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CAPÍTULO 1 − OS ÍNDIOS NA HISTÓRIA DO BRASIL:

1.1 Índios no Brasil e o mito do desaparecimento: outra versão da

Pensar sobre essa questão implica considerar que as produções acadêmicas contemporâneas tanto na área da Antropologia, quanto no campo da História do Brasil, quando se referem aos povos indígenas, vêm expressando basicamente duas formas de abordagem: a primeira, a perspectiva assimilacionista; e a segunda, a perspectiva que reconhece os indígenas como sujeitos sociopolíticos. Ou seja, são escritas diferentes versões da história, nas quais, dependendo dos arcabouços teórico-metodológicos e ideológicos, os índios ocuparam diferentes lugares na História do Brasil.

Como bem nos mostrou a pesquisadora Maria Regina Celestino de Almeida: na perspectiva assimilacionista, os índios são postos nos bastidores da História, em que permaneciam presos a um passado de violência e submissão caminhando em direção de uma provável integração; na segunda perspectiva, os índios passam ao centro do palco como protagonistas na História, como sujeitos sociopolíticos diante das situações de conflito ou alianças com os não índios. (ALMEIDA, 2010)

Sobre a perspectiva assimilacionista, é possível afirmar que relaciona-se diretamente com as políticas de integração dos índios no período colonial, acentuando-se no fim do século XIX em função do projeto político da formação do Estado Nacional. Por essa razão, havia a necessidade de construir uma identidade nacional, na qual não havia lugar para a pluralidade étnica. Nesse processo, políticos, intelectuais e romancistas, em conexão com as políticas de governo, voltadas à integração e assimilação dos grupos indígenas, compuseram a ideia de desaparecimento desses grupos étnicos. Sendo difundido esse pensamento ao longo do século XX, contando com a colaboração de alguns indigenistas. (RIOS, 2013, p. 50).

Lembrando que na segunda metade do século XX, contamos com dois grandes expoentes desse movimento, o indigenista Darcy Ribeiro e o sociólogo Gilberto Freyre. Ambos foram autores de obras clássicas que influenciaram e continuam influenciando o imaginário social acerca da origem do Brasil e o lugar dos índios na História. Dentre essas obras, encontra-se os livros: Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno (1996) e O povo brasileiro de Darcy Ribeiro (2006) e Casa grande e senzala de Gilberto Freyre (2004), os quais tivemos o cuidado de reler para recuperar esse debate e tentar compreender algumas narrativas docentes que remontam à ideia da

mestiçagem como estratégia para minimizar a invisibilidade da história e das culturas dos povos indígenas na contemporaneidade.

No que diz respeito à segunda perspectiva, sabemos que emergiu no fim do século XX e início do XXI, trazendo outras abordagens teóricas e metodológicas que questionaram o discurso do provável desaparecimento e extinção dos índios. Segundo Maria Regina C. Almeida (2010, p. 160), um dos fatores preponderantes que influenciou essas outras produções acadêmicas, foi a mobilização dos povos indígenas pelo reconhecimento das suas identidades específicas no cenário nacional, no âmbito da abertura política para um novo projeto, a redemocratização do País.

Dentre essas produções, vale destacar os estudos da própria Maria Regina de Almeida; os de Manuela Carneiro da Cunha; de John Monteiro, de João Pacheco de Oliveira, e Gersem Baniwa (pesquisador indígena), os quais têm sido referências teóricas para estudos sobre os povos indígenas no Brasil na área das Ciências Sociais, e mais recentemente, na área de Educação quando se trata de questões relacionadas com o ensino sobre aspectos históricos e culturais referentes a essa população.

Retomando as contribuições de Darcy Ribeiro, e posteriormente Gilberto Freyre, faremos breves incursões acerca da perspectiva assimilacionista na visão desses autores. O primeiro, teve a última obra publicada, “O povo brasileiro”, e bastante difundida no fim do Século XX, em formato de livro e vídeo documentário. Ambos os textos apresentam-se como uma síntese da história da formação do povo brasileiro, defendendo a ideia da miscigenação como mito fundador. Ao mesmo tempo em que denunciou a violência contra os indígenas e os negros no período colonial, conformou-a na fusão das múltiplas identidades em uma única identidade nacional.

