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de 2006).

Em relação aos Bairros Córrego da Onça e Ponte Alta, a reclamação mais mencionada em relação à infra-estrutura nos dois bairros foi a péssima condição das estradas (27,3% e 27,3%, respectivamente). As estradas estão com muitos buracos, sendo que em alguns trechos o tráfego torna-se perigoso, principalmente próximo às pontes. A situação da Estrada Córrego da Onça é muito ruim, prejudicando o trânsito em épocas de chuva, devido aos inúmeros sulcos na estrada. A construção de bacias de contenção nas margens da estrada, construídas pelo PEMBH, foi importante por dois motivos: 1) por evitar a formação de sulcos e erosão na estrada; 2) por ter a função de reservatório de água para o gado. Nesse bairro, os

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O Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas do Estado de São Paulo iniciou, no ano de 2005, a sua implantação do Programa no Córrego do Cedrinho, no Bairro Aeroporto.

moradores, ao invés de solicitarem ao poder público o aplainamento e a compactação com a utilização do trator, procuram fazer os reparos necessários.

Como a escola do Bairro Ponte Alta foi desativada, o transporte escolar é diário e é o único meio utilizado pelos estudantes para o deslocamento até a cidade, já que não há transporte coletivo no bairro. Aliás, a ausência de transporte coletivo no Bairro Ponte Alta é apresentada como reclamação por 20,0% dos pesquisados, seguido pela falta de segurança e de equipamentos e serviços urbanos (telefone público e coleta de lixo), correspondendo a 20,0% do total dos pesquisados. Com exceção das estradas, as demais reclamações e sugestões não foram encaminhadas ao poder público local, pois os moradores pesquisados alegam o menosprezo e a burocracia no encaminhamento das demandas.

A avaliação dos pesquisados quanto às mudanças na infra-estrutura dos Bairros Córrego da Onça e Ponte Alta é satisfatória, pois 81,8% e 70,0%, respectivamente, disseram que as mudanças foram boas, com relação à presença da energia elétrica, do transporte escolar, da implantação das linhas de telefone residenciais e da pavimentação da estrada do presídio, que percorre um pequeno trecho do Bairro Córrego da Onça.

É preciso mencionar que a construção do Centro de Ressocialização de Presidente Prudente (chamado de Presídio de Montalvão) é vista com “bons olhos” pelos produtores do Córrego da Onça, principalmente por aqueles que residem na estrada do presídio, pois tiveram a via pavimentada, tendo acesso ao transporte coletivo em três horários diferentes do dia, além de se sentirem mais seguros com a presença constante de policiais. A única reclamação é o mau cheiro exalado pelo presídio e o despejo de detritos no córrego. Para 9,1% dos pesquisados no Córrego da Onça, as mudanças, em termos de infra-estrutura, foram negativas, tendo como maior motivo a destruição das matas e a poluição dos córregos. Para 30,0% dos pesquisados no Ponte Alta, a falta de transporte coletivo e a péssima condição das pontes foram apontados como aspectos ruins presentes no bairro.

No Bairro Gramado, as famílias pesquisadas apontaram como o problema mais grave do bairro as péssimas condições das estradas vicinais, que estão sem pavimentação (62,5%). As péssimas condições das estradas estão associadas ao mau estado de conservação das pontes sobre o Córrego Gramado e outros cursos d’água perenes. Segundo relatos dos produtores pesquisados, para o poder público municipal, a verba já foi destinada para a pavimentação da estrada principal (Estrada do Gramado) durante a gestão de 1996-2000, mas a obra só consta no projeto.

A falta de segurança e a presença de pessoas estranhas próximas às propriedades rurais foram apontadas por 25,0% dos entrevistados como aspectos negativos do

bairro. Nos últimos quinze (15) anos, houve a implantação de bairros urbanos (Sumaré, Parque Alvorada, Parque José Rotta, Chácara Mariza etc.) destinados à classe média baixa em direção às áreas rurais circundantes, como o conjunto de chácaras Imoplan, Colina do Sol e Gramado. O crescimento da cidade trouxe não apenas a falta de segurança aos moradores do Bairro Gramado, como também a poluição dos córregos e a deposição de entulhos às margens do córrego. Para 25,0% dos pesquisados não há nenhuma reclamação em relação à infra- estrutura ou mesmo algum problema existente no bairro, afirmando que, atualmente, as condições melhoraram muito, pois há trinta anos atrás o bairro não contava com energia elétrica e nem era servido com transporte escolar.

