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1.5 A pluriatividade e os elementos metodológicos: unidade de análise, escala de análise e

1.5.3 Variáveis metodológicas: renda e atividade

O terceiro aspecto em relação ao caráter operacional a ser tratado refere-se às variáveis metodológicas adotadas neste trabalho, como os tipos de renda e atividades. A preocupação em distingui-las se justifica pelos equívocos e pelas associações errôneas que têm sido observados em trabalhos que abordam as transformações estruturais nas relações de trabalho no espaço rural.

As fontes de renda das famílias rurais são múltiplas, abarcando desde a renda agrícola, a renda não-agrícola, a renda de transferência social, a renda de outras formas de trabalho até outras fontes de renda (CONTERATO; SCHNEIDER, 2005).

A obtenção de renda não está necessariamente articulada a uma atividade ou um emprego ou ocupação desenvolvida. A aposentadoria, o aluguel de chácaras ou casas e os programas assistenciais do Estado são exemplos de fontes de renda que não dependem diretamente da inserção em uma determinada atividade produtiva.

Considera-se pertinente abarcar as fontes de renda e as atividades exercidas pelos membros das famílias como elementos operacionais na análise da pluriatividade dos grupos familiares residentes nos bairros rurais pesquisados no Município de Presidente Prudente, em decorrência da presença significativa de atividades agrícolas e não-agrícolas e a multiplicidade de rendas existentes entre as famílias rurais.

Um das dificuldades ao adotar a renda como variável metodológica refere-se à falta de informações precisas coletadas junto aos residentes rurais, pois muitos omitem os

valores reais. Schneider (2003), por sua vez, optou por adotar as atividades exercidas pelos agricultores e não as rendas, porque o agricultor, ao ser questionado sobre a renda agrícola, responde o valor líquido, ou seja, contabiliza esse tipo de renda depois de ter realizado os pagamentos e descontos, isto é, a sobra. Para contornar o problema, o autor buscou identificar a origem das rendas e não dar ênfase no valor mercantil destas.

As fontes de renda das famílias rurais são múltiplas (SCHNEIDER, 2003; CONTERATO; SCHNEIDER, 2005) e podem ser classificadas em 5 (cinco) tipos:

 Renda agrícola: são oriundas de atividades relacionadas diretamente à agricultura e à pecuária (atividades agropecuárias) e também aquelas geradas a partir do processamento de determinado produto, com a agregação de valor ao produto in natura (atividade para-agrícola);

 Renda não-agrícola: provém das atividades não-agrícolas tanto como empregador, empregado ou conta-própria. Os serviços domésticos, não- domésticos, o comércio, as repartições públicas e os serviços gerais são exemplos desse tipo de atividade;

 Outras rendas de trabalho: a origem está sustentada no desenvolvimento de atividades agrícolas, como operadores agrícolas, na prestação de serviços agrícolas, no trabalho de feirante ou no comércio da própria produção em feiras e outros locais;

 Rendas de outras fontes: oriunda de aluguéis de casa e maquinário, juros e aplicações bancárias, arrendamentos e doações;

 Rendas de transferências sociais: decorrente de aposentadorias, pensões e programas assistenciais do governo, como a bolsa-escola, vale-gás etc.

É importante distinguir os tipos de renda para identificar quais são os fatores causais da expansão da pluriatividade e das atividades não-agrícolas. Além disso, se permite cotejar os tipos de pluriatividade predominante e, sobretudo, servir como um instrumento eficaz na elaboração de políticas públicas visando ao desenvolvimento rural (CONTERATO, SCHNEIDER, 2005).

Retornando as variáveis metodológicas, a última a ser abordada refere-se à atividade exercida pelos membros das famílias rurais, pois esta permite incorporar os empregos e as ocupações rurais agrícolas e não-agrícolas47.

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As atividades incorporam a ORNA (Ocupação Rural Não-Agrícola) e o ERNA (Emprego Rural Não- Agrícola). A ORNA é “exercida por pessoas residentes na área rural e ocupadas em atividades fora da agricultura, sejam essas desenvolvidas nas áreas rurais ou urbanas” (BALSADI, 2002, p. 62). E o ERNA

Para Del Grossi; Graziano da Silva (1998), o conceito de pluriatividade permite combinar as atividades agrícolas com outras atividades que geram ganhos monetários e não monetários, independentemente de serem internos ou externos à exploração agropecuária. São consideradas todas as atividades exercidas pelos membros das unidades familiares, inclusive as ocupações por conta própria, o trabalho assalariado e não assalariado, realizado dentro ou fora da propriedade rural.

