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O átomo de flúor em compostos orgânicos é reconhecido por ser um fraco receptor de hidrogênio em ligações de hidrogênio (LHs).193,222 No entanto, há exemplos na literatura em que átomos de F participam em LHs relativamente fortes, que influenciam as propriedades biológicas e físico-químicas, bem como o comportamento conformacional de moléculas organofluoradas. Por exemplo, o isomerismo rotacional do 2-fluoroetanol (FE) tem sido estudado por cálculos teóricos e experimentalmente por espectroscopias rotacional e vibracional (Esquema 5).223,224 Considerando-se que o mínimo global do FE representa mais que 90% da população conformacional total e que tem geometria apropriada para formar uma LH intramolecular (LHI), tal interação é comumente invocada na literatura para explicar sua estabilidade. Por outro lado, o 3-fluoropropanol (FP) e o 4-fluorobutanol (FB) são muito menos estudados e os poucos artigos da literatura indicam que os mínimos do FP e FB também formam LHIs CF···HO.225,226

Esquema 5: Representações estruturais do 2-fluoroetanol (FE), 3-fluoropropanol (FP) e

4-fluorobutanol (FB).

Os estudos conformacionais destes compostos são limitados a espectroscopias na fase gasosa e cálculos teóricos. Assim, neste trabalho, é reportada a análise sistemática do comportamento conformacional em solução do FE, FP e FB, por espectroscopias de RMN de 1H e 19F e infravermelho, auxiliadas por cálculos teóricos. Os procedimentos detalhados da obtenção dos espectros e dos cálculos teóricos são descritos na Seção de Anexos C. O 2-fluoroetanol (FE) e o 3- fluoropropanol (FP) foram obtidos da Sigma Aldrich. O FB não é comercial e foi sintetizado segundo o Esquema 6 (procedimento detalhado na Seção de Anexos

C). A etapa inicial (1) foi a mono-acilação do 1,4-butanodiol, resultando em (2). Essa reação foi executada, utilizando-se um procedimento similar ao usado por Clarke,227 que a aplicou para outros dióis. A obtenção de (3) foi realizada pela fluoração do grupo OH em (2), utilizando-se DAST. O FB (4) foi então obtido pela redução de (3), utilizando-se LiAlH4.

OH OH OAc OH CeCl3, THF, 24h Ac2O OAc OH OAc F DAST CH2Cl2, -78ºC à 25º, 72h OAc F LiAlH4 0-20ºC, Et2O OH F

Reação 1

Reação 2

Reação 3

(1) (2) (2) (3) (3) (4)

Esquema 6: Rota de síntese utilizada para obtenção do FB.

O FE sofre isomerização conformacional por rotação das ligações C-C e C-O, que dá origem a cinco diferentes confôrmeros (Figura 28). Os confôrmeros do FE têm geometrias gauche (confôrmeros FE-1, FE-2 e FE-

3) ou anti (confôrmeros FE-4 e FE-5) em relação ao ângulo diedro F-C-C-O.

Uma vez que um dos confôrmeros gauche (FE-1) é bastante estável e responde aproximadamente por 88% da população total na fase gasosa, de acordo com cálculos em nível MP2/aug-cc-pVDZ (Tabela 7), o FE é um exemplo típico do bastante conhecido efeito gauche. Esses resultados são reproduzidos, usando-se outros níveis de teoria, como, por exemplo, utilizando-se funcionais com e sem correções de dispersão: B3LYP-D3/aug- cc-pVDZ, B3LYP/aug-cc-pVDZ e B97-D/aug-cc-pVDZ. Sobretudo, entre esses cálculos, o nível MP2/aug-cc-pVDZ forneceu o melhor desempenho, em comparação com o nível CCSD(T)/aug-cc-pVTZ//MP2/aug-cc-pVDZ (Tabelas C1 e C10 na Seção de Anexos C) e, portanto, foi utilizado nos cálculos subsequentes.

FE-1

FE-2

FE-3

FE-4

FE-5

Figura 28: Representações geométricas para os confôrmeros do FE obtidos em nível

B3LYP/aug-cc-pVDZ.