O panorama da infra-estrutura dos bairros rurais pesquisados denota dois aspectos: 1) Os bairros rurais localizados na área sul, próximos à malha urbana, apresentam como principal reclamação a falta de segurança, exceto as propriedades localizadas nas proximidades dos condomínios fechados, pois são servidas de transporte coletivo, rodovias pavimentadas, coleta coletiva de lixo, enfim, maior acessibilidade à cidade e aos equipamentos urbanos; 2) Diferentemente do que ocorre nos bairros localizados na área norte e nordeste, que não são atendidos por transporte coletivo, as principais vias de acesso são estradas vicinais em péssimas condições e onde não há coleta coletiva de lixo. Há, portanto, duas realidades distintas e que, conseqüentemente, estarão relacionadas à estrutura produtiva e às atividades desenvolvidas.

A análise da estrutura produtiva e econômica é indispensável para se compreender o desenvolvimento da pluriatividade e a busca de rendas sem vínculos agrícolas. Considerar as variáveis endógenas e exógenas é importante nesse contexto, ou seja, não é apenas a unidade interna (tamanho da família, faixa etária, tamanho da unidade etc.), mas também a relação estabelecida com os elementos externos (mercado de trabalho e consumidor, infra-estrutura, poder local etc.).

As pastagens são predominantes na paisagem dos bairros, principalmente no Aeroporto e no Cedro. A tabela 15 apresenta as informações relativas ao uso da terra, como a pecuária de leite e de corte, as lavouras temporárias e permanentes, o cultivo de hortas, a criação de pequenos animais e a ociosidade de terras. Os bairros rurais pesquisados mostram diferenças e semelhanças na estrutura produtiva e econômica, demonstrando a importância de se verificar a realidade socioeconômica de cada unidade.

A pastagem prevalece na paisagem, o “verde” das lavouras desenvolvidas até os anos 1960 foi substituído pelo “verde” das pastagens plantadas. A pecuária de caráter extensivo predomina no Município de Presidente Prudente a partir dos anos de 1970, por

causa tanto da retração das áreas dedicadas às plantas oleaginosas como da implantação de frigoríficos no próprio município e na região.

A substituição das lavouras pela pastagem está no cerne da especulação imobiliária e na falta de perspectiva em investir na agricultura. Como reflete Schneider (2003), a relação agricultura x pluriatividade não se apresenta de maneira geral e homogênea em todas as localidades, mas assume características específicas. É por isso que os estudos de caso são importantes para a compreensão e a apreensão dos elementos indutores e motivadores da pluriatividade e das atividades não-agrícolas.

Tabela 15 - Utilização das terras nas propriedades pesquisadas nos bairros rurais Utilização das terras Aeroporto* Cedro* Córrego da

Onça* Ponte Alta* Gramado* N % N % N % N % N % Lavouras temporárias 16 61,5 03 42,8 11 100,0 09 90,0 10 62,5 Lavouras permanentes 10 38,5 01 14,3 06 54,5 07 70,0 05 31,3 Pecuária leiteira 08 30,8 06 85,7 05 45,5 06 60,0 09 56,3 Pecuária de corte 03 11,5 04 57,1 06 54,5 05 50,0 07 43,8 Cultivo de hortas 16 61,5 05 71,4 08 72,7 05 50,0 00 31,3 Criação de animais 16 61,5 06 85,7 03 27,3 09 90,0 09 56,3 Área de Preservação Permanente 00 0,0 0,0 00 02 18,2 00 0,0 00 0,0 Terras ociosas 07 26,9 01 14,3 00 0,0 01 10,0 01 6,2

Fonte: Pesquisa de Campo (Outubro de 2005 a Março de 2006)

* múltiplas respostas: base de cálculo – Aeroporto (26 propriedades); Cedro (07 propriedades); Córrego da Onça (11 propriedades); Ponte Alta (10 propriedades) e Gramado (16 propriedades).

Para facilitar a compreensão sobre a estrutura produtiva dos bairros rurais pesquisados e as possíveis articulações com as demais variáveis, buscar-se-á fazer uma análise geral, mas sem se desvincular das especificidades de cada bairro estudado.

Na tabela 15 é possível constatar que a pecuária leiteira apresenta-se expressiva, em termos do número de propriedades pesquisadas, em três bairros rurais, representando 85,7% do total no Bairro Cedro, 60,0% no Ponte Alta e 56,3% no Ponte Alta.

