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por último, a graphic novel, que utiliza a linguagem híbrida do verbal e do não verbal como os demais gêneros já citados, mas que diverge

JUSTIFICATIVAS PARA UM ESTUDO SOBRE GRAPHIC NOVEL

E, por último, a graphic novel, que utiliza a linguagem híbrida do verbal e do não verbal como os demais gêneros já citados, mas que diverge

deles por se tratar de uma narrativa mais longa e complexa, como um romance, está representada nas listas do PNBE/MEC, com cinco livros de Will Eisner: O nome do jogo; A força da vida; O sonhador e Um contrato com Deus

e outras histórias de cortiço – além das seguintes obras: Estórias Gerais (Srbek

e Colin); Retalhos (Craig Thompson); A Busca (Heuvel, Schippers e Van der Rol); Persépolis (Marjane Satrapi); Aya de Yopougon (Marguerite Abouet);

Necronauta e Bando de Dois (Danilo Beyruth). A diversidade de autores,

de obras e de gêneros discursivos pressupõe uma intenção política do Programa em oferecer para a criança a linguagem híbrida (verbal e não verbal) como uma alternativa distinta da impressa e nem sempre exclusivamente verbal. Inclui uma visão de que a leitura de imagens e de textos juntos e previamente criados de forma articulada é uma prática importante na formação do estudante em sua trajetória como leitor, especialmente no conhecimento de

18 COSTA (2009) “segmento ou fragmento de HQ, geralmente com três ou quatro quadros, apresenta um texto sincrético que alia o verbal e o visual no mesmo enunciado e sob a mesma enunciação. Circula em jornais ou revistas, numa só faixa horizontal” (p. 192).

obras consagradas adaptadas em uma linguagem que é tanto verbal quanto imagética.

Talvez a presença desta produção caracterizada pela sua linguagem híbrida, em diferentes suportes (revistas, livros, coletâneas) e gêneros possa ter orientado os responsáveis pelo Programa (PNBE) a partir de uma visão da leitura como menos complexa e de maior compreensão para o aluno e de uma representação de leitor que tem nesta linguagem visual maior interesse (mais próximo de sua realidade) e facilidade de entendimento.

A Tabela 5, a seguir, apresenta as obras em linguagem de quadrinhos escolhidas pelo PNBE/MEC de 2006 a 2013, distribuídas pelos cinco diferentes gêneros discursivos e em quantidade também distinta ao longo do tempo, de forma irregular.

Tabela 5 – Quantidade e distribuição dos livros caracterizados como linguagem

em quadrinhos pelos gêneros discursivos, no período de 2006 a 2013, pelo PNBE

ANO QUANTIDADE DE OBRAS TOTAL

PNBE Adaptações HQs. Infanto- Juvenil Coletâneas de Tiras Mangás Graphic Novel 2006 3 2 3 1 1 10 2007 2 5 1 8 2008 3 5 1 9 2009 6 7 3 3 19 2010 3 3 1 2 9 2011 13 9 2 5 29 2012 2 3 2 7 2013 21 4 1 2 28 TOTAL 53 38 11 2 15 119

Fonte: http://portal.mec.gov.br/programa-nacional-biblioteca-da-escola, acesso em 15/07/2016.

Deste modo, o conjunto de cento e dezenove livros está distribuído pelos gêneros discursivos denominados: adaptações (53); HQ infanto-juvenil (38); coletâneas de tiras (11); mangás (2); graphic novel (15). Sem dúvida alguma, as adaptações presentes em todos os anos no período de 2006-2013 é o gênero mais recorrente e que parece ser o mais prestigiado pelo Programa. Seguidamente, as HQ infantojuvenis ocupam o segundo lugar na quantidade de obras distribuídas e também presentes a cada ano. Neste conjunto, a

graphic novel aparece com 12,6% em relação ao total de obras, em terceiro

lugar.

Pela Tabela 5, percebemos que há um movimento irregular entre os gêneros discursivos quanto à quantidade de livros distribuídos, no período de 2006 a 2008. Como sabemos, somente a partir de 2009 foram selecionadas também obras destinadas aos alunos do Ensino Médio, além dos estudantes do Ensino Fundamental, o que se mantém por todo o período. Isto, talvez, explique o aumento da quantidade de livros, nos anos ímpares. Dos cento e dezenove, nos anos impares temos dezenove em 2009; vinte e nove em 2011; vinte e oito em 2013, um volume muito maior do que a média registrada (em torno de nove livros) a cada ano par. E, se nos detivermos apenas nos anos de 2006 a 2008, que são aqueles dedicados a atender os estudantes do Ensino Fundamental, vemos que há um certo equilíbrio na quantidade ao longo dos outros anos pares.