O confôrmero FE-1 apresenta o hidrogênio da hidroxila voltado para o flúor, dando origem à possibilidade de se formar uma LHI CF···HO e, portanto, auxiliaria na ocorrência do efeito gauche observado. Uma evidência experimental para a formação da LHI CF···HO, é a constante de acoplamento 1hJF,H. No entanto, nenhuma constante 1hJF,H pôde ser observada para o FE nos espectros experimentais de 1H e 19F em cicloexano-d12 e CD2Cl2, que pode tanto ser devido à não-formação de LHI CF···HO, à interação spin-spin ser muito fraca, com um valor de 1hJF,H imensurável, considerando-se a quantidade apreciável de FE-1 para o equilíbrio na fase gasosa. Assim, também foram obtidos espectros de infravermelho experimental em CCl4 para diferentes concentrações: 0,01 M, 0,03 M, 0,05 M e 0,1 M. Contudo, nenhuma banda de OH que poderia ser atribuída à uma LHI CF···HO foi encontrada nos espectros do FE. Bandas de OH livres (em 3622 cm-1) foram encontradas para todas as concentrações e bandas de OH associadas à LHs intermoleculares (~3500 cm-1) foram encontradas nos espectros de concentração 0,05 M e 0,1 M.

Tabela 7: Cálculos de energia livre de Gibbs (kcal mol-1), percentagens de população, momentos de dipolo µ (Debyes) e constantes de acoplamento J entre o átomo de F e o hidrogênio da hidroxila (Hz) para os confôrmeros do FE isolados e em acetonitrila (IEFPCM - Integral Equation Formalism of Polarizable Continuum Model) obtidos no nível teórico MP2/aug-cc-pVDZ. Constantes de acoplamento 1hJF,H (Hz) foram calculadas nos

níveis BHandH/EPR-III. Valores calculados no nível SOPPA(CCSD)/EPR-III são dados entre parênteses.

FE-1 FE-2 FE-3 FE-4 FE-5

∆G 0,00 1,78 2,27 2,16 1,92 Isolado %P 88,0 4,3 1,9 2,3 3,4 µ 1,8 3,2 3,4 2,1 1,8 JF,H -0,57 (-0,27) -1,12 (-1,23) 0,53 (0,42) -2,87 (-2,25) 3,66 (3,95)

FE-1 FE-2 FE-3 FE-4 FE-5

∆G 0,00 0,58 0,71 1,83 1,94

CH3CN %P 56,7 21,4 17,2 2,6 2,1

µ 2,06 3,87 4,03 2,23 2,05

JF,H -0,13 a -1,39 0,14 -3,12 3,66

Aplicando-se o método QTAIM (Figura 29), nenhum BCP foi encontrado entre o H(O) e os átomos de F, o que indica ausência de LHI. Aplicando-se o método NCI, uma interação fraca entre o átomo de F e o átomo H(O) é encontrada para o confôrmero FE-1 (Figura 30). Gráficos moleculares de NCI, para todos os confôrmeros, são apresentados na Figura C2 da Seção de Anexos C. Surpreendentemente, a interação em FE-1 é predita ser repulsiva por NCI, uma vez que o pico de RDG que tem valor positivo de sinal(λ2)ρ é mais próximo de zero do que o pico de RDG com valor negativo de sinal(λ2)ρ [pico positivo: sinal(λ2)ρ = 0,009 au e RDG = 0,449; pico negativo: sinal(λ2)ρ = -0,007 au e RDG = 0,559], ou seja, picos com valor negativo de sinal(λ2)ρ indicam contribuições atrativas para interações não-covalentes e picos com valores positivos de sinal(λ2)ρ indicam contribuições repulsivas (Figura 30b). De fato, observado-se a Figura 30a, verifica-se que a superfície de NCI tem cor predominantemente vermelha (contribuição repulsiva) e uma pequena parte de cor verde (contribuição atrativa). Contudo, é necessário cautela ao se interpretar o sinal do parâmetro λ2

utilizado pelo NCI em interações muito fracas, porque nestes casos o sinal pode depender do método de cálculo.217

FE-1

FE-2

FE-3

FE-4

FE-5

Figura 29: Gráficos moleculares obtidos para confôrmeros do FE pela QTAIM. Pontos

verdes representam BCPs.

