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ÁREAS DE ATUAÇÃO DA CML – VIVÊNCIAS NOTURNAS DE LAZER E

• apoio à produção de eventos culturais no-

turnos (distinguindo os espaços promoto- res de cultura dos que apenas se dedicam à venda de álcool);

• implementação de mecanismos com- pensatórios das externalidades negativas

associadas à animação noturna (pertur- bações ao nível do ruído e higiene urbana, por exemplo);

• promoção de uma maior e melhor divul- gação dos acontecimentos culturais da cidade.

SÍNTESE DE DIAGNÓSTICO 5.3.2.10. Tendências em afirmação na oferta e

vivência cultural: festivais e grandes eventos públicos

Nas últimas décadas, assistiu-se a um aumento

exponencial de eventos artísticos apresentados

fora das programações oferecidas pelas instituições

culturais: bienais, festivais, projetos de arte pública,

concertos ao ar livre de grande dimensão, entre

outros. Estas propostas são caracterizadas por um

conjunto de motivações diversas e muitas vezes

contraditórias entre si.

Resultam de um genuíno desejo de chegar  a um público crescente, de um esforço de democratização cultural, de animação de localidades na época estival, mas também podem ser fruto de estratégias de atração turística, de procurar fazer parte dos circui- tos mais ou menos glamorosos da arte con- temporânea ou do cinema, ou resultando simplesmente de estratégias de captação de patrocínios ou mecenato. Por vezes, estes tipos de propostas rotulam ou classificam de  forma  simplificada  uma  oferta  artística  que,  enquadrada numa programação institucio- nal, pode ser menos clara. Esta tendência, verificável  um  pouco  por  todas  as  grandes  cidades da Europa, obedece também a preocupações legítimas de criação de laços de proximidade, de criação de dinâmicas territoriais, de animação da cidade, e muito regularmente estes acontecimentos surgem simplesmente de tradições locais. A cidade de Nantes em França é um exemplo conhe- cido de uma política agressiva ao nível das iniciativas culturais desta natureza, sendo o exemplo mais conhecido o festival La Folle Journée (um festival de música clássica apre- sentado ao longo de cinco dias que, aliando formatos e formações tradicionais a momen- tos menos convencionais, transformou-se num caso de estudo replicado um pouco pelo mundo fora, incluindo no nosso Centro

Cultural de Belém) ou o projeto Le Voyage  à Nantes (um evento realizado ao longo do ano que propõe a criação de intervenções artísticas em lugares não convencionais da cidade, em íntima ligação com o património edificado e histórico, incluindo as tradições  da cidade).

Lisboa parece também acompanhar esta tendência. Em 1994 organizou a Capital Europeia da Cultura e quatro anos mais tarde recebeu a Expo’98, eventos que mu- daram, de formas diferentes, a paisagem cultural e não só da cidade. Guerra (2010) comprova de forma pungente estes dados, para o campo especifico da música, ao focar  a sua análise nos festivais de música rock. Desde o verão de 1998, com a realização do segundo Festival Sudoeste TMN, que os festivais são megaeventos que materiali- zam, num intenso quadro de interação direta, todas as dinâmicas atuais de globalização, profissionalização, mercadorização e media- tização da cultura, mobilizando milhares de pessoas (Guerra, 2010). São vários os fatores que  se  conjugam  na  explicação  desta  ten- dência. Em primeiro lugar, importa referir o maior dinamismo das várias promotoras de eventos, as quais têm aumentado em núme- ro e caminhado no sentido de uma maior so- fisticação das condições técnicas, logísticas 

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ESTRATÉGIAS PARA A CULTURA DA CIDADE DE LISBOA 2017

e de transporte, o que contribui muito para o sucesso das iniciativas que promovem. Em segundo lugar, é de destacar o esforço ope- rado por estas organizações em manter e/ou  reduzir o preço dos bilhetes dos eventos que promovem, designadamente dos festivais de  verão,  o  que  permite  uma  maior  afluên- cia de públicos, constituindo um mercado já  bastante significativo deste tipo de eventos  em Portugal. Em terceiro lugar, é possível referir que os poderes políticos (nomeada- mente, autarquias) estão mais sensibilizados para o potencial que os festivais de música representam para a região onde têm lugar, sendo determinantes no tocante à contri- buição com recursos logísticos, técnicos e fi- nanceiros em prol da sua concretização. Este tipo de eventos, e sobretudo os festivais que atingem uma maior dimensão, são perspeti- vados como verdadeiros fatores de desen- volvimento económico local (Guerra, 2016). Os festivais de música têm, portanto, assumi- do uma crescente importância em Portugal, sendo tradutor disso o aumento do número de espectadores: se no ano de 2011 foram  contabilizados 617 000 espectadores no total dos festivais realizados, em 2015, esse valor crescia para 1 806 000 espectadores, assumindo nesse ano relevância os festivais Meo Sudoeste, NOS Alive, Festival do Crato, Vodafone Paredes de Coura, FMM Sines, Meo Marés Vivas, NOS Primavera Sound, Festival Sol da Caparica, RFM Somnii - O maior sunset de sempre e Super Bock Super Rock. Ora, no caso particular de Lisboa, é possível transpor esta mesma abordagem, pois em termos de frequentadores, de di- mensão e de localização dos festivais, Lisboa (e sua envolvente metropolitana) é sem dú- vida palco maior da sua concretização em território nacional (Guerra, 2010, 2016). Muito para além dos festivais de pop rock, hoje  em  dia,  a  EGEAC  é  responsável  por  uma programação intensa de acontecimen- tos públicos ao longo do ano, culminando nas Festas da Cidade, momento importante

