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ALGUNS ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO SOBRE EVOLUÇÃO

17.https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0003182&- contexto=bd&selTab=tab2

Figura 3.11. Estimativas de população residente, em número (n.º) e taxa de variação face ao ano anterior (%), 2004-2015

10 495 10 512 10 533 10 553 10 563 10 573 10 573 10 542 10 487 10 427 10 375 10 341 2 732 2 746 2 760 2 776 2 792 2 808 2 823 2 827 2 818 2 808 2 809 2 813 558 556 554 552 551 550 548 537 524 512 509 504 -2,8 -2,3 -1,8 -1,3 -0,8 -0,3 0,2 0,7 0 2 000 4 000 6 000 8 000 10 000 12 000 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 M ilh ar e s

Portugal (N.º) AML (N.º) Lisboa (N.º)

Portugal (Tx variação) AML (Tx variação) Lisboa (Tx variação)

Fonte: INE, 201617

Figura 3.12. Valores médios (em euros) de avaliação bancária dos alojamentos (média global), 2009-2014 (n.º)

1 146 1 223 1 121 1 036 1 006 1 008 1 416 1 476 1 359 1 227 1 197 1 207 2 004 2 030 1 936 1 796 1 781 1 769 0 500 1 000 1 500 2 000 2 500 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Portugal AML Lisboa

TENDÊNCIAS CULTURAIS URBANAS DE LISBOA

3.2.9. As reformas políticas e

reestruturações institucionais

A governação urbana ganhou, nas décadas mais recentes, um aumento de relevância e um aumento de complexidade. As cidades ampliaram e transversalizaram as suas problemá- ticas, as suas questões, das maiores às mais pequenas. Face às exigências presentes da vida urbana, faz cada vez menos sentido o desenvolvimento de políticas exclusivamente se- toriais ou de políticas delimitadas em territórios parcelares e subdivididos administrativamente. Dá-se igualmente uma exigência crescente de qualidade de ação política por parte dos cidadãos, desde logo em questões simples do seu dia-a- -dia, nas questões de equidade socioespacial, mas também em áreas relativamente novas na perceção cívica. Em termos culturais, interliga-se muito mais a qualidade de vida urbana às perspetivas e às próprias noções, mesmo que subjetivas,  de progresso e desenvolvimento. Tal exige uma consolida- ção de espaços políticos nas escalas mais pertinentes de ação pública urbana: das escalas da rua e do bairro, às esca- las da metrópole e de sistemas urbanos inteiros.

Lisboa é um exemplo paradigmático destas

transformações no modo de pensar e de intervir

na política da cidade. Com efeito, não só

assistimos nos últimos anos a um vasto conjunto

de alterações no governo urbano, como se

esperam, em tempos próximos, novas

reestruturações, que globalmente modificarão,

de forma muito significativa e a várias escalas, a

governação de Lisboa e da sua metrópole.

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ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA DA CIDADE DE LISBOA 2017

(i) as  escalas  de  proximidade:  a  reforma  administrativa de Lisboa, iniciada no ano de 2012, originou um amplo movimento de transferência de competências, de meios e de recursos para as novas juntas  de freguesia da cidade. Lisboa hoje tem  25 autarquias e configura um sistema de  governação crescentemente complexo e onde as juntas de freguesias se torna- ram protagonistas muito relevantes da gestão pública de base local;

(ii) as políticas municipais de nova geração, conjugadas  com  a  formação  da  Carta  Estratégica de 2009: desde finais da dé- cada anterior, a Câmara Municipal tem desenvolvido uma série de políticas e de programas de nova geração. Estas políticas conjugam uma necessidade de  ação pública em áreas anteriormente pouco percecionadas para tal – como nas áreas da ecologia ou do empreen- dedorismo; com uma tendência de aproximação na administração (na qual a reforma administrativa é exemplar, mas também os processos de descon- centração por via da criação da UCT e das UITs); e ainda com uma nova cultura de envolvimento, de participação e de monitorização. Entre diversos exemplos, poder-se-ão referir os programas de ação BIP/ZIP; o Orçamento Participativo;  os investimentos ligados ao fomento do empreendedorismo económico e social e à estruturação de startups; as novas práticas de ação de base ecológica e ambiental;

(iii) vão-se paulatinamente estruturando novas  lógicas  de  financiamento  das  políticas públicas, quer por via de uma maior transversalidade orçamental, quer pela interligação com as estratégias en- volventes ao Portugal 2020;