Então, ambos os métodos QTAIM e NCI indicam que uma interação atrativa CF···HO não é formada para o FE. Esse resultado poderia ser o responsável pelo baixo valor calculado de 1hJFH para o confôrmero FE-1 desse composto (Tabela 7), o único confôrmero com uma geometria apropriada para formar uma LHI CF⋅⋅⋅HO no FE. Levando-se em conta a média das populações e valores de constantes de acoplamento 1hJFH de todos os confôrmeros do FE (Equações 1 e 2 na Seção 1.3.2 e Seção de Anexos C), o valor esperado seria de -0,51 Hz no nível BHandH/EPR-III. O maior valor dessa constante de acoplamento é observado para o confôrmero FE-5, que apresenta uma geometria em “W” das ligações F-C- C-O-H. Os confôrmeros do FE foram também otimizados utilizando-se o método IEFPCM com valores de constante dielétrica (ε) para uma molécula isolada (ε = 1,0) e acetonitrila (ε = 37,5), como mostrado na Tabela 7. A população do confôrmero FE-1 reduz de 88% na fase gasosa para 57% em acetonitrila, aumentado-se a população dos confôrmeros gauche FE-2 e FE-3. A população dos conformerôs trans FE-4 e FE-5, por outro lado, permanecem praticamente constantes.

Figura 30: a) Gráfico da superfície de RDG de valor constante obtido pelo método NCI

para o confôrmero FE-1. A figura foi obtida com um valor de RDG = 0,6 e faixa de cores azul-verde-vermelho variando de -0,02 à 0,02 ua. b) Gráfico de RDG versus sinal(λ2)ρ.

Energias relativas totais [∆E(T)], energias Naturais não-Lewis (hiperconjugação) [∆E(NL)] e energias Naturais da Estrutura de Lewis (estéricas/eletrostáticas) [∆E(L)] para cada confôrmero do FE obtido pela análise NBO são apresentados na Tabela 8. Ambos valores de ∆E(L) e E(NL) são maiores para os confôrmeros gauche 1-3, em comparação aos confôrmeros FE-4 e FE-5 (Tabela 8).

Tabela 8: Energias relativas totais [E(T)], energia do caso hipotético em que a

hiperconjugação é removida [∆E(L)] e energia de hiperconjugação [E(NL)], todas em

kcal mol-1, para os confôrmeros do FE isolados e em acetonitrila (IEFPCM). Cálculos em nível B3LYP/aug-cc-pVDZ.

FE-1 FE-2 FE-3 FE-4 FE-5

∆E(T) 0,00 1,89 2,33 2,28 2,13 ∆E(L) 7,55 7,70 9,96 0,95 0,00 ∆E(NL) 9,68 7,94 9,76 0,81 0,00 Isolado µ 1,5 2,9 3,0 1,7 1,9 σσσσCH→→→→σσσσ*CF 5,40 5,41 5,58 --- --- σσσσ*CF→→→→σσσσCH 1,16 1,03 1,00 --- --- σσσσCO→→→→σσσσ*CF --- --- --- 2,25 2,58 σσσσ*CF→→→→σσσσCO --- --- --- 1,98 1,85 ∆E(T) 0,00 0,50 0,57 1,77 2,05 ∆E(L) 6,93 4,11 3,46 0,00 1,04 ∆E(NL) 8,70 5,38 4,66 0,00 0,77 CH3CN µ 1,7 3,1 3,2 1,8 2,0 σσσσCH→→→→σσσσ*CF 5,63 5,88 5,72 --- --- σσσσ*CF→→→→σσσσCH 1,13 1,03 1,02 --- --- σσσσCO→→→→σσσσ*CF --- --- --- 2,29 2,68 σσσσ*CF→→→→σσσσCO --- --- --- 2,00 1,86

Hiperconjugação, particularmente a interação σCH→σ*CF (Figura 31), pode então explicar a maior estabilidade dos confôrmeros gauche em relação aos confôrmeros trans. Contudo, hiperconjugação não pode explicar a energia relativa entre os confôrmeros FE-1, FE-2 e FE-3, que são os mais importantes, uma vez que eles são os mais estáveis ambos na fase gasosa e em acetonitrila (Tabela 7).

Os valores de ∆E(L) mostrados na Tabela 8 sugerem que interações

estéricas/eletrostáticas são as mais importantes para se diferenciar as energias entre FE-1, FE-2 e FE-3. De fato, o confôrmero FE-3, que tem o maior valor de momento de dipolo (Tabela 8), é o mais estável em acetonitrila devido à estabilização de repulsões dipolares neste solvente polar, como indicado pela diminuição do valor de sua ∆E(L). O mesmo é verdade para o confôrmero FE-2, isto é, o decréscimo no valor de sua ∆E(T) é acompanhada de diminuição no valor de ∆E(L). Então, ambos teoria e experimento sugerem que hiperconjugação e repulsões dipolares juntos, e não LHI, determinam o comportamento conformacional do FE em solução.

