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DESENHO METODOLÓGICO DA PESQUISA

No documento ANDRÉIA PIRES CHINAGLIA DE OLIVEIRA (páginas 60-65)

2. TRAJETÓRIAS DA PESQUISA

2.1 DESENHO METODOLÓGICO DA PESQUISA

As fontes de coletas de dados escolhidas para compreender como as crianças se apropriam, transmitem e reinventam as brincadeiras cantadas e os jogos musicais foram desenvolvidas no período de abril a julho e aconteceram em momentos diferentes, mas de forma que se complementassem. 2.1.1 Observação participante e registro em vídeo

Uma técnica fundamental da pesquisa qualitativa é a observação. Ela desempenha papel importante no processo de coleta de dados, uma vez que eles são percebidos diretamente pelo investigador. É uma técnica sempre usada na coleta de dados, tanto de forma exclusiva, quanto aliada a outras técnicas de coleta para conhecer e interpretar as ações, os acontecimentos, situações e as falas dos participantes. Ao observar um fenômeno que se quer pesquisar, concebe-se uma noção real do ambiente e das pessoas como fonte direta de dados.

De acordo com Angrosino (2008) a observação, no âmbito da pesquisa, envolve o olhar sistemático sobre as ações das pessoas e o registro, análise e interpretação de seus comportamentos que combinam sensação e percepção do pesquisador diante do objeto estudado. É mediante o ato intelectual de observar o fenômeno estudado que se concebe uma noção real do ser ou ambiente natural, como fonte direta dos dados.

Na pesquisa cientifica são utilizadas várias modalidades de observação que variam de acordo com as circunstâncias e os objetivos do estudo. Uma delas é a observação participante utilizada nesta pesquisa.

Segundo alguns autores (LUDKE, ANDRÉ, 1986; FREIRE, 2010), a observação participante é uma técnica na qual o pesquisador encontra-se inserido no contexto que está sendo investigado, permitindo que o observador chegue mais próximo das perspectivas dos sujeitos investigados. O estudo dos jogos e brincadeiras no contexto da sala de aula requer um contato direto do pesquisador com o contexto da pesquisa.

Nesse sentido, a principal intenção das observações participantes foi apreender e registrar os processos de apropriação, transmissão e reinvenção dos jogos e brincadeiras em sala de aula. Para isso, era preciso não só observá-las, mas envolver-se com elas para captar melhor as falas e ações das crianças no momento que realizavam as atividades musicais com os colegas. Na observação participante, o pesquisador imerge no contexto que está sendo investigado, sendo considerado como membro do grupo, partilhando, na medida em que as circunstâncias o permitem, das atividades, das ocasiões, dos interesses do grupo. (ANGROSINO, 2008)

Nesta pesquisa procurei me inserir no grupo como participante para estar mais integrada e mais envolvida com as crianças, atuando junto delas, sem deixar de exercer meu papel de pesquisadora, observadora. De acordo com Gray (2012), trabalhar ou atuar junto às pessoas para observar suas interações com o meio social e explorar como isso interfere em suas ideias e seus comportamentos é um dos principais objetivos da observação participante.

Foram realizadas nove observações participantes registradas em vídeo com uma câmera móvel. Esta opção foi importante para captar o dinamismo da aula e pela qualidade de aproximação do material coletado com o objeto pesquisado diante da complexidade que se tem em contextos de sala de aula (FLICK, 2004). Esses registros contribuíram para a elaboração de um diário de campo, no qual foram descritas as brincadeiras e jogos realizados em aulas, transcritas as falas, os gestos e comportamentos de como se sentiam e como se

articulavam para realizar as atividades, observando os sentidos e as interpretações que elas davam às suas atividades musicais.

Esse processo de observação e registro das aulas também foi importante para ajudar a construir e delinear o foco que seria dado nas entrevistas de grupo focal que aconteceram no mesmo período das aulas, mas em outros horários previamente combinados com as famílias das crianças.