(iv) finalmente,  é  de  referir  a  formação  de  políticas de base metropolitana ou pelo menos mais articuladas com as autar- quias envolventes, um panorama ainda pouco consolidado. Estará, no entanto, em formação uma nova estrutura ins- titucional nesse sentido, quer de base setorial – como no caso dos transportes – quer, e de forma mais transversal, com a futura instituição de uma autarquia metropolitana (prevista para eleição di- reta em outubro de 2017, embora ainda se desconheçam as áreas de competên- cias bem como os recursos previstos). Também para Lisboa, é evidente que a gover-

nação urbana do futuro terá de ser de nature- za multi-governativa, exercida a vários níveis e escalas, sendo essa natureza múltipla a sua principal força e segurança. Obviamente, terá de ser sustentada em princípios sólidos, hoje  ainda em formação. Daí que uma cidadania mais empenhada possa ser aproveitada nos mais diversos areópagos, instituições e for- mas de pressão e de expressão.

As principais dinâmicas de reestruturação político-institucional de Lisboa situam-se nas seguintes áreas:

OS PRINCIPAIS DESAFIOS ATUAIS PARA (RE)PENSAR A CULTURA

4. OS PRINCIPAIS

DESAFIOS ATUAIS

PARA (RE)PENSAR A

CULTURA EM LISBOA

Como se percebe facilmente a partir do que é

referido no capítulo anterior, a cidade de

Lisboa foi alvo de transformações significativas

no período que mediou entre a formulação das

anteriores Estratégias para a cultura, em 2008-09,

e a atualidade, as quais se juntam a um outro

conjunto de dinâmicas estruturais específicas de

evolução no campo cultural, que têm contribuído

para transformar significativamente as lógicas

de criação, produção, mediação, legitimação e

fruição cultural, em diversos campos artísticos

e mundos da arte (envolvendo dinâmicas rela-

cionadas com as evoluções tecnológicas, mas

também com as transformações nos modos e

estilos de vida, nos valores e nas expectativas

das populações).

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ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA DA CIDADE DE LISBOA 2017

Não  entrando  aqui  numa  reflexão  aprofun- dada sobre todas estas transformações, im- porta notar que qualquer reflexão atualizada  sobre o setor cultural na cidade de Lisboa terá de ter em conta essas dinâmicas e consi- derar os seus impactos em termos das vivên- cias culturais da cidade, nas suas diversas dimensões (seja nas perspetivas das lógicas  da criação, da produção, da intermediação, ou da fruição dos bens culturais). Importa, portanto, partir das principais dinâmicas ve- rificadas desde as Estratégias para a cultura

2009 para identificar e mapear os principais 

desafios atuais para o campo da cultura.  Assim sendo, e tendo em conta essas mu- danças, destacamos aqui um conjunto parti- cular de aspetos, que se sintetizam na figura  4.1., os quais colocam questões de fundo à estruturação do(s) campo(s) cultural(is) e às políticas culturais na cidade, e que podem ser sistematizadas em torno dos seguintes oito  desafios  atuais  para  o  setor  da  cultura  em Lisboa:

Figura 4.1. Desafios atuais para o setor da cultura em Lisboa

LISBOA

Uma cidade que mudou muito desde 2009 e enfrenta novos desafios

Lidar com as dinâmicas de recomposição metropolitana

Gerir o desenvolvimento da

“economia criativa” Lidar com as mudanças nas lógicas de governança Gerir as novas dinâmicas de

participação na cidade

Lidar com o desenvolvimento de novas formas de mediação

cultural Trabalhar com a sobrecarga

e massificação de algumas  zonas, em particular no centro

histórico

Lidar com as consequências da crise económica e financeira e o agravamento  dos problemas da mobilidade

Enfrentar a mudança tecnológica e organizacional

OS PRINCIPAIS DESAFIOS ATUAIS PARA (RE)PENSAR A CULTURA

4.1. Trabalhar com a sobrecarga

e massificação de algumas

zonas, em particular no centro

histórico

Os fortes fluxos de turistas e de novos city users não perma- nentes, bem como a afluência de novos estratos de população  residente (estudantes Erasmus  e  afins;  nova  população  estrangeira, para além das comunidades imigrantes mais tradicionais;  alguns  segmentos  de  jovens  adultos  qualifica- dos provenientes das periferias em busca de vivência mais urbanas e cosmopolitas, etc.) marcaram indelevelmente a vivência de muitas zonas da cidade ao longo dos anos mais recentes, em particular as zonas históricas centrais e as áreas mais marcadas pela existência de património histórico e cultural, tangível e intangível, e pela vitalidade cultural, con- frontando-as com importantes desafios. 

