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Gênero Graphic Novel : histórias para uma nova geração de leitores

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DANIELE CRISTINA DOS SANTOS PASCUALI

GÊNERO GRAPHIC NOVEL: HISTÓRIAS PARA UMA NOVA

GERAÇÃO DE LEITORES

CAMPINAS 2017

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DANIELE CRISTINA DOS SANTOS PASCUALI

GÊNERO GRAPHIC NOVEL: HISTÓRIAS PARA UMA NOVA

GERAÇÃO DE LEITORES

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestra em Educação, na Área de

Concentração de Educação.

Orientador: Profa. Dra. Norma Sandra de Almeida Ferreira

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNA DANIELE CRISTINA DOS SANTOS PASCUALI, E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. NORMA SANDRA DE ALMEIDA

FERREIRA

CAMPINAS 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

GÊNERO GRAPHIC NOVEL: HISTÓRIAS PARA

UMA NOVA GERAÇÃO DE LEITORES

Autor: Daniele Cristina dos Santos Pascuali

COMISSÃO JULGADORA:

Profa. Dra. Norma Sandra de Almeida Ferreira

Profa. Dra. Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto

Profa. Dra. Maria das Dores Soares Mazieiro

A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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Gostaria de primeiramente agradecer a Deus pela oportunidade da vida. À minha mãe, guerreira, que soube ensinar-me as lições mais importantes da vida: honestidade, gratidão, generosidade...

Ao Claudio e a Bruna, parceiros de vida, que fazem de todos os meus momentos, mesmo os mais dolorosos, mais felizes.

A toda minha família que mostram todos os dias que sempre temos para onde voltar...

À Professora Norma, pelas orientações, palavras de sabedoria, companheirismo, por buscar em cada momento ensinar e compartilhar não só conhecimentos como também valores.

À Professora Lilian por questionamentos enriquecedores que me tornaram uma pesquisadora mais crítica.

À Professora Cláudia, cujas as palavras e apontamentos auxiliaram na construção dessa pesquisa.

À Professora Maria das Dores por dialogar para o enriquecimento de minha pesquisa desde o primeiro dia que a conheci na sala do ALLe.

Às amigas de grupo, em especial, Mariana e Andréa, que a todo momento incentivaram-me a esta caminhada.

A todos companheiros de estudos, colegas e professores, pelas valorosas trocas de experiências.

A todos professores e professoras da minha vida que compartilharam e contaminaram-me com seu amor pela profissão.

E, aos meus alunos que a cada dia possibilitam refletir sobre o ato de educar alimentando-me a necessidade de sempre aprender e a estudar.

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As histórias aqui representam uma parte vital da minha obra. É uma

grande satisfação saber que agora elas chegam a uma nova

geração de leitores.

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Cada gênero discursivo é uma resposta dos sujeitos às necessidades e finalidades próprias das situações comunicativas ligadas a determinadas condições de produção de usos da linguagem. Graphic novel pode ser identificada como um “novo” gênero, que atualmente circula nos bancos escolares da Educação Básica e que faz parte do acervo do PNBE/MEC, mas que tem sido pouco estudado e explorado nas academias. É intuito dessa pesquisa – alicerçada nos estudos de M. Bakhtin, R. Chartier e W. Eisner – compreender como este gênero se constitui em sua configuração composicional (estrutura, estilo, temática e suporte que sustenta o texto), destacando o uso híbrido da linguagem e das imagens, o jogo de enquadramentos nas cenas sequenciais, a complexidade da temática, entre outros. Para as análises, tomou-se a obra Um Contrato com Deus e outras

histórias de cortiço, de Will Eisner, publicada pela primeira vez no Brasil, em

1988, pela Editora Brasiliense.

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Each discursive genre is a response of the subjects to the needs and purposes proper to the communicative situations linked to the certain conditions of production of uses of language. Graphic novel can be identified as a "new" genre, which currently circulates in schools of Basic Education and is part of the collection of PNBE / MEC, but so far little studied and explored in academies. It is the intention of this research - based on the studies of M. Bakhtin, R. Chartier, and W. Eisner - to understand how this genre is constituted in its compositional configuration (structure, style, theme and support that supports the text), highlighting the hybrid use Of language and images, the play of frames in sequential scenes, the complexity of the subject, among others. For the analysis, the book A Contract with God and Other Tenement Stories by Will Eisner, published for the first time in Brazil in 1988, by Editora Brasiliense, was taken.

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Figura 01 Capa da primeira edição americana do graphic novel Um

Contrato com Deus e outras histórias de cortiço (1978)…… 63

Figura 02 Capa da segunda edição americana do graphic novel Um

Contrato com Deus e outras histórias de cortiço (1985)…… 63

Figura 03 Capa da primeira edição brasileira do graphic novel Um

Contrato com Deus e outras histórias de cortiço (1988)...… 64

Figura 04 Exemplos de capas The Spirit... 68

Figura 05 Página de Rosto... 69

Figura 06 Página da Ficha catalográfica... 70

Figura 07 Destaque da Ficha Catalográfica... 70

Figura 08 Índice……….………... 71

Figura 09 Prefácio (p. 5)……… 73

Figura 10 Prefácio (p. 6)……… 74

Figura 11 Prefácio (p. 7)……… 75

Figura 12 Obediência Cega/Religião – Um Contrato com Deus... 82

Figura 13 Adoção – Um Contrato com Deus... 82

Figura 14 Morte/Ordem não Natural da Vida – Um Contrato com Deus. 83 Figura 15 Poder de DeusxPoder do Homem – Um Contrato com Deus. 83 Figura 16 Estereótipos Sociais – Um Contrato com Deus... 84

Figura 17 Corrupção (trocas ilícitas) – Um Contrato com Deus... 84

Figura 18 Negócios Ilícitos – Um Contrato com Deus... 85

Figura 19 Problemas Sociais/Emprego informal – O Cantor de Rua… 86 Figura 20 Ilusão do Sucesso e da Riqueza – O Cantor de Rua……… 86

Figura 21 Decadência (Social, Pessoal e Profissional) – O Cantor de Rua……….. 87 Figura 22 Sexo como moeda de troca – O Cantor de Rua……… 87

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Figura 24 Miséria – O Zelador……… 88

Figura 25 Visões distorcidas sobre o sexo – O Zelador………...………. 89

Figura 26 Violência – O Zelador……… 90

Figura 27 Suicídio – O Zelador……… 90

Figura 28 Miséria – Cookalien……… 91

Figura 29 Sonhos e Desilusões – Cookalien……… 91

Figura 30 Ambição – Cookalien……… 92

Figura 31 Traição – Cookalien……… 92

Figura 32 Iniciação Sexual – Cookalien……… 93

Figura 33 Estupro – Cookalien……… 94

Figura 34 Violências – Cookalien……… 94

Figura 35 Tipos de quadros segundo Eisner (2010)……… 98

Figura 36 Exemplos de uso de quadros para timing de narrativa……… 99

Figura 37 Exemplos de narrador em terceira pessoa (observador)…… 103

Figura 38 Exemplos de narrador em terceira pessoa (onisciente)…… 104

Figura 39 Páginas apresentação do Cortiço no Bronx (p. 9 a 12)…… 106

Figura 40 A abertura da primeira história – Um Contrato com Deus…. 109 Figura 41 A abertura da segunda narrativa – O Cantor de Rua………... 111

Figura 42 A abertura da terceira história – O Zelador……… 112

Figura 43 A abertura da última narrativa – Cookalein……… 113

Figura 44 Apresentação da última narrativa – Cookalein……… 114

Figura 45 Frimme Hersh (p.15) – Um Contrato com Deus……… 116

Figura 46 Sequência narrativa da volta de Frimme à sua casa após o funeral da filha (p. 16 a 19) – Um Contrato com Deus……… 118

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Tabela 01 Identificação da quantidade de trabalhos e distribuição pelas palavras-chave, no período de 2008-2013. Fonte: SBU... 25 Tabela 02 Identificação da quantidade de trabalhos distribuída pelos

locais de produção e pelas palavras-chave, no período de 2008-2013. Fonte: IBICT...