Carneiro (1998, p. 170) destaca que as atividades não-agrícolas podem dinamizar as unidades produtivas, viabilizando uma maior rentabilidade da produção agrícola. Ressalta, ainda, que “o esforço de manter a unidade produtiva em funcionamento responde muito mais a estratégia de conservar o patrimônio familiar do que a de desenvolver uma atividade produtiva eficaz”.

Adotou-se, neste trabalho, as atividades como variável metodológica, já que elas permitem separar a pluriatividade e o crescimento de atividades não-agrícolas, porque a pluriatividade refere-se à combinação de diferentes inserções ocupacionais a partir das decisões adotadas pelos indivíduos em relação à família e ao contexto econômico e social no qual estão inseridos. As atividades não-agrícolas, por sua vez, estão atreladas às ocupações em distintos ramos e setores da economia, sem vínculo agrícola. As atividades não-agrícolas estão relacionadas às alterações no mercado de trabalho e novas ocupações da força de trabalho (SCHNEIDER, 2003, 2003a; CONTERATO; SCHNEIDER, 2005).

Dessa forma, a pluriatividade permite analisar com maior precisão a forma como o trabalho é alocado pelas famílias em diferentes tipos de atividades, de onde emergem padrões individuais e coletivos de distribuição do trabalho rural, os quais transformam as unidades produtivas familiares em “unidades multidimensionais”, pois são praticadas atividades agrícolas e não-agrícolas, que geram diferentes tipos de remuneração (MATTEI, 2005, p.5).

Para averiguar a aplicabilidade da noção de pluriatividade e a presença de famílias com múltiplas fontes de renda na área de pesquisa, propõe-se, no capítulo posterior, uma caracterização dos bairros rurais selecionados, retratando, além do contexto histórico, as semelhanças e as especificidades.

Esta revisão bibliográfica é de suma importância na interlocução com a parte empírica. Para entender a presença das atividades e rendas sem vínculos agrícolas e a

pressupõe a inserção empregatícia de residentes rurais em empregos assalariados (formais ou informais). Ou seja, o ERNA é um componente da ORNA (Ocupações Rurais Não-Agrícolas), cujo diferencial está na categoria de empregado, tendo, portanto, vínculos empregatícios (carteira profissional assinada, contribuição previdenciária etc.).

pluriatividade no âmbito das famílias residentes nos Bairros Rurais Aeroporto, Cedro, Córrego da Onça, Gramado e Ponte Alta, localizados no Município de Presidente Prudente, é que se propõe o capítulo seguinte.

2. OS BAIRROS RURAIS NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP

Considerar os bairros rurais como o lugar da singularidade e da heterogeneidade permite averiguar as transformações e as permanências presentes nas dimensões econômica, social, cultural e espacial.

A contextualização do processo histórico da formação do Município de Presidente Prudente é indispensável, pois os bairros rurais são unidades socioespaciais que compõem a organização do espaço rural do referido município.

O processo de formação socioespacial do município ocorreu pautado em elementos comuns: retalhamento e venda de terras das Fazendas Montalvão e Pirapó-Santo Anastácio; expansão do café; e vinda de imigrantes e descendentes de italianos, espanhóis, portugueses e japoneses, além de ex-colonos, oriundos das áreas de ocupação mais antiga do Estado de São Paulo, e de mineiros.

Contudo, a presença destes elementos não se materializou de maneira homogênea nos bairros rurais, porque o processo é dinâmico, dialético e heterogêneo. Neste capítulo, apresentar-se-á o contexto de formação histórica do referido município, cotejando as mudanças no perfil demográfico (rural e urbano), as fases econômicas e as mudanças na estrutura fundiária e produtiva, consubstanciados nos dados obtidos junto aos Censos Demográficos (1950 a 2000) e nos Censos Agropecuários (1970, 1975, 1980, 1985 e 1996) da Fundação IBGE. Almeja-se, ainda, efetuar a caracterização socioeconômica e cultural dos bairros rurais (Aeroporto, Cedro, Córrego da Onça, Gramado e Ponte Alta) selecionados para o desenvolvimento da pesquisa.