A pressão sobre estas áreas (em termos da

capacidade de carga dos sistemas territoriais

respetivos – na sua conceção mais “ecológica”:

congestionamento das infraestruturas de

circulação e estacionamento, pressão sobre os

sistemas de recolha e manutenção, etc. – mas

também noutros campos, como a valorização

no mercado imobiliário, a sua valorização

simbólica, ou o grau de conflitualidade associado

à gestão de interesses conflituais sobre o

território) aumentou de forma muitíssimo

significativa, pressionado fortemente a qualidade

de vida e bem-estar dos residentes e utilizadores

destas zonas da cidade.

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ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA DA CIDADE DE LISBOA 2017

As próprias atividades e agentes culturais se  veem  confrontadas  com  novos  desafios  decorrentes destas mudanças, desde movi- mentos reativos de patrimonialização e de afirmação identitária, até à gestão de novas  formas de lidar com novas formas de fruição ou de utilização dos espaços públicos, ou até às oportunidades de mobilização de novos públicos, com novas características, entre outros exemplos.

Esta realidade prende-se com uma diversi- dade de motivos, dos quais destacamos dois. Por um lado, o crescimento exponencial do turismo nos anos mais recentes na cidade de Lisboa fruto de dinâmicas diversas: o desenvolvimento das rotas low costs, as novas lógicas de fazer turismo urbano e city

break, o desvio de mercados concorrentes

marcados pela ameaça terrorista, a redução do custo relativo face a outros mercados concorrentes ou o desenvolvimento de segmentos  específicos,  como  os  cruzeiros.  Por outro lado, as dinâmicas (e politicas) de regeneração e reabilitação urbana através de uma efetiva revitalização de determina- das áreas centrais na cidade, bem como uma recentralização simbólica de algumas zonas, junto de segmentos populacionais distintos – Bairro Alto, Chiado, e mais recentemente Príncipe Real, Cais do Sodré, mas também Mouraria-Intendente, Bairro das Colónias, Almirante Reis, Graça, Madragoa – têm mobi- lizado uma nova imagem da vivência no centro histórico da cidade. Esta mudança faz-se sen- tir naturalmente na renovação do edificado (sobretudo nos últimos anos), mas faz-se acompanhar (ou mesmo, anteceder, como aliás é hábito em processos deste tipo) de uma renovação das camadas populacionais e das atividades comerciais, com fenómenos de gentrificação e filtering-up de diversos tipos, uns conduzidos mais diretamente pelo capital económico, outros protagonizados por segmentos mais assentes noutras mo- tivações. Destacam-se, entre este últimos,

18.   A outro nível, é certo, e eventualmente apenas de forma temporária, mas também gentrificadores. processos de recomposição associados a es- tilos de vida baseados em vivências urbanas, cosmopolitas, hedonistas, na performati- vidade e expressividade do self, no menor controle social (artistas, estudantes, boémios, intelectuais, hipsters, wannabes,...) ou co- munidades específicas (LGBT, comunidades étnicas particulares,...), muitas vezes também eles consciente ou inconscientemente gentri- ficadores18 ou facilitadores e indutores de um

outro tipo de gentrificação.

Áreas como Alfama, o Castelo, a Baixa, o Chiado, o Bairro Alto, o Príncipe Real, o Cais do Sodré, e mais em geral, no seu conjunto,  todo o território das três freguesias históri- cas, centrais (Santa Maria Maior, São Vicente e  Misericórdia),  mas  também,  já  fora  deste  perímetro, áreas como Belém, Madragoa, Estrela, ou partes da Av. Almirante Reis, por exemplo, conhecem já bem este fenómeno:  a pressão dos turistas, o peso da riqueza patrimonial, o peso da animação noturna; o consumo de bens esteticamente valorizados e simbolicamente muito marcados; a parti- cularidade e especificidade das vivências, estilos de vida e o menor controlo social, maior tolerância e abertura à diversidade. Todos estes (entre outros) serão fatores que

se articulam e combinam com a alta cen- tralidade destas zonas para o desenvolvi- mento de uma forte atratividade para estes fenómenos.  A  turistificação,  a  gentrificação  e  a  massificação  de  utilização  destas  áreas  (pense-se nos casos, distintos, mas claríssi- mos, de Alfama e do Príncipe Real, por exem- plo), associadas a uma centralidade simbólica cada vez mais partilhada por uma população mais generalista (em detrimento de segmen- tos específicos ou de comunidades particula- res) serão corolários naturais (embora sempre complexos e eventualmente não desejáveis e  reguláveis) destas dinâmicas.