25

Tabela 03 Constituição do Levantamento Bibliográfico de Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado... 27 Tabela 04 Síntese dos objetivos elencados pelos pesquisadores

distribuídos pelos gêneros discursivos, objeto de estudo dos trabalhos que não se utilizam de graphic novel...

28

Tabela 05 Quantidade e distribuição dos livros caracterizados como

linguagem em quadrinhos pelos gêneros discursivos, no período de 2006 a 2013, pelo PNBE...

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HQ História em Quadrinhos

IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

MEC Ministério da Educação

PNBE Programa Nacional Biblioteca da Escola

PUCRS Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

PUCSP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFSM Universidade Federal de Santa Maria

UFU Universidade Federal de Uberlândia

UFV Universidade Federal de Viçosa

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS 15

1 JUSTIFICATIVAS PARA UM ESTUDO SOBRE GRAPHIC NOVEL 23

1.1 Levantamento da produção acadêmica sobre linguagem em quadrinhos

24 1.2 A presença da linguagem em quadrinhos nas escolas 31

2 O “NASCIMENTO” DA GRAPHIC NOVEL: AS CONDIÇÕES DE

PRODUÇÃO E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO COMO AUTOR 39

2.1 As condições de produção das HQs à Graphic Novel: um breve

histórico 40

2.2 Pelas palavras de suas obras: a constituição do sujeito em autor de

graphic novel 42

2.3 O “nascimento” da graphic novel: Um Contrato com Deus e outras

histórias de cortiço. 54

3 UM CONTRATO COM DEUS E OUTRAS HISTÓRIAS DE CORTIÇO:

QUE GÊNERO DISCURSIVO É ESSE? 61

3.1 Objeto livro: o suporte da graphic novel 62 3.1.1 Capa: o primeiro contato com o gênero graphic novel 64 3.1.2 Página de Rosto, Ficha Catalográfica e Índice: os pré-textos da

graphic novel 69

3.1.3 O Prefácio: não só uma introdução à obra, mas sim ao gênero 72 3.2 A mudança de temáticas: do entretenimento à reflexão 80 3.3 A estrutura composicional do gênero graphic novel 96 3.4 O estilo de linguagem de Will Eisner no gênero discursivo graphic

novel 107

CONSIDERAÇÕES FINAIS 123

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho pretende apresentar e discorrer sobre o gênero discursivo graphic novel, através da obra Um Contrato com Deus e outras

histórias de cortiço, de Will Eisner, edição 1988.

Pontuar tal obra como própria de um gênero discursivo pressupõe considerar os estudos de Mikail Bakhtin (2003, 2010), assim como de outros pesquisadores (Roger Chartier, 2002; Michel de Foucault, 1992), entre outros, na tentativa de entender a produção da linguagem em seus usos e finalidades, bem como os modos de produção de enunciados entre os sujeitos de um determinado tempo e lugar.

Com base em Bakhtin (2003), por exemplo, é possível constatar que as atividades humanas estão diretamente relacionadas à linguagem e, portanto, dado o caráter diversificado dessas atividades, infere-se que há, também, uma diversidade na prática social da linguagem, pois:

o emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua mas, acima de tudo, por sua construção composicional (BAKHTIN, 2003, p. 261).

A esses tipos de enunciados, de certa forma estáveis à utilização, Bakhtin (2003) denomina gênero do discurso.

Tais tipos são histórica e socialmente marcados, visto que se relacionam diretamente às diferentes situações sociais, que por sua vez os determinam com características temáticas, composicionais e estilísticas. O conteúdo temático refere-se ao objeto do discurso, à finalidade discursiva (orientação de sentido para o próprio discurso e os participantes da interação). O estilo, vinculado às unidades temáticas determinadas e às unidades composicionais, diz respeito ao uso típico dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua. Já a composição se refere ao tipo de estruturação e de conclusão de um todo e ao tipo de relação dos participantes da comunicação verbal (com o ouvinte, com o leitor, com o interlocutor, com o discurso do outro), ou seja, a construção composicional é responsável pelo acabamento da

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unidade de comunicação, possibilitando ao interlocutor inferir a totalidade da estrutura do gênero.

Nesse âmbito, o autor classifica desde o diálogo cotidiano até as formas mais variadas de gêneros literários, sempre enfatizando que:

a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades de multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo (BAKHTIN, 2003, p. 262).

Desse modo, percebemos que os gêneros do discurso são dinâmicos e tão heterogêneos quanto a linguagem e as atividades humanas e, consequentemente, são infinitas as possibilidades de surgimento ou de desaparecimento de alguns gêneros, assim como de transformação de outros tantos, ao longo do tempo e em diferentes sociedades. Gêneros discursivos se complexificam buscando atender diversas finalidades de uso em diferenciados campos da atividade humana.

Os estudos de Roger Chartier (2002) podem dialogar, complementando as questões postas a respeito dos gêneros do discurso, por Bakhtin (2003). Segundo Chartier (2002), a importância do suporte - do objeto que sustenta o texto para que este possa circular entre seus leitores – é constitutiva dos sentidos e usos previstos para os sujeitos.

Além da temática, dos elementos composicionais e do estilo que compõem e determinam cada gênero do discurso, este (o gênero) é configurado também pelo suporte que o carrega:

[...] não existe nenhum texto fora do suporte que o dá a ler, que não há compreensão de um escrito, qualquer que ele seja, que não dependa das formas através das quais ele chega ao seu leitor. Daí a necessária separação de dois tipos de dispositivos; os que decorrem do estabelecimento do texto, das estratégias de escrita, das intenções do autor, e os dispositivos que resultam da passagem a livro ou a impresso, produzidos pela decisão editorial ou pelo trabalho da oficina, tendo em vista leitores ou leituras que podem não estar de modo nenhum em conformidade com os pretendidos pelo autor. (CHARTIER, 2002, p. 127)

Desta forma, para definir um gênero discursivo na perspectiva bakhtininana, compreendemos que a sua materialidade – formas de impressão e escolhas tipográficas, assim como todo o trabalho de edição, por exemplo –

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(CHARTIER, 2002) é de decisiva importância em um trabalho de pesquisa, como o que é proposto aqui.

As contribuições teóricas e metodológicas de Bakhtin (2003) e Chartier (2002) nos orientam neste trabalho, que seleciona entre o gênero

graphic novel o estudo da obra inaugural Um Contrato com Deus e outras histórias de cortiço. Interrogada “(...) além dos aspectos discursivos que se

articulam entre si, mas que incluem o ‘suporte do texto’ que os carrega e os sustenta e as práticas que os movimentam, dando-lhes sentido” (FERREIRA, 2014, p.10), a obra Um Contrato com Deus será tomada como objeto de nossa pesquisa. Segundo Ferreira (2014), é preciso considerar que os sentidos empreendidos na análise de uma obra não se esgotam pelos seus conteúdos ou pelos usos da linguagem nela inscritos, desencarnados das condições que constituíram o momento de sua produção, ou separados dos usos previstos para seus leitores, assim como destituídos da forma como eles se apresentam na intrínseca dependência em relação à materialidade de seu suporte.

