras partes dos concertos de Wilko Johnson e Diamond Head. De entre os nove temas gravados neste primeiro álbum, Ás do Volante e Filhos do Metal ficaram como sendo uns dos temas mais populares e obrigatórios de todos os programas radiofónicos de música pesada.

1989 veria o fim precipitado dos Xeque-Mate, mas em 2007 a reunião foi oficializada e foram cabeça de cartaz no Lança Chamas Fest, festival de música em homenagem a António Sérgio, na República da Música, em Alvalade, Lisboa. António Soares, guitarrista, fundador e principal compositor da banda, faleceu no dia 22 de novembro de 2013 provocando muita desorientação no seio do grupo e pondo em causa a sua continuidade. Após terem refletido bem sobre qual seria o rumo a tomar decidiram

prosseguir em frente. O primeiro concerto, após aquele fatídico acontecimento, foi no dia 4 de abril de 2014 no Hard Club, Porto e que contou com a participação de várias bandas. Numa altura em que o soberbo Em Nome do Pai, do Filho e do Rock’n’Roll é um disco procurado internacionalmente por colecionadores, os Xeque-Mate apresentaram, no dia 22 de novembro de 2016, Æternum TestAmentum, o novo álbum de originais. Com nove temas de puro rock, este disco é uma homenagem sentida a António Soares, motivo pelo qual a data de lançamento deste novo trabalhado coincidir com a data em que a Alma dos Xeque-Mate partiu. Este disco é dele e para ele…

No dia 27 de setembro de 2020, apesar da situação pandémica a nível mundial e tendo em conta todas as restrições impostas pela DGS (Direção-Geral de Saúde), os Xeque-Mate, decidiram presentear todos os seus seguidores dando um concerto único, no Grande Auditório do Fórum da Maia, para comemorar o 35º aniversário do álbum Em Nome do Pai, do Filho e do Rock’n’Roll. Para além do álbum ter sido reeditado em formato CD, também o foi em cassete (numeradas e limitadas, em 4 cores – preto, vermelho transparente, dourado e amarelo). Tudo isto com o apoio incondicional da editora Larvae Records.

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EXÓRDIOS

“E se depois, o fogo te perseguir, aquece-te nele”

Os balanços e as retrospectivas

convidam-nos a repensar o que já passou. Relembram-nos não apenas determina-dos momentos de uma trajectória, como podem também facilitar uma certa visão de conjunto. Daquelas que a dada altura se revelam úteis para percebermos que algumas coisas que testemunhámos ou pelas quais passámos, podem ser muito mais do que simples episódios isolados, erráticos ou extemporâneos. Olhar em perspectiva faz parecer que a realidade presente tem um sentido que já se encontrava inscrito no devir dos acontecimentos passados. É obviamente um viés de entendimento porque as possibilidades vão-se contruindo sem determinismos rígidos, mas o exercício é interessante e útil, porque nos obriga a desenvolver um olhar sistemático capaz de dar um sentido coerente às circunstâncias e consequências do que ficou lá atrás e do que temos agora como realidade.

Isto dito, faço-me lembrar que no início deste empreendimento (o lançamento de uma nova Revista) percebi que estava, e muito bem, a vontade e o desejo de insuflar um ímpeto reforçado ao nosso pequeno meio alternativo do rock e do metal. Como qualquer projecto cativante que se preze, a sua energia primordial era

indomável o suficiente para não se deter perante contrariedades ou perante sinais que pareciam desaconselhar o timing do seu arranque. No primeiro caso, tínhamos (e temos) a constatação de que o circuito é reduzido, a sua estrutura é maioritariamente amadora (no sentido mais puro e positivo da palavra), a sustentabilidade financeira não se pode dar como dado adquirido, e o efectivo envolvimento das pessoas vai flutuando de uma forma errática, ao ponto de estarmos a falar de uma comunidade que, em rigor, é dispersa e relativamente rarefeita. Já no segundo caso, estamos a falar do annus horribilis que foi, e continua a ser, 2020-2021. O ano negativo, por excelência.

