seológicos e monumentos da câmara e destes com os demais equipamentos da cidade e da área metropolitana;
• promoção de uma maior e melhor divulga- ção dos equipamentos e acontecimentos culturais da cidade;
• garantia do investimento financeiro ne- cessário ao bom funcionamento e à manu- tenção dos equipamentos e elementos patrimoniais sob a tutela camarária, de forma a assegurar a sua atividade.
SÍNTESE DE DIAGNÓSTICO 5.3.2.9. Vivências noturnas de lazer e
sociabilidade
Em termos da animação noturna e da sua ter- ritorialização, a zona do Bairro Alto/Chiado mantém o destaque assumido há mais de três décadas. A ela soma-se o Cais do Sodré, com a conhecida Rua Cor-de-Rosa, um pro- jeto de intervenção urbana do Atelier do Arquiteto José Adrião para a Rua Nova do Carvalho, pensado no âmbito de uma estra- tégia de reabilitação de um bairro que ante- riormente era um destino de marinheiros e prostitutas – portanto, uma zona de desqua- lificação social e cultural. Em abril de 2015, um artigo do New York Times41, vem confir-
mar o seu reconhecimento a nível internacio- nal no que à animação noturna diz respeito, comparando-a com avenidas e ruas em Paris, Berlim, Milão ou Londres. Há que referir, igualmente, a zona de Santos e de Alcântara, com as Docas e com a já consolidada Lx Factory, e também a zona do Cais das Pedras, em Santa Apolónia, com um protagonismo essencialmente ancorado em espaços como o Lux, uma discoteca de referência mundial no quadro da música eletrónica, sem esque- cer também outros projetos mais voláteis, como o Clube Ferroviário.
Mais recentemente, a cidade tem vindo a co- nhecer novos atores em termos da animação noturna, que se afastam destas localizações mais “habituais” e que se podem até assu- mir como alternativas à eventual saturação das mesmas. Falamos de iniciativas como o EKA Palace que abriu portas em setembro de 2014, numa antiga vila operária na zona de Xabregas, e que se assume como um centro cultural aberto a todas as expressões artísticas. Falamos também das Docas de Lisboa e do novo eixo que se prolonga da Avenida Almirante Reis até à Graça e Sapa- dores. Este último pauta-se por uma oferta
41. Artigo disponível a partir do link: http://www.nytimes.com/interactive/2015/04/15/travel/europe- favorite-streets.html?_r=0#id-5522a9a96536370001110000?smid=fb-nytimes&smtyp=geo&
extremamente diversificada. Aos bares da Rua dos Anjos e do Benformoso, junta-se o Largo do Intendente, não só pelos diversos eventos que têm ocorrido no espaço público, mas também pelos espaços que o preen- chem, e de que são exemplo a Casa Inde- pendente ou o Sport Clube do Intendente. Outros exemplos também nesta zona são: o RDA 69 (Recreativa dos Anjos); o bar Anos 60; o Desterro, uma associação que iniciou a sua atividade em 2015 com o objetivo de acolher artistas de modo a desenvolverem o seu trabalho de criação, produção, pesquisa e formação, possibilitando simultaneamente a exposição e apresentação desses mesmos trabalhos; ou ainda a Crew Hassan, uma associação cultural, que abriu portas nos Anjos cinco anos depois de ter fechado nos Restauradores (a sua primeira localização), e que à loja de vinil vintage soma os diferen- tes eventos que organiza, bem como aulas e workshops de dança ou de ioga, só para referir alguns. A zona da Graça tem também vindo a consolidar-se enquanto novo foco de vivências noturnas, através de espaços como o Botequim da Graça, o Laboratório ou a Disgraça. Outro exemplo é o DAMAS, na Rua Voz do Operário, também na Graça, um espaço que serve almoços e petiscos du- rante todo o dia e que à noite se transforma num bar e numa sala de concertos. Com efei- to, é a variada programação de concertos a protagonista deste projeto que tem tido uma cada vez maior adesão dos públicos. Importa, igualmente, realçar a emergência de novos projetos híbridos, de apelo ao
vintage, ao heritage, à retromania. Estes
projetos populam por toda a noite lisboeta e têm um caráter mais ou menos efémero, mas tentam celebrar uma certa identidade cosmopolita. São disso exemplo espaços como o Povo, um dos bares que preenche a Rua Nova do Carvalho, no Cais do Sodré;
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ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA DA CIDADE DE LISBOA 2017
o 45 São Bento; o Terraço do Marquês, que prolonga para a noite a sua atividade diurna; o Alfaiataria, um novo bar aberto este ano na zona de Santos, onde no seu interior é possí- vel encontrar as antigas máquinas de costura Singer; House of Corto Maltese, também no Cais do Sodré; o Double 9 Lisbon; o Popular Alvalade; ou o Chiado Clube Literário & Bar, que abriu no final de 2015 no Tivoli Fórum, na Avenida da Liberdade, e que concentra no mesmo espaço os conceitos de livraria, bar e clube literário.
Não obstante o alargamento do circuito de animação noturna, quer em termos quan- titativos, quer em termos geográficos, é destacada a existência de externalidades negativas associadas à animação noturna (ex.: ruído, congestionamentos, sobrecarga de estruturas, conflitos com residentes, etc.) que podem, no longo prazo, comprometer a sustentabilidade do setor. De igual modo, os agentes auscultados demonstram-se preo- cupados com os efeitos de gentrificação, na medida em que a subida do preço do terre- no comercial em Lisboa pode fazer com que tenham de sair da cidade. Um outro aspeto menos positivo apontado prende-se com questões relacionadas com licenciamentos,
inspeções, apoios ou ausência deles. Os agentes contactados consideram que a noite é tratada com um conjunto homogéneo, sem haver sensibilidade e distinção entre os lo- cais que se dedicam apenas à venda de ál- cool e aqueles que são também espaços de concertos, agentes e produtores de cultura. De facto, existe a afirmação de um circuito massificado da noite para os adolescentes muito em direção às docas que é fortemente suportado por uma cultura do álcool e do excesso, por contraposição a espaços de fruição noturna assentes numa programa- ção musical cuidada e/ou multidisciplinares. Ora, este desequilíbrio na noite lisboeta é um desequilíbrio de gosto, mas também de vivência e fruição da cidade. Aliás, grande parte das representações negativas e estig- mas em relação à noite fundam-se nessas apostas mais mainstream e assentes na sim- plicidade do álcool. É importante salientar, a exemplo do que tem acontecido em Barce- lona, Madrid ou mesmo Milão, que muitos dos interlocutores deste trabalho defendem que deveriam existir apoios aos espaços de fruição noturna em termos de programação cultural, incentivando-se, assim, uma cultura
de consumo de cultura na noite.
CAIXA 5.9. ÁREAS DE ATUAÇÃO DA CML –