Assim, minimizou as relações de poder contemporâneas que operam em torno do racismo ainda presente na sociedade brasileira. Um exemplo desse silenciamento é a ideia da democracia racial, que permeia algumas cenas do referido documentário, em que uma dessas mostram essa democracia por meio da união e harmonia do povo brasileiro em grandes eventos festivos, como o carnaval e o futebol.

A mestiçagem, como identidade nacional, confortavelmente serviu para esconder as diferenças étnico-raciais. Nessa perspectiva, os povos indígenas estavam fadados a deixarem de existir, uma vez que diante dos projetos desenvolvimentistas do Estado nacional, os índios passaram a ser vistos como populações do passado. (SILVA, 2013a,). Essa perspectiva impactou os programas curriculares, de tal maneira que essa visão ainda se faz presente nos livros didáticos e em algumas salas de aula como se constatou em estudos recentes realizados

em diferentes regiões do País, a exemplo dos estudos de Iara Bonin (2007a), Izabel Gobbi (2006), e Celênia Macedo (2009), dentre outros.

As ideias de Darcy Ribeiro acerca da provável extinção da população indígena estava diretamente relacionada com conceitos de genocídio, etnocídio e aculturação. O primeiro se refere ao ato de extermínio físico pleno ou em parte de um determinado grupo social motivado por várias razões, étnicas, raciais, religiosas e políticas; o segundo mantém estreita relação com o primeiro, porém, necessariamente não remonta ao extermínio físico, está relacionado ao plano da cultura, mais especificamente à imposição de uma cultura considerada dominante, causando destruição e eliminação de valores socioculturais de grupos étnicos considerados dominados; e a aculturação é entendida como a nova condição na qual se encontra o grupo dominado, significa o abandono dos valores culturais “originários” em razão da acomodação da cultura dominante. Essa perspectiva é marcante no pensamento do referido pesquisador quando se referia à população indígena:

Conforme se vê, a população original do Brasil foi drasticamente reduzida por um genocídio de projeções espantosas, que se deu através da guerra de extermínio, do desgaste no trabalho escravo e da virulência das novas enfermidades que os achacaram. A ele se seguiu um etnocídio igualmente dizimador, que atuou através da desmoralização pela catequese; da pressão dos fazendeiros que iam se apropriando de suas terras; do fracasso de suas próprias tentativas de encontrar um lugar e um papel no mundo dos “brancos”. Ao genocídio e ao etnocídio se somam guerras de extermínio, autorizadas pela Coroa contra índios considerados hostis, como os do vale do rio Doce e do Itajaí. Desalojaram e destruíram grande número deles. Apesar de tudo, espantosamente, sobreviveram algumas tribos indígenas ilhadas na massa crescente da população brasileira. Esses são os indígenas que se integram à sociedade nacional, como parcela remanescente da população original. (RIBEIRO, 2006, p. 130).

Até recentemente, pensar o etnocídio ou aculturação dos povos indígenas implicava também considerar a cultura como algo fixo e imutável. No entanto, se tomarmos como referência o pensamento de Stuart Hall acerca do conceito de identidade cultural, a qual pode ser vista como uma construção social, relacional e histórica, assim concebida na sua dinamicidade, logo a ideia de uma identidade fixa torna-se inconcebível. Principalmente tendo em vista que os povos indígenas, como todos os grupos humanos, são grupos sociais suscetíveis às mudanças resultantes das relações sociais internas e com a sociedade não indígena. Nesse sentido, Almeida (2010, p. 22) nos chamou a atenção para o conceito de aculturação como objeto de discussão nas últimas décadas, o qual tem sido problematizado e pensado como uma via de mão dupla, onde índios e não índios se transformam. Portanto, sendo aconselhável substituí-lo pelos termos apropriação cultural e ressignificação cultural.