Por outro lado, a questão da “autoria” atribuída a um determinado gênero discursivo em uso em determinada situação comunicacional também tem sido um termo de difícil discussão por diferentes estudiosos, entre eles o próprio Bakhtin (2003), ou por Chartier (2002), assim como por Foucault (1992).

Nessa pesquisa, apoiaremos nossa reflexão nos estudos trazidos também por M. Foucault (1992), especialmente na apresentação provisória de um ensaio, ocorrida em 1969, para os membros da Sociedade Francesa de Filosofia, em que ele sinaliza um ponto de partida para a compreensão deste conceito. Para ele, a autoria deveria observar a “relação do texto com o autor” e “a maneira como o texto aponta para essa figura que lhe é exterior e anterior, pelo menos em aparência” (FOUCAULT, 1992, p. 34).

Ele enfatiza que apesar do autor ligar-se ao seu texto por um nome próprio, esta relação não é direta. Esse nome exerce uma função no discurso, que indica a forma como esse texto deve ser recebido e lido, possibilitando a classificação, o agrupamento e a delimitação da obra em relação a outros textos. Nas palavras de Foucault (1992), o nome do autor “serve para caracterizar um certo modo de ser do discurso” (p. 43), assumindo uma função

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– a função autor – de sua obra, a qual caracteriza “o modo de existência, de circulação e de funcionamento” (p. 46) dos textos no interior de uma sociedade.

A função autor é assim construída pela própria constituição do sujeito enquanto um ser histórico e social, recusando a instância do “poder criador” ou um “lugar original da escrita”, já que, para Foucault (1992), o autor seria uma “projeção”, atrelada tanto ao discurso quanto à época: “[...] a função autor não é, com efeito, uma pura e simples reconstrução que se faz em segunda mão a partir de um texto tido como material inerte. O texto traz sempre consigo um certo número de signos que reenviam para o autor” (FOUCAULT, 1992, p. 54), ou então:

A questão da autoria deveria ser considerada a partir do lugar de onde o sujeito fala, do momento histórico social em que ele se insere e considerando também o momento em que o texto será lido, toda memória discursiva de cada leitor (SCHINELO e VILLARTA-NEDER, 2000, p. 109).

Percebido, então, como sujeito constituído por uma história social e cultural, o autor não é então apenas um indivíduo nomeado pelas suas características identidárias – gênero, sexo, idade, escolaridade, etc., aspectos importantes a serem considerados em nossa pesquisa ao estudar um gênero discursivo (graphic novel), em um determinado suporte (livro impresso), de um reconhecido autor (Will Eisner).

No caso da obra Um Contrato de Deus e outras histórias - um gênero discursivo denominado graphic novel - a questão da autoria, diferentemente de muitos outros gêneros, tem “data de nascimento” e “filiação”. Além disso, seu “pai” não só escreveu o texto, mas também o editou, já que Will Eisner fazia parte do polo editorial, sendo ainda reconhecido por um público já cativo.

Sua própria história de vida e trajetória profissional - inserido em práticas sociais ligadas simultaneamente à criação e ao mercado editorial - nos oferece subsídios para entender este gênero que ele inaugurou, estudou, divulgou, publicou.

Para Eisner (1988), o gênero graphic novel traz em sua própria configuração a hibridez entre a linguagem verbal e a não verbal, além da dinamicidade em sequências de vinhetas produzindo movimento e a possibilidade de ampliação na produção de sentidos.

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Sabemos que o uso de desenhos, imagens, cores e sinais na comunicação entre os indivíduos não é algo novo. O não verbal é constituinte da própria linguagem e, ao observar, mesmo que brevemente, a história da humanidade, percebe-se que o conhecimento se iniciou com as incursões às descobertas de desenhos em cavernas, fragmentos de arquiteturas antigas, pedaços de utensílios e armas, etc. A leitura do não verbal, unida à do verbal, está presente na vida cotidiana dos sujeitos. Nos dias atuais, a todo momento essa hibridez provoca seus leitores, seja em propagandas, em filmes, nos hipertextos da web ou em outros meios, inclusive nas chamadas graphic

novels.

A graphic novel parece ser um produto de seu tempo, haja vista que a partir da segunda metade no século XX a imagem passou a dominar os meios midiáticos, com o advento e a popularização da TV e da Internet.

Segundo Eisner (2013, p. 7), “na verdade, a leitura visual é uma das habilidades obrigatórias para as comunicações neste século. E as histórias em quadrinhos estão no centro desse fenômeno”.

Para ele (2010 e 2013), as revistas em quadrinhos, surgidas no início do século XX, conquistaram uma posição de destaque na cultura popular. Entretanto, nas últimas quatro décadas do século XX, elas iniciaram um movimento de transformação em suas temáticas, configurações e estilos.

Apesar de existirem muitas produções em quadrinhos, algumas delas podem caracterizar-se pela narrativa de histórias com enredos simples, às vezes cômicos, às vezes de aventura, enquanto há outras empenhadas em serem aceitas como arte, como literatura. Nesse novo espaço é que encontramos o gênero graphic novel, produções que saem do campo do simples entretenimento para alçar temas mais “adultos” e polêmicos, em uma composição intencionalmente artística.

Eisner (2013) ainda salienta que os desenhos dos quadrinhos não podem ser considerados apenas como uma extensão do texto escrito. Segundo ele, imagens e diálogos, quando bem trabalhados, podem ir além de “um visual desprovido de pensamento”, transformando-se em ricas formas de narrativas.

No caso do texto, o ato de ler envolve uma conversão de palavras em imagens. Os quadrinhos aceleram esse processo fornecendo as imagens. Quando executados de maneira apropriada, eles vão além da conversão e da velocidade e tornam-se uma só coisa. (EISNER, 2013, p. 9).

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Segundo ele, o autor estabelece um contrato com o leitor ao contar uma história - seja ela oral, escrita ou gráfica. Nesse contrato, o autor espera que o leitor estabeleça o sentido pretendido por ele autor para o texto que produziu, enquanto o leitor espera que lhe seja transmitido algo a partir do qual o sentido possa ser estabelecido, uma vez que tem expectativas a respeito do que lê.

Nas narrativas gráficas, o leitor deve produzir sentidos com “tempo implícito, espaço, movimento, som e emoções” (EISNER, 2013, p. 53), sendo que, dessa forma, o leitor precisa não somente “decodificar” as relações entre a imagem e o texto escrito, mas ao mesmo tempo utilizar todos os seus conhecimentos e experiências neste processo.

O caminho de leitura das graphic novels, para Eisner (2013), requer um grande elemento no contrato entre o autor e o leitor: a luta do autor para manter o interesse desse leitor. O autor o controla e o prende quando oferece o que é esperado por este leitor, tanto na questão dos temas – histórias sobre comportamentos humanos em diferentes situações, fantasias, diversão, crítica – como na questão da atenção e da retenção, sendo a primeira alcançada com “imagens provocantes e atraentes” e, a segunda, obtida pela “organização lógica e inteligível das imagens” (p. 55).

Ainda descrevendo o contrato celebrado entre autor e leitor, no caso específico da graphic novel, Eisner (2013) salienta que como as imagens não têm em si mesmas os sons, a música ou o movimento, será na relação estabelecida entre essas duas figuras – autor e leitor – que estes elementos se complementam e produzem sentidos para o leitor. Ao autor é reservada a atenção de pensar em seu público alvo (leitores) e oferecer a ele gestos e posturas que sejam facilmente identificáveis; ao leitor, cabe a interação com o texto como um todo, produzindo sentidos a partir do texto e de seus próprios conhecimentos de mundo.

