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A proliferação da segunda residência e dos condomínios residenciais localizados fora do meio urbano configura uma das características do espaço periurbano. No caso do bairro em apreço, a paisagem é dominada pelas pastagens, por estabelecimentos relacionados ao lazer (pesque-pague - ver foto 06 - e poucas chácaras de lazer), por madeireira, por cerâmica e, sobretudo, pela implantação de 2 (dois) condomínios fechados e pela construção de uma unidade da UNIESP (foto 07).

2.4.2 PORÇÃO NORTE: Bairros Córrego da Onça e Ponte Alta

Na área norte do Município de Presidente Prudente há loteamentos populares destinados à classe baixa70, construídos, em sua maioria, pela ação do poder público municipal. Na área sul, por sua vez, as propriedades apresentam uma valorização superior àquelas localizadas na porção norte. Isso leva a um assédio maior para a aquisição de propriedades situadas nos Bairros Aeroporto e Cedro.

No que concerne à diferença entre os bairros rurais situados nas porções sul e norte, Guirro (2003) observa que:

A especulação imobiliária em Presidente Prudente é muito intensa, principalmente em se tratando da presença das empresas que buscam implementar novos loteamentos e condomínios fechados ou não. Quem se apresentou para comprar são empresas ligadas ao ramo da construção civil que buscam novas áreas para a implementação de novos bairros e conjuntos residenciais de alto padrão, como também de padrão popular, através do apoio do poder público municipal, ou diretamente pelos órgãos públicos constituídos. Os mais assediados para venderem suas propriedades, estão localizados na região sul/sudoeste do município. É nesta região que se encontram os principais investimentos ligados a pluriatividade do município (grifo nosso).

Os Bairros Córrego da Onça e Ponte Alta têm como referência comum a presença dos córregos com a mesma nomenclatura. Os moradores associam o lugar com um elemento significativo, que, no caso, são os próprios córregos.

A constituição dos Bairros Córrego da Onça e Ponte Alta está relacionada à própria ocupação no início dos anos 1920, com a vinda de famílias de origem italiana e japonesa, e de portugueses. O surgimento dos bairros iniciou-se com o retalhamento a partir da Fazenda Montalvão do Coronel Marcondes, que foi dividida em vários tamanhos, variando entre 2 e 50 alqueires. O pagamento pela propriedade era realizado em parcelas e a escritura era concedida após a quitação da dívida.

Segundo relato de um descendente de pioneiro da família Valera, o pai, vindo de Minas Gerais, chegou ao Córrego da Onça no ano de 1927, montado a cavalo, para reconhecer a área adquirida e desbravar a mata. A maioria das propriedades adquiridas no bairro, neste período, tinha como finalidade o cultivo do café, considerado a principal fonte de riqueza.

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Morada do Sol (Antigo Km 7), Parque Alexandrina, Augusto de Paula, Brasil Novo, Humberto Salvador e Francisco Galindo.

O Córrego da Onça, situado no extremo oeste do bairro com a mesma designação, constitui-se no elemento limítrofe entre os Bairros Ponte Alta e Córrego da Onça. À leste, a referência é o Córrego da Anta, que faz limite entre o Bairro KM 6 (Quilômetro seis) e o Córrego da Onça; a Estrada Municipal PSP-440 e a PSP-449 são os limítrofes no sentido norte e sul, respectivamente (Mapa 05).

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proximidade física e social; outros chamam de Bairro Montalvão, por causa da curta distância entre o bairro e o distrito de Montalvão71, e também porque o bairro é resultado do retalhamento da Fazenda Montalvão. Recentemente, algumas pessoas têm se referido ao bairro como Presídio, pela implantação nos anos de 1990 do Centro de Ressocialização de Presidente Prudente.

São interessantes os relatos de moradores antigos sobre o porquê do nome Bairro Córrego da Onça. Segundo os moradores, antigamente havia muita onça, pois o bairro era “tomado” por matas fechadas e, por isso, era comum a presença de animais silvestres. Mesmo sem ter visto nenhuma onça, alguns moradores afirmam que tinham receio de encontrá-la. Como no mundo rural, a história não é gravada ou escrita, a continuidade e a preservação da memória ocorre pelas histórias orais contadas e repassadas de pai para filhos.

O Bairro Ponte Alta é conhecido também como Bairro Rural Jabaquara, situando-se entre os Bairros Córrego da Onça e Primeiro de Maio (localizado no Município de Álvares Machado). O Córrego do Limoeiro à oeste estabelece o limite entre o bairro e o Município de Álvares Machado; o Córrego da Onça estabelece o limite tanto à leste como ao sul com o Bairro Córrego da Onça; no sentido norte, o córrego Ponte Alta situa-se como elemento limítrofe entre o Ponte Alta e o Bairro Km 6 (Mapa 06).