No entanto, segundo Darcy Ribeiro, como estudioso do seu tempo, tempo no qual a ideia de progresso e assimilacionismo era latente, reconhecer que mesmo “mestiçados” e “aculturados” os índios permaneciam se afirmando índios foi um avanço considerável. Todavia, a condição de “remanescência” dos povos indígenas na sua produção bibliográfica, principalmente na, já citada, obra Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno, remontou a ideia de resto de uma população que se encontrava em uma condição transitória de desintegração social e possíveis “perdas” culturais que os distanciavam cada vez mais de uma provável cultura “original”, logo sendo considerados “índios genéricos” que caminhavam em direção ao desaparecimento ao se misturar à população não indígena dando origem ao chamado “povo brasileiro”. (SILVA, 2008b, p. 216- 217).

A ideia de assimilação dos povos indígenas ficou mais visível quando Darcy Ribeiro concluiu o texto do livro “O povo brasileiro” defendendo a homogeneidade da população brasileira, nas suas expressões socioculturais e linguísticas, de forma a minimizar a diversidade de povos indígenas ainda existente naquele período, em que, não obstante a realidade atual, falavam mais de duas centenas de línguas. Porém o referido autor os considerava grupos pacíficos, apolíticos, incapazes de provocar qualquer perturbação social em função de reivindicações pelo reconhecimento de etnias específicas e autônomas:

É de assinalar que, apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são hoje um dos povos mais homogêneos linguística e culturalmente também um dos mais integrados socialmente da Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos. Não abrigam nenhum contingente reivindicativo de autonomia, nem se apegam a nenhum passado. Estamos abertos é para o futuro. (RIBEIRO, 2006, p. 410).

Se parássemos nossa revisão bibliográfica nesse fragmento, continuaríamos acreditando que o Brasil é um país monocultural, sem conflitos e sem racismo. Sobretudo, que o projeto assimilacionista reservado aos povos indígenas se havia concretizado por completo. No entanto, quando nos detivemos a debates mais recentes a esse respeito, observamos que conforme Maria Regina Almeida:

Surpreendentemente, as previsões não se cumpriram. Os povos indígenas não desapareceram. Ao invés disso, crescem e multiplicam-se, como demonstram os últimos censos. Tornam-se cada vez mais presentes na arena política brasileira, ao mesmo tempo em que despertam o interesse dos historiadores e lentamente começam a ocupar lugar mais destacado no palco da história. (ALMEIDA, 2010, p. 18-19).

Acrescentaríamos que, contrariando um pouco mais a afirmação de Darcy Ribeiro, os dados do Censo do IBGE/2010 mostraram que o Brasil está longe de ser um país onde se fala

uma única língua, tendo em vista que foram contabilizadas 274 línguas indígenas em nosso país e uma população com cerca de 900 mil indivíduos em um crescimento triplicado em relação aos dados do Censo 2000.

Sendo possível perceber a presença de povos indígenas na contemporaneidade em todas as regiões do Brasil. Conforme o Mapa 1 que veremos a seguir, é possível notar que a faixa ocupada pela cor amarela, preenchendo todo o litoral brasileiro com mais intensidade, poderia ser pensada pela possibilidade de maior contingente indígena. No entanto, ocorre o contrário, representa as etnias que têm baixo índice populacional; e não é por acaso! Tendo em vista que essas populações estão hoje onde seus antepassados estiveram na linha de frente do confronto com a ocupação colonial em 1500. Em consequência dos conflitos, das epidemias, esses povos passaram por grande baixa populacional. Enquanto adentrando o centro-oeste e norte do País destacam-se os círculos mais escuros, referentes aos povos demograficamente densos, em razão de o contato colonial ter ocorrido há menos tempo e, possivelmente, de forma menos agressiva.

Mapa 1

Representação gráfica da população indígena total no Brasil

Todavia, como visto anteriormente, o crescimento da população indígena nos últimos censos do IBGE tem sido expressivo. Isso é fato, principalmente na Região Nordeste, onde gradativamente nos últimos 30 anos mais grupos indígenas têm afirmado suas identidade étnicas e reivindicado o reconhecimento oficial.

