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5 INDICADORES BIBLIOMÉTRICOS DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA DESENVOLVIDA NA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL

5.1 Análise bibliométrica das dissertações e teses

5.1.3 Áreas de conhecimento dos PPG e linhas de pesquisa

Em relação às áreas de conhecimentos e linhas de pesquisados Programas selecionados em que as dissertações e teses se vincularam, notamos grande número de inconsistência e precariedade das informações sobre esses quesitos. Isto nos levou a constatar uma falta de padronização e desorganização nos bancos de dados de dissertações e teses nacionais. Apesar da falta de indicação e de inconsistência nessas informações, apresentamos na Tabela4 as áreas de conhecimento e linhas de pesquisa que nos foi possível identificar, na tentativa de remeter discussões iniciais a seu respeito.

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Em todos os estados e o Distrito Federal na região centro-oeste já contam com as Fundações de Amparo à Pesquisa. Em Mato Grosso existe desde 1994 a FAPEMAT, em Mato Grosso do Sul a FAPEMS criada em 1997, a mais antiga é a FAP DF no Distrito Federal criada desde 1993; e a mais recente é FAPEG em Goiás criada em 2005. Aliás, neste estado uma característica marcante, diz respeito à explícita prioridade de investimento via Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás (SECTEC) a Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás - FAPEG a qual vem sendo mantida com recursos assegurados no orçamento do Estado, através de repasses mensais que totalizam cerca de R$ 30 milhões/ano para incentivar e fomentar pesquisas em todas as áreas do conhecimento. Dos 0,75% da receita tributária do Estado destinados à FAPEG, 0,25% são para pesquisas na área de agronegócios. Ou seja, 1/3 de todo o investimento. Disponível em: http://www.sectec.go.gov.br/portal Fomento à Pesquisa.

Tabela4 – Áreas de conhecimentos e linhas de pesquisas das dissertações e teses produzidas nos PPGE ÁREAS DE CONHECIMENTO FREQ % LINHAS DE PESQUISA FREQ %

Educação 9 25 Cultura e processos

educacionais

7 20

Educação e Sociedade 4 11 Diversidade Cultural e

Educação Indígena

2 5

Educação Escolar e Formação de Professores

2 5 Formação e

profissionalização docente

2 5

Não consta 15 42 Teorias da educação e

processos educativos

2 5

Frequência igual a 1 6 17 Não consta 15 42

TOTAL 36 100 Frequência igual a 1 8 22

TOTAL 36 100

Notamos que nos Programas da Educação houve muita precariedade nas informações, relativas tanto às áreas de conhecimento (concentração), quanto às linhas de pesquisas pelo número expressivo de NC (não consta), 42%. Fora isso, podemos observar que ao longo do período, os programas de um modo geral passaram por reformulações, aglutinações e criações de novas áreas. Do total de 30 pesquisas coletadas e analisadas, distribuídas pelos PPGE da UNB/DF, da UFMT, da UFMS, da UFG/GO, da PUC, da UCDB, a área de concentração Educação foi a mais encontrada nas pesquisas, o que pode estar associado às mudanças ocorridas na organização estrutural dos programas e sua vinculação em torno da sua grande área, cujo sentido é abranger questões mais amplas, relativas à compreensão do fenômeno educativo.

Nessa conjuntura, como já comentado no capítulo dois, dentre as mudanças na pós-graduação ocorrida durante a década de noventa, uma delas esteve voltada à superação do modelo de áreas de concentração centralizado no ensino, passando-se à estruturação dos programas com base nas linhas de pesquisa, dando prioridade à produçãodo conhecimento,ou seja, buscaram-se alternativas na organização dascondições da produção e no trato com o conhecimento científico (SANCHEZ GAMBOA, 2003). No entanto, ao propiciar tais mudanças com destaque ao trabalho coletivo, em que a pesquisa ganhou destaque, “não superou a divisão dos saberes imposta pela concepção analítica de ciência, nem recuperou, como base da pesquisa, os problemas vinculados ao mundo da necessidade e à dinâmica histórica da sociedade,

nem consolidou as abordagens complexas sobre a realidade educacional” (idem, 2003, p. 86).