Os bairros localizados na porção norte têm como principais vias de acesso a Rodovia Raimundo Maiolini, a Estrada do Presídio e as estradas vicinais sem pavimentação. Ao longo dessas estradas encontram-se poucos estabelecimentos de caráter urbano, como ocorre nas vias de acesso situados nos Bairros Aeroporto e Cedro (zona sul). A maior parte das propriedades rurais situadas nos Bairros Córrego da Onça e Ponte Alta é marcada pelos cultivos de horticultura, de frutas (manga, caqui, acerola, pêra) e pela pecuária mista.

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O Município de Presidente Prudente abarca o distrito-sede e os distritos de Montalvão, Ameliópolis, Eneida e Floresta do Sul.

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A denominação Ponte Alta surgiu a partir da existência de uma ponte muito alta construída para facilitar o acesso dos moradores entre os bairros rurais (Córrego da Onça, Primeiro de Maio, Montalvão e Km 6). Como retrata Fernandes (1972), o nome dos bairros rurais pode estar associado a elementos físicos (córregos, rios, morros), ao sobrenome de famílias antigas, a presença de indústrias etc.

Em outras palavras, a nomenclatura do bairro rural não é imposta, em sua maioria, por agentes externos, mas construída a partir de uma identidade com o lugar. O Bairro Ponte Alta tem, portanto, seu nome vinculado a um elemento construído que foi muito importante, isto é, a ponte. E mesmo com a destruição da ponte, por razões desconhecidas, o bairro continua com essa designação.

O bairro localiza-se de 04 a 12 quilômetros da malha urbana do Município de Presidente Prudente, ou seja, da Rodovia Raimundo Maiolini até o núcleo do bairro é necessário percorrer, aproximadamente, 10 quilômetros pela estrada sem pavimentação, além da presença de quatro pontes sobre os Córregos da Onça, Ponte Alta e Limoeiro. Não há acesso ao transporte coletivo na estrada vicinal. Para utilizar esse tipo de transporte é necessário percorrer cerca de 03 quilômetros em direção ao Bairro Primeiro de Maio para se ter acesso ao ônibus da linha intermunicipal (Presidente Prudente-Álvares Machado).

A presença de terras altas e o acesso aos cursos d’água são dois aspectos encontrados no bairro e foram critérios estabelecidos pelo Coronel Marcondes para as subdivisões das propriedades oriundas da Fazenda Montalvão. Esses critérios foram estipulados para favorecer o cultivo do café e o pastoreio.

O processo de formação dos bairros rurais localizados na porção norte não foge às condições impostas no povoamento do município, ou seja, terras com preços facilitados e solos com matas virgens para o cultivo do café.

Segundo os moradores mais antigos do bairro, era preciso desbravar a mata fechada, “abrir picadas e abrir roça”. Diferentemente do Coronel Goulart, que recomendava aos compradores a não ociosidade da terra e sim o cultivo de cereais e do café, o Coronel Marcondes não estabelecia tal critério.

Os primeiros habitantes dos Bairros Córrego da Onça e Ponte Alta eram ex-colonos das áreas de ocupação antiga (Limeira, Tambaú etc), além de imigrantes japoneses e italianos e migrantes mineiros e paulistas. As famílias Valera, Cremonezzi, Rodrigues, Mundaeli, Carrion, Trombini, Eimori, Yamada, Tateishi, Yararra, Guilherme, Managoni e Zaupa foram mencionadas como pioneiras no bairro. Com exceção dos Rodrigues, Mundaeli e Zaupa, os demais membros das outras famílias permanecem

residindo no bairro, denotando a forte presença da transmissão hereditária como forma de acesso à terra.

Em entrevista com filhos de pioneiros do Bairro Córrego da Onça, constatou-se que as propriedades rurais variavam entre 10 e 30 alqueires, sendo que o senhor Manoel Rodrigues era um dos maiores detentores de terras no bairro, não sendo possível obter informações sobre o quanto de área possuía.

A família Eimori representa a permanência e a busca constante de novas estratégias de reprodução social, como a diversificação da produção agrícola. Os irmãos Takatero e Masataka Eimori vieram do Japão, adquirindo cada um 10 alqueires no bairro. Aos poucos eles foram comprando mais terras de vizinhos, tanto áreas contíguas como descontínuas à primeira propriedade. Atualmente são fruticultores e abarcam juntos 100 hectares (uma propriedade tem 60 e a outra 40 hectares), com cultivo de manga e limão, sendo que uma parte da propriedade é arrendada para a criação de gado.