Entretanto, apesar dos números apontarem esse significativo crescimento da população indígena, o pensamento sobre a provável assimilação dessa população ainda é marcante no âmbito social e educacional no Brasil, de forma que ainda há grandes dificuldades em a maioria da população brasileira reconhecer a existência desses povos e, para além disso, reconhecê-los como sujeitos de direitos específicos e diferenciados.

Essa dificuldade tem ocasionado um sentimento de estranhamento quando deparam com os índios em condições “reais”, desprovidos dos considerados artefatos culturais que caracterizavam seus antepassados. “Para muitos, os indígenas atuais são povos descaracterizados porque mudaram e não correspondem mais as imagens que durante muitos anos informou (e ainda informam) sobre a história desses povos.” (RIOS, 2013, p. 53). São imagens e discursos que remontam os povos indígenas aos povos do passado e sem futuro.

Nessa perspectiva, situa-se a obra de Gilberto Freyre, Casa grande e senzala, onde observamos que aos povos indígenas foi reservado um capítulo em que o autor, seguindo uma concepção do seu tempo, enfatizou os aspectos relacionados com as contribuições dos povos indígenas para a constituição da “Cultura brasileira”. Destacamos essa expressão no singular por entendermos que, para o pesquisador, o Brasil era resultado das culturas indígenas, africanas e portuguesas, fundindo-se em uma unidade cultural mestiça, a “Cultura brasileira”, representando uma suposta harmonia das três raças:

Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações raça: dentro de um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, da do conquistador com a do conquistado. Organizou-se uma sociedade cristã na superestrutura, com a mulher indígena, recém-batizada, por esposa e mãe da família; e servindo-se em sua economia e vida doméstica de muitas das tradições, experiências e utensílios da gente autóctone. (FREYRE, 2004, p. 160).

Observamos ainda nessa citação, que a expressão “sociedade cristã” pode servir para invisibilizar a diversidade religiosa existente no Brasil. A ideia de uma sociedade harmoniosa pode esconder as situações conflituosas, violentas mencionadas por outros autores que discutiram a História do País, a exemplo do próprio Darcy Ribeiro. Como também a forte ideia do mito da democracia racial brasileira, que influenciou e continua influenciando o

imaginário de intelectuais, literatos e livros didáticos, sendo reproduzida nas práticas escolares; mesmo que posteriormente essa concepção sendo questionada, principalmente por intelectuais do chamado Movimento Negro, a exemplo de Kabengele Munanga (2004), no livro Rediscutindo a mestiçagem no Brasil, ainda é marcante.

O mito da suposta democracia racial e a ideia da mestiçagem são pontos comuns tanto no pensamento de Darcy Ribeiro quanto no de Gilberto Freyre, como também por considerarem a História do Brasil a partir da invasão colonial europeia. Os dois autores diferem a forma de abordagem histórica. Darcy Ribeiro denunciou com maior ênfase as violências contra os povos indígenas, e compreendemos que essa foi a maior contribuição na sua obra, exceto a ideia de vitimização dos índios que atravessou sua narrativa.

O sociólogo Gilberto Freyre, na obra Casa grande e senzala, quando se referiu aos povos indígenas, naturalizou as relações de dominação colonial europeia sob os indígenas. E assim evidenciada uma abordagem conformista da História, estabelecendo uma hierarquização sociocultural em que os povos indígenas aparecem como detentores de uma cultura atrasada em detrimento da exaltação da cultura colonizadora europeia tida como avançada:

Sob a pressão moral e ética da cultura adiantada, esparrama-se a do povo atrasado. Perde o indígena a capacidade de desenvolver-se autonomamente tanto quanto a de elevar-se de repente, por imitação natural ou forçada, aos padrões que lhe propõe o imperialismo colonizador. Mesmo que se salvem formas ou acessórios de cultura, perde-se o que Pitt Rivers considera o potencial, isto é, a capacidade construtora da cultura, o seu elã, o seu ritmo.( FREYRE, 2004, p. 177).