O leite obtido pelos produtores do Cedro tem destinações diferentes, pois enquanto 28,6 % utilizam o produto apenas para o autoconsumo e para ofertar aos parentes e amigos, 28,6% confeccionam queijos artesanais e vendem, esporadicamente, mediante encomenda. O leite comercializado esporadicamente é vendido a R$ 1,00 o litro. Em 28,6%, o leite in natura é destinado ao laticínio COOLVAP (Cooperativa de Leite do Vale do Paranapanema) e um outro cujo nome não foi relatado, localizado no Município de Álvares

Machado-SP. O caminhão da Cooperativa busca o produto na parte da manhã em latões de alumínio. Em nenhuma propriedade é utilizada a ordenha mecânica, embora a Vigilância Sanitária exija o resfriamento do leite. A baixa produtividade do rebanho e a falta de recursos para investir em equipamentos são elementos que dificultam a adoção de tanques de resfriamento e a ordenha mecânica. A renda bruta obtida pelas propriedades (02) que destinam o leite para a cooperativa situa-se em torno de R$ 3.000,00 /mês.

Os queijos e os doces de leite fabricados nas propriedades são comercializados nos Municípios de Presidente Prudente e Pirapozinho. Numa das visitas realizadas a uma propriedade que agrega valor ao leite in natura, através da fabricação de queijos, constatou-se que são fabricados cerca de 50 (dez) queijos por mês, sendo comercializados a R$ 6,00 cada unidade. Cabe sublinhar que os queijos são fabricados pela esposa do produtor, que fica responsável por todas as etapas do processo produtivo, desde a preparação do coalho até a embalagem. A comercialização e a parte financeira ficam sob tutela do esposo, que se dirige aos compradores e registra os pedidos e encomendas. A renda aproximada da venda dos queijos artesanais equivale a R$ 300,00/ mês.

Nenhuma propriedade no Córrego da Onça comercializa o leite e apenas 9,1% das propriedades confeccionam queijos artesanais para o autoconsumo e parentes. Um produtor rural levantou a possibilidade da implantação de um mini-laticínio no Bairro Montalvão. Houve reuniões entre os moradores dos bairros vizinhos com o objetivo de verificar a possibilidade de comprar o leite dos produtores, mesmo que seja 2 (dois) litros por dia. Isso seria vantajoso para os produtores e para o proprietário do laticínio, tendo em vista que os produtores teriam uma renda mensal (mesmo baixa) com o leite e o proprietário do laticínio não precisaria buscar a matéria-prima em propriedades distantes, amenizando os custos com o transporte. O funcionamento desse laticínio, destinado à fabricação de queijos e manteiga, está na dependência da autorização final da Vigilância Sanitária.

No Ponte Alta, a comercialização do leite ocorre em 40,0% das propriedades pesquisadas, sendo que em 20,0% delas o leite é comprado pela Coolvap e em 20,0% é utilizado apenas para o autoconsumo. A renda obtida com a pecuária leiteira, segundo os produtores, é de aproximadamente R$ 1.000 por mês.

No caso do Bairro Gramado, 6,2% das propriedades comercializam o leite in natura para o Laticínio Líder (6 litros/dia – R$0,36 litro de leite) e outros vendem a granel esporadicamente. O leite destinado ao laticínio é armazenado em galões de alumínio e levado pelo caminhão da empresa. Não houve nenhum caso de agregação de valor ao leite (queijo,

requeijão ou doces) para a comercialização, apenas para uso interno da família. A renda obtida com o leite é baixa, cerca de R$ 250,00 por mês.

Em 30,8% das propriedades visitadas no Bairro Aeroporto há o desenvolvimento da pecuária leiteira, mas apenas 7,7 % comercializam o leite in natura. A maior parcela (23,6 %) destina apenas ao autoconsumo ou à venda a granel, sendo realizada por meio da encomenda de vizinhos e terceiros. Os produtores que comercializam o leite o vendem a R$ 0,40 o litro para a Cooperativa Vale do Paranapanema (Coolvap), e a R$ 1,00 o litro a granel. A renda obtida com a venda do leite para a cooperativa está entre R$ 1.000,00 e R$ 1.500,00 /mês.

O gado bovino serve como uma forma de segurança “financeira”, ou seja, no caso de ocorrer uma adversidade climática ou econômica, os produtores recorrem à venda de algumas cabeças.

Foto 17 – Pecuária leiteira no Bairro Cedro. Autor: