• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 1. Uso da água na economia brasileira

1.3 Uso direto de água na economia brasileira

1.3.1 Água na agricultura

A água na agricultura é calculada a partir da evapotranspiração, ou seja, a quantidade necessária de água para a produção agrícola. A evapotranspiração é uma variável chave no que diz respeito ao estudo do ciclo hidrológico, pois abrange a interação entre a energia, clima, solo, disponibilidade hídrica e os diferentes estágios de desenvolvimento da cultura, tais como altura da planta, tipo de cultura, profundidade das raízes, orientação do plantio e capacidade de água disponível na produção (RUHOFF; SALDANHA; COLLISCHONN, 2009). Consiste em um sistema complexo que envolve o consumo da água pelas plantas a partir da evaporação da água para a produção vegetal.

Para quantificar a evapotranspiração de uma cultura, são utilizados diferentes métodos. Basicamente, trata-se de calcular o balanço entre a água que entra na cultura, através da chuva, e aquela que evapora, tendo como resultado a variação de água armazenada no solo. Assim, a evapotranspiração de uma cultura dependerá das condições meteorológicas, do tipo de cultura e de outras características. Por

3

UN-Water é o mecanismo de coordenação entre as agências das Nações Unidas para todos os assuntos

relacionados à água doce e saneamento básico. Disponível em:

definição, a evapotranspiração pode ser classificada como potencial, definida como a quantidade de água que poderá ser evaporada durante o ciclo hidrológico de uma cultura, e referencial, que considera suas características em termos da fisiologia da planta e o tipo de solo em que será feito o plantio. A relação entre a evapotranspiração potencial e de referência resulta no chamado coeficiente de cultura, que é importante para a mensuração do consumo de água de cada tipo de planta.

Com o objetivo de diferenciar o cálculo em relação aos distintos conceitos de água, de acordo com Hoekstra et al. (2011), é possível utilizar o modelo CropWat, desenvolvido pela FAO, como ferramenta de apoio na tomada de decisões. Existem duas opções de utilização do modelo. A primeira é via disponibilidade hídrica de cada cultura. Este é um método que desconsidera a existência de limitações hídricas para o crescimento das culturas. É possível calcular a disponibilidade hídrica durante todo o período de crescimento, podendo considerar condições climáticas específicas, bem como a precipitação efetiva durante o período estudado e a necessidade de irrigação da cultura.

Contudo, a opção de calcular a evapotranspiração, via disponibilidade hídrica da cultura, mensura a quantidade de água que é utilizada desde o plantio até a colheita, em um nível de manutenção de água considerado suficiente, permitindo o crescimento e produtividade da cultura, seja através da água das chuvas ou via irrigação. Excluindo a irrigação (água azul) deste processo, toda a água utilizada na produção agrícola resulta de precipitação e constitui a água verde.

1.3.1.1 O consumo de água azul - A irrigação no Brasil

O uso da água na agricultura está diretamente relacionado ao consumo de água verde e azul, a partir das práticas de irrigação utilizadas para o plantio e cultivo de alimentos. Estas consistem na aplicação artificial de água utilizada para repor a quantidade consumida pelas plantas no processo de transpiração, comumente conhecida como evaporação. As técnicas e o manejo da irrigação variam desde sistemas simples rega das plantas, evoluindo a sistemas mais complexos, envolvendo informações sobre condições atmosféricas e características do solo.

Quando comparada com os demais países do mundo, a área irrigada brasileira ainda é considerada pequena. No ano 2000, existiam cerca de 278,8 milhões de hectares irrigados no mundo. A Índia respondia por 57 milhões de hectares (20%), a China 53 milhões (19%) e os Estados Unidos 28 milhões (10%) - estes três países somam, aproximadamente, 49% do total mundial (TESTEZLAF, 2011).

Em 2012, o Brasil possuía cerca de 5,8 milhões de hectares de áreas irrigadas, equivalente a 19,6% do potencial irrigável nacional. De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, naquele ano o país possuía aproximadamente 4,45 milhões de hectares de áreas irrigadas (IBGE, 2006). Deste total, estima-se que em aproximadamente 1,5 milhão utiliza-se o método de irrigação por aspersão, correspondendo a pouco mais de 34% das terras irrigadas no país. O segundo método mais utilizado é a irrigação por inundação, cerca de 24% do total, seguido da irrigação por pivô central, com cerca de 19%, equivalente a pouco mais de 840 mil hectares. A irrigação localizada é aplicada em aproximadamente 327 mil hectares de terras. Outros métodos respondem por 371 mil hectares, cerca de 8,5% (BRASIL, 2008b). No entanto, existe um potencial de crescimento para a irrigação devido, sobretudo, às terras potencialmente irrigáveis no território brasileiro.

É importante salientar as perdas de água que ocorrem durante sua utilização, tais como captação, distribuição e utilização, pois devem ser consideradas para a promoção de condições necessárias ao uso sustentável desse recurso. No caso do Brasil, cerca de 70% da água doce disponível concentra-se na região da Bacia Amazônica. Tal região abriga cerca de 7% da população do país. Por isso, é crucial compreender a questão hídrica também de maneira regionalizada, devido aos diferentes graus de restrições de acesso ao recurso. O mau uso da água nos setores relacionados à produção alimentícia derivam, basicamente, de técnicas inadequadas de irrigação, seja através de equipamentos mal planejados ou até mesmo execução de limpeza do ambiente feita de maneira precária (PAZ et al., 2000).

De acordo com Rodrigues (2004), é possível estabelecer uma diferenciação entre os países enquanto suas necessidades de uso da água, considerando as diferentes perspectivas agrícolas. Segundo a metodologia aplicada, o primeiro grupo é constituído por países com baixo potencial de produtividade e alto potencial de terras -

um exemplo seriam os Estados Unidos. Neste caso, poderia haver um aumento na exploração de terras através da adoção de tecnologias que utilizem o solo de maneira extensiva podendo, assim, a erosão tornar-se o principal problema ambiental resultante desta técnica. Um segundo grupo é constituído por países com alto potencial de produtividade e alto potencial de terras, que é o caso brasileiro. Apesar da tendência em aumentar o uso extensivo do solo, o alto potencial de produtividade tornará atrativa a adoção de tecnologias que aumentem a produtividade agrícola. No entanto, o uso de insumos agrícolas, bem como a irrigação, tende a aumentar na mesma proporção que os problemas de erosão do solo, e outras formas de aumentar a degradação de recursos naturais, resultando na perda de biodiversidade.

A avaliação da mudança na concentração de substâncias dissolvidas na água pode ser utilizada como uma medida direta do impacto da agricultura irrigada, considerando uma análise realizada em um período prévio e posterior à sua aplicação. A eficiência no uso da água para irrigação é definida como a relação entre a quantidade de água requerida pela cultura e o total aplicado pelo sistema. Logo, quanto menor a aplicação de água devido ao escoamento artificial, evaporação, e drenagem, maior será a eficiência deste sistema (RODRIGUES, 2004).