Nesse sentido, Will Eisner se intitula autor de um gênero discursivo

graphic novel - previsto em uma determinada composição, estilo e temática

próprios, que pressupõe um leitor a ser conquistado na hibridez da linguagem verbal e imagética trabalhada esteticamente. Prevê ainda uma prática gerida e gerada em um contrato firmado entre autor e leitor, capaz de promover sentidos na leitura. Ele propõe um novo olhar para os gêneros discursivos de

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linguagem híbrida, auxiliando a um reconhecimento do mercado editorial e também educacional não só do gênero discursivo graphic novel, mas também das adaptações em histórias em quadrinhos, das histórias em quadrinhos infanto-juvenis, dos mangás, entre outros, já que esses gêneros foram incluídos em programas governamentais de leitura, como o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE/MEC).

Na tentativa de discutir as dúvidas sobre a constituição do gênero

graphic novel, a presente pesquisa foi idealizada em três capítulos, assim

distribuídos: no primeiro, apresentamos Justificativas para um estudo sobre

graphic novel, centrando nossas discussões em torno do fato de que apesar de

obras inscritas no gênero discursivo graphic novel terem sido publicadas no Brasil a partir de 1988 e de sua entrada nas escolas brasileiras a partir de 2006, com PNBE/MEC, há poucos estudos sobre este tema – como discorremos no subtítulo do primeiro capítulo, Levantamento da produção

acadêmica sobre linguagem em quadrinhos – e, em A presença da linguagem

em quadrinhos na escola

No segundo capítulo, As condições de produção e a constituição do

sujeito como autor: o “nascimento” da graphic novel, buscamos construir um

panorama das condições que propiciaram o surgimento do gênero, no subtítulo: As condições de produção de histórias em quadrinhos e graphic

novel: um breve histórico. Já em Pelas palavras de suas obras: a constituição do sujeito em autor de graphic novel, apresentamos Will Eisner, autor da

primeira obra inscrita como graphic novel, e como sua história pessoal e profissional contribuíram para sua construção como autor e criador de um novo gênero.

O último capítulo – Em Um Contrato com Deus e outras histórias de

cortiço: que gênero discursivo é esse? – é constituído de análises feitas a partir

da primeira obra em graphic novel, buscando reconhecer em sua materialidade a sua configuração composicional, conforme Ferreira (2014), (estrutura, estilo, temática e suporte que sustenta o texto), assim como seu espaço de circulação e práticas de leituras previstas. Para tanto, subdividimos o capítulo em Objeto livro: o suporte da graphic novel, discutindo sobre como todos os elementos que compõem essa obra – capa, página de rosto, ficha catalográfica, índice e prefácio – além de construir o objeto livro, permite

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compreender o gênero discursivo em questão, pois o suporte é uma materialização da obra através da qual o gênero pode ser lido. As temáticas que configuram o gênero são apresentadas e discutidas no subtítulo A

mudança de temáticas: do entretenimento à reflexão, parte destinada a

entender a função do gênero graphic novel, que se distingue muito da função de entretenimento de outros gêneros como as histórias em quadrinhos de heróis ou aventuras. Os subtítulos A estrutura composicional do gênero graphic

novel e O estilo de linguagem de Will Eisner no gênero discursivo graphic novel

apresentam as discussões sobre a constituição linguística do gênero, destacando a hibridez das linguagens verbal e não verbal o que dá à narrativa um estatuto estético, no uso de vários recursos próprios da linguagem literária.

Todo o percurso de pesquisa teve o intuito de possibilitar àqueles que já utilizam ou que possam vir a utilizar o gênero graphic novel subsídios para melhor entendê-lo; afinal, conforme Bakhtin (2003),

Quanto melhor dominarmos os gêneros tanto mais livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa individualidade (onde isso é possível e necessário), refletimos de modo mais flexível e sutil a situação singular da comunicação; em suma, realizamos de modo mais acabado o nosso livre projeto de discurso. (BAKHTIN, 2003, p. 285)

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CAPÍTULO 1

JUSTIFICATIVAS PARA UM ESTUDO SOBRE GRAPHIC NOVEL

Diferentemente do meu interesse pelas Histórias em Quadrinhos iniciado na infância e no ambiente doméstico, o meu primeiro contato com o gênero discursivo graphic novel foi em 2011, ao cursar uma pós-graduação lato sensu, na Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP1.

O curso era organizado por módulos, dentre os quais um de “Quadrinhos“2, o que acabou por propiciar uma oportunidade para que eu

pudesse manusear alguns livros e, conhecer muitos deles, como por exemplo,

Assunto de Família e Um Contrato com Deus e outras histórias de cortiço, de

autoria de Will Eisner. A participação neste módulo ativou as memórias de quando eu tinha seis anos e minha mãe me oferecera as primeiras leituras em histórias em quadrinhos. Uma sensação de descoberta, euforia, interesse, uma experiência de leitura a qual não se larga antes de chegar às últimas páginas, que não se interrompe, e na qual o leitor lança mão de diferentes estratégias3

para poder desfrutar, totalmente envolvido, de suas imagens e conteúdos densos, fortes. Uma leitura que abraça palavras e imagens amalgadas, impondo um desafio: palavras desenham? Imagens gritam? O que é isto?

Naquele módulo, pude conhecer outras graphic novels e outros autores, adensar meus conhecimentos e estudos sobre linguagem, com destaque para as contribuições de Mikhail Baktin, o que contribuiu para a produção do projeto desta pesquisa4.

1 Especialização em Língua Portuguesa com ênfase na formação do leitor (carga horária: 360h).

2 O módulo “Quadrinhos” foi ministrado pela Prof.ª Dr.ª Josiane Maria Souza.

3 Utilizei o intervalo do almoço e solicitei à professora permissão para permanecer com o livro no segundo tempo da aula, no intuito de terminar a leitura de Assunto de Família e Um

Contrato com Deus e outras histórias de cortiço.

4 Projeto de pesquisa intitulado “GÊNERO GRAPHIC NOVEL: A HIBRIDEZ LINGUÍSTICA E A

EDUCAÇÃO“ apresentado ao programa de pós-graduação, no grupo de pesquisa

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1.1 Levantamento da produção acadêmica sobre linguagem em quadrinhos

O meu interesse pela graphic novel me colocou como desafio conhecer um “novo” gênero com ampla aceitação no mercado editorial, com muitos autores e obras5 lançadas nos últimos anos, sendo reeditadas

nacionalmente e fora do Brasil. Colocou-me também como desafio conhecer se havia ou não uma produção acadêmica sobre graphic novel. Conhecer para situar minha pesquisa no interior de um campo de conhecimento e para identificar interlocutores que pudessem colaborar na construção do meu objeto de pesquisa, do ponto de vista teórico metodológico.

Para isto realizamos, inicialmente, um levantamento bibliográfico6

buscando resumos de teses de doutorado e dissertações de mestrado, pelas palavras-chave: “graphic novel”, “narrativa gráfica” (uma das traduções utilizadas no Brasil) e “história em quadrinhos” (palavra mais abrangente), produzidas no período de 2008 a 2013, com o intuito de conhecer e mapear o que a academia já discutira sobre o nosso tema de pesquisa.

Limitando a busca aos últimos cinco anos (2008 a 2013), foram selecionados como fontes de pesquisa os bancos digitais de teses de doutorado e dissertações de mestrado da Unicamp (SBU)7 e do IBICT8, do que

resultou um conjunto de trabalhos, conforme tabelas a seguir:

5 Marjane Satrapi (Persépolis, Bordados), Art Spiegelman (Maus), Alison Bechdel (Fun Home),

Neil Gaiman (Sandman), Alan Moore (From Hell), Chester Brown (Pagando por Sexo), etc.