FE-1

FE-2

FE-3

FE-4

FE-5

Figura 31: Representações das interações hiperconjugativas σCH → σ*CF (confôrmeros

FE-1, FE-2 e FE-3) e σCO → σ*CF (confôrmeros FE-4 e FE-5) obtidas no nível B3LYP/aug-

cc-pVDZ. Valores das superfícies utilizado foi de 0,04 ua.

O FE não é um caso isolado de ausência de formação de uma LHI CF···HO em uma situação em que se utilizando “inspeção química” poderia prever a sua formação.108,109 Caso o FE formasse uma LHI CF···HO, este deveria ser um anel de 5-membros, que é relativamente instável. Além disso, a distância CF···HO calculada para o FE é de 2,54 Å, que é maior que o valor limítrofe (2,20 Å) observado na literatura para formação de uma LHI CF···HO.222 Assim, o próximo passo seria estudar uma LHI CF···HO de 6- e 7-membros. O FP e o FB são os

exemplos mais simples de compostos alifáticos para se procurar por tal interação. Devido à maior complexidade conformacional, os confôrmeros do FP e do FB foram encontrados por uma varredura conformacional, utilizando-se o método Monte Carlo implementado no programa Spartan.228 O FP apresentou doze confôrmeros e o FB 38 confôrmeros com energia menor do que 10 kcal mol-1 (B3LYP/aug-cc-pVDZ), que foram subsequentemente otimizados no nível MP2/aug-cc-pVDZ (Representações geométricas de todos os confôrmeros e suas energias na Seção de Anexos C). Este método apresentou a melhor acurácia em comparação com o nível CCSD(T)/aug-cc-pVTZ//MP2/aug-cc-pVDZ (Tabela C10; Seção de Anexos C). Dos doze confôrmeros do FP, apenas o confôrmero FP-1 tem uma geometria adequada para formação de uma LHI CF···HO (Figura 32). De fato, aplicando-se a QTAIM, somente o confôrmero FP-1 forma uma LHI CF···HO, que é confirmada por cálculos de NCI. Perceba que agora o pico no gráfico de RDG na região negativa de sinal(λ2)ρ é maior do que o pico positivo de sinal(λ2)ρ (Figura 32c) e que a superfície azul (atrativa) é a que domina o gráfico molecular de NCI (Figura 32b)

a) b) c)

Figura 32: a) Gráfico molecular para o confôrmero FP-1 obtido pela QTAIM. b)

Superfícies de valor constante de RDG obtido pelo método NCI para o confôrmero FP-1.

c) Gráfico de RDG versus sinal(λ2)ρ.

O valor da constante de acoplamento 1hJF,H calculada para o confôrmero FP-1

no nível SOPPA(CCSD)/EPR-III é de -11,39 Hz e de -12,67 Hz no nível BHandH/EPR-III. Valores obtidos por SOPPA(CCSD)/EPR-III e BHandH/EPR-III estão em bom acordo (MAD; Mean Absolute Deviation = 0,29 Hz para todos os confôrmeros; Figura C4 na Seção de Anexos C). Contudo, a população conformacional de FP-1 é de apenas 14,0% considerando-se energias livres de

Gibbs (Tabela 9) e ainda menor em solução (veja abaixo). Caso sejam utilizados os valores calculados de 1hJF,H e população de todos os 12 confôrmeros do FP, segundo as Equações 1 e 2 (Seção 1.3.1 e Seção de Anexos C), o valor experimental deveria ser aproximadamente de -1 Hz. Este valor poderia ser ainda menor em solução (veja abaixo).

De fato, não foi observado uma constante de acoplamento 1hJF,H experimental para os espectros de 1H e 19F em solventes apolares como o cicloexano e CD2Cl2 (Espectros na Seção de Anexos C). Os espectros de infravermelho obtidos em CCl4 em diferentes concentrações (0,01 M, 0,03 M, 0,05 M e 0,1 M) apresentam apenas uma banda de OH livre em 3639 cm-1 e uma banda de OH associada à ligação de hidrogênio intermolecular em 3498 cm-1 para as soluções mais concentradas (Espectros na Seção de Anexos C). Um deslocamento para o vermelho da banda de OH livre muito menor é predito para o confôrmero FP-1 por cálculos teóricos em caso de formação de LHI. A banda de OH associada do confôrmero FP-1 apresenta número de onda calculado (B3LYP/aug-cc-pVDZ) de 3778 cm-1 em comparação com 3832 cm-1 do confôrmero FP-2, que tem alta população, mas não tem geometria adequada para formação de LHI; isto é, uma diferença ∆ν de apenas -54 cm-1

.

