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1. SÓCIOS E MEMBROS PESSOAS SINGULARES

1.4. ÓBITO DO SÓCIO OU MEMBRO

De acordo com a lei civil e comercial, os herdeiros do sócio falecido não podem entrar para a sociedade em substituição do falecido, salvo se houver no contrato social uma cláusula que o permita, ou se vier a ser elaborado um acordo entre os herdeiros e sócios sobreviventes quanto à substituição do sócio falecido pelos herdeiros.

Assim, no que à orgânica social respeita, o falecimento de um sócio apenas terá como consequência a liquidação das suas partes sociais e o apuramento do valor a pagar aos herdeiros.

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Após 01 de janeiro de 2015, a situação da tributação regra da sociedade conjugal, ou união de facto alterou-se com a redação dada ao artigo 13.º, em especial aos n.ºs 1 e 2 pela Lei 84- E/2014, de 31 de dezembro. Passou a ser regra a tributação separada. Todavia, a questão da tributação conjunta pode ainda colocar-se quer porque as correções à matéria coletável feitas na sociedade transparente pela administração fiscal (cf. artigo 100.º do CIRC) obrigam à reforma da liquidação em sede de IRS (cf. artº 90.º do CIRS), quer por poderem por ela optar os cônjuges ou unidos de facto.

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Fiscalmente, caso ocorra o falecimento do cônjuge do sócio da sociedade transparente o cônjuge sobrevivo 419 tem que declarar o rendimento do falecido conjuntamente com o seu, vendo assim complexificada a obrigação declarativa a cumprir.

É que, no ano em que ocorre o óbito, sendo aplicável o regime da tributação separada (que atualmente é o regime regra), o cônjuge sobrevivo (e aqui não é obrigatoriamente extensível à união de facto) deve preencher o Anexo D da declaração modelo 3 de IRS com a matéria coletável e deduções imputadas ao cônjuge falecido (referente ao período de vida deste e em nome deste), nos quadros relativos à imputação especial proveniente da transparência fiscal. E, preenche um Anexo D, relativo à sua quota-parte na matéria coletável imputada, que constitui herança indivisa, caso não tenha sido feita a partilha, a sociedade continue a ser uma sociedade transparente e não tenha adquirido a quota do sócio com efeitos reportados à data do óbito, relativamente ao período post mortem, por se ter transmitido por morte a participação social que o cônjuge falecido detinha na pessoa coletiva transparente 420 (cf. artigo 64.º do CIRS). Caso porém tenha optado pelo regime da tributação conjunta, deve declarar no seu anexo D os rendimentos e deduções que lhe foram imputados conjuntamente com os respeitantes ao cônjuge falecido.

Se não existir sociedade conjugal, quando o sócio da sociedade transparente falece, haverá que proceder, mutatis mutandis, da forma indicada para a tributação separada, pois que não existirá declaração relativa a um casal, sendo que as obrigações declarativas que referimos e que, no caso da sociedade conjugal, incumbiam ao cônjuge, são da responsabilidade do cabeça de casal da herança.

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Nos termos do artigo 3.º, d) da Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, na redação dada pela Lei n.º 23/2010, de 30/08, as pessoas que vivem em união de facto têm direito à aplicação do regime do IRS nas mesmas condições aplicáveis aos sujeitos passivos casados e não separados de pessoas e bens. Ora, sendo a matéria coletável imputada referente ao ano do óbito, vigorava até essa data a união de facto, pelo que se podem aplicar as mesmas regras que são usadas no caso da sociedade conjugal, se o unido de facto pretender usar esse direito. Caso não queira, seguir-se-ão as regras aplicáveis aos não casados.

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Em caso de falecimento de um sócio vários cenários se podem colocar: 1) a participação social transmite-se aos sucessores do falecido, que, quando for feita a partilha, será registada a favor dos herdeiros a favor de quem foi partilhada; 2) o contrato de sociedade estabelece outra solução: amortização da quota pela sociedade, aquisição da quota pela sociedade; colocação da quota no mercado para ser transacionada por terceiro ou por outro sócio; 3) os sócios estipulam que a quota do sócio falecido deve ser amortizada.

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Concluindo este ponto assinalamos que antes da alteração legislativa, efetuada pela lei 84-E/2015, de 31 de dezembro, as sociedades de profissionais, se a quota transmitisse para o cônjuge sobrevivo, podiam ser desqualificadas enquanto sociedades transparentes 421 por um motivo que lhe é externo e imprevisível – o óbito de um sócio. É que, se o cônjuge sobrevivo não fosse profissional da atividade objeto da sociedade, esta deixava de ser uma sociedade de profissionais e passava a ser uma sociedade do regime geral de IRC (cf. art.º 6.º, n.º 4, a) na redação anterior à Lei 84- E/2014, de 31 de dezembro).

Esta passagem ao regime geral, em consequência da desqualificação como sociedade transparente, tinha impacto na tributação de todos os sócios 422, que deixam de receber matéria coletável imputada para receberem lucros, e no apuramento da matéria coletável por parte da sociedade (aplicando-se eventualmente o disposto no artigo 72.º, nºs 2 e 3 do CIRC, com as consequências que apontamos no ponto referente à transformação das sociedades transparentes).

O mesmo fenómeno de desqualificação enquanto sociedade transparente, pode ocorrer com as sociedades de simples administração de bens, atentos os requisitos e limitações introduzidos no artigo 6.º, n.º 1, c) e densificados na mesma norma, no n.º 4, b) e c), referentes ao número de sócios que não se possam qualificar como grupo familiar.

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Nas sociedades uni-profissionais, atualmente regidas pelo artº 6º, nº 4, a) 1) do CIRC, exige-se que todos os sócios, herdeiros incluídos, prossigam uma atividade constante da Portaria 1011/2001, de 21 de agosto, anexa ao artigo 151.º do CIRS. Caso tal não suceda, a sociedade deixa de poder ser uma sociedade transparente, a menos que ainda possa qualificar-se como sociedade pluriprofissional, regida pelo artigo 6,º, nº 4, a) 2) do CIRC, pois que estas admitem profissionais de mais de uma atividade e até sócios que não sejam profissionais de qualquer atividade. Ainda assim haverá que atentar na limitação do número máximo de sócios permitido, pelo que não poderão os herdeiros ser em número que, em conjunto com os demais sócios, exceda cinco e a data do óbito terá que ser posterior a 02 de junho, pois que antes não existia esta figura da sociedade pluriprofissional. Antes desta redação do artigo 6.º, n.º 4, a), efetuada pela Lei 84-E/2015, de 31 de dezembro, a limitação era ainda maior, uma vez que só eram admitidos na sociedade sócios que prosseguissem a mesma atividade da sociedade, sendo que o exercício de certas atividades exige a verificação de requisitos específicos com a detenção de título académico e/ou a autorização de uma ordem profissional.

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Terá ainda outros efeitos extra fiscais inerentes à transformação da sociedade a que não nos referimos por estarem fora do âmbito deste texto.

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Esta situação introduz uma desigualdade de tratamento, injustificada, entre as aquelas e as sociedades civis e agrupamentos económicos tipificados no artigo 6.º do CIRC, situação que se nos afigura dever ser revista.