6 O levantamento bibliográfico foi uma das exigências da disciplina “Atividades Programadas de

Pesquisa” – APP (Atividade Programada de Pesquisa) ministrada pelas professoras Norma Sandra de Almeida Ferreira e Lilian Lopes Martin Silva e cursada já como mestranda no ALLE/FE/Unicamp, no 1º. sem/2014.

7 SBU – Sistema de bibliotecas da Unicamp (Biblioteca Digital da Unicamp) que disponibiliza,

de maneira rápida e sem fronteiras, a produção científica gerada na Universidade, com o foco maior nas teses e dissertações. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br>. Acesso em abril/2014.

8 Instituto Brasileiro em Informação em Ciências e Tecnologia, que registra e dissemina teses e dissertações, artigos de revistas eletrônicas e que caracteriza-se como quinta maior nação em número de repositórios digitais de diversas naturezas e a terceira em quantidade de publicações periódicas de acesso livre no mundo. Disponível em:<http://www.ibict.br/sobre-o-ibict>. Acesso em abril/2014.

(25)

Tabela 1 - Identificação da quantidade de trabalhos localizados no período de

2008-2013 e distribuição destes pelas palavras-chave.

Graphic Novel Narrativa Gráfica História em Quadrinhos

0 0 06

TOTAL 06

Fonte: SBU (2008 – 2013)

A tabela 1 registra, conforme podemos observar, a ausência total de pesquisas voltadas à palavra-chave “graphic novel” nas teses e dissertações da Unicamp, e um interesse dos pesquisadores (seis trabalhos) pelas “histórias em quadrinhos”.

A busca pelos resumos das pequisas pelo IBICT apresentou dados distintos na quantidade dos trabalhos localizados quanto ao interesse dos pesquisadores em relação às palavras-chave “histórias em quadrinhos” e “graphic novel”, conforme demonstrado na Tabela 2 a seguir:

Tabela 2 – Identificação da quantidade de trabalhos distribuída pelos locais de

produção e pelas palavras-chave, no período de 2008-2013.

UNIVERSIDADES Graphic Novel/ Narrativa

Gráfica História em Quadrinhos USP 01 03 PUC SP 01 01 UFU 01 UFRGS 02 PUC RS 07 UFSM 01 MACKENZIE 02 UFRJ 02 UERJ 03 UFMG 04

(26)

UFV 01

TOTAL 03 26

Fonte: IBICT

A Tabela 2 revela uma distribuição por doze (12) universidades do país, que registram vinte e seis (26) estudos sobre “histórias em quadrinhos”. Deste conjunto, apenas o programa de pós-gradução da PUCRS concentra uma quantidade maior (sete) de trabalhos em relação aos demais. A tabela indica ainda a presença de três pesquisas que têm como palavras-chave a

graphic novel ou “narrativa gráfica”, espalhadas por três instituições diferentes

(USP; PUCSP; UFU), todas elas do sudeste do país.

Como podemos observar, o conjunto de trabalhos apresentados nas tabelas 1 e 2 soma trinta e cinco teses de doutorado e dissertações de mestrado. Entretanto, apenas três trabalhos desse conjunto (Tabela 2) indicam em seus resumos o termo graphic novel ou sua tradução mais usada “narrativa gráfica”. Essa constatação nos permitiu inferir que há pouca produção acadêmica sobre o gênero discursivo que pretendemos abordar nesta pesquisa. Considerando que pelos nossos estudos a primeira obra identificada como graphic novel aparece no Brasil em 1988, e que nosso levantamento bibliográfico cobre o período de 2008-2013, constatamos que o tema graphic

novel tem gerado pouco interesse por parte dos pesquisadores da academia, o

que aponta, em parte, para a originalidade do nosso trabalho.

Após a leitura dos títulos e dos resumos desses trabalhos elegemos, primeiramente, dez textos considerados como aqueles que poderiam promover um diálogo com nossa pesquisa, mesmo não trazendo o termo graphic novel entre as palavra-chave. Selecionamos os seis trabalhos da Unicamp - já que o projeto de mestrado se inseria neste espaço acadêmico – e quatro (04) identificados no banco de dados do IBICIT, sendo os três que apresentavam em suas palavras-chave os termos “graphic novel” ou “narrativa gráfica” e uma tese da USP que discutia sobre a transposição de um conto (narrativo) para uma história em quadrinhos e um filme. A escolha desta última tese se justifica pelo fato de que o seu próprio título anunciava um trabalho com a alteração do suporte de um mesmo texto (do impresso para a tela do cinema), e de mudança de gênero (de um conto para história em quadrinhos e filme). O texto

(27)

em questão é o conto O enfermeiro, de Machado de Assis, colocando em questão a construção composicional em diferentes épocas e mídias, o que particularmente interessava por proporcionar a oportunidade de melhor compreender um novo gênero como a graphic novel.

Na Tabela 3, a seguir, apresentamos o conjunto de trabalhos selecionados em nosso levantamento bibliográfico, assim como seus títulos, autores, local e ano de produção:

Tabela 3 – Constituição do Levantamento Bibliográfico

Títulos Autor Universidade/Ano

1 Alô! Kitty: roteiro para cinema e

processo criativo Conrado Luís Roel Souza UNICAMP 2011

2

Entre a épica e a paródia: a (des)mistificação do gaúcho nos quadrinhos de Inodoro Pereyra, el renegau.

Priscila Pereira UNICAMP 2011

3

Histórias em quadrinhos na escola: contribuições da Turma da Mônica em uma oficina de ciências.

Luciana de Aguiar Silva UNICAMP 2013

4 Linguagem dos quadrinhos e cultura infantil: “é uma história escorridinha". Marta Regina Paulo da

Silva UNICAMP 2012

5 Maus de Art Spiegelman: uma outra

história da Shoah Fabiano Andrade Curi UNICAMP 2009

6

A comicidade no contexto linguístico escolar: quadrinhos de humor em livros didáticos de inglês como língua

estrangeira.

Ilka de Oliveira Mota UNICAMP 2010

7

Fun Home: os efeitos de

referencialidade na autobiografia de Alison Bechdel

Débora Cristina Ferreira

de Camargo USP 2013

8

Transmutações em Do inferno: aproximações entre romance gráfico e filme

Naiana Mussato Amorim UFU 2012

9

A construção do herói no percurso narrativo da graphic novel “Os 300 de Esparta”: Do Dever à Vitória - uma jornada

Adélio Gonçalves Brito PUC-SP 2012

10

Memória textual em formatos midiáticos de diferentes épocas: reconfiguração do conto “O

enfermeiro”, de Machado de Assis - da imprensa ao cinema e à história em quadrinhos

Sandra Regina Pícolo USP 2010

(28)

Na leitura dos dez títulos e resumos dos trabalhos apresentados na Tabela 3 destacamos que todos eles, em comum, têm como objeto de análise obras produzidas em linguagem híbrida – verbal e não verbal. Seis deles focalizam diretamente seu interesse na constituição da linguagem nas “histórias em quadrinhos”, conforme tabela 4, preocupando-se com a questão da adaptação com a alteração do suporte de texto. Uma quantidade menor, quatro, aborda graphic novel (números 5; 7; 8; 9 na Tabela 3).

Na leitura dos resumos desses seis trabalhos que não tratam diretamente da graphic novel, buscamos conhecer os objetivos elencados pelos pesquisadores para melhor avaliar a sua contribuição aos nossos estudos e elaboramos uma tabela para dar-lhes uma visibilidade de forma mais sintetizada, conforme podemos ver a seguir, na Tabela 4:

Tabela 4 – Síntese dos objetivos elencados pelos pesquisadores, distribuídos

pelos gêneros discursivos, objeto de estudo dos trabalhos que não abordam graphic novels

Texto Gênero Objetivo

1 Roteiro de cinema em HQ Observar a manifestação artística na produção do

roteiro

2 História em quadrinhos Observar a representação do “gaúcho” como

personagem da HQ

3 Tirinhas e HQs (Maurício

de Sousa)

Utilizar HQ como recurso didático

4 Tirinhas e HQs Observar a produção cultural de um estudo de caso

6 Tirinhas e HQs Observar os modos de abordagem de humor em HQ

presente em livros didáticos

10 Adaptação em HQ Observar as mudanças de um conto em diferentes

mídias – verbal para HQ e HQ para filme.