A Tabela 5 aponta ainda para uma distinção quanto à regularidade da presença dos gêneros com linguagem em quadrinhos, no período de 2006 a 2013. A diversidade se espalha por gêneros que estão presentes desde o início do programa, (adaptações e HQ infanto-juvenis), que desaparecem em alguns anos (tiras, graphic novel) ou que apresentam uma quantidade muito pequena (mangás). De qualquer forma, a quantidade oscila para mais ou para menos, provavelmente pela clientela (nível de escolaridade) a ser atendida pelo programa: EI, EF séries iniciais, séries finais, Ensino Médio.

As coletâneas de tiras – presentes em maior número, nos anos 2006 e 2009 e ausentes em 2010 e 2012 – são selecionadas pelo Programa, provavelmente, porque além de entretenimento têm também um propósito pedagógico na cultura escolar, sendo utilizadas em sala de aula por diferentes disciplinas, em atividades de interpretação de texto, para contextualização temática ou temporal, ou ainda para entendimento de recursos como humor ou ironia. Assim, disponibilizar esse material oferece oportunidades tanto para o professor em sua didática na sala de aula, quanto para o aluno, que lidará com textos em linguagem mais próxima e atraente para ele, conforme apontam vários estudos do campo da comunicação.

A alternância de espaços entre anos e a pouca quantidade (apenas dois) no período de oito anos para a escolha por obras como mangás (“Na

Prisão” de Kazuichi Hanawa, e “Usagi Yojimbo – Daisho”, de Stan Sakai) talvez seja explicada por ser este um gênero com linguagem híbrida não diretamente ligado à cultura brasileira, ainda que tenha sido bem aceito no Brasil pelos jovens a partir dos anos 2000.

A ampla aceitação das HQs infanto-juvenis, tanto na quantidade quanto na regularidade, ao longo do tempo da distribuição das obras, não só permite afirmar que o gênero alcançou uma tradição no gosto comum dos leitores de qualquer idade, como pode ser explicado também pelo (re)conhecimento nas obras selecionadas de alguns personagens ou obras vinculadas em outras mídias e suportes, como é o caso de “Asterix e Cleópatra” e “Turma do Pererê” da parte dos jovens leitores de sete a quinze anos.

A presença, com regularidade, em todos os anos no período de 2006-2013 das adaptações de obras clássicas em linguagem, assim como o aumento considerável na quantidade (especialmente nos anos de 2011 e 2013), pode ser um indício da importância da leitura atribuída pelo governo sobre às obras clássicas. O uso da linguagem híbrida da HQ é um esforço de motivação e de facilitação para a leitura de um repertório clássico da cultura nacional e estrangeira.

De qualquer forma, a Tabela 5 indica uma aceitação, pela inclusão em seis anos do Programa (dos oito anos analisados por nós, no período de 2006-2013) da graphic novel como um gênero discursivo importante para compor o acervo das bibliotecas escolares do país. A primeira inclusão do

graphic novel no Programa foi em 2006 (O nome do Jogo de Will Eisner),

sendo posteriormente feita durante cinco anos consecutivos (de 2009 a 2013) e tendo uma maior quantidade de obras distribuídas em 2011. Cabe destacar que 2009 e 2010 são os anos em que aparecem as outras quatro obras de Will Eisner: A Força da Vida, O Sonhador e Um Contrato com Deus e outras

histórias de cortiço (2009) e Pequenos Milagres (2010).

Assim, podemos afirmar que o PNBE se tornou um importante divulgador e incentivador do gênero graphic novel, indicando, talvez, sua legitimação e importância para a construção do repertório cultural dos alunos, pois em menos de uma década, quinze obras foram selecionadas e entraram pelos portões das escolas públicas, sendo Will Eisner o autor de cinco destas.

Tal reconhecimento do gênero pelas políticas públicas e sua penetração junto aos professores e alunos justifica também o meu interesse, como professora de português de escola pública e privada, pelo estudo da

graphic novel, especialmente pelas obras de Will Eisner. Compreender como se constitui esse gênero, em sua configuração composicional (estrutura, estilo, temática e suporte que sustenta o texto), assim como seu espaço de circulação e práticas de leituras previstas para a graphic novel é, para nós, o desafio desta pesquisa.

Para tanto, assumimos Um Contrato com Deus e outras histórias de

cortiço de Will Eisner como objeto e fonte de pesquisa, como forma de

compreensão do gênero graphic novel. A escolha por esta obra deve-se principalmente por ser ela a primeira a cunhar em sua primeira edição (1978) a identificação de graphic novel, como um gênero novo e distinto de outros que na forma de livros tradicionalmente disputam o espaço na conquista de uma nova geração de leitores.

CAPÍTULO 2

O “NASCIMENTO” DA GRAPHIC NOVEL

:

AS CONDIÇÕES DE