2.1.2. Caderno das Brincadeiras e dos Jogos Musicais

As crianças receberam um caderno com formato de bloco de anotações para servir de arquivo, tanto das suas impressões pessoais, como dos registros semanais referentes às brincadeiras e aos jogos realizados durantes as aulas e dos que fizeram em casa. Ao final da aula, as crianças escreviam nesse caderno suas ideias sobre a aula. Elas também podiam registrar brincadeiras ou jogos que conheciam, os que aprenderam, os que modificaram ou inventaram, colocando suas opiniões, ideias e reflexões sobre o processo.

Além de utilizá-los no decorrer das aulas, solicitou-se que as crianças trouxessem esses cadernos nas entrevistas de grupo focal para que pudessem compartilhar com a pesquisadora e com os colegas as anotações que haviam feito para troca de experiências e opiniões entre os participantes sobre seus registros.

Alguns pesquisadores (GRIFFIN, 2011; PINHEIRO MACHADO, 2013) se utilizaram dessa metodologia para coletar os dados com o objetivo de registrar e discutir as ideias e experiências musicais dos alunos, por meio de cadernos. Na pesquisa de Griffin (2011), a autora utilizou diários com meninas sobre suas vidas musicais fora da escola. Neste caderno a autora pediu que elas criassem histórias, poemas, canções, colocassem ilustrações, etc, para expandirem suas experiências musicais. Depois de algum tempo, as meninas compartilharam os registros nos diários individuais em

conversa durante encontro filmado e dividiram com a pesquisadora uma variedade de ideias musicais.

Pinheiro Machado (2013) também utilizou cadernos de ideias de música, nos quais as crianças foram convidadas a fazerem colagens, pinturas, desenhos e escreverem sobre o que pensavam, inventavam e gostavam de música, registrando as suas experiências. Por meio dos registros das crianças, a pesquisadora buscou discutir como as crianças refletem e compartilham suas ideias de música a partir de conversas sobre esses apontamentos.

Tais pesquisas mostram que o uso dos cadernos permite ampliar nosso conhecimento a respeito dos sentidos que as crianças atribuem às suas experiências, abrindo também outro modo de comunicação de suas ideias, o que permite complementar os dados da pesquisa.

2.1.3 Entrevista de grupo focal

O grupo focal tem sido utilizado em pesquisas qualitativas com o objetivo de coletar dados através da interação em grupo. Tal método permite complementar os dados obtidos nas observações participantes por meio das falas e concepções das próprias crianças. Como afirma Barbour (2009), as entrevistas de grupo focal têm como objetivo central identificar sentimentos, percepções, atitudes e ideias dos participantes a respeito de determinado assunto.

Com relação à estrutura operacional, tanto Barbour (2009), quanto Gondim (2003), afirmam que o grupo focal é coordenado por um moderador, no caso o pesquisador, que tem o papel de conduzir o grupo e manter o foco da discussão no tópico da pesquisa, tendo como objetivo coletar as informações. Segundo Barbour (2009), o moderador ouve atentamente as respostas, ao mesmo tempo em que estimula os mais tímidos, quietos ou passivos a participar, mas sem colocar sua opinião ou julgar as respostas.

Em pesquisas com crianças, esse é um tipo de entrevista adequada, pois, segundo afirma Barbour (2009), desempenha um papel importante para ouvir as vozes das crianças. A autora também constata que deve haver um grau de reciprocidade entre o moderador e as crianças. O moderador deve promover um ambiente de respeito mútuo, facilitando a interação entre os participantes e criando um ambiente no qual se sintam livres para discutirem.

Nesta pesquisa, buscou-se obter a compreensão dos participantes em relação a como se apropriam, transmitem e reinventam as brincadeiras e os jogos musicais através de suas próprias palavras e comportamentos. Por isso, a escolha deste tipo de entrevista foi a mais adequada.

Apesar de terem um roteiro de questões, as crianças foram gerando outras discussões durante as conversas. As crianças descreveram e partilharam, detalhadamente, suas experiências com relação às atividades musicais que realizaram nas aulas, e o que pensavam referente aos comportamentos, às percepções e às atitudes nas tomadas de decisões.

A figura a seguir mostra um esquema do desenho metodológico da pesquisa:

Figura 1: Desenho metodológico da pesquisa

No documento ANDRÉIA PIRES CHINAGLIA DE OLIVEIRA (páginas 60-65)

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