Como podemos ver na Tabela 4, dois dos trabalhos (números 1 e 10) focam na produção da linguagem quando alterados o suporte de texto e o gênero discursivo; três deles tomam a “história em quadrinhos” como fonte de pesquisa para estudar “a representação do gaúcho” e o “humor no contexto linguístico escolar” ou como “recurso didático em aulas de ciências” (números 2; 6; 3); apenas um tem a história em quadrinhos como objeto e fonte de

(29)

pesquisa ao caracterizá-la em sua especificidade de linguagem e em seu uso na cultura infantil (número 4).

Nesse sentido, apenas o trabalho intitulado Linguagem dos

quadrinhos e a cultura infantil: “é uma história escorridinha” (número 4) se

aproxima de nossa pesquisa quanto ao interesse de investigar um gênero discursivo de linguagem híbrida – a história em quadrinhos infanto-juvenil – como objeto e fonte de pesquisa, buscando conhecer e interrogar a singularidade desse gênero discursivo em relação aos outros gêneros. Os demais, ainda que trabalhem com linguagem verbal e icônica, o fazem para investigar outras temáticas, como a comicidade, a representação do gaúcho etc., o que nos coloca de certa forma em outra direção.

No entanto, ao percorrermos o mesmo caminho com o conjunto de trabalhos que foram por nós identificados como voltados para a graphic novel não obtivemos um resultado muito diferente do que acabamos de relatar. As quatro pesquisas (Maus de Art Spiegelman: uma outra história da Shoah, número 5; Fun Home: os efeitos de referencialidade na autobiografia de Alison

Bechdel, número 7; Transmutações em Do Inferno: aproximações entre romance gráfico e filme, número 8; A construção do herói no percurso da graphic novel: “Os 300 de Esparta”: do Dever à Vitória – uma jornada, número

9), apesar de contemplarem obras do gênero graphic novel, não trazem como objetivo o estudo de tal gênero, assim não apresentam discussões ou históricos sobre a graphic novel.

Os trabalhos 5 e 7, por exemplo, usam a graphic novel como fonte para discutir a autobiografia ou testemunho que as obras permitem construir de seus autores. Vejamos o resumo de Curi (número 5):

Este texto tem o objetivo de apresentar a obra Maus, de Art Spiegelman, como uma nova forma de transmissão dos traumas da Shoah. Com a proximidade do fim das gerações de sobreviventes, as atenções se voltam para produção daqueles que tiveram contato indireto com a tentativa de aniquilamento de judeus nos campos de extermínio nazistas. Nesse grupo encontra-se o autor da obra [...]. A composição de textos e desenhos feita por Spiegelman enfrenta as mesmas limitações de outras obras de testemunhos diretos ou indiretos ao tentar narrar o que não se narra, [...] Maus traz uma série de experiências nesse tipo de literatura ao justapor a história de sobrevivente de Auschwitz narrada pelo pai com a sua própria vida de

(30)

filho de sobrevivente com as difíceis implicações dessa situação. (CURI, 2009)9

E também o resumo apresentado por Camargo (número 7):

[...]Desse modo, o presente trabalho propõe uma análise semiótica da autobiografia em quadrinhos de Alison Bechdel, Fun Home: Uma tragicomédia em família. [...] a presente análise descreve os artifícios discursivos de persuasão do gênero autobiográfico utilizados pela quadrinista norte-americana para convencer o leitor de que está diante de uma história real. [...] Na obra de Bechdel encontram-se, portanto, as relações entre o gênero autobiográfico, a sua textualização por meio do sistema dos quadrinhos e a pertinência entre eles para a literatura que abrange a temática lésbica.

(CAMARGO, 2013).10

Ambos - Maus e Fun Home - tratam de temas complexos – judeus nos tempos da Segunda Guerra e lesbianismo –, como muitas obras configuradas no gênero graphic novel. São trabalhos que dialogam com nossa pesquisa remetendo aos assuntos que as graphic novels podem eleger, em sua complexidade, distanciando-se daqueles presentes, por exemplo, nas histórias em quadrinhos de entretenimento. Mas esses trabalhos, diferentemente de nossa pesquisa, não se preocupam em apresentar a temática como uma característica que constitui este gênero ou com as formas de que a graphic novel lança mão ao abordar determinados conteúdos menos convencionais (comopretendemos apresentar em nossa análise mais à frente).

Há ainda outros dois trabalhos que têm como objeto de análise

graphic novels. O de número 8 propõe-se aanalisar a transposição de suportes

da mesma história retextualizada do livro (graphic novel) para o cinema (filme):

Este trabalho tem por objetivo confrontar duas obras homônimas, Do

inferno sendo uma o romance gráfico de Alan Moore e Eddie

Campbell e a adaptação dos diretores Albert e Allen Hughes [...] pretende-se relativizar a distância que há entre as partes do corpus na tensão provocada pela autonomia contra a ligação que elas

mantêm. (AMORIM, 2012).11

9CURI, Fabiano Andrade. Maus de Art Spiegelman: uma outra história da Shoah, 2009. 147f.

Dissertação (Mestrado em Teoria e História Literária) – Universidade Estadual de Campinas, 2009.

10 CAMARGO, Debora Cristina Ferreira de. Fun Home: os efeitos de referencialidade na autobiografia de Alison Bechdel, 2013. 109f. Dissertação (Mestrado em Semiótica e Linguística

Geral) – Universidade de São Paulo, 2013.

11 AMORIM, Naiara Mussato. Transmutações em Do Inferno: aproximação entre romance

gráfico e filme, 2012.127f. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária) – Universidade Federal de Uberlândia, 2012.

(31)

Já no trabalho 9, observa-se a constituição da personagem principal da obra Os 300 de Esparta, atendo-se para a construção da figura do herói no percurso narrativo, conforme coloca o pesquisador: “O objetivo desta pesquisa é investigar o jogo de construção semiótica do herói na graphic novel Os 300

de Esparta, do quadrinista Frank Miller” (BRITO, 2012).12

Assim, esses dois trabalhos, como os anteriormente comentados, não têm como objetivo de análise reconhecer a constituição do gênero graphic

novel, como objeto e fonte de estudo. Mas todos estes colaboram para

abordagens de investigações possíveis em torno de graphic novel que nos ajudam na compreensão do gênero, de suas características quanto à linguagem, construção dos personagens e da sequência narrativa, sua especificidade ligada ao suporte de texto e sua complexidade na abordagem de temas polêmicos e atuais, entre outros.

A pequena quantidade de produção acadêmica localizada no nosso levantamento bibliográfico, a falta de uma tradição no interesse dos pesquisadores pelo estudo do gênero graphic novel e a perspectiva de abordagem do gênero como fonte de estudo e não como objeto, justificam nossas intenções neste trabalho: entender melhor como se configura esse gênero graphic novel que nos últimos anos estão à disposição dos leitores, especialmente daqueles que frequentam as escolas.

1.2 A presença da linguagem em quadrinhos nas escolas

Ainda que identificado como um “novo gênero”, é facilmente localizado nas prateleiras de uma livraria de grande porte, apesar de pouco explorado pelas academias, a graphic novel circula atualmente nos bancos escolares da Educação Básica, disputando espaço junto aos livros tradicionais e fazendo parte do acervo do PNBE/MEC.