Mas os projectos deste tipo são para acontecerem. E isto porque a razão da sua existência deve depender, em primeiro lugar, e acima de tudo, da vontade intrínseca que nos impele a produzirmos uma marca em algo que é simultaneamente tão subjectivamente nosso, como esteticamente de tantos outros com quem vamos partilhando afinidades, sonhos e ambições. Se nos guiarmos apenas pela ponderação prudente, o melhor mesmo é deixarmo-nos estar o mais quietos possível. Agir apenas pela certa, pelo cálculo

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oportunístico de somente avançar quando tudo parece estar garantido e quando o dispêndio de esforço é tão mínimo ao ponto de ser um hino à eficiência ultra calculada. Um pouco como aqueles répteis que só lançam as suas línguas viscosas quando a presa está mesmo à beira da sua boca. Uma espécie de domesticação estoica do apetite que é marcada pela espera paciente do momento certo que permitirá o saciar voluptuoso.

Pois bem, sobre este ano que agora passou, o que dizer? Foi, pelas razões que todos conhecemos até á náusea, um período deplorável pela quantidade esmagadora de grilhões que nos forçaram a uma enorme paralisação e uma quase total inactividade. Porém, quando agitamos o lodaçal desse aparente marasmo totalitário, reparamos que, apesar de tudo, foram acontecendo coisas. As bandas não se extinguiram, as ideias não estagnaram, as iniciativas possíveis foram surgindo sob o signo da reinvenção e da criatividade, pelo que foi possível irmos bem para além das simples exéquias a um mundo que, em grande parte, morreu ou entrou em coma. Confrontarmo-nos com a perda é importante, até para aprendermos ou para nos relembrarmos de dar o devido valor ao que por vezes tínhamos como certezas, mas mais importante ainda é conseguir avançar - espasmodicamente ou não -, nem que seja apenas para sacudir o torpor que nos assolou.

Quem avança com as ganas de fazer acontecer alguma coisa que insufle uma dose extra de vitalidade minimamente diferenciadora a um circuito que nos é significativo (como é o caso das pessoas que dão a sua energia a esta revista), aquilo que quer, acima de tudo, é inflamar uma combustão que vale por si própria. Estamos mergulhados num fogo que, aparentemente, não serve para nada de jeito, dado que não garante (na esmagadora maioria dos casos) as bases confortáveis e duradouras do nosso sustento. Mas ao mesmo tempo esse fogo é tudo. Quem o experimenta com a seriedade de um pacto íntimo de sangue, precisa de sentir que o seu calor não se extingue. Por isso, quando o fogo se excita e nos persegue devemos, como diz a letra, aquecermo-nos nele.

Este ano já passou e o que agora corre poderá demorar (isto se o conseguir) a ser auspicioso. Mas os ímpetos da criação e da fruição artística são teimosamente indefectíveis. Não faltarão coisas para celebrar, relatar, anunciar e partilhar. Descontando os excessos românticos desta proclamação, é isso, no fundo, que estamos aqui a fazer. Pela minha parte por aqui me manterei a debitar exórdios tão inúteis como necessários. Pelo menos para mim. São um dos focos de combustão das minhas fornalhas íntimas. Das que realmente me aquecem. --- HR

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PERDIDOS NO SÓTÃO

Breves Reflexões sobre Discos

Tal como referido no passado número as

próximas observações sobre discos recairão em trabalhos cuja memória, felizmente, não se encontra ainda perdida, quer pela exposição e importância que tiveram no meandro da música nacional neste início de década, quer por força do culto criado em redor dos mesmos ou de uma ou outra reedição a que foram sujeitos ao longo do tempo. Em comum as obras que serão alvo de atenção nesta mensalidade têm o fato de terem sido quase todas editadas ou distribuídas por companhias discográ-ficas ditas majors, o que simbolizava uma abertura a todo um género musical mais pesado cujo desenvolvimento na década anterior tinha sido por demais evidente e que atingirá uma expressão significativa no decorrer dos anos seguintes.

Comecemos pelos V12 e o seu disco homónimo de estreia, editado pela Polydor/Polygram em 1990. Gravado nos estúdios Angel teve como produtor Emanuel Ramalho e o que nos é aqui apresentado é um conjunto de temas de qualidade dentro de uma onda heavy metal que incorporava umas certas influências de thrash clássico e totalmente cantado em português. Compunham os V12 aquando desta sessão de gravação o vocalista Jorge Martins, os guitarristas Rui Fingers e Zé Paulo, o baixista Paulo Ossos e o baterista Alberto Garcia. Iriam desaparecer algum tempo depois deixando para trás este álbum de originais, uma demo, umas gravações ao vivo de temas cantados em inglês pelo vocalista original da banda, Rafael Maia, e que são ainda hoje em dia alvo dos maiores elogios e uns quantos concertos marcantes.