A partir desse contexto, as análises dos estudos mostram que há uma relativa variedade de linhas vinculadas aos programas, no entanto, fica evidente que a linha

Cultura e Processos Educacionais assume o maior número de pesquisas (20% 6 diss. e

1 tese) que tem como objeto de estudo a EF vinculadas a ela. De fato, essa linha está vinculada ao PPGE/UFG/GO38 e propõe discutir a educação na perspectiva de suas estreitas relações com a cultura. Além disso,

Trata os processos educacionais a partir de seus fundamentos teóricos e metodológicos e, ainda, de suas implicações na prática pedagógica, sempre orientando-se pela concepção de que esses processos constituem-se no âmbito da sociedade e da cultura. Parte da contribuição de diferentes áreas do conhecimento - filosofia, psicologia, sociologia, biologia - é dedicado especial interesse à compreensão dos processos de constituição, organização e transmissão de conhecimentos e saberes, quer sejam eles mediados pelo processo de escolarização formal ou por outras diversas manifestações da cultura (PPGE, LINHA DE PESQUISA 3).

Nesse sentido, seus aspectos norteadores têm relações diretas com as problemáticas e os interesses das pesquisas denominadas de socioculturais na área da EF, cujos alicerces são buscados nas ciências sociais e humanidades e abrangem discussões em torno dos aspectos sociais, culturais e pedagógicos da área. Isso nos leva a supor que tal linha de pesquisa mediou e foi ao encontro das perspectivas políticas e ideológicas dos pesquisadores da EF, ao produzirem seus estudos nessa linha.

A Tabela 5 sintetiza os principais achados da pesquisa em relação às áreas de concentração e linhas de pesquisa das dissertações e teses produzidas nos PPGEF.

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Tabela 5- Áreas de concentração e linhas de pesquisa das dissertações e teses produzidas nos PPGEF

AREA DE CONCENTRAÇÃO

FREQ % LINHA DE PESQUISA FREQ %

Atividade Física e saúde (UCB/DF)

22 73

L3 - Exercício Físico, Reabilitação, Doenças Crônico não Transmissíveis e

Envelhecimento

8 27

L1 - Aspectos Biológicos Relacionados à Atividade Física e Saúde

7 23

L2 - Aspectos Sócio-Culturais e Pedagógicos Relacionados à Atividade

Física e Saúde

3 10

*Não consta Linha de Pesquisa 4 13

Atividade Física e esporte (UNB/DF)

8 27

L3 - Estudos Sociais e Pedagógicos da Educação Física, Esporte e Lazer

3 10

L 1 - Aspectos Biológicos Relacionados ao Desempenho e à Saúde

2 7

L2 - Exercício físico e reabilitação para grupos especiais

2 7

*Não consta Linha de Pesquisa 1 3

TOTAL 30 100 30 100

Podemos observar que para cada Programa de Pós-Graduação em Educação Física na região Centro-Oeste, localizado exclusivamente no Distrito Federal, existe uma área de concentração e 3 linhas de pesquisa em cada um deles.

No caso específico do programa da UCB/DF, esse define sua área voltada, especificamente, à relação entre atividade física e saúde, mas sem deixar de incluir o entendimento de que o tratamento dessa relação exige diferentes olhares (NASCIMENTO, 2010).

O delineamento de uma área de concentração e de abordagens teórico- metodológicas consonantes, a partir da qual são possíveis as especificações e especificidades, uma vez que o norteador de todas as pesquisas é sempre a indagação sobre os fenômenos que envolvem a complexidade da Educação Física e sua relação com a saúde. A discussão sobre a saúde se encontra atualmente num ponto de ruptura com entendimentos tradicionais e, assim, procura-se incorporar um significado mais abrangente que permita exprimir de forma mais objetiva a multiplicidade de aspectos que a envolve. A saúde deve ser compreendida não somente como ausência de enfermidades mas, sobretudo, como um estado de completo bem-estar físico, social e psicológico. As diversas concepções de saúde apresentam várias limitações, o que as torna potencialmente ideológicas e eficientes no ocultamento das contradições sociais. Por sua vez, a tentativa de

considerar a dimensão social é quase sempre ingênua, pois acaba reduzida a indicadores estatísticos abstratos. Nessa perspectiva as

doenças crônico degenerativas serão analisadas considerando o exercício como meio de tratamento. As repercussões dos resultados

esperados para a sociedade poderá trazer benefícios para as pessoas portadoras de doenças crônico degenerativas. Os efeitos propiciados pela atividade física e os benefícios obtidos com a prática poderão ser traduzidos em melhora da qualidade de vida da população (CAPES, 2003, destaque nosso).

Tal proposta de definição da área, justificando-se o eixo de concentração

Atividade Física e saúde expressa um certo tom de conformidade ideológica, uma vez

que considerar a dimensão social como quase sempre ingênua, consente em não levantar as questões que realmente importam e a conformidade aos pressupostos estruturais e aos imperativos da ordem estabelecida (MÉSZÁROS, 2009), como também demarca a prioridade em tratar determinados assuntos ou eixos temáticos no programa.