Vejamos agora o 4-fluorobutanol (FB). Os confôrmeros FB-1, FB-3 , FB-23 e

FB-36 têm geometrias apropriadas para a formação de LHIs CF⋅⋅⋅HO. O

confôrmero FB-1 forma a LHI CF⋅⋅⋅HO mais forte, uma vez que apresenta a menor distância CF⋅⋅⋅HO (1,92 Å), em comparação com os confôrmeros FB-3 (2,09 Å),

FB-23 (2,65 Å) e FB-36 (2,18 Å). Os resultados de QTAIM e NCI para os

confôrmeros FB-1 e FB-3 são mostrados na Figura 33. O valor da distância CF⋅⋅⋅HO no confôrmero FB-1 é incomumente pequeno, quando comparado com o valor limite de 2,20 Å observado para interações CF⋅⋅⋅HO descritos na literatura.222 Além disso, os valores de 1hJF,H calculados com o nível SOPPA(CCSD)/EPR-III diminuem na ordem FB-1 (-22,58 Hz) > 3 (-12,04 Hz) > FB-36 (-8,26) > FB-23 (0,12 Hz). Os valores obtidos pelo método BHandH/EPR-III são quantitativamente bastante similares aos do SOPPA(CCSD)/EPR-III, mas muito negativos para os confôrmeros do FB que formam LHIs (veja Figura C7 na Seção de Anexos C).

a) b) c)

d) e) f)

Figura 33: a) Gráfico molecular para o confôrmero FB-1 do FB obtido pela QTAIM. b)

Superfície de valor constante de RDG obtido pelo método NCI para o confôrmero FB-1. c) Gráfico de RDG versus sinal(λ2)ρ para o confôrmero FB-1. d) Gráfico molecular obtido pela QTAIM para o confôrmero FB-36. e) Superfície de valor constante de RDG obtido pelo método NCI para o confôrmero FB-36. f) Gráfico de RDG versus sinal(λ2)ρ para o confôrmero 36 do FB. As figuras de NCI foram obtidas com um valor de RDG = 0,6 e faixa de cores azul-verde-vermelho indo de -0,02 à 0,02 ua.

Baseando-se nas energias relativas ∆E sem inclusão de correções de energias livres de Gibbs ∆G, os confôrmeros FB-1 e FB-36, são as geometrias mais estáveis e são essencialmente isoenergéticas, com populações de 11,9% e 15,9%, respectivamente, considerando-se o composto isolado (∆E obtido no nível MP2/aug-cc-pVDZ, veja Tabela C6 na Seção de Anexos C). Por outro lado, os confôrmeros FB-3 e FB-23 têm população de apenas 0,3% e 2,7%, respectivamente, nessas mesmas condições. A inclusão de efeitos de entropia, no entanto, completamente inverte as populações relativas entre os confôrmeros “estendidos” (não formam LHIs) mais flexíveis, e os “fechados”, que são menos flexíveis (formam LHIs). Em termos de energias livres ∆G (Veja Tabela C7), o confôrmero “estendido” FB-38 é o mais estável, representando 17% da mistura conformacional, enquanto os confôrmeros FB-1 e FB-36, com uma geometria “fechada” e uma LHI CF⋅⋅⋅HO, apresentam populações de apenas 3,4% e 3,8%, respectivamente. Considerando-se as populações (∆G) e valores calculados de 1h

ser de apenas -1,08 Hz. De fato, não foi obtido nenhum 1hJF,H experimental para o

FB em cicloexano-d12 e em CD2Cl2 nos espectros de 1H e 19F. Além disso, nenhuma banda de OH associada à uma LHI CF···HO foi encontrada nos espectros de infravermelho, o que é consistente com os valores baixos de população calculadas para os confôrmeros que formam LHIs.