na vida cultural da cidade. Considerando o ano de 2016, e atendendo ao levantamento realizado  no  âmbito  do  projeto  Cidades-Pi- loto, inserido na Agenda 21 para a Cultura, verifica-se que em todos os meses se realiza  pelo menos um festival ou um grande even- to. Seja um festival/festa/mostra de cinema  (ex.: KINO -Mostra de Cinema de Expressão  Alemã; Indie Lisboa -Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa; Mons- tra - Festival de Cinema de Animação de Lis- boa; 8 ½ Festa do Cinema Italiano), seja um  festival de música (ex.: Festa do Jazz; NOS  Alive; Festival Caixa Alfama; Mexefest), ou um festival multidisciplinar cruzando diferen- tes setores artísticos (ex.: Festival Rotas & Ri- tuais; Festival do Silêncio; in shadow -Festival Internacional de Vídeo, Performance e Tec- nologias), ou mesmo um festival gastronómi- co (ex.: Peixe Lisboa). A estes acrescentam-se  eventos como a Trienal de Arquitetura, a ModaLisboa ou a Arco Lisboa - Feira Inter- nacional de Arte Contemporânea, com uma notória visibilidade e capacidade para atrair e mobilizar os públicos. Importa ainda rele- var os festivais territoriais (o D’Ajuda, o Viver  Telheiras, o Festival Internacional de Arte Urbana MURO_LX) que têm vindo a povoar as vivências de proximidade dos lisboetas. A maior parte destes acontecimentos é organi- zada por associações ou entidades privadas, contando com apoio logístico dos serviços da Câmara nalguns casos, recebendo apoio financeiro ou ocupando em condições favo- ráveis os equipamentos do município e na maior parte dos casos integrando a agenda cultural da cidade, proposta pela EGEAC. Nos processos de auscultação foram identi- ficadas várias preocupações na proliferação  de eventos e festivais na cidade: fragilidade  dos conteúdos propostos, programações pobres ou pouco estimulantes, destinadas a consumo rápido; excesso de oferta ou sobreposição de eventos propostos; de igual forma é regularmente mencionada a excessiva  concentração  geográfica  das  pro- postas. Há uma dimensão que merece ser

SÍNTESE DE DIAGNÓSTICO

mencionada e que diz respeito ao trabalho efetuado ao longo do ano com as comuni- dades locais. Projetos como o Festival Todos,  promovido pela CML, ou Lisboa Mistura, produzido pelos Sons da Lusofonia, contor- nam as acusações de efemeridade ou facili- dade regularmente apontadas a muitos dos eventos realizados em Lisboa ao longo do ano, propondo verdadeiras parcerias consis- tentes e no longo prazo.

Se o discurso predominante sobre a festi-

valização ou bienalização da cultura é ten-

dencialmente crítico, este deverá ser lido também de uma perspetiva mais generosa. Numa altura de atomização agressiva das práticas culturais, das identidades e senti- mentos de pertença, da crescente omnipre- sença das tecnologias de informação nas práticas culturais dos indivíduos, este tipo

de propostas resulta muitas vezes em mo- mentos de convivialidade importantes na vida das cidades.

As  cidades,  ou  áreas  específicas  das  mes- mas, são transformadas em espaços de experiências,  almejando-se  não  raras  as  vezes a criação de uma identidade das mesmas através da multiplicação de eventos culturais.

Estes surgem como estímulo, e de certa forma como garantia de uma continuidade, das dinâmicas culturais locais e, portan- to, como meio de atração de pessoas e de públicos. Para além do espectro cultural, acabam também por ter impacto na esfera social e das sociabilidades, sem esquecer a económica.

CAIXA 5.10. ÁREAS DE ATUAÇÃO DA CML – TENDÊNCIAS EMERGENTES DE