Seguimos então para os Tarantula e o seu segundo disco de originais intitulado Kingdom of Lusitania também ele editado em 1990 pela Polydor/Polygram. Apesar de já se terem estreado em matéria de edições com o disco homónimo de 87 será este o trabalho que os irá cimentar em definitivo na cena nacional da altura. Gravado nos estúdios Rec'n'Roll e produzido por Luís Barros e Pedro Moura, estamos perante um excelente exercício

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de heavy metal clássico que ainda hoje é considerado um dos melhores trabalhos e lançamentos do género feitos no nosso território. Constituíam os Tarantula por alturas desta gravação o vocalista Jorge Marques, o já falecido José Baltazar no baixo e os irmãos Barros, Paulo na guitarra e Luís na bateria, que já haviam estado na génese dos Mac Zac banda oriunda do início da década de 80 e Paulo, particularmente, era já um nome referenciado naqueles tempos no que à guitarra diz respeito graças também à sua passagem pelos conterrâneos Xeque Mate. Terão de futuro a sua quota de responsabilidade no desenvolvimento da cena metaleira nacional, não só no norte, mas também no sul, devido aos seus estúdios Rec'n'Roll e à sua Rock'n'School. De referir ainda a sua passagem pela editora alemã AFM Records com quem assinaram no final da década de 90, e com os quais editaram três álbuns. São dos projetos da história da música pesada

nacional com mais longevidade em termos de atividade, com uma quantidade relevante de atuações ao vivo assim como um digno número de registos editados, nove no total, sendo o último já deste ano de 2021 e com o qual celebram 40 anos de carreira.

Mudando agora de estilo musical, mas não de intensidade, também editado em 1990, neste caso via EMI, o disco de estreia dos

punkrockers Mata Ratos, Rock

Radioactivo. Fundados em Oeiras no início da década de 80, gravam este álbum nos estúdios da editora em Paço D'Arcos contando com a produção de Paulo Pedro Gonçalves e no qual se incluem temas clássicos do género como a A Minha Sogra é um Boi, C.C.M., Armando é um Comando ou Xavier. Faziam parte dos Mata Ratos nesta sessão de gravação o vocalista Miguel Newton, o guitarrista Pedro Coelho, o baixista Cascão e o baterista Jó. Apesar das constantes

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mudanças de formação ao longo dos anos contam com mais oito discos de originais editados e um número considerável de apresentações ao vivo, e estão de momento a caminho dos 40 anos de atividade no cenário musical português.

Fundados em Braga no ano de 84 e praticantes de algo a que se designou de

rock avant-garde os Mão Morta contam no início da década de 90 já com três discos editados, alguma atenção por parte de crítica e público, aparições em televisão e alguns concertos relevantes. Será, no entanto, em 92 com o lançamento de Mutantes S.21, via Fungui com distribuição Polygram, que atingem o reconhecimento à escala nacional. Um disco conceptual sobre supostas viagens ao submundo de várias cidades, no qual, textos negros e causticos são declamados em tons lugubres e abrasivos ao som de um rock dinâmico e intenso, e que se tornou num dos mais emblemáticos

registos, não só, da discografia da banda como da história do rocknroll feito em Portugal. Gravado nos estúdios Angel por José Fortes, Jorge Barata, António Cordeiro e Rui Novais e produzido pelo próprio grupo, fazem parte dos Mão Morta nesta altura Adolfo Luxúria Canibal, voz, Carlos Fortes e Sapo, guitarras, António Rafael, teclas, José Pedro Moura, baixo e Miguel Pedro, bateria. Depois disto irão prosseguir carreira editando mais catorze trabalhos de originais, apresentando-se ao vivo com qualidade e regularidade, e estabelecendo o seu nome como um dos mais respeitados e controversos coletivos de toda a história da música rock portuguesa.