A fim de se sondar os efeitos do solvente, os confôrmeros do FP e FB foram otimizados em cicloexano (ε = 2,02) e CH2Cl2 (ε = 2,02), utilizando-se o método IEFPCM. As populações de todos os confôrmeros do FP são mostrados na Tabela 9 (veja a Seção de Anexos C para as populações do FB). Pode ser observado qualitativamente, que os confôrmeros do FP e do FB, que podem formar LHIs CF⋅⋅⋅HO, diminuem em população com acréscimo da constante dielétrica do meio; isto é, a população do confôrmero FP-1 diminui de 14% para a molécula isolada para 12,6% e 11,4% em cicloexano e CH2Cl2, respectivamente. De maneira similar, as populações dos confôrmeros FB-1 e FB-36 do diminuem de 3,4% e 3,8%, respectivamente, para os confôrmeros isolados, para 2,6% e 2,3% em cicloexano e 1,6% e 1,9% em CH2Cl2. Assim, pode-se concluir que LHIs CF⋅⋅⋅HO são importantes interações, que determinam as estabilidades conformacionais para as moléculas do FP e FB isoladas a 0 K, mas que essas são desfavorecidas por ambos efeitos de solvatação e entropia, ao ponto de elas não poderem ser observadas/detectadas em solução devido à uma diminuição das populações dos confôrmeros que formam LHIs em condições ambientes.

Tabela 9: Populações conformacionais e momentos de dipolo (debyes) dos confôrmeros

do FP (MP2/aug-cc-pVDZ) obtidos para a molécula isolada e utilizando-se o método de solvatação implícita IEFPCM com valores de constante dielétrica para o cicloexano e para o CH2Cl2. isolada Cicloexano CH2Cl2 %P (∆∆∆∆G) µ %P (∆∆∆∆G) µ %P (∆∆∆∆G) µ FP-1 14,0 3,4 12,6 3,8 11,4 4,2 FP-2 35,7 1,8 30,8 2,0 22,6 2,3 FP-3 13,9 1,4 12,5 1,5 9,9 1,6 FP-4 8,8 3,4 10,6 3,7 14,7 4,2 FP-5 7,3 3,6 8,0 3,9 8,1 4,3 FP-6 7,1 1,6 7,7 1,8 8,5 2,1 FP-7 4,2 2,2 5,5 2,3 6,8 2,5 FP-8 4,2 1,5 5,1 1,7 6,4 1,9 FP-9 2,8 3,4 3,9 3,7 6,1 4,1 FP-10 1,1 3,5 1,6 3,8 2,5 4,2 FP-11 0,8 1,7 1,4 1,9 2,3 2,2 FP-12 0,1 3,6 0,3 4,0 0,8 4,5

Conclusões para a Seção 3.3:

Contrário às suposições encontradas na literatura, o comportamento conformacional do FE não é governado por LHIs CF⋅⋅⋅HO. Ambos espectros experimentais de RMN de 1H e 19F e de infravermelho não mostram qualquer evidência de formação de LHI. Além disso, cálculos de QTAIM e NCI sugerem que o confôrmero FE-1 do FE, o mais estável em ambos ambientes ambientes apolares e polares, não forma uma LHI. Cálculos teóricos mostram que os mínimos globais do FP e do FB formam LHIs. No entanto, devido à baixa população desses confôrmeros em solução à temperatura ambiente, a sua detecção não foi bem sucedida até então: nenhuma constante de acoplamento 1h

JF,H e nenhuma banda de infravermelho referente à interação CF⋅⋅⋅HO pôde ser encontrada experimentalmente. A principal razão para a ausência de confôrmeros com LHIs indicada pelos resultados obtidos neste trabalho foi a baixa população dos confôrmeros menos flexíveis, que formam LHIs, quando efeitos de entropia são levados em conta. Tais LHIs poderiam se tornar detectáveis após introdução de partes estruturais que reduzissem o efeito de fatores entrópicos (por exemplo que envolvessem estruturas cíclicas229,230). Enfim, átomos de flúor podem partipar

de LHIs CF⋅⋅⋅HO moderadamente fortes formando anéis de 6- e 7-membros, mas não em anéis de 5-membros, como observado para o FE. É esperado que os resultados deste trabalho possam ajudar no entendimento da importância de LHIs CF⋅⋅⋅HO, também para sistemas moleculares mais complexos do que os aqui estudados.

Os resultados deste trabalho foram publicados no periódico Phys. Chem. Chem. Phys, ano 2014, volume 16, páginas 19212-19217.