No Córrego da Onça permanecem os herdeiros da família pioneira Cremonezzi. Segundo relatos dos irmãos Cremonezzi, o avô Antônio Cremonezzi chegou nessa área em 1927, vindo da Itália. A princípio, foram comprados 10 alqueires (24,2 hectares) para o cultivo do café. Após o seu falecimento, o herdeiro direto foi o filho João Cremonezzi, pai dos atuais moradores do bairro.

A partir desses 10 alqueires, o Senhor João foi adquirindo mais áreas contínuas e descontínuas, destinando para cada filho uma propriedade. Assim, com o seu falecimento, cada um dos 13 filhos herdou uma propriedade localizada no Bairro Córrego da Onça, Bairro Montalvão ou no Km 6. Atualmente, apenas os filhos homens permaneceram como produtores rurais; no caso das filhas, algumas venderam uma parte da propriedade aos irmãos e outras continuam com a propriedade, mas utilizam como segunda residência e patrimônio fundiário, não desenvolvendo atividade produtiva.

No final dos anos de 1930, houve a instalação de uma colônia japonesa formada pelas famílias Eimori, Yararra, Yoshio, Yamada e Tateishi, localizada entre o Bairro Córrego da Onça e o Distrito de Montalvão. Esta relação estabelecida pelo fator étnico-cultural fortalecia as relações de vizinhança e a manutenção das atividades tradicionais, como as festas periódicas organizadas pela comunidade, a realização das reuniões e cultos budistas, a prática do beisebol e até o funcionamento de uma escola japonesa no bairro. As professoras eram contratadas para lecionar em japonês e todas as despesas eram custeadas pela comunidade.

A escola foi demolida e há poucas informações sobre ela e a constituição dessa colônia japonesa. A desativação e a demolição da escola estão relacionadas à saída dos filhos dos produtores rurais em direção à cidade, decorrente da redução da produção agrícola, do falecimento dos pais e da não continuidade dos filhos na agricultura.

A família Guazzi reside no Bairro Ponte Alta desde 1935, com a chegada do pioneiro Alfredo Guazzi, oriundo de Regente Feijó. Alfredo Guazzi comprou 20 alqueires na Fazenda Montalvão (Coronel Marcondes) para o cultivo, inicialmente, do café. Com o seu falecimento, o filho Antônio Guazzi herdou a propriedade e continuou nas atividades agrícolas até o seu falecimento. A propriedade, originalmente de 20 alqueires, será desmembrada em 6 partes de, aproximadamente, 3,5 alqueires para cada herdeiro.

Embora tenha ocorrido uma saída expressiva de tais categorias de produtores rurais (camaradas, parceiros, meeiros) e o falecimento dos patriarcas, as famílias proprietárias permanecem no Bairro Ponte Alta: Carrion, Carnelose, Guazzi, Pelloso, Cremonezzi, Santos Amaro e Santos. A existência de muitas famílias próximas, física e socialmente, levou os moradores do bairro a denominá-lo de “colônia”, pela cooperação existente entre os vizinhos e pela existência de elementos de coesão social comum, como a etnia, a religião, os costumes etc. É importante esclarecer que colônias são agrupamentos de famílias com a existência de elementos culturais fortes, como a língua, a religião, os hábitos alimentares e os costumes.

A organização espacial dos bairros rurais é dispersa e as casas estão localizadas próximas às estradas, além de apresentarem um relevo suavemente convexo, com colinas amplas. O Bairro Ponte Alta se enquadra no exemplo retratado por Muller (1966), com a presença de um núcleo (área core) e a periferia. Como no Bairro Córrego da Onça não há um núcleo, seus moradores utilizavam com mais freqüência o centro do Bairro Ponte Alta, onde funcionou entre 1967 e 1998, quando foi desativada, uma escola mista construída de madeira (diferentes séries numa mesma sala de aula). A capela, a venda, o campo de bocha, o campo de futebol e o salão de festas ainda permanecem e são utilizados de forma comunitária.

Ao redor destes equipamentos (escola, capela, campo de bocha e futebol, venda e salão) no Ponte Alta, estão presentes três casas pertencentes à família Carrion; aliás, o núcleo do bairro está nas terras do senhor Terue Carrion. A família Carrion, constituída de descendentes de espanhóis, chegou ao bairro nos anos 1930, adquirindo terras através da compra da família do Senhor Manoel Rodrigues.

