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As áreas de mercado de August Lösch

2 ABORDAGENS TEÓRICAS DA ECONOMIA REGIONAL

2.2 TEORIAS DE LOCALIZAÇÃO DE ATIVIDADES ECONÔMICAS

2.2.4 As áreas de mercado de August Lösch

Em 1940, August Lösch – 1906-1945 – buscou descrever o comportamento de uma firma ao produzir um produto industrial, a um determinado custo médio, alcançando o consumidor mais distante, até o limite em que os custos de transporte e de produção se igualassem ao preço do produto. A contribuição de Lösch, segundo Clemente e Higachi (2000, p. 105), diferencia-se das demais, pois o autor “considera impossível explicar a localização de uma empresa, de uma indústria, ou de uma cidade, mas não apenas isso, também considera que essa explicação não tem valor”. Para Lösch, os economistas não têm por obrigação explicar a realidade, mas melhorá-la. Assim, para ele, determinar a melhor localização seria mais importante do que determinar a que é escolhida na prática.

A principal preocupação de Lösch foi elaborar um modelo de equilíbrio geral do espaço que possa ser usado como orientação básica para um planejamento eficiente, podendo ser usado pública e privadamente. Diferentemente dos teóricos anteriores, Lösch considera que as firmas devem buscar o máximo lucro possível, e não o mínimo custo. Por esta razão, introduz na sua análise variações espaciais de demanda, e para isso admite que as empresas adotam preços FOB (free on board), ou seja, os preços devem ser considerados a partir do

momento em que o produto sai da fábrica, adicionando a este o custo do transporte para formar o preço final.

Por esta contribuição, cada produto possuiria um alcance máximo, determinado pelo custo de produção e pela tarifa de transporte. De acordo com Souza (2009,p. 40), isto faria com que a porta de uma fábrica A e a fronteira da área de mercado se unam, tornando mais barato o consumo do bem produzido por uma fábrica B, ao penetrar na sua área de mercado. Assim, “a interseção da área de mercado de A com a de B determinariam a escala máxima da produção do bem, a um dado preço. Baseado nisso, o mesmo preço de mercado para o produto determinará as quantidades produzidas e a margem de lucro de cada produtor”.

Para estas conclusões, as seguintes hipóteses foram assumidas por Lösch, segundo Albergaria et al. (2009):

Ao longo de um mercado que funciona como um plano homogêneo, os consumidores se distribuem de forma equilibrada;

Inexistência de variações na distribuição espacial das matérias-primas, do trabalho e do capital;

São constantes as preferências dos consumidores, bem como idênticas as suas preferências;

Não existe interdependência de localização entre as firmas;

Proporcionalidade entre os custos de transporte e a distância a se percorrer;

Consumidores e produtores conhecem perfeitamente o mercado e maximizam, respectivamente, utilidade e lucros;

Dadas estas hipóteses, Lösch construiu uma curva de demanda e, com base nela, através da rotação do eixo das ordenadas, obtém um cone de demanda que determina a área de mercado e a receita associada a um hipotético produtor, conforme aparece na Figura 8.

Figura 8 – Cone de demanda de Lösch

Fonte: Monasterio e Cavalcante (2011).

Esta área circular surgiria na presença de apenas um produtor. Com a entrada de outros produtores, o mercado se comprime até formar uma rede de hexágonos que cobre toda a área de consumo, e os produtores aparecem nos centros destes hexágonos. As firmas, segundo Souza (2009), tendem a se localizar onde houver maior aglomeração populacional, o que leva à superposição de áreas de mercado. Segue a tendência das firmas se localizarem no centro da gravidade de diversos povoados e cidades. Com isso, algumas áreas hexagonais comandarão outras áreas hexagonais menores, localizados em seu interior, o que leva à construção de áreas de mercado e centros urbanos, formando as regiões econômicas (Figuras 9 e 10).

A abordagem de Lösch é a representação de um sistema de equilíbrio geral das localizações, pois a interação das várias firmas em busca da localização ótima convergiria para uma situação de ótimo global, com a concorrência formando áreas de influência dos produtos e uma rede de mercados. Assim, esse equilíbrio é o resultado líquido de duas tendências (RICHARDSON, 1981, p. 112-113):

[...] em primeiro lugar, os produtores pretendem maximizar os lucros individuais e os consumidores tentam entrar no mercado de preços mais baratos; em segundo lugar, a luta competitiva entre os produtores quando as firmas de um mesmo ramo industrial se multiplicam o suficiente para competir espacialmente, no final das contas elimina os lucros extraordinários. Quando todos os lucros extraordinários desaparecem, o equilíbrio é atingido, a luta por espaço acaba e as localizações são determinadas.

Figura 9 – Áreas de mercado

Fonte: Ramos e Mendes (2001).

Figura 10 – As regiões e os sistemas de redes

Fonte: Ramos e Mendes (2001).

Considerando os pressupostos microeconômicos assumidos, pode-se concluir que a teoria de Lösch chega a uma hierarquia urbana semelhante à obtida por Christaller. No entanto, conforme Monasterio e Cavalcante (2011), na teoria de Lösch há uma maior diversidade de valores de proporcionalidade entre o número de centros de hierarquia distintas do que na obra de Christaller.

Embora, como um dos seus principais legados, a teoria de Lösch apresente análises inéditas em muitos aspectos, ela não ficou imune a críticas. As principais limitações estão relacionadas como as hipóteses assumidas. Por exemplo, no seu modelo, Lösch assumiu que “a produção, as vendas e os preços dos diferentes bens são considerados em isolamento uns dos outros, como se a economia espacial fosse um conjunto de vários setores independentes, e não um todo” (LOPES, 2001, p. 200).

Outra crítica, segundo Richardson (1981) é que a teoria não explica a grande tendência de empresas da mesma indústria a aglomerarem-se, devido à interdependência locacional e às economias de aglomeração. Já Albergaria et al. (2009) destacam que a teoria teria aplicabilidade praticamente impossível para as empresas multinacionais, que têm operações espalhadas por várias partes do globo terrestre e uma grande variedade de produtos confeccionados.