12 BRITO, Adélio Gonçalves. A construção do herói no percurso narrativo de graphic novel

Os 300 de Esparta: uma jornada do Dever à Vitória, 2012. 169f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2012.

(32)

São várias obras intituladas graphic novels, que ao lado de outras como Histórias em Quadrinhos, Tirinhas, Adaptações, Mangás chegaram às escolas públicas, nos últimos dez anos.

A partir de 2006, o PNBE13, por exemplo, tem selecionado um

significativo número de livros em quadrinhos, conhecidos pelo uso da linguagem híbrida, para distribuí-los às escolas públicas do país, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

A presença e um número expressivo de obras configuradas pela linguagem híbrida nos acervos do PNBE, no período de menos de uma década, sugere um grande esforço do governo em disponibilizar acesso a esse tipo de leitura e à diversidade de gêneros – graphic novel aparece ao lado de outros mais convencionais, como livros de literatura clássica, contemporânea, poesias, peças de teatro, etc.

Em uma leitura das obras apresentadas na forma de linguagem em quadrinhos enviadas às escolas públicas pelo PNBE/MEC, no período de 2006-201314, é possível constatar que elas se distribuem por diferentes gêneros

discursivos: adaptações, HQ infanto-juvenil, coletâneas de tiras, mangás, além de graphic novel.

A adaptação, como define Hutcheon (2011),

[..]é uma transposição anunciada e extensiva de uma ou mais obras em particular. Essa “transcodificação” pode envolver uma mudança de mídia (de um poema para um filme) ou gênero (de um épico para um romance), ou uma mudança de foco e, portanto, de contexto: recontar a mesma história de um ponto de vista diferente [...] envolve tanto uma (re-)interpretação quanto uma (re-)criação; dependendo da perspectiva, isso pode ser chamado de apropriação ou recuperação. (HUTCHEON, 2011, p. 29)

Ainda segundo a autora, as adaptações podem abranger, além de filmes e peças de teatro, “revisitações de obras passadas no campo das artes visuais e histórias recontadas em versões de quadrinhos” (p. 31). Dessa forma, as obras em linguagem híbrida de quadrinhos, feitas a partir de obras da

13 O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), desenvolvido desde 1997, tem o objetivo

de promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura por parte de alunos e professores, através da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência. (disponível em <http://portal.mec.gov.br/programa-nacional-biblioteca-da-escola>, acesso em: 15/07/2016).

14 Acervos anuais de 2006 a 2013 são disponibilizados eletronicamente no site do portal do

MEC, (disponível em <http://portal.mec.gov.br/programa-nacional-biblioteca-da-escola>,

(33)

literatura clássica nacional e estrangeira, originalmente produzidas em linguagem verbal e que chegam às escolas, podem ser chamadas de “adaptações” e, neste grupo, podemos encontrar, por exemplo, A Metamorfose (Franz Kafka); Dom Quixote (Miguel de Cervantes); Dom Casmurro (Machado de Assis); Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida);

Os Lusíadas (Camões); Oliver Twister (Charles Dickens); O Curioso Caso de Benjamin Button (F. Scott Fitzgerald), entre outras. Há também algumas obras

que se utilizam da linguagem híbrida para adaptar e recontar épocas ou fatos históricos, como as obras: Santô e os Pais da Aviação (Spacca); A história do

mundo em quadrinhos – a Europa Medieval e os Invasores do oriente (Larry

Gonick); Palmares – a luta pela liberdade (Eduardo Vetillo), entre outros títulos. Segundo Costa (2009)15, história em quadrinhos se define como “um

gênero com três características essenciais: 1) integração entre palavra e imagens; 2) presença do tipo narrativo na maioria dos textos; 3) papel como suporte mais recorrente” (p. 191). Já Silveira (2003)16 considera que a hibridez

– a mescla da linguagem verbal e não verbal – a sequência narrativa e a possibilidade da conversação-dialogal, permite a afirmação de que história em quadrinhos é um gênero discursivo. Porém, é Ramos (2009)17 que

complementa as afirmações anteriores quando apresenta os temas geralmente abordados em histórias em quadrinhos, que são humor, faroeste, super-heróis, infantis, mistério, terror, aventura, entre outros. Unindo as afirmações desses autores, podemos compreender que as histórias em quadrinhos se encontram na esfera do entretenimento, propondo práticas de leitura mais ligadas à fruição.

Há histórias em quadrinhos destinadas ao público infantojuvenil, nacionais e internacionais, que foram escolhidas pelo PNBE/MEC, como: as de produção de Maurício de Sousa, Ziraldo, Laerte, Quino, Charles Schulz e outros. Nesta classificação identificamos obras como: Xaxado, Asterix nos

15 COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais, 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

16 SILVEIRA, Valéria Rodrigues Hora. A palavra-imagem nos gestos de leitura: quadrinhos em

discussão. São Paulo 2003. 299f. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

(34)

Jogos Olímpicos, Maluquinho por arte, Sete histórias de pescaria do seu Vivinho, Courtney Crumrin & as criaturas da noite, entre outras.

O terceiro gênero discursivo – também presente nas obras do PNBE/MEC – é o de coletâneas de tiras18. Trata-se de tirinhas e cartuns

publicados por diversos jornais (nacionais ou não), em épocas distintas, que são reunidos como nas obras Toda Mafalda (Quino), A volta da Graúna (Henfil), Deus segundo Laerte (Laerte), A turma do Pererê (Ziraldo), Niquel

Náusea – nem tudo que balança cai (Gonsales).

O mangá foi definido por Batistella (2009) como uma narrativa imagética japonesa, destacando-se como um gênero distinto das HQs tradicionais e das tiras:

Composta por linguagem verbal e não verbal singular, por traços e temas específicos e por aspectos culturais, sociais, históricos e ideológicos que viabilizam ao leitor (além das fronteiras japonesas) estabelecer meios de contato e adquirir conhecimento sobre o Japão. (BATISTELLA, 2009)

No PNBE/MEC, são contempladas as obras: Na prisão (Kazuichi Hanawa) e Usagi Yojimbo – Daisho (Stan Sakai).

E, por último, a graphic novel, que utiliza a linguagem híbrida do verbal e do não verbal como os demais gêneros já citados, mas que diverge deles por se tratar de uma narrativa mais longa e complexa, como um romance, está representada nas listas do PNBE/MEC, com cinco livros de Will Eisner: O nome do jogo; A força da vida; O sonhador e Um contrato com Deus

e outras histórias de cortiço – além das seguintes obras: Estórias Gerais (Srbek

e Colin); Retalhos (Craig Thompson); A Busca (Heuvel, Schippers e Van der Rol); Persépolis (Marjane Satrapi); Aya de Yopougon (Marguerite Abouet);

Necronauta e Bando de Dois (Danilo Beyruth). A diversidade de autores,

de obras e de gêneros discursivos pressupõe uma intenção política do Programa em oferecer para a criança a linguagem híbrida (verbal e não verbal) como uma alternativa distinta da impressa e nem sempre exclusivamente verbal. Inclui uma visão de que a leitura de imagens e de textos juntos e previamente criados de forma articulada é uma prática importante na formação do estudante em sua trajetória como leitor, especialmente no conhecimento de

18 COSTA (2009) “segmento ou fragmento de HQ, geralmente com três ou quatro quadros, apresenta um texto sincrético que alia o verbal e o visual no mesmo enunciado e sob a mesma enunciação. Circula em jornais ou revistas, numa só faixa horizontal” (p. 192).