O café era o principal produto cultivado nos bairros entre 1930 e 1940, cujas terras altas, solos virgens e presença de cursos d’água, favoreceram o seu cultivo. A mão-de-obra familiar era insuficiente nas fases de colheita, recorrendo-se à troca de dias com os vizinhos e à contratação de diaristas. A presença de parceiros e camaradas foi expressiva no bairro, inclusive o número de casas era maior do que existe atualmente. Como no espaço rural é difícil dissociar trabalho e lazer, no final de cada empreitada (colheita do café, por exemplo) era servida, pelo proprietário, uma farta mesa de pães, bolos, doces, vinho e aguardente como forma de agradecer e comemorar a colheita.

As atividades lúdico-religiosas (quermesses, novenas e terços) eram constantes devido à presença de um número maior de famílias residentes, de relações de parentesco e um maior envolvimento dos vizinhos.

Embora o café tenha predominado na paisagem dos bairros até final de 1940, o feijão, a mandioca, o milho, o arroz e as hortaliças eram cultivados para o autoconsumo, sendo comercializado apenas o excedente. As plantas oleaginosas, como o algodão e o amendoim, no início da década de 1950, geraram vantagens econômicas aos produtores rurais, pois toda a produção era comprada pelas máquinas de beneficiamento, além de não exigirem tanto o uso de insumos químicos. Além disso, o algodão permitia renda e trabalho para a família, utilizando-se na fase de colheita a contratação de mão-de- obra externa à propriedade. Para a colheita do algodão eram contratadas cerca de 30 pessoas por propriedade, trazidas de caminhão da cidade. No final dos anos 1960, a produção das oleaginosas sofreu uma retração, restando como alternativa aos produtores rurais substituí-la pelo feijão, pela batata inglesa, pelas frutas (manga, uva, banana, caqui) e pelas hortaliças.

No início da década de 1970, a produção de frutas como manga, caqui, banana, maçã e limão começou a se destacar nos bairros, sendo realizada, principalmente, pelos descendentes japoneses.

O Plano Real (1994) permitiu vantagens aos produtores rurais, sobretudo àqueles que cultivavam feijão, batata-doce e hortaliças. Mas, o período “de ouro” foi curtíssimo, encerrando-se em 1999 com a superprodução de alguns produtos, como a batata- doce, a concorrência com outras áreas produtoras no país e a entrada cada vez maior das importações de alimentos.

Houve o abandono da agricultura voltada ao mercado, sobretudo no final dos anos de 1990, mas foi mantida uma produção agrícola direcionada ao autoconsumo e às vendas esporádicas, principalmente os produtores mais idosos e sem herdeiros para continuar

a atividade agrícola. Atualmente, a paisagem é tomada pelas pastagens, pequenas hortas e poucas lavouras de batata-doce, feijão e cana-de-açúcar.

A pecuária mista, a horticultura (verduras e legumes), o cultivo de mandioca, batata-doce, feijão, cana-de-açúcar e as frutas como manga e banana-maçã compõem a paisagem do bairro. Não se constatou a existência de nenhuma chácara de lazer ou segunda residência e estabelecimentos não-agrícolas, em virtude da permanência das famílias pioneiras no bairro.

2.4.3 PORÇÃO NORDESTE: Bairro Gramado

O Bairro Gramado situa-se na porção nordeste do referido município, abarcando em seu domínio territorial os Córregos Mandaguari e Gramado, que perfazem os limites leste e oeste, respectivamente (mapa 07). A estrada municipal do Gramado estabelece ao sul a divisão entre o Bairro Colina do Sol e Gramado, e o Rio Mandaguari72 à norte estabelece o limite entre o Bairro União e Gramado. Cabe relatar que a delimitação do bairro baseou-se nas informações obtidas junto aos moradores, pois os limites estabelecidos no setor censitário do IBGE apresentavam divergências daqueles traçados pelos moradores.

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Segundo relato de uma moradora de 67 (sessenta e sete) anos, o Rio Mandaguari era o principal manancial que abastecia o Município de Presidente Prudente. Anos atrás, existia o reservatório da Sabesp nas

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As principais vias de acesso ao bairro são a Rodovia Ângelo Rena, implantada em 1998 para ligar os Municípios de Presidente Prudente e Regente Feijó, e as estradas vicinais sem pavimentação do Gramado (foto 08) e do Imoplan. Ao percorrer o bairro, depara-se com muitas pontes que estão em péssimo estado de conservação.

Foto 08 – Estrada do Gramado. Autor: Erika