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DECLARAÇÃO DE INÍCIO, ALTERAÇÃO E CESSAÇÃO DE ATIVIDADE

8. OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS

8.2. OBRIGAÇÕES DECLARATIVAS

8.2.1. DECLARAÇÃO DE INÍCIO, ALTERAÇÃO E CESSAÇÃO DE ATIVIDADE

Não existe qualquer especificidade na lei, ou em instruções da administração tributária375, que obriguem ou possibilitem que a pessoa coletiva transparente (sujeito passivo instrumental) e os seus sócios e membros (sujeitos passivos efetivos)

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Trata-se de submissão e não entrega uma vez que o cumprimento das obrigações declarativas deixou de ser efetuado em suporte de papel e passou a ser cumprido por submissão electrónica. Esta alteração ocorreu, numa primeira fase, facultativamente e posteriormente de modo obrigatório e exclusivo, tentando dotar o sistema fiscal de modernidade e mais eficiência. Para além da desmaterialização das declarações, teve também reflexos no modo da administração fiscal comunicar às pessoas singulares e coletivas as instruções a seguir no cumprimento das obrigações declarativas, que deixaram de ser divulgada por instruções administrativas, passando a ser visíveis em validações e alertas informáticos no momento da submissão. A submissão das declarações é efectuada no Portal das Finanças (endereço electrónico: http://www.portal dasfinancas.gov.pt/at/html/index.html).

Quanto aos instrumentos legislativos pelos quais se procedeu à desmaterialização das declarações, são os seguintes:

 Declaração Modelo 22 de IRC - Portaria n.º 1339/2005, de 30 de dezembro, tornou obrigatório o seu envio por transmissão eletrónica dos dados a partir de 1 de janeiro de 2006, independentemente do ano/exercício a que se reportassem os rendimentos.

 IES - Portaria n.º 499/2007, de 30 de abril, torna obrigatório o seu envio eletrónico a partir do exercício de 2007.

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Vejam-se os manuais de Inicio, alteração e cessação de atividade e cessação de atividade por via eletrónica, consultáveis no portal das finanças no seguinte endereço eletrónico: http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/apoio_contribuinte/Manuais/Manuais de Atividade.

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assinalem, em outra declaração que não a declaração periódica de rendimentos376 o facto de estarem incluídos no regime de transparência fiscal.

Assim, submetem as declarações cadastrais (declarações de inscrição, alteração ou cessação de actividade previstas nos artigos 118.º e 119.º do CIRC e 112.º do CIRS) sem qualquer menção ao facto de se lhes aplicarem as normas relativas ao regime de transparência fiscal, até porque a qualificação ou desqualificação da pessoa coletiva não se refere a um início, alteração ou cessação de atividade e sim a uma forma especial de tributação.

E porém, nada obsta a que existam regras de registo/cadastro especificas para assinalar que a pessoa é tributada de acordo com o regime de transparência fiscal, sendo que esse conhecimento, por parte da administração fiscal antes do fim do exercício fiscal, seria importante para distinguir o não cumprimento de obrigações declarativas e de pagamento por determinação legal do que decorre de uma violação da lei, evitando, entre outras consequências, sancionar com juros e coimas imerecidos, face ao que dispõe o artigo 12.º do CIRC, estes contribuintes.

Vejamos porquê.

A pessoa coletiva transparente, até à entrega da declaração modelo 22 de IRC, onde assinala a sua qualidade de transparente, em nada se distingue dos demais sujeitos passivos de IRC que exercem a título principal uma actividade comercial, industrial ou agrícola, parecendo, por isso, ter as obrigações de pagamento típicas dos demais sujeitos passivos de IRC (cf. 104.º, n.º 1; 104.º-A, n.º 1; 105.º-A do CIRC, 106.º) 377

. Daqui decorre que à medida que vão sendo ultrapassados os prazos legais, previstos no CIRC, para dar cumprimento a essas obrigações de pagamento antecipado do IRC, a pessoa coletiva transparente incorre em sanções pecuniárias

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Designadamente a declaração periódica de rendimentos, Modelo 22, para a pessoa coletiva transparente e para os sócios ou membros, pessoas coletivas, e o Anexo D, da declaração periódica de rendimentos Modelo 3, por parte dos sócios pessoas singulares. Será importante assinalar que a indicação na declaração modelo 22 da qualidade de pessoa coletiva transparente não obedece ao princípio da presunção da verdade declarativa - cf. artigo 75 da LGT- mas sim ao princípio da colaboração e da legalidade, uma vez que se trata de um regime legalmente obrigatório.

377No caso de alguns destes pagamentos antecipados do IRC devido no final do exercício,

poderá não existir qualquer notificação para que os efetue, mas apenas por não existir base de cálculo para os mesmos (veja-se por exemplo o artigo 105.º, n.º 1 do CIRC) e não por existir qualquer comunicação declarativa informando a administração fiscal de que se trata de uma pessoa colectiva transparente.

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(juros por atraso no pagamento ou mesmo a exigência deste pagamento em cobrança coerciva, com os acréscimos legais inerentes) e não pecuniárias (contra-ordenação previstas e punidas pelo RGIT)378.

Pode ainda acontecer que o entendimento da administração fiscal divirja do sujeito passivo, alterando a qualificação que este faz na declaração modelo 22, sendo que caso exista um erro por parte da administração fiscal neste reenquadramento, ela não poderá depois vir a alterá-lo 379.