(35)

obras consagradas adaptadas em uma linguagem que é tanto verbal quanto imagética.

Talvez a presença desta produção caracterizada pela sua linguagem híbrida, em diferentes suportes (revistas, livros, coletâneas) e gêneros possa ter orientado os responsáveis pelo Programa (PNBE) a partir de uma visão da leitura como menos complexa e de maior compreensão para o aluno e de uma representação de leitor que tem nesta linguagem visual maior interesse (mais próximo de sua realidade) e facilidade de entendimento.

A Tabela 5, a seguir, apresenta as obras em linguagem de quadrinhos escolhidas pelo PNBE/MEC de 2006 a 2013, distribuídas pelos cinco diferentes gêneros discursivos e em quantidade também distinta ao longo do tempo, de forma irregular.

Tabela 5 – Quantidade e distribuição dos livros caracterizados como linguagem

em quadrinhos pelos gêneros discursivos, no período de 2006 a 2013, pelo PNBE

ANO QUANTIDADE DE OBRAS TOTAL

PNBE Adaptações HQs. Infanto-Juvenil Coletâneas de Tiras Mangás Graphic Novel 2006 3 2 3 1 1 10 2007 2 5 1 8 2008 3 5 1 9 2009 6 7 3 3 19 2010 3 3 1 2 9 2011 13 9 2 5 29 2012 2 3 2 7 2013 21 4 1 2 28 TOTAL 53 38 11 2 15 119

Fonte: http://portal.mec.gov.br/programa-nacional-biblioteca-da-escola, acesso em 15/07/2016.

Deste modo, o conjunto de cento e dezenove livros está distribuído pelos gêneros discursivos denominados: adaptações (53); HQ infanto-juvenil (38); coletâneas de tiras (11); mangás (2); graphic novel (15). Sem dúvida alguma, as adaptações presentes em todos os anos no período de 2006-2013 é o gênero mais recorrente e que parece ser o mais prestigiado pelo Programa. Seguidamente, as HQ infantojuvenis ocupam o segundo lugar na quantidade de obras distribuídas e também presentes a cada ano. Neste conjunto, a

(36)

graphic novel aparece com 12,6% em relação ao total de obras, em terceiro

lugar.

Pela Tabela 5, percebemos que há um movimento irregular entre os gêneros discursivos quanto à quantidade de livros distribuídos, no período de 2006 a 2008. Como sabemos, somente a partir de 2009 foram selecionadas também obras destinadas aos alunos do Ensino Médio, além dos estudantes do Ensino Fundamental, o que se mantém por todo o período. Isto, talvez, explique o aumento da quantidade de livros, nos anos ímpares. Dos cento e dezenove, nos anos impares temos dezenove em 2009; vinte e nove em 2011; vinte e oito em 2013, um volume muito maior do que a média registrada (em torno de nove livros) a cada ano par. E, se nos detivermos apenas nos anos de 2006 a 2008, que são aqueles dedicados a atender os estudantes do Ensino Fundamental, vemos que há um certo equilíbrio na quantidade ao longo dos outros anos pares.

A Tabela 5 aponta ainda para uma distinção quanto à regularidade da presença dos gêneros com linguagem em quadrinhos, no período de 2006 a 2013. A diversidade se espalha por gêneros que estão presentes desde o início do programa, (adaptações e HQ infanto-juvenis), que desaparecem em alguns anos (tiras, graphic novel) ou que apresentam uma quantidade muito pequena (mangás). De qualquer forma, a quantidade oscila para mais ou para menos, provavelmente pela clientela (nível de escolaridade) a ser atendida pelo programa: EI, EF séries iniciais, séries finais, Ensino Médio.

As coletâneas de tiras – presentes em maior número, nos anos 2006 e 2009 e ausentes em 2010 e 2012 – são selecionadas pelo Programa, provavelmente, porque além de entretenimento têm também um propósito pedagógico na cultura escolar, sendo utilizadas em sala de aula por diferentes disciplinas, em atividades de interpretação de texto, para contextualização temática ou temporal, ou ainda para entendimento de recursos como humor ou ironia. Assim, disponibilizar esse material oferece oportunidades tanto para o professor em sua didática na sala de aula, quanto para o aluno, que lidará com textos em linguagem mais próxima e atraente para ele, conforme apontam vários estudos do campo da comunicação.

A alternância de espaços entre anos e a pouca quantidade (apenas dois) no período de oito anos para a escolha por obras como mangás (“Na

(37)

Prisão” de Kazuichi Hanawa, e “Usagi Yojimbo – Daisho”, de Stan Sakai) talvez seja explicada por ser este um gênero com linguagem híbrida não diretamente ligado à cultura brasileira, ainda que tenha sido bem aceito no Brasil pelos jovens a partir dos anos 2000.

A ampla aceitação das HQs infanto-juvenis, tanto na quantidade quanto na regularidade, ao longo do tempo da distribuição das obras, não só permite afirmar que o gênero alcançou uma tradição no gosto comum dos leitores de qualquer idade, como pode ser explicado também pelo (re)conhecimento nas obras selecionadas de alguns personagens ou obras vinculadas em outras mídias e suportes, como é o caso de “Asterix e Cleópatra” e “Turma do Pererê” da parte dos jovens leitores de sete a quinze anos.

A presença, com regularidade, em todos os anos no período de 2006-2013 das adaptações de obras clássicas em linguagem, assim como o aumento considerável na quantidade (especialmente nos anos de 2011 e 2013), pode ser um indício da importância da leitura atribuída pelo governo sobre às obras clássicas. O uso da linguagem híbrida da HQ é um esforço de motivação e de facilitação para a leitura de um repertório clássico da cultura nacional e estrangeira.

De qualquer forma, a Tabela 5 indica uma aceitação, pela inclusão em seis anos do Programa (dos oito anos analisados por nós, no período de 2006-2013) da graphic novel como um gênero discursivo importante para compor o acervo das bibliotecas escolares do país. A primeira inclusão do

graphic novel no Programa foi em 2006 (O nome do Jogo de Will Eisner),

sendo posteriormente feita durante cinco anos consecutivos (de 2009 a 2013) e tendo uma maior quantidade de obras distribuídas em 2011. Cabe destacar que 2009 e 2010 são os anos em que aparecem as outras quatro obras de Will Eisner: A Força da Vida, O Sonhador e Um Contrato com Deus e outras

histórias de cortiço (2009) e Pequenos Milagres (2010).

Assim, podemos afirmar que o PNBE se tornou um importante divulgador e incentivador do gênero graphic novel, indicando, talvez, sua legitimação e importância para a construção do repertório cultural dos alunos, pois em menos de uma década, quinze obras foram selecionadas e entraram pelos portões das escolas públicas, sendo Will Eisner o autor de cinco destas.

(38)

Tal reconhecimento do gênero pelas políticas públicas e sua penetração junto aos professores e alunos justifica também o meu interesse, como professora de português de escola pública e privada, pelo estudo da

graphic novel, especialmente pelas obras de Will Eisner. Compreender como se constitui esse gênero, em sua configuração composicional (estrutura, estilo, temática e suporte que sustenta o texto), assim como seu espaço de circulação e práticas de leituras previstas para a graphic novel é, para nós, o desafio desta pesquisa.

Para tanto, assumimos Um Contrato com Deus e outras histórias de

cortiço de Will Eisner como objeto e fonte de pesquisa, como forma de

compreensão do gênero graphic novel. A escolha por esta obra deve-se principalmente por ser ela a primeira a cunhar em sua primeira edição (1978) a identificação de graphic novel, como um gênero novo e distinto de outros que na forma de livros tradicionalmente disputam o espaço na conquista de uma nova geração de leitores.

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