Naturalmente, com estas dinâmicas recru des- cem igualmente acesas discussões acerca

OS PRINCIPAIS DESAFIOS ATUAIS PARA (RE)PENSAR A CULTURA

da identidade do lugar e florescem as retóri- cas acerca de uma vernacularidade e de uma eventual (pseudo-)“autenticidade” do lugar. Mas tal como não podemos deixar passar acriticamente  o  fenómeno  da  turistificação  e  gentrificação  de  forma  passiva,  e  vê-lo  transformar a cidade correndo o risco de destruir a essência daquilo que os próprios turistas procuram, será também necessário ir para além de visões simplistas e pouco complexificadas deste fenómenos, que não  reconheçam a sua multidimensionalidade e a realidade de a identidade e autenticidade de cada lugar estarem em permanente (re) construção, e se negociarem constantemen- te (e de forma diferenciada) entre os diversos atores envolvidos.

Independentemente destas discussões, o que é facto é que nem todos os agentes beneficiarão  da  mesma  forma  nem  terão  o mesmo poder face a estes fenómenos. A cidade é, e sempre foi, um espaço de con- flito, que não é neutro, e estas dinâmicas não  serão exceção. E a questão dos conflitos de  interesse  aqui  verificados,  entre  diferentes  usos e lógicas de utilização alternativos para estes mesmos espaços, que se desenvolvem em múltiplas arenas (o espaço físico material, os espaços simbólicos, o mercado fundiário, etc...) é algo que se coloca em permanência, no espaço público e nos espaços privados. Estes  conflitos  traduzem-se,  sobretudo  em  épocas de pressão como esta, em que se verifica  o  aumento  muito  significativo  das  externalidades na generalidade do centro histórico (naturalmente a questão do ruído associado à animação noturna mas também a pressão sobre sistemas de higiene urbana, as questões da circulação automóvel, a pres- são dos veículos turísticos, a sobrecarga dos espaço públicos pela circulação de pessoas, entre muitos outros exemplos, para além ainda de aspetos mais complexos, como a arte urbana ou o graffiti, onde a capacidade de  descodificação  simbólica  joga  também  um papel determinante), num claro acrés- cimo das repercussões sobre a capacidade

de carga dos sistemas, desafiando cada vez  mais os sistemas de regulação destas ativi- dades.

Note-se, no entanto, a complexidade desta realidade. Muitas vezes (como no caso dos bairros culturais, como é o caso do Bairro Alto em Lisboa – cf. Costa e Lopes, 2013, 2015) esta  massificação  conduz  à  exclusão  dos  artistas e criativos pela via do aumento do preço do solo e processos de gentrificação  como os acima apontados, mas isto é ape- nas uma face da moeda. Por outro lado, essa exclusão realiza-se também por mecanismos simbólicos de autossegregarão decorrentes da “mainstremização” de certas zonas ou locais, e da negociação de novas identidades e da busca de novos espaços de liminarida- de e transgressão, essenciais à legitimação junto dos mundos da arte respetivos (veja-se  o caso da expansão do “Bairro” para a Bica e o Cais do Sodré, e mais recentemente São Paulo e Poço dos Negros, ou para o Príncipe Real, em segmentos diversos do campo cultural).

Enquanto nalgumas áreas esta sobrecarga sobre  os  sistemas  já  se  faz  sentir  há  mais  tempo  e  está  até  já  bem  documentada  e  estudada (como por exemplo o Bairro Alto, confrontado  com  fortes  desafios  à  susten- tabilidade do sistema territorial que supor- ta a sua dinâmica criativa – cf. Costa, 2014), noutras zonas a pressão vem, nos dias de hoje, essencialmente do aumento dos fluxos  turísticos  e  da  pressão  gentrificadora  dos  alojamentos  de  curta  duração,  bem  como  das transformações no comércio e no mer- cado imobiliário. Importará pensar, portanto, de que forma se conseguirá gerir os diver- sos interesses que impendem sobre estes territórios sem comprometer a resiliência e sustentabilidade destes sistemas e, na pers- petiva que aqui nos interessa, sem compro- meter as dinâmicas criativas e de fruição da cultura e do património de cada um destes espaços.

