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É HORA DE CRIAR: OS JOGOS DAS NOTAS MUSICAIS

No documento ANDRÉIA PIRES CHINAGLIA DE OLIVEIRA (páginas 88-92)

2. TRAJETÓRIAS DA PESQUISA

3.2 É HORA DE CRIAR: OS JOGOS DAS NOTAS MUSICAIS

Na terceira aula observada, as crianças mostraram os jogos que inventaram tendo como tema as notas musicais. Elas utilizaram o caderno de anotações para desenharem e escreverem sobre o que haviam inventado e mostraram para o grupo. Essa aula aconteceu após um feriado nacional e muitas escolas deram recesso. Então muitas crianças viajaram e faltaram. Por isso, estiveram presentes somente doze crianças, das quais cinco haviam feito jogos musicais e compartilharam os jogos que haviam inventado, ensinando-os aos demais colegas.

O primeiro jogo foi apresentado pela aluna “Cor de Ouro”. Seu jogo consistia em dividir a turma em dois grupos. Escolhe-se uma música e um dos grupos fica responsável por cantá-la. O outro grupo escolhe notas musicais aleatórias e canta a melodia da música escolhida com as notas escolhidas, fazendo uma sobreposição. A cada música nova escolhida, muda-se as notas. Quanto mais variadas forem as notas escolhidas, mais desafiador fica. A aluna começou a explicar como jogar, mas a turma não conseguia entender. Ela achou difícil ficar explicando. Então resolveu mostrar fazendo o jogo, dizendo que “fazer era melhor”. A aluna “Cor de Ouro” disse que enquanto um grupo cantava uma música, o outro grupo cantava uma sequência de notas escolhidas. Para exemplificar o jogo, ela cantou um trecho da canção “Meu pintinho

amarelinho” e, em seguida, cantou notas aleatórias dó ré mi mi mi fá mi ré dó com a melodia dessa música, substituindo a letra

da canção para mostrar como era o jogo.

“Cor de Ouro” dividiu as crianças em dois grupos e pediu para que escolhessem uma música. Um aluno escolheu a música “O Pato da arca de Noé” de Vinicius de Moraes. Os alunos gostaram, concordaram com a escolha e todos cantaram a música para relembrar. O grupo 1, que ficou responsável por

cantar a música, decidiu que fariam somente a primeira parte da canção. Então, enquanto o grupo 1 ficou ensaiando a música, o grupo 2 se reuniu e ficou inventando como queriam a sequência das notas. O grupo 2 decidiu escrever as notas escolhidas no papel craft para que todos do grupo pudessem ler no momento de cantar. A sequência escolhida por eles foi: dó

ré mi fá sol lá si sol dó mi ré fá. Assim realizaram o jogo.

As crianças gostaram e quiseram inverter os grupos para experimentarem. “Cor de Ouro” não havia inventado um nome para seu jogo. Depois de brincarem, as crianças foram dando ideias e uma sugeriu Trocando as Bolas. “Cor de Ouro” gostou da sugestão e aceitou o nome para o seu jogo.

“Lily” foi a segunda aluna a mostrar seu jogo. Ela disse que o jogo dela chamava Batata quente musical e que era diferente do jogo “original” que faziam na escola (O jogo da escola consistia em passar um objeto, enquanto tocava a música. E quem estivesse com o objeto na mão quando esta parasse, pagava o castigo). No seu jogo a regra era que os participantes, em círculo, passariam a bola cantando as notas de dó a sol num pulso igual. “Lily” explicou o jogo bem baixinho e disse que precisava de uma bola. Como não tinha uma bola na sala, a professora pegou o feltro do piano e improvisou uma bola. Então “Lily” disse que enquanto “a bola” passava iriam cantando as notas dó, ré, mi, fá, sol e quem pegasse a bola na nota “sol” pagava um castigo. Ela foi explicando e fazendo, cantando as notas e passando a “bola” ao mesmo tempo. Todos entenderam imediatamente e já foram se ajeitando no círculo para jogar.

A professora perguntou para a “Lily” como seria o castigo, quem ia dar o castigo e a aluna ficou pensando. Então outra criança sugeriu que poderia ser quem começasse com a nota dó e que o castigo poderia ser “coisas relacionadas com música, ou alguma coisa que tivesse a ver com as notas”. A “Lily” concordou e iniciaram o jogo. As crianças e a professora ficaram muito envolvidas com esse jogo e brincaram bastante.

