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Brincando com novas parlendas: hora de inventar e

No documento ANDRÉIA PIRES CHINAGLIA DE OLIVEIRA (páginas 97-102)

2. TRAJETÓRIAS DA PESQUISA

3.3 JOGOS DE MÃOS: parlendas e histórias inventadas

3.3.2 Brincando com novas parlendas: hora de inventar e

A professora disse que ia dar um desafio para eles. Pediu para que voltassem a ficar em duplas e que modificassem, inventassem outro jeito de realizar os movimentos de mãos do jogo da Aranha Caranguejeira.

Duas irmãs estavam fazendo duplas e quiseram trocar, pois queriam fazer com outras pessoas. Então as crianças começaram a jogar. A maioria das duplas foi inventando e já cantando ao mesmo tempo. Observei que muitos fizeram rapidamente o trabalho, mas algumas duplas demoravam mais, porque davam várias ideias, experimentavam as sugestões, não gostavam, começam de novo, esqueciam.

Terminado o tempo, a professora disse que todos iriam fazer o jogo ao mesmo tempo, ou seja, iriam falar o texto e os movimentos que haviam inventado. Ela deu o sinal e todos começaram a realizar o jogo. A maioria das duplas conseguiu fazer a sobreposição com o que haviam inventado. Três duplas não acompanharam o processo. Logo no início se perderam, não fizeram o que inventaram e acabaram fazendo o movimento igual ao da professora.

A professora explicou que o texto do jogo de mão que tinham acabado de fazer era uma parlenda, que eram versos curtos que normalmente tinham rimas e que podiam ser cantados ou não. Ela disse que tinha trazido cinco parlendas escritas em folha de papel e que iria entregar aleatoriamente uma parlenda por dupla.

A professora fez a proposta para eles brincarem com essas parlendas. Sugeriu para as crianças que elas inventassem um jogo de mãos para fazerem e que podiam recitar ou cantar, fazer do jeito que quisessem. Os textos das parlendas que foram sugeridas para que as crianças fizessem o jogo foram:

Figura 6: Parlendas que usaram para inventarem um jogo de mãos. Pisei na

pedrinha Bom barqueiro Papagaio louro Rua vinte e quatro Botequim Pisei na pedrinha pedrinha rolou Olhei pro mocinho mocinho piscou Contei pra mamãe mamãe nem ligou Contei pro papai chinelo dançou Bom barqueiro bom barqueiro Dá licença de passar Recheado de filhinho Para acabar de criar Passarás, passarás, Dá licença de passar Se não for o da frente pode ser o de trás. Papagaio louro do bico dourado Leva essa cartinha pro meu namorado Se estiver dormindo bata na porta Se estiver acordado deixa recado Lá na rua vinte e quatro a mulher matou um gato com a sola do sapato o sapato derreteu a mulher morreu O culpado não fui eu.

Fui no botequim tomar café Encontrei um cachorrinho com o rabinho em pé sai pra fora cachorrinho que eu te

dou um pontapé.

Fonte: Tabela elaborada pela autora

As duplas que realizaram as parlendas foram as mesmas que fizeram o jogo da Aranha Caranguejeira. Como formaram onze duplas, a professora disse que algumas estariam com as mesmas parlendas, mas que cada uma iria mostrar um jeito diferente de brincar.

Figura 7: Nomes das duplas e as parlendas respectivas.

1. Meteoro e Megan Rua vinte e quatro 2. Green e Cor de Ouro Papagaio louro 3. Princesa de Gelo e

Cloydeen

Bom barqueiro 4. Princesa jujuba e

Gaby estrela Rua vinte e quatro 5. Nany e Pamela Park Pisei na pedrinha 6. Draculaura e Felicia Bom barqueiro 7. Jonas Marra e Lily Papagaio louro 8. Soluço e Rozeta Bom barqueiro 9. Packman e Jack

Bartes

Pisei na pedrinha 10. Jow e Jack Botequim 11. Edinzenko e Pingüim Papagaio louro Fonte: tabela elaborada pela autora

As duplas começaram a brincar. Como as parlendas eram desconhecidas, observei que quatro duplas (3, 4, 5 e 6) fizeram a leitura do texto algumas vezes para decidir como seria o ritmo da fala do texto e em seguida já começaram a trabalhar os movimentos. Mas as outras duplas já foram lendo e fazendo os movimentos ao mesmo tempo. A professora separou bastante tempo para essa atividade.

A maioria das duplas anotou códigos do movimento que iriam fazer para não esquecer. Eles fizeram isso por conta própria e anotaram de várias formas: alguns escreviam os movimentos, outros desenhavam. Alguns anotaram no caderno, e outros anotaram na própria folha em que estava digitada a parlenda.

Nessa aula também houve muito barulho durante os trabalhos em grupo e observei que algumas duplas ficaram incomodadas, porque elas tampavam o ouvido, cantavam mais alto, pediam para falar mais baixo.