Apesar disso, entendemos que as áreas de concentração, mas, principalmente, as linhas de pesquisas revelam-se como excelentes indicadores sobre a orientação acadêmica dos programas, pois “elas caracterizam não só os temas e problemas específicos em que o pesquisador se envolve, como também as bases teóricas e metodológicas que elege como centrais à sua atividade” (MANUEL e CARVALHO, 2011, p.398).

Assim, de um total de 6 linhas de pesquisas identificadas nos dois PPGEF, (UCB/DF e UNB/DF ) 67% delas (na tabela acima representam as 4 linhas destacadas na cor verde) em função das suas proximidades teóricas, de métodos e técnicas estão voltadas à subárea da biodinâmica, enquanto outros 33% das linhas (representam as 2 linhas destacadas na cor rosa) estão voltadas à subárea sociocultural/pedagógica.

Em relação ao total de 30 pesquisas coletas e analisadas, distribuídas tanto no PPGEF da UCB/DF quanto no PPGEF da UNB, podemos observar que no PPGEF da UCB/DF, existe a área de conhecimento – Atividade física e saúde – com três linhas de pesquisa, a linha 3 - Exercício Físico, Reabilitação, Doenças Crônico não Transmissíveis e Envelhecimento – desse programa assume o maior número de dissertações produzidas em seu âmbito, 8 trabalhos (7 diss. e 1 tese), o que correspondeu a 27% do total dos estudos nesses dois programas. Em seguida, a linha 1 – Aspectos Biológicos Relacionados à Atividade Física e Saúde – também desse mesmo programa, com 7 trabalhos produzidos (5 diss. e 2 teses), correspondendo a 23% dos estudos, e, posteriormente, com 3 trabalhos produzidos na linha 2 - Aspectos Sócio- Culturais e Pedagógicos Relacionados à Atividade Física e Saúde, correspondendo a

10% dos estudos; 4 trabalhos (13%) não constaram a linha de pesquisa a que pertenciam.

Já no PPGEF da UNB existe a área de conhecimento – Atividade física e esportes – com também três linhas de pesquisa, a linha 3 - Estudos Sociais e Pedagógicos da Educação Física, Esporte e Lazer, agregou o maior números de estudos produzidos, com 3 trabalhos (dissertações), que representou 10% dos estudos.A linha 1 - Aspectos Biológicos Relacionados ao Desempenho e à Saúde – e a linha 2Exercício físico e reabilitação para grupos especiais, ambas produziram 2 trabalhos, correspondendo a 7% do total dos estudos. No entanto, 1 trabalho (3%) não constou a linha de pesquisa.

A linha 3 - Exercício Físico, Reabilitação, Doenças Crônicas não Transmissíveis e Envelhecimento – e a linha 1– Aspectos Biológicos Relacionados à Atividade Física e Saúde – do PPGEF/UCB/DF assumiram o maior número de pesquisas, 27% e 23% respectivamente, totalizando 50% dos estudos nos PPGEF. O propósito dessas linhas caracteriza-se por estudos sobre a participação de exercício na prevenção e evolução de doenças crônicas não transmissíveis, na reabilitação e no envelhecimento, como também na investigação das mudanças fisiológicas fundamentais e das adaptações agudas e crônicas que ocorrem no corpo humano em diferentes tipos de exercício. Ambas se agregam a denominada subárea Biodinâmica,cujas pesquisas se valem dos conhecimentos oriundos das ciências naturais.

De modo mais amplo fica evidente que apesar da linha 3 no PPGEF da UNB/DF ter agregado mais pesquisas, com interesses e problemáticas que se aproximam da denominada subárea sociocultural e pedagógica, no contexto geral das linhas dos PPGEF (UNB e UCB), ficou em menor proporção explícita, com 20% desse total. Até porque cada PPGEF, em função da sua política organizacional, estabeleceu até o momento uma linha que contemple as pesquisas na perspectiva sociocultural.

Tal panorama não fica restrito ao perfil dos PPGEF da região Centro-Oeste, mas, ao retomarmos o contexto dos Programas brasileiros de Pós-Graduação em EF, a biodinâmica também se sobressai não apenas pela quantidade de linhas, como ainda pela dimensão do corpo docente e projetos de pesquisa sempre mais numerosos em comparação às subáreas sociocultural e pedagógica (MANOEL e CARVALHO, 2011).