As afirmações também remetem a uma provável incapacidade de reação, reelaboração e recriação cultural dos povos indígenas. Com isso, desconsiderando as possibilidades de negociação em detrimento da imposição cultural da sociedade considerada superior e vencedora:

A história do contato das raças chamadas superiores com as consideradas inferiores é sempre a mesma. Extermínio ou degradação. Principalmente por que o vencedor entende de impor ao povo submetido a sua moral inteira, maciça, sem transigência que suavize a imposição. (Ibid., p. 178).

Enquanto em passagens anteriores da citada obra, observamos que o pesquisador tratou das contribuições dos índios na formação histórica e cultural do Brasil, sobretudo, em relação à participação da mulher indígena na formação da família brasileira, nas influências da culinária e na economia doméstica. Entretanto, por mais esforço que o autor tenha feito para evidenciar a maior contribuição por parte do gênero feminino, a primeira contribuição

mencionada foi a sujeição do corpo da mulher indígena aos desejos sexuais dos europeus, uma vez que mencionou a permissividade dos relacionamentos sexuais entre as índias e os colonizadores em troca de alguns objetos:

O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé na carne. Muitos clérigos, deixaram-se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um saco de espelho. (Ibid., p. 161).

Observamos que o relato acima minimizou as situações de violações físicas e simbólicas contra as mulheres indígenas durante os processos da colonização portuguesa no Brasil. Considerando que, dentre outros atos de violência denunciados nos textos de Darcy Ribeiro (2006), o estupro de índias e o aborto foram recorrentes. Portanto, a ideia enfatizada por Freyre (2004), de que as índias espontaneamente estavam dispostas a relacionamentos íntimos com os “brancos” acabou sobrepondo todas as violências praticadas contra as indígenas. Igualmente, a ideia que se tem da rede para dormir, associada à herança da “preguiça” indígena e da pouca afeição pelo trabalho, que até os dias atuais ainda serve de mote para o exercício do preconceito e da discriminação contra esses povos.

Infelizmente, a leitura de Freyre e Ribeiro acerca dos povos indígenas, ainda se encontra presente nas propostas curriculares e nas práticas docentes na atualidade. Sobretudo nas indicações de conteúdos para o componente de História, ao sugerir como objetivo, “Reconhecer a contribuição do índio na formação da sociedade brasileira”,4

como também nas imagens e textos impressos no livro didático História – Pernambuco (TEIXEIRA, 2010), destinado às turmas do 4.º e 5.º ano do Ensino Fundamental, quando, no segundo capítulo, o título sugere o encontro das três raças, “Os europeus, indígenas e africanos”, além de ilustrar com uma imagem que expressa harmonia entre europeus e índios em uma situação de primeiro contato, em que o indígena é representado com ar de satisfação diante da sua imagem refletida em um espelho ofertado pelo colonizador recém-chegado à sua terra. Tal cena é posta como um fato natural, sem problematizações das relações de poder e hierarquia existente naquele contexto histórico e cultural.

A indicação do objetivo e a cena descrita nos mostraram quão grandes é os desafios para as práticas curriculares docentes que desejem desnaturalizar esses discursos e essas imagens, considerando que os programas curriculares tanto quanto os livros didáticos na

4

Objetivo do componente curricular de História referente ao conteúdo “A população indígena” destinado ao 3.º ano do Ensino Fundamental. Encontrado no Caderno de fluxo de escolar do Programa Alfabetizar com Sucesso 2012 e nos Diários de Classes das Escolas Municipais de Pesqueira, PE.

maioria das vezes são os únicos recursos didáticos de uso universal da turma. (GRUPIONI, 1995). No contexto do presente estudo, poucos eram os livros didáticos que traziam referências bibliográficas no âmbito de outras abordagens históricas. Quando isso ocorreu, observamos que as práticas curriculares docentes acerca dos povos indígenas tiveram uma