Esta divergência de entendimento só é do conhecimento da pessoa coletiva transparente quando a sua declaração modelo 22 for objeto de verificação por parte da administração fiscal 380, o que acarreta alterações na determinação da matéria coletável e consequente liquidação do imposto quer da sociedade transparente, quer de cada um dos sócios ou membros dessa entidade transparente 381, que vêem a

378É certo que a administração tributária procederá à restituição das importâncias

indevidamente arrecadadas, após a entrega da declaração modelo 22, automaticamente ou a pedido da pessoa coletiva transparente, mas esta não deixa de ter com esse procedimento custos administrativos e financeiros (custos de cumprimento), decorrentes do procedimento contra- ordenacional e da exigência do pagamento a que está sujeita no decurso do exercício fiscal.

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Veja-se a decisão proferida no Acórdão do TCAS, em 2014-05-29, no Processo 7219/13, em que foi entendido que o errado enquadramento da sociedade de advogados configura um erro imputável aos serviços que a administração fiscal não pode corrigir sob pena de tal correção se considerar “venire contra factum proprium” e uma violação do princípio da boa-fé que deve nortear a sua actuação (art.º 59.º, n.º 2, da LGT).

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Esta alteração ocorre especialmente em resultado de acções inspetivas (inspeção externa) à declaração Modelo 22 entregue pela entidade transparente.

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A consequência na esfera do sujeito passivo de IRC, é, desde logo a de que, enquanto pessoa colectiva transparente, está isento da obrigação de pagamento (cf. artigo 12.º do CIRC). Se deixa de ser considerado como tal, passa a estar sujeito também a esta obrigação de pagamento. Veja-se este extrato do Acórdão do TCAS, de 2016-02-18 (processo 7849/14): “Consequentemente ao contribuinte será retirado o enquadramento no regime de Transparência Fiscal, deixando de se fazer a imputação da Matéria Colectável ao sócio, ficando a tributação em sede de IRC na esfera do próprio Contribuinte”. E, sendo um sujeito passivo de IRC do regime geral, terá que substituir a declaração modelo 22 anteriormente entregue, o que implica ser sancionado com coima e juros. A mesma sanção será aplicada por não terem sido entregues as quantias relativas aos pagamentos legais antecipados (pagamentos por conta e pagamentos especiais por conta).

Também existirão consequências para os sócios ou membros, que terão que substituir as suas declarações periódicas de rendimentos, alterando a qualificação da importância recebida de matéria colectável imputada para lucros distribuídos, além de estarem sujeitos ao pagamento de coima e juros, por ter já decorrido o prazo legal de entrega das suas declarações periódicas de impostos.

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qualificação da matéria coletável imputada alterada para lucros distribuídos 382, com todas as decorrências financeiras que daí advêm 383.

A própria administração tributária terá dificuldade em proceder a esta verificação com base na declaração modelo 22. Apenas com a entrega do Anexo G da declaração IES será viável fazer um controlo massivo, automático, caso estas pessoas colectivas entreguem o Anexo 384.

Por tudo isto afigura-se-nos ser este um aspeto a aperfeiçoar na lei fiscal, evoluindo desta auto qualificação 385, como pessoa colectiva transparente, para um enquadramento feito com base em normas legais e procedimentais que permitam a confirmação ou alteração, em tempo útil 386, pela administração fiscal. Deve ainda regulamentar-se a forma de dar cumprimento a esta obrigação (por exemplo com

382Entre as referências bibliográficas deste texto, existem acórdãos e decisões arbitrais

relativas a esta matéria nos quais os contribuintes invocam vários princípios como sejam o princípio da certeza e segurança jurídicas e o princípio da capacidade contributiva.

383Este desconhecimento por período tão longo e com tantas consequências nas finanças e

funcionamento das pessoas coletivas transparentes, afigura-se-nos configurar uma desigualdade face ao que sucede com os sujeitos passivos de outros regimes especiais, como por exemplo o RETGS.

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Caso o não entreguem será ainda mais difícil este controlo, e haverá casos em que esta obrigação não é cumprida pelo contribuinte.

385Note-se que a auto qualificação é radicalmente distinta do enquadramento, pois que a

primeira está confinada à esfera da pessoa colectiva transparente enquanto o enquadramento implica a interpretação das normas pelo contribuinte e a confirmação dessas normas pela administração fiscal.

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Com isto preconizamos uma situação semelhante à que acontece com o enquadramento ou reenquadramento das demais pessoas colectivas e singulares, cujo enquadramento que fazem na declaração cadastral é confirmado ou alterado pela administração fiscal nessa declaração e conhecido do contribuinte no início do período de tributação (quer seja período de inicio de actividade, de alteração ou cessação da mesma). Ou seja: é conhecido em tempo útil, o que para nós significa um momento em que o sujeito passivo possa contestar, administrativa ou judicialmente, a decisão da administração fiscal ou acatá-la e apurar a matéria colectável, bem como cumprir as demais obrigações de pagamento e declarativas em conformidade com a natureza de sujeito passivo que a administração fiscal aceita como sendo a interpretação correta dessa natureza. Só uma atuação deste tipo permitirá respeitar os princípios da certeza e segurança. A manter-se a alteração, pela administração fiscal, do auto qualificação feita pelo sujeito passivo, pessoa colectiva, na declaração periódica de rendimentos, Modelo 22 de IRC e na declaração IES (Anexo G), em momento à posterior ao cumprimento das obrigações contabilísticas, declarativas e de pagamento, momento em que toda a situação tributária dos contribuintes (a pessoa colectiva transparente e os seus sócios ou membros) já se consolidou, essa alteração, para além de ter reflexos em vários sujeitos passivos de IRC e IRS, trará uma enorme e escusada complexidade burocrática e problemas financeiros.

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indicadores nas declarações de cadastro já existentes 387) e estabelecer a sanção para o seu não cumprimento.

Este aperfeiçoamento facilitaria a comunicação da informação, respeitando o princípio da colaboração e beneficiaria os sujeitos passivos e a administração fiscal que agiriam com mais certeza e segurança.