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ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA DA CIDADE DE LISBOA 2017

Em termos genéricos, o impacto da crise e das políticas de austeridade subsequentes fez-se sentir a diferentes níveis no campo cultural, dos quais se destacam os três seguintes. Primeiro, mais diretamente, fez-se notar na redução da acessibilidade à cultura: seja pela redução da procura, pela  via dos cortes no rendimento, do aumento do desemprego, ou da redução da disponibilidade das pessoas para os consu- mos culturais; seja pela redução da oferta, com os cortes de  financiamento (em particular público, mas não só); seja ainda  pelos cortes dramáticos nos sistemas de transportes coletivos da cidade com uma degradação profunda da qualidade do serviço prestado (horários de funcionamento, cobertura das redes, frequência, capacidade, perdendo milhões de passa- geiros, em particular no caso do metro), entre outros aspetos, vários foram os mecanismos que fomentaram a redução do acesso à cultura. Em segundo lugar, o impacto fez-se notar pela sangria de população mais jovem e qualificada (poten- cialmente os maiores consumidores culturais, e em particu- lar os segmentos que asseguram grande parte do mercado para diversos campos artísticos), com os fortes movimentos migratórios de saída que marcaram profundamente estes anos.  A  emigração  de  jovens  qualificados  sacrifica  clara- mente o stock de capital cultural acumulado na cidade, e isso reflete-se nos tipos de procura e de oferta cultural da 

4.2. Lidar com as consequências

da crise económica e financeira

e o agravamento dos problemas

da mobilidade

A grave crise económica e financeira e as

políticas baseadas na austeridade que atingiram

o país ao longo dos anos mais recentes tiveram

impactos muito significativos na vida e nas

dinâmicas culturais do país e, naturalmente,

também na cidade de Lisboa em particular.

OS PRINCIPAIS DESAFIOS ATUAIS PARA (RE)PENSAR A CULTURA

cidade,  seja  em  termos  qualitativos  seja  quantitativos19. Finalmente, em terceiro lugar,

as novas desigualdades socioespaciais que se aprofundam com a crise (em particular com a necessidade de mudança residencial para a periferia da cidade por parte de al- guma população, com a dualização social crescente no centro da cidade, etc.), vêm indelevelmente também marcar as dinâ- micas culturais. Não obstante algum efeito positivo de dinamização cultural em algumas das periferias da cidade, a redução de massas críticas e de capacidade de acesso20 tem

claramente impacto na procura e na capaci- dade de potenciar a oferta artística e criativa, mesmo nas zonas mais centrais da cidade. Pela sua importância transversal, nomeada- mente no que concerne aos seus impactos sobre o setor cultural, destacam-se aqui de forma mais veemente as transformações na mobilidade e em particular nos transportes coletivos. O fortíssimo desinvestimento na qualidade dos transportes públicos dentro da cidade verificado nos anos mais recentes  (em geral, mas sobretudo no caso do me- tropolitano, com redução da frequência e dimensão das composições e com uma de- gradação muito clara do serviço prestado) é extremamente  prejudicial  para  uma  oferta  cultural e criativa equilibrada na cidade e

19. Ainda que este fenómeno, em termos globais, possa ser parcialmente compensado pela tendência para a atração de população estrangeira altamente qualificada, alguma dela com formação e prática  artística consistente, conforme acima também se referiu.

20. Por exemplo, o custo de transporte para uma deslocação ao centro da cidade para assistência a um espetáculo ou sessão de cinema, que aumentou muito consideravelmente durante este período, foi referido várias vezes nas entrevistas e focus groups  realizados,  para  além  das  já  acima  referidas  contingências à mobilidade.

21. Por exemplo, em zonas como o Bairro Alto e o Chiado, com a passagem do estacionamento para gratuito à noite ou aos sábados, que são exatamente as ocasiões de maior pressão; o que se conjuga  negativamente com outros aspetos dramáticos como a sucessiva desvalorização dos espaços reserva- dos para residentes, em muitas freguesias, a ausência ou deficiência da fiscalização do parqueamento  irregular, a grande permissividade verificada em relação ao estacionamento em cima dos passeios ou  noutros locais irregulares, a passividade em relação à atividade informal de promoção de parqueamen- para uma potencial redução das externalida- des negativas associadas a alguma atividade cultural e turística na cidade, pelo incentivo que dá à utilização de transporte individual ou outros veículos turísticos alternativos ao transporte coletivo. Mas também se reper- cute na sobrecarga e congestionamento das redes viárias e espaços de estacionamento dos bairros históricos. Isto assume propor- ções desastrosas para a qualidade de vida e bem-estar dos respetivos residentes e de muitos dos utilizadores de vários bairros da