As análises desses dados empíricos sobre as linhas de pesquisa, bem como dos dados anteriores sobre financiamentos nos remetem à reflexão do documento de área (2009) da EF que reconhece as características diversificadas dessa produção científica,

bem como o seu caráter multiprofissional e interdisciplinar, variando desde as áreas biológicas e médicas, até as áreas das humanidades (CAPES, 2009), porém, acenam para as seguintes contradições que são determinantes na área

Este aspecto, acrescido do reduzido número de periódicos internacionais indexados que atendem satisfatoriamente às Áreas de Concentração e respectivas Linhas de Pesquisa, exige um grande esforço para se atender aos percentuais máximos de periódicos em estratos mais altos, pois as publicações acontecem em inúmeros periódicos nacionais de diversas áreas do saber. Destaca-se, por outro lado, que há reduzido número também de periódicos nacionais específicos da área que estejam indexados nas principais bases de referência, o que lhes impossibilita uma boa estratificação no qualis periódicos (CAPES, 2009).

Isso pode explicar como os dados indicaram a característica marcante da produção científica produzida nos PPGEF em relação ao financiamento, e as linhas de pesquisas privilegiarem a produção biológica/fisiológica em detrimento da produção de outras áreas, humanas e sociais, pois “pesquisas de orientação biológica têm mais chance de serem publicadas em periódicos com alto fator de impacto, melhorando as condições das subáreas fundamentadas nas ciências naturais” (MANUEL e CARVALHO, 2011, p. 394).

A maneira como os PPGEF vêm se estruturando em torno dessas linhas de pesquisas demonstram que a busca de uma unidade epistemológica é difícil de ser contemplada em função de seus diferentes objetos e da sua natureza multidisciplinar.Além do mais, a dificuldade de superação da polarização entre tais subáreas (biodinâmica e a sociocultural) que a tem fragmentado, poderia ser superada a partir do reconhecimento da natureza da EF que tem na ação e na prática seu ponto de partida e de chegada da produção de conhecimento. Sanchez Gamboa explicou como se daria tal relação

O circuito do conhecimento parte do fenômeno da motricidade, do movimento do corpo humano, da pratica esportiva, da dança, do jogo, da ação recreativa, das atividades de lazer, das condutas motoras, das forças, das ações e reações, das tensões do corpo humano, etc... E as teorias científicas oriundas da Psicologia, Fisiologia, Sociologia, Biomecânica contribuirão com suas hipóteses, teses e abstrações na explicação e compreensão desses fenômenos. Dessa forma, as diversas disciplinas são convidadas a oferecer seus ricos elementos

explicativos para a elaboração de um conhecimento da motricidade, das ações e reações, dos movimentos da corporeidade humana, etc. O circuito continua na volta aos fenômenos, explicando-os, compreendendo-os e ponderando critérios para a sua modificação, alteração, aprimoramento, ou transformação. Cria-se um movimento cognitivo dos fenômenos para os fenômenos. Uma volta rica em explicações e compreensões que tencionam a ação transformadora, e articula estreitamente a prática-teoria-prática (SANCHEZ GAMBOA, 2007, p. 27-28).

Ávila (2008) também sugere que a discussão sobre a polarização entre as áreas deve ser abandonada e direcionar nossas reflexões profundamente sobre qual concepção de ciência tem se fundado nossas pesquisas, indicando, apesar dos objetos distintos, uma unidade epistemológica e ontológica na área. A autora explica que podemos ter uma pedagogia, fisiologia ou a biomecânica subsidiadas por qualquer corrente teórica, no entanto, “que igualmente responda, da mesma forma, ao que é o mundo e o que é ciência – o que tem implicações sobre o que é o ser humano e o movimento humano” (ÁVILA, 2008, p. 65).

Mais que isso, a ordenação de linhas de pesquisa ao indicar a orientação acadêmica do programa, esbarra nos direcionamentos teóricos caracterizados por elas, determinados pelo pluralismo teórico e político na área (ALMEIDA e VAZ, 2011) e pela prioridade de critérios de méritos e excelência (LOPES, 2005). Essa autora explica que “o que se tem na maioria das vezes é o poder e a condução de linhas de pesquisas concentradas em pessoas que funcionam como difusoras das orientações dominantes, e isso se reproduz em projetos de pesquisas sobre os mais variados temas” (p.77).

Nessa linha de pensamento, Nascimento (2010) postula que é justamente pela dificuldade que os programas enfrentam de definir a própria área que resulta a fragilidade para o estabelecimento de seus eixos articuladores. “Atrelada a isso, está posta a dependência dos programas de recursos financeiros, fazendo com que os professores mais produtivos sejam, muitas vezes, os definidores do perfil do programa” (p.139).