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Criando um jogo novo com uma história inventada: Fui ao

No documento ANDRÉIA PIRES CHINAGLIA DE OLIVEIRA (páginas 106-109)

2. TRAJETÓRIAS DA PESQUISA

3.3 JOGOS DE MÃOS: parlendas e histórias inventadas

3.3.5 Criando um jogo novo com uma história inventada: Fui ao

Ainda nessa aula, as crianças fizeram outro jogo de mãos. Na outra parte da aula a professora trabalhou com as histórias inventadas pelas crianças. A professora aproveitou que as crianças estavam empolgadas com esse momento de criação do jogo Unidunitê e já fez uma ponte com a proposta de que as crianças criassem um jogo de mãos com a história que haviam feito em casa. Pediu para que as crianças lessem suas histórias e depois de lerem disse para as crianças: “Que tal fazermos um jogo totalmente novo, usando as nossas histórias”? Uma das crianças perguntou como seria isso.

Então a professora disse que eles poderiam ficar em grupos e que cada criança do grupo pegaria sua história feita em casa e iria compartilhá-la com o grupo. Eles deveriam negociar como utilizar as histórias de cada um e, a partir disso, montar uma história nova e criar um jogo de mãos novo.

E assim os grupos começaram a brincar. Nesse jogo a professora deixou que eles formassem os grupos com quem quisessem e eles se dividiram com quem estava perto. Ao todo formaram quatro grupos com cinco crianças em cada um, sendo que dois desses grupos tiveram a presença de monitores para garantir que as crianças se organizassem com as ideias. Isso porque em um dos grupos haviam ficado as crianças menores e mais tímidas e em outro grupo havia um menino que era muito líder e que, normalmente, não aceitava ideias das outras crianças.

Observei que os grupos utilizaram bastante o caderno nessa atividade. As crianças leram suas histórias e já foram escolhendo as partes que queriam juntar. Três grupos (1, 3 e 4) pegaram partes da história de cada um do grupo e montaram outra nova. Eles disseram que não queriam uma história longa,

mas que fosse divertida. Queriam que ficasse engraçada. O grupo 2, após ler as histórias dos participantes, decidiu escolher a história de uma menina e só modificaram o final.

Após a negociação das ideias, o texto do grupo 1 ficou assim: “Fui ao parque de assombração e encontrei o bicho papão. Quando ele me viu, me deu um macarrão, e depois um arrotão”. O grupo 2, que usou a história pronta de uma aluna, ficou com o seguinte texto: “Fui ao parque brincar no balanço, quando vi caí no chão. Chorei e gritei bem alto, ai que dor, que dor no coração”.

O texto do grupo 3 tinha algumas histórias com temas parecidos e as crianças acharam fácil juntar e fizeram a seguinte letra: “Fui ao parque ver os animais. Vi uma porca e os seus leitõezinhos. Fui ao show e ao rodeio. Fui no brinquedo e gastei o meu dinheiro: um real, dois reais, três reais, quatro reais, cinco reis, seis reais, sete reais, oito reais, nove reais, dez reais”. Além de juntar os textos, as crianças ainda inventaram uma letra no final do texto para acrescentar um desafio à brincadeira. Por fim, o grupo 4 inventou o seguinte texto: “Fui ao parque de diversão, bem na portaria levei um escorregão, eu queria andar de balão, o balão caiu e eu morri”.

Durante as negociações para a elaboração dos textos, observei que alguns grupos já foram pensando nos movimentos do jogo de mãos. As crianças falavam o texto e já iam fazendo junto uma performance de acompanhamento, experimentando um ritmo, uma batida, uma coreografia. Assim elas iam elaborando ao mesmo tempo o texto e o movimento.

Os grupos3 e 4 mantiveram os movimentos das mãos sobrepostas em círculos que haviam feito no jogo Fui lá na

horta. O grupo 3 disse que no seu jogo quem deixasse bater a

mão na hora que cantasse “10 reais” sairia da roda. O grupo 4 também fez algo semelhante e disse que quem deixasse bater na palavra “morri” pagaria um castigo e sairia da roda.

Os grupos 1 e 2 fizeram movimentos bem diferentes e ambos realizaram uma coreografia juntos. O grupo 1 jogou em

duplas com movimentos de mãos que se cruzavam, estalavam os dedos, batiam a mão na cabeça e batiam na coxa. O grupo 2 jogou em círculos com a mão direita virada para cima e a esquerda para baixo, alternando o movimento das mãos na sequência, seguido de duas batidas de mãos no colega com uma batida de pé. Ao cantar “chão” eles se jogavam para o chão como se fossem mergulhar e seguiam com os movimentos terminando com batidas no coração de “tumtumtum”.

Como ainda tinha um tempo para terminar a aula, a professora pediu para que cada grupo ensinasse o seu jogo para a turma aprender. Os dois grupos que haviam feito com movimentos de mãos sobrepostas, (3 e 4) disseram que o movimento era fácil e que a turma precisava aprender só o texto da história.

No grupo 4 todas as crianças do grupo falaram o texto com bastante empolgação e todos fizeram juntos. Estavam bem seguros. No grupo 3 ninguém queria começar. Esse grupo teve a presença de uma monitora e ela os elogiou dizendo que eles haviam trabalhado muito bem em grupo, que todos haviam dado ideias e ajudado a montar o texto com suas histórias. A partir disso, eles começaram a fazer o jogo e falar o texto. Três crianças do grupo tomaram a frente e começaram a ensinar o jogo com movimentos e texto.

O grupo 2, que fez movimentos aliados à coreografia, ensinou o jogo do jeito que eles haviam inventado. Uma menina do grupo quis explicar antes de fazer, mostrando a coreografia. Ela disse que o movimento das mãos era parecido com o jogo do Popeye: mão direita virada para baixo, bate na mão esquerda virada para cima do colega da direita, ao mesmo tempo em que a mão esquerda virada para cima bate na mão direita virada para baixo do colega da esquerda, depois inverte a posição das mãos. Em seguida bate com as duas mãos na palma da mão dos colegas vizinhos, e por fim bate palma. Acrescentou que havia gestos nas palavras: “chão” e “coração”. O grupo todo cantou o texto bem baixinho, na

metade deram uma pausa mais longa, porque todos haviam pensado que tinha acabado.

Já o grupo 1, que também fez movimentos com coreografia,disse que o deles não iria dar certo fazer em roda e decidiram fazer com as mãos sobrepostas, igual do grupo 2, ensinando só o texto novo. As crianças desse grupo eram mais quietas e tímidas e não lembravam mais do texto delas. As meninas diziam que “os textos dos outros grupos confundiram o delas”. Então uma das meninas (“Green”) disse que iria pegar o caderno para cantar o texto. Porém, ela fez uma leitura muito lenta, leu sílaba por sílaba, o que ficou bem diferente do que elas haviam ensinado. Outra garota do grupo (“Draculaura”) disse que não era assim, foi até a menina, pediu o caderno e disse que ela iria ler. Enquanto ela lia, as outras crianças se lembravam e falavam baixinho com ela e já começaram a fazer os movimentos juntos. Nesse grupo teve a presença de uma monitora, que disse que as crianças haviam usado um pouquinho de cada história e que haviam decidido fazer coreografia para deixar a história “mais bonita”. No final, uma das meninas do grupo disse que assim não tinha ficado bom. Ela disse que “ficou pobre”, porque ficou com movimento igual ao dos outros grupos.

No documento ANDRÉIA PIRES CHINAGLIA DE OLIVEIRA (páginas 106-109)

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