De regresso ao hard rock destacamos agora um grupo oriundo de Cascais, fundado em 90, cuja carreira teve uma curta durabilidade. Escrevemos sobre os Joker e o seu disco de estreia Ecstasy de 92 também ele editado via Polydor/

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Polygram. Gravado nos estúdios da Valentim De Carvalho com produção da própria banda em colaboração com Kalu e Fernando Rascão, é-nos aqui apresentado um competente exercício hard rock com uma sonoridade inspirada na fórmula americana do género, muito bem executado tecnicamente e que teve uma boa aceitação não só por parte do público, mas também da crítica especializada. Faziam parte da formação que gravou o álbum o vocalista Tiago Gardner, o guitarrista Paulo Ferreira, o baixista Hugo Granger, o teclista José Vasconcelos e o baterista Luís Páscoa. Ainda gravaram e editaram em 94 um segundo registo que teve a particularidade de ter sido gravado e produzido em Inglaterra por Marsten Bailey, desaparecendo logo de seguida e deixando para a história e na memória estes dois trabalhos e alguns concertos importantes.

Entrando agora na reta final deste texto na qual se mencionam três projetos que em comum tinham o facto de emergirem de um novo cenário underground no que a sonoridades pesadas dizia respeito, movimento esse que dominará em termos de edições uma parte do circuito musical nacional, como se irá verificar na próxima observação a ser publiccada neste espaço. Escrevemos então sobre os discos de estreia de RAMP, WC Noise e Braindead. Os primeiros eram oriundos do Seixal e já existiam desde 89. A sua primeira

proposta Thoughts, cujo conteúdo musical é muito influenciado pela cena

thrash metal americana dos anos 80, foi editada em 92 através da Polydor/ Polygram e foi gravada no Exit Studio em Lisboa tendo a produção ficado a cargo de Rui Fadigas, Jorge Quadros, Marsten Bailey e da própria banda. Faziam parte do grupo na altura o vocalista Rui, os guitarristas Ricardo e Tó Zé, o baixista Sapo e o baterista Paulinho. São ainda hoje em dia considerados como uma das grandes instituições do metal em Portugal, apesar de terem apenas cinco álbuns de originais editados ao longo dos seus já 30 anos de carreira, muito à conta das suas energéticas apresentações ao vivo e integração nuns quantos cartazes de relevo com passagem pelo nosso país. Também inspirado na onda thrash metal

americana dos 80, mas incluindo alguma influência hardcore e um sentido de humor peculiar, surge, igualmente em 92,

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Loud & Mad dos WC Noise. Editado pela editora independente MTM Records foi gravado nos estúdios Rec'n'Roll e produzido por Luís Barros. Oriundos do Porto, faziam parte da banda o vocalista Nando, o guitarrista Rodolfo, o baixista Paulo e o baterista Pedro. Gravaram e editaram ainda um segundo registo em 94 desaparecendo pouco depois e deixando para a posteridade estes dois trabalhos e na memória uns quantos concertos em terras espanholas e nacionais.

Finalmente, os Braindead, que editaram em 93 através da EMI a sua estreia intitulada Blend. Musicalmente estamos aqui perante um competente trabalho de fusão de rock alternativo, rap, metal e

funk, o que afastou os seguidores ligados ao passado thrash metal do projeto oriundo de Almada e fundado em 88, mas, que lhes abriu as portas a um novo público e à aceitação geral desta sua nova proposta

em termos sonoros. Tem ainda a particularidade de ser o primeiro registo de uma banda portuguesa a cantar em inglês editado pela editora no nosso país. Gravado nos estúdios da Valentim De Carvalho em Paço D'Arcos, teve a produção da própria banda e assistência técnica de Paulo Neves e Jorge Avillez. Faziam parte do coletivo que gravou este disco o vocalista Michael Stewart, os guitarristas Nobre e Vasco Vaz, o baixista Nuno Espírito Santo e o baterista Guilherme Gonçalves. Ainda haveriam de gravar e editar um segundo trabalho no ano seguinte, encerrando atividades pouco tempo depois. Bem hajam. --- JB

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TUDO ISTO É FIXE,

TUDO ISTO É ROCK

Para onde foi o Rock?

Pensar em escrever sobre o rock nacional

dos últimos vinte anos é uma missão espinhosa. Não é que não se tenham feitas coisas muito boas. Fizeram-se. Há músicos tecnicamente muito melhores hoje do que há trinta ou quarenta anos atrás. As canções são melhores, têm melhores letras e o som geral dos discos é incomparavelmente melhor porque hoje em dia não só há melhor tecnologia como os técnicos são melhores. Mas a música não é uma competição. Não há uma unidade de medida, e ainda bem, para avaliar a qualidade de um disco. A música ou a arte em geral é a expressão do indivíduo. É um pouco estúpido dizer que o tipo tal expressa melhor os seus próprios sentimentos que outro. É uma questão estética. Cada um ouve o que quer Ponto. Tudo o que se possa dizer além disto é puro pedantismo.