O “Pacman” foi o próximo a mostrar sua atividade. Ele disse que não havia feito nem brincadeira e nem jogo, mas sim uma música. Ele disse que compôs um rap. Todos quiseram ouvir, mas ele não queria mostrar, ficou com vergonha. A irmã dele pegou o caderno e começou a cantar. A letra do rap era:

Quer aprender a cantar e não sair do tom Eu vou te ensinar se liga nesse som

Agora o dó, agora o ré, Depois o mi, fá, agora o sol.

As outras crianças acharam a música criativa e quiseram aprender. Como era uma canção curta, todos conseguiram cantar. Eles aprenderam da seguinte forma: a irmã do “Pacman” foi cantando e eles foram cantando junto, mesmo sem saber as frases, até que aprenderam. Enquanto cantavam, algumas crianças começaram a inventar uma percussão corporal na hora, algumas batiam palmas, outras na coxa e no peito, outras estalavam os dedos. Ao final, a professora fez um elogio para ele e um aluno disse: “Olha, conseguimos brincar com sua música”. E todos concordaram.

O aluno “Edinzenko” foi o próximo a ensinar seu jogo. Inicialmente ele não queria ensinar, mas todos insistiram. Ele disse que tinha feito um jogo com tabuleiro e mostrou como desenhou isso no caderno. Porém, disse que ia “adaptar” e que não iria fazer com o tabuleiro, porque o desenho no caderno estava muito pequeno e não ia dar certo.

O nome do jogo dele era Jogo do Espelho. Ele explicou como jogava, ao mesmo tempo em que exemplificava. Em círculos, alguém fica com uma bola na mão e cantava uma sequência qualquer de notas e jogava a bola para outra pessoa. Quem recebesse a bola, deveria cantar a sequência de notas de quem havia jogado, e em seguida, criar e cantar outra sequência e jogar a bola para outro, e assim por diante. Ele disse que também precisava de uma bola. Como não tinha bola, uma das crianças sugeriu que fizessem com um estojo. As

crianças brincaram e todas conseguiram jogar o estojo realizando uma sequência musical. Ao receberem o estojo, elas repetiam as notas feitas pelo jogador, mas demoravam um pouco para fazerem sua sequência, pois ficavam pensando em como queriam cantá-la.

Faltavam uns 10 minutos para terminar a aula e havia mais um jogo para eles realizarem. Então a professora pediu para que a aluna “Pinguim” ensinasse seu jogo para a turma. Ela explicou que seu jogo era parecido com o do “Edinzenko”, mas que tinha outro jeito de fazer. Em círculos uma pessoa ficava com a bola, cantava uma sequência qualquer de notas e jogava a bola para outra pessoa. Quem recebesse a bola tinha que cantar outra sequência totalmente diferente e jogar para outro colega, e assim por diante. Ela pegou o estojo usado no jogo anterior e foi explicando e já dando exemplo e jogando para outro colega. Então a turma começou a jogar, mas não jogaram muito, porque a aula já estava encerrando. “Pinguim” também não havia inventado um nome para seu jogo. A turma deu várias ideias e ela gostou do nome Invertida.

Nessa aula foi possível perceber bastante autonomia das crianças na tomada de decisões: estiveram à frente das ações, ensinando, explicando e fazendo os jogos que inventaram. Elas também sugeriram algumas regras e nomes para alguns jogos. Além de inventarem o jogo, elas precisaram transmitir e ensinar como jogar. Observou-se que nos jogos realizados as crianças tentaram explicar, mas logo desistiram de ficar falando e preferiram fazer, ou seja, as crianças que ensinaram os jogos decidiram realizar o jogo ao mesmo tempo em que explicavam. Isso também se mostrou no rap que o aluno ensinou. As crianças estavam aprendendo a cantar e ao mesmo tempo já experimentavam movimento e percussões corporais.

Outro ponto a destacar é que as crianças se mostraram engajadas ao realizarem os jogos que os colegas inventaram. Conforme começavam a jogar, elas mostravam entusiasmo, euforia, queriam falar todos ao mesmo tempo, escolhendo

combinações de notas musicais para dificultarem a dinâmica da atividade, dando ideias para as regras do jogo, querendo modificar algo ou inventando os castigos. Isso ficou bem evidente no jogo da batata quente que elas não queriam parar de fazer. A turma ficou muito empolgada e envolvida ao realizar esse jogo e nem viram o tempo passar. Ficaram muito tempo neste jogo. A professora precisou intervir por causa do tempo da aula e dos outros jogos que faltavam, mas eles pediram para repetir esse jogo em outra aula.

3.3 JOGOS DE MÃOS: PARLENDAS E HISTÓRIAS

No documento ANDRÉIA PIRES CHINAGLIA DE OLIVEIRA (páginas 88-92)

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