Terminado o tempo, a professora pediu para todos se sentarem e chamou uma dupla por vez para apresentar. Ela

disse que a dupla iria apresentar e em seguida ensinaria o jogo aos colegas. E assim as duplas foram se apresentando e ensinando.

Cinco duplas (1, 3, 4, 6 e 9) foram muito criativas e inventaram movimentos bem diferentes: batidas de mãos e pés cruzados, batidas de mãos e pés sem cruzar, estalos, batida na coxa do amigo abrindo e fechando as mãos. Além disso, três dessas duplas (1, 3 e 6) fizeram coreografia realizando uma

performance no jogo. Duas duplas (2 e 10) fizeram melodias

para as parlendas e modificaram movimentos de outros jogos de mãos que conheciam.

A dupla 2 batia com as mãos cruzadas e acrescentou estalos. A dupla 10 modificou o movimento de mão da primeira parte da “Aranha caranguejeira”: usaram as mãos sobrepostas na posição invertida, mas acrescentaram estalos, palmas e pés. A dupla 9 fez movimentos associados a cumprimentos de batidas de mãos abertas e fechadas e movimentos de mãos do Rap. As duplas 7 e 11 não criaram movimentos novos e se apropriaram de movimentos de outras brincadeiras: batiam as invertidas mãos sobrepostas e batiam palmas. A dupla 7 fez num pulso mais lento da parlenda e a dupla 11 quis fazer bem rápido.

Quatro duplas tiveram um pouco de dificuldade em apresentar. Duas delas, porque esqueciam os versos da parlenda, e as outras duas, porque esqueciam os movimentos que haviam inventado. Essas duplas repetiram duas vezes para se lembrarem e usaram as anotações que fizeram.

Outro ponto a destacar é que, mesmo tendo parlendas com o mesmo texto, algumas duplas fizeram uma rítmica diferente para falar o texto. Algumas foram mais pausadas entre uma frase e outra para fazer um ritmo de palmas, outras foram mais rápidas, uma falou em forma de rap, duas fizeram melodia.

Então, como a turma já havia memorizado os versos das cinco parlendas, eles falavam o texto junto com as duplas. Isso

ajudou algumas duplas que haviam esquecido alguma parte do texto.

Porém, uma dupla não gostou que a turma falasse junto, pois haviam inventado uma rítmica diferente para falar o texto. Quando a turma começou a falar com a dupla, as crianças se perderam bastante, porque o movimento que eles haviam inventado não encaixava com o jeito que a turma estava falando. Algumas crianças da turma ficavam falando que eles estavam errando toda hora. Uma das monitoras, ao perceber isso, perguntou se eles queriam fazer de novo sem a turma falando e eles aceitaram. A professora disse que era para eles falarem o texto como haviam inventado, bem alto para que todos pudessem entender o que tinha de diferente.

Das onze duplas que inventaram os jogos de mãos para as parlendas, oito conseguiram ensinar para a turma toda. As outras não o fizeram devido ao tempo da aula. Para ensinar, as crianças simplesmente começavam a fazer o jogo de mãos cantando a parlenda e os outros tinham que acompanhar. Nenhuma das duplas ficou explicando as partes, os movimentos separadamente. As crianças começavam a fazer tudo ao mesmo tempo e a turma precisava acompanhar.

Para as duplas que apresentaram movimentos mais simples que se repetiam ao longo do jogo, foi rápido e fácil de se apropriarem e reproduzirem. As crianças aprenderam, mas não pediram para repetir. Porém, os jogos das duplas que apresentaram as parlendas com movimentos diferenciados e mais complexos e os que tinham coreografia, as demais crianças tinham interesse em aprender e pediam para repetir, porque elas diziam que eram “mais desafiadores” e “mais bonitas”.

Ao final da aula, a professora pediu para inventarem uma história em casa que começasse com a frase: “Fui ao parque”. Ela disse que na aula seguinte eles iriam inventar um jogo de mãos com as histórias.

Nessa aula as crianças conheceram possibilidades sobre o que poderiam fazer musicalmente com parlendas, tanto as conhecidas, quanto as novas. Elas se apropriaram da brincadeira nova ensinada pela professora e rapidamente aprenderam como fazer. Conforme elas já haviam se apropriado do texto e do ritmo, começavam a fazer o jogo cada vez mais rapidamente. Ao transmitirem as parlendas com os jogos de mãos que conheciam, elas tiveram a oportunidade de estarem à frente da atividade exercendo momentos de autonomia. Além disso, foram motivadas e incentivadas a modificaram as mesmas e, assim, por meio das falas na hora de brincar, foram percebendo que podiam fazer a mesma brincadeira de várias formas. Após brincarem com esses jogos de mãos, elas tiveram a oportunidade de inventarem jogos de mãos com parlendas que elas não conheciam, podendo realizá- las da forma que fosse mais interessante para elas.

No documento ANDRÉIA PIRES CHINAGLIA DE OLIVEIRA (páginas 97-102)

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