Qual é o problema então? Porque é que não consegues escrever sobre o rock nacional dos últimos vinte anos? Eu consigo, mas apercebi-me no decorrer da escrita deste texto que não é isso que importa. O que importa é perceber porque é que o rock deixou de fazer sentido para as gerações mais jovens. É que deixou. Eu sei disto porque vou a concertos de rock e

não vejo muitos. Vou a pequenos clubes ver bandas obscuras e estão lá trinta gatos pingados, que por acaso são quase sempre os mesmos, e têm todos acima de quarenta anos. Se por acaso está lá alguém na faixa dos vintes é porque é filho de um dos músicos. Sim, porque bolas, a malta das bandas de rock já não é nova. Como é que eu sei? Porque frequento salas de ensaio. É tudo malta que já levou a segunda dose da vacina há dois meses! Então, mas os adolescentes e jovens adultos não fazem música? Fazem. No quarto, com um teclado midi, sozinhos. E não, quase ninguém daquela faixa etária faz rock. Mas este é um problema português? Não. É um problema global, claro. Os canais de televisão de música deixaram de passar música, as rádios aperfeiçoaram o seu modelo de negócio em torno das playlists e já ninguém se dá ao trabalho de fazer programas de autor. Ninguém quer ler artigos de opinião numa revista sobre um álbum para depois comprar um disco porque na realidade ninguém compra discos porque é mais fácil ouvir música no telemóvel. Como é que se soluciona isto em Portugal? É fácil, é ir aos concertos. É os clubes de música unirem-se num verdadeiro circuito e não num hashtag

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que soa a treta e colaborarem em conjunto na programação e atraírem os mecenas e patrocinadores provando que existe público. Pagarem o preço justo aos músicos pelo espetáculo que demoraram meses a preparar, pagarem ordenados decentes aos técnicos. O público aparece sempre que é bombardeado com publicidade. Se pagam para ver bandas com nome de animais empalhados ou nomes de patentes militares, ou pagam balúrdios num festival para ver um artista qualquer do qual só conhecem um tema,

também pagam para ver uma boa banda de rock que ninguém conhece. A malta quer é copos e uma bela selfie para o insta. Se esse trabalho for feito, a arte chegará a quem a sempre a procurou. E é partir daí que a roda volta a girar e poderemos falar das bandas de rock nacional dos últimos vinte anos que fizeram bons álbuns que quase ninguém escutou. Mas não vos apoquenteis, o rock voltará tal como as calças à boca de sino tiveram um breve e trágico regresso em meados dos anos 90.

---PJ

PASSATEMPO

Core Artists Booking & Management

Temos dois packs (CD + T-shirt) para sortear pelos leitores que responderem corretamente à seguinte questão: Qual o ano de lançamento do primeiro álbum dos CineMuerte?

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LANÇAMENTOS DESTE MÊS

BIZARRA LOCOMOTIVA – Fenótipvs Industrial, EP, CD + Digital, Vinil, 4 faixas Rastilho Records

LAW OF CONTAGION – Woeful Litanies from the Nether Realms Death Black Metal, reedição, álbum, Digital + K7, 7 faixas, 37:56 Firecum Records

… mais os que nos escaparam em julho

HEXITIUM – Sorcery of Revenge

Death Black Metal, álbum, Digital, 6 faixas, 36:13 Miasma of Barbarity

NAGASAKI SUNRISE – Turn on the Power Metal Crust Punk, EP, CD + Digital, 4 faixas, 9:42 Miasma of Barbarity

NARCÖMANCER – Narcömancer

Black Metal Punk, EP, CD + Digital, 4 faixas, 19:44 Miasma of Barbarity

PÄRIA – Demónios

Raw Punk, EP, Digital, 5 faixas, 9:29 Miasma of Barbarity

RUI GAIO – 365 Everydays

Neo-classical, piano, singer-songwriter, álbum, Digital, 42+ faixas Edição de Autor

SCATTERBRAINIAC – Scatter the Brains!! Punk, álbum, Digital, 10 faixas, 22:52

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O F E R T A C D com a versão impressa deste número da Revista Lusitânia

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Referências

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